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DIFERENCIANDO OS COMPORTAMENTOS:

ASSERTIVO, NÃO ASSERTIVO E AGRESSIVO

1. O comportamento assertivo
O comportamento assertivo implica a expressão direta dos próprios
sentimentos, necessidades, direitos legítimos ou opiniões sem ameaçar
ou castigar os demais e sem violar os direitos dessas pessoas. A
mensagem básica da asserção é: isso é o que eu acho. Isso é o que eu
sinto. É assim que vejo a situação. A mensagem expressa “quem é a
pessoa” e é dita sem dominar, humilhar ou degradar o outro indivíduo.
O comportamento não-verbal, como o olhar, a expressão facial, a
postura corporal, a entonação e o volume de voz é também muito
importante e pode acrescentar ou tirar valor do comportamento verbal.
Esses comportamentos precisam portanto, estar em harmonia com o
conteúdo verbal da mensagem assertiva.
A asserção implica respeito – não servilismo. O servilismo consiste em
atuar de maneira servil, como se a outra pessoa estivesse certa, ou
melhor simplesmente porque a outra pessoa é mais velha, mais
poderosa, com mais experiência ou com mais conhecimento ou é de cor
ou sexo diferentes. Há dois tipos de respeito implicados na asserção o
respeito por si mesmo, isto é, expressar as necessidades próprias e
defender os próprios direitos, e o respeito aos direitos e às necessidades
da outra pessoa.
O objetivo da asserção é a comunicação e ter e conseguir respeito, pedir
jogo limpo e deixar aberto o caminho para o compromisso quando se
enfrentem as necessidades e direitos de duas pessoas. Nesses
compromissos, nenhuma pessoa sacrifica sua integridade básica e os
dois conseguem fazer com que sejam satisfeitas algumas necessidades.
Quando a integridade pessoal está em jogo, um compromisso é
inapropriado e não-assertivo. Se não chegam a um compromisso,
podem respeitar simplesmente o direito que o outro tem de não estar de
acordo, e não tentar impor suas exigências sobre a outra pessoa. Em
último termo, cada um pode sentir-se satisfeito de ter expressado, ao
mesmo tempo em que reconhece e aceita que seu objetivo pode não ter
sido atingido.
O comportamento assertivo não é planificado principalmente para
permitir que um indivíduo obtenha o que quer. Como acabamos de
assinalar, seu propósito é a comunicação clara, direta e não-ofensiva
das próprias necessidades, opiniões etc. Até o grau em que isso seja
cumprido, a probabilidade de conseguir os próprios objetivos sem negar
direitos dos demais é maior.
O comportamento assertivo é expresso com consideração dos direitos,
responsabilidades e consequências. A pessoa que expressa a si mesma
em uma situação tem de considerar quais são seus direitos nessa
situação e quais são os direitos das demais pessoas envolvidas. O
indivíduo também tem de estar consciente de suas responsabilidades
nessa situação e das consequências que resultam da expressão de
seus direitos. Por exemplo, se um/a amigo/a não apareceu a um
encontro previamente combinado e também nação ligou para
desmarcar, você tem o direito de expressar seus sentimentos, mas
também tem de saber se havia circunstâncias atenuantes.
O comportamento assertivo em uma situação não tem sempre como
resultado a ausência de conflito entre as duas partes. A ausência total
de conflito é, com frequência, impossível. Há certas situações nas quais
o comportamentos assertivo é apropriado e desejável, mas pode causar
algum incômodo à outra pessoa. Por exemplo, devolver uma mercadoria
ou produto defeituoso ao vendedor de uma loja der maneira assertiva –
ou, talvez, de qualquer outra – pode não ser recebido como amigável.
Do mesmo modo, expressar incômodo legítimo ou crítica justificada de
maneira apropriada pode provocar uma reação inicial desfavorável.
Ponderar as consequências a curto e a longo prazo para as duas partes
é o importante. Parece-nos que o comportamento assertivo tem como
resultado a maximização das consequências favoráveis e a minimização
das consequências desfavoráveis para os indivíduos a longo prazo.
O comportamento assertivo em uma situação normalmente tem como
resultado consequências favoráveis para as partes envolvidas. A pessoa
que agiu assertivamente pode ou não atingir objetivos, mas geralmente
sente-se melhor por ter sido capaz de expressar suas opiniões. A
manifestação clara da posição própria é provável que melhore a
probabilidade de que essa pessoa respeite tal posição e aja, então, em
consequência.
É provável, também, que aconteçam consequências favoráveis para a
pessoa que é objeto do comportamento assertivo em uma situação.
Essa pessoa recebe uma comunicação clara e não-manipuladora, em
contraste com a comunicação implícita ou não-expressa transmitida no
comportamento não-assertivo. Além disso, ele/ela recebe um pedido de
novo comportamento, o que é característico da agressão. Como
resultado, há poucas possibilidades de uma má interpretação. Embora a
outra pessoa possa não estar de acordo, não aceitar ou não gostar do
que expressa o comportamento assertivo (“Amo você”, “Gosto da sua
roupa”, “Estou incomodado porque você esqueceu de me ligar, como
disse que faria”, “Prefiro não emprestar meu carro”), a maneira como se
expressa não nega seus direitos, não rebaixa e não o força a tomar a
decisão por outro ou a tomar a responsabilidade pelo comportamento de
outra pessoa.
O indivíduo que se comporta de forma assertiva, em geral, se defende
bem em suas relações interpessoais, está satisfeito com sua vida social
e tem confiança em si mesmo para mudar quando for necessário.
Fundamental para se comportar assertivamente é dar-se conta tanto de
si mesmo como do contexto que o rodeia. Dar-se conta de si mesmo
consiste em “olhar para dentro” para saber o que quer antes de olhar ao
redor para ver o que os demais querem e esperam em dada situação.
Porém, como assinalamos anteriormente, uma vez, que o indivíduo sabe
o que quer, tem de considerar as consequências de seu comportamento
a curto e longo prazos e respeitar os direitos dos demais.
Em geral, o resultado do comportamento assertivo é uma diminuição da
ansiedade, relações mais íntimas e significativas, maior o respeito a si
mesmo e melhor a adaptação social.
Porém, sob certas circunstâncias, a utilidade pessoal de uma asserção.
Como assinalam Alberti e Emmons (1978): “É convicção nossa que cada
pessoa deveria poder escolher como agir. Se alguém pode agir
assertivamente sob determinadas circunstâncias, mas escolhe não fazê-
lo, atingimos nosso objetivo (o de “ensinar as pessoas a se comportar de
forma assertiva”)... Se, ao contrário, você for incapaz de agir
assertivamente (p. ex., não pode escolher como se comportar, mas se
acovarda com a não-assertividade ou explode na agressão), será
governado pelos demais e sua saúde mental se ressentirá. Nosso
critério mais importante para seu bem-estar é que você faz a escolha”
(p. 100).

2. O comportamento não-assertivo
O comportamento não-assertivo implica a violação dos próprios direitos
ao não ser capaz de expressar honestamente sentimentos,
pensamentos e opiniões, permitindo aos demais que violem nosso
sentimentos, ou expressando os pensamentos e sentimentos de
maneira autoderrotista, com desculpas, com falta de confiança, de tal
modo que os demais possam facilmente não dar atenção. Nesse estilo
de comportamento, a mensagem total que se comunica é: Eu não conto
– pode se aproveitar de mim. Meus sentimentos não importam –
somente os seus. Meus pensamentos não importantes – os seus são os
únicos que valem a pena ser ouvidos. Eu não sou ninguém – você é
superior.
Acompanhando a negação verbal, em geral, ocorrem comportamentos
não-verbais não assertivos, como evitar o olhar, um padrão de fala
vacilante, um baixo volume de voz, postura corporal tensa e movimentos
corporais nervosos ou inapropriados.
A não-asserção mostra uma falta de respeito às próprias necessidades.
Também mostra, às vezes, uma sutil falta de respeito à capacidade da
outra pessoa para lidar com as frustrações, assumir alguma
responsabilidade, lidar com os próprios problemas etc. O objetivo da
não-asserção é apaziguar os demais e evitar conflitos a todo o custo.
Inclusive, quando a não-asserção custa as pessoas sua própria
integridade, a consequência imediata de permitir que os indivíduos
evitem ou escapem dos conflitos causadores de ansiedade é muito
reforçador.
Comportar-se de forma não-assertiva em uma situação pode ter como
resultado uma série de consequências não-desejáveis tanto para a
pessoa que está se comportando de maneira não-assertiva como para a
pessoa com quem interage. A probabilidade de que a pessoa que se
comporta de forma não-assertiva satisfaça suas necessidades ou de que
sejam entendidas suas opiniões encontra-se substancialmente reduzida
devido à falta de comunicação ou à comunicação indireta ou incompleta.
A pessoa que se comporta de forma não-assertiva sertir-se-á, com
frequência, incompreendida, não levada em conta e manipulada. Além
disso, pode sentir-se mal consigo como resultado de ser incapaz de
expressar ansiedade, depressão e baixa auto-estima. As pessoas que
normalmente se comportam de maneira não-assertiva em uma série de
situações pode desenvolver queixas psicossomáticas, como dores de
cabeça e úlceras de diversos tipos, devido à supressão de sentimentos
reprimidos. Além disso, depois de diversas situações nas quais um
indivíduo foi não-assertivo, é provável que acabe explodindo. Há um
limite para a quantidade de frustração que um indivíduo pode armazenar
dentro de si. Infelizmente, nesse ponto, a quantidade de incômodo ou ira
expressa não mantém, com frequência, proporção com a situação real
que detona a explosão.
Quem recebe o comportamento não-assertivo pode experimentar,
também, uma variedade de consequências desfavoráveis. Ter de inferir
constantemente o que está “realmente dizendo” a outra pessoa ou ter de
“ler os pensamentos da outra pessoa” é uma tarefa difícil e confusa, que
pode gerar sentimentos de frustração ou de incômodo ou ira com
relação à pessoa que se comporta de forma não-assertiva. Preocupar-se
ou sentir-se culpado por estar se aproveitando da pessoa que não diz
realmente o que quer dizer é desagradável e pode ter como resultado
um debilitamento de possíveis sentimentos positivos que se possam ter
para com essa pessoa. Finalmente, é uma carga pesada ter a
responsabilidade de tomar decisões pela pessoa e logo ver que ele/ela
pode não estar satisfeito(a) com as escolhas que o outro fez.
O indivíduo que se comporta de maneira não assertiva costuma ter uma
avaliação de si mesmo inadequada e negativa, sentimentos de
inferioridade, tendência a manter papéis subordinados em sua relações
com os outros, tendência a ser excessivamente carente do apoio
emocional dois demais e ansiedade interpessoal excessiva. Esse
indivíduo sentir-se-á insatisfeito, achando as relações com outros seres
humanos entediantes ou não muito confortáveis. Essa pessoa estará
frequentemente fazendo cosias que não deseja fazer. Está tensa e não
sabe como relaxar. Queixa-se quando é criticada na presença de outros,
mas também não quer ser criticado quando está só. A pessoa que tem
as multidões também tem os indivíduos. Tem constantemente medo de
estar incomodando as pessoas e chamando a atenção. Teme estar
ocupando muito espaço e respirando muito ar.
Como diz Salter (1949), as pessoas que se comportam de forma não-
assertiva tratam de ser tudo para todo mundo e acabam não sendo nada
para si mesmos. São camaleões, tratando de agradar todos com quem
estão. Expressam tudo, menos o que sentem. Acham difícil dizer “não”.
São agradáveis. Tratam de ser amigáveis para todos e, quando são
recusados, sabem que por sua própria culpa. Consideram a si mesmos
de mente aberta, tolerantes e democráticos. São honestos
intelectualmente, mas emocionalmente são uns mentirosos. Sua cortesia
é uma fraude. Nunca se sabe o que passa em sua cabeça e isso não
conduz a relações calorosas. Estão sempre analisando e planejando.
Interagem com seu ambiente depois de deliberá-lo, porque não podem
agir espontaneamente. Não estão certos dos sentimentos que têm sobre
nada. São pessoas passivas.

3. O comportamento agressivo
O comportamento agressivo implica a defesa dos direitos pessoais e a
expressão dos pensamentos, sentimentos e opiniões de tal maneira que,
com frequência, é desonesta, normalmente inapropriada e sempre viola
os direitos da outra pessoa.
O comportamento agressivo em uma situação pode ser expresso de
maneira direta ou indireta. A agressão verbal direta inclui ofensas
verbais, insultos, ameaças e comentários hostis ou humilhantes. O
componente não verbal pode incluir gestos hostis ou ameaçadores,
como cerrar os punhos, ou olhares intensos e ataques físicos. A
agressão verbal indireta inclui comentários sarcásticos, rancorosos e
murmúrios maliciosos. Os comportamentos não-verbais agressivos
incluem gestos físicos realizados enquanto a atenção da outra pessoa
dirige-se a outro lugar ou atos físicos dirigidos a outras pessoas ou
objetos. A vítima do indivíduo que apresenta regularmente agressão
passiva começará, mais cedo ou mais tarde, a sentir ressentimento e o
evitará. Indivíduos que manifestam padrões consistentes de
comportamento passivo-agressivo não prometem ter muitas relações
duradouras e satisfatórias (Rimm e Masters, 1974).
O objetivo usual da agressão é dominação e vencer, forçando a outra
pessoa a perder. A vitória é assegurada por meio da humilhação, da
degradação, de minimizar ou dominar e defender seus direitos e
necessidades. A mensagem básica é: isso é o que eu penso – você é
estúpido por pensar de forma diferente. Isso é o que eu quero – o que
você quer não é importante. Isso é o que eu sinto – seus sentimentos
não contam.
O comportamento agressivo é considerado, com frequência, como
comportamento ambicioso, já que se tenta conseguir os objetivos a
qualquer preço, afastando as pessoas e outros obstáculos no processo.
O comportamento agressivo tem como resultado a curto prazo, às
vezes, consequências favoráveis e, às vezes, desfavoráveis. Resultados
positivos imediatos incluem a expressão emocional, um sentimento de
poder e conquistar objetivos e necessidades sem experimentar reações
negativas diretas dos demais. Já que o comportamento é influenciado
mais facilmente pelas consequências imediatas, atingir objetivos
desejados por meio do comportamento agressivo provavelmente
reforçará esse estilo de resposta, com o que o indivíduo continuará se
comportando de forma agressiva no futuro, a não ser que os
sentimentos de culpa que possam aparecer sejam excessivamente
fortes. Resultados negativos imediatos podem ser sentimentos de culpa,
enérgica contra-agressão direta na forma de um ataque verbal ou físico
ou contra-agressão indireta sob a forma de réplica sarcástica ou olhar
desafiante. Porém, os efeitos desfavoráveis do comportamento
agressivo sobre o receptor são óbvios. Foram negados seus direitos.
Pode sentir-se humilhado, irritado ou manipulado. Além disso, o receptor
pode sentir ressentimento ou ira e buscar vingança por meios diretos ou
indiretos, como os assinalados anteriormente.
Por outro lado, as consequências a longo prazo, em geral são sempre
negativas, incluindo tensão na relação interpessoal com o outro ou a
evitação de futuros contatos com ele.
Já que a expressão de necessidades, direitos e opiniões próprios e a
consecução dos objetivos propostos podem ser atingidos a curto prazo
por meio de outro estilo de comportamento mais adequado, que além
disso minimiza os problemas a longo prazo, é preferível que as pessoas
se comportem de forma assertiva e abandonem os padrões de
comportamento agressivos, passivo-agressivos ou não-assertivos.

Retirado do Apêndice E, do livro:


Caballo, V. E. (2003) Manual de Avaliação e Treinamento das Habilidades Sociais. São
Paulo: Livraria Santos Editora.

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