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A apresentação da leitura de Cristianismo e liberalismo tem por objetivo apontar o modo como John Gresham Machen
identifica o liberalismo moderno como uma outra religião diferente da cristã. Aponta à religião cristã, os dogmas,
doutrinas e a história neotestamentária como elementos fundamentais e inseparáveis caracterizadores desta Religião.
Portanto, negá-los é negar todo o fundamento cristão.
Por que ler Machen hoje? Quando igrejas e seminários teológicos sucumbem desacreditados dos dogmas e da
veracidade dos relatos bíblicos, sem saberem a que se agarrar, o teólogo desafia a modernidade apresentando a
Com Machen, a “fé conservadora” ergue a sua cabeça, não apenas para apontar os erros hermenêuticos e exegéticos
(eixegéticos) modernos, mas também firmar a veracidade das Escrituras. E J. G. Machen não faz isto para se justificar
das acusações recebidas da teologia liberal ou neo-ortodoxa nos séculos XIX e XX. pelo contrário, Machen procura
colocar a fé conservadora sobre uma base de tal autoridade capaz de ser objetivamente plausível e analisável, em nada
Acredita que esta fé poderá sobressair às duas correntes teológicas posteriores a ela. Pelo menos, assim julga ao expor
que o seu “objetivo não é o de decidir a questão teológica dos dias atuais, mas, tão somente, apresentar a questão da
maneira mais vívida e clara possível, para que o leitor possa ser auxiliado a decidir por si mesmo”. 1 Deste modo, para
Curiosamente, Machen não aponta as influências do Iluminismo sobre a teologia intra ou extra-eclesiástica; afirma
apenas que o surgimento do liberalismo teológico deveu-se às mudanças sociais e intelectuais surgidas no século XIX.
Conjuntamente às grandes invenções e ao industrialismo, as ciências surgidas com o especificismo 2 do conhecimento
humano em diferentes esferas, grassaram à fé e o orgulho de fazer parte deste momento histórico promoveu erosões
profundas à fé cristã.
Tantas convicções tiveram de ser abandonadas que as pessoas acreditam que todas elas devem ser deixadas de lado.
[…] o Cristianismo, durante muitos séculos, tem apelado para a veracidade de suas afirmações, não meramente nem
mesmo primariamente segundo experiências atuais, mas de acordo com certos escritos antigos, dos quais o mais
O fato de a religião cristã ter como base as Escrituras, frente à ciência contemporânea, ela não se retira e assiste
alienada, de longe, o progresso desta como um inimigo capaz de lhe calar a voz. Àqueles que consideram a fé cristã
(ortodoxa) como opositora à ciência e exige que ela siga por campo isolado do saber científico devem ser censurados,
pois, “a religião se tem baseado em diversas convicções, especialmente na área histórica, que podem ser assuntos de
investigação científica”.4 Não é acerca de tal investigação que os teólogos liberais foram levados a buscar a “essência
do cristianismo”? Encontrar o “Jesus Histórico” dentre as flores do mito apostólico? Todavia, seria eficaz provar que o
Segundo Machen, a questão não é tão somente impor o cristianismo como um fenômeno antropológico ou objeto de
análise psicológica. Não se trata de fundamentar a fé cristã como objeto da filosofia da religião. Os campos científicos
não se contentam em apenas estudar a superfície da fé cristã. É sabido que o materialismo moderno, logo que possível,
se oporá tanto ao idealismo filosófico do pregador liberal quanto à fé nas doutrinas bíblicas.
Logo, o liberalismo teológico se apresentará como uma tentativa frustrada de manter o cristianismo confiável à geração
vigente. Esta tentativa servirá, apenas para nos dar a certeza de que o liberalismo teológico, mesmo com todo o seu
esforço intelectual para apresentar a “religião cristã’ como racional, não é nem cristão, nem científico”. 5
O argumento é lógico, uma vez que ao tentar a conciliação entre cristianismo e ciência moderna, o teólogo liberal
abandona o que é característico à fé cristã: a crença no Salvador pessoal, bem como a historicidade factual da fé cristã;
isto é, a ressurreição não só é dogma, mas também parte essencial da história 6. O cristianismo não dicotomiza da
história aquilo que é factual do que é evento. Cruz e ressurreição são elementos plenamente cabíveis numa mesma
história.7
É deste modo que a própria necessidade dos milagres é exigida. Dizer que milagres não são possíveis, pois a História
não lhe dá espaço numa existência onde o próprio Criador se condiciona a necessidade ‘situacional’, é ter como a única
opção o misticismo ou imanentismo ou, até mesmo, o ateísmo. 8 Seria negar o conteúdo bíblico, bem como, definir o
Deus bíblico como simplesmente humano. Esta divindade é imanente, mas não transcendente. Não é sem razão que o
melhor consolo à razão humana seria aceitar o Cristianismo como um estilo de vida, mas não como uma doutrina. 9
Assim, resulta claro o caminho o qual Machen trilhará: nem cristão, nem científico; o liberalismo teológico é uma outra
religião cujos fundamentos não procedem de uma fé propriamente histórica. Alimenta-se da estrutura de outra religião
cuja vida engendra-se na história dos homens exigindo-lhes fé, mas suas raízes são outras. “O liberalismo moderno não
somente é uma religião diferente do cristianismo, mas pertence a uma classe totalmente diferente de religiões.” 10 Falta-
lhe a fé cristã e a agradável utilização da razão. Mas, é fato que seu fundamento histórico se deve à religião cristã, sem
a qual ele não conseguiria sobreviver. Caso fosse o contrário; caso fosse o cristianismo que dependesse do liberalismo
Se pudéssemos imaginar uma situação na qual toda pregação fosse controlada pelo liberalismo, o que já é
preponderante em muitos lugares, cremos que o cristianismo já teria desaparecido da face da terra, e o Evangelho já
cujo fundamento é as Sagradas Escrituras. A procura de elevar a fé cristã a uma certa posição de intelectualidade e
razão histórica (perdida no kerygma do cristianismo primitivo), per si mesmo, o liberalismo moderno tornou-se num
misticismo moderno13, cujas bases dependem d’outra religião 14 à qual julga infantil.15
A base argumentativa na qual Machen sustenta a proposição de que o Liberalismo moderno não é Cristianismo está no
Dogma e na História bíblica, presentes desde o princípio na Igreja Primitiva. Segue numa exposição intrinsecamente
bíblica,16 expondo a proposição em seis pontos. Destes pontos, funda-se a proposição sobre as perspectivas
dogmáticas e históricas dos evangelhos como factuais à situação 17 humana. Uma mente arguidora perceberá
facilmente que cada capítulo de Cristianismo e liberalismo reforçam a ideia de que o Liberalismo moderno é
inconsistente para consigo mesmo, uma vez que exclui os dogmas centrais da fé cristã. Não é sem mais que Gresham
retoma sempre, em cada capítulo, às “pressuposições da mensagem da fé cristã.” É ratificada a ideia da impossibilidade
O Jesus histórico que os teólogos liberais diziam encontrar é estranhamente ausente nas mensagens da Igreja
ideia kerigmática dos apóstolos, até mesmo as mais restritas narrativas com informações das ações e relações
eclesiásticas (desprovidas do aspecto do Cristo divino), entre a incipiente Igreja e os discípulos, também deveriam ser
desconsideradas.19 Pois, é possível, ainda que com lentes puramente históricas, observar que havia um relacionamento
de comum acordo entre os apóstolos quanto a Jesus ser mais do que um exemplo ético de filiação divina. 20
Ora, os teólogos liberais e conservadores concordam, ao menos, que a questão crítica às epístolas paulinas confere
com os dados históricos. Paulo teve contato com aqueles homens que, de alguma forma, seguiram a Jesus de Nazaré.
Então, pelos escritos paulinos, obtemos uma amostra do tipo de fé que os crentes nutriam e relacionavam entre si. As
[…] abundante informação sobre a relação de Paulo com Jerusalém. Paulo era profundamente interessado pela igreja de
Jerusalém; ao se opor aos seus adversários judaizantes, que de certa forma havia apelado, contra ele, aos apóstolos
originais, Paulo enfatizou a sua concordância com Pedro e os outros. Mesmo os judaizantes não tinham objeção ao modo
como Paulo considerava Jesus o objeto de sua fé; nas epístolas, não há o mínimo indício de que tenha ocorrido algum
debate sobre esse assunto. […] os apóstolos originais, evidentemente, não deram o menor indício de se contraporem aos
ensinos de Paulo. […] Toda a história do Cristianismo primitivo seria um labirinto sem saída se a igreja de Jerusalém e
Paulo não tivessem feito de Jesus o objeto da fé. O Cristianismo primitivo, com certeza, não consistia em mera imitação
de Jesus. […] Jesus não manteve a sua pessoa fora de seu Evangelho, pelo contrário, apresentou-se como o salvador da
humanidade.21
Procuraremos seguir lógica bíblica de J. G. Machen sobre três passos em seu livro, Cristianismo e liberalismo, a fim de
entendermos o porquê de o liberalismo moderno (teológico) ser diferente do cristianismo. Antes, seguirá uma
disposição geral do argumento descaracterizante entre as “duas religiões” e, depois, seguir-se-á a uma análise dos
capítulos:
J. G. Machen procura associar a busca do conhecimento com a religião. Se a ressurreição de Cristo tem alguma
possibilidade de ser um fato (histórico), então, a razão que lida com ele, e dele depende, não pode ser desprezada pela
fé. Esta ideia denuncia o erro do liberalismo moderno, uma vez que, manifesta a impossibilidade de a razão provar a fé.
Não é plausível afirmar que a razão seja capaz de inferir a essência da religião. Assim, acreditar que se deve buscar pela
essência religiosa no homem mediante manifestações empíricas paralelas à Bíblia, significa que o liberalismo está
A questão é lógica, pois, se ela versa sobre o fundamento da religião, todas as crenças são igualmente verdadeiras.
Porém, “se todas as crenças são igualmente verdadeiras, e algumas delas contradizem as outras, então todas são
Tome-se, por exemplo, o Jesus Histórico. Este não pode ser sobrenatural, caso contrário, não seria histórico. Seria
necessário que o Novo Testamento apresentasse o evento histórico separado das narrativas dos milagres. Mas,
honestamente, o leitor sabe que tal separação (daquele evento histórico dos milagres a ele associados) desfaz o
entendimento da própria narrativa em si mesma. O “cerne da trama” se desmancha e o próprio Jesus histórico torna-se
2. O liberalismo moderno não é cristianismo porque possui características imanentistas que excluem a crença no Deus
transcendente e pessoal:
A religião cristã lida com o paradoxo do Deus transcendental e imanente que coexiste perfeitamente com suas criaturas.
Trata-se de uma questão ontológica, quando o Criador deve ser pessoal e, portanto, real (enquanto a criatura apenas
existe).
A identificação de Deus para com o mundo se dá num livre ato de vontade e não de necessidade. Mas, ao criar, Ele
necessariamente deve ser imanente aos seres criador, pois estes não tem razão de ser em si mesmos caso esse se
retire. As Escrituras asseguram que no ato de criar, Deus mantém suas “propriedades” eternas como sempre foram,
embora mantenha relações para com as coisas criadas, fora de si mesmo. Sem esta relação, os ‘entes’ não teriam
É por isto que a noção de paternidade universal é para os teólogos liberais uma das melhores maneiras de garantir a
ligação entre Criador e criatura. Nela, ambos comungam duma mesma natureza, fazendo com que a religião assuma um
papel, sobretudo, empírico ou “sentimental”. Todavia, “deve-se observar que, se a religião consistisse somente de
sentimentos da presença de Deus, ela seria destituída de qualquer qualidade moral. O puro sentimento, se é que existe
tal coisa, é não moral”.25 Não pode ser concebida na Religião a ideia do Transcendente e do Imanente sem que se
[…] Faz toda a diferença o que pensamos sobre Deus; o conhecimento de Deus é a base da religião. […] No liberalismo
moderno, por outro lado, essa distinção tão aguda entre Deus e o mundo é totalmente destruída, e o nome “Deus” é
aplicado no próprio processo natural. Encontramo-nos em meio a um grande processo que se manifesta naquilo que é
extremamente pequeno e naquilo que é extraordinariamente grande […]. A esse processo natural do qual nós fazemos
parte, aplicamos o temível nome ‘Deus’. Dessa forma, portanto, Deus não é uma pessoa distinta de nós; pelo contrário,
nossa vida é uma parte da vida dele. […] O liberalismo moderno possui características panteísta, mesmo não sendo
consistentemente panteísta. Sua tendência é se desfazer, em todos os lugares, da separação existente entre Deus e o
3. O liberalismo teológico não é cristianismo porque nega o aspecto principal do cristianismo – o dogma como
O cristianismo é, inerentemente, a religião do dogma e da história. Isto é percebido na ideia de Machen sistematizada
nos sete capítulos do livro. Logo na introdução se tem a tese de que o liberalismo teológico não pode ser cristianismo; o
É significativo observar que o lugar das doutrinas se estenderá pelos demais capítulos subsequentes, o que fortalece a
noção de que o cristianismo, além de fé e racionalidade, ocupa um lugar epistemológico como nenhuma outra religião o
pode ocupar. Dos capítulos três ao sete, Machen argumenta em favor dos dogmas e confissões de fé sobre Deus e o
3.1. A doutrina
Conforme observado acima, o cristianismo não pode ser crido independente da doutrina. A rejeição dos liberais à
Teologia Conservadora não se deve às frases e palavras tradicionais, mas à semântica destas. Tornar a semântica das
palavras e frases do credo cristão em ideias próximas às da nova religião é, pois, uma maneira de fortalecê-la sem que
Poucos anseios têm sido mais exagerados, por parte dos professores de teologia, do que o de evitar ofender algo ou
alguém. Muitas vezes, isso tem se aproximado perigosamente da desonestidade. O professor de teologia, no mais
profundo do seu coração, está consciente do radicalismo do seu ponto de vista, mas permanece firme na decisão de
não perder o seu lugar na atmosfera santa da igreja ao expor o que pensa. 27
É perigoso acreditar que é racionalmente possível permanecer num campo neutro quando a questão é religião. Se hoje é
incongruente aceitar a ideia de um sujeito neutro na abordagem científica, muito mais o será no âmbito da fé. 28 O que se
descobre no criticismo moderno é, antes de tudo, que a rejeição aos dogmas doutrinários da igreja se dá por certo grau
de conveniência. Pois,
É desta forma que, comumente, se expressa a moderna hostilidade à doutrina. Mas será que é realmente a doutrina como
tal que é rejeitada, ou será ou será que se rejeita uma doutrina específica, para o benefício de outra? […] Existem doutrinas
do liberalismo moderno que são defendidas com tanto vigor e intolerância quanto qualquer outra doutrina encontrada nos
credos históricos. […] são doutrinas como todas as outras, e assim exigem defesa intelectual. Ao demonstrar uma
aparente rejeição de toda a teologia, o pregador liberal, muitas vezes, está rejeitando somente um sistema teológico e o
trocando por outro. Assim, a tão desejada imunidade de controvérsias teológicas não é alcançada. 29
Ora, negar a substituição dogmática entre as duas religiões é beirá-las ao ceticismo. Podemos até considerar as
controvérsias doutrinárias como quirelas frente à necessidade de comunhão fraternal, ou seja, a experiência da fé na
paternidade universal, e ainda assim o cristianismo excluirá qualquer ideia teológica que não compactue com o seu
dogma. Mais uma vez, afirmamos que a rejeição aos dogmas cristãos é rejeição a todo o sistema cristão. O cristianismo
exige que o seu sistema de fé caminhe com a história. Pois, dizer que o cristianismo é um estilo de vida é já, por si
mesmo, submetê-lo à investigação histórica. Se o cristianismo é, então, um fenômeno histórico, deve ser investigado
O conceito de Machen sobre doutrina pode fortalecer o comprometimento desta com a história. Segundo ele,
A doutrina cristã está nas próprias raízes da fé. Deve-se admitir, então, que se vamos ter uma religião não doutrinária, ou
uma religião doutrinária fundamentada meramente em verdades gerais, isso significa que não somente temos que nos
livrar de Paulo, da igreja primitiva de Jerusalém, mas também de Jesus. Porém, o que significa doutrina? Aqui, ela tem sido
interpretada como qualquer apresentação de fatos, com seus verdadeiros significados, que estejam na base da religião
cristã. Contudo, essa é a única definição da palavra? Será que ela não pode ser tomada em um sentido mais específico?
Não pode significar uma sistemática, minuciosa e unilateral apresentação científica de fatos? Se a palavra for tomada
nesse sentido mais específico, será que a objeção moderna à doutrina não envolve meramente uma objeção à sutileza
excessiva da controvérsia teológica, e de forma alguma uma objeção às brilhantes palavras do Novo Testamento? 30
Resta-nos perguntar: como pensar no cristianismo sem história e na Bíblia sem o dogma? Ao que parece, o dogma é
sempre um ponto de partida para qualquer forma de conhecimento e, mormente, os fatos históricos. É assim que, ao
abrir mão dos fundamentos dogmáticos do cristianismo o pregador liberal abre mão desta religião. Abrir mão dos
fundamentos dogmáticos cristãos, procurando fazer a distinção entre aquilo que é fato histórico do seu evento, é se
tornar mais imperativo ou dogmático do que o próprio cristianismo em si. Pois, o cristianismo exige a fé em seus
dogmas históricos, ao passo que o pregador liberal pressupõe uma fé que, para existir, deve expurgar a própria dúvida
que dá razão a sua existência. Noutras palavras: o liberalismo moderno sem os dogmas cristãos se reinventa. A fé
liberal existe em detrimento de uma história que surge como resquício da “verdade” que supera o mito. 31 Logo, a
fundamentação histórica do dogma cristão deve ser objetiva e, não subjetiva. A diferença entre o cristianismo e o
liberalismo moderno consiste em a impossibilidade de indiferença quanto a tomada de posição à origem dos dogmas.
Fundamentemos, então, a necessidade de se ter os dogmas ligados à realidade histórica:
A religião cristã tem em sua origem a proclamação de uma mensagem tida por verdadeiro relato de fatos. Lembremo-
nos que o apóstolo Paulo não teve com a Igreja da Galácia a mesma tolerância que houve para com os romanos. Paulo
entendeu que a mensagem dos falsos mestres na Galácia atacaram os fundamentos da fé, ao passo que, em Roma, a
mensagem, ainda que pregada pelos rivais, manteve suas bases. “Nunca passou pela mente de Paulo que um evangelho
pode ser verdadeiro para uma pessoa e não para outra. […] Ele estava convencido da verdade objetiva da mensagem do
evangelho”.32
(B) O cristianismo é, em si mesmo, incongruente se doutrina e história dos relatos da igreja forem elementos distintos
A própria terminologia da palavra “evangelho” designa o pertencimento entre doutrina e história. Evangelho é “boas
E desde o início, o significado do que aconteceu foi estabelecido, e quando o significado foi estabelecido, surgiu a doutrina
cristã. “Cristo morreu” – isso é uma referência histórica; “Cristo morreu pelos meus pecados” – isso é doutrina. Sem esses
Ora, ao pensar nas “boas novas” qual mente não se volta ao seu oposto, isto é, ao estado anterior que lhe serviu de
motivo porque ela veio a ser proclamada? Foi a mensagem da ressurreição como história fatual que deu origem à
doutrina. “O mundo seria redimido pela proclamação de um evento; e com o evento, segui o seu significado; e o
estabelecimento do evento, como seu significado, era uma doutrina. Esses dois elementos estão sempre juntos na
mensagem cristã”.35
Não precisamos falar da aplicação que Jesus fazia do Antigo Testamento aos seus contemporâneos. Todavia, é
significativo dizer que ele aplicava as Escrituras como cumprimento à sua pessoa. Ele próprio não se mantinha fora do
seu evangelho. A aplicação da lei à sua pessoa incluía-lhe como alguém autoconsciente de sua messianidade. Ele não
só se incluía na história, como dizia ser parte inerente dela. Seja como for que os pregadores liberais descrevam a
escatologia, as palavras de Jesus contidas nela apontarão para um evento no qual ele mesmo diz ser o agente. “A
As duas pressuposições principais que diferem o cristianismo do liberalismo moderno são, certamente, o seu conceito
sobre Deus e o homem. Já vimos, anteriormente, que a questão da imanência e transcendência divina são
características fundantes para a economia soteriológica. Ainda que de difícil entendimento, no Novo Testamento são as
duas quem possibilitam a própria ideia da redenção humana na pessoa de Jesus Cristo. Porém, o liberalismo teológico
(A) Deus
Enquanto o cristianismo entende o conhecimento de Deus pelo viés da revelação, o liberalismo moderno ensina o
sentimentalismo. Ainda assim, segundo Machen, o liberalismo é inconsistente, pois mesma a afeição humana é
dependente de dogmas. As afeições não são oriundas de várias observações armazenadas na mente? É assim que a
divindade de Jesus faz sentido. O conceito “Deus” não pode nos remeter primariamente a Jesus; antes, “a não ser que
haja alguma ideia de Deus independente de Jesus, a confirmação de sua divindade não faz o menor sentido.
Simplesmente dizer que ‘Jesus é Deus’ não tem sentido, a não ser que a palavra ‘Deus’ tenha um significado
antecedente atrelado a ela”.37 Não teve que ser assim para que os próprios discípulos entendessem o conceito de
Jesus apresenta aos discípulos um Deus pessoal e, ainda assim, supremo. A sua religião era baseada na crença da
existência real de um Deus pessoal. A começar pelo próprio termo “pai”, embora aplicado em diversas religiões, nos
lábios de Jesus o termo implica num relacionamento familiar cujo significado só tem valor em sua Pessoa. 38 Portanto, o
próprio conceito que o liberalismo moderno traz de paternidade universal implica numa perda do senso de
transcendência divina.
(B) O homem
Uma vez perdida a noção da transcendência divina, o lugar do homem é suposto facilmente. Aplicar ao homem os
conceitos tradicionais como, pecado original ou consciência de pecado, implica em compartilhar com deus de sua
natureza mesma.
Assim, a revelação cede o seu lugar para a excessiva confiança na bondade humana. Isto priva, não somente a
atribuição do mal à imanência divina, como também, elimina qualquer necessidade de intervenção externa à razão
humana. O fundamento do cristianismo não é tão otimista quanto à bondade humana. “O humanismo cristão é tão mais
elevado – um humanismo fundamentado não no orgulho humano, mas na graça divina”. 39 O cristianismo tem, portanto,
outro conceito sobre a natureza humana. Por isto, ao abandonar o conceito do Deus Vivo e a realidade do pecado, o
3.3. A Bíblia
A Bíblia é o elemento chave na fundamentação da fé cristã. Ela “contém o relato da revelação de Deus ao homem, que
não pode ser encontrado em nenhum outro lugar”. 40 As Escrituras põem o cristianismo como a religião do evento e não
de ideias. Pois,
Todas as ideias do cristianismo poderiam ser encontradas em alguma religião diferente, e ainda assim não haveria o
Cristianismo nessa outra religião, pois o Cristianismo não depende de um compêndio de ideias, e sim da narração de um
evento. Sem esse evento, de acordo com o Cristianismo, o mundo é totalmente escuro, e a humanidade está perdida
Apelar apenas para o aspecto da experiência cristã como satisfatório para ser cristão não vale. A experiência cristã só é
de fato válida se confirmada pela crença nos eventos escriturísticos como realmente fatuais. É por isto que J. Gresham
Machen afirma que “a experiência cristã é corretamente usada quando afirma a evidência documentária. Mas ela jamais
funcionará como substituto para evidência”.42 Fica claro, pois, que se a Bíblia não for aceita como um relato de fatos
verdadeiros da revelação de Deus, cuja plena inspiração e inerrância é essencial para a fundamentação da Fé genuína, a
A base para asseverar a diferença entre as duas religiões pode ser encontrada na própria consideração que Cristo faz às
Escrituras. Se o liberalismo moderno rejeita o Velho Testamento, os argumentos e o “misticismo paulino”, e se atém
somente ao que Jesus ensinava, pode-se perguntar: a qual regra autoritativa o pregador liberal se baseia, capaz o
suficiente, para distinguir o que pode ou não ser aceito como oriundos dos lábios de Jesus? Qualquer leitor honesto
sabe que as asseverações de Jesus Cristo sobre si mesmo, sobre Deus e o seu reino têm aplicações diretas sobre os
seus ouvintes. O objetivo de suas palavras só será alcançado se amarrado ao todo contextual. 44
Portanto, é evidente que essas palavras de Jesus, que devem ser consideradas autorizadas pelo liberalismo moderno,
em primeiro lugar, devem ser selecionadas da grande massa de palavras preservadas, por meio de um processo crítico.
O processo crítico, certamente, é muito difícil, e, muitas vezes, surge a suspeita de que o crítico somente retém como
palavras genuínas do Jesus histórico aquelas que estão em conformidade com suas próprias ideias preconcebidas.
Mesmo depois que o processo de refinamento foi concluído, ainda assim o estudioso liberal não consegue aceitar todas
as palavras de Jesus como autênticas; por fim, ele deve admitir que mesmo o Jesus “histórico”, como o reconstruído
Mais uma vez, a diferença entre a religião cristã e o liberalismo moderno reside no seu fundamento; isto é, o cristão
aceita a Bíblia como verdade objetiva aplicável em todo o seu conteúdo; crê que ela é magistralmente apropriada para
contemplar todos os eventos históricos da humanidade sem a necessidade de adequações de conteúdo às novas
verdades emergidas da ciência. Pois, “quando a verdade é considerada somente como aquilo que funciona em um
momento específico, então ela deixa de ser verdade. O resultado é um profundo ceticismo”. 45
3.4. Cristo
Se a mensagem das duas religiões (cristianismo e liberalismo) é diferente, obviamente, a origem desta diferença se
depositaram em Jesus toda a sua fé, como se crê no próprio Deus. Jesus era tal ponto considerado o objeto de sua fé
que os apóstolos confiaram-lhe o destino de suas almas. Não se observa nenhuma reprovação por parte dos apóstolos
originais à identificação de Jesus como objeto da fé Cristã, nos ensinos de Paulo. Os evangelhos revelam que Jesus
O Jesus histórico, resultado da redução e demintologiação, acaba por confirmar a expectativas e percepção que o
mestre tinha sobre si mesmo. Suas mensagens informavam aos ouvintes que a única segurança eterna que poderiam
ter, por parte de Deus, era tendo-O como objeto da fé. Suas pregações, antes de consolo, era a da ira de Deus que
pairava sobre os homens pecadores. Conclusivamente, somente no Filho os homens seriam salvos.
Cristo Jesus é muito mais do que um exemplo de fé; é o objeto desta fé. Ele nunca convidou ninguém a ter como
modelo a fé que ele tinha em Deus Pai. Antes, convidou os homens para crerem nele como o Filho de Deus.
Nietzsche afirmou, em uma de suas obras, que “no fundo, existiu apenas um único cristão, esse morreu na cruz. O que
desde esse instante se chamou “evangelho” era já o outro contrário do que Cristo vivera: uma “má nova”. 47 Esta crítica
de Nietzsche de alguma maneira influenciou a muitos liberais ao ponto de inverterem a ordem histórica dos fatos. O fato
de Jesus ser o fundador do Cristianismo não faz dele um cristão. O Cristianismo não poderia ser a sua religião, até
(i) A consciência messiânica de Jesus: As experiências de nosso Senhor não podem ser seguidas pelos crentes em
todos os seus aspectos. Ele se intitulava o “Filho celestial de Deus, que deveria ser o juiz de toda a terra”. 48 A menos que
Cristo tenha abandonado o seu caráter santo e humilde, o seu exemplo poderia ser seguido nisto; ou não. Ele não seria
um exemplo digno a ser seguido. Se Jesus tivesse assumido a sua consciência messiânica tardiamente, como alguns
teólogos liberais afirmavam, este fato o tornaria menos digno ainda de confiança; o problema residiria, então, no âmbito
moral.
(ii) A relação de Jesus para com o pecado: “Se Jesus está separado de nós pela sua consciência messiânica, ele está
ainda mais fundamentalmente separado pela ausência do pecado em si”. 49 Ele nunca demonstrou consciência alguma
Esta era a mensagem pregada pelo cristianismo primitivo: a fé cristã é um meio para se livrar do pecado. E por si só, fica
claro que Jesus não pode ser um cristão, uma vez que, a própria comunidade cristã primitiva o eximia de pecado. É
forçoso mudar a concepção de salvação do Novo Testamento, quando o que se tem em vista é o que o Cristianismo
significa. Segundo as narrativas neotestamentárias, Jesus representa bem mais do que uma figura de caráter exemplar;
significa o perdão dos pecados. E, se Jesus era o objeto da fé, por meio de quem Deus perdoava pecados, ele mesmo
não pode ser um cristão, “assim como Deus não pode ser religioso”. 51
(iii) As reivindicações de Jesus: Jesus exigiu que aqueles que o seguissem estivessem dispostos a quebrar até mesmo
os vínculos mais sagrados. O cristão não entende o chamado de Jesus como o de um mestre a ser seguido, mas como
o chamado de um salvador a ser obedecido; não um exemplo de fé, mas o objeto da fé.
(iv) O cristianismo considera Jesus uma pessoa sobrenatural: Machen entende que “um evento sobrenatural é aquele
que acontece pela ação imediata de Deus, no sentido de não acontecer por um intermediário”. 52 Esta definição de
milagre apresenta a necessidade de um Deus Pessoal, ao mesmo tempo em que exclui a necessidade de causas
secundárias. A Bíblia apresenta o milagre como esta ação direta de Deus na natureza, admitindo, pois, que esta
interferência em nada é arbitrária à ciência. Mas, se tratando de uma ação teísta primária na natureza, as duas
naturezas de Cristo são claramente possíveis de existência no Jesus dos Evangelhos. É igualmente por isso que negar
os milagres de Cristo é negar toda a sua Pessoa, bem como o próprio teísmo. 53
Machen afirma que, por toda Escritura a mensagem central, isto é, a revelação de Deus na história mediante seu Filho
Eterno, não pode ser considerada verdade se isolada a sua manifestação sobrenatural. A natureza divina per si a exige
assim. Sem os milagres, pode ser que seja mais fácil crer no Novo Testamento. Porém, aquilo no qual se creria seria
inteiramente diferente daquilo que se apresenta a nós agora. Sem os milagres, teríamos um mestre; com os milagres,
temos um salvador.54
3.5- Salvação
Haja vista as proposições anteriores, é lógico que a noção de salvação apresentada pela teologia moderna (liberal)
desenvolverá o sistema soteriológico sobre bases antropológicas. Nisto se distinguem radicalmente essas duas
A concepção de pecado universal assume lugar importante, pois, impõe ao homem a condição de desespero e
dependência absoluta em Deus. Esta diferença requer de Jesus uma manifestação salvadora e não, somente, ética. A
ética é, para o Cristianismo, um motivo desesperador, uma vez que, em pecado, o homem não consegue por si mesmo
se salvar. Machen aponta esta verdade quando critica a hermenêutica liberal acerca do Sermão do Monte; a moral torna-
Parece que, “não é a doutrina bíblica que é difícil de entender- realmente incompreensíveis são os elaborados esforços
modernos para excluir a doutrina bíblica por causa dos interesses do orgulho humano”. 56 Por que os liberais atacam a
Segundo Gresham, acatar a cruz de Jesus Cristo é contrassenso aos liberais. Estes procuram aplicar a fé nos efeitos
obtidos pela cruz, mas não na causa em si. Isto dá maior poder às experiências e os fins práticos, devendo ser estes os
Mas, Machen afirma que as experiências destituídas da história é um mero misticismo, mas nunca será o Cristianismo.
Se o Cristianismo for aceito apenas como uma experiência religiosa, se tornará incongruente para com a sua própria
mensagem. Enfim, não existe Evangelho sem que o tenha como fato histórico.
A ofensa aos liberais consiste em admitir a salvação ‘somente’ em Jesus. E aqueles que, mesmo bons homens, morrem
sem Jesus? Machen alude que o problema não reside na exclusividade da pessoa de Jesus, mas na maneira como a
igreja o tem levado. Segundo ele, “o nome de Jesus é estranhamente adaptável a pessoas em todo o tipo de
O liberalismo moderno pode objetar ainda que, Cristo morrer por todos os homens é um não-senso de justiça, pois em
nada diminui a culpa do pecador; todos os homens devem ser individualmente responsáveis por seus pecados.
A resposta é simples: a visão acerca da majestade de Jesus foi perdida. A pessoa de Jesus não pode ser igualada aos
demais homens. Perdida a pessoa divina de Cristo, a expiação centra-se no homem e, consequentemente, perde todo o
sentido. E, mas uma vez, centralizar apenas um aspecto de Jesus nas Escrituras, ou apenas em alguns milagres faz com
que todo o cerne da religião cristã perca o sentido e careça de linguagem acessível à razão humana.
Os pressupostos cristãos acerca da ira e inimizade de Deus contra o homem pecador são criticados pelos liberais como
inconsistente à natureza divina. Todavia, a visão liberal de pecado está aquém daquilo que o Novo Testamento anuncia.
Perdoar a todos os homens sem a cruz não apaga a sua culpa. A cruz aponta para a necessidade de o homem não só
Portanto, o conceito dos liberais acerca da moral está, até mesmo, muito aquém da moral apresentada nos evangelhos.
Não é forçoso, então, considerar que a própria cruz é tanto a manifestação da ira de Deus sobre os homens quanto a
prova de seu amor. “Se alguém, alguma vez, já esteve debaixo da verdadeira convicção do pecado, essa pessoa terá
3.6. A igreja
Machen, quando ainda discute a ideia dos liberais sobre a salvação, afirma que o conceito de fé da igreja liberal é,
essencialmente, fazer de Cristo o mestre da vida. Mas, para ele, isto anula não só o conceito neotestamentário de graça,
mas o da própria justificação. Logo, se distancia da leitura que os reformadores protestantes deram da epístola aos
Gálatas. Consequentemente, a esperança escatológica da parousia é outro elemento que, sem os conceitos abordados,
é inexistente.59
A igreja do liberalismo moderno acredita que o que há de útil no cristianismo é a aplicação de “verdades morais”. Os
cristãos, entretanto, crê que a aplicação do cristianismo é ocorrência de um ato primário de Deus, isto é, regeneração.
Deste modo, o conceito que o cristianismo tem acerca da fraternidade é distinto ao do liberalismo moderno, não
Salvaguarda a analogia de irmandade entre os homens como criados por Deus, o cristão considera como
relacionamento fraternal somente aqueles que são redimidos por Cristo. É necessária a fé em tudo aquilo que os
(B) O cristianismo entende a transformação da sociedade possível somente pela Igreja Invisível de Cristo: 60 “A igreja é a
resposta cristã mais elevada para as necessidades sociais do ser humano”. E é sob esta perspectiva que a igreja não
apenas se mantém, mas também, age na sociedade, quer com ações sociais, quer através de missões.
Todavia, se a igreja invisível tem em seu corpo dois posicionamentos opostos acerca da pessoa de seu Fundador e
Senhor, a razão de ser deixa de existir. É certo que a igreja tem como característica uma mensagem baseada nos
dogmas do Senhor ressurreto, divino. Negada tal verdade, o Cristianismo assumirá outra mensagem; isto é, uma
Além do mais, cristianismo e liberalismo seriam igualmente desonestos. Simplesmente, os pressupostos assumidos por
ambas as religiões não podem ser considerados com frivolidade. O cristianismo assume dogmas que não suportam
Quer goste ou não, essas igrejas estão fundamentadas em credos; elas são organizadas para a propagação de uma
mensagem. Se alguém quiser combater essa mensagem em vez de propagá-la, não tem direito, não importa quão falsa
seja essa mensagem, de ganhar uma posição vantajosa para combatê-la, ao fazer uma declaração de fé que não é- que se
diga com todas as palavras- honesta. […] ao perceber que as igrejas “evangélicas” existentes estão amarradas a um credo
com o qual discorda, a pessoa deve se unir a alguma outra instituição ou fundar uma na qual ela se encaixe bem. 62
O que Machen diz é que, as igrejas cristãs se unem em torno de uma mensagem baseada na Bíblia. É ao redor da fé no
credo das Escrituras como inspiradas por Deus que as pessoas se reúnem. As diferenças levantadas entre elas não
falha pela falta de definição.63 Isto, todavia, não é possível de se ver quando os liberais se reúnem com os cristãos. Eles
rejeitam as convicções defendidas pelos crentes sem que antes busque entendê-las. Não é a fé conservadora que tem a
“mente estreita”, mas os liberais.64 Não se trata de heresia, mas de um fundamento outro, que não o da fé evangélica.
Não é próprio da fé cristã, desde o seu início, considerar os desvios doutrinários assunto primordial a ser debatido?
Portanto, parece ilógico querer que o liberalismo moderno continue entre os cristãos considerando-se uma parte dele.
“Ele difere do cristianismo em seu conceito sobre Deus, o homem, a autoridade e sobre o caminho da salvação. E, não
Embora, a crítica de Machen se refira ao Liberalismo moderno do início do século XX, o que torna seus escritos
contemporaneamente válidos é o fato de tê-los feito sobre as bases da fé genuinamente cristã. Aquele que julga que
esta fé não tem voz no presente século deve ler os argumentos macheanos a fim de descobrir quão sólida é a verdade
que se vale das Escrituras. Pois, Machen é uma prova de que é possível, mesmo no século presente, o teólogo,
estudante e pastor serem: eruditos, racionais, piedosos e relevantes; não sem, mas, mormente, se forem absolutamente
fieis à Fé Cristã.
Bibliografia
LENNOX, J. C. Por que a ciência não consegue enterrar Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 2011.
MCGRATH, Alister, Teologia sistemática, histórica e filosófica: uma introdução a teologia cristã, São Paulo: Shedd
Publicações, 2005.
_____________________
1
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2012, p. 9.
2
Lembremo-nos que psicologia, biologia, sociologia e outros, são ciências relativamente novas na história. Todavia,
identificada apenas como fundamento para a fé bíblica, conforme Cullmann), mas no sentido da historiografia científica.
Publicações, 2005, p. 451: “Para Bultmann, embora a cruz e a ressurreição sejam ,de fato, fenômenos históricos (pois
ocorreram no âmbito da história humana), devem, contudo, ser discernidos pela fé como atos divinos. No kerigma, a
cruz e a ressurreição estão interligadas como o ato da salvação de Deus. São precisamente estes atos divinos que
possuem um significado constante, e não o fenômeno histórico que lhes serviu de suporte. Portanto, o kerigma não se
preocupa com questões históricas, mas sim em comunicar a necessidade de uma tomada de decisão por parte
encontrava no irracionalismo e no antiintelectualismo que o liberalismo alardeava. Os liberais […] alegam que a religião é
coisa que não se pode expressar com exatidão e que, por isso mesmo, a expressão intelectual nela admissível terá de
empregar termos simbólicos […], jogam com palavras. […] diz apenas interessado na aplicação do cristianismo às
necessidades da existência. Entretanto, […] como é que o indivíduo poderá fazer aplicação de uma coisa que não sabe o
que é?Com efeito, para que se possa saber o que é o cristianismo, é necessário pensar no cristianismo, isto é, o
indivíduo terá de analisar suas doutrinas. […] o liberal é antiintelectualista por causa dos hábito que cultiva, que o levam
a ler na Bíblia exatamente o que ele quer encontrar nela e não o que ela registra.”
14
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, pp. 145, 135: “O fato óbvio é que o liberalismo, seja ele falso ou verdadeiro,
não é mera heresia – uma divergência em alguns pontos do ensino cristão. Pelo contrário, procede de uma raiz
totalmente diferente, e consiste, em essência, em um sistema unitário próprio. […] O cristianismo tem sido atacado de
dentro por um movimento que é anticristão em sua raiz. […] A grande ameaça à igreja de hoje não vem de seus inimigos
externos, e sim dos inimigos internos; vem da presença, dentro da igreja, de pessoas cuja fé e prática são totalmente
anticristãs.”
15
Idem, p. 14: “[…] A tentativa liberal de reconciliar o Cristianismo com a ciência moderna renunciou a tudo o que é
peculiar ao Cristianismo, deixando somente aquele tipo indefinido de aspiração religiosa já presente no mundo antes de
o Cristianismo entrar em cena. Na tentativa de remover do Cristianismo tudo o que poderia ser questionado pela ciência,
subornando o inimigo com as concessões que ele mais desejava, o apologista abandonou aquilo que, no começo,
estava defendendo. Nisso, como em muitas outras áreas da vida, vê-se que as coisas que parecem ser mais difíceis de
defesa de sua tese. De modo simples, Machen percorre o Novo Testamento utilizando-se de conceitos,
do novo ser.”O evento de Jesus como o Cristo é um elemento factual. O Jesus ocupa um lugar existencialmente
histórico, enquanto o Cristo, a sua existência é factual apenas à esfera situacional; ou seja, símbolo da fé.
Aparentemente, Tillich mantém a transcendência divina, mas mantém uma figura pálida do Jesus das narrativas
bíblicas.
19
MILLER, Ed. L. Teologias contemporâneas, São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 55: “Portanto, a pergunta que se deve fazer é
agora é a seguinte: O kerigma, ou a mensagem essencial do Novo Testamento, poderá sobreviver depois de eliminada a
mitologia? Neste ponto, o aspecto mais positivo da contribuição de Bultmann começa a tomar forma. Ele acredita que a
verdade essencial e a relevância do Novo Testamento podem ser preservadas por meio de um programa
seu contexto e de sua expressão mítica.Na verdade, o termo “demitologização”, conforme reconhecia o próprio
Bultmann, é inadequado porque o objetivo não é eliminar ou subtrair os elementos mitológicos do Novo Testamento, e
sim interpretá-los. O Liberalismo antigo havia tentado fazer tal subtração, mas acabou jogando fora o kerygma e nos
falsificado. Seria também destituído de sentido para muitos outros, inclusive Barth, que confiaram sua salvação e
esperança no fato objetivo, histórico e (pelo menos na teoria) investigável dos milagres, sofrimentos e ressurreição de
Jesus Cristos.”
21
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 73.
22
Ibidem, p. 22.
23
Ibidem.
24
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 92.
25
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 51.
26
Idem, pp. 52, 58, 59.
27
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 22.
28
LENNOX, J. C. Por que a ciência não consegue enterrar Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 2011, p. 45: “[…] O ideal
iluminista do observador científico friamente racional, completamente independente, livre de teorias preconcebidas, de
prévios compromissos filosóficos, éticos e religiosos, que faz pesquisas e chega a conclusões desapaixonadas e
imparciais, é visto hoje em dia como um mito simplista. Assim como o resto da humanidade, os cientistas têm ideias
enquanto que o cristianismo começa com um indicativo; o liberalismo apela ao arbítrio do homem, enquanto o
recentemente: a mensagem “ele ressuscitou”. Porém, a mensagem […] estava ligada com a totalidade da vida de Jesus
sobre a terra. A vinda de Jesus agora era entendida como um ato de Deus, pelo qual os pecadores eram salvos”.
34
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p.29.
35
Idem, p. 30.
36
Ibidem, p. 35.
37
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 52.
38
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 57: “[…] A doutrina moderna da paternidade universal de Deus, celebrada
como a “essência do cristianismo”, na verdade pertence, no máximo, àquela vaga religião natural que forma a
pressuposição que o pregador cristão usa quando o evangelho é proclamado; porém, quando é considerado como algo
Deus é só mais um nome no curso do mundo, com todas as suas imperfeições e todo o seu pecado. Mas o Deus a
que não há teologia ali; no entanto, ele contém teologia da melhor qualidade. Particularmente, ali está a mais elevada
apresentação da pessoa de Jesus. Essa apresentação aparece na estranha forma de autoridade que permeia todo o seu
discurso; aparece nas palavras recorrentes: ‘Mas eu vos digo’. Jesus coloca suas palavras em pé de igualdade com
aquelas que ele, certamente, reconhece como palavras divinas da Escritura; ele reivindicou o direito de legislar sobre o
Reino de Deus. Não se pode argumentar que essa forma de autoridade envolve, meramente, uma consciência profética
em Jesus- um mero direito de falar em nome de Deus. Pois, qual profeta falou dessa maneira alguma vez?”
45
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p.69.
46
Idem, p. 70.
47
NIETZSCHE, Friedrich. O anticristo: anátema sobre o cristianismo, Lisboa: Ed. 70, 2002, p. 59.
48
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p.75.
49
Idem, p. 77.
50
Ibidem, p. 78: “[…] Nos evangelhos, Jesus é apresentado constantemente lidando com o problema do pecado. Ele
sempre assume que os outros são pecadores; no entanto, ele nunca encontra pecado em si mesmo. Aqui se encontra
uma estupenda diferença entre a experiência de Jesus e a nossa. Essa diferença previne que a experiência religiosa de
Jesus sirva como base para a vida cristã. […] se o Cristianismo é alguma coisa, ele é um meio de se livrar do pecado.”
51
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 79.
52
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 86.
53
Idem, p. 92: “O Jesus apresentado pelo Novo Testamento certamente era uma pessoa histórica- qualquer um que
realmente tenha chegado a enfrentar problemas históricos irá admitir isso. Mas, tão claramente quanto isso, Jesus é
apresentado no Novo Testamento como uma pessoa sobrenatural. Contudo, para o Liberalismo moderno, uma pessoa
sobrenatural nunca é uma pessoa histórica. Assim surge um problema para os que adotam o ponto de vista liberal- o
Jesus do Novo Testamento é histórico, ele é sobrenatural, mas o que é sobrenatural, de acordo com o Liberalismo, não
pode ser histórico. O problema só poderia ser resolvido pela separação do natural e do sobrenatural no registro do Novo
Testamento sobre Jesus, para que, então, o sobrenatural seja rejeitado e o natural, retido”.
54
Ibidem, p. 89,90.
55
Ibidem, p. 37: “[…] todo o discurso é direcionado aos discípulos de Jesus; e o mundo a sua volta é distinguido da
maneira mais clara possível. As pessoas para quem a “Regra de ouro” é direcionada são pessoas em quem uma grande
mudança aconteceu- uma mudança que os torna aptos para entrarem no Reino de Deus.”
56
Ibidem, p. 101.
57
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, pp. 106,107.
58
Idem, p. 113.
59
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, pp. 117-132.
60
Idem, p. 134.
61
Ibidem, pp. 124,125.
62
Ibidem, pp. 138,139.
63
MACHEN, J. G. Cristianismo e liberalismo, p. 45: “[…] Ao insistir na base doutrinária do cristianismo, não queremos
dizer que todos os pontos da doutrina são igualmente importantes. É perfeitamente possível manter a comunhão cristã
apesar da diferença de opinião. […] eles compartilham conosco a reverência pela autoridade da Bíblia, e diferem de nós