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Educação para a Saúde e Atitudes Sexuais de Estudantes Universitários

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Marilene Silva Rute F. Meneses


Instituto Piaget Universidade Fernando Pessoa
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Educação para a Saúde e Atitudes Sexuais de Estudantes


Universitários

Marilene Silva1,2 & Rute F. Meneses2,3


1
Escola Superior de Saúde do Instituto Piaget de Vila Nova de Gaia e USF
Espaço Saúde
2
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – Universidade Fernando Pessoa,
Porto
3
Centro de Estudos Culturais, da Linguagem e do Comportamento – Universidade
Fernando Pessoa, Porto

A educação para a saúde sexual tem como grande objectivo alterar atitudes e
comportamentos de risco (Rodrigues et al., 2005).
Consequentemente, pretendeu-se explorar a relação entre a frequência de sessões
de educação para a saúde, na área da sexualidade, e atitudes sexuais.
Administrou-se um Questionário a 223 estudantes do 1.º ano da Escola Superior de
Saúde do Instituto Piaget de Vila Nova de Gaia: 76,7% do sexo feminino, 91,9%
entre 18 e 24 anos.
Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre as atitudes
sexuais dos estudantes que haviam assistido algumas vezes a sessões de educação
para a saúde sobre sexualidade e as dos que nunca haviam assistido a tais sessões,
com excepção das atitudes de responsabilidade: os primeiros revelaram valores
mais elevados.
É importante reflectir sobre estes resultados, pois poderá ser necessário um maior
investimento nas sessões de educação para a saúde sexual por parte dos
profissionais.

Palavras-chave: Educação para a Saúde, Atitudes Sexuais.

1. INTRODUÇÃO
O papel da educação para a saúde e a sua importância na promoção da saúde do
indivíduo, família e comunidade são hoje reconhecidos a nível mundial (Ministério da
Educação, 2000).
Esta deve ter como objectivo desenvolver mecanismos nos indivíduos que lhes
permitam adoptar comportamentos saudáveis, tendo como grande objectivo alterar
comportamentos e atitudes de risco, nomeadamente a nível sexual (Rodrigues et al.,
2005).
Segundo Vilar (2004), a educação sexual surgiu numa tentativa de lutar contra o
conservadorismo, mas também pelo número crescente das IST’s (Infecções
Sexualmente Transmissíveis), do VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana) e de
gravidezes não desejadas, que impunham a necessidade de medidas.

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A educação para a saúde sexual tem como foco a mudança de comportamentos de


risco e a alteração de um conjunto de atitudes que se relacionam com a saúde, uma vez
que estes comportamentos de risco e o estilo de vida são actualmente dois determinantes
da saúde dos jovens (Matos, 2008).
O presente estudo observacional, descritivo-transversal (Ribeiro, 1999), teve
como objectivo explorar a relação entre a frequência de sessões de educação para a
saúde, na área da sexualidade, e atitudes sexuais, nomeadamente atitudes sexuais de
permissividade, responsabilidade, instrumentalidade, comunhão e impessoalidade, em
estudantes universitários.

2.MÉTODO
2.1.Participantes
A amostra é contituída por 223 estudantes, matriculados no 1.º ano do Ensino
Superior da Escola Superior de Saúde do Instituto Piaget de Vila Nova de Gaia
(ESSIPVNG). Dos participantes, 76,7% são do sexo feminino e 91,9% têm idades
compreendidas entre os 18 e os 24 anos (amostra não probabilística acidental).

2.2. Material
Os instrumentos utilizados foram: um Questionário Sócio-demográfico, elaborado
para o efeito, e a adaptação portuguesa de Alferes (1999) da Escala de Avaliação de
Atitudes Sexuais (EAS).

2.3. Procedimento
Após a obtenção das devidas autorizações, quer por parte do autor da versão
Portuguesa da EAS, quer da ESSIPVNG, foi aplicado em contexto de sala de aula o
protocolo de avaliação.
Os alunos participaram no estudo de forma voluntária, na sequência da obtenção
do seu consentimento informado, tendo sido sublinhada a confidencialidade dos dados
recolhidos.
Para tratamento e análise de dados utilizou-se o SPSS (Statistical Package for the
Social Sciences) para o Windows.

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3. RESULTADOS
Os resultados revelaram que 41,3% (n=92) dos estudantes nunca havia assistido a
sessões de educação para a saúde na área da sexualidade, 30,0% (n=67) raramente havia
assistido, 26,5% (n=59) havia assistido algumas vezes e, 2,2% (n=5) havia assistido
muitas vezes a tais sessões.
Como se pode verificar na Tabela 1, as médias relativas à EAS completa, bem
como às respectivas subescalas, são muito semelhantes, independentemente dos
estudantes nunca terem assistido a sessões de educação para a saúde sobre sexualidade,
terem assistido raramente, algumas ou muitas vezes às referidas sessões.

Tabela 1 – Atitudes Sexuais em função da Frequência de Sessões de Educação para a Saúde


sobre Sexualidade
Sub(escalas) Frequência de sessões de educação para a saúde sobre sexualidade

Nunca Raramente Algumas Vezes Muitas Vezes

n M n M n M n M

Atitudes Sexuais 92 111,10 67 109,60 59 111,49 5 119,20

Permissividade 92 27,85 67 27,08 59 27,78 5 31,00

Comunhão 92 36,13 67 34,30 59 36,04 5 34,80

Instrumentalidade 92 14,13 67 14,91 59 13,98 5 15,58

Impessoalidade 92 15,58 67 15,46 59 15,44 5 18,40

Responsabilidade 92 17,41 67 17,85 59 18,24 5 17,40

Como o número de estudantes que havia assistido muitas vezes a sessões de


educação para a saúde na área da sexualidade era muito reduzido, aplicou-se o teste t
para comparar as médias dos (restantes) dois grupos de estudantes mais contrastantes: o
dos estudantes que nunca haviam assistido a sessões de educação para a saúde sobre
sexualidade vs. o dos que haviam assistido algumas vezes às mesmas sessões.
Como se pode analisar através da Tabela 2, não existem diferenças
estatisticamente significativas entre as atitudes sexuais dos estudantes que nunca
haviam assistido a sessões de educação para a saúde na área da sexualidade e as dos que
haviam assistido algumas vezes a tais sessões. A única excepção diz respeito às atitudes
sexuais de responsabilidade, em que os estudantes que haviam assistido a algumas

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sessões de educação para a saúde revelaram atitudes de maior responsabilidade, quando


comparados com os estudantes que nunca haviam assistido a esse tipo de sessões.

Tabela 2 – Comparação das Atitudes Sexuais dos Estudantes que Nunca Haviam Assistido a
Sessões de Educação para a Saúde sobre Sexualidade e dos que Haviam Assistido Algumas
Vezes a esse Tipo de Sessão
Frequência de sessões de educação para a saúde sobre
Sub(escalas)
sexualidade

Nunca Algumas Vezes

n M n M t gl p

Atitudes Sexuais 92 111,10 59 111,49 0,16 149 0,88

Permissividade 92 27,85 59 27,78 0,05 149 0,06

Comunhão 92 36,13 59 36,04 0,09 149 0,93


Instrumentalidade 92 14,13 59 13,98 0,20 149 0,84
Impessoalidade 92 15,58 59 15,44 0,24 149 0,81
Responsabilidade 92 17,41 59 18,24 2,25 141,35 0,03

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Reflectindo sobre a sociedade Portuguesa, a forma como a sexualidade é
perspectivada e vivenciada hoje é muito diferente da do passado. Actualmente, os
jovens revelam atitudes de maior concordância em relação ao sexo pré marital, sem
compromisso e à multiplicidade de parceiros (Silva, 2008).
Paralelamente, vários estudos apontam para o início cada vez mais precoce da
actividade sexual. Assim, Nodin (2001), estudando questões relativas à saúde sexual e
reprodutiva dos jovens com idades entre 18 e 25 anos, com uma amostra de 1402
indivíduos, constatou que: 68% a 85,7% dos jovens (variando de acordo com a região)
já havia iniciado a actividade sexual. Já Alferes (1997), numa amostra de 587
universitários, obteve uma taxa de virgindade de 17,7% para o sexo masculino e 42,8%
para o sexo feminino. Por seu turno, Silva (2008) constatou que 71,3% de jovens
universitários já tinha experiência sexual.
Segundo alguns autores, quanto mais cedo se inicia a actividade sexual maior é a
probabilidade de assumir comportamentos de risco (Rogado & Leal, 2000). Desta

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forma, torna-se cada vez mais importante o investimento na educação sexual, para a
vivência de uma sexualidade saudável e satisfatória. De facto, Antunes (2007) verificou
que os jovens mais bem informados demonstravam atitudes de maior comunhão,
afectividade, partilha e responsabilidade sexual.
Sendo a educação para a saúde sexual um dos objectivos das sessões de educação
para a saúde, de extrema importância na transmissão de conhecimentos, na formação de
atitudes e na manutenção e/ou mudança de comportamentos, torna-se importante a sua
implementação em vários contextos, nomeadamento o contexto escolar.
Os resultados obtidos sublinham a necessidade de desenvolver acções de
educação para a saúde sexual direccionadas aos estudantes do ensino superior e que
tenham impacto nas suas atitudes e comportamentos sexuais.

4. CONCLUSÃO
No presente estudo, as atitudes sexuais não se relacionaram de forma
estatisticamente significativa com a frequência de sessões de educação para a saúde
sobre sexualidade, excepto no que concerne às atitudes sexuais de responsabilidade. No
entanto, dada a importância da educação para a saúde na transmissão de informação, no
desenvolvimento de competências e na adopção de comportamentos sexuais saudáveis,
é inquestionável a necessidade de uma reflexão sobre o tema, no sentido de um maior
investimento na área e analisando se as acções estão a ser realizadas da melhor forma.

CONTACTO PARA CORRESPONDÊNCIA


marilenecbt@gmail.com

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alferes, V. (1997). Dos comportamentos sexuais à encenação do sexo: contributos para
uma psicologia social da sexualidade. Porto: Afrontamento.
Alferes, V. (1999). Escala de Atitudes Sexuais (EAS). In M. R. Simões, M. Gonçalves,
& Almeida, L. (Eds.), Testes e provas psicológicas em Portugal (Vol. II, pp.131-
147). Braga: APPORT/SHO.
Antunes, M. (2007). Atitudes e comportamentos sexuais de estudantes do ensino
superior. Coimbra: Formasau.
Lucas, J. (1993). Sida: A sexualidade desprevenida dos portugueses. Lisboa: McGraw-
Hill.

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Matos, M. G. (2008). Sexualidade, segurança & SIDA: Estado da arte e propostas em


meio escolar. Cruz Quebrada: Aventura Social e Saúde.
Ministério da Educação, Ministério da Saúde & Associação para o Planeamento
Familiar. (2000). Educação sexual em meio escolar – linhas orientadoras.
Lisboa: Ministério da Educação.
Nodin, N. (2001). Os jovens portugueses e a sexualidade em finais do Século XX.
Lisboa: Associação para o Planeamento Familiar.
Ribeiro, J. L. P. (1999). Investigação e avaliação em psicologia e saúde. Lisboa:
Climepsi.
Rodrigues, M., Pereira, A., & Barroso, T. (2005). Educação para a saúde: Formação
pedagógica de educadores de saúde. Coimbra: Formasau.
Rogado, T., & Leal, I. (2000). Auto-eficácia e crenças em jovens – o caso específico do
preservativo/ kamisinha. Actas do 3.º Congresso Nacional de Psicologia da
Saúde (pp.581-594). Lisboa: Instituto Superior de Psicologia Aplicada.
Silva, M. (2008). Atitudes sexuais e auto-eficácia de estudantes do 1.º ano do ensino
superior e seus correlatos. Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade
Fernando Pessoa.
Vilar, D. (2004). Os últimos três anos. Sexualidade & Planeamento Familiar, 38/39,
(pp. 3-6). Lisboa: Associação para o Planeamento Familiar.

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