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Capítulo 1 - Scarlet

"Pessoas conseguiriam voar?"

Eu realmente não sei, talvez um dia eu possa responder sua pergunta. É estranho ver tudo
tão sem graça, você tirou as cores do meu mundo, agora tudo que eu vejo é cinza. Eu era
uma criança feliz como todas as outras, tinha sonhos, esperança, eu sei que você ficou pior
depois que perdeu a sua esperança. Yoki era o nome dele, não era? Você perdeu sua
esperança e tirou a minha, mas não lhe culpo, afinal eu tive outra chance.

Era um dia cinza, como todos os outros, eu realmente queria responder sua pergunta. Eu
estava no alto do prédio do dormitório, aquele que nós sempre ficávamos, estava na
beirada. Era bem alto, eu sentia pouco frio, estava com o casaco preto que deixou para
mim. Quando eu o observei pela primeira vez, ele estava com um casaco branco com
detalhes rosa claro. Foi a primeira vez, em muito tempo, que percebi as cores, suas cores
eram sempre tão lindas e chamativas.

Por um momento eu não quis pular, abrir minhas asas imaginárias e voar em direção ao
vazio, então ele fez o percurso para dentro do prédio e o mundo voltou a ser cinza. Fazia
tempo que o meu mundo era cinza, três anos, eu acho, desde meus onze anos. Você tirou
as cores do meu mundo em um ano, ele me devolveu em segundos.

Naquele momento eu desci as escadas escondidas em meio a tralhas, minhas asas quase
não existiam, muito menos minha vontade de voar. Eu só queria ver novamente o menino
de sorriso triangular, queria ver as cores.

A primeira vez que ele falou comigo foi estranho.


"Qual sua cor preferida?"
Ele me perguntou com sua voz infantil, acho que só estava tentando puxar assunto, ou na
sua cabeça essa era uma pergunta importante. Mesmo assim lhe respondi.
"Não sei, eu só vejo cinza."
O rosto dele expressou confusão, se me lembrasse como fazia, soltaria gargalhadas.
"Como pode não ver, estão por toda parte."
Não consegui explicar para uma criança de apenas 10 anos como me sentia, não conseguia
fazer com ele o que fez comigo, então conversamos sobre outras coisas. Descobri que seu
nome era Kiran, lindo nome, um dos significados é raio de sol, combina com ele, pois ele
era meu sol.

Logo nos tornamos amigos, meu primeiro amigo desde você, foi estranho. Nesses dois
anos que você me deixou nunca mais conversei com ninguém, mas parecia errado ignora
ele. Qualquer mal parecia nunca chegar até ele, e mesmo sabendo que não iria continuar
assim, não queria que nenhum mal chegasse até ele. Sabe aquela frase que diz que as
histórias sempre se repetem, eu não queria que a minha se repetisse com ele e não seria
você nessa nova versão da história.

O Kiran sempre conversava com todos do orfanato, sempre trazendo alegria para todos. Eu
me sentia egoísta, sempre desejei ter ele só para mim, mas eu sabia que ele sempre iria me
escolher. Esse foi um pensamento meio equivocado, mas ainda não está nessa parte da
história. Ele me fez a pessoa mais feliz do mundo, não pensava mais em voar, mas não
abandonei nosso cantinho secreto, levei Kan até lá algumas vezes. Espero que isso não te
irrite, mas acho que você nem liga, você me abandonou. E acho que menti um pouco no
início, talvez eu lhe culpe um pouco por tirar as cores do meu mundo, eu sei que alguém
tirou a do seu também.

Sei que doeu ver o Yoki morto, sei que machucou ver as pessoas culpadas saírem impunes,
doeu escutar as pessoas te culpando, sei que dói toda vez que lembra, sei que doeu toda
vez que veio comigo para esse local onde você o perdeu. Mas você não pensou em como
doeu em mim quando você foi embora, não pensou em mim quando falou a primeira vez
que as pessoas não se importavam comigo ou com outro alguém, não se importou quando
aos poucos foi descolorindo meu mundo, aos poucos destruindo meus sonhos e levando
embora a minha esperança, do mesmo jeito que fizeram com a sua.

Eu sabia desde o início que nunca teria chances de ser adotado, quando cheguei no
primeiro orfanato tinha apenas quatro anos, as pessoas não adotam crianças maiores.
Passei um ano naquele lugar quando estava prestes a completar cinco anos me
transferiram para outro, nesse tinha crianças mais velhas, passei mais cinco anos nesse,
quando estava quase chamando aquele lugar de lar me transferiram para cá. Cheguei aqui
com dez anos e ainda tinha esperança de que alguém podia me adotar, até os onze quando
você me disse que nunca iriam adotar uma criança do meu tamanho e que eu iria para outro
orfanato, foi quando você o perdeu, não, você não, nós o perdermos. Acho que nisso você
estava errado.

Lembro do dia que ele chegou para mim com o rosto sorridente, suas cores estavam mais
claras, o dia não estava mais cinza.
"Me escolheram, Azi, eles me escolheram."
No primeiro momento não entendi, depois me lembrei que uma família estava para tentar
adotar uma criança, no meio de tantas não sei por que escolheram logo o meu Kiran. Na
verdade, eu sei ele é cativante, ele estava prestes a fazer onze anos. Me senti falso naquele
dia, ajudei a arrumar a mala e comemoramos juntos, não sei porque arrumar as malas
agora só iriam levar ele daqui a duas semanas. Kan disse ser por que queria aproveitar
seus últimos momentos comigo e não se preocupando com a mala.

Duas semanas depois ele foi embora, sei que deveria ficar feliz pelo meu amigo, mas eu
sou egoísta e só queria que ele ficasse comigo, tive outra chance e falhei. Não vou mentir
dizendo que fiquei feliz por ele, ele me abandonou como você, como meus pais, como
todos. E então meu mundo voltou a ficar cinza, mas algo estava diferente, além do cinza,
tinha outra cor, talvez um vermelho? Fraco, mas ainda assim era vermelho.

Segui esse vermelho para um local que não visitava faz tempo, o mesmo local que você
perdeu sua esperança, que eu perdi minhas cores, que eu as recuperei, e que eu encontrei
esse tom de vermelho vibrante.

Então abri minhas asas e voei, e agora descobri, Cam, pessoas não podem voar.

Mas esse é só o início da minha História.


Capítulo 2 - In The Hell.

Com certeza o vermelho predominava no local, um vermelho quente como fogo, um lugar
quente. Tudo nessa lugar queimava.

Tudo.

O corpo do garoto moreno também. O garoto se encontrava em uma cama flamejante, para
alguns poderia ser uma tortura horrível, para o garoto era até aceitável de tanto tempo que
estava no local. Mas como nem tudo é perfeito, logo mais algum demônio apareceria para
trocar seu castigo.

Já estava naquele lugar a séculos, pelo menos pareciam séculos. O garoto, ou melhor, Aziel
já havia ouvido sobre aquele lugar. Nos dias de domingo, na sua antiga "casa", sempre
tinha pequenos cultos que falavam sobre aquele lugar. O inferno, sua nova moradia e
moradia de todos os suicidas.

Deveria sofrer no inferno por desistir de sua vida, pela eternidade. Ou até a tortura acabar, o
moreno não percebeu quando mais alguém entrou na sala, o fogo logo se apagou e a cama
em que se encontrava virou uma poltrona, não consumida pelo fogo.

O garoto se assustou, já estava acostumado com as torturas constantes por isso não
relaxou. Viu um homem se aproximar de si, com um sorriso no rosto, não um maligno como
estava presente no rosto dos outros demônios, um sorriso carismático. Também não era
como os outros na aparência, os outros eram feios, deformados e tinham cheiro de enxofre,
esse era humano, ainda com a áurea maligna, mas de aparência humano. Ele usava um
terno escuro, longos cabelos cacheados vermelhos e tinha um óculos cobrindo seus olhos.

- Olá garoto, como se chama? - perguntou o demônio de forma calma. Vendo que o garoto
continuava calado prosseguia - Ok, não precisa falar se não quiser, me chamo Daemon,
belo nome para um demônio, certo? Só queria iniciar uma conversa, Azi, seus pais não te
deram educação?

O garoto sabia que seria só mais uma tortura psicológica, por isso mesmo com raiva não
demonstrou. O demônio deu uma risada meio constrangida, como de alguém que lembra de
algo depois de falar uma besteira.

- Oh! Desculpe esqueci que você era de um orfanato, certo? - vendo que o mais novo não
falaria nada, continuou. - Bem que disseram que tortura psicológica não funcionária em
você, então melhor partir 'pra outra, certo?

Terminou de falar e soltou um sorriso de lado, antes do menino perceber uma dor se
apossou de seu corpo inteiro, soltou um grito alto, mas logo se calou, trincou os dentes e
parou de se mexer, não daria o gostinho para mais aquele demônio. Estava naquele lugar a
tempo suficiente para saber que isso os irritava, e querendo ou não, havia se tornado um
hobby. Sem querer se gabar, ele era bom nisso, se surpreendeu quando a dor parou de
repente e diferente do que imaginava o demônio não estava irado ou querendo arrancar sua
cabeça, acredite isso já aconteceu mais de uma vez.
Ele estava sorrindo, um sorriso alegre, o mais novo nem sabia que um demônio podia sorrir
tanto, sorria como se tivesse orgulhoso de um filho.

- Parece que o que falavam de você é verdade, um garoto do seu tamanho aguentando a
pior das minhas torturas? - falou em tom de deboche. - Qualquer outra alma presa nesse
inferno iria implorar por clemência.

Então porque não vai tortura elas? - Pela primeira vez o moreno falou, sua voz estava
rouca. - Se essa é sua pior tortura, aposto que deve ser fácil encontrar alguém que implore.

O sarcasmo estava presente em suas palavras, mas por dentro sabia que aquele era uma
tortura terrível, era a primeira que o fazia gritar desde que começou com essa "brincadeira".
Daemon soltou uma risada alta, como se estivesse escutado a melhor das piadas.

- O que falaram de você, não é nem um terço do que é de verdade. Falou em tom
brincalhão. - Eu gostei de você, garoto, só tem um problema.

O demônio ficou sério, pela primeira vez, e terminou sua fala.

- Você sente medo, mesmo que não demonstre. - viu o garoto ficar pálido, tinha descoberto
sua fraqueza. - Eu posso mudar isso, se você quiser é claro.

Aziel, você quer se tornar um demônio?

○●○●

Daemon levava o mais novo por um corredor escuro, gritos altos eram escutados atrás de
cada porta, o garoto obviamente não confiava no demônio, mas percebia que era sua única
chance de sair daquele inferno, literalmente. Passaram por vários corredores, até chegarem
em um completamente cinza, Aziel amava aquela cor. Pouco depois dos gritos sumirem
eles passaram por uma porta negra e entraram em um escritório.

- Não gosto dos gritos, é ruim 'pra se concentrar. - falou como se aquilo explicasse tudo. - A
transformação vai doer, mas nada que você ainda não tenha sentido.

Azi revirou os olhos, esse era o demônio mais humano que ele já havia visto, e acredite ele
já viu vários. Sentou se na cadeira que o demônio indicava e observou ele se sentar do
outro lado da mesa.

- Pode perguntar, eu sei que você quer perguntar. - Falou o ser das trevas.

O garoto se perguntava mentalmente se aquele demônio podia ler mentes, estava com
algumas perguntas na cabeça desde que saiu de sua "cela". Após pensar um pouco,
perguntou, sua voz saiu baixa e rouca pelo pouco uso.

- Por que eu? - questionou.


- Você chamou minha atenção. - vendo que o garoto continuava curioso, deu um sorriso de
lado e prosseguiu. - Não tem muitos garotos da sua idade aqui no inferno, muito menos
almas que fique tanto tempo aqui sem enlouquecer. Você é especial e eu te quero no meu
time quando chegar a hora.

Terminou de falar e viu que o garoto ainda tinha curiosidade, fez sinal para fazer suas
perguntas.

- Há quanto tempo eu estou aqui? Você falou que eu estou há muito tempo. - a voz do
garoto já estava ficando menos rouca.

- Em anos terrestres três. - Deu uma pausa e sorriu ao final da frase. - Em anos infernais
3000. O tempo aqui passa mais devagar.

- Por que você é diferente dos outros demônios?

- Isso é porque eu sou diferente deles, 'pra explicar vai ser um pouco longo. - Continuou
falando como quem conta uma história para uma criança. - Existem três categorias
demônios, os caídos, os obscuros e os transformados. Os caídos são basicamente os anjos
caídos lá do início da criação. Os obscuros são almas "compradas" que passaram tempo
demais no inferno é meio que... apodreceram? Acho que sim, esse são o que você está
acostumado.- Terminou dando de ombros.

Deu uma pausa olhou para o garoto vendo que ele ainda parecia confuso.

- E os transformados que são escolhidos pelos caídos para serem transformado em


demônios, esse vai ser seu tipo. - Terminou sua fala apontando para o garoto.

O garoto abaixou a cabeça, pensou um pouco, encarou os olhos cobertos pelo vidro escuro
e soltou um sorriso de lado.

- Então, quando começamos?

Capítulo 3 - Let me tempt you?

O garoto de beleza infernal beijava calorosamente a ruiva mais velha, o Aziel não lembrava
seu nome, mas isso não importava. Seu trabalho era seduzir uma mulher, que se casou
jovem, virgem, pura e bondosa, criada na igreja. Tinha tudo para conseguir ir para o céu,
mas essa oportunidade foi tirada de si por um jovem demônio. Horas após o moreno deixou
a ruiva, ainda dormindo na cama, com a sensação de trabalho bem feito.

Entrou no carro preto e foi para o lugar que havia marcado de se encontrar com seu mentor,
chegando lá entrou no restaurante e pediu para leva-lo para a mesa reservada. Foi deixado
em uma sala com uma mesa baixa e um tapete macio para se sentarem, sentou e aguardou
a chegada do ruivo.

- Olá Aziel, como vai? - Escutou a voz e virou se para cumprimentar Namjoon.
- Olá, Dae, sente-se, quer que eu chame o garçom para você pedir algo? - Perguntou o
moreno no tom de flerte que já havia se habituado.

- Azi, faça me o favor de não usar esse tom comigo. - Falou como se desse uma bronca e
depois prosseguiu em tom malicioso. - Afinal já lhe ensinei tudo que tinha que saber nesse
quesito.

- Só estou sendo educado, Dae. - falou com um sorriso no rosto e completou em tom baixo.
- Mas eu não reclamaria em repetir.

O ruivo chamou o garçom e pediu o menu, logo em seguida entregando para o mais novo.

- Pode escolher, as comidas desse restaurante são ótimas. - falou. - Tirando a salada de
vinagre, o resto é uma delícia.

O garoto fez seu pedido e esperou o demônio fazer seu pedido uma garrafa de whisky
como sempre.

- Como você sempre escolhe os melhores restaurantes? Eu nunca vejo você comer. - Aziel
perguntou, não sabia muito sobre a vida de seu mentor a não ser que era um anjo caído e
mais velho que o mundo.

- Talvez um dia eu conte. - Falou calmamente. - Mas creio que saiba que não chamei você
aqui só pra aproveitar a boa comida.

O garçom serviu os dois, enquanto isso os dois permaneceram em silêncio. Os próximos


segundos após o garçom sair da sala se passaram no completo silêncio, o moreno se sentia
eufórico como não se sentia a tempos, sabia que finalmente chegou a hora. Ele ía se vingar.

○●○●

O céu estava cheio de estrelas, o garoto loiro observava as mesmas, Cam pensava que em
todo o mundo não havia visão mais linda.

- Cam, eu estava te procurando. - Yoki entrou no terraço pela porta cinza escondida por
tralhas.

Os pensamentos do loiro mudaram, o céu estrelado era lindo, mas o sorriso que o mais
novo exibia era perfeito. Continuou observando o mesmo em silêncio até ele se sentar ao
seu lado na beirada do prédio antigo.

- Não conseguiu dormir de novo. - o que era para ser uma pergunta saiu em uma afirmação.
Era comum isso acontecer ao mais velho, Yoki perderá as contas de quantas vezes veio
acompanhar Cam até aquele local, as vezes para conversar, as vezes só pra olhar as
estrelas.
- Não seria legal se a gente pudesse voar? Chegar perto das estrelas? - O loiro falou
direcionando o olhar que estava preso no garoto de cabelos castanhos para o céu
novamente.

O moreno soltou uma pequena risada, não era a primeira vez que o garoto lhe perguntava
aquilo e provavelmente não seria a última, olhou para as estrelas brilhantes e repetiu a
promessa que sempre fazia.

- Quando eu crescer vou te levar pra olhar as estrelas de perto, eu prometo.

Os garotos permaneceram naquele lugar até o raiar do sol, quando tiveram que sair, pois se
atrasassem para a chamada ficariam de castigo. As irmãs odiavam quando os órfãos se
atrasavam para o culto de domingo.

○●○●

Cam se encontrava no mesmo lugar, em cima do prédio antigo, não olhando as estrelas,
mesmo sabendo que elas estavam lá era impossível as observar naquela hora do dia.

- Cam, eu quero te apresentar à alguém. - o mais novo entrará novamente pela porta, mas
diferente de todas as outras vezes, ele não estava sozinho.

Seguindo o castanho estava um garotinho de uns dez anos, ele era pequeno e tinha os
dentes de coelho, era fofo e parecia ser novato. Era comum o mais novo fazer amizade com
os novatos, mas ele nunca trazia eles aquele canto, aquele era o esconderijo dos dois. Cam
sentiu uma pontada de ciúmes em seu peito, se Yoki o levou até ali aquele pequeno novato
era especial para si.

-Esse é o Aziel, eu conheci ele em outro orfanato. Ele era pequeno então não lembra muito.
- Falou com um sorriso iluminado, sorriso esse que até então o ex-loiro, agora
estranhamente com cabelos em um tom de azul, achava ser só para si, sendo direcionado
para o garoto desconhecido.

A pontada de ciúmes fez o azulado não dar o sorriso pequeno, que fogia de seus lábios
sempre que via o mais novo. Apesar de conhecer o menino de cabelos negros a pouco
tempo não gostava dele, mas mesmo assim passou aquele fim de tarde na companhia dos
dois outros garotos.

○●○●

Pela terceira vez nessa história os dois amigos se encontravam no prédio antigo, Yoki não
se encontrava com o seu costumeiro sorriso, pela forma de agir, ele estava nervoso.

- Cam, eu gosto de você. - Falou olhando para as suas mãos, sentia-se incapaz de olhar
nos olhos do garoto de cabelos cinzas.

Cam sentiu o coração acelerar e o ar faltar em seus pulmões, fechou os olhos e respirou
fundo, antes de abrir os olhos novamente. Não podia ter certeza de que o castanho falou
nesse sentido, não podia arriscar, se o mais novo não tivesse falando nesse sentido
perderia aquela amizade.

- Eu também gosto de você, Yoki. - Falou vendo o rosto do mais novo se iluminar. - Você é
meu amigo.

Yoki de repente se sentiu triste novamente, pensando que o outro estava lhe dispensando.

- Mas eu não quero ser seu amigo. - Cam completou, as lágrimas finalmente rolaram de
seus olhos, molhando seu rosto. Cam soltou uma risada se aproximou do mais novo e
enxugou suas lágrimas antes de completar a frase. - Eu quero ser seu namorado.

O choro continuou, porém agora era acompanhado de um lindo sorriso, o de cabelos cinzas
segurou o rosto do mais novo e selou seus lábios, finalmente dando o primeiro beijo.
Desajeitado, porém perfeito para ambos.

○●○●

Agora, os namorados se encontravam no prédio, Yoki estava sentado no chão com o mais
velho sentado em seu colo, eles observavam as estrelas. O loiro se virou, observou o rosto
do mais novo antes de colar seus lábios em mais um de muitos beijos. Eles não escutaram
a porta ranger como sempre fazia, estavam distraídos em meio a tantos beijos.

- Olha, eu falei que esses dois viadinhos iam estar aqui! - O menino desconhecido chegou
acompanhado de outros dois, todos tinha o dobro do tamanho dos mais novos.

Os namorados se separaram de supetão, se levantaram do chão, Yoki se colocou em frente


do mais baixo, protegendo. Os garotos gargalharam.

- Own, ele quer proteger o namoradinho. - Falou o garoto do lado esquerdo em tom irônico.
- Que fofo.

- Segurem o baixinho! - O do meio voltou a se pronunciar.

Yoki continuava em frente do mais velho, deu um soco no garoto que se aproximou, porém
não adiantou muito o garoto o empurrou fazendo o moreno bater as costas contra a
pequena mureta que tinha ali. Yoki sentiu a vista turva, quando sua visão melhorou
percebeu que os dois garotos seguravam o loiro. Cam se encontrava com o rosto vermelho
e molhado pelas lágrimas, dois dos garotos o seguravam pelos braços enquanto o outro
estava em sua frente o observando.

- Então, o que podemos fazer com ele? - falou para os outros dois garotos com um sorriso
malicioso nos lábios.

O moreno, sem pensar e com medo que pudessem machucar o mais velho, se jogou para
cima do "Líder" e tentou afastar ele de seu amor, bateu e puxou o outro. O mais velho o
jogou de novo perto da beirada do prédio, mudou de opinião e gritou para os amigos que
podiam se divertir com o "loirinho", pois ele ia ficar com o "moreninho". Yoki sentiu um
arrepio passar pelo seu corpo, não sabia o que aquelas frases sugnificavam, porém não
eram boas.

Ainda com o intuído de proteger o mais velho, se viu em uma luta corporal com o garoto,
estava perdendo, o garoto mais alto acabou empurrando o moreno para a beirada do prédio
novamente, com a intenção de assustar Yoki, o garoto correu em sua direção. Yoki não
percebendo que estava prestes a cair do prédio deu mais um passo para trás, esse foi seu
erro, a última coisa que escutou antes do pequeno murro bater em suas pernas foi seu
amado gritando seu nome. Logo sentido a gravidade fazer efeito em seu corpo e ser puxado
para o chão.

○●○●

Cam olhava as estrelas, porém não tinham o mesmo brilho, desde que seu amado caiu
daquele prédio e morreu. Não ia aquele lugar desde o dia do acidente, olhava as estrelas no
pátio do orfanato. Na sua mão tinha um pedaço de sanduíche que pegou na cozinha, não
conseguia comer em paz junto as outras crianças, ele escutava as fofocas.

Aquelas crianças falavam que ele tinha jogado o amigo de cima do prédio, as cuidadoras do
orfanato tinha considerado suicídio, e os garotos que tinham o jogado do prédio saíram
impunes, afinal não eram do orfanato, eram filhos de professores. O moreno comia o
sanduíche devagar, estava tudo calmo, até que ele escutou uma voz.

- Cam, posso ficar aqui? - O garotinho moreno de dentes de coelho chegou e se sentou do
lado do mais velho após ele afirmar.

O garoto tremia de frio, ele tinha somente uma camisa fina no corpo, Cam retirou o casaco
preto que estava em seu corpo entregando ao mais novo, Yoki não ia gostar se deixase o
seu "filhote" ficar doente. O mais novo agradecido, colocou o casaco.

- Também não esta conseguindo dormir? - O mais velho confirmou com a cabeça e o
moreno prosseguiu. - Eu também não, Yoki sempre ficava comigo até eu dormir.

Como se ao ouvir o nome do outro garoto fizesse tudo voltar, Cam sentiu os olhos arderem
e antes que chorasse em frente ao mais novo, correu para o seu esconderijo. Antes de
estar longe o suficiente escutou o moreno gritar algo sobre estar frio, porém ele nao sentia
frio, ele não sentia nada.

○●○●

O moreno parou o carro escuro em frente a casa simples, todo o bairro era simples pra falar
a verdade, a casa estava muito danificada, com pedaços da parede com buracos e sem
pintura, tinha uma porta de madeira gasta e caindo pedaços. O lugar não parecia agradável
para se morar, Aziel abriu a porta, não tinha a chave mas isso não era um problema, não
depois que se transformou. O lugar por dentro também não era agradável, os móveis
pareciam estar alí à décadas, tudo estava bagunçado, havia papéis em cima da messa e
algumas roupas jogadas no chão.
O demônio se sentou em uma poltrona no canto da sala enquanto esperava seu velho
amigo, fez surgir um copo de whisky em sua mão e tomou sua bebida sentindo o álcool
queimar sua garganta, não era muito de beber mais aquele momento merecia, afinal depois
de dois anos esperando sua vingança iria começar.

Após um tempo, escutou a voz do seu amigo, ele parecia discutir com alguém sobre algum
pagamento atrasado, no final ouviu uma batida de porta e o mais velho dizendo que não
tinha muita diferença morar naquela casa ou na rua. O moreno sorriu ao entender do que se
tratava, talvez aquilo até ajudasse em seu plano, escutou os passos vindo em direção a
sala, e não se surpreendeu ao ver a face de Cam se tornar aterrorizada por ver alguém
desconhecido em sua casa.

- Olá, sentiu saudades? - falou calmamente - acho que faz uns anos que não nos vemos.

- Q-quem é você? - falou com a voz falha, não lembrava daquele rosto perfeito, ou da voz
que fazia suas pernas falharem.

- Oh, desculpe, mudei muito nos últimos anos. - Aziel levantou e ofereceu a mão para o
mais velho. - Aziel.

O rosto do esverdeado foi tomado pelo pavor, a anos atrás viu o corpo do jovem garoto no
jornal, morto. Aziel percebeu o medo do loiro e riu levemente, não esperava essa reação,
em sua cabeça, Achou que ele não se preocuparia em iria procurar por notícias de sí.

- Sei que pensa que estou morto, bem, eu estou. - Afirmou, continuou. - Mas essa não é a
questão, não se preocupe, não estou aqui pra assombrar você.

- E-então por que está aqui? - perguntou o mais velho depois que o moreno continuou em
silêncio.

- Estou aqui pra oferecer um acordo, o pessoal pra quem trabalho faz contratos. - O moreno
falou voltando a se sentar na poltrona e convocando uma pequena maleta. - Ou pactos,
como preferir.

- Você quer que eu venda minha alma, ou coisa do tipo? - falou em tom risonho. - Isso é
algum tipo de brincadeira?

- Brincadeira nenhuma, se você aceitar será o maior produtor musical do mundo. Só precisa
dar uma pequena coisa em troca, uma coisa que não sentirá nem falta.

Cam percebeu que não era uma brincadeira, os olhos do garoto a sua frente tinha mudados
do habitual castanho para um vermelho sangue. O loiro sentiu o ar faltar, só de olhar para
os olhos do Jeon sentia dor, raiva, medo, sentia todo seu corpo queimar.

- Ok, o que eu preciso fazer? Cortar a mão, te dar um beijo? - o esverdeado pensou não
tinha nada a perde, e a ambição consumindo seu corpo, se tornar o maior produtor musical
do mundo, era seu sonho.
- Acho que está assistindo muita séries. - O moreno falou após soltar um sorriso, retirou um
papel e uma caneta da maleta em seu colo. - Tudo que precisa fazer é assinar esse papel.

O esverdeado pegou ambos os objetos oferecidos, assinou o papel e em segundos viu


mesmo se esvair em fumaça na sua frente. O moreno riu novamente da cara de espanto do
mais velho, se aproximou do mais baixo.

- Certo, o contrato está feito, será o maior produtor musical do mundo, rico e famoso, além
de conseguir levar para cama qualquer humano que desejar.

Foi em direção a saída, mas voltou no meio do caminho como se esquecesse de algo,
chegou perto do mais baixo e sussurrou em seu ouvido.

- O último não funciona comigo, mas se ainda quiser me beijar. - afastou o rosto um pouco e
mordeu o lábio inferior para atiçar o mais velho.

Os olhos de Cam desceram para a boca do mais novo, sem pensar muito, puxou a camisa
do mais novo, sentindo as bocas se chocarem com violência, mordeu o lábio inferior dele,
sentiu o gosto de sangue antes de sentir a língua habilidosa explorando todos os cantos da
sua boca. Se separou do outro pela falta de ar, sua respiração estava acelerada, já a de
Aziel estava normal. O desejo ainda estava alí, talvez houvesse se intensificado, sentiu a
mão quente do moreno entrando por baixo de sua camisa e o olhar desejoso do mesmo
antes de se beijarem novamente.

Em pouco tempo os dois está no quarto, gemidos eram escutados, havia mais roupas
espalhadas pelo chão e a única coisa que Cam tinha em sua mente era que nunca tivera
uma noite tão boa. Já na de Aziel, ele tinha certeza que em cinco anos parte de sua
vingança estaria completa, seu mentor se encarregaria de Cam pessoalmente, esperaria
um pouco mais a tortura dele duraria a eternidade.

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