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Mecânica Newtoniana
1
o conceito de força não foi definido a priori? Portanto, a Primeira Lei sozinha nos
daria apenas uma noção qualitativa de força.
Com relação à Segunda Lei, se definirmos o momento linear como
p~ = m~v , (1.1)
2
Figura 1.1: Bloco apoiado sobre uma superfı́cie horizontal lisa puxado por meio de
uma mola.
experiência e a Segunda Lei de Newton, assim como a Primeira, é de fato uma lei e
não uma mera definição.
Com relação à Terceira Lei de Newton, um aspecto importante é que ela não é
uma lei de natureza geral. Ela é válida sempre que a força não depender das velo-
cidades das partı́culas, como no caso das forças gravitacional e eletrostática. Essas
forças atuam ao longo da linha que une os corpos (por enquanto supostos pontuais)
e por isso são chamadas forças centrais. Na verdade, as forças gravitacionais entre
corpos em movimento também dependem das velocidades dos corpos, mas em geral
essa dependência é muito pequena e difı́cil de ser detectada, mesmo para grandes
velocidades.
As forças elásticas entre objetos, como a força que uma mola exerce sobre um
bloco, são manifestações macroscópicas da força eletrostática (são as forças ele-
trostáticas entre os átomos da mola que dão origem à força elástica). Por conse-
guinte, essas forças também obedecem à Terceira Lei de Newton
Um caso em que a Terceira Lei de Newton não vale é o das forças magnéticas entre
cargas elétricas em movimento. A força magnética F~12 exercida sobre uma carga q1 ,
com velocidade ~v1 e situada na posição ~r1 , por uma carga q2 , com velocidade ~v2 e
situada na posição ~r2 , é dada por
µ0 q1 q2
F~12 = 3
~v1 × (~v2 × ~r12 ) , (1.5)
4π r12
onde
~r12 = ~r1 − ~r2 . (1.6)
Invertendo os papéis de q1 e q2 , obtemos
µ0 q1 q2
F~21 = 3
~v2 × (~v1 × ~r21 ) . (1.7)
4π r12
3
Figura 1.2: Força magnética entre duas cargas pontuais em movimento.
Figura 1.3: Duas partı́culas que exercem forças uma sobre a outra.
Outra interpretação da Terceira Lei de Newton é baseada no conceito de mo-
mento linear. No sistema de duas partı́culas da Figura 1.3, a Eq. (1.9) pode ser
reescrita como
d
(~p1 + p~2 ) = 0 , (1.13)
dt
ou
p~1 + p~2 = cte . (1.14)
Portanto, o momento linear de um sistema isolado constituı́do de duas partı́culas
é conservado. No Capı́tulo 5 mostraremos que essa afirmação é válida para um
sistema isolado com qualquer número de partı́culas.
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1.2 Massa inercial e massa gravitacional
Uma das formas mais comuns de se medir a massa de um corpo é pesando-o. O
método baseia-se na suposição de que a Terra exerce sobre ele uma força, chamada
peso, que é proporcional a sua massa, ou seja,
~ = m~g .
W (1.15)
O vetor ~g vem da Lei da Gravitação Universal (Capı́tulo 3), mas o que importa aqui é
que ele é o mesmo para todos os corpos colocados no mesmo lugar nas proximidades
da superfı́cie da Terra.
A validade desse método depende, contudo, do fato da massa que aparece na Eq.
(1.15) ser a mesma massa que aparece na Segunda Lei de Newton. Isso, evidente-
mente, não é óbvio: é um fato que deve ser comprovado experimentalmente.
Na verdade, existem dois conceitos diferentes de massa e é a experiência que deve
dizer se são ou não equivalentes. Massa inercial é aquela que determina a ace-
leração de um corpo quando sujeito à ação de uma força: a que aparece na Segunda
Lei de Newton. Massa gravitacional é aquela que determina a força gravitacional
entre um corpo e outro corpo vizinho: a que aparece na Lei da Gravitação Universal,
e consequentemente, na Eq. (1.15).
Muitas experiências foram realizadas com o objetivo de verificar a equivalência
entre massa inercial e massa gravitacional. A mais conhecida é a experiência (que
pode não ter ocorrido) onde Galileu teria deixado cair objetos diferentes da Torre de
Pisa, mostrando que chegavam juntos ao solo. Para entender melhor o significado
dessa experiência, considere dois corpos diferentes abandonados da mesma altura,
no mesmo instante. Para o corpo 1, a aceleração seria dada por
W1 mg1 g
a1 = = (1.16)
mi1 mi1
onde os ı́ndices g e i se referem às massas gravitacional e inercial, respectivamente.
Para o corpo 2,
W2 mg2 g
a2 = = (1.17)
mi2 mi2
Galileu teria chegado à conclusão que os corpos chegam juntos ao solo (o que ocorre
se a resistência do ar for desprezı́vel), de forma que a1 = a2 , e portanto
mg1 mg2
= (1.18)
mi1 mi2
Então as massas inercial e gravitacional são proporcionais, e sem perda de genera-
lidade, podemos dizer que são iguais.
Experiências mais sofisticadas (com precisão de até uma parte em 1012 ) têm
ratificado a conclusão que massa inercial é igual a massa gravitacional. A suposição
da equivalência exata desses dois conceitos é de fundamental importância na Teoria
Geral da Relatividade e conhecida como Princı́pio da Equivalência.
5
1.3 Referenciais
As Leis de Newton não são válidas em todos os referenciais. Os referenciais em
relação aos quais elas são válidas são chamados referenciais inerciais.
Suponha que a posição de uma partı́cula em relação a um referencial inercial S
seja dada por ~r. Como a Segunda Lei de Newton é válida nesse referencial, então
2
d ~r
F~ = m 2 = m~a (1.19)
dt
Se um segundo referencial S 0 se move em relação ao primeiro com velocidade ~v ,
então a posição da partı́cula nesse referencial é dada por
r~0 = ~r − ~v t (1.20)
~0
d2 r~0 d2~r
a = 2 = 2 = ~a , (1.21)
dt dt
de forma que
d2 r~0
F~ = m 2 = ma~0 . (1.22)
dt
Portanto, a Segunda Lei de Newton também é válida em relação ao referencial
S 0 . Esse resultado permite-nos afirmar que todos os referenciais que se movem
em relação a um referencial inercial com vetor velocidade constante também são
referenciais inerciais.
As estrelas estão tão distantes da Terra que não podemos perceber mudanças nas
suas posições, mesmo em intervalos de tempo muito grandes (anos ou até séculos).
É muito comum encontrarmos na literatura o termo estrelas fixas para se referir
a todas as estrelas, com exceção do Sol. O termo foi introduzido na antiguidade
para distinguir as estrelas dos planetas, que eram chamados estrelas errantes. As
estrelas (fixas) definem referenciais inerciais convenientes em muitas situações de
interesse, e todos os referenciais que se movem com velocidade constante em relação
a elas também são referenciais inerciais. Acredita-se que as leis da mecânica são
as mesmas para todos os referenciais inerciais, ou seja, que não há um referencial
absoluto na natureza. A inexistência de um referencial inercial absoluto é chamada
de Invariância Galileana ou Princı́pio da Relatividade Newtoniana.
A seguir ilustraremos uma situação onde as Leis de Newton não são válidas. Uma
bola de massa m está pendurada no teto de um ônibus que se movimenta para a
direita com aceleração ~a, como indicado na Figura 1.4. Um observador no ponto de
ônibus (referencial inercial P ) observa o movimento da bola. Ele não vê movimento
na vertical, fato que explica argumentando que a componente vertical da tensão no
fio compensa o peso da bola. Ele vê a bola acelerada na horizontal e diz que essa
aceleração é causada pela componente horizontal da tensão, o que está de acordo
com a Segunda Lei de Newton. Ao contrário, para um observador O situado no
interior do ônibus, parece haver uma contradição. Ele também entende que há uma
componente da tensão atuando na horizontal, mas não vê a bola acelerada. Para ele,
a bola está em repouso. Então ele conclui que a Segunda Lei de Newton não está
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Figura 1.4: Movimento de uma bola visto de dois referenciais diferentes.
sendo obedecida. As Leis de Newton não são válidas no referencial O porque ele é
um referencial acelerado, e elas só são válidas em referenciais inerciais. A descrição
do movimento visto de referenciais não inerciais é um pouco mais complicada e será
apresentada no Capı́tulo 6.
d2~r d~v
m = m~g ou m = m~g . (1.24)
dt2 dt
7
Figura 1.5: Lançamento de um projétil.
8
Desse resultado é fácil ver que o alcance é máximo para θ = 45◦ , que fornece o valor
máximo para sen2θ.
Mais à frente vamos retomar o problema do movimento do projétil levando em
conta a resistêcia do ar. Antes porém, vamos abordar essa questão em dois problemas
unidimensionais.
v02
Rmax =
g(1 + senβ)
(a) Obtenha a força que faz a partı́cula descrever esse movimento. (b) Mostre que
a aceleração tangencial e a aceleração normal são dadas por:
2 senωt |2cosωt − 1|
at = Rω 2 √ an = Rω 2 √
5 − 4 cosωt 5 − 4 cosωt
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Separando as dependências em vx e t, podemos escrever a equação integral
Z vx Z t
dvx
= −k dt . (1.34)
v0 vx 0
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Movimento na vertical: considerando a resistência do ar
Neste exemplo vamos considerar uma partı́cula movendo-se na vertical em um meio
onde a força de resistência é proporcional à velocidade. Vamos supor que a partı́cula
possui uma velocidade inicial v0 e orientar o eixo y na vertical, com sentido positivo
para cima.
Existem duas forças atuando sobre a partı́cula, a força peso e a resistência do
meio, de forma que a equação de movimento pode ser escrita como
dvy
m = −mg − mkvy . (1.45)
dt
O sinal − no primeiro termo reflete o fato que a força da gravidade aponta para
baixo, e portanto tem sinal negativo. Por sua vez, o sinal – no segundo termo indica
que a força de resistência é contrária à velocidade (se vy for positivo, a força de
resistência é negativa, e vice-versa).
Em seguida, podemos separar as dependências em v e em t e escrever a equação
integral Z vy Z t
dvy
=− dt , (1.46)
v0 kvy + g 0
11
v0 = 30 m/s
20 v0 = 20 m/s
v0 = 80 m/s
0
vy (m/s)
20
40
60
80
0 5 10 15 20 25
t (s)
Figura 1.6: Velocidade de uma partı́cula em queda como função do tempo para
g = 9, 8 m/s2 , k = 0, 2 s−1 e três velocidades iniciais diferentes: v0 = 30 m/s,
v0 = −20 m/s e v0 = −80 m/s.
Exercı́cio 1.3. Considere um projétil atirado verticalmente para cima com uma
velocidade inicial v0 . Calcule o tempo necessário para o projétil atingir a altura
máxima: (a) desconsiderando a resistência do ar; (b) considerando a força de re-
sistência do ar proporcional à velocidade (|Fr | = mkv). (c) Supondo que o efeito da
resistência do ar seja pequeno, mostre que o tempo do item (b) é dado por
kT0
T ' T0 1 − ,
2
Exercı́cio 1.4. Considere uma partı́cula em queda de uma grande altura, a partir do
repouso, em um campo gravitacional constante. Suponha que a força de resistência
do ar seja proporcional ao quadrado da velocidade (|Fr | = mkv 2 ). (a) Obtenha
a posição da partı́cula como função da velocidade. (b) Mostre que a velocidade
terminal da partı́cula é dada por
p
vterm = g/k .
Exercı́cio 1.5. Uma partı́cula é lançada verticalmente para cima com velocidade
inicial v0 . (a) Admitindo que a força de retardamento seja proporcional ao quadrado
da velocidade (|Fr | = mkv 2 ), calcule a altura máxima atingida. (b) Mostre que a
velocidade da partı́cula quando ela retorna ao solo é
v0
vf = p . (1.52)
1 + kv02 /g
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Lançamento de um projétil: considerando a resistência do ar
Vamos retornar problema do lançamento de projétil, mas agora levando em conta a
resistência do ar. As equações de movimento devem incluir a força de retardamento,
dada por F~ = −mk~v , de forma que as equações de movimento ao longo dos eixos x
e y são dadas por
dvx dvy
m = −mkvx e m = −mg − mkvy . (1.53)
dt dt
Na verdade, já resolvemos essas duas equações nos exemplos anteriores e tudo o
que necessitamos é fazer algumas adaptações. A componente horizontal da veloci-
dade inicial é v0 cosθ e a componente vertical é v0 senθ. As coordenadas da posição
inicial são x0 = 0 e y0 = 0. Assim as soluções são:
v0 cosθ
x= (1 − e−kt ) (1.54)
k
g kv0 senθ + g
y =− t+ (1 − e−kt ) . (1.55)
k k2
Para calcular o alcance devemos calcular o tempo de vôo e substituı́-lo na
Eq.(1.54). O tempo de vôo pode ser obtido da equação
g kv0 senθ + g
y(T ) = − T + 2
(1 − e−kT ) = 0 , (1.56)
k k
que resulta em
kv0 senθ + g
T = (1 − e−kT ) . (1.57)
gk
Não é possı́vel resolver a equação acima analiticamente, ou seja, não podemos ob-
ter uma expressão para T em termos de v0 , θ, g e k. Mas se os valores numéricos des-
sas grandezas forem conhecidos, podemos resolvê-la através de métodos numéricos.
Por exemplo, podemos estipular um valor inicial para T , substituı́-lo no lado direito
de (1.57), e obter um valor calculado para T . Em um segundo momento tomamos
o valor calculado de T , substituı́mos novamente em (1.57) e obtemos um novo valor
calculado. Este procedimento é repetido até que o valor calculado coincida com o
valor substituı́do (dentro de uma precisão numérica desejada). Quando isso acon-
tecer, teremos encontrado a solução numérica para T . Então esse valor pode ser
substituı́do em (1.54) para o cálculo do alcance. Outro método para resolver a Eq.
(1.57), que é útil quando k é pequeno, é explorado no exercı́cio abaixo.
Exercı́cio 1.6. Admitindo que k seja pequeno, podemos fazer uma expansão da
exponencial que aparece na Eq. (1.57) e considerar somente os primeiros termos da
série. (a) Considerando a expansão até segunda ordem,
1
e−kT ' 1 − kT + k 2 T 2 , (1.58)
2
obtenha uma expressão para T em termos de v0 , θ, g e k. O que significa k ser
pequeno? (b) Faça k = 0 e mostre que o resultado se reduz ao tempo de vôo que
obtivemos desconsiderando a resistência do ar.
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Partı́cula carregada em um campo magnético
Neste exemplo vamos considerar uma partı́cula carregada entrando em uma região
onde existe um campo magnético uniforme, de módulo B. Vamos supor que o campo
aponta na direção positiva do eixo z e que a carga tem sinal positivo.
A equação de movimento é dada por
d2~r ~ ,
m = q~v × B (1.59)
dt2
ou
m(ẍı̂ + ÿ̂ + z̈ k̂) = q(ẋı̂ + ẏ̂ + ż k̂) × B k̂ , (1.60)
onde cada ponto indica uma derivada em relação ao tempo: ẋ = vx , ẍ = ax , e assim
por diante.
Essa equação vetorial corresponde às seguintes equações escalares:
Definindo
qB
ω= , (1.62)
m
podemos escrever
ẍ = ω ẏ ÿ = −ω ẋ z̈ = 0 . (1.63)
A Eq. para a coordenada z é independente das outras duas e pode ser facilmente
resolvida. Integrando uma vez, obtemos
ż = vz0 . (1.64)
z = z0 + vz0 t . (1.65)
onde z0 e vz0 são constantes. É fácil ver que a projeção do movimento da partı́cula no
eixo z é um movimento uniforme com coordenada inicial z0 e velocidade constante
vz0 .
Ao contrário, as equações para as coordenadas x e y são acopladas. Uma forma
de desacoplá-las é substituir uma delas na derivada da outra. Assim obtemos:
... ...
x = −ω 2 ẋ y = −ω 2 ẏ . (1.66)
Uma vez que as as funções seno e cosseno voltam nelas mesmas depois de derivadas
duas vezes, as soluções podem ser escritas como (verifique):
14
ω 2 (−A1 cosωt − B1 senωt) = ω 2 (−A2 senωt + B2 cosωt) , (1.68)
Para que essa igualdade seja válida para qualquer t, os coeficiente do seno nos
dois lados da equação devem ser iguais, o mesmo ocorrendo com os coeficientes do
cosseno. Portanto, devemos ter A2 = B1 e B2 = −A1 . Se tivéssemos substituı́do
as Eqs. (1.67) na segunda Eq. (1.63), terı́amos chegado à mesma conclusão. Dessa
forma, as Eqs. (1.67) devem ser reescritas como
Como
sen(ωt + δ) = senδ cosωt + cosδ senωt ,
cos(ωt + δ) = cosδ cosωt − senδ senωt
devemos ter
A1 = R senδ B1 = R cosδ . (1.71)
Quando projetamos o movimento da partı́cula no plano xy, vemos que ela descreve
um movimento circular uniforme de raio R, centrado no ponto (C1 , C2 ), no sentido
indicado na Figura 1.7. Simultaneamente, a partı́cula move-se ao longo do eixo z
com velocidade constante, de forma que sua trajetória é uma espiral.
Uma vez que a equação de movimento é uma equação diferencial de segunda or-
dem em três dimensões, temos seis constantes de integração. Já havı́amos concluı́do
que z0 e vz0 são a coordenada inicial e a velocidade inicial do movimento uniforme
ao longo do eixo z (a direção do campo magnético). C1 e C2 são as coordenadas
do eixo da espirial no plano xy, R é o raio da circunferência e δ é um ângulo que
determina a posição inicial da partı́cula na circunferência.
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Evidentemente, ω não é uma constante de integração, e sim uma constante que foi
definida na Eq. (1.62) para simplificar as equações seguintes. Quanto ao significado,
ω é a frequência angular do movimento circular no plano xy. Da definição, é possı́vel
ver que ω é negativo se a carga for negativa ou se o campo magnético apontar no
sentido negativo do eixo z, o que corresponderia a inverter o sentido da rotação na
Figura 1.7.
d d~p
(~p · û) = · û = F~ · û = 0 , (1.74)
dt dt
de forma que
p~ · û = cte . (1.75)
Se a componente da força ao longo de uma dada direção for nula, então a compo-
nente do momento linear ao longo dessa direção é conservada.
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~ em relação ao tempo, obtemos
Derivando L
~
dL d~p d~r
= ~r × + × p~ . (1.78)
dt dt dt
O segundo termo é dado por
d~r d~r d~r
× p~ = ×m =0 . (1.79)
dt dt dt
Por outro lado, d~p/dt = F~ , onde F~ é a força resultante que atua sobre a partı́cula.
Assim
dL~
= ~r × F~ = N ~ . (1.80)
dt
Quando o torque da força resultante é nulo,
~
dL
=0 ⇒ ~ = cte .
L (1.81)
dt
Se o torque resultante que atua sobre uma partı́cula for nulo, seu momento angular
é conservado.
~ não for nulo, mas se N
Se o vetor N ~ · û = 0,
d ~ ~
dL
(L · û) = ~ · û = 0 ,
· û = N (1.82)
dt dt
de forma que
~ · û = cte .
L (1.83)
Se a componente do torque resultante ao longo de uma dada direção for nula, então
a componente do momento angular ao longo dessa direção é conservada.
Exercı́cio 1.7. Considere um projétil atirado da origem com velocidade inicial v0
e ângulo de inclinação θ. (a) Obtenha expressões para os vetores momento angular
e torque em função do tempo. (b) Mostre explicitamente que N ~ = dL/dt.
~ Despreze
a resistência do ar.
podemos escrever
dT
F~ · d~r = dt = dT , (1.87)
dt
de forma que Z 2
W12 = dT = T2 − T1 , (1.88)
1
onde T1 e T2 são as energias cinéticas da partı́cula nos pontos 1 e 2, respectivamente.
O trabalho da força resultante que atua sobre uma partı́cula é igual à variação da
sua energia cinética.
Suponha que a partı́cula vá de 1 até 2 pelo caminho a e volte pelo caminho b da
Figura 1.9. Assim
Wfech = W12,a + W21,b , (1.89)
onde Wfech quer dizer trabalho no percurso fechado: indo por um caminho e voltando
por outro. Como W21,b = −W12,b (o vetor d~r inverte o sentido),
Em muitas situações, o trabalho realizado pela força só depende dos pontos inicial
e final, e não do caminho. Por exemplo, na Figura 1.9 o trabalho realizado seria
o mesmo, independente da partı́cula percorrer os caminhos a ou b. Se o trabalho
realizado pela força independe do caminho, W12,a = W12,b , de forma que Wfech = 0.
18
Se o trabalho independe do caminho, o trabalho realizado em um percurso fechado é
nulo.
Quando o trabalho não depende do caminho, é possı́vel associar à força uma
função escalar da posição da partı́cula, chamada energia potencial. A diferença
entre as energias potenciais calculadas nos pontos 1 e 2 é definida como
Z 2
U2 − U1 = − F~ · d~r . (1.91)
1
Devemos ressaltar que essa expressão define apenas a diferença de energia potencial,
e não a energia potencial absoluta. A função energia potencial é definida a menos de
uma constante aditiva que não tem significado fı́sico. Também é importante frisar
que se o trabalho realizado pela força depender do caminho, a definição de energia
potencial acima não faz sentido.
Uma vez que a energia potencial é função da posição da partı́cula, U = U (x, y, z),
podemos escrever a sua diferencial como
∂U ∂U ∂U ~ · d~r ,
dU = dx + dy + dz = ∇U (1.92)
∂x ∂y ∂z
onde
~ = ∂U ı̂ + ∂U ̂ + ∂U k̂
∇U (1.93)
∂x ∂y ∂z
Integrando do ponto 1 até o ponto 2, obtemos
Z 2 Z 2
dU = U2 − U1 = ~ · d~r .
∇U (1.94)
1 1
E =T +U , (1.96)
19
Em princı́pio, a energia potencial poder ser função da posição e do tempo (na
verdade ela pode ser função também da velocidade, mas nós não vamos considerar
esses casos aqui). Se U = U (x, y, z, t), podemos escrever
dU ∂U dx ∂U dy ∂U dz ∂U ~ · ~v + ∂U ,
= + + + = ∇U (1.99)
dt ∂x dt ∂y dt ∂z dt ∂t ∂t
de forma que
dE ~ ) · ~v + ∂U .
= (F~ + ∇U (1.100)
dt ∂t
Se todas as forças puderem ser associadas a energias potenciais, F~ = −∇U ~ , de
forma que
dE ∂U
= . (1.101)
dt ∂t
Uma força que pode ser associada a uma energia potencial que não depende
explicitamente do tempo é chamada força conservativa. Se todas as forças que
atuam sobre uma partı́cula forem conservativas, dE/dt = ∂U/∂t = 0. É claro que, se
houver alguma força que não pode ser associada a uma energia potencial, F~ 6= −∇U~
e dE/dt 6= ∂U/∂t.
Teorema da Conservação da Energia Mecânica. Se todas as forças que atuam
sobre uma partı́cula forem conservativas, a energia mecânica é constante.
O Teorema da Conservação da Energia Mecânica nada mais é que uma
consequência das Leis de Newton. Entretanto, existem outras formas de energia,
como as energias térmica e elétrica, que podem ser convertidas em energia mecânica
e vice-versa. A conservação da energia total de um sistema isolado é um postulado
básico da fı́sica conhecido como Lei da Conservação da Energia.
Exercı́cio 1.8. Um trem move-se ao longo de um trilho com uma velocidade cons-
tante u. Um trabalhador dentro do trem empurra uma caixa de massa m, para
frente, por uma distância l, com uma força constante F . Admitindo que não haja
atrito entre a caixa e o solo, determine: (a) o trabalho realizado pelo trabalhador
no referencial do trem; (b) a variação da energia cinética da caixa no referencial do
trem; (c) o trabalho realizado pelo trabalhador no referencial do solo; (d) a variação
da energia cinética da caixa no referencial do solo. Verifique que W = ∆T nos dois
referenciais.
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que pode ser integrada como
Z x
dx
t − t0 = ± q , (1.104)
2
x0
m
[E − U (x)]
E1
U(x)
E2
E3
x1 x2 x3 x4 x5 x
Figura 1.10: Curva de energia potencial hipotética para uma partı́cula movendo-se
em uma dimensão.
Como exemplo, considere uma partı́cula sujeita à energia potencial da Figura
1.10. Uma vez que a energia cinética não pode ser negativa, a partı́cula só pode
estar nas regiões onde E ≥ U (x). Uma partı́cula com energia E1 deve estar na região
onde x ≥ x1 . Ela vem do infinito, faz o retorno no ponto x1 e volta, invertendo o
sentido do seu movimento. Se a energia da partı́cula for igual a E2 , ela terá um
movimento periódico entre os pontos de retorno x2 e x4 , onde E2 ≥ U (x). Uma
partı́cula com energia E3 deve estar em repouso em x3 , que é a única posição onde
E3 não é menor que U .
Vamos utilizar uma abordagem semelhante a essa para estudar as órbitas dos pa-
netas ao redor do Sol no Capı́tulo 4. Embora esse problema envolva duas partı́culas
(o planeta e o Sol), veremos que é possı́vel descrever o movimento a partir de uma
energia potencial efetiva que depende somente da distância entre o Sol e o planeta.
Equilı́brio
Em três dimensões, diz-se que um corpo está em equilı́brio se a força e o torque
que atuam sobre ele são ambos nulos. Mas existem muitos problemas onde há
21
somente uma coordenada relevante, e nesses casos, é interessante usar o conceito
de força generalizada. Se a força generalizada for nula, diz-se que o corpo
está em equilı́brio. Por exemplo, se uma partı́cula move-se ao longo do eixo x, a
força generalizada é a componente x da força, Fx = −dU/dx (a variação de energia
potencial em um deslocamento infinitesimal é dU = −dW = −Fx dx). Se Fx = 0, a
partı́cula está em equilı́brio. Se um objeto gira ao redor de um eixo, a coordenada
relevante é o ângulo de rotação e a força generalizada é o torque, N = −dU/dθ (a
variação de energia potencial em um giro infinitesimal é dU = −dW = −N dθ). Se
N = 0, o objeto está em equilı́brio.
Considere uma partı́cula movendo-se em uma dimensão sujeita ao potencial uni-
dimensional da Figura 1.10. Do gráfico é fácil ver que existem dois pontos de
equilı́brio, x3 e x5 , onde Fx = −dU/dx = 0.
Primeiro vamos analisar o equilı́brio em x3 . É fácil ver que dU/dx = 0 no ponto
x3 , de forma que x3 é um ponto de equilı́brio. Agora verifiquemos o sentido da
força sobre a partı́cula quando ela se encontra nas vizinhanças de x3 . Se x > x3 ,
dU/dx > 0 e Fx < 0; se x < x3 , dU/dx < 0 e Fx > 0. Em ambas as situações, a
força tende a levar a partı́cula de volta para a posição de equilı́brio, e nesse
caso, diz-se que o equilı́brio é estável. O equilı́brio é estável quando a derivada
segunda da energia potencial for positiva (concavidade para cima), como
no ponto x3 .
Agora analisemos o equilı́brio em x5 . Se x > x5 , dU/dx < 0 e Fx > 0; se
x < x5 , dU/dx > 0 e Fx < 0. Em ambas as situações, a força tende a levar
a partı́cula para longe da posição de equilı́brio, e nesse caso, diz-se que o
equilı́brio é instável. O equilı́brio é instável quando a derivada segunda da
energia potencial for negativa (concavidade para baixo), como no ponto x5 .
Para ilustrar os conceitos apresentados nesta seção, vamos estudar o equilı́brio
de um cubo de aresta L situado no topo de um hemisfério de raio R, como mostra
a Figura 1.11. O cubo estará em equilı́brio quando a sua face inferior estiver exata-
mente na horizontal com seu centro no topo do hemisfério. Se o cubo for pequeno
em comparação com o hemisfério, o equilı́brio é estável, ou seja, ele tende a voltar à
posição original se for ligeiramente girado para um lado. Ao contrário, o equilı́brio
é instável se o cubo for grande em comparação com o hemisfério. Ele cairá se so-
frer um pequeno giro. O que vamos fazer aqui é comprovar essas afirmações com
argumentos formais baseados na energia potencial gravitacional do cubo.
Do ponto de vista quantitativo, a questão colocada é: qual o maior valor da
aresta do cubo, comparado ao raio do hemisfério, para que o equilı́brio seja estável?
Nesse problema, a única coordenada relevante é o ângulo de rotação θ, mostrado na
Figura 1.11. Podemos escrever a energia potencial como função de θ, identificar o
ponto de equilı́brio e impor a condição para que o equilı́brio seja estável.
Se admitirmos que o cubo gira sobre o hemisfério sem deslizar, então a distância
entre os pontos de contato inicial e final (A e B na figura) é Rθ. Essa distância é
igual à hipotenusa do pequeno triângulo próximo ao centro do cubo. Portanto, a
altura do centro do cubo, em relação ao centro do hemisfério, é
L
h = (R + ) cosθ + Rθ senθ
2
Supondo que a massa do cubo seja distribuı́da de maneira uniforme, podemos
imaginá-la concentrada no seu centro e escrever a energia potencial gravitacional
22
Figura 1.11: Cubo de aresta L sobre um hemisfério de raio R.
como
L
U (θ) = mg (R + ) cosθ + Rθ senθ . (1.105)
2
Os pontos de equilı́brio são dados pelos valores de θ para os quais a derivada de
U é zero. Derivando U , obtemos
dU L
= mg − senθ + Rθ cosθ . (1.106)
dθ 2
É fácil ver que dU/dθ = 0 para θ = 0. Isso quer dizer que o cubo está em equilı́brio
quando sua face inferior está na horiziontal, como esperado.
A condição para que o equilı́brio seja estável é que d2 U/dθ2 > 0 para θ = 0. A
segunda derivada de U é
d2 U
L
= mg (R − ) cosθ − Rθ senθ . (1.107)
dθ2 2
Fazendo θ = 0, obtemos
d2 U
L
= mg R − . (1.108)
dθ2 θ=0 2
Portanto, o equilı́brio é estável se R − L/2 > 0, ou L < 2R. Nesse caso, o cubo
voltará para a posição de equilı́brio após sofrer um pequeno giro. Se L > 2R, o
equilı́brio é instável, e o cubo cairá se sofrer um pequeno giro.
23
A Figura 1.12 mostra a energia potencial U (θ) para g = 9, 8 m/s2 , m = 1, 0 kg,
R = 10 cm e dois valores de L: L = 12 cm e L = 28 cm. Para L = 12 cm (L < 2R),
a concavidade é para cima e o equilı́brio é estável (linha contı́nua). Para L = 28 cm
(L > 2R), a concavidade é para baixo e o equilı́brio é instável (linha pontilhada).
2.4
2.2
2.0 L = 28 cm
U (J)
L = 12 cm
1.8
1.6
1.4
0.8 0.4 0.0 0.4 0.8
(rad)
Figura 1.12: Energia potencial do cubo para g = 9, 8 m/s2 , m = 1, 0 kg, R = 10 cm
e dois valores de L: L = 12 cm e L = 28 cm.
Exercı́cio 1.9. Uma partı́cula está sob a influência de uma força dada por
onde k e β são constantes positivas. (a) Obtenha uma expressão para U (x). (b)
Obtenha os pontos de equilı́brio e para cada um deles diga se o equilı́brio é estável
ou instável. (c) Esboce o gráfico de U (x).
Exercı́cio 1.10. Para muitas moléculas diatômicas a energia potencial pode ser
escrita, em boa aproximação, como
A B
U (r) = 12
− 6 , (1.110)
r r
onde r é a distância entre os dois átomos e A e B são constantes positivas. (a)
Obtenha uma expressão para a força que um átomo exerce sobre o outro. (b)
Obtenha a distância de equilı́brio em termos de A e B. (c) Determine se o equilı́brio
é estável ou instável. (c) Desenhe o gráfico de U (r).
24
Considere um foguete viajando sob influência de uma força externa, como na
Figura 1.13. Por simplicidade, vamos considerar o movimento em uma dimensão.
Suponha que em um dado instante t a massa do foguete seja m e a sua velocidade
v. Em um intervalo de tempo dt o foguete ejeta uma massa dm0 (positiva) com
velocidade −u (para trás) em relação ao foguete. A velocidade da massa ejetada em
relação a um referencial fixo (inercial) é v − u. Após a ejeção de dm0 , a massa do
foguete passa a ser m − dm0 e a sua velocidade v + dv.
dp dv dm0
Fext = =m −u . (1.111)
dt dt dt
Neste momento é interessante fazer uma mudança de notação. Da forma que
foi definida, dm0 é uma quantidade positiva. Por outro lado, a taxa de variação da
massa do foguete é uma quantidade negativa (o foguete está perdendo massa) dada
por
dm dm0
=− . (1.112)
dt dt
Assim, podemos escrever
dv dm
Fext = m +u , (1.113)
dt dt
de forma a ficarmos com uma única massa na equação.
25
Simplificando dt e separando as dependências em v e m, podemos escrever a
equação integral Z v Z m
dm
dv = −u , (1.115)
v0 m0 m
Vamos supor também que a taxa de perda de massa seja constante, ou seja,
dm
= −k . (1.119)
dt
Eliminando dt dessa equação (dt = −dm/k), temos
dm
mg = mdv + udm . (1.120)
k
Separando as dependências em v e m, podemos escrever a equação integral
Z v Z m
g u
dv = − dm , (1.121)
0 m0 k m
onde estamos supondo v = 0 e m = m0 em t = 0. Integrando, obtemos
g m
0
v = (m − m0 ) + u ln . (1.122)
k m
Essa equação fornece a velocidade como função da massa.
26
Também podemos obter a uma expressão para a velocidade como função do
tempo. Integrando a Eq. 1.119, temos
m = m0 − kt . (1.123)
Exercı́cio 1.12. Um foguete tem uma massa inicial m0 e uma razão de perda de
massa dm/dt = –k. Determine a velocidade de exaustão mı́nima para que o foguete
consiga decolar no campo gravitacional da Terra.
27
Quântica e a Mecânica Relativı́stica. Além disso, existe outra limitação de or-
dem prática. Quando o número de partı́culas é muito grande, torna-se impossı́vel
obter as posições de todas elas como funções do tempo. Nesse caso as proprie-
dades de interesse são obtidas como médias, e a teoria adequada é a Mecânica
Estatı́stica. Não entraremos nos detalhes dessas teorias porque são assuntos de
outros cursos.
28
Capı́tulo 2
Oscilações
Figura 2.1: Curva de energia potencial tı́pica para uma molécula diatômica.
29
o que justifica a ausência do termo linear na expansão.
Em um movimento molecular tı́pico os átomos se afastam da posição de equilı́brio
por distâncias que são pequenas quando comparadas à separação de equilı́brio. Na
maioria das vezes, os termos de terceira ordem em diante na expansão da energia
potencial são pequenos. Numa primeira abordagem, vamos desprezá-los. Como
a energia potencial é definida a menos de uma constante, também pode-se fazer
Ueq = 0 sem perda de generalidade, de forma que
1 d2 U
U (R) = (R − Req )2 . (2.3)
2 dR2 eq
Definindo
k
ω02 = , (2.9)
m
podemos escrever
ẍ = −ω02 x . (2.10)
Duas soluções particulares desta equação diferencial de segunda ordem são
30
ou, como vimos no capı́tulo anterior,
4 K
U
E
Energia ( J )
0
0.0 0.2 0.4 0.6
t (s)
Figura 2.2: Energias cinética, potencial e mecânica para k = 200 N/m, A = 20 cm,
m = 0, 20 kg e δ = 0.
Antes de encerrar esta seção vamos mostrar um exemplo de um sistema fı́sico que
se comporta, aproximadamente, como um oscilador harmônico simples: o pêndulo
simples (Figura 2.3). O torque sobre o pêndulo, em relação ao ponto de sustentação,
é dado por
N = −mgl senθ , (2.26)
onde o sinal – indica que o torque é contrário a θ. Se θ for positivo (sentido anti-
horário), o torque está entrando no plano da página (sentido horário). Por sua vez,
o momento de inércia do pêndulo é dado por
I = ml2 . (2.27)
N = I θ̈ , (2.28)
ou
−mgl senθ = ml2 θ̈ . (2.29)
Se a amplitude do movimento for pequena (θ << 1), podemos escrever
32
Figura 2.3: Pêndulo simples.
Definindo r
g
ω0 = , (2.32)
l
podemos escrever
θ̈ = −ω02 θ , (2.33)
que é a equação de movimento para um oscilador harmônico simples, e cuja solução
é
θ(t) = Θ0 cos(ω0 t − δ) , (2.34)
onde Θ0 é a amplitude angular do movimento.
Exercı́cio 2.1. (a) Calcule as médias temporais das energias cinética e potencial de
um oscilador harmônico simples sobre um ciclo e mostre que elas são iguais. Porque
esse é um resultado esperado? (b) Calcule as médias espaciais dessas grandezas e
justifique porque os resultados não são iguais.
Exercı́cio 2.2. Obtenha uma expressão para a fração de um perı́odo (∆t/τ ) que a
partı́cula permanece dentro de uma região de comprimento ∆x, em torno da posição
x, em um oscilador harmônico simples. Esboce o gráfico de ∆t/τ ∆x em função de
x e discuta o significado fı́sico do resultado obtido.
Exercı́cio 2.3. Um corpo de área de seção transversal uniforme flutua em um
lı́quido. Na situação de equilı́brio, o corpo está submerso no lı́quido de uma pro-
fundidade heq . Mostre que o perı́odo deppequenas oscilações verticais em torno da
posição de equilı́brio é dado por τ = 2π heq /g.
Exercı́cio 2.4. Duas massas m1 e m2 , livres para se movimentarem sobre um trilho
horizontal sem atrito, estão conectadas por uma mola cuja constante elástica é k.
Mostre que o centro de massa move-se com velocidade constante enquanto as massas
executam um movimento harmônico simples em torno do centro de massa. Obtenha
a frequência angular de oscilação.
Exercı́cio 2.5. Duas partı́culas de massas m1 e m2 estão conectadas por uma mola
cuja constante elástica é k. O sistema é pendurado, como indica a figura abaixo. Em
algum instante, o fio superior é cortado, de maneira que o sistema se moverá verti-
calmente. Determine o movimento subsequente do centro de massa e a frequência
angular de oscilação das massas em torno do centro de massa.
33
2.2 Oscilações harmônicas em duas dimensões
Considere a seguir o movimento de uma partı́cula, em duas dimensões, sujeita a
uma força
F~ = −k~r . (2.35)
As equações de movimento para as coordenadas x e y podem ser escritas como
Definindo r
k
ω0 = , (2.37)
m
podemos escrever
ẍ = −ω02 x ÿ = −ω02 y , (2.38)
cujas soluções são
A partı́cula executa MHS ao longo dos eixos x e y com a mesma frequência, mas
com amplitudes e fases diferentes.
A equação da trajetória pode ser obtida reescrevendo a função y(t) como
Definindo
δ =α−β , (2.41)
podemos escrever
y(t) = B cos[(ω0 t − α) + δ]
= B cos(ω0 t − α) cosδ − B sen(ω0 t − α) senδ . (2.42)
34
Agrupando os termos, temos
√
Ay − Bx cosδ = −B senδ A2 − x2 . (2.44)
ou
B 2 x2 − 2ABxy cosδ + A2 y 2 = A2 B 2 sen2 δ . (2.46)
Esta é a equação da trajetória da partı́cula, que depende das amplitudes A e B
e da diferença de fase δ. Por exemplo, se δ = 0, podemos escrever
B 2 x2 − 2ABxy + A2 y 2 = 0 , (2.47)
ou
(Bx − Ay)2 = 0 , (2.48)
ou ainda,
B
y= x, (2.49)
A
que é a equação de uma reta.
Se δ = π/2, temos
B 2 x2 + A2 y 2 = A2 B 2 . (2.50)
Dividindo por A2 B 2 , obtemos
x2 y2
+ =1, (2.51)
A2 B 2
que é a equação de uma elipse (se A = B a elipse é uma circunferência).
A Figura 2.4 mostra a trajetória para A = 4 cm, B = 3 cm e dois valores de δ:
δ = 0 e δ = π/2.
3.0 =0 3.0 = /2
1.5 1.5
y (cm)
y (cm)
0.0 0.0
1.5 1.5
3.0 3.0
4 2 0 2 4 4 2 0 2 4
x (cm) x (cm)
35
afirmação, vamos fazer α = δ e β = 0 na equação 2.39. Isto não traz nenhuma perda
de generalidade, já que o que importa é a diferença de fase. Fazendo assim, obtemos
x(t) = A cos(ω0 t − δ) y(t) = B cosω0 t . (2.52)
Em coordenadas polares, a posição da partı́cula no instante t é especificada pelo
ângulo ϕ e pela distância ρ, indicados na Figura 2.5.
O ângulo ϕ é dado por
B cosω0 t
ϕ = tg−1 . (2.53)
A cos(ω0 t − δ)
Da figura, pode-se ver que é o sinal de dϕ/dt que determina o sentido do mo-
vimento: se dϕ/dt > 0, o giro é no sentido anti-horário; se dϕ/dt < 0, o giro é no
sentido horário. A derivada é dada por
dϕ ABω0
=− 2 senδ . (2.54)
dt A cos (ω0 t − δ) + B 2 cos2 ω0 t
2
Desta expressão, é fácil ver que o sinal de dϕ/dt é contrário ao sinal de senδ.
Assim podemos concluir que:
0<δ<π ⇒ dϕ/dt < 0 → movimento no sentido horário;
π < δ < 2π ⇒ dϕ/dt > 0 → movimento no sentido anti-horário.
Pode-se mostrar também que as trajetórias para todos os valores de δ são elipses,
em geral inclinadas, como mostra a Figura 2.6 para δ = π/3 e δ = π/6 (em ambos
os casos A = B = 4 cm). O caso δ = 0 pode ser visto como uma elipse com um dos
semieixos igual a zero.
Como em geral as elipses são inclinadas, vamos começar a demonstração fazendo
uma rotação de eixos. A rotação de um ângulo γ é dada por
x = x0 cosγ − y 0 senγ y = x0 senγ + y 0 cosγ (2.55)
Substituindo as expressões acima na equação da trajetória (2.46), obtemos
2 2
B 2 (x0 cos2 γ + y 0 sen2 γ − x0 y 0 sen2γ)
2 2
+A2 (x0 sen2 γ + y 0 cos2 γ + x0 y 0 sen2γ) (2.56)
2 2
−AB cosδ(x0 sen2γ − y 0 sen2γ + 2x0 y 0 cos2γ) = A2 B 2 sen2 δ
36
4 = /3 4 = /6
2 2
y (cm)
y (cm)
0 0
2 2
4 4
4 2 0 2 4 4 2 0 2 4
x (cm) x (cm)
2 A2 B 2 sen2 δ 2 A2 B 2 sen2 δ
A0 = B0 = , (2.63)
D2 C2
podemos escrever a equação da elipse na forma mais simples
x0 2 y02
+ =1. (2.64)
A0 2 B 0 2
No caso especial em que δ = π/2, obtemos γ = 0, de forma que não há necessi-
dade de fazer a rotação. D = B e C = A, de forma que os semieixos são dados por
A0 = A e B 0 = B.
37
Para δ = π/3 e A = B, p por exemplo, obtemos pγ = π/4. C 2 = 3A2 /2 e D2 =
2 0 0
A /2, de forma que A = 3/2A ' 1, 22A e B = 1/2A ' 0, 71A. Os semieixos
da elipse inclinada para δ = π/3 são mostrados na Figura 2.6. Como exercı́cio,
calcule os semieixos para δ = π/6 e A = B e confira com a Figura 2.6.
Em geral podem ocorrer oscilações em duas dimensões onde tanto as frequências
quanto as fases dos movimentos nas direções x e y sejam diferentes. Nesse caso,
podemos escrever
Se a razão ωx /ωy puder ser escrita como a razão entre dois números inteiros,
a curva será fechada, e nesse caso, chamada figura de Lissajous. Imagine, por
exemplo, que ωx /ωy = 1/2. Isto quer dizer que a partı́cula executa uma oscilação no
eixo x enquanto executa duas oscilações no eixo y. Após isso, ela estará novamente
no mesmo ponto com a mesma velocidade. Se ωx /ωy = 2/3, a partı́cula executa duas
oscilações no eixo x no mesmo intervalo de tempo em que executa três oscilações no
eixo y. As figuras de Lissajous para esses dois casos são exibidas na Figura 2.7.
3 3
y (cm/s)
0 0
y (cm)
3 3
x/ y = 1/2 x/ y = 2/3
4 0 4 4 0 4
x (cm) x (cm)
Se ωx /ωy não for um número racional, a curva será aberta, ou seja, a partı́cula
nunca passa duas vezes pelo mesmo ponto com a mesma velocidade. À medida que
o tempo passa, a partı́cula vai passando por todos os pontos do retângulo.
Exercı́cio 2.6. Desenhe a figura de Lissajous para o caso em que A = B, ωx /ωy =
1/2, α = 0 e β = π/2.
38
Definindo o parâmetro de amortecimento como
b
β= , (2.68)
2m
podemos escrever
ẍ + 2β ẋ + ω02 x = 0 . (2.69)
Supondo uma solução da forma
temos
ẋ(t) = λeλt ẍ(t) = λ2 eλt , (2.71)
o que nos leva à equação auxiliar
Aqui vamos distinguir três casos especiais que serão discutidos separadamente: mo-
vimento subamortecido (β < ω0 ), movimento criticamente amortecido (β = ω0 ) e
movimento superamortecido (β > ω0 ).
de tal maneira que ω1 seja uma quantidade real. Assim a solução geral toma a forma
39
4
2
x (cm)
0
2
4
6
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
t (s)
Figura 2.8: Oscilador harmônico subamortecido com A = 5 cm, ω1 = 26 rad/s,
β = 3 s−1 e δ = 0.
40
Exercı́cio 2.8. (a) Mostre que a energia mecânica de um oscilador subamortecido
pode ser escrita como
1
q
2 −2βt 2 2 2
E(t) = mA e ω0 + β cos2γ + β ω0 − β 2 sen2γ ,
2
onde γ(t) = ω1 t − δ. (b) Mostre que a taxa de perda de energia é dada por
dE
q
2 −2βt 2 3 2 2 2 2
= −mA e βω0 + (2β − βω0 ) cos2γ + 2β ω0 − β sen2γ .
dt
Como a equação diferencial é de segunda ordem, devemos ter duas soluçẽs par-
ticulares linearmente independentes, e portanto, devemos encontrar outra solução
particular. Você pode mostrar que
A Figura 2.9 mostra os gráficos de x(t) para A = 6 cm, β = 0.5 s−1 e dois valores
diferentes de B. Na curva sólida, B = 5 cm/s, de forma que a velocidade inicial é
positiva. Quando t → ∞, x(t) tende assintoticamente a zero por valores positivos.
Na curva pontilhada, B = −4 cm/s, e a velocidade inicial é negativa. A curva corta
o eixo t e tende assintoticamente a zero por valores negativos.
onde q
ω2 = β 2 − ω02 , (2.89)
41
8
A = 6 cm, B = 5 cm/s
6 A = 6 cm, B = 4 cm/s
x (cm)
2
0 2 4 6 8 10
t (s)
Figura 2.9: Oscilador harmônico criticamente amortecido para A = 6 cm, β = 0.5
s−1 e dois valores diferentes de B: B = 5 cm/s e B = −4 cm/s.
A1 = 10 cm, A2 = 5 cm
6 A1 = 3 cm, A2 = 2 cm
A1 = 5 cm, A2 = 10 cm
4
x (cm)
2
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
t (s)
Figura 2.10: Oscilador harmônico superamortecido com ω2 = 3 rad/s, β = 5 s−1 e
três combinações diferentes de A1 e A2 : A1 = 10 cm e A2 = −5 cm; A1 = 3 cm e
A2 = 2 cm; A1 = −5 cm e A2 = 10 cm.
x(t) = γ(t)e−βt
42
para a equação
ẍ + 2β ẋ + ω02 x = 0 ,
obtenha uma equação diferencial para γ(t). (b) Obtenha γ(t) e x(t) para os oscila-
dores subamortecido, criticamente amortecido e superamortecido.
onde √ 2 2 √ 2 2
xh (t) = e−βt A1 e β −ω0 t + A2 e− β −ω0 t (2.95)
é a solução da equação homogênea
ẍ + 2β ẋ + ω02 x = 0 . (2.96)
Para que a expressão acima seja válida para qualquer t, os coeficientes do seno
e cosseno devem ser ambos nulos. Assim, devemos ter
43
Da primeira equação, temos
f0
D= , (2.101)
(ω02 − ω 2 ) cosδ + 2ωβ senδ
e da segunda,
2ωβ −1 2ωβ
tgδ = 2 ou δ = tg 2
. (2.102)
ω0 − ω 2 ω0 − ω 2
Para obter uma expressão para D, precisamos das expressões para senδ e cosδ.
Da expressão para tgδ, é fácil ver que
2ωβ
senδ = p 2 (2.103)
(ω0 − ω 2 )2 + 4ω 2 β 2
e
ω2 − ω2
cosδ = p 2 0 (2.104)
(ω0 − ω 2 )2 + 4ω 2 β 2
Para chegar a essa conclusão, construa um triângulo retângulo com cateto oposto
igual a 2ωβ e cateto adjacente igual a ω02 − ω 2 ; isso reproduz
p a tangente dada na
2
Eq. (2.102). A hipotenusa desse triângulo é dada por (ω0 − ω 2 )2 + 4ω 2 β 2 , o que
leva às expressões dadas acima para senδ e cosδ. Com elas, a Eq. (2.101) torna-se
f0
D=p 2 . (2.105)
(ω0 − ω 2 )2 + 4ω 2 β 2
Para completar a solução, este resultado deve ser inserido na Eq. (2.97).
A presença da constante δ em xp (t) mostra que há um atraso de xp (t) em relação
à força aplicada. A Figura 2.11 mostra δ(ω) para ω0 = 20 rad/s e β = 5 s−1 . Note
que:
ω→0 ⇒ δ → tg−1 0+ = 0
ω = ω0 ⇒ δ = tg−1 ∞ = π/2
ω→∞ ⇒ δ → tg−1 0− = π
Cabe aqui uma justificativa para colocarmos δ no intervalo 0 < δ < π, em vez
de −π/2 < δ < π/2. Veja que δ é definido pela tangente, e para ω > ω0 , tgδ < 0.
Podemos ter cosδ < 0 e senδ > 0 ou cosδ > 0 e senδ < 0. A primeira opção torna
D positivo na Eq. (2.101), o que é mais conveniente porque D é a amplitude do
movimento (Eq. 2.97).
A solução homogênea dada pela Eq. (2.95) é chamada solução transiente. Por
causa do fator exponencial e−βt ela vai a zero para um tempo grande comparado com
1/β. Assim, para t >> 1/β, x(t) = xp (t), que é chamada solução estacionária.
Os detalhes do que ocorre antes da solução transiente desaparecer são ilustrados
na Figura 2.12, onde A = 6 cm, D = 3 cm, β = 3 s−1 , ω0 = 26 rad/s e ω = 17
rad/s. Por simplicidade a fase da solução homogênea foi feita igual a zero. Isso
não é importante aqui, mas como exercı́cio você pode calcular a fase δ da solução
particular. Note que a partir de t = 1 s, a solução geral (curva sólida) se confunde
com a solução particular (curva treacejada).
44
3.14
(rad)
2 1.57
0 20 40 60
0.00
(rad/s)
Figura 2.11: Fase do oscilador harmônico forçado em função de ω para ω0 = 20
rad/s e β = 5 s−1 .
8 xh (t)
xp (t)
6 x (t) = xh (t) + xp (t)
4
x (cm)
2
0
2
4
6
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
t (s)
Figura 2.12: Soluções homogênea, particular e geral para A = 6 cm, D = 3 cm,
β = 3 s−1 , ω0 = 26 rad/s e ω = 17 rad/s.
45
O grau de amortecimento do sistema pode ser descrito pelo fator de qualidade,
definido como
ωR
Q= . (2.109)
2β
Um parâmetro de amortecimento β pequeno implica em um Q grande. Nesse
caso, o termo 4ω 2 β 2 no denominador de (2.105) é pequeno, e a curva D(ω) tem um
pico alto próximo de ω = ω0 . Quando β vai aumentando, Q vai diminuindo, e o
pico vai se tornando cada vez mais baixo. À medida que ω vai se afastando de ω0 , o
termo 4ω 2 β 2 vai diminuindo a importância em comparação com (ω0 −ω)2 e as curvas
vão se aproximando uma da outra. No caso em que 2β 2 > ω02 , o pico desaparece. A
Figura 2.13 ilustra esses três casos. Amplitude D(ω) é exibida para f0 = 50 m/s2 ,
ω0 = 37 rad/s e três valores diferentes de β: β = 2 s−1 , β = 5 s−1 e β = 30 s−1 . No
último caso, 2β 2 > ω02 , de forma que não há ressonância.
Se Q for grande (β pequeno), somente oscilações com frequências muito próximas
a ω0 podem ser excitadas com amplitude considerável. Essa é uma condição desejável
em muitas situações fı́sicas, como por exemplo, um diapasão. Deseja-se que um
diapasão vibre com uma frequência definida para que ele emita um som puro (com
uma única frequência).
0.4
=2 s 1
0.3
=5 s 1
= 30 s 1
D (cm)
0.2
0.1
0.0
0 20 40 60 80
(rad/s)
Figura 2.13: Amplitude do oscilador harmônico forçado para f0 = 50 m/s2 , ω0 = 37
rad/s e três valores de β: β = 2 s−1 , β = 5 s−1 e β = 30 s−1 .
46
A energia cinética pode ser escrita como
1 mf02 ω2
T = mẋ2 = sen2 (ωt − δ) . (2.112)
2 2 [(ω02 − ω 2 )2 + 4ω 2 β 2 ]
A frequência de ressonância pode ser obtida derivando a amplitude de T (Tmax )
em relação a ω e igualando a zero. Fazendo isso, obtemos
dTmax mf02 ω(ω04 − ω 2 )
= , (2.113)
dω [(ω02 − ω 2 )2 + 4ω 2 β 2 ]2
que leva a
ωT = ω0 (2.114)
Uma vez que a energia potencial é proporcional ao quadrado da amplitude, ela
é máxima quando a amplitude é máxima. Portanto, a frequência de ressonância
da energia potencial é dada por
q
ωU = ωR = ω02 − 2β 2 (2.115)
47
que é a equação de uma elipse. Como a energia mecânica de um oscilador harmônico
simples é dada por
1 1
E = kA2 = mω02 A2 , (2.118)
2 2
a equação da elipse pode ser reescrita como
x2 ẋ2
+ =1. (2.119)
2E/k 2E/m
p p
O espaço de fase é uma elipse com semieixos 2E/k e 2E/m. Note que a energia
mecânica não muda ao longo de um caminho de fase porque é uma constante de
movimento. Para cada valor de E, temos um caminho de fase diferente. A Figura
2.14 mostra os caminhos de fase para um oscilador harmônico simples onde k = 160
N/m e m = 0, 1 kg para dois valores diferentes de energia. Como exercı́cio, calcule
os semieixos nos dois casos e confira com a figura.
E = 0.072 J
2.4 E = 0.288 J
1.2
x (cm/s)
0.0
1.2
2.4
6 3 0 3 6
x (cm)
2
x (m/s)
4
4 2 0 2 4
1x (m/s)
49
podemos escrever:
ω1 x = ρ cos(ω1 t − δ) = ρ cos(δ − ω1 t) (2.129)
ẋ = −ρ sen(ω1 t − δ) = ρ sen(δ − ω1 t) (2.130)
que é a equação de uma espiral logarı́tmica girando no sentido horário. A Figura 2.15
mostra o diagrama de fase de um oscilador harmônico subamortecido com A = 3.9
cm, ω1 = 26 rad/s, β = 3 s−1 e δ = 0.
Exercı́cio 2.12. Uma bola é atirada verticalmente para cima, a partir do solo, com
velocidade inicial v0 . Obtenha ẏ como função de y (ou y como função de ẏ) e desenhe
o diagrama de fase para o movimento da bola. Oriente o eixo y para cima, considere
y = 0 no solo e despreze a resistência do ar.
50
Capı́tulo 3
Gravitação
51
A força de atração sofrida por uma partı́cula pontual de massa m colocada nas
proximidades de um corpo extenso (não pontual) pode ser calculada através do
princı́pio da superposição. Imaginamos o corpo dividido em pequenos elementos
infinitesimais e escrevemos a força total sobre a partı́cula como sendo a soma (inte-
gral) das forças devidas aos elementos. Assim, a força sobre a massa m da Figura
3.2 é dada por
~r − r~0
Z
F~ = −Gm ρ(r~0 )dv 0 , (3.5)
|~r − r~0 |3
onde ρ(r0 ) é a densidade volumétrica de massa e dv 0 é o elemento de volume na
posição r~0 ; ~r − r~0 é o vetor que vai do elemento de volume até a massa pontual.
Exercı́cio 3.1. Um satélite descreve uma órbita circular ao redor da Terra a uma
altura h acima da sua superfı́cie. Admitindo que a força gravitacional é a responsável
pelo movimento circular, determine o perı́odo do movimento.
52
Figura 3.3: Ponto nas vizinhanças de uma massa pontual.
Note que O ~ contém derivadas em relação às coordenadas sem linha, de forma que:
(i) O não atua sobre ρ(r0 ); (ii) podemos trocar a ordem da aplicação de O
~ ~ com a
integração.
A expressão acima nos permite escrever o campo gravitacional como
~ Φ(~r) ,
~g (~r) = −O (3.10)
onde
ρ(r~0 )dv 0
Z
Φ(~r) = −G +C . (3.11)
|~r − r~0 |
Φ é chamado potencial gravitacional e C é uma constante aditiva que não altera o
valor do campo gravitacional.
Um caso interessante (e bastante comum) é o de uma distribuição localizada de
massa (a massa toda pode ser colocada dentro de uma esfera imaginária de raio
finito). Na integração, r0 nunca será infinito, e
Z
G ~0 0
lim Φ = lim − ρ(r )dv + C = C . (3.12)
r→∞ r→∞ r
σ(r~0 )da0
Z
Φ(~r) = −G , (3.13)
S |~r − r~0 |
53
onde σ é a densidade superficial de massa e a integral é feita sobre a superfı́cie onde
está a massa.
Se a massa estiver distribuı́da ao longo de uma linha,
λ(r~0 )dl0
Z
Φ(~r) = −G , (3.14)
r − r~0 |
C |~
onde λ é a densidade linear de massa e a integral é feita sobre a linha (o fio) onde
está a massa.
Fazendo r~0 = 0 na Eq. (3.8), temos
~r 1
~ ,
= −O (3.15)
r 3 r
de forma que o campo gravitacional de uma massa pontual M situada na origem
pode ser escrito como
1 GM
~ = −O
~g (~r) = GM O ~ − (3.16)
r r
Assim, o potencial gravitacional devido à massa pontual é dado por
GM
Φ(~r) = − (3.17)
r
Uma interpretação fı́sica do potencial gravitacional pode ser dada em termos do
trabalho realizado pela força gravitacional sobre uma massa de prova. Suponha que
uma massa de prova m seja deslocada do ponto A até o ponto B através de um
caminho qualquer em um campo gravitacional. Como ~g é um gradiente, O ~ × ~g = 0,
e ~g é um campo conservativo, de forma que a integral não depende do caminho.
de forma que
WAB
ΦB − ΦA = − . (3.19)
m
54
Uma vez que a diferença de energia potencial é definida como UB − UA = −WAB ,
UB − UA
ΦB − ΦA = . (3.20)
m
Se A for o ponto onde escolhemos fazer o potencial e a energia potencial iguais
a zero, e se a posição do ponto B for dada pelo vetor ~r, podemos escrever
U (~r)
Φ(~r) = (3.21)
m
O potencial gravitacional é a energia potencial gravitacional por unidade de massa.
55
de forma que
b π 2π
dφ0
Z Z Z
02 0 0 0
Φ = −Gρ r dr senθ dθ . (3.23)
a 0 0 |~r − r~0 |
Como o integrando não depende de φ0 , a integral em φ0 pode ser calculada de
imediato. Assim Z b Z π
02 0 senθ0 dθ0
Φ = −2πGρ r dr (3.24)
a 0 |~r − r~0 |
A integral em θ0 é dada por
Z π Z π
senθ0 dθ0 senθ0 dθ0
= √
0 |~r − r~0 | 0 r2 + r0 2 − 2rr0 cosθ0
1 h p
2 + r 0 2 − 2rr 0 cosθ 0
iπ
= r (3.25)
rr0 0
1 hp 0 )2 −
p
0 )2
i
= (r + r (r − r .
rr0
Com este resultado, a expressão para o potencial torna-se
2πGρ b hp
Z p i
Φ=− (r + r0 )2 − (r − r0 )2 r0 dr0 . (3.26)
r a
Para ir além da Eq. (3.26), precisamos especificar a região onde está o ponto
P . Se o ponto P estiver no exterior da camada, como na Figura 3.5, r > r0 , de
forma que p p
(r + r0 )2 − (r − r0 )2 = (r + r0 ) − (r − r0 ) = 2r0 , (3.29)
Assim Z b
4πGρ 2 4πGρ 3
Φ=− r0 dr0 = − (b − a3 ) . (3.30)
r a 3r
Como a massa total da camada é dada por
4πρ 3
M= (b − a3 ) , (3.31)
3
podemos escrever
GM
.Φ=− (3.32)
r
Para efeito do cálculo do potencial no exterior da camada esférica, ela se com-
porta como se toda sua massa estivesse concentrada em seu centro. Este resultado
pode ser estendido para uma esfera maciça fazendo a → 0.
56
Se o ponto P estiver na cavidade, como na Figura 3.6, r < r0 , de forma que
p p
(r + r0 )2 − (r − r0 )2 = (r + r0 ) − (r0 − r) = 2r . (3.33)
57
Figura 3.7: Camada esférica de massa: ponto de observação na camada.
É interessante observar que esta solução leva ao mesmo resultado que (3.32)
quando r = b e ao mesmo resultado que (3.35) quando r = a. Em outras palavras,
o potencial é contı́nuo.
~ Φ. Em coordenadas
Por definição, o campo gravitacional é dado por ~g = −O
esféricas, a única componente não nula de ~g é
dΦ
gr = − (3.39)
dr
Calculando as derivadas, obtemos:
gr = 0, r<a, (3.40)
a3
GM
gr = − 3 r − , a<r<b, (3.41)
(b − a3 ) r2
GM
gr = − 2 , r>b. (3.42)
r
A Figura 3.8 mostra um esboço do potencial e do campo gravitacional. Note
que, assim como Φ, gr também é contı́nuo em r = a e r = b.
Exercı́cio 3.4. Desprezando a resistência do ar, calcule a velocidade mı́nima que
uma partı́cula deve ter na superfı́cie da Terra para escapar do seu campo gravi-
tacional. Obtenha um valor numérico. Essa velocidade é chamada velocidade de
escape.
Exercı́cio 3.5. Mostre que a autoenergia gravitacional de uma esfera uniforme de
massa M e raio R é
3GM 2
U =− .
5R
Sugestão: considere que a esfera é formada acrescentando-se uma casca esférica de
cada vez, como uma cebola, e cada casca sente o potencial da esfera que já foi
formada.
Exercı́cio 3.6. Considere um hipotético planeta esférico, de raio R e massa M , co-
berto com uma densa nuvem esférica de poeira de espessura h e densidade constante
ρ. Determine a força sobre uma partı́cula de massa m colocada na nuvem de poeira,
a uma distância r do centro do planeta.
58
a b r
(r)
GM
b
3GM b 2 a2
2 b 3 a3
a b r
E(r)
GM
b2
0.05
Exercı́cio 3.7. Uma partı́cula é deixada cair dentro de um hipotético buraco reto
que atravessa toda a Terra, passando pelo seu centro. Desprezando efeitos rotacio-
nais e supondo que a Terra possui uma densidade uniforme, mostre que a partı́cula
executa um movimento harmônico simples e calcule o perı́odo das oscilações.
Exercı́cio 3.9. Calcule por integração, a partir da Eq. 3.5, a força gravitacional
sobre uma partı́cula de massa m situada no exterior de uma esfera homogênea de
massa M , a uma distância r do centro da esfera.
59
3.4 A lei de Gauss para ~g
A Lei da gravitação é semelhante, do ponto de vista matemático, à Lei de Coulomb
da eletrostática. Uma consequência disso é que existe uma Lei de Gauss para o
campo gravitacional, semelhante à Lei de Gauss para o campo elétrico. A Lei
de Gauss da gravitação relaciona o fluxo do campo gravitacional através de uma
superfı́cie fechada com a massa total existente no interior da superfı́cie.
O fluxo do campo gravitacional através de uma superfı́cie S é definido como
Z
Ψ = ~g · n̂ da , (3.43)
S
Visando chegar à Lei de Gauss, vamos calcular o fluxo de ~g través de três peque-
nas superfı́cies delimitadas por um estreito cone que contém uma massa pontual m
em seu vértice (Figura 3.9). A superfı́cie S2 é uma projeção da superfı́cie S3 no plano
perpendicular ao vetor ~g , que por sua vez é radial apontando para a massa. Como
as superfı́cies são pequenas, elas são aproximadamente planas, e não é necessário
calcular a integral. O fluxo através de S3 é dado por
60
Mas, independente do formato das superfı́cies, as suas dimensões (por exem-
plo, os diâmetros se as superfı́cies forem circulares) são proporcionais às respectivas
distâncias ao vértice do cone, ou seja,
dim2 dim1
= . (3.47)
r2 r1
Por sua vez, as áreas são proporcionais aos quadrados das dimensões, tal que
S2 S1
2
= 2 . (3.48)
r2 r1
A razão S/r2 (chamada ângulo sólido) é a mesma para todas as superfı́cies per-
pendiculares à direção radial, o que garante que
Ψ3 = Ψ2 = Ψ1 . (3.49)
61
Figura 3.11: Massa pontual no exterior de uma superfı́cie fechada.
Figura 3.12: Duas massas no interior e uma no exterior de uma superfı́cie fechada.
62
Lei de Gauss para o campo gravitacional. A superfı́cie é chamada superfı́cie
gaussiana.
Como exemplo de aplicação da Lei de Gauss, vamos usá-la para calcular nova-
mente o campo gravitacional da camada esférica de massa da Seção 3.3 na
região a < r < b.
Inicialmente, considere o fluxo de ~g através da superfı́cie (gaussiana) esférica de
raio r (a < r < b) da Figura 3.13. Como n̂ aponta na direção radial para fora, e ~g
é radial apontando para dentro,
I I I
◦
~g · n̂ da = g da cos180 = −g da = −g 4πr2 , (3.53)
S S S
Por sua vez, a massa contida no interior da superfı́cie pode ser calculada por
uma regra de três simples:
Mi → 4π (r3 − a3 )
3 r 3 − a3
⇒ Mi = M 3
b − a3
M → 4π (b3 − a3 )
3
3.5 Marés
Há muito tempo as marés oceânicas despertam interesse. Várias pessoas tentaram,
sem sucesso, explicar a origem das marés e o porque da existência de duas marés altas
63
e duas marés baixas por dia, até que Newton conseguiu apresentar uma explicação
convincente baseada nas atrações gravitacionais da Lua e do Sol sobre a água do
mar. A explicação não é tão simples porque o fenômeno é observado da superfı́cie
da Terra, que não é um referencial inercial. A Terra e a Lua se movem em torno
do Sol e a Terra gira ao redor do seu eixo. Em nossa análise vamos fazer duas
simplificações: vamos desprezar a rotação da Terra e a atração gravitacional do Sol
(cujo efeito será estimado em um exercı́cio). A geometria do problema é ilustrada na
Figura 3.14: r~0 é a posição de uma porção de água do mar, de massa m, em relação
a um referencial inercial; ~r é a posição dessa porção de água em relação ao centro
da Terra e R ~ a sua posição em relação à Lua; Q
~ é a posição do centro da Terra em
~ a posição do centro da Terra em relação à Lua;
relação ao referencial inercial, e D
MT é a massa da Terra e ML a massa da Lua.
Figura 3.14: Sistema de coordenadas inercial para expressar a força das marés.
64
A aceleração da Terra, devida à força gravitacional exercida pela Lua, no refe-
rencial inercial é dada por
~
d2 Q GML MT
MT 2
=− D̂ . (3.59)
dt D2
Simplificando a massa da Terra, temos
~
d2 Q GML
= − D̂ . (3.60)
dt2 D2
de forma que !
2
d ~r GMT R̂ D̂
2
= − 2 r̂ − GML 2
− 2 . (3.61)
dt r R D
Se a Lua não fosse levada em conta, somente o primeiro termo apareceria. O
segundo termo é devido à força gravitacional exercida pela Lua e o responsável
pelas marés. Multiplicado por m, ele dá a força efetiva sobre a massa, vista por um
observador na Terra. Essa força é chamada força das marés e dada por
!
R̂ D̂
F~mar = −GmML − . (3.62)
R2 D 2
Usando a aproximação
3
(1 + )−3/2 ' 1 − (3.67)
2
com
2r
= cosθ , (3.68)
D
65
Figura 3.15: Sistema de coordenadas simplificado para expressar a força das marés.
podemos escrever
R̂ 1 h r r i 3r
' 2 1 + cosθ ı̂ + senθ ̂ 1 − cosθ . (3.69)
R2 D D D D
Considerando os termos até primeira ordem em r/D, obtemos
R̂ 1 2r r
' 2 1 − cosθ ı̂ + senθ ̂ . (3.70)
R2 D D D
Dentro dessa aproximação, escrevemos a força das marés como
GmML r
F~mar ' [2cosθ ı̂ − senθ ̂] . (3.71)
D3
A seguir apresentamos os vetores F~mar calculados para 8 ângulos e desenhamos
esses vetores na Figura 3.16.
2GmML r
a. θ = 0 : F~mar = ı̂ ;
D3
√ !
π GmM L r √ 2
b. θ = F~mar = 3
2 ı̂ − ̂ ;
4 D 2
π GmML r
c. θ = : F~mar = − ̂ ;
2 D3
√ !
3π GmM L r √ 2
d. θ = : F~mar = − 2 ı̂ + ̂ ;
4 D3 2
2GmML r
e. θ = π : F~mar = − ı̂ ;
D3
√ !
5π GmM L r √ 2
f. θ = : F~mar = − 2 ı̂ + ̂ ;
4 D3 2
3π GmML r
g. θ = : F~mar = ̂ ;
2 D3
√ !
7π GmM L r √ 2
h. θ = : F~mar = 2 ı̂ + ̂ .
4 D3 2
66
Figura 3.16: Diagrama indicando a direção da força da marés em vários pontos da
superfı́cie da Terra.
Da figura, é fácil entender o efeito das marés. Por exemplo, nos pontos a e e as
forças são radiais e para fora: marés altas. Nos pontos c e g as forças são radiais e
para o centro da Terra: marés baixas. Como a Terra executa uma rotação completa
a cada 24 h, temos aproximadamente duas marés altas e duas marés baixas por dia.
O efeito da força gravitacional do Sol pode ser tratado da mesma maneira. Ele é
menor do que o efeito da força da Lua, mas não é desprezı́vel. Outro fato que deve
ser levado em conta é a revolução orbital da Lua em torno da Terra. Os Exercı́cios
a seguir abordam esses assuntos.
Exercı́cio 3.10. Mostre que a razão entre as magnitudes das forças das marés
produzidas pelo Sol e pela Lua é dada por
3
FSol MSol DLua
= ,
FLua MLua DSol
Exercı́cio 3.11. A revolução orbital da Lua ao redor da Terra leva 27,3 dias e segue
o mesmo sentido da rotação da Terra. Utilize essa informação para mostrar que as
marés altas ocorrem a cada 12 h e 26 min.
67
Capı́tulo 4
Não havendo força externa atuando sobre o sistema, o centro de massa move-se
com velocidade constante. Assim, a posição do centro de massa é um referencial
68
inercial, e portanto, é conveniente colocar a origem do sistema de coordenadas no
centro de massa. Por definição, a posição do centro de massa é dada por
~ = m1~r1 + m2~r2 .
R (4.2)
m1 + m2
~ = 0 é equivalente a fazer
Fazer R
obtemos
m2 m1
~r1 = ~r ~r2 = − ~r . (4.5)
m1 + m2 m1 + m2
Substituindo esse resultado na expressão da energia mecânica, temos
1 d~r
E = µ | |2 + U (r) , (4.6)
2 dt
onde µ é a massa reduzida do sistema, definida como
m1 m2
µ= . (4.7)
m1 + m2
Por sua vez, o momento angular do sistema pode ser escrito como
~l = µ ~r × d~r . (4.9)
dt
69
posição da partı́cula, e como U só depende de r, é conveniente usar o sistema de
coordenadas polares.
A energia mecânica pode ser escrita em coordenadas polares como (ver Apêndice)
1
E = µ(ṙ2 + r2 θ̇2 ) + U (r) . (4.12)
2
Nesse sistema de coordenadas, o módulo do momento angular em relação à ori-
gem pode ser escrito como
l = µr2 θ̇ = cte , (4.13)
onde µr2 é o momento de inércia da partı́cula de massa µ.
O fato do momento angular se conservar nos leva a um resultado interessante
que mostraremos a seguir. A Figura (4.2) mostra a trajetória da partı́cula e a área
varrida pelo vetor ~r em um intervalo de tempo dt, dada por
1
dA = r2 dθ . (4.14)
2
Dividindo por dt, obtemos
dA 1 dθ 1 l
= r2 = r2 θ̇ = . (4.15)
dt 2 dt 2 2µ
70
4.3 Equações de movimento
A Eq.(4.16) pode ser escrita como
s
dr 2 l2
ṙ = =± (E − U ) − 2 2 , (4.17)
dt µ µr
dr dr dθ dr
ṙ = = = θ̇ . (4.19)
dt dθ dt dθ
Da Eq. (4.13), temos
l dr
ṙ = . (4.20)
µr2 dθ
Usando esse resultado, a Eq. (4.17) pode ser reescrita como
s
l dr 2 l2
= ± (E − U ) − , (4.21)
µr2 dθ µ µ2 r 2
ou Z
l dr
θ(r) = ± ·r . (4.22)
r2
l2
2µ E − U − 2µr2
Essa equação fornece a solução formal, mas o cálculo da integral só é possı́vel para
algumas leis de força especiais. Em particular, se a força for proporcional a alguma
potência de r (F ∝ rn ) existem soluções simples somente para n = 1, –2 e –3. O
caso n = 1 corresponde ao oscilador harmônico (discutido no Capı́tulo 2) e o caso
n = –2 corresponde à lei do inverso do quadrado da distância (incluindo a Lei da
Gravitação e a Lei de Coulomb) que vamos discutir nas próximas seções.
Outra forma de se obter a equação da trajetória, r(θ), é aplicando diretamente
a Segunda Lei de Newton. Usado o resultado do Apêndice para a aceleração em
coordenadas polares e o fato da força só ter componente radial, podemos escrever
71
Os cálculos ficam mais simples se usarmos a variável u, definida através da relação
1
r= . (4.25)
u
Com isso, podemos escrever
dr dr du 1 du
= =− 2 , (4.26)
dθ du dθ u dθ
de forma que
lu2 d lu2 l 2 u 2 d2 u
1 du
r̈ = − 2 =− 2 . (4.27)
µ dθ µ u dθ µ dθ2
Por outro lado, de (4.13), podemos escrever
l2 l2 3
rθ̇2 = = u . (4.28)
µ2 r 3 µ2
Substituindo as duas últimas equações em (4.23), temos
d2 u
µ 1
+ u = − F . (4.29)
dθ2 l2 u2 u
Em termos de r,
d2 µr2
1 1
+ = − 2 F (r) . (4.30)
dθ2 r r l
d e−αθ −αe−αθ
d 1
= = , (4.31)
dθ r dθ k k
d2 1 α2 e−αθ α2
= = . (4.32)
dθ2 r k r
Supondo que a partı́cula esteja sujeita a uma força central, podemos substituir esse
resultado em (4.30) para obter
l2
2
l2 (α2 + 1)
α 1
F (r) = − 2 + =− . (4.33)
µr r r µr3
Portanto, a força é atrativa e inversamente proporcional ao cubo da distância.
A partir de r(θ) também podemos obter r(t) e θ(t). Em especial, θ(t) pode
ser obtida diretamente da Eq. (4.13), escrita na forma θ̇ = l/µr2 . Substituindo a
equação da trajetória, temos
dθ l
= , (4.34)
dt µk e2αθ
2
72
ou
l
e2αθ dθ = dt . (4.35)
µk 2
Integrando de ambos os lados, obtemos
e2αθ l
= t + C1 . (4.36)
2α µk 2
Multiplicando por 2α e fazendo C = 2αC1 , podemos escrever
2αl
e2αθ = t+C . (4.37)
µk 2
Isolando θ, chegamos à forma final
1 2αl
θ(t) = ln t+C . (4.38)
2α µk 2
C pode ser determinado se θ for conhecido para algum valor de t, por exemplo, para
t = 0.
Da equação da trajetória,
√
r = keαθ = k e2αθ . (4.39)
73
de forma que
1 2 α2 l 2
µṙ = . (4.45)
2 2µr2
Finalmente, de (4.16), temos
α2 l 2 l2 l2 (α2 + 1)
E= + − =0. (4.46)
2µr2 2µr2 2µr2
Exercı́cio 4.1. A órbita de uma partı́cula de massa µ e momento angular l, sujeita
a uma força central, é dada por
a
r=
θ+β
onde a e β são constantes; a é positivo e β pode ter qualquer sinal. Adotando a
convenção θ = 0 para t = 0, obtenha expressões para θ(t) e r(t).
Exercı́cio 4.2. Obtenha a lei de força central que leva uma partı́cula a mover-se
em uma circunferência de raio a, passando pelo centro de força.
Exercı́cio 4.3. Considere uma partı́cula movendo-se em um campo central com
força atrativa dada por F (r) = –k/r3 . Resolva a Eq. (4.29) e obtenha as equações
das trajetórias para os casos: (a) l2 = µk; (b) l2 > µk; (c) l2 < µk.
l2
E−U − , (4.47)
2µr2
que obviamente tem dimensão de energia. Se interpretamos o último termo como
uma energia potencial,
l2
Uc = , (4.48)
2µr2
a força associada a ele seria dada por
dUc l2
Fc = − = 3 . (4.49)
dr µr
Substituindo l da Eq. (4.13), temos
Fc = µrθ̇2 . (4.50)
Essa quantidade é chamada força centrı́fuga, embora não seja propriamente uma
força. Por sua vez, Uc é chamado potencial centrı́fugo. Energia potencial centrı́fuga
seria um nome melhor, embora também não seja de fato uma energia potencial, e
sim a parte da energia cinética que é associada ao momento angular. Apesar disso,
é conveniente definir o potencial efetivo
l2
V (r) = U (r) + Uc (r) = U (r) + , (4.51)
2µr2
74
que nos permite ver o problema como se fosse unidimensional. Note que apenas a
coordenada r se faz presente. Em termos do potencial efetivo, a energia mecânica
(4.16) pode ser reescrita como
1
E = µṙ2 + V (r) . (4.52)
2
No restante desta seção vamos focar no caso da lei de força de inverso do
quadrado da distância,
k
F (r) = − 2 . (4.53)
r
Essa lei é de especial interesse porque inclui as forças gravitacional e eletrostática.
A energia potencial associada é
Z
k
U (r) = − F (r)dr = − , (4.54)
r
de forma que o potencial efetivo é dado por
k l2
V (r) = − + . (4.55)
r 2µr2
A Figura 4.3 mostra o potencial efetivo V (r) e suas partes U (r) e Uc (r) para a
lei de força de inverso do quadrado da distância. Como 12 µṙ2 é sempre positivo, a
partı́cula só pode estar nas regiões onde E ≥ V (r).
Figura 4.3: Potenciais U (r), Uc (r) e V (r) para a lei de força de inverso do quadrado
da distância.
75
Se E ≥ 0, como E1 no gráfico, o movimento da partı́cula é ilimitado. Ela vem do
infinito, é refletida no ponto r1 e volta de novo para o infinito. Conforme veremos
na próxima seção, a trajetória é uma parábola (E = 0) ou uma hipérbole (E > 0).
Se E for maior que o valor mı́nimo do potencial efetivo e menor que zero, como
E2 no gráfico, o movimento da partı́cula é limitado à região r2 ≤ r ≤ r4 . Nesse caso,
veremos que a trajetória é uma elipse.
Se E for igual ao valor mı́nimo do potencial efetivo (E3 no gráfico), o movimento
da partı́cula é restrito a um único valor da coordenada radial (r3 ). Portanto, o
movimento é circular. A partı́cula não pode ter energia menor que esse valor.
Exercı́cio 4.4. Mostre que a posição de mı́nimo do potencial efetivo na Figura 4.3
é r3 = l2 /µk e que o valor mı́nimo desse potencial é E3 = −µk 2 /2l2 .
onde consideramos somente o sinal positivo antes da integral. Mais à frente vai ficar
claro que considerar o sinal negativo levaria à mesma solução.
Essa integral pode ser reescrita em uma forma tabelada com a substituição
1 du
r= ⇒ dr = − (4.57)
u u2
Com essa mudança, obtemos
Z
du
θ=− q . (4.58)
2µk 2µE
−u2 + l2
u + l2
76
Definindo s
l2 2El2
α= e ε= 1+ , (4.62)
µk µk 2
temos
1 − αr
sen(θ − C) = . (4.63)
ε
Neste momento é conveniente fazer C = π/2, tal que sen(θ–C) = – cosθ, e
α
= 1 + ε cosθ . (4.64)
r
Note que o valor mı́nimo de r ocorre para θ = 0 (cosθ máximo), de maneira que
escolher C = π/2 significa medir o ângulo a partir da posição onde r assume o seu
valor mı́nimo (a posição onde a partı́cula passa mais perto do centro de força). Note
também que escolher o sinal – na Eq. (4.22) seria equivalente a trocar θ por −θ, o
que levaria à mesma solução.
As curvas definidas por (4.64) são seções cônicas com foco na origem: circun-
ferência, elipse, parábola ou hipérbole, dependendo do valor da quantidade ε, cha-
mada excentricidade.
Se ε = 0 (E = –µk 2 /2l2 ), temos r = α para qualquer valor de θ, e portanto a
curva é uma circunferência de raio α com centro na origem. Veja que este valor de
E é igual ao valor mı́nimo do potencial efetivo (E3 na Figura 4.3).
Se ε = 1 (E = 0, como E1 na Figura 4.3), podemos escrever
α = r + r cosθ . (4.65)
Em coordenadas cartesianas
p
α−x= x2 + y 2 . (4.66)
α y2
x= − , (4.67)
2 2α
que é a equação de uma parábola com vértice em x = α/2, foco na origem e reta
diretriz em x = α, mostrada na Figura 4.4. Da Eq. (4.66), vemos que qualquer
ponto da parábola é equidistante da origem e da diretriz.
Se ε 6= 0 e ε 6= 1, podemos escrever
α = r + εr cosθ . (4.68)
ou p
α − εx = x2 + y 2 . (4.69)
Elevando ao quadrado e simplificando, obtemos
αε 2
(x − ε2 −1
) y2
α2
− α2
=1. (4.70)
(ε2 −1)2 ε2 −1
77
Figura 4.4: Parábola descrevendo a trajetória da partı́cula para ε = 1.
Se ε > 1 (E > 0, como E1 na Figura 4.3), temos ε2 –1 > 0, de forma que podemos
escrever
(x − εc)2 y 2
− 2 =1, (4.71)
c2 d
onde
α α
c= 2 e d= √ . (4.72)
ε −1 ε2 − 1
Essa é a equação de uma hipérbole com centro em x = εc e focos em x = 0 e
x = 2εc (Figura 4.5). Se o centro de força estiver em x = 0, o ramo esquerdo da
hipérbole descreve a trajetória para uma força atrativa e o ramo direito para uma
força repulsiva.
Se 0 < ε < 1 (–µk 2 /2l2 < E < 0, como E2 na Figura 4.3), ε2 –1 < 0, de forma
que podemos escrever
(x + εa)2 y 2
+ 2 =1, (4.73)
a2 b
onde
α α
a= 2
e b= √ , (4.74)
1−ε 1 − ε2
que é a equação de uma elipse com eixo maior a, eixo menor b, centro em x = –εa
e foco na origem (Figura 4.6). Esse é um caso muito interessante porque as órbitas
dos movimentos planetários são elipses.
Note que
a 1
=√ , (4.75)
b 1 − ε2
Assim quanto maior for ε, maior a razão a/b, de forma que a elipse é mais alongada.
Os valores máximo e mı́nimo de r são dados por (veja Figura 4.6 e Eq. 4.64):
α α
rmin = a(1 − ε) = e rmax = a(1 + ε) = . (4.76)
1+ε 1−ε
78
Figura 4.5: Hipérbole descrevendo a trajetória da partı́cula para ε > 1.
79
perigeu e apogeu e quando se trata de movimento em torno do Sol, periélio e
afélio.
Das Eqs. (4.62) e (4.74), podemos obter os eixos maior e menor da elipse em
termos da energia e do momento angular. Assim (lembre-se que E < 0),
k l
a=− b= √ (4.77)
2E −2µE
Note que o perı́odo depende somente da energia (não depende do momento angular).
Da Eq. (4.74), podemos escrever
√
b = αa , (4.81)
80
A Primeira e a Segunda Leis dizem respeito a um planeta de cada vez, e foram
publicadas em 1609. A Terceira só faz sentido quando comparamos perı́odos e
órbitas de planetas diferentes, e foi publicada em 1619.
É importante chamar atenção para o fato que a Terceira Lei não é matemati-
camente exata, uma vez que µ e k dependem da massa do planeta. Contudo, se
considerarmos que msol >> mpla , podemos escrever
msol mpla
µ= ' mpla . (4.84)
msol + mpla
Exercı́cio 4.5. Suponha que o Sol permaneça em repouso enquanto a Terra gira
em torno dele em órbita circular (boas aproximações). Obtenha expressões para a
energia potencial, energia cinética, energia mecânica e momento angular em termos
da massa da Terra, da massa do Sol e do raio da órbita. A partir desses resultados,
mostre que ε = 0.
Exercı́cio 4.6. Considere uma partı́cula repelida por uma força central dada por
F (r) = kr, sendo k positivo. (a) Obtenha uma expresão para a energia potencial
U (r), substitua na Eq. (4.22), integre e mostre que a equação da trajetória em
coordenadas polares é
β
= 1 + η cos2θ
r2
onde s
l2 kl2
β= η = 1+
µE µE 2
(b) Escreva a equação da trajetória em coordenadas cartesianas e mostre que as
órbitas são hipérboles.
Sugestão: você pode precisar da integral (que vale para c < 0)
Z
dx 1 −1 bx + 2c
√ =√ sen √ (4.87)
x ax2 + bx + c −c |x| b2 − 4ac
81
Exercı́cio 4.8. Newton conhecia as Leis de Kepler e usou isso para chegar à Lei
da Gravitação. A Segunda Lei de Kepler e a Eq. (4.15) nos permitem concluir que
o momento angular é constante, e portanto, a força é central. Por outro lado, a
Primeira Lei de Kepler afirma que as trajetórias são elipes. Partindo do fato que
a força gravitacional é central e que as trajetórias são elipes, mostre que a força é
atrativa e inversamente proporcional ao quadrado da distância.
Exercı́cio 4.11. O planeta Marte descreve uma órbita elı́ptica em relação ao Sol,
com o Sol em um dos focos da elipse. As distâncias do planeta ao Sol no periélio
e no afélio são 2, 07 × 1011 m e 2, 49 × 1011 m. Determine: (a) as velocidades no
periélio e no afélio; (b) a excentricidade. Use o valor 1, 99 × 1030 kg para a massa
do Sol.
d~v d2 x d2 y
~a = = 2 ı̂ + 2 ̂ ≡ ax ı̂ + ay ̂ . (4.89)
dt dt dt
Note que não derivamos os vetores unitários ı̂ e ̂ porque eles são fixos.
Em coordenadas polares, a posição da partı́cula é dada por ~r = rr̂. Para cal-
cular a velocidade e a aceleração nesse sistema de coordenadas, devemos levar em
consideração que os vetores unitários r̂ e θ̂ não são fixos, mas mudam de direção
à medida que ~r muda. Antes de calcular derivadas de outros vetores, precisamos
calcular as derivadas desses vetores unitários.
82
Figura 4.7: Relações entre os vetores unitários nos sistemas de coordenadas cartesi-
ano e polar.
dθ̂
= −θ̇ cosθ ı̂ − θ̇ senθ ̂ = −θ̇r̂ (4.93)
dt
Os vetores posição, velocidade e aceleração são dados por:
~r = rr̂ ; (4.94)
d~r dr dr̂
~v = = r̂ + r = ṙr̂ + rθ̇θ̂ ; (4.95)
dt dt dt
83
Capı́tulo 5
Sistemas de partı́culas
Figura 5.1: Forças entre duas partı́culas que obedecem a Terceira Lei de Newton.
84
onde mi e ~ri indicam a massa e a posição da partı́cula i e
X
M= mi (5.2)
i
z = r cosθ , (5.6)
e
dm = ρdv = ρ r2 senθ drdθdφ . (5.7)
Portanto,
a π/2 2π
2πρa3
Z Z Z
2
M =ρ r dr senθdθ dφ = (5.8)
0 0 0 3
85
e
a π/2 2π
πρa4
Z Z Z
ρ 3
Z= r dr senθ cosθdθ dφ = . (5.9)
M 0 0 0 4M
Substituindo a penúltima equação na última, obtemos
3
Z= a. (5.10)
8
Exercı́cio 5.1. Em uma molécula de água, a distância HO é igual a 0,96 Å e o
ângulo HOH é 104◦ . Determine a posição do centro de massa da molécula.
Exercı́cio 5.2. Determine a posição do centro de massa de um cone sólido de raio
da base a e altura h.
Exercı́cio 5.3. Determine a posição do centro de massa de um copo fino, de formato
cilı́ndrico, com raio a e altura h. Suponha que o fundo do copo tenha a mesma
espessura que sua lateral.
onde f~ie indica a força de origem externa atuando sobre a partı́cula i e f~ij indica a
força sobre a partı́cula i exercida pela partı́cula j. O somatório dá a força total de
origem interna sobre a partı́cula i (é a soma das forças exercidas por todas as outras
partı́culas sobre ela). A restrição j 6= i é necessária porque a partı́cula i não exerce
força sobre ela mesma.
A Segunda Lei de Newton para a partı́cula i é dada por
d2~ri ~ie +
X
mi = f f~ij . (5.12)
dt2 j6=i
d2 X X
~
XX
m ~
r
i i = f ie + f~ij . (5.13)
dt2 i i i j6=i
d2 X ~
d2 R
m i ~
r i = M . (5.15)
dt2 i dt2
86
Por sua vez, o segundo termo no lado direito de (5.13) pode ser escrito como
XX 1 XX ~
f~ij = (fij + f~ji ) . (5.16)
i j6=i
2 i j6=i
Note que, como as somas sobre i e j incluem as mesmas partı́culas, os dois termos
do lado direito são iguais; o que fizemos foi somente repetir o termo e dividir por
dois.
Se a Terceira Lei de Newton for válida, pelo menos em sua forma fraca, f~ij =
−f~ji , e portanto, XX
f~ij = 0 . (5.17)
i j6=i
As forças internas se cancelam e a força total que atua sobre o sistema é toda de
origem externa. Chamando a força externa total de
X
F~e = f~ie , (5.18)
i
O centro de massa do sistema move-se como se fosse uma partı́cula de massa igual
à massa total do sistema sob ação da força externa total.
O momento linear do sistema é definido como sendo a soma dos momentos line-
ares das partı́culas:
X X X d~ri
P~ = p~i = mi~vi = mi . (5.21)
i i i
dt
d X d ~
P~ = ~ = M dR ,
mi~ri = (M R) (5.22)
dt i dt dt
ou
P~ = M V~ . (5.23)
dP~ ~
d2 R
=M 2 . (5.24)
dt dt
87
Como o lado direito é igual à força externa total, podemos reescrever a Segunda Lei
de Newton para o sistema como
dP~
F~e = . (5.25)
dt
Quando F~e = 0, dP~ /dt = 0 e P~ = cte.
Se a força externa total atuando sobre um sistema de partı́culas for nula, o momento
linear do sistema é conservado.
Como fizemos no Capı́tulo 1, é fácil mostrar que se a componente da força externa
total ao longo de uma direção definida pelo vetor unitário û for nula (F~e · û = 0),
a componente do momento linear do sistema ao longo dessa direção é conservada
(P~ · û = cte).
O último termo é o torque total de origem interna e pode ser escrito como
XX
~ 1 XX ~ ~
~ri × fij = ~ri × fij + ~rj × fji . (5.31)
i j6=i
2 i j6=i
Admitindo que a Terceira Lei de Newton seja válida em sua forma fraca (f~ji = −f~ij ),
temos XX 1 XX
~ri × f~ij = (~ri − ~rj ) × f~ij . (5.32)
i j6=i
2 i j6=i
88
Se a Terceira Lei de Newton for válida também em sua forma forte, ~ri −~rj é paralelo
a f~ij , de forma que o torque total de origem interna é nulo, e portanto
~
dL X X
= ~ri × f~ie = ~nie , (5.33)
dt i i
ou
~
~ e = dL ,
N (5.34)
dt
~ e = P ~nie é o torque
onde ~nie é o torque de origem externa sobre a partı́cula i e N i
externo total sobre o sistema.
Se as forças internas obedecem a Terceira Lei de Newton na forma forte, o torque
interno total é nulo e o torque externo total é igual à derivada temporal do momento
angular do sistema.
~
Quando o torque externo total for nulo, dL/dt ~ = cte.
=0eL
Se o torque externo resultante atuando sobre um sistema de partı́culas for nulo, o
momento angular do sistema é conservado.
De forma análoga ao que fizemos no Capı́tulo 1, é fácil mostrar que se a compo-
nente de N ~ e na direção do vetor unitário û for nula (N
~ e · û = 0), a componente do
momento angular ao longo dessa direção é conservada (L ~ · û = cte).
A Figura 5.3 mostra um sistema de partı́culas. O vetor posição do centro de
massa em relação à origem de um dado referencial é R. ~ A posição da partı́cula i em
relação a essa origem é ~ri e em relação ao centro de massa do sistema é r~i0 .
Da figura, é fácil ver que
~ri = R~ + r~0 . (5.35)
i
89
Figura 5.3: Vetores indicando as posições de uma partı́cula em relação a um dado
referencial e em relação ao centro de massa.
90
5.5 Energia do sistema
O trabalho total realizado sobre um sistema que se move de uma configuração inicial
1 para uma configuração final 2 é a soma dos trabalhos realizados sobre as partı́culas
do sistema:
XZ 2
W12 = f~i · d~ri , (5.43)
i 1
Agora vamos supor que a força externa sobre cada partı́cula possa ser associada
a uma energia potencial que depende somente das coordenadas da partı́cula (não
depende do tempo):
f~ie = −∇
~ i uie , (5.47)
onde
uie = uie (xi , yi , zi ) . (5.48)
~ i quer dizer que as derivadas são em relação às coordenadas da partı́cula i.
∇
Vamos supor também que as forças internas que as partı́culas i e j exercem, uma
sobre a outra, possam ser associadas a uma energia potencial que depende somente
das coordenadas dessas duas partı́culas:
f~ij = −∇
~ i uij e f~ji = −∇
~ j uij , (5.49)
91
onde
uij = uij (xi , yi , zi , xj , yj , zj ) . (5.50)
As diferenciais dessas energias potenciais são dadas por
∂uie ∂uie ∂uie ~ i uie · d~ri = −f~ie · d~ri .
duie = dxi + dyi + dzi = ∇ (5.51)
∂xi ∂yi ∂zi
Com esses resultados, podemos reescrever o primeiro termo da Eq. (5.46) como
XZ 2 XZ 2 X X
~
fie · d~ri = − duie = uie,1 − uie,2 . (5.53)
i 1 i 1 i i
1 XX 2
Z
= − duij
2 i j6=i 1
1 XX 1 XX
= uij,1 − uij,2
2 i j6=i 2 i j6=i
podemos escrever
W12 = U1 − U2 . (5.55)
Combinando com a Eq. (5.45), temos
T2 − T1 = U1 − U2 , (5.56)
ou
T1 + U1 = T2 + U2 , (5.57)
ou ainda
E1 = E2 . (5.58)
A energia mecânica de um sistema onde todas as forças são deriváveis de ener-
gias potenciais independentes do tempo (sistema conservativo) é uma constante de
movimento.
92
Antes de encerrar a seção, vamos mostrar uma relação entre as energias cinéticas
nos dois referenciais da Figura 5.3. Da Eq. (5.36), temos
vi2 = (V~ + v~i0 ) · (V~ + v~i0 ) = vi02 + V 2 + 2V~ · v~i0 . (5.59)
A energia cinética do sistema é dada por
X1 X1 1X X
T = mi vi2 = mi vi02 + mi V 2 + V~ · mi v~i0 . (5.60)
i
2 i
2 2 i i
Exercı́cio 5.7. Uma rampa que faz um ângulo de 30◦ com a horizontal possui uma
mola de constante elástica igual a 150 N/m fixada na sua base, como mostra a figura
acima à direita. Um pequeno bloco de massa 140 g está inicialmente em repouso no
topo da rampa, quando é liberado. O boloco percorre uma distância de 37 cm sobre
a rampa até tocar a mola. Determine a compressão máxima da mola considerando
que: (a) não há atrito entre o boloco e a rampa; (b) o coeficiente de atrito cinético
entre o bloco e a rampa é 0,2.
93
Exercı́cio 5.8. Um bloco grande, de massa M , possui a forma de cunha com uma
rampa reta fazendo um ângulo φ com a horizontal. O bloco grande está apoiado
sobre uma mesa horizontal quando um bloco pequeno, de massa m, é liberado na
rampa a uma altura h acima da sua extremidade inferior, como mostra a figura
abaixo. Não há atrito entre o bloco pequeno e a rampa, nem entre o bloco grande e
a mesa. Mostre que, no instante em que o bloco pequeno é projetado para fora da
extremidade inferior, os módulos das velocidades dos blocos grande e pequeno são,
respectivamente:
s s
2m2 gh cos2 φ m(m + 2M ) sen2 φ + M 2
V = v = 2gh
(M + m)(M + m sen2 φ) (M + m)(M + m sen2 φ)
94
sentidos contrários. (a) Mostre que enquanto houver uma força de atrito de módulo
f entre as rodas haverá um torque em cada uma delas dado por N ~ = −f Rk̂. Esse
torque é igual nas duas rodas e independe da escolha da origem. Não se esqueça das
forças exercidas pelos eixos sobre as rodas. (b) Obtenha a relação entre ω e ω0 . (c)
Calcule as energias cinéticas inicial e final em termos de I e ω0 e obtenha a relação
entre elas.
5.6 Colisões
Uma colisão é uma interação com duração limitada entre duas ou mais partı́culas, de
tal maneira que é possı́vel distinguir antes e depois da colisão. Um exemplo é uma
colisão entre duas bolas de sinuca, onde a interação se dá através do contato entre as
bolas. A interação ocorre em um intervalo de tempo pequeno e é possı́vel distinguir,
de forma inequı́voca, o que é antes e o que é depois da colisão. Um segundo exemplo
é o espalhamento de partı́culas alfa por núcleos atômicos pesados. Nesse caso a
interação se dá através da repulsão eletrostática, que é de longo alcance, e não é
possı́vel dizer com clareza quanto tempo dura a colisão. No entanto, a distância de
máxima aproximação varia tipicamente de 10–14 a 10–10 m, de forma que podemos
dizer que a interação é desprezı́vel quando a distância entre as partı́culas é da ordem
de alguns centı́metros. Se em um experimento, uma placa contendo os núcleos alvos
for colocada entre uma fonte de partı́culas alfa e um detector, a alguns centı́metros
de distância desses, podemos dizer que quando as partı́culas estão se aproximando
da placa é antes da colisão e quando elas estão indo da placa para o detector é depois
da colisão.
Vamos adotar duas simplificações para o restante desta seção. Primeiro, vamos
supor que as partı́culas são as mesmas antes e depois da colisão, o que exclui reações
envolvendo criação e aniquilação de partı́culas. Segundo, vamos supor que a colisão
envolve somente duas partı́culas, uma de massa m1 e velocidade inicial ~u1 e outra
de massa m2 e velocidade inicial ~u2 . As velocidades das partı́culas após a colisão
são denotadas como ~v1 e ~v2 .
Geralmente as forças externas em uma colisão são nulas ou desprezı́veis em com-
paração com as forças internas, de forma que o momento linear do sistema é con-
servado. Para duas partı́culas, podemos escrever
95
Q > 0: colisão inelástica exoérgica (a energia cinética aumenta na colisão);
Q < 0: colisão inelástica endoérgica (a energia cinética diminui na colisão).
Uma medida da inelasticidade de dois corpos é dada pelo coeficiente de resti-
tuição, definido para uma colisão frontal como a razão entre a velocidade de afasta-
mento depois da colisão e a velocidade de aproximação antes da colisão:
|v2 − v1 |
ε= (5.65)
|u1 − u2 |
m1 u1 + m2 u2 = m1 v1 + m2 v2 . (5.66)
ou
m2
u1 − v1 = (v2 − u2 ) . (5.67)
m1
Da conservação da energia cinética
1 1 1 1
m1 u21 + m2 u22 = m1 v12 + m2 v22 , (5.68)
2 2 2 2
ou
m2 2
u21 − v12 = (v − u22 ) . (5.69)
m1 2
Dividindo (5.69) por (5.67), obtemos
u1 + v1 = v2 + u2 , (5.70)
ou
u1 − u2 = v2 − v1 , (5.71)
de onde concluı́mos que ε = 1.
Das Eqs. (5.70) e (5.67), é fácil mostrar que:
m1 − m2 2m2
v1 = u1 + u2 , (5.72)
m1 + m2 m1 + m2
2m1 m2 − m1
v2 = u1 + u2 . (5.73)
m1 + m2 m1 + m2
Na discussão que faremos a seguir, vamos supor que a colisão é elástica e que
uma das partı́culas está inicialmente em repouso. A partı́cula de massa m1 (chamada
partı́cula projétil) possui velocidade inicial ~u1 e a partı́cula de massa m2 (chamada
partı́cula alvo) está inicialmente parada. A geometria da colisão é mostrada na
Figura 5.4.
A conservação do momento linear do sistema pode ser escrita como
96
que nos leva á conclusão que os vetores ~u1 , ~v1 e ~v2 estão no mesmo plano. Assim
podemos desmembrar a equação vetorial acima em duas equações escalares. De
acordo com a Figura 5.4,
Figura 5.4: Partı́cula de massa m1 e velocidade inicial ~u1 colidindo com uma
partı́cula de massa m2 inicialmente em repouso.
97
Figura 5.5: Colisão entre duas partı́culas vista do referencial do centro de massa.
98
Figura 5.6: Ilustração da relação ~v1 = V~ + v~10 .
de forma que ψ = θ/2. Uma vez que 0 < θ < π, 0 < ψ < π/2.
Se m1 > m2 , o denominador da Eq. (5.89) não pode ser negativo, e portanto,
ψ não pode ser maior que π/2. Na verdade, ψ tem um valor máximo que pode
ser obtido inspecionando a Figura 5.7. Da relação v10 = m2 V /m1 , pode-se ver que
v10 < V . O valor de θ que fornece o maior valor para ψ é o que faz o vetor v1
tangenciar a circunferência, como mostrado na figura. Veja que qualquer outro
valor de θ levaria a um ψ menor. Do triângulo retângulo, concluı́mos que
v10 m2
ψmax = sen−1 = sen−1 . (5.91)
V m1
No limite m2 → m1 , ψmax → π/2.
A relação entre ξ e θ pode ser obtida da Figura 5.8, de onde pode-se ver que:
99
Figura 5.7: Ângulo de esplhamento máximo para m1 > m2 .
Como v20 = V ,
Portanto, ξ = π/2 − θ/2. Note que essa relação não depende das massas das
partı́culas. No caso especial em que m1 = m2 , θ/2 = ψ, de forma que ψ + ξ = π/2.
Exercı́cio 5.11. Uma partı́cula de massa m1 e velocidade u1 colide frontalmente
com uma partı́cula de massa m2 inicialmente em repouso. Determine as velocidades
das duas partı́culas após a colisão no caso em que a perda de energia cinética do
sistema é máxima. Nesse caso, qual o coeficiente de restituição?
Exercı́cio 5.12. Uma partı́cula de massa m e velocidade inicial de módulo u1 colide
elasticamente com outra partı́cula de massa 2m, inicialmente em repouso. Após a
colisão, a partı́cula projétil perde metade de sua energia cinética para a partı́cula
alvo. Determine os módulos das velocidades das duas partı́culas e os ângulos ψ e ξ
após a colisão.
Exercı́cio 5.13. Um próton com velocidade inicial de módulo u1 colide com um
núcleo de deutério inicialmente em repouso. Após a colisão, o próton é desviado
100
de 30◦ em relação à sua trajetória original. Admitindo que metade da energia
mecânica do sistema é perdida na colisão, determine os módulos das velocidades
das duas partı́culas e o ângulo de recuo do deutério após a colisão. Suponha que a
massa do deutério seja o dobro da massa do próton.
Exercı́cio 5.14. Uma partı́cula de massa m1 colide elasticamente com uma partı́cula
de massa m2 inicialmente em repouso. Determine a energia cinética final da partı́cula
alvo em termos das massas, da energia cinética inicial da partı́cula projétil e do
ângulo ξ.
Figura 5.9: Definição do parâmetro de impacto em uma colisão entre uma partı́cula
inicialmente em movimento e uma partı́cula inicialmente em repouso.
Da relação
1
T0 = m1 u21 , (5.97)
2
onde T0 é a energia cinética da partı́cula projétil antes da colisão, podemos eliminar
u1 e escrever uma expressão para l em termos de b e T0 :
p
l = b 2m1 T0 . (5.98)
101
choque é bastante útil. A ideia é medir a seção de choque para obter informações
sobre as forças entre as partı́culas.
Considere um feixe de partı́culas iguais que viajam na mesma direção com a
mesma velocidade (Figura 5.10). Definimos a intensidade do feixe como
número de partı́culas
I= . (5.99)
área × tempo
dΩ = 2π senψ dψ (5.101)
dN = I 2πb db (5.102)
102
Da definição de seção de choque, podemos escrever
2πb db b db
σ(ψ) = − =− , (5.103)
2π senψ dψ senψ dψ
103
Substituindo as eqs. (5.105) e (5.106) em (5.103), e usando
concluimos que
1
σ(ψ) = (R1 + R2 )2 . (5.108)
4
A seção de choque total é dada por
Z 2π
1
σtot = (R1 + R2 )2 2π senψ dψ = π(R1 + R2 )2 . (5.109)
0 4
b db
σ(θ) = − , (5.112)
senθ dθ
de forma que a primeira coisa a se fazer é calcular b(θ).
Para calcular b(θ) vamos voltar ao problema equivalente de um corpo discutido
no Capı́tulo 4 (que foi resolvido no referencial CM): vamos considerar o espalhamento
de uma partı́cula de massa µ por um centro de força fixo. Da Eq. (4.22), podemos
escrever Z ∞
l dr
Θ= 2
·r , (5.113)
rmin r l2
2µ E − U − 2µr2
θ = π − 2Θ . (5.114)
104
Figura 5.13: Espalhamento de partı́culas α por núcleos atômicos.
Definindo
k
κ= , (5.117)
2T00
temos Z ∞
bdr
Θ= √ . (5.118)
rmin r r − 2κr − b2
2
105
de forma que √
Θ = sen−1 X = cos−1 1 − X 2 . (5.123)
Portanto p !#rmin
1 − 2κ/r − b2 /r2
Θ = cos−1 p . (5.124)
1 + (κ/b)2 ∞
k l2
T00 = + 2
. (5.125)
rmin 2µrmin
2T00 κ 2µT00 b2
T00 − − 2
=0. (5.126)
rmin 2µrmin
106
ou
b = κ cotg(θ/2) . (5.134)
Derivando b em relação a θ, obtemos
db κ κ 1
= − cossec2 (θ/2) = − . (5.135)
dθ 2 2 sen2 (θ/2)
κ2 cotg(θ/2)
σ(θ) = . (5.136)
2 senθ sen2 (θ/2)
Como
senθ = 2 sen(θ/2) cos(θ/2) , (5.137)
κ2 1
σ(θ) = 4
. (5.138)
4 sen (θ/2)
Substituindo κ em termos de k (Eq. 5.117), obtemos
k2 1
σ(θ) = 0 2 sen4 (θ/2)
. (5.139)
16T0
107
Capı́tulo 6
A relação entre os vetores que indicam a posição da partı́cula nos dois sistemas
é
~ + ~r .
r~0 = R (6.1)
Inicialmente vamos supor que as origens dos dois sistemas coincidam, ou seja,
que R ~ = 0. A Figura 6.2 ilustra o deslocamento da partı́cula, visto do sistema
fixo, devido a uma rotação infinitesimal do sistema móvel em torno de um eixo
instantâneo de rotação. Em módulo,
dr = r senγ dθ . (6.2)
108
~ aponta ao longo do eixo de rotação (com
Como o vetor rotação infinitesimal, dθ,
sentido dado pela regra da mão direita), d~r tem direção e sentido de dθ~ × ~r. Assim,
podemos escrever
d~rf = dθ~ × ~r , (6.3)
onde o ı́ndice f que dizer em relação ao sistema fixo (com linha).
onde ω ~
~ = dθ/dt é o vetor velocidade angular de rotação em torno do eixo.
Se, além da velocidade devida à rotação, a partı́cula tiver uma velocidade (dr/dt)r
em relação ao sistema em rotação, temos
d~r d~r
= +ω~ × ~r . (6.5)
dt f dt r
Agora vamos admitir que a origem do sistema xyz se move em relação ao sistema
0 0 0
x y z . Derivando a Eq. (6.1), podemos obter a velocidade da partı́cula no sistema
fixo: ! !
dr~0 dR~
d~r
= + . (6.6)
dt dt dt f
f f
Definindo
! !
dr~0 ~
dR
d~r
≡ ~vf , ≡ V~ e ≡ ~vr , (6.8)
dt dt dt r
f f
109
podemos escrever
~vf = V~ + ~vr + ω
~ × ~r . (6.9)
Existe outra maneira de se obter a relação (6.5) entre as velocidades da partı́cula
nos dois referenciais. Considere o vetor ~r = xı̂ + ŷ + z k̂ no sistema em rotação. Su-
ponha que os sistemas fixo e em rotação tenham a mesma origem e que a velocidade
angular do sistema em rotação, em relação ao sistema fixo, seja ω ~.
~0
Como os sistemas têm a mesma origem, r = ~r. Tomando a derivada de ~r no
sistema fixo, obtemos
!
dr~0
d~r dx dy dz dı̂ d̂ dk̂
= = ı̂ + ̂ + k̂ + x + y + z . (6.10)
dt dt f dt dt dt dt dt dt
f
Os três últimos termos não são nulos porque os vetores unitários ı̂, ̂ e k̂ estão girando
em relação ao sistema fixo.
Imagine inicialmente o sistema sem linha girando em torno do eixo z 0 com velo-
cidade angular ωz , como mostra a Figura 6.3. Os vetores unitários ı̂ e ̂ podem ser
escritos em termos de ıˆ0 e ˆ0 (que são fixos) como:
111
Veja que o ı́ndice f não é necessário em d~ω /dt porque essa quantidade é igual nos
dois referenciais.
Vamos denotar o primeiro termo no lado direito como
!
dV~
≡A ~. (6.23)
dt
f
~
O segundo termo pode ser calculado de (6.19) com ~vr no lugar de Q:
d~vr d~vr
= +ω~ × ~vr = ~ar + ω
~ × ~vr . (6.24)
dt f dt r
O último termo pode ser obtido diretamente de (6.19):
d~r d~r
~×
ω =ω~× +ω ~ × (~ω × ~r) = ω
~ × ~vr + ω
~ × (~ω × ~r) (6.25)
dt f dt r
Com esses resultados podemos reescrever a Segunda Lei de Newton no referencial
fixo (Eq. 6.21) como
112
Figura 6.4: Vetor −~ω × (~ω × ~r) no caso em que a partı́cula se move em um plano
perpendicular a ω
~.
Exercı́cio 6.1. Descreva, à luz da Eq. (6.28), como os dois observadores do exemplo
do ônibus (Figura 1.4) do Capı́tulo 1, explicariam o movimento da bola. Liste todas
as forças que cada observador teria que levar em conta.
113
6.3 Movimento em relação à Terra
O movimento da Terra em relação a um referencial inercial é dominado por sua
rotação. O movimento da Terra em torno do Sol e o movimento do sistema solar
com relação às estrelas fixas têm importância muito menor. Para descrever o mo-
vimento de corpos nas proximidades da superfı́cie da Terra, vamos usar os sistemas
de coordenadas indicados na Figura 6.5: um sistema x0 y 0 z 0 fixo no centro da Terra
e um sistema xyz em rotação com origem na superfı́cie da Terra.
Vamos escrever a força resultante, medida no sistema fixo, como
F~ = S
~ + m~g0 (6.31)
onde
GmM ~
m~g0 = − R (6.32)
R3
é a atração gravitacional sobre a partı́cula (M e R são a massa e o raio da Terra) e
~ representa todas as outras forças.
S
Figura 6.5: Referencial fixo com origem no centro da Terra e referencial girante com
origem na superfı́cie.
114
Como ω é praticamente constante, o termo −md~ω /dt é praticamente zero. R ~ é
fixo no sistema em rotação, mas muda de direção no sistema fixo à medida que a
Terra gira. Da Eq. (6.19) com R ~ no lugar de Q,
~ podemos escrever
!
dR~
V~ = =ω ~ ×R~ . (6.35)
dt
f
~ ×R
Substituindo de novo em (6.19), e notando que ω ~ é fixo no sistema em rotação
(nem R~ nem ω~ muda), temos
!
2~
~= d R =ω
A ~ ,
~ × (~ω × R) (6.36)
dt2
f
de forma que a força efetiva pode ser reescrita como
F~ef = S~ + m~g0 − m~ω × [(~ω × (~r + R)]
~ − 2m~ω × ~vr . (6.37)
O segundo e terceiro termos no lado direito da equação acima sempre estarão
presentes na força efetiva sobre uma partı́cula nas proximidades da Terra, o que
sugere escrever uma aceleração da gravidade efetiva dada por
~g = ~g0 − ω ~ .
~ × [(~ω × (~r + R)] (6.38)
Essa é a aceleração da gravidade que é medida em um experimento. Por exemplo,
o perı́odo de um pêndulo determina o módulo de ~g e não de ~g0 . Da mesma forma, a
direção de um fio de prumo determina a direção de ~g . Com essa definição, a força
efetiva pode ser escrita como
F~ef = S
~ + m~g − 2m~ω × ~vr . (6.39)
Nos casos em que estudamos movimentos próximos da superfı́cie da Terra o
suficiente para fazer r << R,
~g ' ~g0 − ω ~ .
~ × (~ω × R) (6.40)
A Figura 6.6 (lado esquerdo) mostra que −~ω × (~ω × R) ~ é paralelo ao plano
0
equatorial e aponta para longe do eixo z (eixo de rotação da Terra). Em módulo,
~ = ω 2 R sen(π/2 − λ) = ω 2 R cosλ
|~ω × (~ω × R)| (6.41)
onde λ é a latitude. Substituindo os valores de ω e do raio da Terra, obtemos
ω 2 R = 0, 034 m/s2 , o que representa 0,35% do valor de g0 . A direção do campo
gravitacional efetivo, ~g , é indicada na Figura 6.6 (lado direito) com o tamanho do
termo centrı́fugo exagerado.
Exercı́cio 6.5. Calcule a aceleração centrı́fuga devida ao movimento da Terra em
torno do Sol e verifique se esse movimento pode ser desprezado quando comparado
com a rotação da Terra (isso foi feito no texto).
Exercı́cio 6.6. Mostre que o pequeno desvio angular de um fio de prumo em relação
à vertical (ângulo de ~g em relação a ~g0 ), em um lugar sobre a superfı́cie da Terra a
uma latitude λ, é dado em radianos por
Rω 2
ε' sen2λ
2g0
Obtenha um valor numérico para o desvio máximo.
115
~ (esquerda) e do campo gravitacional
Figura 6.6: Direção do vetor −~ω × (~ω × R)
efetivo (direita).
116
Desprezando a resistência do ar, a aceleração da partı́cula em relação ao sistema
em rotação (fixo na superfı́cie da Terra) é dada por
~ = −ω cosλ ı̂ + ω senλ k̂ .
ω (6.43)
~vr = vx ı̂ + vy ̂ + vz k̂ , (6.44)
dvy dvz
= −2ωvz cosλ e = −g . (6.47)
dt dt
Como a segunda equação só envolve vz , a estratégia natural é resolvê-la e depois
substituir a solução na primeira. Integrando duas vezes a segunda equação, e su-
pondo vz = 0 e z = h no instante t = 0, obtemos
1
vz = −gt e z = h − gt2 . (6.48)
2
Substituindo vz na primeira equação, obtemos
dvy
= 2ωgt cosλ . (6.49)
dt
Integrando duas vezes e supondo vy = 0 e y = 0 no instante t = 0, obtemos
1
vy = ωgt2 cosλ e y = ωgt3 cosλ . (6.50)
3
p O tempo de queda, que pode ser obtido fazendo z = 0, é dado por tqueda =
2h/g. Substituindo esse resultado em y, obtemos o desvio lateral (ao longo do
eixo y): s
2 2h3
dy = ω cosλ . (6.51)
3 g
117
Para termos uma ideia de valores tı́picos, considere um objeto que cai de uma
altura de 100 m em uma latitude de 16◦ (latitude de Goiânia). O tempo de queda é
tqueda = 4, 5 s e o desvio lateral é dy = 2, 1 cm. Os valores máximos de vz e vy (em
magnitude) são 44 m/s e 1,4 cm/s, respectivamente. Veja que esses números estão
de acordo com a suposição inicial que vy << vz e ωvz << g.
Outro exemplo simples é o desvio lateral de uma partı́cula que se move no plano
horizontal. Para simplificar, vamos supor que inicialmente o movimento é ao longo
do eixo y. Fazendo vx = vz = 0 na Eq. (6.45), e desconsiderando o movimento ao
longo do eixo z, obtemos
~ar = 2ωvy senλ ı̂ . (6.52)
Supondo que a partı́cula esteja no hemisfério norte, λ e senλ são positivos, e por-
tanto, ela sofre um desvio na direção positiva do eixo x (desvio para a direita). Se
tivéssemos escolhido o movimento inicialmente ao longo do eixo x (vy = vz = 0),
obterı́amos
~ar = −2ωvx senλ̂ (6.53)
Para uma partı́cula no hemisfério norte, o desvio seria no sentido negativo do eixo
y (para a direita).
Se a partı́cula estiver no hemisfério sul, λ e senλ são negativos, e a deflexão é
para a esquerda.
118
Figura 6.8: Pêndulo de Foucault.
d2 x x
m = −T + 2mvy ω senλ , (6.58)
dt2 l
d2 y y
m 2
= −T − 2mvx ω senλ . (6.59)
dt l
Como T ' mg, as equações acima podem ser reescritas como:
d2 x g dy
= − x + 2 ω senλ , (6.60)
dt2 l dt
119
d2 y g dx
2
=− y−2 ω senλ . (6.61)
dt l dt
p
Definindo ω0 = g/l e ωz = ω senλ, podemos escrever:
d2 x dy
2
+ ω02 x = 2ωz , (6.62)
dt dt
d2 y dx
2
+ ω02 y = −2ωz . (6.63)
dt dt
Note que ω0 é a frequência de oscilação do pêndulo, e portanto muito maior que ωz ,
mesmo para grandes valores de l.
As Eqs. (6.62) e (6.63) envolvem x e y, e uma maneira de resolvê-las é usando
uma variável complexa. Somando a primeira com a segunda multiplicada por i,
obtemos 2
d2 y
dx 2 dx dy
+ i 2 + ω0 (x + iy) = −2iωz +i (6.64)
dt2 dt dt dt
Definindo
q = x + iy , (6.65)
obtemos a equação
d2 q dq
2
+ 2iωz + ω02 q = 0 (6.66)
dt dt
para a variável complexa q.
Supondo uma solução do tipo
q = q0 eγt , (6.67)
Agora vamos supor que o tempo t seja pequeno em comparação com o perı́odo
de rotação da Terra (1 dia), mas não em comparação com o perı́odo de oscilação do
pêndulo (da ordem de segundos). Sendo assim, ωz t << 1, de forma que a solução
pode ser escrita como
qin = Aeiω0 t + Be−iω0 t (6.72)
120
onde o ı́ndice “in” indica que essa é a solução inicial, que vale para as primeiras
oscilações do pêndulo.
Como qin tem uma parte real e uma parte imaginária, pode ser escrito como
121