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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

ACÓRDÃO

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA PRESTAÇÃO DE CONTAS N° 267-46.


2012.6.00.0000 - CLASSE 25— BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL

Relator: Ministro Tarcisio Vieira de Carvalho Neto


Embargante: Partido Progressista (PP) - Nacional
Advogados: Saulo Vitor da Silva Munhoz - OAB: 510331DF e outros

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PRESTAÇÃO DE


CONTAS. PARTIDO PROGRESSISTA. PP. EXERCÍCIO
FINANCEIRO DE 2011. APROVAÇÃO COM
RESSALVAS. IRREGULARIDADES MANTIDAS.
RECURSOS. FUNDO PARTIDÁRIO. REPASSE. CONTA
CANDIDATO. VINCULAÇÃO CADASTRO DE PESSOA
FÍSICA. CPF. PREVISÃO. RESOLUÇÃO TRE/RJ.
ACOLHIMENTO PARCIAL.
Repasse de recursos do Fundo Partidário para a
conta vinculada ao Cadastro de Pessoa Física (CPF) de
candidato nas eleições suplementares ao cargo de
prefeito.
Edição pelo TRE/RJ da Resolução no 724/2010,
disciplinando a arrecadação e aplicação de recursos e a
prestação de contas nas eleições municipais
suplementa res.
O art. 30 desse instrumento normativo estabeleceu
que não haveria inscrição de candidato no Cadastro
Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ). Já o seu parágrafo
único fixou que a conta específica de que tratava o ad. 10
da Res.-TSE n° 22.715/2008 ficaria vinculada à inscrição
do candidato no Cadastro de Pessoa Física (CPF).
Sob a ótica da normatização assentada pelo TRE/RJ,
em que pese ser questionável possível divergência aos
preceitos estabelecidos por este Tribunal Superior,
observa-se que a edição da resolução induziu a
agremiação partidária a erro, o que torna o repasse dos
recursos do Fundo Partidário do Diretório Nacional para a
conta individual do candidato respaldado pelo princípio da
boa-fé.
É cedo que o uso de verbas do Fundo Partidário, em
função do seu caráter público, deve estar pautado pelos

NA
ED-PC n° 267-46.20 12.6.00.0000IDF
2

princípios da transparência, da moralidade, da


economicidade, da razoabilidade e tantos outros
princípios norteadores das despesas com recursos
públicos, exatamente para que não percam a sua
natureza de sustentação do nosso modelo republicano.
A impropriedade apontada, em princípio, não
comprometeu o controle da presente prestação de
contas, porquanto o repasse de recursos diretamente na
conta individual do candidato encontrou amparo no
instrumento normativo expedido pelo TRE/RJ.
É de ser suprimido o montante de R$ 30.000,00
(trinta mil reais) do valor total da condenação do Diretório
Nacional do Partido Progressista a restituir ao Tesouro
nacional.
Razão não assiste ao embargante quando alega que
o valor a ser ressarcido ao erário seria de R$ 324.021,07.
No acórdão ora embargado a então relatora do feito,
Ministra Luciana Lóssio, fez constar expressamente que
estava adotando "parcialmente a manifestação da Asepa,
como razões de decidir" (fi. 1057). Porém, apresentou as
ressalvas que entendia pertinentes, particularmente aos
pontos impugnados pelo partido político em sua defesa.
As ressalvas, sejam aquelas que foram afastadas ou
aquelas mantidas, devem ser subtraídas ou conservadas
do montante de R$ 1.579.180,46 (um milhão, quinhentos
e setenta e nove mil, cento e oitenta reais e quarenta e
seis centavos).
Valor apurado pela Asepa (R$ 1.579.180,46) - valor
afastado no acórdão (R$ 744.146,98) = R$ 835.033,48.
Quanto às demais omissões e contradições
levantadas, tem-se que os embargos de declaração não
se prestam a promover novo julgamento da causa,
devendo o inconformismo com o resultado da demanda
ser objeto da seara recursal própria.
Acolhimento parcial.

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por


maioria, em acolher parcialmente os embargos de declaração, nos termos do
voto do relator.

Brasília, 22 d a osto de 2017.

MINISTRO RCI lO VIEIRA DE CARVALHO NETO - RELATOR


ED-PC n° 267-46.2012.6.00.0000/DE 3

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO TARCISIO VIEIRA DE CARVALHO


NETO: Senhora Presidente, cuida-se de embargos de declaração opostos pelo
Partido Progressista (PP) - Nacional contra acórdão desta Corte, com a
seguinte ementa:

PRESTAÇÃO DE CONTAS. PARTIDO PROGRESSISTA. PP.


EXERCÍCIO FINANCEIRO DE 2011. RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE. APROVAÇÃO COM RESSALVAS.
DETERMINAÇÃO DE RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. RECURSOS
PRÓPRIOS.
É cediço que a análise das contas partidárias pela Justiça Eleitoral
envolve o exame da aplicação regular dos recursos do Fundo
Partidário, a averiguação do recebimento de recursos de fontes
ilícitas e de doações de recursos de origem não identificada, bem
como a vinculação dos gastos à efetiva atividade partidária. Assim, a
escrituração contábil - com documentação que comprove a entrada
e a saída de recursos recebidos e aplicados - é imprescindível para
que a Justiça Eleitoral exerça a fiscalização sobre a prestação de
contas, a teor do que dispõe o art. 34, III, da Lei n° 9.096/95.
A suspensão dos repasses dos valores relativos ao Fundo
Partidário pelo Diretório Nacional ao órgão regional deve ocorrer a
partir da publicação da decisão regional que rejeitou as referidas
contas. Precedentes.
Os recursos depositados indevidamente nas contas dos órgãos
regionais da agremiação não podem lá remanescer, substituindo-se
a sua restituição por recursos advindos, mais uma vez, do órgâo de
direção nacional, sob pena de descumprimento, por via oblíqua, da
própria decisão judicial que impediu a esfera regional da agremiação
de receber tais recursos. Deve o Diretório Regional devolver os
valores recebidos indevidamente ao Diretório Nacional que, por sua
vez, os devolverá ao Tesouro Nacional. Precedente.
É possível que a agremiação partidária contrate serviços
advocatícios para a defesa de candidatos e de terceiros filiados no
âmbito desta Justiça Especializada, quando demonstrada que a
conduta judicialmente apurada tem vinculação com a atividade
político-partidária.
É regular a contratação de empresa com atividade secundária
comprovada pela inscrição e situação cadastral emitida pela Receita
Federal do Brasil.
A juntada de notas fiscais que descrevem a prestação de serviços
compatíveis com a atividade exercida pelas empresas contratadas e
o respectivo comprovante de pagamento das despesas são
suficientes para a regularidade da contratação.

ED-PC no 267-46.2012.6.00.0000/DF IH

A conta específica de campanha é vinculada a uma inscrição no


Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) do candidato com a
identificação do pleito correspondente. Logo, não prospera o
argumento segundo o qual os depósitos são realizados com os
dados informados pelo candidato, para justificar a transferência de
recursos do partido político para a sua conta pessoal.
A partir do julgamento da PC n° 43, esta Corte firmou o
entendimento de que 'as faturas emitidas por agência de turismo
que atestam o valor da despesa com os serviços de transporte aéreo
desde que nelas estejam identificados o número do bilhete aéreo, o
nome do passageiro, a data e o destino da viagem podem ser
consideradas como comprovante de despesas realizadas, sem
prejuízo de, se forem levantadas dúvidas sobre a sua idoneidade,
serem realizadas diligências de circularização" (PC n° 43/DF,
DJe de 4.10.2013).
Descumprido o disposto no art. 44, V, da Lei n° 9.096/95, deve o
partido acrescer 2,5% do Fundo Partidário, relativo ao exercício
financeiro de 2011, corrigidos monetariamente, para a específica
destinação de criação e manutenção de programas de promoção e
difusão da participação política das mulheres, nos moldes do art. 44,
§ 50, com redação dada pela Lei n° 12.034/2009, com base no
princípio geral de direito sancionatório de que benigna amplianda,
odiosa restringenda, o que deverá ser feito no exercício seguinte ao
do julgamento das contas, sem prejuízo do valor a ser destinado a
essa finalidade no referido exercício. Precedentes.
A prestação de contas do PP referente ao ano-calendário 2010,
PC no 783-03/DF, julgada em 2016, apontou descumprimento ao
art. 44, V, da Lei n° 9.096/95. Assim, a irregularidade apontada na
referida prestação de contas de 2010 não pode ser relacionada
novamente a do ano calendário de 2011, já que o saldo
remanescente e o percentual sancionatório devem ser
implementados no exercício seguinte ao trânsito em julgado das
contas, a ser cumprida em 2017.
A omissão e o descaso da agremiação em investir verbas em
políticas públicas afirmativas impostas por lei são considerados
irregularidades na aplicação do Fundo Partidário. Os recursos
oriundos do fundo devem ser aplicados na criação e manutenção de
programas de promoção e difusão da participação política das
mulheres, sendo grave a sua inobservância por dois exercícios
consecutivos (2010 e 2011). A igualdade de gênero na política é um
tema muito caro para a Justiça Eleitoral e fundamental para o
fortalecimento da democracia, que tem a igualdade entre homens e
mulheres como um dos pilares do Estado democrático de direito na
linha do que preceitua o art. 50, 1, da Constituição Federal.
A Justiça Eleitoral, por meio do seu órgão técnico, analisa as
contas partidárias, partindo dos dados apresentados e realizando as
circularizações necessárias, sem prejuízo de eventuais ilícitos civis e
penais que porventura venham a ser identificados e apurados pelos
demais órgãos de controle e investigação.
As falhas, no seu conjunto, não comprometeram a regularidade
das contas e representam a aplicação irregular do Fundo Partidário,

ED-PC no 267-46.201 2.6.00.0000/DF 5

no montante de 7,49% dos recursos recebidos pelo PP em 2011, o


que impõe a aprovação das contas à luz dos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade.
14. Contas aprovadas, com ressalvas, com determinação de
ressarcimento ao Erário. (Fls. 1032-1034)

O embargante aponta a existência de omissões, obscuridades


e contradições sobre diversos pontos do acórdão embargado, rogando por sua
discussão e o devido enfrentamento, com efeitos modificativos, a fim de
afastar as irregularidades apontadas e a indevida condenação de recolhimento
ao Erário do montante de R$835.033,48 (oitocentos e trinta e cinco mil, trinta e
três reais e quarenta e oito centavos).

Quanto à matéria de fundo, alega omissões e contradições nos


seguintes pontos:

repasses de recursos do Fundo Partidário ao Diretório


Estadual de Rondônia, que estava com suas contas
desaprovadas. O Acórdão embargado não considerou
efetivamente que o Diretório Nacional suspendeu o repasse a
esse Diretório Estadual pelo período de 1 (um) ano;

aplicação irregular de recursos do Fundo Partidário


referente ao pagamento de despesas dos Diretórios Estaduais
do Espírito Santo, de Mato Grosso e do Rio Grande do Norte.
Todas as despesas foram efetivamente comprovadas por meio
de documentos hábeis e exigíveis no instrumento normativo
vigente à época da prestação de contas partidária;

aplicação irregular de recursos do Fundo Partidário


referente ao pagamento de despesas do Diretório Nacional:

c.1) serviços advocatícios. As verbas foram gastas na


defesa de membros da agremiação partidária, não
merecendo prosperar a tese defendida no acórdão
embargado, segundo a qual a contratação de serviços
advocatícios somente seria permitida se fosse
comprovada a relação direta com as atividades
desenvolvidas pelo agente/filiado dentro do partido1/
ED-PC n° 267-46.2012.6.00.0000/DE 1.1

político. Segundo alega, o acórdão recorrido deixou de


examinar a defesa da agremiação, no ponto em que
sustenta que tais gastos com a defesa de seus
integrantes é "a forma mais evidente da manutenção do
Partido Político" (fl. 1138);

repasse de recursos do Fundo Partidário para a


conta pessoal de Luiz Fernando Furtado da Graça,
candidato ao cargo de prefeito do Município de
Valença/RJ. A transferência desses recursos se deu com
fundamento no art. 30 da Resolução TRE/RJ n° 740110,
que dispensou, na realização de eleições suplementares,
a necessidade de o candidato possuir CNPJ e, por
consequência, prescindir de conta bancária específica de
que trata o art. 10 da Res.-TSE n°22.715/2008;

repasse irregular de recursos do Fundo Partidário


para cumprimento de obrigação do Diretório Estadual de
Pernambuco. Defende que o Diretório Nacional se limitou
a repassar os recursos do Fundo Partidário. Cabe
aplicação de sanção ao Diretório Regional pelo fato de
haver se utilizado desses recursos para o ressarcimento
ao Erário.

Ao final, requer sejam supridas as omissões e corrigidas as


contradições apontadas, com a finalidade de recalcular o montante apurado
para efeito de ressarcimento ao Tesouro Nacional, considerando as
irregularidades tidas por incontroversas, que, no seu entender, atingem o valor
de R$ 324.021,07 (trezentos e vinte e quatro mil, vinte e um reais e sete
centavos).

Sustenta que os embargos devem ser acolhidos para corrigir


evidente erro material e as contradições indicadas, em função de haver
imputado ao partido valor maior do que as despesas comprovadamente
irregulares.

É o relatório.
ED-PC no 267-46.2012.6.00.0000IDF FÁ

VOTO

O SENHOR MINISTRO TARCISIO VIEIRA DE CARVALHO


NETO (relator): Senhora Presidente, é cediço que os embargos de declaração
são cabíveis somente nas hipóteses de omissão, obscuridade, contradição ou
erro material no julgado.

Nos presentes aclaratórios, o Partido Progressista aduz que


este Tribunal Superior não considerou que o Diretório Nacional suspendeu o
repasse de cotas do Fundo Partidário ao Diretório Estadual de Rondônia
durante o período de 1 (um) ano, apesar de esta suspensão ter se iniciado
tardiamente.

Sob esse prisma, afirma que não houve nenhum prejuízo ao


Erário, não havendo que se falar em ressarcimento, porquanto cumprido todo o
prazo da sanção imposta ao Diretório Estadual.

Verifica-se que a decisão a qual desaprovou as contas do


Diretório Estadual do PP de Rondônia, com a perda do repasse das cotas do
Fundo Partidário pelo prazo de 12 (doze) meses, foi proferida em 16.6.2011,
porém a efetiva suspensão das parcelas pelo Diretório Nacional somente teve
início em 20.10.2011.

In casu, inexiste contradição ou omissão a ser sanada.


O art. 28, 1V1, da Res.-TSE n° 21.841/2004 estabelece que a suspensão das
cotas do Fundo Partidário deve ser efetivada a partir da publicação da
decisão que desaprovou as contas, circunstância que no presente caso
ocorreu aproximadamente 4 (quatro) meses antes do início do seu efetivo
cumprimento pelo Diretório Nacional.

Nesse sentido é pacífica a jurisprudência deste Tribunal


Superior, conforme os seguintes precedentes:

1
Art. 28. Constatada a inobservância às normas estabelecidas na Lei n° 9.096/95,
nesta Resolução e nas normas
estatutárias, ficará sujeito o partido às seguintes sanções (Lei n° 9.096/95, art. 36):

IV - no caso de desaprovação das contas, a suspensão, com perda, das cotas do Fundo Partidário perdura pelo prazo
de um ano, a partir da data de publicação da decisão (Lei n° 9.096/95, art. 37).

ED-PC no 267-46.2012.6.00.0000IDF 1.1

PRESTAÇÃO DE CONTAS. ANUAL. EXERCÍCIO FINANCEIRO DE


2009. PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO (PTB). APROVAÇÃO
COM RESSALVAS.
2. De acordo com a jurisprudência deste Tribunal e com o
art. 28, inciso IV, da Resolução-TSE n° 21 .841/2004, a suspensão
dos repasses das cotas oriundas do Fundo Partidário deve ser
efetivada a partir da publicação da decisão que desaprovou
as contas (PC n° 21/DF, ReI. Mm. LUCIANA LÓSSIO,
DJe de 26.9.2014).
6. Contas aprovadas com ressalvas.
(PC no 94969, Mm. ReI. Maria Thereza Rocha de Assis Moura,
DJ de 20.4.2015 - grifei)

Petição. Partido Republicano Progressista (PRP). Cotas do fundo


partidário. Repasses indevidos. Devolução. Diretório regional.
Contas. Rejeição. Decisão. Publicação.
- A suspensão dos repasses dos valores relativos ao fundo
partidário pelo diretório naciónal ao ente regional deve ocorrer a
partir da publicação da decisão regional que rejeitou as
referidas contas.
Pedido indeferido.
(Pet n° 2712/DF, Mm. ReI. Arnaldo Versiani, DJ de 10.12.2007 -
grifei)

Melhor sorte não socorre o embargante quanto ao argumento


de que há contrariedade no acórdão embargado, na medida em que reconhece
a responsabilidade do órgão regional, porém imputa ao Diretório Nacional o
repasse dos valores ao Tesouro Nacional.

No ponto, ficou claro no julgamento deste Tribunal Superior


que os recursos depositados indevidamente na conta do órgão regional da
agremiação não podiam lá remanescer.

Sob esse raciocínio, deliberou esta Corte no sentido de ser


cabível a restituição desses valores do Diretório Regional para o Diretório
Nacional. E, conforme consignou a relatora da PC n° 267-46, "essa é a solução
mais acertada, não sendo suficiente o recolhimento ao Erário, com recursos
oriundos do próprio Diretório Nacional, de valores que já haviam sido
destinados a outros órgãos indevidamente".

Desse modo, judiciosa e inconteste a decisão deste Tribunal


Superior, o qual determinou que o Diretório Regional de Rondônia devolvesse
ao Diretório Nacional do Partido Progressista a quantia recebida indevidamente
ED-PC no 267-46.2012.6.00.0000IDF
9

no montante de R$ 142.800,00 (cento e quarenta e dois mil e oitocentos reais),


devendo o Diretório Nacional do PP, por sua vez, ressarcir ao Erário referida
quantia, por afronta ao disposto no inciso IV do art. 28 da Res.-TSE
n° 21.841/2004.

Especificamente sobre a aplicação irregular de recursos do


Fundo Partidário referente ao pagamento de despesas dos Diretórios
Estaduais do Espírito Santo, de Mato Grosso e do Rio Grande do Norte, em
descumprimento ao disposto nos arts. 37, § 10, e 44, 1, da Lei n° 9.096/95 e no
art. 90 da Res.-TSE n° 21.841/2004, verifica-se das razões dos aclaratórios
nítida pretensão de rejulgamento da causa, o que não é viável neste seara.

Conforme consignado no acórdão embargado, não foi


encontrado nos autos nenhum documento fiscal ou comprovante de
pagamento referente aos serviços contábeis prestados ao Diretório Estadual
do Mato Grosso.

Embora o embargante aduza que os documentos juntados às


fis. 88-90, 94-96, 100-102, 109-11, 116-117, 125-127, 137-139, 143-144,
145-146, 150-152, os boletos bancários e as faturas, analisados em conjunto,
são capazes de comprovar a regular aplicação dos recursos, verifica-se que tal
informação não condiz com a verdade dos fatos, uma vez que tais documentos
não correspondem aos serviços descritos; apenas às fls. 88-90 do Anexo 39
consta um instrumento de contrato cujo objeto é a prestação de serviços
contábeis, porém não há comprovação de pagamento mediante recibo ou nota
fiscal, razão pela qual não há nenhuma omissão a ser suprida ou contradição a
ser corrig ida.

Sobre a comprovação dos serviços prestados por Maria dos


Aflitos Dantas Limeira, mediante recibo, verifico que a Assessoria de Exame de
Contas Eleitorais e Partidárias identificou que se trata de prestadora de
serviços emitente de nota fiscal de serviço avulso.

O inciso II do art. 90 da Res.-TSE n° 21.841/2004 é bastante


didático ao estabelecer que o recibo somente pode ser aceito na hipótese de a
emissão da respectiva nota fiscal ser dispensável por lei, in verbis:
ED-PC no 267-46.2012.6.00.0000/DF
lo

Art. 92 A comprovação das despesas deve ser realizada pelos


documentos abaixo indicados, originais ou cópias autenticadas,
emitidos em nome do partido político, sem emendas ou rasuras,
referentes ao exercício em exame e discriminados por natureza do
serviço prestado ou do material adquirido:
E ... ]
II - recibos, contendo nome legível, endereço, CPF ou CNPJ do
emitente, natureza do serviço prestado, data de emissão e valor,
caso a legislação competente dispense a emissão de
documento fiscal. (Grifei)

Conforme foi evidenciado pela relatora da presente


PC n° 267-46, "a prestadora de serviços está inscrita no Cadastro Nacional de

Pessoa Jurídica, premissa essa que, em princípio, a submete à legislação de


regência, no que se refere à emissão de documento fisca!'.

Dessa forma, não se verifica nenhuma omissão ou


contradição, estando evidenciado apenas o descontentamento do embargante
com o que foi decidido.

Igual sentimento de insatisfação se pode perceber em relação


à alegação de que o documento de fI. 273 do Anexo 47, referente a uma nota
fiscal no valor de R$ 315,76 (trezentos e quinze reais e setenta e seis
centavos), especifica a aquisição de material de copa.

Ao contrário do que sustenta o embargante, o documento fiscal


não traz a descrição dos materiais adquiridos, fato que por si só impossibilita a
verificação da regularidade da aplicação dos recursos, não comportando,
assim, nenhuma correção do julgamento inaugural.

O embargante também aponta omissão no acórdão


relativamente à irregularidade na aplicação dos recursos do Fundo Partidário
nos gastos com serviços advocatícios para a defesa de seus filiados,
porquanto deixou de examinar a tese por ele defendida de que "a defesa dos
membros do Partido e seus interesses políticos seria a forma mais evidente da
manutenção do Partido Político" (fi. 1138).

Não obstante a irresignação da agremiação, ressalto que


inexiste qualquer omissão a ser sanada. Depreende-se do acórdão que a
matéria foi detidamente analisada, embora contrária aos interesses do
ED-PC no 267-46.2012.6.00.0000/DF
11

embargante, conforme se extrai das seguintes passagens na parte que


interessa:

Relativamente à contratação de serviços advocatícios com recursos


do Fundo Partidário, o Partido se defende alegando que a "defesa
dos membros do partido Progressista e seus interesses políticos é a
forma mais evidente da manutenção do Partido Político" Ao
contrário, a ausência de patrocínio dessas causas pode levar à
"insubsistência" da agremiação (fI. 940).
Sustenta que não pode prevalecer a tese da unidade técnica deste
Tribunal Superior no sentido de que tais serviços não estão
contemplados no rol descrito no art. 44 da Lei n° 9.096/95.
No caso vertente, ratifico o parecer da Asepa, no sentido de não ser
possível a utilização de verba do Fundo Partidário, porquanto não
observado o art. 44 da Lei n° 9.096/95, que determina a destinação
dos recursos e sua vinculação à atividade político-partidária.
A meu ver, é possível à agremiação a contratação de serviços
advocatícios para a defesa de terceiros, desde que demonstre ser
este terceiro filiado ao partido e ainda que a conduta judicialmente
apurada tenha como objeto a atuação do agente como gestor ou
responsável da agremiação, tal qual ocorre, comumente, com os
tesoureiros do partido que, nos processos de prestação de contas,
estão assistidos exatamente por advogados da agremiação.
É de se ter enraizado nas estruturas partidárias a consciência da
transparência, da moralidade, da economicidade, da razoabilidade e
tão outros importantes princípios norteadores das despesas com
recursos públicos, exatamente para que os gastos com o Fundo
Partidário não percam a sua natureza de sustentação do nosso
modelo republicano.
Como se vê, a contratação de advogado se deu em razão de defesa
de filiado, o que, por si só, não é condição suficiente para a
comprovação do art. 44 da Lei n° 9.096/95.
Consoante defendi na PC n° 255-321DF, é admissível a contratação
dos aludidos serviços desde que o partido evidencie que a
conduta em exame tem relação direta com as atividades
desenvolvidas pelo agente dentro do partido, o que não se
observa no caso em tela.
Os recursos oriundos do Fundo Partidário se prestam à manutenção
da entidade como "canais legítimos de atuação política e sociaf' 2,
dentro do complexo mecanismo democrático que vivemos.
Ao contrário, o que se verifica nos aludidos serviços advocatícios é a
contratação de profissionais do direito para defender causas
individuais e personalíssimas, tendo como matéria de fundo
possíveis atos de improbidade administrativa, consubstanciados em
fraudes e desvios de finalidade em processos licitatórios.
(As. 1068-1069)

2
Gomes, José Jairo. Direito Eleitoral 12. ed.
- - São Paulo: Atlas, 2016, p. 107. Q~

ED-PC no 267-46.2012.6.00.0000/DF 12

De se ver que em momento algum a relatora afirmou ser


inviável a contratação de serviços advocatícios para defesa de integrantes da
agremiação partidária. Fez apenas a ressalva de que tais gastos devem estar
vinculados à atividade político-partidária.

Na hipótese da presente PC no 267-46, os serviços


advocatícios foram contratados na defesa de filiados pela suposta prática de
ato de improbidade administrativa, em função de fraude e/ou de desvio de
finalidade em processo licitatório.

Ora, seria um verdadeiro contrassenso admitir o pagamento de


honorários advocatícios com receitas do Fundo Partidário, ou seja, verba
pública, a investigado exatamente pelo desvio ou aplicação irregular de
dinheiro público.

No que se refere à alegada omissão quanto ao repasse de


recursos do Fundo Partidário para a conta pessoal de Luiz Fernando Furtado
da Graça, candidato nas eleições suplementares ao cargo de prefeito do
Município de Valença/RJ, entendo que realmente não foi levado a efeito no
julgamento da PC n° 267-46 o fato de o TRE/RJ haver editado a Resolução
n° 724/2010, disciplinando a arrecadação e aplicação de recursos e a
prestação de contas nas eleições municipais suplementares.

O art. 30 desse instrumento normativo realmente estabeleceu


que não haveria inscrição de candidato no Cadastro Nacional de Pessoa
Jurídica (CNPJ). Já o seu parágrafo único fixou que a conta específica de que
tratava o art. 10 da Res.-TSE no 22.715/2008 ficaria vinculada à inscrição do
candidato no Cadastro de Pessoa Física (CPF).

Revendo o entendimento firmado no acórdão embargado, sob


a ótica da normatização assentada pelo TRE/RJ, em que pese ser
questionável possível divergência aos preceitos estabelecidos por este
Tribunal Superior, tenho que a edição dessa resolução induziu a agremiação
partidária a erro, o que torna o repasse dos recursos do Fundo Partidário do
Diretório Nacional para a conta individual do candidato respaldado pelo
princípio da boa-fé.
ED-PC no 267-46.2012.6.00.0000/DE 13

É certo que o uso de verbas do Fundo Partidário, em função do


seu caráter público, deve estar pautado pelos princípios da transparência, da
moralidade, da economicidade, da razoabilidade e tantos outros princípios
norteadores das despesas com recursos públicos, exatamente para que não
percam a sua natureza de sustentação do nosso modelo republicano.

Assim, tenho que a impropriedade apontada, em princípio, não


comprometeu o controle da presente prestação de contas, porquanto o
repasse de recursos diretamente na conta individual do candidato encontrou
amparo no instrumento normativo expedido pelo TRE/RJ.

Desse modo, deve ser suprimido o montante de R$ 30.000,00


(trinta mil reais) do valor total da condenação do Diretório Nacional do Partido
Progressista a restituir ao Tesouro nacional.

Quanto ao repasse de recursos do Fundo Partidário na quantia


de R$ 38.226,07 (trinta e oito mil, duzentos e vinte e seis reais e sete centavos)
para cumprimento de obrigação do Diretório Estadual de Pernambuco
referente à desaprovação da PC n° 787, contas anuais de 2005, não vislumbro
nenhuma omissão ou contradição no acórdão embargado.

Digo isso porque ficou evidenciado na análise da unidade


técnica desta Corte Superior que o Diretório Estadual utilizou-se dos recursos
do próprio Fundo Partidário, a ele repassados pelo Diretório Nacional, para o
cumprimento da obrigação de ressarcir ao Erário os recursos aplicados
irregularmente e identificados na sua prestação de contas anuais de 2005.

Quanto à alegação de que não ficou patente no acórdão


recorrido a quem recairia a responsabilidade sobre a irregularidade apontada,
se ao Diretório Nacional ou Estadual, verifico que a condenação ao
ressarcimento incidiu sobre o Diretório Nacional.

Na hipótese, cabe a esse órgão maior proceder a possíveis


compensações por perdas financeiras em relação ao Diretório Estadual de
Pernambuco, em função da sua condição de gestor e distribuidor da cota-parte
a que faz jus a agremiação partidária nacional.
ED-PC no 267-46.2012.6.00.0000/DF 14

Sob esse raciocínio, entendo correta a decisão que manteve a


irregularidade e determinou que o Diretório Nacional devolvesse o montante de
R$ 38.226,07 (trinta e oito mil, duzentos e vinte e seis reais e sete centavos) ao
Tesouro Nacional, por meio de recursos próprios.

Por fim, quanto à pretensão do embargante no sentido de que


seja recalculado o montante apurado para efeito de ressarcimento ao Tesouro
Nacional, sob a alegação de que as irregularidades tidas por incontroversas
atingem o valor de R$ 324.021,07 (trezentos e vinte e quatro mil, vinte e um
reais e sete centavos) e não de R$ 835.033,48 (oitocentos e trinta e cinco mil,
trinta e três reais e quarenta e oito centavos), conforme apontado no item 26
do acórdão embargado, relativamente à aplicação irregular de recursos do
Fundo Partidário com o pagamento de despesas do Diretório Nacional, em
descumprimento ao disposto nos arts. 37, § 10, e 44, 1, da Lei n° 9.096/1 995,
c.c o art. 90 da Resolução-TSE n° 21 .841/2004, tem-se que também não lhe
assiste razão.

No acórdão ora embargado a então relatora do feito, Ministra


Luciana Lóssio, fez constar expressamente que estava adotando
"parcialmente a manifestação da Asepa, como razões de decidir" (fI. 1057).
Porém, apresentou as ressalvas que entendia pertinentes, particularmente
aos pontos impugnados pelo partido político em sua defesa de
fls. 91 2-946.

Na sua detida análise sobre as matérias tidas por relevantes, a


relatora afastou algumas irregularidades e manteve outras.

No entanto, cabe deixar claro que desde o início foi levado a


efeito o montante apurado como irregular pela Asepa no valor de
R$ 1.579.180,46 (um milhão, quinhentos e setenta e nove mil, cento e
oitenta reais e quarenta e seis centavos).

Nesse ponto, é de se notar que o cálculo apresentado pelo


embargante não reflete o que realmente restou decidido no acórdão ora
embargado.
ED-PC no 267-46.2012.6 .00.0000/DE 15

O embargante está considerando tão somente a soma das


irregularidades ressalvadas e excepcionadas pela relatora no corpo do voto
condutor.

A matemática não é essa. As ressalvas, sejam aquelas que


foram afastadas ou aquelas mantidas, devem ser subtraidas ou conservadas
do montante de R$ 1.579.180,46 (um milhão, quinhentos e setenta e nove mil,
cento e oitenta reais e quarenta e seis centavos).

Assim, para melhor intelecção do que constou do voto


condutor da Ministra Luciana Lóssio, se faz mister observar o que foi
expressamente pontuado pela relatora, a qual deduziu os valores tidos por
regular do montante aferido no parecer técnico conclusivo, pois as demais
irregularidades foram acatadas pela relatora, nos exatos termos registrados
pela Asepa.

Portanto, a operação simplista de soma e subtração realizada


pelo embargante, considerando apenas uma face do acórdão recorrido
referente aos itens pontuados pela relatora, não deve prosperar, haja vista
desconsiderar as irregularidades subsistentes no parecer técnico e que foram
tomadas expressamente como razão de decidir pela relatora.

Para que não paire dúvidas, seguem os cálculos que


demonstram com exatidão o valor a ser ressarcido pelo partido político ao
Tesouro Nacional:

- Montante apurado pela Asepa - R$ 1.579.180,46.


- Valores afastados pela Relatora Mm. Luciana Lóssio:
- R$ 30.000,00 - item 3 do acórdão, fI. 1079 dos autos.
- R$ 596.635,00 - item 3 do acórdão, fls. 1069-1 077 dos autos.
- R$ 12.000,00 - subitem ii do item 3 do acórdão, fI. 1079 dos
autos.
- R$ 105.511,98 - subitem i do item 4 do acórdão, fi. 1083 dos
autos.
Total dos valores (irregularidades) afastados - R$ 744.146,98.
Valor apurado pela Asepa (R$ 1.579.180,46) - valor afastado no
acórdão (R$ 744.146,98) = R$ 835.033,48.

wJ
ED-PC n° 267-46.2012.6.00.0000IDF 16

Do exposto, acolho parcialmente os embargos de


declaração, apenas para suprimir o montante de R$ 30.000,00 (trinta mil
reais) do valor total da condenação do Diretório Nacional do Partido
Progressista a restituir ao Tesouro Nacional.

É como voto.
ç)
VOTO (vencido)

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN: Senhora Presidente,


eu peço vênia ao eminente relator, Ministro Tarcisio Vieira de Carvalho Neto,
para fazer uma ponderação em sentido diverso, partindo da mesma premissa
de Sua Excelência. É inegável que a Resolução n° 724 do Tribunal Regional
Eleitoral do Rio de Janeiro contém, em seu art. 30, regra 'segundo a qual não
haverá inscrição de candidato ou comitê financeiro no CNPJ. Portanto, Sua
Excelência está a extrair daí um requisito da boa-fé.

Nada obstante, no acórdão respectivo da prestação de contas,


eu depreendo que a eminente relatora, Ministra Luciana Lóssio, embora não
tenha se referido diretamente à boa-fé, pareceu-me estar atenta a essa
circunstância.

Assentou-se, naquele julgamento, no voto da lavra da


eminente relatora:

Alega a agremiação que, no momento da doação de recursos de


campanha a candidatos, não é possível reconhecer se é o caso de
conta particular, de outros recursos ou do fundo partidário.
Afirma que o Partido tão só efetua o repasse dos recursos por meio
de depósito com os dados fornecidos pelo candidato. Daí aduzir que
a responsabilidade não é da agremiação, mas sim do candidato que
indicou conta bancária em desacordo com o disposto nos arts. 91 e
10 da Res.-TSE n° 23.217/2010.
Na hipótese, entendendo que o Partido deveria ter sido diligente
para verificar se a transferência dos recursos estava sendo
destinada para a conta específica do candidato.
ED-PC n° 267-46.20 12.6.00.0000/DF 17

Portanto, aqui se aponta uma ausência de diligência, o que


não me parece compatível, com todas as vênias, com o argumento da boa-fé.

Indicava ainda a eminente relatora:

(...)

Assim, não merece prosperar a argumentação segundo a qual os


depósitos são realizados com os dados informados pelo candidato.
Ora, a conta específica de campanha é vinculada a uma inscrição no
Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) do candidato com a
identificação do pleito correspondente. Tais fatos não são de
desconhecimento do partido político, até porque, na condição de
Diretório Nacional, tem por função basilar expedir as diretrizes e
repassar aos órgâos da sua estrutura organizacional as orientações
e coordenadas sobre os procedimentos necessários a serem
observados no processo eleitoral.
(«.)

Acompanho o parecer da Asepa, para manter a irregularidade e


determinar o recolhimento ao Erário, com recursos próprios, no valor
de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).

Essa parte dos embargos que o eminente Ministro Tarcisio


Vieira de Carvalho Neto acolheu com efeito modificativo, com todas as vênias,
eu entendo que, embora a boa-fé seja um princípio magno, relevantíssimo, e
tem eficácia normativa vinculante, parece-me conduzir em sentido diverso.

A ponderação e a inflexão que com todo respeito estou a fazer


é no sentido de não acolher, nem parcialmente, os embargos interpostos.

VOTO

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO: Senhora


Presidente, eu precisaria de mais tempo para exame dos autos, o que não se
justificaria a esta altura, para formar opinião sobre o ponto específico que o
Ministro Edson Fachin acaba de suscitar. Diante disso, peço todas as vênias à
divergência para acompanhar o relator.
ED-PC no 267-46.201 2.6.00.0000/DF 18

VOTO (vencido)

O SENHOR MINISTRO HERMAN BENJAMIN: Senhora


Presidente, eu verifiquei, neste caso, que o acórdão embargado analisou
especificamente o tema em debate e, exceto se houvesse um de base fática
que inviabilizasse a conclusão a qual chegamos, não vejo como possamos -
da forma mais técnica possível, aquela sempre esposada pelo eminente relator
desses embargos - rejulgar tema expressamente enfrentado pelo acórdão
embargado.

Correto ou não, assim nós julgamos. Por isso, não vejo como,
por meio de embargos de declaração, possamos alterar esse perfil do
comportamento como de boa ou má-fé.

O SENHOR MINISTRO TARCISIO DE VIEIRA DE CARVALHO


NETO (relator): Ministro Herman Benjamin, Vossa Excelência me permitiria um
aparte? De fato, esse ponto foi enfrentado - parcialmente, a meu ver - pelo
ângulo da existência de inadequada resolução baixada pelo TRE do Rio de
Janeiro, em contrariedade aos comandos advindos do Tribunal Superior
Eleitoral. Com base nessa resolução, ter-se-ia extraído um comportamento
inadequado.

Mas, da análise que fiz, há outro fundamento imbricado com o


primeiro, suficiente para a reversão desse quadro, que é o fato de esse
descontrole formal não ter, de maneira nenhuma, prejudicado o exame da
questão de fundo e não ter sido encontrado nenhum vício na destinação do
dinheiro.

Realmente, o repasse circulou diretamente na conta individual,


mas foi aplicado dentro das finalidades que o justificavam. Nessa omissão
parcial, animei-me a revisitar pontualmente a matéria, para fazer uma dedução
muito simples. A sugestão inicial era de glosa de R$ 1,5 milhão; a decisão
embargada rebaixou para R$ 800 mil; a pretensão do embargante era de
reduzir a R$ 300 mil - essa nós estamos indeferindo.
ED-PC no 267-46.2012.6.00.0000/DF 19

Desse universo de R$ 800 mil, a proposta que trago é de


dedução apenas de R$ 30 mil - essa é minha divergência com o Ministro
Edson Fachin - de uma verba que, do ponto de vista formal, deveria ter
inspirado cuidados, mas nada grave, nada que tenha afetado o controle
substancial da destinação.

O SENHOR MINISTRO HERMAN BENJAMIN: O resultado


concreto não altera muito o que foi decidido no acórdão embargado, porque
sairemos de R$ 835 mil - para ser mais preciso -, do valor previsto no acórdão
embargado, para algo em torno de R$ 800 mil. Prendi-me à questão dos
requisitos dos embargos de declaração para acompanhar o Ministro Edson
Fachin.

VOTO

O SENHOR MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO:


Senhora Presidente, eu reconheço que os embargos de declaração são o
primo pobre da família recursal que mora na periferia, muito longe, e anda a
pé. Dificilmente ele é visto com bons olhos e com apreço por seus irmãos, os
recursos de outra natureza.

Pelo que verifiquei, tanto do voto do relator quanto do próprio


voto do Tribunal de origem, há uma resolução do TRE do Rio de Janeiro
autorizando o repasse dos valores para a conta pessoal do candidato. É claro
que isso é algo bizarro, esquisito, que não podemos aplaudir e muito menos
apoiar.

Entretanto, há também informação de que, apesar desse


repasse, os recursos foram empregados na finalidade a que se destinavam.
Portanto, não houve nenhuma malversação, nenhum desvio, nada que
merecesse repulsa veemente ou repreensão mais rígida.

Como bem disse o relator, trata-se de descontrole formal, não


havendo da parte do candidato que recebeu os recursos evidência de má-fé.
Aliás, a má-fé deveria ser provada, pois a boa-fé sempre se presume. Com
ED-PC n° 267-46.2012.6 .00.0000/DE 20

todo o respeito à divergência aberta pelo eminente Ministro Edson Fachin e


sequenciada pelo douto Ministro Herman Benjamin, entendo que seria algo
fora do razoável, embora racional. O excesso nessas repressões termina
criando um desnecessário ambiente de tensão, que pode ser evitado.

Peço vênia aos Ministros Edson Fachin e Herman Benjamin


para acompanhar o relator.

VOTO

O SENHOR MINISTRO ADMAR GONZAGA: Senhora


Presidente, estando em sede de embargos de declaração em prestação de
contas e sendo informado pelo eminente relator que houve erronia, houve
divergência de preceitos de resoluções pedidas pela Justiça Eleitoral, além da
inviabilização do acerto da aplicação dos recursos, peço vênia à divergência
para acompanhar o relator.

O DOUTOR NICOLAO DINO (vice-procurador-geral eleitoral):


Senhora Presidente, permita-me esclarecer um pequeno detalhe, tendo em
vista a ponderação do Ministro Napoleão Nunes Maia Filho quanto à
configuração da boa-fé, na linha do eminente relator.

O art. 22 da Lei n° 9.504/97 determina expressamente a


obrigatoriedade de os candidatos abrirem conta bancária específica para a
movimentação dos recursos. Parece-me extremamente difícil argumentar ou
contrapor a uma disposição legal, uma resolução do TRE, como forma de
justificar ocorrência de boa-fé. Boa-fé contra expressa discussão de lei,
data maxima venha, parece-me pouco plausível.

Era essa a minha observação.

O SENHOR MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO:


Senhora Presidente, posso fazer uma ponderação ao douto procurador?
ED-PC n1267-46.2012.6.00.0000/DF 21

Qual é a finalidade de abri-se uma conta específica para


recepção e movimentação desses recursos? É fiscalizar! Não há nenhum outro
intuito, nenhum outro objetivo, nenhuma outra teleologia. É fiscalizar!

E, apesar desse desvio administrativo, dessa irregularidade


verificada, foi feita a fiscalização e constatou-se que os recursos foram
aplicados na finalidade a que se destinavam. Abrir conta específica, com todo
o respeito, reduz-se a uma exigência pela exigência e não pela sua função,
que era permitir a fiscalização, realizada a contento e com satisfatoriedade.

VOTO (vencido)

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER (no exercício da


presidência): Senhores Ministros, consta de minhas anotações exatamente
este ponto: a matéria foi enfrentada no acórdão e, certo ou errado, ela foi
decidida. Entendo extremamente ponderáveis os fundamentos trazidos por um
e outro ministro, mas a matéria já foi julgada.

Peço todas as vênias ao relator para acompanhar a


divergência.
ED-PC n° 267-46.2012.6.00.0000/DF 22

EXTRATO DA ATA

ED-PC n° 267-46.2012.6.00.0000/DF. Relator: Ministro Tarcisio


Vieira de Carvalho Neto. Embargante: Partido Progressista (PP) - Nacional
(Advogados: Saulo Vitor da Silva Munhoz - OAB: 51033/DE e outros).

Decisão: O Tribunal, por maioria, acolheu parcialmente os


embargos de declaração, nos termos do voto do relator. Vencidos os Ministros
Edson Eachin e Herman Benjamin e a Ministra Rosa Weber.

Presidência da Ministra Rosa Weber. Presentes os Ministros


Luís Roberto Barroso, Edson Fachin, Herman Benjamin, Napoleão Nunes
Maia Filho, Admar Gonzaga e Tarcisio Vieira de Carvalho Neto, e o
Vice-Procurador-Geral Eleitoral, Nicolao Dino.

SESSÃO DE 22.8.2017.*

Sem revisão das notas de julgamento dos Ministros Herman Benjamin e Admar Gonzaga.

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