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A psicomotricidade

O que é a psicomotricidade?
“ A Psicomotricidade pode ser definida como o campo transdiciplinar que estuda e investiga as
relações e as influências recíprocas e sistémicas entre o psiquismo e a motricidade. Baseada
numa visão holística do ser humano, a psicomotricidade encara de forma integrada as funções
cognitivas, sócio-emocionais, simbólicas, psicolinguísticas e motoras, promovendo a
capacidade de ser e agir num contexto psicossocial.” Associação Portuguesa de
Psicomotricidade (APP)

A psicomotricidade é encarada como uma ciência que estuda a conduta motora como
expressão do amadurecimento e desenvolvimento da totalidade psicofísica do homem (Le
Boulch apud Nasser, 2004 cit in CRUZ & SHIRAKAWA, 2006) utilizando como objecto de
estudo o homem através do seu corpo em movimento e as relações que estabelece com o
meio, fazendo aquisições motoras, cognitivas e afectivas.
De acordo com o Ministério da Educação e do Desporto e Secretaria de Educação
Especial apud Rezende et al (2003) cit in Cruz e Shirakawa (2006), psicomotricidade é a
integração das funções motoras e mentais, sob o efeito do desenvolvimento do sistema
nervoso, destacando assim as relações existentes entre a motricidade, a mente e a
afectividade do indivíduo. O desenvolvimento psicomotor abrange o desenvolvimento funcional
do corpo e das suas partes e encontra-se dividido em vários factores psicomotores. Fonseca
(1995) cit in Cruz & Shirakawa (2006) apresenta sete factores - tonicidade, equilíbrio,
lateralidade, noção corporal, estruturação espácio-temporal e praxias fina e global.
O trabalho em psicomotricidade tem como foco o movimento organizado e integrado
em função das experiencias vividas pelos indivíduos, a acção do seu corpo em relação ao meio
interno e externo, a sua individualidade, linguagem e processo de inclusão social. Segundo
Alves (sd) cit in SILVA (2004), a psicomotricidade tem como principal propósito melhorar ou
normalizar o comportamento geral do indivíduo, promovendo um trabalho constante sobre as
condutas motoras, através das quais o indivíduo toma consciência do seu corpo,
desenvolvendo o equilíbrio, controlando a coordenação global e fina e a respiração bem como
a organização das noções espaciais e temporais.
Os psicomotricistas não usam o termo motricidade isoladamente pois a motricidade é
indissociável da psique humana, sendo o termo motricidade mais utilizado pela área da
educação física no âmbito da perspectiva do treino desportivo, ligado à coordenação motora
como qualidade física, sendo analisado de forma diferente na perspectiva da Psicomotricidade
(LUSSAC, 2008).
Assim, a psicomotricidade faz a abordagem clínica voltada para a globalidade do
indivíduo, uma vez que, na sua concepção, a dinâmica aplicada será capaz de desenvolver o
aspecto motor no momento da execução da actividade, o aspecto intelectual na tentativa de
resolução do desafio proposto e o aspecto afectivo, nos sentimentos experimentados ao longo
da actividade (SOUZA & BODOY, 2005). Esta metodologia de trabalho é justificada através do
funcionamento do sistema nervoso, pois este é constituído por inúmeros constituintes que não
interagem de um modo independente, já que existe relação de interdependência nas áreas
(AUCOUTURIER et al., 1986 cit in SOUZA & BODOY, 2005).
O principal objectivo centra-se na adequação das condutas às necessidades do
indivíduo, tornando a tarefa mais eficaz e satisfatória tanto para o profissional como para o
participante.

A historicidade da Psicomotricidade
“A história do saber da psicomotricidade representa já um século de esforço de ação e de
pensamento. A sua cientificidade na era da cibernética e da informática, vai-nos permitir
certamente, ir mais longe da descrição das relações mútuas e recíprocas da convivência do
corpo com o psíquico. Esta intimidade filogenética e ontogenética representam o triunfo
evolutivo da espécie humana, um longo passado de vários milhões de anos de conquistas
psicomotoras” (FONSECA, 1988, p. 99.)

             A história da psicomotricidade é indissociável da história do corpo sendo que ao longo


desta história foram registadas perguntas: como explicar as emoções e as sensações do corpo
e qual a relação entre corpo e alma; por que diferenciá-los? (BARTHES apud LEVIN, 2003 CIT
IN FALCÃO & BARRETO, 2009)
O pioneirismo desta matéria centrou-se em Aristóteles para o qual o corpo é matéria
moldada pela alma e esta é que põe o corpo em movimento. Estreava-se assim a linha de
pensamento psicomotor quando analisou a função do ginasta para melhorar o desenvolvimento
do espírito. Enunciava que o homem era formado por corpo e alma e valorizava o exercício
físico, já que, para o mesmo, a ginástica servia para “dar graça, vigor e educar o corpo”.
No século XIX, com o desenvolvimento e as descobertas ao nível da neurofisiologia,
constatou-se que existem diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja lesionado ou
sem que a lesão esteja localizada claramente, sendo deste modo descobertos “distúrbios da
actividade gestual, da actividade práxica”, sem que anatomicamente estejam circunscritos a
uma área ou parte do sistema nervoso.
É desta aparente necessidade médica de explicar os fenómenos clínicos que não são
corroborados anatomicamente que no ano de 1870 surge pela primeira vez o termo
psicomotricidade. (Falcão & Barreto, 2009). No entanto as primeiras pesquisas que dão origem
ao campo psicomotor correspondem a um enfoque totalmente neurológico. (CAMUS apud
LEVIN, 2003 CIT IN FALCÃO & BARRETO, 2009).
É com Dupré, neurologista francês que, em 1907, que após um conjunto de pesquisas
se define a síndrome da debilidade motora, composta por sincinesias (movimentos
involuntários que acompanham uma acção), paratonias (incapacidade reduzir o tonos muscular
voluntariamente) e inabilidades, sem que lhes sejam atribuídos danos ou lesão extrapiramidal.
Dupré formulou psicomotricidade focalizando-se uma linha filosófica neurológica, associando o
desenvolvimento da psicomotricidade com a inteligência e a afectividade. Segundo Levin
(2003) a patologia cortical, a neurofisiologia e a neuropsiquiatria são os três meios aptos a
alcançar o conceito de psicomotricidade. (Falcão & Barreto, 2009)
. Henry Wallon, médico, psicólogo e pedagogo, foi provavelmente, o grande pioneiro da
psicomotricidade, vista como campo científico. Segundo Fonseca (1988), este forneceu
observações decisivas acerca do desenvolvimento neurológico do recém-nascido bem como da
evolução psicomotora da criança. Wallon afirmava que o movimento é a única expressão e o
primeiro instrumento do psiquismo, sendo o movimento (acção), pensamento e linguagem
unidades inseparáveis.
A componente do conhecimento, a consciência e o desenvolvimento geral da
personalidade não podem ser isolados das emoções. Wallon realizou um importante trabalho
sobre os aspectos psicofisiológicos da vida afectiva - a consciência corporal e a relação
intrínseca do tónus, chamando a isto diálogo tónico, assinalando que as relações que
estabelecemos e a actividade postural têm uma origem comum (FALCÃO & BARRETO, 2009).
A partir da sua obra construiu-se uma nova técnica terapêutica que visa a reeducação das
funções motora.
Em 1935, impulsionando pelas obras de Wallon, Edouard Guilman (1901-1983) inicia a
prática psicomotora, que cria através de diferentes técnicas da neuropsicologia fundando a
reeducação psicomotora com exercícios que tinham a finalidade de reeducar a actividade
tónica, a actividade relacional e o controlo motor.
Em 1942, a junção dos conhecimentos de inúmeros psicólogos da Alemanha que
estudaram os mecanismos da percepção, de Schultz e Jacobson que definiram os primeiros
métodos de relaxação e dos psicopedagogos que estudaram o desenvolvimento sensório-
motor da criança, como Clapariede, Montessori e Piaget proporcionaram saberes essenciais à
evolução do conceito de psicomotricidade.
Piaget (1896-1980) foi o autor que mais estudou as relações entre a psicomotricidade e
a percepção, aferindo assim que, desenvolvimento mental constrói-se de forma lenta e
caracteriza-se por um equilibrio progressivo, do menor para o maior surgindo a inteligência de
uma adaptação ao meio ambiente. (Falcão & Barreto, 2009).
As teorias de Ajuriaguerra, por volta de 1960, em ligação com as de Wallon e Piaget;
influenciaram o trabalho de outros autores como: R. Diatkine, J. Buges, Jolivet, S. Leboaci, que
reformularam o enfoque da psicomotricidade, valorizando em especial a relação, e as emoções
e o movimento. A estes acresce a influencia de psicanalistas S. Freud, M. Klein, J. Lacan, W.
Reich, P. Schilder, F. Dolto, Samí Alí, D. Winnicott, Manoni, entre outros.
Segundo Fonseca (1988), em 1947-1948 Ajuriaguerra e Datkine a história da
psicomotricidade ao modificarem o conceito de debilidade motora. Ajuriaguerra, no seu Manual
de Psiquiatria Infantil, reflecte claramente que os transtornos psicomotores “oscilam entre o
neurológico e o psiquiátrico”. Também nesta fase autores como J. Berges, R.Diatkine, B.
Jolivet, C. Launay, S. Leboirei definem a psicomotricidade como “uma motricidade em relação”.
(Falcão & Barreto, 2009).
Na década de 70 através de Le Boulch, surgem os primeiros trabalhos ao nível da
educação psicomotora, que visavam ajudar a criança inadaptada a desenvolver suas
potencialidades e ter acesso ao mundo escolar. Coadjuvando o mesmo aparecem os trabalhos
de L. Pick, P. Vayer, André Lapierre, Bernard Auconturier, Defontaine, J. C. Coste abordavam
que a educação psicomotora servia de ferramenta para auxiliara as crianças inadaptadas para
potencializar as suas competências e disponibilizar-lhes o meio escolar. Com estas novas
contribuições, a psicomotricidade diferencia-se de outras disciplinas adquirindo sua própria
especificidade e autonomia.
Na década de oitenta Le Camus refere que os grandes pilares da psicomotricidade dos
tempos modernos são: coordenação estático-dinamica e óculo-manual; organização espacial e
temporal; estrutura do esquema corporal, afirmação da lateralidade e domínio tónico. Deste
modo, Por volta do ano de 1986 surge uma nova definição para a psicomotricidade: “uma
motricidade em relação”, o que no pensamento de Levin (1995) cit in FALCÃO & BARRETO,
2009 “é onde se opera uma passagem no enfoque do olhar do psicomotricista, não mais
voltado ao plano motor, mas direccionado a um corpo em movimento”.
Os norte-americanos insistem sobre a concepção perceptivo-motora e o papel do
desenvolvimento motor no desenvolvimento perceptivo. Destacados autores como Kephart,
Cratty, Frostig e Barsch que aprofundaram essa mesma concepção. (Falcão & Barreto, 2009).

Em que consiste a Intervenção Psicomotora?

A intervenção em psicomotricidade assume-se como uma reeducação ou terapia de


mediação corporal e expressiva, intervencionada pelo psicomotricista que tem como missão
estudar e compensar a expressão motora inadequada ou inadaptada nas diversas situações
estando estas normalmente inerentes a problemas de desenvolvimento e de maturação
psicomotora, de comportamento, de aprendizagem e de âmbito psico-afectivo. (Associação
Portuguesa de Psicomotricidade (APP). A intervenção em psicomotricidade educa e reeduca os
distúrbios que se apresentam por meio de perturbações psicomotoras, debilidades
psicomotoras, inabilidade, atrasos psicomotores, inibição psicomotora, diminuição,
hiperactividade e retenção. (Alves, 2007)

A Psicomotricidade incrementa-se numa abordagem clínica voltada à globalidade do


indivíduo, (Souza & Bodoy, 2005). Le Boulch aponta três perspectivas distintas na intervenção
psicomotora, uma aponta para a educação psicomotora, outra, para a reeducação psicomotora,
e uma ultima referente á terapia psicomotora. Estas diferentes abordagens, referem-se, não só,
a diferentes intervenções, mas também a diferentes formas de conceber a psicomotricidade.
(Lussac, 2008).
           Corroborando a linha de pensamento de Le Boulch, Mello (2002,p.33) afirma: 
“Nos estudos dos pesquisadores recentes, são apontados três principais campos de actuação
ou formas de abordagem da Psicomotricidade: 1. Reeducação Psicomotora; 2. Terapia
Psicomotora; e 3. Educação Psicomotora. Embora em certos trabalhos esses três níveis de
actuação cheguem a confundir-se, existem características próprias em cada um deles.”
(Lussac, 2008).

Objectivos da Psicomotricidade
A psicomotricidade assenta em objectivos gerais com vista a compensar problemáticas
situadas entre o psíquico e o somático intervindo através do corpo, atribuindo um significado
simbólico ao mesmo em movimento. Permite garantir a harmonização tónica através do corpo
utilizando para este facto acções sobre a postura, a atitude, o esquema corporal, e a
descontracção neuro-muscular. Promove a movimentação funcional e expressiva focando-se
na maneira de agir o corpo através da coordenação, dissociação e praxias, possibilitando a
relação tónico-emocional com o técnico através da acção do corpo.(Associação Portuguesa de
Psicomotricidade-APP).

População-Alvo
Segundo a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (2003), a população-alvo desta
intervenção caracteriza-se essencialmente por:

“Crianças em fase de desenvolvimento; bebés de alto risco; crianças com dificuldades/atrasos


no desenvolvimento global; pessoas portadoras de necessidades especiais: deficiências
sensoriais, motoras, mentais e psíquicas; pessoas que apresentam distúrbios sensoriais,
perceptivos, motores e relacionais em consequência de lesões neurológicas; família e a 3ª
idade.” (Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, 2010).

Competências do Psicomotricista
Considera-se psicomotricista o profissional da área de saúde e da
educação que pesquisa, ajuda, previne e cuida do indivíduo na aquisição, no
desenvolvimento e nos distúrbios de integração psico-somática. Intervindo
numa perspectiva de “Educação, Clínica (Reeducação, Terapia), Consultoria e
Supervisão.” (Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, 2010).

As principais competências inerentes ao técnico de psicomotricidade


centram-se sobretudo na capacidade de:

 “Avaliação e Diagnóstico do Perfil e Desenvolvimento Psicomotor;


 Domínio de Modelos e Técnicas de Habilitação e Reabilitação Psicomotora
em Populações Especiais ou de risco;
 Prescrição, Planeamento, Avaliação, Implementação e Reavaliação de
Programas de Psicomotricidade;
 Formação, Supervisão, e Orientação de outros técnicos, nos âmbitos
anteriormente referidos;
 Consultadoria e organização de serviços vocacionados para a
psicomotricidade;
 Proposta de adaptações envolvimentais (familiares ou escolares)
susceptíveis de maximizarem as respostas reeducativas ou terapêuticas
decorrentes da intervenção directa.” (Associação Portuguesa de
Psicomotricidade-APP)

Quais os locais onde esta intervenção pode


ocorrer?

Segundo a APP, a nível da Saúde:

 Hospitais Gerais (Serviços de Psiquiatria e de Pedopsiquiatria; Serviços


de Pediatria / Consultas de Desenvolvimento e Saúde do Adolescente)
 Centros de Saúde
 Hospitais Psiquiátricos
 Centros de Atendimento à Toxicodependência

A nível da educação:

 Creches e Jardins de Infância


 Escolas do Ensino Básico
 Educação Especial: Estabelecimentos de Educação Especial e Centros
de Apoio Psicopedagógico

A nível da segurança social:

 Instituições Privadas de Solidariedade Social


 Associações e Cooperativas de Acção Social
 Lares de Acolhimento e Apoio á Infância e Juventude
 Centros de Dia para Idosos

A nível da Justiça:

 Institutos e Equipas de Reinserção Social

A nível das Estruturas Desportivas com Serviços de Reabilitação

 Adaptação ao Meio Aquático


 Equitação Terapêutica

Outros âmbitos

 Clínicas Psicopedagógicas
 Clínicas Geriátricas
  Apoio domiciliário

DIFERENTES ABORDAGENS DA
PSICOMOTRICIDADE

Psicomotricidade Instrumental

Segundo Martins (2001) os psicomotricistas consideram que as


potencialidades mentais, emocionais e motoras de um paciente estão em
frequente interacção com o corpo, considerando-o o local de manifestação
de todo o ser. Assim sendo os instrumentos de trabalhos assentam no
corpo em movimento (o seu, o das crianças como meio de relação consigo
mesmas, com o outro e com o envolvimento)., a manifestação do ser está
nas posturas, nas atitudes, nos gestos e mímicas tomando a consciência
corporal condição e instrumento da consciência de si.
A intervenção centrada numa componente instrumental tem maior
fundamentação cognitiva e neuropsicológica. Privilegia, segundo Fonseca
(1981), o enfoque nas situações problema, as quais são apresentadas de
forma a serem vividas como situações de êxito, estabelecendo a
capacidade de ruptura com os bloqueios e resistências melhorando ainda a
sua auto-estima e auto-confiança. A situação problema apela á descoberta
e ao pensamento divergente pois provoca um esforço de atenção,
privilegiando a diferenciação das fontes de informação disponíveis e a
adaptação á variabilidade do ambiente. (Martins, 2001)
Para a intervenção ser bem sucedida a situação problema deve envolver
linguagem oral, quer na antecipação, quer na avaliação da actividade
efectuada no final da mesma de modo a comparar o resultado desejado
com o obtido tornando assim possível a criança situar as suas
possibilidades em relação ao envolvimento. A demonstração deverá ser
excepcional, evitando os processos sistemáticos de imitação. É necessário
que entre o estímulo e a resposta exista uma fase de mediação cognitiva
que favoreça os processos de análise, integração e elaboração da
informação. (Martins, 2001).
Uma vez conseguida a experimentação sensório-motora, sensações ligadas
ao movimento, integração tónico-postural, percepção do corpo, condições
espácio-temporais e coordenação práxica dos movimentos, segundo
Lapierre & Aucoutturier (1978) é tempo de aceder á representação e
abstracção. Deste modo as sessões de psicomotricidade conduzem a
criança do prazer do agir, ao prazer de antecipar, projectando-a no futuro.
(Martins, 2001).
Segundo Martins, (2001) os materiais utilizados devem ser introduzidos,
não só pela sua funcionalidade e utilização práxica mas pela produção do
tipo simbólico que vão desenvolver. Para Costa, (2008) os materiais
estabelecem influência no indivíduo.
pela sua forma, peso, cor, texturas, significado e recordações, o impacto
proprioceptivo criado pelo material promove uma transformação no
individuo actuado, esta transformação deve ser considerada como uma
mais-valia pois enriquece o actuado com novas informações, porém a não
possibilidade de acesso a material não implica um empobrecimento de
intervenção uma vez que os instrumentos essenciais existem, a pessoa e o
espaço. (Costa, 2008).
Em suma, para Onofre, (2004) os materiais " não são únicos ou exclusivos,
nem limitativos", Martins, (2001) os instrumentos em psicomotricidade são
constituídos pelos nossos próprios corpos, o espaço de relação, o espaço
de terapia, o tempo e ritmos de sessão assim como os vários objectos
disponíveis. Estes meios serão mais eficazes se existir uma atmosfera
lúdica na qual o terapeuta esteja envolvido com os sujeitos
intervencionados.

Psicomotricidade Relacional

A Psicomotricidade Relacional visa desenvolver e aprimorar os conceitos


relacionados ao enfoque da Globalidade Humana. Procura superar o
dualismo cartesiano corpo/mente, enfatizando a importância da
comunicação corporal, não apenas pela compreensão da organicidade das
suas manifestações, mas e essencialmente, pelas relações psicofísicas e
socioemocionais do sujeito. Preza por uma abordagem preventiva, com
uma perspectiva qualitativa e, portanto, com ênfase na saúde e não na
doença (Vieira, Batista e Lapierre, 2005).
É uma prática que permite à criança, ao jovem e ao adulto, a expressão e
superação de conflitos relacionais, interferindo de forma clara, preventiva e
terapêutica, sobre o processo de desenvolvimento cognitivo, psicomotor e
socioemocional, na medida em que estão directamente vinculados a
factores psicoafectivos relacionais (Lapierre, 2002).
Não se trata de uma psicoterapia que põe em jogo a personalidade do
sujeito através da análise de sua problemática inconsciente, mas sim, de
uma descodificação de seus comportamentos actuais, evidenciando as
significações simbólicas e as necessidades que expressam (Lapierre,
2002).
Define-se dessa forma, como um método de trabalho que proporciona um
espaço de legitimação dos desejos e dos sentimentos no qual o indivíduo
pode mostrar-se integralmente, com os seus medos, desejos, fantasias e
ambivalências, na relação consigo mesmo, com o outro e com o meio,
potencializando o desenvolvimento global, a aprendizagem, o equilíbrio da
personalidade, facilitando as relações afectivas e sociais (Lapierre, 2002).
Introduz na sua prática o jogo espontâneo em que o corpo participa em
todas as dimensões, privilegiando a comunicação não-verbal, onde, através
de situações lúdicas e dinâmicas, joga com o corpo em movimento,
procurando induzir situações nas quais sejam expressos actos
desencadeados por sentimentos, que somente mais tarde se traduzirão em
termos conscientes, as emoções em que se originaram, ou seja, num
primeiro momento de forma impulsiva e inconsciente, para depois chegar ao
consciente (Vieira, Batista e Lapierre, 2005).
Isto quer dizer que o comportamento e a comunicação são provocados e
desencadeados por imagens de relações inscritas no corpo, com todas as
matrizes sensoriais como a visão, audição, o olfacto, paladar, tacto, as
sensações viscerais entre outras. Podemos aqui ressaltar o momento de
relaxamento, em que o encontro consigo mesmo ou com o outro evoca
imagens mentais de pessoas, lugares, músicas, cheiros e relações
integradas no tempo e no espaço de algo a ser conhecido, mas também de
um "eu", um
Neste contexto, o sujeito que vive é ao mesmo tempo aquele que sente,
observa, percebe e toma conhecimento do que são os seus actos e os
sentimentos. Estas imagens sensoriais estão sempre acompanhadas por
uma presença, que significa o EU, que é o sentimento do que acontece
quando o SER é modificado pelas acções vividas de aprender algo (Vayer,
1984).

Em suma, a Psicomotricidade Relacional é uma prática que permite a libertação


do desejo e do prazer de ser e de comunicar.

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