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Índice

DECLARAÇÃO DE AUTORIA....................................................................................................ii

AGRADECIMENTOS...................................................................................................................iii

DEDICATÓRIA.............................................................................................................................iv

LISTA DE SIGLAS........................................................................................................................v

SUMÁRIO EXECUTIVO..............................................................................................................vi

INTRODUÇÃO...............................................................................................................................1

Tema.............................................................................................................................................1

Delimitação Espácio-Temporal....................................................................................................1

Contextualização..........................................................................................................................1

Justificativa..................................................................................................................................2

Problematização...........................................................................................................................3

Objectivos....................................................................................................................................4

Objectivo geral.........................................................................................................................4

Objectivos específicos..............................................................................................................4

Questões de Pesquisa...................................................................................................................5

Hipóteses......................................................................................................................................5

Metodologia.................................................................................................................................5

Estrutura do Trabalho...................................................................................................................7

CAPÍTULO 1: REFERENCIAL TEÓRICO E MARCO CONCEPTUAL....................................8

1.1. Referencial Teórico: Teoria Realista e Teoria de Dissuasão................................................8

1.1.1. Teoria Realista................................................................................................................8


1.1.1.1. Surgimento da T

1.1.2. Teoria de Dissuasão......................................................................................................11

1.2. Marco Conceptual...............................................................................................................14

1.2.1. Estado...........................................................................................................................14

1.2.2. Fronteira.......................................................................................................................14

1.2.3. Estratégia......................................................................................................................15

CAPÍTULO 2: DISPUTAS TERRITORIAIS NAS ZONAS FRONTEIRIÇAS ENTRE A


CHINA E A ÍNDIA.......................................................................................................................16

2.1. Causas Históricas................................................................................................................16

2.2. Causas Securitárias.............................................................................................................18

2.2.1. Causas Geoestratégicas................................................................................................20

2.2.2. Acesso à Recursos Hídricos.........................................................................................23

2.2.3. Acesso à Minérios e Energéticos..................................................................................25

2.3. Causas Políticas e Identitárias.............................................................................................26

CAPÍTULO 3: INCIDENTES DAS DISPUTAS TERRITORIAIS NAS ZONAS


FRONTERIÇAS ENTRE CHINA E ÍNDIA.................................................................................29

3.1. Incidente de Daulat Beg Oldi..............................................................................................29

3.2. Incidente de Chumar...........................................................................................................30

3.3. Incidente de Demchok........................................................................................................31

3.4. Incidente em Doklam..........................................................................................................32

CAPÍTULO 4: CONSEQUÊNCIAS SÓCIO-POLÍTICAS E MILITARES DAS DISPUTAS


TERRITORIAIS NAS ZONAS FRONTEIRIÇAS ENTRE CHINA E ÍNDIA...........................34

4.1. Consequências Económicas................................................................................................34


4.1.1. Uso dos Recursos Hídricos e Energéticos....................................................................35

4.1.2. Construção de vias de acesso e Infra-estruturas...........................................................36

4.2. Consequências Sociais........................................................................................................38

4.2.1. Reestruturação demográfica.........................................................................................39

4.2.2. O Papel da Identidade nos Territórios das Zonas Fronteiriças.....................................40

4.3. Consequências Políticas......................................................................................................41

4.3.1. Consequências Diplomáticas........................................................................................42

4.4. Consequências Militares.....................................................................................................43

4.4.1. Actualização das Estruturas e Instrumentos Militares da China..................................43

4.4.2. Avanços na Militarização dos Territórios Fronteiriços................................................45

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................47

REFERÊNCIAS............................................................................................................................49
INTRODUÇÃO

Tema:
O presente trabalho tem como tema: Consequências Sócio-Políticas e Militares das Disputas
Territoriais nas Zonas Fronteiriças entre China e Índia (2013-2019).

Delimitação Espácio-Temporal
As disputas que estremecem as relações amistosas entre China e Índia estão localizados
territórios de Aksai Chin, Arunachal Pradesh e Tibete. Aksai Chin e Tibete são territórios da
China e Arunachal Pradesh território da Índia. A pesquisa em curso, compreende um período de
6 anos, no início do segundo trimestre de 2013 ao fim de 2019. Em Abril de 2013, o jornal
Sunday Guardian citado por Singh (2017:11), descreve uma ilustração da ocupação chinesa de
toda a área de deserto nevado de Aksai Chin e sua linha de reclamações estendendo-se até a
cordilheira de Karakoram marcada em um alinhamento Norte-Sul 1. Segundo o Sputnik News2,
em Outubro de 2019, caças indianos realizaram manobras em áreas próximas a Linha de
Controlo Real (Line of Actual Control-LAC) para estarem prontos nestas regiões em caso de
guerra com China.

Contextualização
No contexto internacional, as relações sino-indianas atravessam um momento instável. Estes dois
Estados são potências emergentes no sistema internacional. Os dois Estados têm territórios
enormes e que em diversas fronteiras carecem de delimitações claras que limitam um território
em relação ao outro. Segundo a CIA (2019:8), as tensões permanecem com a Índia ao longo da
fronteira compartilhada sobre Arunachal Pradesh, que a China afirma ser parte do Tibete e,
portanto, parte da China, e sobre a região de Aksai Chin, no extremo oeste do platô tibetano.
Patrulhas chinesas e indianas regularmente se encontram ao longo da fronteira disputada, e
ambos os lados frequentemente se acusam de incursões fronteiriças.

1
Sunday Guardian (2013), depicting the Chinese incursion and the rival claim lines, Extract of map reproduzed in
newspaper.
2
https://br.sputniknews.com/defesa/2019101614649367-cacas-indianos.realizam-manobras-para-estarem-prontos-
em-caso-de-guerra-com-china/, consultado aos 21 de Novembro de 2019.

1
No contexto regional, nota-se que a Índia e China são potências regionais e esse status deve ser
defendido. Ásia-Pacífico está num ambiente tenso no que tange a partilha de territórios nas zonas
fronteiriças que por outro lado envolve muitos Estados com especial atenção na China e Índia
que sempre demonstraram grandes interesses em relação aos outros dois países, nomeadamente:
Butão, Nepal e Paquistão que estão incumbidos nesta fronteira. Segundo Garver (2002) citado
por Kalyanaraman e Ribeiro (2017:13), apresenta três aspectos que definem as relações China e
Índia, que são: o status do Tibete, a parceria China e Paquistão e competição por influência
regional. No contexto de influência pela Ásia, a Índia recusou-se a participar da One Belt One
Road (OBOR) da China para ampliar a conectividade económica regional. Ao contrário disso, a
Índia promoveu seus próprios projectos como a Região do Oceano Índico (ROI), Indian Ocean
Rim Association (IORA), Indian Ocean Naval Symposium (IONS) e aproximou-se do Japão.

Segundo Singh (2017:11), a fronteira Índia-China (Tibete) se estende por 4.056 km de extensão,
de um ponto ao sul dos Pamir e, daí, para leste, até um ponto no tri-cruzamento de Índia-China-
Mianmar. A fronteira internacional Índia-China permanece "indeterminado" e actualmente uma
norma subjacente que identifica a fronteira é uma observância tácita do princípio geográfico da
"bacia hidrográfica" que segue a crista da mais alta cadeia de montanhas que divide a Índia e o
Tibete. A área de 596 km da fronteira Índia-China (Indo-Tibete) relaciona-se com a linha de
fronteira indicando a fronteira Internacional (International Borders-IBs) entre os territórios de
Himachal Pradesh, Uttarakhand e Sikkim pertencentes a Índia. Os restantes 3.460 km da
fronteira internacional com a China são referidos pelos chineses como a Linha de Controlo Real
(Line of Actual Control-LAC).

Justificativa
O trabalho em curso é preponderante no estudo das relações internacionais particularmente na
percepção das relações de poder como forma de influência dos dois grandes Estados na Ásia no
que tange aos territórios que estão nas proximidades fronteiriças. Esses territórios foram um
desafio para as potências colonizadoras e ainda continuam sendo aos Estados que as reivindicam.
Assim sendo, o trabalho é uma alternativa aos pesquisadores, a comunidade académica que
almeja perceber o assunto e consequentemente vai ajudar nos futuros trabalhos de pesquisa e
enriquecimento do acervo bibliotecário da instituição em particular.

2
O facto da China e Índia serem líderes regionais e dois gigantes, tanto económicos como
militares traz uma relevância na investigação desta disputa e de como estes actores lidam com
este assunto que de longe estremece as relações amistosas entre os dois Estados e conseguem
gerir esse assunto. A China e a Índia são os Estados com maior número de população na Ásia e
no mundo e uma possível confrontação nestes territórios em disputa pode levar até a uma crise
humanitária. Não obstante, o trabalho é importante para provar que as relações da China e Índia
andam entre dicotomias de cooperação e competição. Assim sendo o trabalho é um instrumento
académico importante para o estudo das relações sino-indianas nos territórios das zonas
fronteiriças.

Problematização
Os problemas fronteiriços são desde a criação do Estado moderno um problema sério sendo que
há diferentes tipologias de fronteiras que não fornecem consenso aos Estados que partilham.
Ratzel (1897) citado por Cataia (S/d:13) chama de fronteiras deficientes aquelas fronteiras que
apresentam problemas de demarcações e que estão em permanente discussão 3. Um Estado usa
três considerações do sistema internacional para identificar como seus interesses nacionais se
aplicam a uma disputa de fronteira: o valor do território disputado; a situação geopolítica; e
preocupações normativas. O valor de um território disputado pode ser tangível e ou intangível. O
território tem valor tangível quando tem alguma utilidade económica e ou militar ou ainda
estratégica. A utilidade económica inclui as terras que contêm alguns recursos exploráveis, como
depósitos minerais ou terras aráveis. A utilidade militar ou estratégica envolve o território com
uma geografia particularmente útil para operações militares defensivas ou ofensivas, como
terrenos altos ou estar perto de um ponto de estrangulamento chave pelo qual qualquer invasor
em potencial precisaria atravessar ou ser útil para a defesa mais ampla do Estado, como fornecer
um buffer (área tampão) útil entre a fronteira e os principais Estado (Westcott, 2017:38).

Segundo Celerier (1995), citado por Pêcego (2018:52), um aspecto importante a ser considerado,
para que o Tibete receba a atenção cuidadosa do governo chinês, é sua importância estratégica
geopolítica. Isso é confirmado ao verificar que para os estudos geopolíticos, factores como a
extensão territorial, o relevo, a posição geográfica, os recursos naturais e a população, são
significativos para o conhecimento e classificação de um Estado ou de uma região. Para Hochart
3
Ratzel, F. (1897), La géographie Politique, Paris: Fayard/Genève: Editions Regionales Européens.

3
(2019:55), o Tibete é uma região rica em relação aos recursos hidrográficos, sendo o terceiro
maior reservatório de água doce do mundo, perdendo apenas para os pólos do planeta. Segundo o
portal BBC4 uma das principais queixas da Índia é que, com a China ampliando seu controle
sobre o uso das bacias, a água se torna uma arma política, que pode ser usada para chantagear o
país em decisões que deveriam ser diplomáticas. Entretanto, considerando ainda a importância da
água para a vida humana e o valor que o controle das nascentes possui, pode se compreender o
grande interesse pela região tibetana.

Portanto, para que haja uma demonstração de força militar ao longo da zona fronteiriça está na
preservação de algumas áreas que os Estados vê-os como de interesse central pois garantem o
acesso a regiões geoestratégicas que por sua vez oferecem recursos indispensáveis a vitalidade
dos mesmos. Segundo Hochart (2019:12), ainda existem tensões em torno dos territórios
fronteiriços da Índia com a China e as reivindicações feitas pelos dois países pelos Aksai Chin e
Arunachal Pradesh. Além disso, há também o fato de a China tentar "conquistar"
economicamente países perto da Índia, possibilitando um isolamento e uma dependência forçada
da China. Assim sendo, ao que se observa entre estes dois Estados surgem a seguinte questão de
partida: Quais são as consequências sócio-políticas e militares das disputas territoriais nas zonas
fronteiriças entre Índia e China?

Objectivos
Objectivo geral
 Compreender as consequências sócio-políticas e militares das disputas territoriais nas
zonas fronteiriças entre China e Índia.

Objectivos específicos
 Analisar as causas das disputas territoriais nas zonas fronteiriças entre China e Índia.
 Identificar os incidentes das disputas territoriais nas zonas fronteiriças entre China e
Índia.
 Demonstrar as consequências sócio-políticas e militares das disputas territoriais nas zonas
fronteiriças da China e Índia.

4
www.bbc.com/portuguese/internacional-40443826, consultado aos 23 de Março de 2019.

4
Questões de Pesquisa
 Quais são as causas das disputas fronteiriças entre China e Índia?
 Quais são os incidentes das disputas territoriais nas zonas fronteiriças entre China e
Índia?
 Que consequências as disputas territoriais nas zonas fronteiriças entre China e Índia têm?

Hipóteses
 As causas das disputas dos territórios fronteiriços entre China e Índia alicerçar-se na
posição geoestratégica dos territórios reivindicados.
 As disputas territoriais nas zonas fronteiriças entre China e Índia levam a incidentes
diplomáticos entre os países arredores destes territórios.
 As consequências das disputas dos territórios nas zonas fronteiriças entre China e Índia
podem ser de estratégia revisionista nos territórios em disputa.

Metodologia
O trabalho em curso tem como a seguinte metodologia: natureza da pesquisa, objectivos de
pesquisa, aos métodos de abordagem, métodos de procedimento e as técnicas de pesquisa. Estes
métodos e técnicas são úteis na pesquisa.

Quanto a natureza
Quanto a natureza a pesquisa é básica. A pesquisa básica tem como propósito gerar
conhecimentos novos, úteis para avanço da ciência sem uma aplicação prevista, envolve
normalmente, mais os assuntos de interesses globais (Lundin, 2016:120). Esta natureza de
pesquisa traz a inovação de assuntos que tem a ver com sistema internacional em geral. Para este
caso, a pesquisa tem a ver com o litígio entre China e Índia.

Quanto aos Objectivos


Para este trabalho, quanto ao objectivo o método é qualitativo. O método qualitativo é um
vínculo indissociável entre o mundo objectivo e a subjectividade do sujeito que não pode ser
traduzido em números absolutos ou percentuais (Ibid:117). Neste âmbito, esse método é crucial
visto que a pesquisa procura trazer elementos cognitivos além dos palpáveis da China e Índia.

5
Método de abordagem
Para o desenvolvimento deste trabalho recorreu-se ao Método hipotético-dedutivo. Este método
inicia pela percepção de uma lacuna nos conhecimentos acerca da qual formula hipóteses e, pelo
processo de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de fenómenos abrangidos pela
hipótese (Lakatos e Marconi, 2003:106). Para este trabalho, o método hipotético-dedutivo é
importante pois constitui um elemento de construção de ideias lógicas partindo de informações já
existentes.

Método de Procedimento
Para a elaboração do trabalho recorreu-se ao método histórico. Este método consiste em
investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na
sociedade de hoje (Ibid:107). Para o efeito deste trabalho, método histórico é útil para busca
informações relevantes do passado que expliquem comportamento da China e Índia nos
territórios que se encontram nas zonas fronteiriças.

Técnicas de Pesquisa
O trabalho em curso tem o auxílio das seguintes técnicas de pesquisa: técnica documental,
bibliográfica e de entrevista.

Técnica documental
A técnica documental é usada para obter dados de forma indirecta, dados esses que tomam a
forma de documentos, livros, jornais, papéis oficiais registos estatísticos, fotos, discos, filmes e
vídeos (Gil, 2008:147). Para esta pesquisa, a técnica documental é crucial na para o
desenvolvimento do trabalho que apoia-se em documentos publicados de forma física e
electrónica que tem a ver com as relações dos territórios das zonas fronteiriças entre China e
Índia.

Técnica Bibliográfica
Esta técnica abrange toda bibliografia tornada pública em relação ao tema de estudo, desde
publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses entre outros
(Marconi e Lakatos, 2003:183). Neste sentido, para este trabalho, a técnica bibliográfica é

6
importante para o uso do material oficial disponibilizado por instituições e pesquisadores das
relações sino-indianas.
Técnica de Entrevista
A técnica de entrevista é uma forma de inteiração social. Mais especificamente, é uma forma de
diálogo assimétrico, em que uma das partes busca colectar dados e a outra se representa como
fonte de informaçãoˮ Gil (1999:117). Neste contexto, esta técnica traz contribuições de
conhecimentos de docentes e pesquisadores com ligação científica que acompanham as relações
sino-indianas no tangente as disputas dos territórios nas zonas fronteiriças.

Estrutura do Trabalho
O trabalho em curso está organizado em quatro (4) capítulos, antecedidos da introdução e
sucedidos pelas considerações finais e referências. O primeiro capítulo trata do referencial
teórico e o debate conceptual. Este primeiro capítulo traz o enquadramento da teoria de dissuasão
e teoria realista desde o contexto do surgimento, precursores, pressupostos e aplicabilidade no
tema em estudo. Neste primeiro capítulo encontra-se o debate de dois conceitos que são
fundamentais na com preensão do tema, a saber: Estado, fronteira e dissuasão. O segundo
capítulo traz as causas das disputas fronteiriças entre China e Índia. Este segundo capítulo trata
dos motivos internos que fazem com que haja projecções externas de afrontamento da China para
Índia e vice-versa.

O terceiro capítulo aborda os incidentes nos territórios das zonas fronteiriços entre a China e
Índia. Este terceiro capítulo traz as evidências que as causas das disputas territoriais nas zonas
fronteiriças apresentam. O quarto e último capítulo traz as consequências das disputas
fronteiriças entre a China e Índia. Este quarto capítulo traz as consequências políticas,
económicas, securitárias e sociais destes dois Estados para a conquista ou manutenção dos
territórios das zonas fronteiriças em disputa.

7
CAPÍTULO 1: REFERENCIAL TEÓRICO E MARCO CONCEPTUAL

O presente capítulo traz os fios condutores da pesquisa que são as teorias e o quadro conceptual.
Este capítulo nortea o pensamento lógico da pesquisa e ajuda a perceber devidamente o tema
com base na aceitação de pressupostos que explicam o comportamento dos actores envolvidos
neste tema face ao fenómeno em estudo e deste modo validam a pesquisa como um instrumento
académico. Assim sendo, o trabalho contém duas teorias de relações internacionais,
nomeadamente: teoria realista e teoria de dissuasão convencional. Essas teorias guiam o trabalho
com os pressupostos adequados ao contexto das disputas territoriais nas zonas fronteiriças entre
China e Índia. De igual modo, este capítulo traz o debate de conceitos que são importantes na
percepção do trabalho.

1.1. Referencial Teórico: Teoria Realista e Teoria de Dissuasão


O trabalho combina duas teorias fundamentais que são o realismo e a teoria de dissuasão. Essas
teorias são importantes nos estudos das relações estatais no sistema internacional e na
prossecução de interesses dos Estados. Essas teorias explicam o comportamento dos actores
estatais e são evidenciadas ao longo do trabalho.

1.1.1. Teoria Realista


O realismo é uma teoria chave na observação de comportamentos maquiavélicos dos Estados. As
lentes do realismo são inerentes para explicação de fenómenos que tem a ver com satisfação de
interesses do Estado com recurso ao poder tradicional, ou seja a força bruta e diversas
equipamentos que advém para complementar a essa força.

1.1.1.1. Contexto do Surgimento


O realismo tem as suas origens no mundo antigo, no entanto, foi somente com o final da
Segunda Guerra Mundial – com a análise das suas causas e consequências humanas e políticas,
em especial a constatação feita por alguns estudiosos do período de que as ideias idealistas,
predominantes entre as guerras, impediram uma acção mais firme e objectiva que evitasse uma
guerra de proporções mundiais, (Carr, 1981 citado por Bedin, et al, 2003:64) 5e a configuração

5
Carr, Edward. H., (1946), The Twenty Years´ Crisis, 1919-1939: An introduction to the study of International
Relation, Macmillan: London.

8
da polarização ideológica entre os Estados Unidos de América (EUA) e União Soviética no pós
Segunda Guerra Mundial – que o paradigma do realismo político se impôs como o modelo
teórico hegemónico e quase que exclusivo das relações internacionais.

Em relação às origens do mundo antigo, destacam-se Túcidides que com a sua célebre obra
“History of the Peloponesian War” (1972), dá início ao que mais tarde viria a se tornar a
abordagem realista das relações internacionais. Tucídides citado por Bedin, et al (2003:64)
6
sustentam que “o que tornou a guerra inevitável (no Peloponeso) foi o aumento do poder de
Atenas e o receio que isto provocou em Esparta”.

No início da renascença na Europa, (Viotti e Kauppi, 2012:45), destacam Maquiavel que tem
uma das partes mais controversas da sua tese que é a noção de segurança do Estado. Esta
segurança é importante que pode justificar certos actos do príncipe, isso seria proibido a outros
indivíduos não onerados pela responsabilidade principesca de garantir essa segurança. O fim é a
segurança do Estado e é entendido como justificador dos meios necessários para atingir esse fim.

Hobbes (1988) citado por Dougherty e Pfaltzgraff (2003:87)7, deu atenção à política e a natureza
do poder nos relacionamentos políticos. Embora acreditasse na necessidade de um soberano forte
para a manutenção da ordem no interior de um sistema político. Hobbes (1988) encontrava
poucas possibilidades para a alteração fundamental do comportamento humano ou do carácter
anárquico do panorama internacional. Ao sublinhar a importância de instituições políticas fortes
para gerir o poder e evitar conflitos, Hobbes aproximava-se, paradoxalmente, mais daqueles que
propunham um império mundial, do que dos realistas que optavam pela balança de poderes entre
os principais grupos políticos. A sua resposta para a situação de anarquia descrita pelos realistas
era a criação de uma ordem hierárquica em que o soberano estaria investido de poder supremo.

1.1.1.2. Precursores
Dougherty e Pfaltzgraff (2003:87) e Bedin et al (2003: 66) citam como precursores do realismo
político: Edward H. Carr (1946), Hans J. Morgenthau (1978), Kenneth Waltz (1979). Entertanto,

6
Tucídides, (1972): History of the Peloponnesian War, M. I. Finley (ed.). R. Warner (trad.), Penguin:
Harmondsworth.
7
Hobbes, Thomas (1988), Leviatã, (Editado e com tradução de Michael Oakeshott), Basil Blackwell: Oxford.

9
descendo às diferenets épocas da antiguidade os precursores do realismo são: Nicolau Maquiavel
(1987), Thomas Hobbes (1988) e Tucídides (1972).
1.1.1.3. Pressupostos
Segundo Viotti e Kauppi (2012:39), o realismo é uma imagem das relações internacionais
baseada em quatro pressupostos principais:
 Os Estados são os actores principais ou mais importantes em um mundo anárquico sem
governo central legítimo.
 O Estado é visto como um actor unitário. O Estado enfrenta o mundo exterior como uma
unidade integrada. De fato, uma suposição comum associada ao pensamento realista é
que as diferenças políticas dentro do Estado são, em última análise, resolvido
autoritariamente, de modo que o governo do estado fale com uma só voz para o estado
como um todo;
 O Estado é essencialmente um actor racional (ou proposital). Essa racionalidade é vista
na tomada de decisões sobre política externa que inclui uma declaração de objectivos,
consideração de todas as alternativas viáveis em termos das capacidades existentes
disponíveis para o estado, a probabilidade relativa de atingir esses objectivos pelas várias
alternativas em consideração e as benefícios ou custos associados a cada alternativa, dai a
maximização do benefício ou minimizar o custo associado à consecução dos objectivos
buscados;
 Dentro da hierarquia de questões que o Estado enfrenta, a segurança nacional ou
internacional geralmente encabeça a lista. Questões políticas e militares relacionadas
dominam a política mundial. Para os realistas, as questões de segurança militar ou
estratégicas são algumas vezes referidas como hight politics, enquanto que as questões
económicas e sociais são vistas como menos importantes ou low politics.

1.1.1.4. Aplicabilidade
O campo de aplicabilidade desta teoria é vasto, uma vez que o realismo é considerado por muitos
autores como a teoria base das relações internacionais. Segundo Viotti e Kauppi (2012:40), o
realismo se concentra em conflitos reais ou potenciais entre os actores estatais e o uso da força,
examinando como a estabilidade internacional é alcançada ou mantida, como se decompõe, a
utilidade da força como meio de resolver disputas e prevenir qualquer violação de sua

10
integridade territorial. Entretanto neste trabalho há um potencial conflito entre China e Índia
devido aos incidentes que se verificam ao longo dos territórios fronteiriços entre ambos Estados.
1.1.1.5. Críticas
Segundo Bedin et al (2003:136-137), o realismo só toma em consideração a noção de poder e
negligencia as outras variáveis sociais; o conceito de poder defendido pelo realismo está mal
definido e seu enquadramento é vago, uma vez que o poder pode ser, ao mesmo tempo, um meio,
um fim, um motivo e uma relação. A questão de Estado como actor unitário e principal das
relações internacionais não encontra um suporte plausível nas relações internacionais
contemporâneas, pois com a sua dinâmica, surgiram novos actores importantes quanto os
Estados. Finalmente, o realismo não consegue explicar as relações económicas internacionais
bem como a cooperação entre os Estados.

1.1.2. Teoria de Dissuasão


É uma teoria de âmbito securitário que dá ênfase na estratégia de defesa como ofensiva com
diminuição de custos e impactos catastróficos que um combate directo entre as partes pode
trazer.
Em sua forma mais simples, a dissuasão consiste na seguinte ameaça destinada a dissuadir um
estado de agressão: "Não me ataque, porque se você fizer isso, algo inaceitavelmente horrível
acontecerá com você" (Griffis, 2007:72). É de se destacar que essa teoria não terá o uso no seu
sentido tradicional que é a dissuasão nuclear mas sim trata-se da dissuasão convencional que
consiste na demonstração explícita do poder através de instrumentos coercivos fora das armas
nucleares (Monjane, 2013:22).

1.1.2.1. Contexto do Surgimento


O período da Guerra-Fria, que de forma lata pode-se situar entre o pós-II Guerra Mundial (1945)
e a queda do Muro de Berlim (1989), foi dominado pelo factor nuclear, é nesse sentido que
Kissinger citado por Antunes (2007:9) 8 afirma que: A era nuclear transformou a estratégia em
dissuasão, e a dissuasão num exercício intelectual esotérico. Dado que a dissuasão só pode ser
testada pela negativa, por acontecimentos que não ocorrem, e porque é impossível demonstrar a
razão por que algo não aconteceu, tornou-se particularmente difícil avaliar se a opção pela

8
Kissinger, Henry (1966), Conditions of World Order, Daedalus XCV, Spring.

11
dissuasão foi a melhor possível. Talvez a dissuasão tivesse sido, até, desnecessária, porque nunca
consegue-se provar que o adversário alguma vez tenha tido a intenção de atacar.
A teoria de dissuasão evoluiu em quatro "ondas". Segundo Jervis (1979) citado por Knopf
(2009:47) 9, considera que as primeiras duas ondas da teoria de dissuasão entre os finais da II
Guerra Mundial até a década de 1960. Nestas duas ondas, a teoria de dissuasão estava baseada
em pressupostos metodológicos, principalmente da teoria de jogos. Entretanto, nenhuma
tentativa tinha sido feita para analisar as preposições centrais da dissuasão nuclear até a "terceira
onda" que iniciou na década de 1970 (Knopf, 2010:1). Além disso, baseada caracterização
anterior de Jervis, Knopf (Ibid), acrescenta a quarta "onda" da teoria de dissuasão que emerge
para analisar mecanismos de deter ameaças levadas à cabo por grupos terroristas, "rogue states"
(potências regionais, correctamente dito) e para a prevenção de conflitos étnicos.

1.1.2.2. Precursores
Os estudos da teoria de discussão contam com o contributo dos seguintes actores: Bernad Brodie
(1946), Raymond Aron (1986), Glenn Snyder (1959), Thomas Schelling (1980), Max Webber
(1978), Keith Payne (1996) e Alexandre George e Richard Smoke (1974).

1.1.2.3. Pressupostos
Segundo Paul et al (2009:2-5) e Griffis (2007:72), a teoria da discussão tem os seguintes
pressupostos:
 A dissuasão exerce-se principalmente entre Estados. Este pressuposto está assente na
dissuasão nuclear que surgiu na época entre os Estados Unidos de América (EUA) e
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS);
 O Estado é um actor racional e age mediante cálculos de custo ou benefício sobre si e
quando inicia um conflito; O agressor potencial não deve apenas acreditar que os custos
de um ataque seriam mais altos do que seus benefícios, mas também que há uma
probabilidade significativa de que tais custos sejam de facto incorridos;
 Tanto na dissuasão nuclear como na dissuasão convencional as partes assumem intensa
rivalidade, Para que a dissuasão seja eficaz é preciso ter em conta as seguintes premissas

9
Jervis, Robert (1979), Deterrence Theory Revisited, World Politics, Vol. 31, No.31, p. 298-324.

12
básicas: o dissuasor deve ter capacidade suficiente; suas ameaças devem ser credíveis; o
dissuasor deve ser capaz de comunicar as ameaças ao seu oponente;
 Cada classe de armas convencionais, químicas, biológicas e nucleares estão em diferentes
categorias nos cálculos dissuasivos dos Estados. Isso ocorre porque a credibilidade de
uma ameaça dissuasiva depende das percepções do adversário, e não do factor de
dissuasão.

1.1.2.4. Aplicabilidade
Segundo Morgan (2003) citado por Antunes (2007:10) 10, “os elementos chave da teoria da
dissuasão, assentavam na assumpção de existência de um conflito grave, na assumpção da
racionalidade dos decisores, no conceito de ameaça retaliatória, no conceito de danos
inaceitáveis, na noção de credibilidade e na existência de uma situação de dissuasão estável”.
Entretanto essa teoria é usada na existência de conflitos estatais em que os actores envolvidos
reconhecem o poder retaliatório um do outro, deste modo evitando os custos de um possível
confronto directo e de minimizando perdas económicas, evitar o máximo o holocausto na raça
humana e entre outros.

Segundo Paul et al (2009:2), o dissuasor deve estar dotado de um certo grau de racionalidade
disposta pela proposição segundo a qual o Estado é um actor racional e age mediante cálculos de
custo/benefício sobre si e quando inicia um conflito. Entretanto, é importante referir que neste
trabalho são úteis alguns pressupostos da teoria de dissuasão. Nesta senda, há que referenciar o
pressuposto que tem que ver com os actores que exercem a dissuasão, a racionalidade do Estado
e o assumo de intensa rivalidade entre os actores. Portanto estes pressupostos ajudam a perceber
o tema com uma conexão do campo teórico e do prático.

Neste trabalho a teoria realista e teoria de dissuasão complementam-se. O realismo é uma das
teorias mais antigas que explica o comportamento agressivo do Estado. Entretanto para que o
realismo tenha sucesso na sua explicação no efeito deste trabalho deve-se olhar para a
componente estratégica da teoria de dissuasão que evita os custos de uma confrontação directa
por meio de uma demonstração de forças retaliatórias entre os Estados nas territórios em disputas

10
Morgan, Patrick (2003), Deterrence Now, Cambridge University Press, Cambridge Studies in International
Relations.

13
e deste modo salvaguardando um dos interesses centrais do Estado que é a mobilização de
recursos em prol da integridade territorial.
1.2. Marco Conceptual
Para percepção do trabalho existem três conceitos que devem ser esclarecidos para o efeito deste
trabalho. Estes conceitos são Estado, fronteira e estratégia. Estes conceitos são abordados
segundo vários autores e dimensões, após isso tomam neste trabalho o sentido na qual serão
aplicados para o efeito do mesmo, de forma a diferencia-los dos outros conceitos.

1.2.1. Estado
Estado - é visto como um personagem de âmbito internacional, com obrigações e direitos que
decorrem das relações externas de cada país face aos seus iguais ou face a outras entidades
internacionais (por exemplo, as Organizações Internacionais), através de Tratados, Convenções
ou Acordos bilaterais, entre outros (Ramos 2010:3).

Estado - é constituído por um “povo fixado num território, de que é senhor, e que, dentro das
fronteiras desse território, institui, por autoridade própria, órgãos que elaborem as leis
necessárias à vida colectiva, e imponham a respectiva execução, (Caetano, 1996 citado por
Sousa, 2005:77)11.

Para o efeito deste trabalho o conceito aplicado é de Ramos, que para ele o Estado é conjugação
de um povo fixado num determinado território com órgãos políticos, exercendo um certo poder
numa determinada região.

1.2.2. Fronteira
Fronteira – este termo é referido como a divisa internacional que delimita o território sobre o
qual um Estado com status e papel internacional exerce soberania e jurisdição (Döpcke,
1999:77). Refere-se a uma linha descrita em tratados, em instrumentos cartográficos e marcada
na terra por indicadores físicos.

11
Caetano, Marcello (1996), Manual de ciência política e direito constitucional, 6.ª ed., Coimbra: Almedina.

14
Fronteira – é resultado de equilíbrio de forças entre sociedades diferentes, ou seja isóbaras
políticas passíveis de alteração, conforme a história dos países (Cataia citado por Seabra,
2012:8)12.
Entretanto, para este trabalho, olha-se o conceito fronteira com a aglutinação dos conceitos de
Döpcke e Seabra, ou seja, fronteira é uma linha imaginária resultante de equilíbrio de forças,
razões históricas, negociação, tratados, para delimitar o Estado de tal forma que lhe possibilite a
exercer a sua soberania.

1.2.3. Estratégia
Estratégia – preocupa-se fundamentalmente com a combinação das acções tácticas e com o seu
encadeamento. Fundamenta-se na continuidade. A prospectiva é para ela essencial já que as
decisões estratégicas, por terem consequências políticas e visarem longos prazos, não podem ser
facilmente modificadas e podem condicionar o futuro do Estado (Martins, 1983:123).

Estratégia - é a arte de controlar e utilizar os recursos de um país, ou de uma coligação,


inclusive as suas forças armadas, a fim de promover e assegurar efectivamente os seus interesses
vitais contra os seus inimigos actuais, potenciais, ou apenas supostos (Sousa, 2005:81).

No entanto, para o efeito deste trabalho é aplicado o conceito de Sousa, que a estratégia é pode
ser vista como um campo que estuda tradicionalmente das forças armadas ou securitárias de
como controlar e utilizar recursos de um determinado país com vista a alcançar um determinado
fim, seja ele político, militar ou doutra natureza.

12
Cataia, M. A., 2011, Fronteiras: Territórios em Conflitos, disponivel em:
http://pt.scribd.com/doc/52001549/CATAIA-M-Fronteiras-territorios-em-conflito-2011.

15
CAPÍTULO 2: DISPUTAS TERRITORIAIS NAS ZONAS FRONTEIRIÇAS ENTRE A
CHINA E A ÍNDIA

A China e a Índia têm um histórico de rivalidades territoriais nas zonas fronteiriças desde as suas
independências. O capítulo em curso tem como objectivo trazer as causas das disputas territoriais
nas zonas fronteiriças entres estes dois Estados. De 2013 à 2019 podem ser encontrados diversos
factores que motivam esses Estados a disputarem territórios fronteiriços dos seus Estados. Dentre
essas causas destacam-se alegações aos direitos históricas, causas securitárias como
geoestratégicas e estas por sua vez desdobrando-se ao acesso de recursos hídricos, minerais e
energéticos, políticas e identitárias. No que tange a história, o Tibete faz parte do território chinês
fisicamente mas no que tange a cultura e religião está confortavelmente identificada com a Índia
ou apenas como autónoma. No que diz respeito à questões geoestratégicas o Tibete joga um
papel importante tanto para a China como para Índia pois tem uma localização única na Ásia
devido as cadeias montanhosas e onde têm as nascentes dos rios mais importantes da Ásia. Em
relação ao Aksai Chin, este território é de importante para o acesso à Ásia Central, onde a China
tem grandes ambições e a Índia não esta confortada com a situação sendo esta região deixa Índia
exposta a quaisquer ameaças de proveniência chinesa.

2.1. Causas Históricas


De acordo com Nobre (2018:176), por mais que se sinta simpatia pela causa tibetana, na mesma
medida em que se sente revolta pelo continuado desrespeito do governo chinês aos mais básicos

16
fundamentos dos direitos humanos, o exame complexo dos fatos históricos leva à conclusão
inevitável de que o Tibete, na realidade, nunca foi um Estado verdadeiramente soberano. Neste
âmbito a história do Tibete é inseparável da História Chinesa e das diversas dinastias que
existiram na China que conquistaram e dominaram esse território.

A centralidade do papel do Tibete na disputa de fronteira sino-indiana é assunto de muito


discurso. Malik (S/d) citado por Richards (2015:7)13, afirma que o Tibete está no coração das
relações sino-indianas e que é a chave para entender a posição de Beijing sobre a disputa
territorial China-Índia. Observa-se que a disputa territorial da China com a Índia está
intrinsecamente ligada ao passado, ao presente e futuro status do Tibete. O contexto histórico das
relações entre China e Índia no que concerne ao status do Tibete foi sempre de contradições de
narrativas sendo que cada Estado tira vantagem da narrativa que coloca na história interna e
externa.

Os chineses, desde que iniciaram as campanhas de anexação do Tibete, defendem o argumento


de que as culturas nacionais de ambas as populações são as mesmas, portanto, segundo eles,
deveriam necessariamente fazer parte de uma mesma nação. Tal argumento advém do fato
histórico de que ambos territórios foram originalmente colonizados por mongóis, e portanto,
possuem os mesmos princípios culturais (Santos, S/d:18). Neste aspecto, nota-se que os Chineses
partilham mesma cultura com o Tibete devido a sua história mas com a partilha da Ásia com os
europeus está foi administrada com uma colónia autónoma e que não fazia parte da China. Por
outro lado os indianos vêem o lado religioso como um terreno fértil a aproveitar sendo que a
história religiosa é mais próximas dos indianos.

Para Goswami (2012:4), a reivindicação territorial da China sobre o estado indiano de Arunachal
Pradesh tem sido um grande ponto de discórdia entre a Índia e a China. A China baseia-se no
argumento de que existiam laços históricos entre o mosteiro de Tawang em Arunachal Pradesh e
o mosteiro de Lhasa. Entretanto, a lógica chinesa é que, dado que o Tibete agora faz parte da
China, Arunachal Pradesh deve fazer parte dele. Ambos os países travaram uma guerra de
fronteira em Arunachal Pradesh em 1962 e a situação permanece desagradável devido a repetidas
declarações do Ministério das Relações Exteriores da China, reiterando a alegação.

13
Malik, Mohan (S/d), China and India, p.174.

17
A reivindicação territorial da China sobre Arunachal Pradesh também tem uma grande
ressonância simbólica por sua legitimidade sobre o Tibete. O mosteiro de 400 anos em Tawang
foi o berço do sexto Dalai Lama14 no século XVII e é o segundo maior mosteiro tibetano depois
de Lhasa. É plausível que o 14º Dalai Lama escolha seu sucessor no mosteiro de Tawang. A
China também percebe que a Índia permite que o Dalai Lama viaje para o exterior, e seus
discursos em todo o mundo mantiveram viva a questão tibetana e questionaram a legitimidade
chinesa sobre o Tibete (Ibid:11).

Portanto, as reivindicações históricas sobre os territórios em disputa surgem devido a antiguidade


das civilizações que estes dois Estados possuem. No caso da China as suas dinastias anexaram o
Tibete há milénios e este faz parte do seu Estado chinês desde essa fase histórica. No caso de
Arunachal Pradesh este fez parte do Tibete e entretanto em lógica chinesa este deve ser
abrangida por um revisionismo para fazer parte deste Estado. Assim sendo, a Índia contrapõe
estes argumentos buscando um Tibete independente antes da anexação das dinastias chinesas.

2.2. Causas Securitárias


Para os chineses, o Tibete era considerado um de seus pontos fracos, já que este era uma porta de
acesso para muitos invasores, além de ser uma região com abundantes recursos naturais, sendo
assim de vital importância para a China em seu ideal de desenvolvimento. Por outro lado, os
indianos viam o Tibete como sendo um “Estado tampão”, entre os dois países, e por isso
enxergavam como essencial a manutenção desse Estado autónomo (Sousa et al, 2016:226). Nesta
senda, há um interesse enorme de colocar o Tibete como um dos elementos prioritários na
agenda da sua segurança sendo que a partir do Tibete pode ser desferido golpes fortes que
colocariam em causa o funcionamento normal do Estado Chinês.

Uma vez Tibete tornando se independente e seria forçado a aliar-se com a Índia, a Índia (seria
capaz) avançar milhares de quilómetros na China central, e seus mísseis seriam capazes de
atingir toda a China a partir do planalto tibetano. Então é óbvio que a China perderá uma barreira
tão grande, seria inaceitável do ponto de vista da segurança nacional. Preparando-se para um

14
Dalai Lama é o originalmente um título honorífico do grande lama de Geluk (yellow hat) da escola do budismo
tibetano (Sarao, 2015:1).

18
possível futuro conflito com a Índia é a linha de fundo por que razão o Governo Central não pode
permitir tibetano independência (Richards, 2015:7).

A razão que no fundo leva a China a não permitir que o Tibete esteja fora da sua agenda
securitária é pelo facto de esta ser próxima a Índia não somente sob ponto de vista geográfico
mas também pela proximidade cultural e efectiva que os líderes do Tibete têm com o Estado
Indiano onde se exilam em casos de extremas ameaças internas. Aqui podemos ter em conta o
segundo pressuposto da teoria de dissuasão que afirma que o Estado é um actor racional e age
mediante os cálculos dos custos e benefícios que pode ter ao entrar num conflito, sendo que a
China tanto como a Índia vêem a causa da disputa fronteiriça do Tibete como um motivo de
agenda prioritária devido à sua importância securitária mas nem com isso um embate directo não
traria benefícios à ambos Estados que querem continuar a desenvolver num ambiente de paz.

Além do controle dos recursos naturais, uma outra explicação para o posicionamento contrário
do governo chinês à independência do Tibete seria o efeito dominó na secessão político e
territorial do Estado chinês. A independência de uma região levaria a uma série de reivindicações
de independência em todo território, já que o Estado chinês é composto por inúmeras etnias em
diversas províncias (Ferreira, 2013:66). No entanto, a liberdade do Tibete significaria para os
outros Estado com etnias diferentes mas que estejam sobre a alçada da China pedirem a sua
autodeterminação junto do governo central Chinês.

No que concerne a Aksai Chin, a Índia viu que a China reorientou o papel estratégico nessa
região e do sector ocidental. Portanto, ele se propôs a fortalecer suas estruturas defensivas na
fronteira. A fraca conexão interterritorial impediu uma maior operacionalidade e mobilidade de
suas Forças de Protecção de Fronteiras. Portanto, a Índia, desde 2008, empreendeu um plano
para a construção de novas estradas e linhas ferroviárias que conectam Jammu-Caxemira a
Himachal Pradesh ao longo da LAC. O Plano de Modernização do Exército facilitou em 2009, o
fornecimento de novos equipamentos militares para as tropas fronteiriças e em 2011 levou ao
envio de novas tropas e ao aumento de postos avançados e equipamentos de vigilância (Delgado,
2018:17).

19
Segundo Goswami (2012:12), a maioria dos académicos e formuladores de políticas locais em
Arunachal Pradesh argumenta que a agressividade chinesa está aumentando em relação a
Arunachal Pradesh devido à crescente insegurança sobre o Tibete. De fato, a forte cultura
tibetana existente especialmente em Tawang e nos distritos do Alto Siang em Arunachal Pradesh
provocam temores chineses de um movimento pan-tibetano secreto pela independência de toda a
fronteira Índia-China. Entretanto, a China com a pressão que exerce para a Índia através da
reivindicação para a devolução de Arunachal Pradesh, fá-lo para equilibrar as reivindicações que
a Índia faz para a independência do Tibete.

Portanto, as causas securitárias fazem com que se pense que ambos Estados acham que estas
regiões são cruciais para sua segurança devido a sua estrutura física composta por montanhas que
por si só são uma barreira natural aos possíveis invasores da China ou da Índia e no caso de
ataques o Estado já possui uma vantagem natural.

2.2.1. Causas Geoestratégicas


Conforme Senhoras et al (2009:2), há uma crescente valorização internacional dos recursos
naturais e, assim, gerando uma estratégia geopolítica em virtude da existência de, por um lado,
abundância e, por outro lado, escassez de recursos naturais, o que configura naturezas
conflituosas de apropriação desses recursos. O ponto crucial da rivalidade estratégica sino-
indiana é este: se a elite do poder chinês considerar o Tibete como sendo estrategicamente
importante para a China, os homólogos indianos pensam que é igualmente vital para a Índia
segurança nacional (Richards, 2015:7). A questão das regiões fronteiriças do Tibete traz à ribalta
assuntos estratégicos no que concerne a sua localização pois a proximidade da China e Índia
implica um passo à frente de quem pretende atacar. Assim sendo a China como à Índia sabe que
ameaça é mais forte quanto mais próxima estiver. Deste modo as razões de acesso à recursos
hídricos, minerais e causas securitárias tornam a região do Tibete estrategicamente importante.

Existem várias razões pelas quais a China está interessada em manter o controlo sobre o planalto
tibetano: uma deles é garantir a estabilidade em todo o território do país para assim garantir o
crescimento de sua economia. A grande extensão desta região facilita a futura relocalização de
pessoas de outras partes do país mais densamente povoada e, tanto a situação de relativo
isolamento que caracteriza o Tibete, quanto a orografia particular torna uma área ideal para o

20
desenvolvimento de capacidades nucleares e militares chineses. Além disso, uma possível
independência do Tibete poderia se espalhar para outras áreas do país com movimentos
semelhantes, especialmente as províncias de Xinjiang e Mongólia Interior (Notario, 2015:7).

O Tibete sempre foi considerado como uma zona tampão entre a Índia e China, as duas maiores
potências orientais, foi sempre um mediador-pacificador entre as duas nações, pois para se
movimentar da Índia para a China ou vice-versa, era necessário passar por seu território,
tornando a invasão ou o ataque mais difícil e menos discreto. Com a anexação do Tibete, a China
faz agora fronteira com a Índia e, portanto, impossibilita uma aliança entre a Índia e o Tibete e
um ataque do primeiro através do segundo. Além disso, o Himalaia (2800 Km de comprimento,
250 a 500 Km de largura e chegando a 8000m de altura) é uma verdadeira barreira natural contra
as agressões externas. (Hoffman, 2003 citado por Santos, S/d:10) 15. Assim sendo, há uma mais-
valia para China anexar o Tibete como parte do seu território por motivos geoestratégicos que
são um bem favorável e uma grande ameaça a Índia.

Mesmo que a Índia não tenha maiores aspirações em relação ao Tibete, existe um desejo antigo
de que a região sirva como um Estado tampão (buffer)16 entre potências, herança do pensamento
estratégico britânico. A Índia sempre enxergou no Himalaia e no Tibete barreiras naturais entre
suas áreas de controlo (ou influência) e o mundo exterior (Holmes et al, 2009:22 citado por
Ribeiro, 2015:33)17. Nesta senda, a Índia carrega uma vontade de ter Tibete como Estado
independente para que sirva os seus interesses de forma indirecta pois este (Tibete) seria mais
próximo a Índia devido às aspirações religiosas e culturais.

É importante notar que os líderes civis e militares indianos vêem o propósito de seus avanços
convencionais para ser credível a dissuasão do potencial chinês em acções militares, em vez de
tentar anexar permanentemente o território chinês. A chave para a dissuasão convencional
confiável, aos olhos dos planeadores estratégicos indianos, é demonstrar a capacidade de manter
e manter trechos limitados de terra chinesa em áreas onde a Índia goza de uma superioridade de

15
Hoffman, Helmut, (2003), Early and Medieval Tibet" in The History of Tibet, The Early Period to c. AD 850, the
Yarlung Dynasty, ed. Alex McKay. New York: Routledge.
16
Estado tampão pode ser entendido como um país situado geograficamente e/ou politicamente entre duas ou mais
potências criado artificialmente sem uma identidade definida. A criação do Estado tem a ver com as disputas entre
potências inimigas ou rivais (Peck e Filho, 2014:28).
17
Holmes, James, (2009), Indian Naval Strategy in the Twenty-First Century, London: Routledge.

21
força localizada, como uma forma de alavancar a negociação (O'Donnell, 2018:10). Neste ponto
temos a comprovação do terceiro pressuposto da teoria de dissuasão que afirma que ambos os
Estados assumem uma grande rivalidade, sendo que estes dois Estados que são China e Índia
historicamente não têm relações históricas de homogeneização um com o outro.

Segundo Delgado (2018:17), quanto a Aksai Chin não é apenas uma questão de fronteira ou de
prestígio nacional, mas tornou-se um cenário de alto valor estratégico para os dois países,
especialmente para a China. A reivindicação da Índia neste platô não está relacionada apenas à
afirmação histórica de sua participação em Ladakh, mas é o único corredor aceitável que
comunica o subcontinente indiano com a Ásia Central. No entanto, a Índia com o Aksai Chin
tem uma boa rota para chegar a Ásia Central e alimentar os seus interesses económicos e
políticos nesta região.
Para a China, o papel geoestratégico de Aksai Chin é fundamental. É muito improvável que o
governo chinês renuncie a esse platô e o entregue à Índia em troca de alguma compensação
territorial. Primeiro, a Highway 219, construída em meados do século XX, é a única que conecta
as regiões problemáticas do Tibete e Xinjiang. Esse meio de comunicação não apenas facilita a
mobilidade das forças militares, mas também conecta duas das regiões menos desenvolvidas,
contribuindo para o aumento do comércio inter-regional e do desenvolvimento económico da
região. Aksai Chin está preso entre as montanhas Kunlun ao norte e a cordilheira Karakorum do
Himalaia a oeste, separa o Tibete de Xinjiang, formando uma barreira natural entre a China e a
Índia. Desta forma, se caísse sob o controle indiano, a China seria estrategicamente exposta
(Delgado, 2018:22). Entretanto, a Aksai Chin joga um papel relevante tanto para China como
para Índia e nenhum dos dois Estados está disposto a parar de reivindicar a os seus direitos sobre
aquela região.

Para Zhang e Li (2013:3), embora o Aksai Chin seja um planalto árido e praticamente
desabitado, é de alto valor estratégico para a China, pois é um ponto de passagem vital entre o
Tibete e Xingjiang. Segundo Congolo18, a estratégia pela luta de potência regional leva a China
implementar os corredores de desenvolvimento que passam exactamente pela região de Aksai
Chin que foi igualmente uma grande rota de seda, dando acesso a Ásia Central, onde a China tem

18
Congolo, Frederico, docente de Estudos Asiáticos da Universidade Joaquim Chissano, entrevistado aos 18 de
Outubro de 2019.

22
grandes interesses económicos, a destacar os combustíveis, materializando pela passagem desta
região os gasodutos e oleodutos. A título de exemplo dos corredores de desenvolvimento tem o
One Belt One Road (OBOR), desenvolvido com esta intenção de transitabilidade de produtos
com destino ou proveniência da Ásia Central.

Portanto, o Estado chinês como o indiano tem uma visão geoestratégica convergente no que
tange a relevância dos territórios fronteiriços em disputa. O território de Aksai Chin traz uma
relevância geográfica e estratégica na conexão de projectos económicos desenvolvidos pela
China. Enquanto, o território do Tibete possui uma região montanhosa que oferece vantagem
para a área de defesa e segurança. Neste aspecto a Índia perde zonas estratégicas a favor da
China.

2.2.2. Acesso à Recursos Hídricos


Na Índia, há factores determinantes para o processo de escassez hídrica. O desenvolvimento
económico é um desses factores, pois a pujança de empresas de exploração de minas culminou
na contaminação da água potável. O desenvolvimento económico que ontem era solução tornou-
se hoje um problema. As empresas na Índia já estão contratando menos pessoas em razão da
escassez de água limpa. Os agricultores necessitam cavar poços cada vez mais fundos para
encontrar água. A água existente nos lençóis freáticos está contaminada por metais pesados
oriundos da mineração. A situação é catastrófica! Com a escassez hídrica e a falta de qualidade
da água, o país atravessa uma crise ambiental, económica e social (Ribeiro e Rolim, 2017:12).

A China, por sua vez, é um dos países mais ricos em água no mundo, factor que, todavia, não a
exonera da crise hídrica, mesmo porque a maioria das águas encontra-se no Sul do país,
padecendo o Norte de escassez. Chelala (2014) citado por Ribeiro e Rolim (2017:12) 19, informa
que o Ministério dos Recursos Hídricos da China anunciou, em 2012, que 28 mil rios
desapareceram nos últimos 20 anos, ou seja de 1992 á 2012. O número é assustador e revela a
possibilidade de uma crise hídrica por falta de água. No entanto, a China quanto a Índia
procuram vias alternativas para sanar esse problema de fulcral para o crescimento económico e
na vida humana no geral.

19
Chelala, César, (2014), A iminente crise de água na China, Epoch Times. Disponível em:
<htpp:/www.epochtimes.com.br/iminente-crise-agua-china>.Acesso em: 13 out. 2015.23

23
Segundo Portugal e Silva (2016:7), a região na qual está localizado o Tibete é conhecida
actualmente como o terceiro pólo de água do mundo por ser rodeado de importantes lagos e rios
asiáticos. Algumas das nascentes de grandes rios asiáticos estão no Tibete como as dos rios Yar
lung Tsang-po (Brahmaputra), Senge Khabab (Indus) e Dri-chu (Yangtze). Esses rios são
considerados estratégicos por serem importantes fontes de abastecimento de água não só para a
China como para Índia. Entretanto o controlo das águas na região do Tibete seria uma vantagem
para a soberania do Estado Chinês ou Indiano. O Estado que detém o controlo da água poderia
sem dúvidas ter uma arma forte em negociações para todos tipos de matérias, com destaques na
matéria política e militar. Aliás, Segundo Ferreira (2013:65), os Estados da região como Nepal,
Butão, Myanmar, excluindo a Índia, mantêm em posição de neutralidade, não interferindo na
questão sino-tibetana, seja por falta de recursos bélico-económicos que façam frente às
potencialidades chinesas, ou pelo quadro de dependência desses países em relação aos recursos
naturais essenciais sob controlo chinês – como a água que nasce em solo tibetano, mas que está
sob controlo chinês.

O sistema hidrográfico indiano comporta um conjunto de importantes de rios, dos quais se


destacam três mais importantes, o famoso Ganges, que se estende ao longo de 2.510 quilómetros,
desde as suas nascentes nos Himalaias até desaguar no Golfo de Bengala, já no Bangladesh; o rio
Bramaputra com 916 km nasce também nos Himalaias em território Chinês passando pela
província de Arumachal Pradesh até entrar no Bangladesh onde se encontra com o Ganges; o
último dos três mais importantes é o rio Indus, que com 1.270 km de extensão também nasce nos
Himalaias, percorre as províncias indianas de Jammu e Caxemira (Ribeiro, 2015:15). Entretanto,
sendo que a posição da Índia é a jusante e vive uma situação de cooperação e rivalidade
constante faz com que este se sinta inseguro devido à dependência que tem do país que está a
montante que é China.

Segundo Portugal e Silva (2016:7), ainda sobre o potencial hídrico tibetano, é importante
ressaltar que com o crescimento económico veloz, a China se tornou a maior consumidora de
água em garrafa do mundo e uma das maiores produtoras do artigo em 2016. Sabendo que os rios
e montanhas glaciais do Tibete têm uma capacidade natural de se tornarem grandes
abastecedores desse tipo de indústria, a região se tornou um espaço de disputa estratégica que
pode assegurar a manutenção do crescimento desse segmento industrial chinês. Neste âmbito

24
pode-se notar que a China quer tirar a incertezas de ser lhe ameaçada com um recurso importante
a vitalidade dos seus cidadãos e da economia mundial que está em constante crescimento.

Para Richards (2015:8), a questão da gestão da água (para projectos como controle de enchentes,
irrigação e energia hidroeléctrica) oferece à China o potencial de enorme influência e
alavancagem Estados ribeirinhos a jusante, como a Índia, o Nepal, o Butão, o Bangladesh, o
Paquistão, o Vietname, a Birmânia, Camboja, Laos e Tailândia. Além disso, o plano da China de
represar o rio Brahmaputra no Tibete "Tem grande peso nos cálculos de segurança da Índia",
dado que as consequências da China "desligar a torneira a montante poderia ser a fome no
nordeste da Índia. Em geral, em virtude do seu potencial de recursos, O Tibete é uma potente
fonte de poder e influência chinesa directa e latente em todo o Sul da Ásia.

Segundo Shrivastana (2016:26), Arunachal Pradesh é um estado que está dividido em cinco (5)
vales separados pelos rios que correm da bacia hidrográfica e drenam para Brahmaputra. O
movimento cruzado entre esses vales - Kameng, Subansari, Siang, Dibang e Lohit - é
severamente restringido pelas altas cordilheiras intervenientes. No entanto, ainda que exista um
rio em Arunachal Pradesh é dependente das nascentes do Tibete que naturalmente a água já
chega limitada neste território fronteiriço.

Portanto, os recursos hídricos são importantes para a economia da China como da Índia que tem
um crescimento populacional exponencial em todo mundo. Este recurso torna com as disputas
territoriais nestas zonas fronteiriças sejam mais tensas pois trata-se de um recurso inerente a vida
humana. Assim sendo, a água seria mais um instrumento de vantagem para quem tiver o controlo
deste recurso dentro do seu território.

2.2.3. Acesso à Minérios e Energéticos


Segundo Portugal e Silva (2016), Tibete é considerado estratégico quando se pensa na extracção
de minérios. Nos anos passados foi descoberto no Tibete novas jazidas de cobre que formaram
um total de 18 milhões de toneladas do minério. Somadas as jazidas de cobre estão as
importantes reservas de zinco, ferro, ouro e também foram descobertos bacias de combustíveis
fósseis. Para Ribeiro (2015:33), acrescenta que estima-se que 40% dos recursos energéticos

25
minerais e energéticos estão no Tibete, além dos mencionados inclui prata, lítio, magnésio,
cobalto, carvão e um dos maiores depósitos de urânio no mundo.

Entretanto as riquezas que o Tibete oferece são um enorme ponto de atracção à disputas pelo
controlo da área que dá acesso à esses recursos minerais, sendo que o controlo do território dá
automaticamente a legitimidade de explorar os recursos existentes. Também é importante realçar
que o valor que estes minérios no mercado internacional dariam o país que os possuem um novo
ranking no crescimento da economia desse Estado. Não obstante, olha-se hoje o petróleo como o
motor capaz de acelerar qualquer indústria que esteja desenvolvida ou que queira desenvolver, o
que iria consolidar o status de grandes potências ao país de detém (Ibid).

Convenientemente, há o interesse chinês no desenvolvimento regional periférico. O Tibete tem


grande importância no que diz respeito ao seu potencial de recursos. Como exemplo, é o
principal receptor de radiação solar de toda a China, e seu potencial eólico é um dos maiores do
Estado também. Com isso, se aumenta a capacidade de produção energética do país, que é um
elemento imprescindível à sobrevivência actualmente (Celerier, 1995 citado por Pécego,
2018:58)20. A China é, com a contribuição do potencial tibetano, o maior produtor de energia do
mundo, bem como é também o maior consumidor (Central Inteligente Agency, 2018 citado por
Pécego, 2018:58)21. No entanto, a contribuição que o Tibete tem para China à nível de energia é
de tal forma que colocaria a China nos maiores produtores e consumidores de energia e isso
traria consequências benéficas para economia chinesa.

Portanto, a região do Tibete é abençoada devido aos recursos minerais e energéticos como cobre,
zinco, ferro, ouro e petróleo existentes fazem desta região um palco sério de disputa e tensão.
Esta região também tem um relevo caracterizado por zonas montanhosas que dá vantagem nas
estratégias da China pois tem uma visão mais clara a quem pretende o atacar. No caso de Aksai
Chin incorpora uma grande função nas estratégias nacionais da China. Esta região seria útil para
Índia pois está próxima da região de Caxemira onde esta perde posições estratégicas para fazer
frente a China e a por outro lado o rival Paquistão.

20
Celerier, Pierre, (1995), Geopolítica y Geoestratégia, Editorial Pleamar.
21
Central Inteligence Agency, (2018), The World Factbook, East & Southeast Asia: China. Disponível em:
<https://www.cia.gov/library/publications/resources/theworld-factbook/geos/ch.html> Acesso em 25/09/2018.

26
2.3. Causas Políticas e Identitárias
As culturas estratégicas da China e da Índia exigem muito a reconquista do poder e do status que
seus líderes consideram adequado ao tamanho, população, posição geográfica e património
histórico de seu país (Ching, 2009:1148). As conquistas fazem parte do histórico das duas
potências asiáticas que desde os tempos mais remotos dominaram os Estados pequenos ao seu
redor fazendo destes Estados vassalos que precisavam pagar impostos ao Estado central em troca
da sua protecção.

Para Bouffard (2013:2), um dos mais significantes factores está inerente as questões fronteiriças
e territoriais é o Tibete. Todas áreas de fronteiriças do Arunachal Pradesh estão profundamente
conectadas ao Budismo Tibetano por um modo ou outro. Por exemplo, o segundo mais
importante Budista residiu em Tawang que é distrito de Arunachal Pradesh e acredita-se que o
próximo Dalai Lama pode vir desta região.

O Tibete e a China não estão ligados entre si por vínculos permanentes de sangue, idioma,
religião, cultura e ideais, que constituem uma nacionalidade (Anderson, 2008 citado por Santos,
S/d:9). Diante disto, pretende-se elucidar as tentativas chinesas de homogeneização cultural da
nação tibetana, em prol da unificação do corpo nacional. Entretanto, a região do Tibete tem uma
cultura e identidade própria que é um desafio para qualquer Estado que pense em o anexar.

Para Bila22, o Estado Chinês não olha apenas Arunachal Pradesh como um território com
ausência de recursos tanto como os outros vê, mas sim um território cheio de população com
características identitárias muito próxima aos chineses e isso conferiria a China mais poder em
relação a Índia naquela zona fronteiriça. Entretanto, o factor população dita para que haja uma
disputa para o controlo do território de Arunachal Pradesh pelos chineses.

Os policemakers dos Estados chinês e indiano traçaram política divergente que não lhes permite
uma resolução pacífica nesta disputa fronteiriça. Segundo O'Donnell (2018:10), a percepção
geral entre os formuladores de políticas indianos e especialistas estratégicos é que tal abordagem
essencialmente de natureza defensiva. Uma suposição (não declarado publicamente) que informa
a opinião da Índia de que sua postura é defensiva é a noção (indiscutivelmente incorrecta) que a

22
Bila, Carmona, Docente de Estudos de Conflito e de Paz da Universidade Joaquim Chissano, entrevistado aos 18
de Outubro de 2019.

27
Índia deve ainda acompanhar as formidáveis capacidades militares regionais da China. Um
segundo pressuposto indiano embutido é que, como o poder mais fraco, deveria seja óbvio que a
Índia não tem interesse em iniciar uma guerra. China, no entanto, vê estes desenvolvimentos
militares, e visões indianas de sua essencialmente natureza defensiva e muito diferente. Mesmo
com toda a concentração populacional da China, o governo precisa fazer tremendo esforço de
propaganda, além do oferecimento de incentivos, para convencer os chineses a se mudar para o
Tibete. Essa política envolve a transformação de eventos banais em algo espectacular,
transcendente.

Portanto, o capítulo tem como objectivo analisar as causas das disputas territoriais nas zonas
fronteiriças entre China e Índia. Assim sendo, as causas apresentadas são causas históricas,
securitárias, geoestratégicas, acesso à recursos hídricos, acesso à recursos minerais e energéticos
e causas políticas e identitárias. No que tem que ver com a história, os dois Estados trazem
argumentos fortes antes das dinastias e após as dinastias. No concernente a segurança e
estratégia, esses Estados em disputa jogam um papel importante devido as suas características de
barreiras naturais. No caso do acesso à minérios e energia há cobre, zinco, ferro, ouro e petróleo
como recursos valiosos. No tangente as causas políticas e identitárias fazem com estas disputas
sejam mais hostis ignorando-se a nação em prol do Estado. A hipótese para este objectivo é
válido, porém além das posições geoestratégicas que os territórios em estudo apresentam, há
outras causas que ajuntam-se a esta.

28
CAPÍTULO 3: INCIDENTES DAS DISPUTAS TERRITORIAIS NAS ZONAS
FRONTERIÇAS ENTRE CHINA E ÍNDIA

O presente capitulo tem como objectivo identificar os incidentes das disputas territoriais nas
zonas fronteiriças entre China e Índia. De abril de 2013 à Outubro de 2019, destacam-se quatro
incidentes, nomeadamente o incidente de Daulat Beg Oldi, Chumar, Demchok e Doklam, nos
anos de 2013 para os dois primeiros, 2014, 2017 respectivamente. Estes incidentes marcaram o
ponto mais baixo das relações sino-indianas nos territórios das zonas fronteiriças, com o
destaque último incidente de Doklam que trouxe mais tensão e sua duração maior que os outros.
Estes incidentes trazem a semelhante de ser a China sempre o acusado de invadir os territórios
disputados nas zonas fronteiriças com a Índia.

3.1. Incidente de Daulat Beg Oldi


Segundo Dutta (2017), no dia 15 de Abril de 2013, cerca de 40 soldados do Exército Popular de
Libertação (People´s Liberation Army-PLA) da China invadiram o território indiano por cerca de
20 km na área de Daulat Beg Oldi (conhecida como DBO no estabelecimento de defesa) de
Ladakh. Daulat Beg Oldi é um acampamento histórico. O Daulat Beg Oldi está localizado na
antiga rota comercial que atravessa a Índia e o Tibete. Conecta Ladakh à bacia de Tarim, na
província de Xinjinang, no oeste da China23.

23
https://www.indiatoday.in/india/story/doklam-standoff-india-china-compromise-demchok-chumar-daulta-beg-
oldi-1034861-2017-08-31, consultado aos 20 de Novembro de 2019.

29
Daulat Beg Oldi é uma importante base militar do exército indiano. A vasta área da região de
DBO é desabitada, isso faz com que as tropas chinesas montem suas tendas com facilidade e sem
serem notadas. Quando as equipes de patrulhas indianas encontraram as tendas, eles se opuseram
à presença chinesa em solo indiano, mas os soldados do PLA se recusaram a recuar. As tropas da
polícia de fronteira indo-tibetana foram ordenadas a marchar para o local. Um número igual de
soldados da Indo-Tibetan Border Police (ITBP) montou suas tendas a cerca de 300 metros das
tropas chinesas. A China continuava dizendo que suas tropas estavam do lado da fronteira. A
Índia contestou sua reivindicação. Os canais diplomáticos foram abertos e os negociadores
conversaram longamente (Ibid).
Segundo Mahalingam (2013), a China cm sua presença física em todas as quatro direcções
cardeais e a Índia no sul, o interesse da China está claramente em fechar as lacunas nas áreas
delimitadas por Gilgit - Baltistão no oeste, Xinjiang no norte, Aksai Chin no leste e Índia para
seu sul. Isso facilitará a livre circulação dentro da área. A protecção das alturas de Karakoram,
juntamente com esta acção, frustrará qualquer ameaça da Índia. Reside o interesse chinês na
cordilheira Saltoro, em Siachen.

Segundo Delgado (2018:20), em Setembro de 2015, um novo incidente foi repetido em Burtse,
quando o exército chinês colocou uma torre de vigia perto da estratégica base aérea indiana de
Daulat Beg Oldi (ponto de conflito em 2013). Duas reuniões de bandeira concordaram em retirar
as respectivas tropas. A China prometeu não construir infra-estrutura lá. Burtse é
estrategicamente importante para a China, dada a sua proximidade com as rodovias G219 e G314
(também chamado Karakorum), artéria principal da comunicação terrestre com Paquistão.

Portanto, o incidente de Daulat Beg Oldi mostra o interesse dos territórios das zonas fronteiriças
que dão acesso ao Tibete e Xinjiang onde está localizado o território de Aksai Chin. A Índia tem
uma forte resistência nessa área pois tem um acampamento histórico. A Índia tem controlo
permanente de Ladakh já que este território também encontra-se próximo as zonas de disputas.
Nesse incidente houve sucesso das negociações diplomáticas que ambas Estados activaram.

3.2. Incidente de Chumar


[H]oras depois que as tropas chinesas se afastaram de Daulat Beg Oldi, elas voltaram à área de
Chumar, em Ladakh. Desta vez, as equipes de patrulhas locais disseram que cerca de 300

30
soldados do PLA estavam acampados em Chumar. As tropas chinesas chegaram lá objectando
estruturas de galpão de estanho colocadas pelas forças indianas. As tropas chinesas disseram que,
de acordo com o acordo firmado durante o incidente de Daulat Beg Oldi, a Índia precisou
desmontar os galpões de estanho que o PLA denominou de bunkers. Chumar é a última vila na
área de Ladakh, em Jammu e Caxemira, na fronteira com Himachal Pradesh. Chumar tem sido
um ponto de discórdia entre a Índia e a China, alegando que é o seu próprio território. As tropas
chinesas têm invadido esta área de fronteira com seus helicópteros quase todos os anos. Desta
vez, suas tropas ergueram tendas no chão (Mahalingam, 2013).
Agitadas disputas diplomáticas começaram mais uma vez. Jaishankar novamente desempenhou
um papel fundamental na restauração do status quo. O primeiro-ministro chinês Li Keqiang
estava programado para visitar em 19 de Maio a Índia em 2013. Na sua visita (Mahalingam,
2013), as deliberações diplomáticas produziram resultados. As tropas chinesas desmontaram suas
tendas em 5 de Maio e, em seguida, as forças indianas removeram seus galpões de estanho. As
reuniões de bandeira foram realizadas em 6 de Maio e o impasse de Chumar foi resolvido em 21
dias, com a China concordando em patrulhar as tropas indianas na área como antes.

Portanto, a saída do PLA no território fronteiriço de Daulat Beg Oldi só foi para distrair o
exército indiano, pois estes militares foram se instalar horas depois em outro território indiano
alvo de disputas territoriais que é o Chumar. E para esse incidente de Chumar houve também
negociações para que o exército da China se retirasse do território fronteiriço.

3.3. Incidente de Demchok


Segundo Dutta (2017), o incidente aconteceu no cenário da visita de Xi Jinping à Índia em
Setembro de 2014. O incidente de Demchok começou a 10 de Setembro de 2014, quando as
equipes de patrulha indianas descobriram que as tropas chinesas haviam implantado máquinas
pesadas para construir uma estrada dentro do território indiano. Afrontando as tropas chinesas, as
forças indianas se moveram e acamparam-se em frente às tropas chinesas. Demchok está
localizado na mesma área de Chumar. De acordo com o censo da Índia em 2011, Demchok tem
31 famílias com uma população total de 78 pessoas. Mas, a China afirma que Demchok faz parte
da Região Autónoma do Tibete.

31
O impasse do Demchok continuou mesmo quando Narendra Modi e Xi Jinping assinaram 12
acordos em 18 de Setembro de 2014. Modi é conhecido por ter levantado o assunto com Jinping,
que supostamente estava envergonhado com a incursão pelas forças chinesas. Jinping, segundo
informações, assegurou Modi durante as negociações e isso abriu o caminho para a resolução do
impasse de Demchok. Porém, demorou uma semana para as forças chinesas se retirarem, o que
se seguiu a uma reunião entre a ministra de Relações Exteriores Suchm Swaraj e seu colega
chinês em Nova York em 26 de Setembro de 2014. Finalmente, depois de 20 dias, as tropas do
PLA retiraram-se para sua posição anterior a 10 de Setembro (Ibid).
Segundo Giannini, em 2 de Novembro, cerca de 55 soldados chineses chegaram à fronteira de
facto, parando agressivamente, em contrapartida cerca de 70 soldados indianos impediram sua
penetração no território indiano24. As tropas chinesas solicitaram que o trabalho fosse
interrompido de ambos os lados porque é necessária uma permissão para iniciar qualquer
construção, fato contestado pela Índia, segundo o qual as informações sobre os projectos devem
ser compartilhadas apenas se forem necessários propósitos de defesa. Os ataques de ambos os
lados são comuns ao longo da linha de controlo efectiva, porque os exércitos discordam da
posição da linha de fronteira; em 2014, a China protestou pelas obras indianas em um canal de
irrigação, encontrado em seu território e 500 soldados chineses entraram na área e rapidamente
construíram 2 km de estrada.

Portanto, em Demchok os militares da Índia descobriram que os militares da China invadiram o


seu território e já começavam a construção de uma estrada. Isso fez com houvesse uma tensão de
ambos militares que defendiam os interesses dos seus Estados. A componente diplomática destes
dois Estados foi chamada mais uma vez para apaziguar os ânimos militares de tensão que se
viviam.

3.4. Incidente em Doklam


Segundo Ribeiro e Hiraiwa (2018:38), o impasse militar sino-indiano em Doklam, ocorrido entre
Junho e Agosto de 2017 em território disputado por China e Butão, após tropas indianas
intervirem contra a construção de estradas pelos chineses próximo à tri-junção da fronteira. O
episódio marcou o ponto baixo nas relações sino-indianas em meio à crescente actividade
chinesa nas fronteiras disputadas com a própria Índia. Desde 2013, o número de incursões e
24
https://www.agcnews.eu/tensione-alla-frontiera-sino-indiana/, consultado aos 21 de Outubro de 2019.

32
encontros entre tropas nos dois lados aumentou, embora não haja fatalidades há mais de quarenta
anos e as linhas de controlo permanecem inalteradas desde o seu estabelecimento pelas duas
partes. O que torna o impasse de Doklam em um episódio relevante é o contexto de emergente
competição estratégia entre China e Índia na Ásia. A Índia tem um tratado de amizade com o
Butão, contendo o Artigo 2 citado por Kalyanaraman e Ribeiro (2017:10), do qual se lê:
“Nenhum Governo deve permitir o uso de seu território para actividades prejudiciais à segurança
nacional e interesses do outro país”25. De acordo com o governo indiano, a decisão de enviar
tropas para a área disputada e interromper a construção da estrada ocorreu porque o governo do
Butão tinha pedido ajuda, levando em consideração o espírito do acordo firmado.

Portanto, o objectivo deste capítulo tem a ver com os incidentes das disputas territoriais nas
zonas fronteiriças entre China e India. Os incidentes militares observados neste capítulo são
quatro, nomeadamente de Daulat Beg Oldi, Chumar, Demchok e Doklam são as evidências de
que as relações sino-indianas no que concerne aos territórios fronteiriços são de tensão. Neste
capítulo há invalidação da hipótese de que as relações sino-indianas nos territórios fronteiriços
levam a incidentes diplomáticos entre os Estados arredores. O capítulo também traz uma
relevância dos pressupostos realistas nas quais o Estado é um actor racional e age mediante os
custos e benefícios de um possível confrontação. Dá-se ênfase aqui ao pressuposto da teoria
realista que coloca a segurança nacional como uma questão do topo da agenda preconizando
assuntos de defesa e integridade do Estado. Assim sendo, valida a hipótese de partida e também
faz menção aos pressupostos da teoria realista.

25
Government of Indian; Government of Bhutan, Indian-Bhutan Friendship Treaty, New Delhi, 2nd March 2007,
disponível em https://idsa.in/resources/documents/ind-BhutanFriendshiptreaty.2007.

33
CAPÍTULO 4: CONSEQUÊNCIAS SÓCIO-POLÍTICAS E MILITARES DAS DISPUTAS
TERRITORIAIS NAS ZONAS FRONTEIRIÇAS ENTRE CHINA E ÍNDIA

As disputas territoriais nas zonas fronteiriças entre China e Índia possuem diversas
consequências. O capítulo em curso tem como propósito demonstrar essas consequências que
ganham destaque aquelas que as acções são visíveis, a saber, as consequências económicas,
sociais, políticas e militares. As consequências económicas podem ser notadas com o
investimento estrondoso em vias de acesso que o governo da China fez até à região do Tibete e
Aksai Chin, esse investimento que também foi respondido pela Índia com construção de vias de
acesso à região fronteiriça da LAC. No que concerne às consequências sociais, há uma tendência
de reforçar a ideia de unidade nacional na China, isto demonstra-se com o crescimento de
populações que não seja da etnia local do Tibete. A China percebeu que rotação de comunidades
dentro de um Estado é crucial para que não haja percepções de discriminações e favorecimentos
de algumas regiões em detrimento de outras. No campo político, a China usa estratégia de
difusão de unidade nacional, de um Estado que tem diversas etnias mas com vontade e
capacidade de coesão. A Índia protagonizou acções de solidariedade com líderes e cidadãos do
Tibete com vista a legitimar a causa da separação do Tibete do governo central da China. Nas
consequências militares, os dois Estados aumentaram os efectivos militares, bases militares e
armamentos junto ao LAC.

4.1. Consequências Económicas


A economia da China prospera ainda mais com a exploração do potencial geográfica e
económico existente no Tibete. O Estado chinês usa os recursos existentes no Tibete para
potenciar a economia da região e sobretudo do território chinês. Dentre os recursos usados estão
em destaque o turismo que tem uma dimensão nacional e internacional, produção de água para

34
consumo interno e externo, investimento na exploração do petróleo e por último a construção de
vias de acesso e infra-estruturas (Portugal e Silva, 2016:9).

O impulso do turismo é uma das prioridades de Beijing para desenvolver a chamada Região
Autônoma do Tibete (Tibetan Autonoums Region - TAR), por isso que realizou pela quarta vez
este ano em Lhasa a Expo de Turismo e Cultura do Tibete e da China, para a qual convidou um
pequeno grupo de meios de comunicação estrangeiros, entre eles a Agência Efe. Segundo o
portal da embaixada da República Popular da China em Angola, o domínio das infra-estruturas
enquadra ainda a requalificação da indústria agro-pecuária, as duas tradicionais actividades
económicas da região, e da melhoria dos sistemas de fornecimento de água e electricidade.

Portanto, o Estado chinês vem investindo muito economicamente para a conquista de Tibete e
legitimação dessa área de disputa. A melhoria dos instrumentos tradicionais pelos modernos que
outrora eram usados é uma evidência que revela o interesse que a China tem nesta região
altamente estratégica no que tange ao valor económico.

4.1.1. Uso dos Recursos Hídricos e Energéticos


Segundo Portugal e Silva (2016:8), com o aproveitamento combinado do sistema de geração de
energia solar e eólica, terminado em 2016, o Tibete dispõe de 2.3 milhões de Kilowatts de
electricidade por ano, que suprem as necessidades da região, podendo interligar o seu sistema à
“malha chinesa nacional” para fornecer o produto a outras províncias e regiões da China. Em
2016 o governo provincial do Tibete aprovou a licença para 28 empresas de produção de água
em garrafas no sentido de se instalarem na região e iniciarem o processo de crescimento da
produção que em 2015 era de 153 mil metros cúbicos de água, mas que o governo chinês planeja
para crescer até dez milhões de metros cúbicos dentro de dez anos.

Segundo Silva e Ribeiro (2016), foram descobertos combustíveis fósseis na TAR com destaque
para o Petróleo na qual a Corporação Nacional Chinesa de Petróleo estima ter uma quantidade de
combustível estimada em 10 bilhões de toneladas. Para essa nova bacia o governo chinês já
coordenou uma perfuração de 7 quilómetros para iniciar a exploração deste recurso.

Portanto, a China faz o uso dos recursos hídricos e energéticos existentes em territórios em
disputa em prol do benefício do seu Estado e desse território em disputa. Assim sendo, esse

35
território é integrado economicamente na China como uma área de importância energética
estratégica. O petróleo torna o território mais atraente para um investimento económico sendo
um dos combustíveis mais usados para o desenvolvimento industrial.

4.1.2. Construção de vias de acesso e Infra-estruturas


A China possui projectos, incluindo a edificação de pontes e túneis, para facilitar o deslocamento
na região tibetana, diminuindo a distância e o tempo das viagens, além de proporcionar maior
capacidade de escoamento e transportação (Pécego, 2018:68). Segundo o portal economia 26,
linhas de ferrovia, estradas e blocos de casas se expandem a ritmo frenético por cidades tibetanas
longínquas, e especialmente na capital Lhasa, onde santuários históricos como o Palácio de
Potala ou o Templo de Jokhang convivem com modernos veículos 4x4, antenas de telefonia
celular e blocos de edifícios de inspiração socialista. No entanto, a facilitação de vias de acesso
para o resto da China traria benefícios à Beijing sendo que isto havia de aumentar os fluxos
comerciais internos e reforçar a ideia de unidade nacional e solidariedade entre as etnias dentro
da China.

Segundo Brites (2015:22), dentre os principais projectos infra-estruturais desenvolvidos


destacam-se a construção da ferrovia Tibete-Qinghai e do gasoduto Oeste-Leste. A ferrovia
Tibete-Qinghai tem cerca de dois mil quilómetros de extensão, estabelecendo uma conexão entre
o centro do país e a província do Tibete. Nesse sentido, possui uma condição singular em termos
de obras infra-estruturais, já que é a única obra dessa magnitude que conecta o Tibete ao resto do
país. Para Gupta (2014) citado por Ribeiro (2015:66)27, em comparação, a Índia não possui
ferrovias no Ladakh (fronteira ocidental) e possui uma linha até o Assam, que dista pelo menos
200 km da Linha de Controlo no Arunachal Pradesh.

26
https://economia.uol.com.br/mundo/inida-e-uma-disputa-que-vai-alem-das-fronteiras/, consultado aos 05 de
Agosto de 2019.
27
Gupta, Shishir, (2014), The Himalayan Face-Off: Chinese Assertion and the Indian Riposte, Gurgaon: Hachette
India.

36
O sistema rodoviário indiano é precário e contempla apenas as capitais dos estados do Nordeste e
poucas cidades maiores. Mais da metade das pontes ainda é feita de madeira. Não existem
ramificações rodoviárias em direcção à LAC. As estradas mais próximas ficam a 80 km da
Linha. Para viajar 500 km, de Guwahati a Tawang, é necessário dirigir por 20 horas (Ibid). Nesta
senda, fica perceptível uma ligeira vantagem da China em relação à Índia devido aos
investimentos feitos pela China para que Tibete esteja viável e fisicamente mais próximo da
China. Neste sentido é visto também que a às vias de acesso para além de facilitarem o
desenvolvimento económico ajudam na alocação de recursos de defesa e segurança dos Estados.
A busca pela integração ferroviária do Tibete possui aspectos geográficos e económicos, mas
também incide sobre questões de segurança nacional. Cabe destacar que a presença do Estado
Chinês nessa região sempre foi muito frágil e mesmo que o projecto não resolva a situação,
amplia a integração da região ao país (Brites, 2015:22). Entretanto, é de realçar que os que o
Estado chinês por muito tempo não se fez sentir devidamente na TAR mas o valor geográfico e
económico desta faz com que haja necessidade de se redobrar os esforços.

Ao elevar o Tibete a modernidade com infra-estruturas compreendendo ferrovias, aeroportos e


rodovias, a China aparentemente está se preparando para posicionar-se ou para mover-se
rapidamente em grandes número de forças adicionais para a fronteira áreas com a Índia durante a
construção de um conflito. A rápida acumulação do sistema nacional de transporte rodoviário e
ferroviário da China melhorou bastante as capacidades de transporte terrestre do Exército Chinês
(Chansoria, 2018:41). Nesta senda, é possível interpretar esse fenómeno de modernização com
área militar que permite que haja mais mobilidade para a TAR permitindo-lhe ganhar tempo no
caso de incidente militar.

Segundo economia28, Beijing tem um projecto para construir um túnel de 1000 quilómetros para
levar a água do rio Brahmaputra para a região árida de Xinjiang e que será o maior do mundo.
Em 2017, está a testar a sua capacidade de construção num projecto mais pequeno. Começou a
escavar um túnel de 600 km na sua província de Yunnan. Já em 2013, Nova Deli tinha
apresentado a Beijing uma queixa oficial sobre os seus projectos hídricos para o Brahamputra.

28
https://sol.sapo.pt/artigo/592304/china-india-projeto-para-desviar-rio-abre-portas-a-conflito, consultado aos 22 de
Setembro de 2019.

37
Entretanto, uma das causas dessas disputas que é o acesso a recursos hídricos faz com que os
actores envolvidos nessa disputa estejam em fortes tensões.

Portanto, para que o desenvolvimento económico seja eficaz é necessário que haja atenção nas
vias de acesso e infra-estruturas que garantem o funcionamento célere de uma economia. Neste
aspecto, a China tal como a Índia constroem vias de acesso em direcção aos territórios das zonas
fronteiriças como forma de desenvolver essas regiões. Há também nestes territórios em disputa
exploração de recursos existentes como forma de ajudar essas regiões no desenvolvimento e
principalmente o Estado em que estão inseridos.

4.2. Consequências Sociais


O compromisso social vai até aos casos de comprovada pobreza, quando o Governo Chinês
intervém e assume todos os custos inerentes à formação integral dos jovens até ao nível superior.
Todas estas realizações impactaram directamente na qualidade de vida da população local,
estimada em pouco mais de 3 milhões de habitantes para um território com mais de um milhão e
200 mil quilómetros quadrados. As políticas sociais impactam directamente na qualidade de
vida. Segundo dados avançados, antes das reformas democráticas, em média a população do
Tibete vivia 35,5 anos. Em 2016, a esperança de vida alcançou os 67 anos (Portal da Embaixada
da República Popular da China em Angola, 2016)29.

A política de reassentamento e transferência de moradia em massa da China mudou radicalmente


o estilo de vida e os meios de subsistência dos tibetanos, muitas vezes, empobrecendo-os ou
tornando-os dependentes de subsídios do Estado. De 2006-2015, mais de dois milhões de
tibetanos, tanto agricultores como pastores foram “realojados” de forma involuntária — por meio
de reformas ou construções de novas casas ordenadas pelo governo — na Região Autónoma do
Tibete; na região leste do planalto tibetano, centenas de milhares de pastores nómades foram
removidos ou estabelecidos em "Novas Aldeias Socialistas" (Human Rights Watch, 2015:5).
Assim sendo, a China vêm investindo em políticas que façam com que os tibetanos sintam-se
mais acolhidos e sobretudo dependentes do governo central de Beijing de modo que não
continuem com ideias sionista.

29
http://ao.chineseembassy.org/por/ssyw/t1381948.htm, consultado aos 29 de Agosto de 2019.

38
Portanto, a China beneficia do capital financeiro que tem para a reestruturação e conquista da
sociedade tibetana. Assim sendo, a China assume questões de peso social da população tibetana
como acesso a educação, subsídio do Estado, realojamento das populações de forma a
modernizar o local e também implementar a democracia.

4.2.1. Reestruturação demográfica


Segundo Pécego (2018:67), a modificação da demografia regional, trazendo benefícios para o
lado chinês, que se torna mais presente e influente na região, com o crescimento da percentagem
de pessoas de etnia Han, ao invés de manter apenas a minoria étnica tibetana na região.
Entretanto a China adoptou uma estratégia clássica dos Estados de movimentar as pessoas dentro
de modo à perceberem que são únicos e não existe tratamentos privilegiados de uns em
detrimento dos outros.

Desde 1950, tem havido um grande influxo de chineses para dentro do Tibete, resultante de
diversos factores: política governamental e programas para transferir pessoal administrativo,
oficiais e profissionais para a região autónoma e outras regiões tibetanas; encorajamento
governamental da migração voluntária; unidades de trabalho trazendo operários comuns para o
Tibete para projectos de construção; e a migração de chineses comuns orientados e atraídos pelo
mercado. Novas cidades chinesas têm sido criadas. Centros urbanos tibetanos têm transformado
em centros com características tipicamente chinesas (Ibid).

As estimativas sugerem que os chineses correspondem a 1/3 da população total de todas as áreas
com status tibetano autónomo (comparados aos 6 a 10% em 1949) e a 12 a 14% da população da
região autónoma (comparados a 0,1%).39Em consequência, milhares de tibetanos fogem todos
os anos de sua região de origem devido à atmosfera de repressão que se mantém. Eles arriscam a
vida para atravessar a fronteira para Índia e outras regiões, principalmente depois que as forças
de segurança chinesas foram reforçadas no controle das fronteiras (Tibet: Direitos Humanos e a
Regra do Direito, 2012, citado por Santos, S/d: 24)30.

30
Tibet: Direitos Humanos e a regra do Direito, (2012). Disponível em: (http://www.forumseculo21.com.br/).
Acesso em: 20. Abril. 2014.

39
Portanto, a China implementou a estratégia clássica de circulação e união de comunidades de
diferentes etnias dentro do Estado para que não haja a ideia de tribalismo e que os recursos e
oportunidades são distribuídos de forma equitativa. Nesta senda, esta consequência social
demonstra avanços e sucessos por parte de quem implementou, com os números de nativos no
Tibete a diminuírem e a darem espaço à etnia Han que é a maioria na China.

4.2.2. O Papel da Identidade nos Territórios das Zonas Fronteiriças


Segundo Santos (S/d:14), apesar da existência de inúmeras abordagens acerca da formação dos
Estados modernos, das nações e dos nacionalismos, o fato é que a relação entre território,
fronteiras e soberania é constitutiva da formação e existência dos Estados em geral. Os Estados
são construções políticas que envolvem a construção da identidade nacional, geralmente a partir
de zonas culturais precedentes, almejando a produção de coesão interna e de legitimidade na
construção das fronteiras. Assim sendo, as culturas podem ser um grande desafio na construção
de um Estado, pois os princípios identitários dessa região irão sempre ser um ponto estratégico
de instrumentalização e estar em choque com outras culturas dentro do Estado como é caso da
etnia Han com os tibetanos no evento histórico dos jogos olímpicos de Beijing de 2008,
promovendo deste modo desunião no Tibete.

Segundo Carriço (2016:92), a natureza religiosa e cultural, consubstancia um défice de confiança


resultante de uma dicotomia perceptiva entre aquilo que Beijing define como “práticas religiosas
feudais”, potencialmente fragmentadoras da unidade nacional e do projecto de modernização
económica; e o que os tibetanos vêem como uma estratégia agressiva de erosão progressiva da
sua identidade e religião. Se o nacionalismo faz a religião política, nacionalismos baseados em
religiões como o budismo tibetano tornam-se alvo das políticas securitárias de Beijing por serem
desestabilizadores da unidade nacional. Para Sinha (S/d:40), a Índia teve o cuidado de
desenvolver uma visão especial adequada à população amplamente tribal do estado em destaque
a população de Arunachal Pradesh. Tendo em vista a política nacional de integrar os pequenos
grupos de étnicos às grandes nacionalidades.

Neste âmbito, há uma divergência no que concerne à idade cultural e religiosa da TAR que
encontrasse mais próxima da Índia, o que ameaça à integridade territorial e principalmente à

40
unidade nacional na China. A travessia de Nathu La é utilizada por indianos que fazem
peregrinações para localidades hindus e budistas no Tibete. Em aparente represália aos
incidentes recentes, a China bloqueou por “preocupações de segurança” a entrada de peregrinos
indianos que tentavam cruzar a fronteira, segundo informou a chancelaria chinesa (Ibid).

Portanto, é possível notar que o assunto de identidade, em particular religioso é crucial para
sociedade indiana e do Tibete que vê as terras dos Himalaias como sagradas e fazem
peregrinações até esse destino e doutro lado os tibetanos olham o território de Tawang que se
encontra em Arunachal Pradesh como aquele que irá surgir o novo Dalai Lama. O impedimento
da realização de crenças é condenado não só pelo Tibete mas sim também pela Índia que tem
princípios do Budismo semelhantes. Nesta senda, vê-se um dilema no que tange a construção de
um Estado com crenças de um Estado vizinho rival.

4.3. Consequências Políticas


Existem questões políticas graves com o Tibete. Esta região autónoma, juntamente com a
província de Xinjiang, no seu entorno, apresentaram em 2014 taxas de crescimento acima dos
10% (Observatorio de la Política China, 2015: 11 citado por Castro, 2017:77)31. Este relatório faz
menção a uma indicação da existência de uma estratégia de elevar os investimentos em infra-
estrutura e a presença do Estado pela via económica, para debilitar os impulsos
autonomistas regionais. Entretanto, a liderança da China quer se fazer sentir nesta região através
de maior integração económica e infra-estruturas nesta região para que não perca a legitimidade
do povo da TAR.

A partir do exílio do décimo quarto Dalai Lama foi construído na Índia a Administração
Tibetana Central ou governo em exílio do Tibete. Esse governo tem como Primeiro Ministro
Lobsang Sangay, político que actua como uma liderança nos posicionamentos separatistas
tibetanos. Esse governo tem como principal partido político o Partido Nacional Democrático do
Tibete, é constituído por três poderes, tem sede na cidade indiana de Dharamshala e é
considerado ilegal na China. Uma das maiores preocupações desse governo é com a repressão do
governo chinês com a população tibetana que segundo eles já causou a morte de um milhão e

31
Observatorio de la Política China (2015), informe anual, disponível em:
www.yuanfangmagazine.com/pdf/Politica_china_2015.pdf

41
duzentas mil pessoas. Existe o apoio moral e material liderado pela Índia com objectivo de
separar o Tibete da China (Portugal e Silva, 2016:10).

Há vários aspectos adicionais de "relações Himalaia" ou do Tibete que descrevem a dinâmica


bilateral China-Índia. Sempre que há distúrbios no Tibete, como aconteceu em 2008, a percepção
da China é que a Índia deve ser responsabilizado por não impedir as actividades políticas da
comunidade tibetana no seu próprio território que apenas mais internacionaliza a questão do
estatuto soberania da região. Além disso, a Índia ainda mantém embora em baixo perfil - as
Special Frontier Forces (SFF),42uma força paramilitar composta de tibetanos étnicos sob o
comando da agência de inteligência externa indiana, a Research and Analysis Wing (RAW)
(Kalyanaraman e Ribeiro, 2017:10).

Portanto, nota-se que a liderança da Índia está preocupada com a presença da China na TAR
devido a sua proximidade geográfica e disputas fronteiriças constantes. O apoio ao Tibete para
que seja separado da China seria muito viável para Índia que ganha mais aliado estratégico na
região com valores culturais e religiosos semelhantes. Assim sendo, as questões políticas
dominam agenda dos líderes indianos que apoiam de forma incondicional as estruturas da
liderança tibetana na Índia.

4.3.1. Consequências Diplomáticas


A agenda diplomática entre China e Índia é extensa no que concerne às disputas fronteiriças
tendo que se observar explicações até dos Estados vizinhos que partilham fronteiras com estes
Estados. De acordo com o portal DN32, a relação entre China e Índia tem sido marcada por outras
pedras na engrenagem diplomática. À China não lhe agrada que a Índia dê asilo ao Dalai Lama,
nem que receba refugiados tibetanos. A Índia, por seu lado, não vê com bons olhos que a China
tenha um acordo de cooperação com o Paquistão. No final de Julho de 2017, também não caiu
bem a Nova Deli que Beijing tivesse assinado um acordo de exploração de uma infra-estrutura
portuária no Sri Lanka. A Índia tem receio que possa estar em causa uma alegada estratégia de
cerco em posições estratégicas.

32
https://www.dn.pt/mundo/interior/soldados-indianos-e-chineses-em-braco-de-ferro-nos-himalaias-8709738.html,
consultado aos 22 de Agosto de 2019.

42
Segundo Kalyanaraman e Ribeiro (2017:11), a parceria Índia-Japão pode ser cada vez mais vista
como um movimento para balanceamento interno e externo pelo lado indiano. O Japão já está
aumentando seus investimentos em infra-estrutura indiana, com o principal projecto sendo o
primeiro comboio de alta velocidade do país, que ligará Gujarat a Mumbai. Além disso, o Japão
está planejando investir na região nordeste da Índia, incluindo o estado disputado de Arunachal
Pradesh. No início de 2017, a Índia e o Japão concordaram em aprofundar a parceria em defesa e
iniciar um diálogo para o desenvolvimento de tecnologias de uso dual e expansão de treinamento
militar em guerra anti-submarino.

A China e a Índia assinaram mais um acordo de fronteira em 2013, mas isso não levou a uma
melhoria nas relações ou à diminuição no número de incidentes relacionados com a fronteira o
que torna a desconfiança mais evidente. Desde 2013, tem havido um número crescente de
conflitos não violentos na fronteira e invasões sobre a LAC, particularmente pelo lado chinês
(Kalyanaraman e Ribeiro, 2017:12). Entretanto, os dois Estados firmaram mais compromisso que
uma das partes não faz valer o seu comprometimento devido à razões estratégicas e de segurança
do Estado chinês.

Portanto, como forma de estar melhor preparado para situações futuras é preciso que haja um
funcionamento dos exercícios diplomáticos e aliado a estes estão as parcerias estratégicas. O
asilo da Índia ao Dalai Lama e a parceria da China com o Paquistão tornam as relações sino-
indianas mais baixas sob o ponto de vista político.

4.4. Consequências Militares


De acordo com Hameedy (2013:59), os programas de modernização das forças da Índia e da
China das últimas décadas também mostram que os dois países estão conscientes de suas
preocupações com segurança e da necessidade de fortalecer esse elemento específico do poder
nacional. A crescente importância económica e geopolítica de ambos os países na política
regional e mundial exige que eles mantenham um exército capaz de salvaguardar seus interesses
de segurança.

43
4.4.1. Actualização das Estruturas e Instrumentos Militares da China
Para o IISS (2018) citado por Gomes (2019:65), a redução no tamanho total da força terrestre é
outra consequência das reformas implementadas pelo governo Xi Jinping. Efectivamente, a
Força Terrestre do Exército de Libertação Popular (FTELP) passou de cerca de 19 divisões e 76
brigadas em 2016 para cerca de 5 divisões e 81 brigadas no final de 2017 33. Isso representa cerca
de 10% da redução de pessoal. Tal redução foi compensada, em certa medida, pelo emprego de
brigadas de operações especiais e aviação/assalto aéreo, permitindo que cada grupo armado,
assim como as forças no Tibete e em Xinjiang, sejam composto por uma brigada de cada.

[C]hina actualizou sua presença militar no Tibete muito perto da LAC em Arunachal Pradesh,
substituindo seu antigo míssil balístico de alcance intermediário CSS-3, com capacidade para
energia nuclear e combustível líquido, por “Medium-Range Ballistic Missile (MRBMs) CSS-5
mais avançados”. Intercontinentais mísseis como o DF-31 e DF-31A, com alcance de 5.500 km a
8.000 km, também foram implantados pela China em Delingha, norte do Tibete. Na fronteira
com a Índia, a China enviou 13 Regimentos de Defesa de Fronteiras, totalizando cerca de
300.000 soldados do PLA. Aeródromos também foram estabelecidos em Hoping, Pangta e Kong
Ka, respectivamente. Estes são um acréscimo aos seis aeródromos existentes na Região
Autónoma do Tibete para apoiar operações de aeronaves de combate e melhorar a capacidade de
transporte aéreo do PLA. De valor crítico para a estrutura de forças da China a esse respeito são
as 23 Forças de Reacção Rápida (RRFs) do PLA, (IISS, 2018).

Os RRFs foram consideravelmente modernizados para uma força de alta tecnologia equipada para
uma guerra limitada no Himalaia. Os RRFs estão em uma posição de 24 horas de operação e
treinados para funcionar em qualquer ambiente. Essas unidades são compostas por dois exércitos
de grupo, nove divisões, três brigadas e sete unidades de nível de regimento ou batalhão, com
uma força aproximada de 400.000 funcionários, isso inclui as Forças de Combate Móvel de
Emergência em Resolução (REMCF). Todas as três divisões de os militares chineses, ou seja, o
Exército, a Marinha e a Força Aérea, têm suas próprias unidades de RRF. Actualmente, existem
seis divisões da RRF estacionadas em Chengdu, muito próximas ao Tibete. Significativamente, os
RRFs possuem capacidade de transporte aéreo para chegar à fronteira Índia-China em 48 horas.
Deve-se notar o fato de que as seis divisões da RRF estacionadas em Chengdu estão sempre em

33
IISS, (2018), The Military Balance, IISS Publication, disponível
em:<http://factmil.com/loads/spravochniki/the_military_balance/10>. Acesso em: 15 de Julho de 2018.

44
um modo de prontidão operacional, capaz de operar em todos os tipos de terreno. De importância
crítica para a Índia é o fato de que as RRFs treinam no sudoeste da China (Yunnan), um terreno
muito semelhante ao de Arunachal Pradesh. As RRFs formarão a primeira linha de ofensas usada
pela China para ocupar áreas-chave em Arunachal Pradesh e resistir ao avanço do exército
indiano, se ocorrer algum conflito futuro (Ibid).

Em Janeiro de 2019, o exército chinês colocou em serviço um novo tanque de guerra leve,
projectado para operar em áreas montanhosas em suas fronteiras, incluindo o Tibete. O novo
tanque Tipo 15, que possui um poderoso motor diesel leve e adequado para operação em
ambientes com baixo oxigénio, foi testado no Tibete em 201834. Segundo Shrivastana (2016:41),
a China também construiu duas das maiores bases de helicópteros do mundo em Aksai Chin.

4.4.2. Avanços na Militarização dos Territórios Fronteiriços


Segundo Odonnel (2017:10), em Agosto de 2016, o Exército Indiano instalou 120 tanques T-
72M1 nas planícies de Ladakh, no leste da Caxemira, uma área que testemunhou Os avanços
chineses na guerra de 1962 entre os dois países. Uma vez que essas novas formações sejam
totalmente levantadas, a Índia poderá recorrer a um número estimado de 221.000 forças nos
comandos do Exército Ocidental, Central e Oriental próximos à fronteira; a maioria dessas
unidades está localizada muito mais próxima da fronteira real do que suas contrapartes chinesas.
Enquanto isso, a Força Aérea Indiana (IAF) está adquirindo as aeronaves de combate Sukhoi Su-
30MKI e Dassault Rafale e abrindo vários novos aterragens avançados (ALGs) - pistas próximas
à fronteira que podem actuar como postos de logística e ataque. Essas novas pistas melhorarão a
flexibilidade de energia aérea da Índia e aumentarão o número de aeródromos que a China teria
que tentar apreender ou eliminar em um conflito.

Portanto, as consequências das disputas territoriais nas zonas fronteiriças entre China e Índia,
ainda que tenham por um lado explicação económica, social e política, tem uma explicação na
dimensão estratégica de ambos Estados. Nesta senda, a hipótese de que as consequências são em
prol do revisionismo territorial é validade pois as acções desencadeadas por estes dois Estados
são em prol da conquista dos territórios e ganho do terreno nos territórios em disputa. A
34
https://freetibet.org/news-media/na/china-escalates-its-military-capability-tibet, consultado aos 22 de Outubro de
2019.

45
constatação é que há uma competição estratégica nas zonas fronteiriças da LAC, de um lado na
região do Tibete e do outro lado na província do Arunachal Pradesh, pertencentes a China e Índia
respectivamente.

Versa neste capítulo a questão de identidade sob ponto de vista físico no que tange a região do
Tibete que coloca uma vantagem da China em detrimento da Índia, mas sob ponto de vista
social, as populações do Tibete têm uma proximidade étnica, cultural e religiosa com a Índia. No
entanto, isto faz com que haja uma preocupação da China em colocar ainda mais investimentos
pró-activos que o legitimem como governo central. Por sua vez, a Índia faz investimentos do
lado do seu país ainda que seja em pequena escala em comparação ao investimento chinês e
contribui apoiando os refugiados Tibetanos, com destaque a toda elite política desta região.
Neste aspecto, as acções sino-indianos fazem com que haja muitas desconfianças e insegurança
no que concerne as áreas fronteiriças.

46
CONSIDERAÇÕES FINAIS

As relações sino-indianas nas zonas fronteiriças são caracterizadas por uma disputa de territórios
estratégicos como Tibete, Aksai Chin e Arunachal Pradesh. No entanto, essas disputas tem como
causas a historia dos dois Estados, a política, identidade, a segurança, a posição geoestratégica e
acesso a recursos estratégicos como acesso à recursos hídricos, minerais e energéticos. No caso o
Tibete há nascentes dos principais rios da Ásia que alimentam o Estado chinês como o indiano,
mas sendo que este território está localizado actualmente na China e este tem uma população
enorme que precisava cada vez mais deste recurso para o desenvolvimento de actividades
económicas, o que leva a Índia a observar este facto como péssimo sendo que a água chega no
seu território com baixos níveis de caudal. Aliado a este facto, a China criou desvios do curso
normal de água para uma região dentro da China desértica para desenvolvé-la.

No que concerne a Aksai Chin, olha-se principalmente no acesso a Ásia Central que leva esse
território ser estrategicamente importante para o desenvolvimento da China com os recursos que
vem desta região que tem diversos recursos como petróleo e gás. Neste âmbito há criação de
corredores de desenvolvimento que a China a países da Ásia Central passando do Aksai Chin
que é a porta estratégica. A ocupação da China nesta região deixa a Índia vulnerável à possíveis
ataques. Por outro lado, Arunachal Pradesh é um território com poucos recursos mais com uma
população de características étnicas e culturais próximas aos chineses. Este factor população
desperta atenção aos chineses que pode ter uma vantagem na disputa para conquistar o território
em que estes cidadãos se encontram.

No que tem que ver com os incidentes nos territoriais que estão nas zonas fronteiriças há
destaque nas zonas de Daulat Beg Oldi, Chumar, Demchok e Doklam. Estes incidentes marcam
as relações sino-indianas que são de pura desconfiança nos assuntos concernente aos territórios
que estão nas zonas fronteiriças. Estes territórios mostram evidências de como a teoria realista

47
encontra evidências nestes territórios. Neste senda, mostra-se a relevância do realismo nas
relações internacionais e porque o Estado enquanto existir deve lutar pela manutenção da
integridade territorial e deste modo colocando os assuntos de defesa e segurança em primeira
instância.

No tangente as consequências, pode-se encontrar consequências políticas como é o caso das


parcerias estratégicas regionais, securitárias, económicas, como desenvolvimento de infra-
estruturas e vias de acesso, e sociais como é o caso de reestruturação demográfica. No que
concerne a política, a Índia como a China estão a aprofundar lanços diplomáticos com os países
da região de modo a ter um mínimo apoio dos Estados vizinhos mais próximos e que dependem
destes. As questões económicas são importantes em qualquer Estado tanto que os investimentos
feitos pela China como pela Índia tem em vista a aproxima dos territórios em disputas através de
facilidades na ligação do interior do Estado que para fora do mesmo.

No que tange as questões sociais, a China viu a necessidade de reestruturar a demografia no


Tibete com aumento de cidadãos da etnia Han para diluir o sentido segregacionista existente e
como forma de unidade nacional. No que tem que ver com questões securitárias, a China e a
Índia aumentaram os efectivos militares existentes, capacitaram ainda mais os exércitos terrestres
responsáveis pela guarnição das áreas fronteiriças em disputa. Essa capacitação é observada com
a chegada de novos equipamentos modernos nos territórios fronteiriços para fazer face a ameaças
que podem surgir. No entanto, essas consequências são vistas como formas de dissuasão que
estes dois Estados estão a implementar.

Portanto, os territórios em disputa trazem um acréscimo desejável tanto para China como para
Índia. Isso faz com os dois Estados tomem essas medidas revisionista que são notadas nas
consequências sócio-políticas e militares. Assim sendo, as relações sino-indianas com as disputas
territoriais nas zonas fronteiriças demonstram que a vizinhança geográfica torna a ameaça mais
potente trazendo consequências tangíveis em curto espaço de tempo pois as questões de
segurança são de prioridade para os Estados envolvidos.

48
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