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APRENDA A INVESTIR

NO MERCADO FINANCEIRO

ERIC DORNELAS
APRENDA A INVESTIR NO MERCADO FINANCEIRO
Eric Dornelas
www.investindo.org
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Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas ou eventos reais
é mera coincidência.
Todas as marcas registradas citadas neste livro são propriedades de seus
respectivos donos e foram utilizadas sem intenções de infringir os direitos
da marca, apenas de forma descritiva e sem ter qualquer vínculo com este
livro.
Ilustrações pelo autor.
ISBN:978-85-920498-0-5(Epub)
ÍNDICE
INTRODUÇÃO V
PARTE UM 1
POR QUE INVESTIR? 3
O GRANDE OBJETIVO 7
VOCÊ ESTÁ PERDENDO DINHEIRO! 11
O QUE É INVESTIR? 15
POR ONDE COMEÇAR? 17

PARTE DOIS 21
ANALISANDO UM INVESTIMENTO 23
O RENDIMENTO 27
RISCOS 37
VALOR INICIAL 43
LIQUIDEZ 47
APLICANDO O CONHECIMENTO5 53
MONTANDO SEU PLANO 57
SEGUINDO EM FRENTE 65

PARTE TRÊS 67
RENDA FIXA E RENDA VARIÁVEL 69
APLICAÇÕES DE RENDA FIXA 71
POUPANÇA 75
CERTIFICADO DE DEPÓSITO BANCÁRIO (CDB) 85
LETRA DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO (LCI) 91
LETRA DE CRÉDITO DO AGRONEGÓCIO (LCA) 95
CERTIFICADO DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS (CRI) 97
DEBÊNTURES 103
TESOURO DIRETO 107
APLICAÇÕES DE RENDA VARIÁVEL 123
AÇÕES 133
EVENTOS COM AÇÕES 141
ESCOLHENDO UMA AÇÃO 147
RESUMO DE AÇÕES 185
FUNDOS DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO 193
FUNDOS DE INVESTIMENTO 209

PARTE QUATRO 217


ESCOLHENDO UM BANCO 219
ESCOLHENDO UMA CORRETORA DE VALORES 221
USANDO O HOMEBROKER 229
OPERANDO NO TESOURO DIRETO 251
ADMINISTRANDO SEU PATRIMÔNIO 261
ESTUDO DE CASO 285

CONCLUSÃO 305
APÊNDICE 309
INTRODUÇÃO

Durante a nossa vida, seja na escola, na televisão ou em casa, pouco nos é


ensinado sobre a arte dos investimentos. Há aqueles que se arriscam e
acabam aprendendo na prática e há aqueles que têm a sorte de receber o
conhecimento de seus familiares ou conhecidos. Porém, de forma geral, a
maioria de nós conhece muito pouco sobre o assunto e alguns tremem só
de pensar em coisas como Bolsa de Valores e Ações.
Infelizmente, muitos dos que tentam melhorar a qualidade de seus
investimentos, na maioria das vezes, o fazem sem o conhecimento
adequado e, despreparados, sofrem perdas que não podem suportar,
abandonando o assunto cabisbaixos e consolando-se com um “Isso é coisa
pra rico, deixa pra lá!”.
Há ainda os que tratam dinheiro e investimentos, assuntos presentes em
nossa vida cotidiana, como tabu, preferindo ignorar o tema como um todo.
Não é o intuito principal deste livro convencê-lo a deixar os
preconceitos de lado e se aprofundar no assunto, no entanto, acredito que a
leitura da parte inicial já será suficiente para lhe mostrar as vantagens e a
necessidade de dar atenção, mesmo que pouca, ao seu dinheiro.
Para os que se encontram dispostos a iniciar, a falta de informação,
principalmente dos aspectos práticos de se investir no mercado financeiro,
cria uma barreira que nem sempre é fácil de romper. O objetivo deste livro
é ajuda-lo a superar essa barreira.
Este livro foi escrito pensando naqueles que já estão dispostos a
melhorar seu conhecimento a respeito das ferramentas disponíveis para
proteger e aumentar seu patrimônio.
Serão comentados aspectos que são comuns a todos os tipos de
investimento e que todo investidor deve conhecer profundamente. Eles lhe
permitirão analisar com facilidade os ativos em que deseja investir o seu
dinheiro e selecionar as melhores opções.
Também serão detalhadas as opções de investimentos em renda fixa e
renda variável disponíveis ao pequeno investidor pessoa física, como os
fundos de investimento oferecidos pelos bancos, os títulos do governo
(Tesouro Direto) e as ações negociadas em Bolsa de Valores.
De nada adianta o conhecimento teórico se você não souber aplicá-lo.
As informações práticas contidas na parte quatro do livro vão lhe ensinar a
selecionar os melhores serviços, a utilizar as ferramentas de operação e a
fazer um controle rápido e eficaz dos seus investimentos e do imposto de
renda. Você se sentirá mais seguro para começar e não perderá seu tempo e
seu dinheiro com erros desnecessários.
Ao final da leitura, você terá o conhecimento teórico e prático
necessário para realizar seus investimentos de forma segura e tranquila,
iniciando da forma correta o seu caminho para o sucesso.
PARTE UM
CAPÍTULO 1

POR QUE INVESTIR?

Muitos encerram sua vida no mundo dos investimentos antes mesmo de


começar, simplesmente se perguntando “Para que isso?”, “Vou perder meu
tempo com isso, com tanta coisa para fazer na vida?” ou “Isso não é para
mim, exige muita dedicação.”.
De fato, em geral nossa sociedade não é orientada à poupança e sim ao
consumo. Quem, quando discutindo sobre o assunto com seus amigos,
nunca ouviu aquela frase de efeito “Eu não quero juntar um milhão, quero
é gastar um milhão!”?
Alguma vez você viu na televisão alguém falar para você: “Poupe agora
e tenha mais para gastar depois.”, ou: “Proteja o valor do seu dinheiro,
estude sobre investimentos.”? Pelo contrário, o que mais se vê por aí é
“Para que esperar pelo carro dos seus sonhos, faça um empréstimo e tenha
ele agora!” ou “Leve o produto para casa agora e comece a pagar só no
final do ano em vinte pequenas parcelas!”.

Não costumamos ver isso por aí!


Essa ideia predominante de que o prazer advindo do dinheiro não
precisa esperar é incutida em nossas mentes o tempo todo e pensar
diferente provavelmente vai lhe custar algumas gozações por aí.
Porém, pense no seguinte: para a grande maioria (aqueles que não
nasceram reis ou não tiveram a facilidade de herdar a coisa toda pronta)
qualquer objetivo mais complexo a ser atingido na vida vai exigir grande
dedicação e abnegação. Para conseguir o emprego com o qual você sonha,
você terá de passar anos estudando, deixará de ir em festas para conseguir
ir bem na prova, irá se render ao terno e à gravata quando sempre esteve
mais satisfeito usando bermuda. Para tocar na guitarra o solo de sua banda
favorita, serão necessárias horas de estudo e repetição, você terá que
aprender diversas músicas simples e estúpidas e guerrear com seus dedos
teimosos por dias até, finalmente, poder impressionar a vizinhança com
suas notas precisas. Para surfar as gigantes ondas do Havaí será preciso
engolir muita água nas marolinhas, remar muito sem chegar a lugar
nenhum e levar muita “vaca” para a alegria dos banhistas na areia. Ainda
assim, com todo esse sacrifício, você se dedicará e manterá seu plano pois
acredita que o objetivo que traçou valerá a pena. A satisfação final irá
superar todo o esforço realizado. A vida é assim, mesmo sendo um gênio e
tendo uma boa coordenação motora, será preciso se dedicar e deixar de
lado algumas coisas para conseguir o que se quer.
Ora, se muitas coisas são assim, exigem esforço e abnegação, por que,
quando se trata de dinheiro, tem que ser diferente? Por que, para comprar
o carro dos seus sonhos, ao invés de se endividar, você não pode
economizar durante um tempo e efetuar a compra à vista, quem sabe até
com um desconto, e ficar livre de uma dívida que lhe custará boa parte do
salário pelos próximos 10 anos? Ou ainda, por que ao invés de viajar agora
e ficar se preocupando em economizar na passagem, no hotel, na comida e
nos passeios, você não pode juntar um pouco de dinheiro e deixar a
viagem para o ano que vem, quando poderá comprar uma passagem que
não faça 5 escalas em países de índole duvidosa, transformando uma
viagem de 5 horas em dois dias ou escolher ficar em hotéis confortáveis e
jantar nos restaurantes que têm vários desenhos de talheres ao lado do
nome no guia de restaurantes, ao invés de fast-food?
Pode ser que você ache tudo isso besteira, que não há por que esperar só
para poder ter essas “pequenas” vantagens, ou que você ache que nunca vai
conseguir juntar todo esse dinheiro e o único jeito é se endividar para ter o
que quer.
Nesse caso, há alguns outros fatores que devem ser considerados quando
falamos de investimentos e os próximos capítulos vão fazer você pensar
melhor sobre o assunto.

Por que não escolher um restaurante melhor?


CAPÍTULO 2

O GRANDE OBJETIVO

Existem aqueles que, privilegiados, podem gastar seus dias passeando por
aí e usando sua criatividade pensando em como tornar sua própria vida
mais agradável, sem preocuparem-se com atividades “frívolas” como
cumprir o prazo dado pelo seu chefe insuportável ou colocar “comida na
mesa”.
Mas como é possível que, enquanto você se mata trabalhando por alguns
trocados, eles fiquem por aí gastando dinheiro sem se preocupar? Você já
deve ter se deparado com a expressão “quanto mais dinheiro você tem,
mais dinheiro você ganha” ou deve imaginar que quando você é
estupidamente rico, não é possível torrar todo esse dinheiro.

Na vida é assim, você está cercado por tubarões.


Não se engane, sempre é possível gastar tudo o que se tem, não importa
se são centenas, milhares ou milhões e, mesmo que você tenha muito
dinheiro, se não o administrar bem, rapidamente você ficará sem ele.
Imagine o mundo como um oceano cheio de tubarões sedentos por sangue
(no caso, dinheiro). É preciso ser inteligente se quiser sobreviver nessas
águas infestadas. Quanto mais dinheiro você tem, mais você se destaca e
chama a atenção dos predadores, sejam eles os impostos, inflação,
governos, processos judiciais, concorrentes, contadores, ladrões, erros,
família, etc.
Assim, mesmo aqueles que herdam fortunas tiveram alguém que antes
deles sabia o que estava fazendo e foi capaz de multiplicar o patrimônio.
Além disso, é preciso que saibam gerir toda essa grana para que ela não se
perca.
No mundo capitalista, se quisermos sobreviver, precisamos de dinheiro.
Nós o usaremos para trocar por produtos e serviços que necessitamos.
Todo mundo sai satisfeito e há uma certa sinergia, pois, as tarefas são
divididas e sobra tempo entre o almoço e o jantar para assistir a um filme
ao invés de ter que ir lá fora cuidar do rebanho. Esse dinheiro vem da
nossa renda, normalmente oriunda do nosso trabalho, seja ele qual for. No
final das contas, se você quer ter o que comer e não nasceu privilegiado,
será preciso trabalhar.

“Gostaria de estar assistindo ao Exterminador do Futuro.”


Mas e se eu quiser passar o resto dos meus dias na praia contando as
ondas? Bom, você pode achar alguém que lhe pague para fazer isso e
passar os dias na praia será o seu trabalho. Caso você não tenha essa sorte,
você pode encontrar alguém que trabalhe por você. Monte uma empresa,
contrate empregados e quando a empresa der lucro, faça as malas e vá para
a praia. Compre imóveis e alugue-os, vivendo da renda do aluguel. Ou,
quem sabe, coloque um monte de grana em uma aplicação que renda o
suficiente para pagar suas contas pelo resto da vida.
Nestas últimas três opções há algo em comum. Em todas será preciso
que você invista seu dinheiro e seu tempo, algumas um pouco mais disso,
outras um pouco mais daquilo e se tudo der certo, com o tempo, você
precisará se dedicar menos e poderá colher os frutos do que plantou. E
nesse momento, em todas essas opções, haverá alguém que estará
trabalhando e não será você. Quem então? A resposta é: o seu dinheiro!
Quando investimos em alguma coisa, na verdade estamos colocando
nosso dinheiro para trabalhar, gerando renda, aumentando nossa riqueza e
nosso poder de compra.
Portanto, o grande objetivo de todo investidor é fazer o dinheiro
trabalhar. Com seu dinheiro trabalhando, você terá tempo para se dedicar
ao que gosta e, quando fazemos o que gostamos, costumamos fazer mais e
melhor, o que provavelmente irá aumentar os seus ganhos e você entrará
em um círculo virtuoso. Chegará o dia em que seus investimentos
sozinhos lhe trarão o suficiente para levar uma boa vida e ainda sobrará
para investir mais um pouquinho, aumentando seu patrimônio e sua renda,
permitindo que você gaste mais e melhore sua qualidade de vida.
O que o verdadeiro investidor busca não é simplesmente juntar um
monte de dinheiro, ele quer é ver o seu patrimônio provendo-lhe a renda
da qual necessita para viver.
Pense nisso.
Coloque sua grana para trabalhar!
CAPÍTULO 3

VOCÊ ESTÁ PERDENDO DINHEIRO!

Há ainda um outro detalhe que merece sua atenção quando se trata de


cuidar do seu dinheiro. Na verdade, não é um detalhe e sim um grande
problema, e todo aspirante a investidor terá de lidar com ele antes de mais
nada. O fato é que, se você não faz nada, a todo momento, agora mesmo
enquanto você lê este livro, você está perdendo dinheiro.
Mas como?
Imagine que você tenha hoje R$10,00 na sua carteira. Você vai até a
lanchonete e compra o trio (hambúrguer + refrigerante + batata) da
promoção e ainda leva batata grande. Seu almoço está garantido e a
mensalidade da academia justificada. Imagine então que essa mesma nota
de R$10,00 passou o ano dentro da sua carteira. Todo dia você olhava e lá
estava ela, um bom almoço em forma de papel, esperando a oportunidade
de ser utilizado.
Passado um ano, em determinada ocasião, você se vê meio sem tempo e,
influenciado pela fome voraz e pelos cartazes chamativos, resolve
“converter” os R$10,00 em uma refeição. Mas eis que, para sua surpresa (e
desgosto), seus R$ 10 agora mal conseguem pagar por um hambúrguer
simples e refrigerante pequeno.
Mas que bruxaria é essa? São os mesmos R$10,00, a mesma nota, está
com o mesmo risco de caneta que tinha um ano atrás... O que aconteceu?
O monstro por trás dessa estória é a inflação, a qual discutiremos com
mais detalhes em breve. No momento, basta você saber que, enquanto
houver inflação, seu dinheiro perderá poder de compra ou, em outras
palavras, você perderá dinheiro.
A lição a ser tirada aqui é: Antes de pensar em qualquer coisa, você deve
se preocupar em proteger o valor do seu dinheiro.
Não fique aí parado enquanto a inflação come seu dinheiro!
Vou me permitir ser um pouco repetitivo aqui para que você fixe a ideia:
A primeira regra de todo o investidor é “NÃO PERCA DINHEIRO!”.
Se todo investidor tivesse um livro de cabeceira, nele estaria escrito
“NÃO PERCA DINHEIRO!” na primeira página.
A partir do momento em que temos o dinheiro em mãos, já o estamos
perdendo. Sua primeira prioridade é evitar que isso ocorra. NÃO PERCA
DINHEIRO.

“Me parece uma boa idéia.”


Além da inflação, há diversos outros fatores que podem levá-lo a ver seu
patrimônio minguando. Felizmente, há maneiras de evitar que sua grana
escorra pelo ralo. E uma das melhores é estudar o assunto. Lendo este
livro você já está no rumo certo.
Para concluir, tenha em mente que o caminho entre parar de perder
dinheiro, acertar suas finanças, juntar o suficiente para melhorar sua
qualidade de vida e atingir o objetivo de fazer o dinheiro trabalhar para
você é longo e exigirá esforço e dedicação.
Mas calma! Nesta longa estrada você estará constantemente vendo os
resultados (e sentindo no bolso e na vida), a satisfação de atingi-los será
constante e se o que você deseja é ver o seu dinheiro trabalhar enquanto
você relaxa, quando chegar lá, tudo valerá a pena. Tome uma água de coco
por mim!

Este vai para o autor do livro!


CAPÍTULO 4

O QUE É INVESTIR?

Mas afinal, o que exatamente é investir? Pare e pense a respeito. O que,


para você, é investir? Seria juntar um monte de dinheiro? Ou deixar de
gastar com algumas coisas para poder comprar outras? “Pão durisse”?
Se olharmos nos dicionários por aí, e eu olhei para você1, encontraremos
para o significado de “investir” coisas como:

Dar posse, empossar, como em ‘Investiu-lhe o cargo de chefe.”—


Hmmm, não, acho que não é bem isso que queremos.
Atacar, acometer, atirar-se com ímpeto, como em “César investiu
contra a Gália.”—Fôssemos conquistadores em busca de terras e
riquezas alheias este significado nos viria bem a calhar, porém
não somos.
Aplicar, empregar, inverter capitais com finalidade lucrativa.—
Ah! Agora sim.
“Hora de ficar rico!’
Investir então, quando falamos de dinheiro, é usar o seu dinheiro para
ter lucro. Quando você tem lucro, você aumenta sua quantidade de
dinheiro inicial, e pode comprar coisas mais caras. Dessa forma, investir
também pode ser entendido como deixar de gastar agora para aumentar
seu poder de compra no futuro.
Como você irá fazer isso é o “x” da questão e este livro está aqui para
ajudá-lo.
1 Fonte: www.dicionariodoaurelio.com/investir.html
CAPÍTULO 5

POR ONDE COMEÇAR?

Se você pretende investir o seu dinheiro, para começar é necessário que


você tenha a matéria prima: dinheiro! Para alcançar esse primeiro
objetivo, é preciso que você cumpra alguns passos:

1º PASSO: Se você já não nasceu com ele ou ganhou por acaso,


será necessário que você encontre alguma forma de obter renda
(ganhar dinheiro), seja ela qual for. Para a maioria, será algum
tipo de trabalho.

“Até aqui tudo bem, trabalhar parece lógico.”

2º PASSO: O próximo passo será não gastar tudo o que você


ganha.
“Certo. Então eu arrumo um trabalho, ganho meu salário e
não gasto tudo o que recebo. Moleza!”

Mas será mesmo?


A maioria das pessoas, cedo ou tarde, consegue cumprir o primeiro
passo e obter renda, mas quando se trata do segundo passo, gastar menos
do que ganha, aí a coisa já não é tão simples. Seja lá qual for o motivo,
elas têm uma grande dificuldade em gastar menos do que recebem. O
comum mesmo é se endividar, comprometendo o que nem receberam
ainda. Pense nas pessoas que você conhece, por exemplo, ou em você
mesmo. Alguma se encaixa nessa situação?
Perceba que para enriquecer é necessário acumular riqueza, logo, se
você gasta tudo o que recebe, você não acumula nada, portanto não
enriquece. Parece óbvio, mas há quem não perceba esse fato. Cumprir o
segundo passo e não gastar toda a sua renda é essencial.
Há diversos livros e materiais por aí que podem lhe ensinar a sair do
vermelho. Comece agora mesmo a resolver esse problema, sua vida
melhorará muito.

Para dormir tranquilo, faça sua reserva de emergência.

3º PASSO: Agora que você consegue juntar um dinheirinho todo


mês, faça sua reserva de emergência, uma quantidade de dinheiro
que vai ser responsável pelo seu sono tranquilo nas noites
vindouras. Como o próprio nome diz, esse será aquele valor que,
em um imprevisto, vai evitar que você se endivide ou que seja
preciso vender sua carteira de ações justamente na pior baixa dos
últimos séculos.
“Hummm...Fazer uma reserva de emergência é interessante.
Me sentirei mais seguro sabendo que, se for preciso, terei
essa grana em mãos. Mas quanto eu devo guardar?”

Qual é o valor necessário para sua reserva de emergência? Só você pode


responder a essa pergunta. Procure encontrar um ponto de equilíbrio entre
o que você imagina que poderia cobrir todas as possibilidades (acidentes,
despesas de saúde, desemprego, etc.) e um valor que possa realmente ser
atingido. E esse valor não é imutável, inicialmente basta que ele garanta
que você não vai abandonar seus investimentos sem necessidade. Comece
com um valor próximo a seis vezes os seus gastos mensais e com o tempo
vá ajustando conforme achar necessário.

4º PASSO: Tendo seu sono garantido e a certeza de que não é


qualquer crise que vai te derrubar, finalmente é hora de investir a
sua grana. E é aqui que este livro vai te ajudar. Será preciso que
você conheça os tipos de investimentos que existem e suas
características, para então montar uma estratégia e, com
tranquilidade e segurança, ver as coisas darem certo e saber como
corrigir o que porventura der errado.

Os quatro passos para começar a investir.


PARTE DOIS
CAPÍTULO 6

ANALISANDO UM INVESTIMENTO

De forma geral, para qualquer investimento, há certos aspectos básicos


que devem ser observados para que possamos saber com clareza suas
vantagens e desvantagens.
Inicialmente você deve estar pensando ”Qual a dúvida? O melhor
investimento é aquele que me dá mais dinheiro!”. Está certo em partes,
porém, como diz o velho ditado: Não existe almoço grátis!
Normalmente, alto rendimento vem acompanhado de um amigo chato, o
risco. Em tudo o que fazemos as coisas podem dar errado, nos
investimentos não é diferente. Nas finanças, quanto maior a chance de as
coisas darem errado, maior será o retorno oferecido para quem quiser
entrar na jogada. Afinal, a sobrevivência é nossa maior prioridade e não
somos bobos de nos arriscarmos sem que haja uma boa recompensa em
troca.

Na vida real, para ganhar mais, você aumenta seus riscos.


Digamos, por exemplo, que você tem dois amigos, o Sílvio e o Santos,
que resolveram lhe pedir dinheiro emprestado. Sílvio é um funcionário
público que tem seu salário garantido, não tem dívidas e você o tem na
mais alta confiança. Querendo adiantar a compra de uma TV em promoção
e não tendo o valor total disponível, ele lhe pede uma grana emprestada,
para lhe pagar, junto com os juros de 1%, dali a dez dias quando o salário
dele cair.
O Santos é autônomo, trabalha fazendo bicos, nos últimos meses não
conseguiu nenhum serviço. Como tem ficado muito em casa e o
campeonato começará em breve, achou que era hora de trocar sua TV. Te
pede um dinheiro emprestado para a nova TV e diz ter uma ótima
oportunidade de trabalho, ainda não confirmada, dali a cinco dias. Garante
que te pagará o valor do empréstimo mais juros de 1% em no máximo dez
dias, quando receber pelo serviço.
Sabendo que você só pode ajudar um deles e que perder esse dinheiro
pode lhe trazer problemas, analise friamente e diga: para quem você
emprestaria seu dinheiro?
Digamos agora que o Santos, sabendo que vai ganhar uma bolada pelo
futuro trabalho, disse que lhe pagaria 5% de juros. E agora? Para quem
você emprestaria?
E se o montante a ser emprestado para o Santos fosse o dobro do pedido
pelo Sílvio?

Enriqueça seu vocabulário

Montante: Na matemática financeira e quando se trata de finanças em


geral, utilizamos a palavra montante com o significado de quantidade.

Você pode ver que analisar somente o rendimento de um investimento


não lhe oferece uma visão de todos os aspectos envolvidos.
Além do risco, de que falaremos bastante no decorrer do livro, você
pode se deparar também com outros problemas.
Para investir em imóveis você vai precisar, logo de início, de um valor
elevado de dinheiro. No entanto, para comprar uma ação, bastam alguns
reais. Portanto, é preciso conhecer qual a quantia necessária para se iniciar
um investimento.
Para fazer os rendimentos de um determinado fundo de investimento
serem maiores, os administradores normalmente têm que trabalhar mais, e
em troca eles vão cobrar taxas mais altas do que em outros fundos. É
preciso analisar se os valores cobrados pelos administradores não são
excessivos quando comparados aos serviços prestados. Para investir em
ações, será preciso contratar uma corretora e pagar as taxas de negociação
que podem ser significativas. Portanto, para analisar um investimento é
preciso conhecer as taxas cobradas e quais os serviços que estão sendo
oferecidos em troca.

Nunca se prenda somente ao rendimento de um investimento.


Alguns tipos de investimento têm isenção de imposto de renda sobre os
ganhos, em outros o valor varia com o tempo e há ainda aqueles em que o
valor será um percentual fixo do rendimento. Conclui-se que é preciso
levar em consideração as possíveis vantagens com relação ao pagamento
de impostos que podem melhorar o seu rendimento.

Enriqueça seu vocabulário

Ativo: No contexto desse livro, a palavra ativo se origina do significado


utilizado na Contabilidade, onde o ativo representa os direitos que uma
empresa possui. Ativo financeiro é, portanto, algo (Ações, Poupança,
Títulos) que dá ao investidor o direito sobre algum valor financeiro. Pense
no ativo como aquele investimento que está ativamente contribuindo para
o seu enriquecimento.
Há também a possibilidade de você não conseguir vender ou converter o
seu ativo para dinheiro porque não há ninguém desejando comprar ou
realizar a conversão. Para saber o quão fácil é transformar um
investimento em dinheiro no seu bolso é preciso conhecer uma
característica chamada liquidez.
Para se analisar um investimento e poder compará-lo a outro é preciso ir
além apenas do rendimento oferecido. Felizmente, todos os investimentos
existentes podem ser analisados utilizando somente alguns aspectos
básicos.
Procure iniciar a sua análise de um investimento observando as
seguintes características:

RENDIMENTO (aqui entram também fatores como TAXAS,


INFLAÇÃO e IMPOSTO DE RENDA);
RISCO;
VALOR INICIAL A SER APLICADO; e
LIQUIDEZ.

Vamos discutir com detalhes cada um deles.


CAPÍTULO 7

O RENDIMENTO

O rendimento de uma aplicação caracteriza-se pelo valor acima do valor


aplicado que será recebido ao término de um período. Normalmente, é
expresso em percentagem por período. Por exemplo: 10% a.m. (ao mês)
ou 15% a.a. (ao ano).

Enriqueça seu vocabulário

O rendimento de um investimento também pode ser chamado de juro.


Diferente de uma dívida em que o tomador da dívida paga juros, no caso
de um investimento, o investidor recebe os juros.

Rendimento é o que você recebe além do valor aplicado.


O que isso quer dizer? Digamos que você aplique R$100,00 em um ativo
que lhe renda 10% a.m. Isso significa que, ao término de um mês, você
terá R$110,00, ou seja, 10% a mais do valor que você investiu
inicialmente.
Você deve estar pensando: “Então nesse exemplo, passado um mês, eu
embolsei R$10,00, é isso?”
No mundo cor-de-rosa dos exemplos teóricos, tal afirmação estaria
correta, no entanto, no mundo real a coisa não é bem assim. Lembra dos
tubarões?

“Acho que vou ficar com um pouco desse rendimento!”


Conforme comentado anteriormente, o seu dinheiro está sempre
perdendo poder de compra devido à inflação. Além disso, na vida real,
será necessário pagar taxas e impostos, diminuindo o valor a ser recebido
realmente.
O valor de rendimento que você vê no folheto do seu banco ou em sites
por aí e que normalmente é informado (no nosso caso, os 10%) é o
chamado rendimento NOMINAL bruto.
Rendimento nominal bruto
NOMINAL, porque é o rendimento previsto, teórico, daquela aplicação.
BRUTO, porque nas finanças todo resultado considerado antes do
pagamento das taxas e dos impostos é chamado de resultado BRUTO, no
nosso caso, RENDIMENTO BRUTO.
Continuando com o exemplo, digamos que para retirar o dinheiro de
onde ele foi investido paga-se uma taxa de R$2,00 e que esse investimento
seja isento de imposto de renda (ou seja, não há imposto sobre o lucro
obtido).
Nesse caso, ao retirar o dinheiro, cairá na sua conta R$108,00 (R$110,00
menos os R$2,00 das taxas) ao invés dos R$110,00 que teoricamente
receberia ao término do período.
Ao valor de rendimento obtido após descontadas as taxas (no nosso
caso, os R$8,00), damos o nome de rendimento nominal LÍQUIDO.
Rendimento nominal líquido
Nominal você já conhece, e LÍQUIDO é porque já foram descontadas as
taxas e impostos.
Qual foi então, no nosso exemplo, o rendimento nominal líquido em
percentual? Se o lucro obtido após aplicar o dinheiro durante um mês,
descontando-se as taxas, foi de R$8,00, e o valor investido inicialmente foi
de R$100,00, resulta um rendimento nominal líquido de 8% em um mês,
ou 8% a.m.
Como se taxas e impostos não fossem o bastante, levando embora mais
um pedaço do seu rendimento, surge a inflação. A inflação nada mais é
que o aumento dos preços dos produtos, o que faz com que seu dinheiro
perca poder de compra e, consequentemente, perca seu valor.
Lembra-se quando comentamos que quem não faz nada já está perdendo
dinheiro? Você agora entenderá isso na prática e verá por que o investidor
esperto está, em primeiro lugar, preocupado em não deixar sua grana
desvalorizar.
A inflação quer o seu dinheiro!
Digamos que a inflação no período do nosso exemplo (um mês) foi de
2%. Teoricamente, isso significa que o preço de todos os produtos
aumentou em 2%. Portanto, se o seu dinheiro não acompanhou esse
aumento, você perdeu poder de compra. Para facilitar, considere este
exemplo:
Você vai na sua livraria preferida e vê que o livro “Aprenda a Investir”
está custando exatos R$100,00. Olha na sua carteira e vê, solitária, aquela
nota de R$100,00 que poderia pagar o livro naquele momento. Alguém
grita lá de longe seu nome dizendo que estão atrasados. Resignado, você
deixa a compra para depois e vai embora.
Um mês depois, lá está você novamente na livraria, dessa vez sozinho,
preparado para levar o livro para casa. Porém, ao passá-lo no leitor de
código de barras, vem a surpresa: O preço mostrado é de R$102,00.
Os seus R$100,00 agora não são mais capazes de comprar o livro.
Consegue perceber como o resultado da inflação no seu poder de compra
equivale a perder dinheiro?
Para conseguir manter o seu poder de compra e acompanhar a inflação
desse mês, seria necessário ter feito seu dinheiro render 2% no mesmo
período, acompanhando a inflação. Repare que para ter lucro e
efetivamente ganhar alguma coisa, é preciso, além de ganhar os 2% da
inflação, obter um rendimento acima desse valor que seja suficiente
também para pagar as taxas e impostos e, por fim, obter algum lucro.
Como eu disse, não ache que é fácil sair por aí ganhando dinheiro nos
investimentos. Procure primeiro evitar perder o que já possui.
No início do capítulo, aplicaram-se R$100,00 durante um mês, a uma
taxa nominal bruta de 10% a.m. Dos R$10,00 de lucro obtidos, pagaram-se
as taxas de R$2,00 e restaram R$108,00 de resultado, ou 8% de
rendimento nominal líquido.
Se a inflação do mês foi de 2%, num cálculo simplificado para obter o
valor do rendimento que realmente se obteve, ou seja, o rendimento
líquido REAL, basta subtrair o valor da inflação do rendimento nominal
líquido (8%), ficando então com 6% de rendimento líquido real.
Em valores isso significa que dos R$10,00 que você ganhou investindo
seu dinheiro, somente R$6,00 foram lucro. O restante foi comido pelas
taxas e pela desvalorização causada pela inflação.

Rendimento real é o que você realmente ganha.


Relembrando:

Rendimento nominal bruto: quanto um investimento rendeu sem


descontar taxas e impostos.
Rendimento nominal líquido: encontrado descontando do
rendimento nominal bruto os impostos e taxas a serem pagos.
Rendimento líquido real: é o rendimento nominal líquido menos
a inflação do período. É o lucro real que você obteve.
Você consegue imaginar porque o valor informado amplamente aos
investidores é o rendimento nominal bruto e não o real?

Matemática, oh não!
Todos esses cálculos podem ter assustado você. Acalme-se. Não é preciso
ter conhecimentos complexos de matemática para se iniciar nos
investimentos. Com as operações básicas e uma calculadora você já estará
pronto para começar.
Além disso, com o uso de algumas fórmulas amigas, tudo ficará mais
fácil.
No exemplo desse capítulo, ao calcular o rendimento real, simplesmente
subtraímos a inflação do rendimento líquido. Na verdade o valor exato
deve ser obtido através da fórmula:

Onde:
Ireal = rendimento real (em decimal, ou seja 8% = 0,08)
Inominal = o rendimento nominal líquido (também em decimal)
No nosso exemplo tínhamos um rendimento nominal líquido de 8% a.m.
e a inflação de 2% a.m., portanto:
Inominal = 0,08
Inflação = 0,02

O rendimento real seria igual a 5,882% a.m.


Fique atento ao lidar com taxas de rendimento ou juros pois, além do
valor, sempre haverá um período (mês, ano, dia) e para realizar os
cálculos é necessário que todas as taxas sejam relativas a um mesmo
período. Por exemplo, se você possui a taxa mensal de rendimento da sua
aplicação e a taxa anual da inflação, para calcular o rendimento real de sua
aplicação, antes, será preciso que você iguale o período das taxas
(transformar o rendimento em taxa anual ou a inflação em taxa mensal).
Para converter o período de uma taxa (por exemplo, transformar 2%
a.m. em uma taxa equivalente anual), utilize a fórmula das taxas
equivalentes:

Onde:
Iq = taxa que eu quero
It = taxa que eu tenho
q = período que eu quero
t = período que eu tenho (no exemplo, temos a taxa de um mês)
Observação: t e q devem estar na mesma unidade de tempo, ou em anos
(onde q seria igual a 1 e t igual a 1/12) ou em meses (onde q seria igual a
12 e t igual a 1).
Para descobrir a taxa equivalente anual de 2% a.m. teríamos:
It = 0,02
q = 12
t=1
Ou seja, 2% a.m. equivalem a 26,82% ao ano.

Filosofia do Investidor
Não existe melhor investimento do que aquele que fazemos em nós
mesmos. Dedicar uma parte do tempo a aperfeiçoar nossas habilidades e a
adquirir conhecimento pode trazer resultados surpreendentes no futuro.
Ter algum conhecimento no cálculo de porcentagens, conversões de
taxas e juros compostos lhe será muito útil. Quanto mais você souber,
melhor será sua análise das opções disponíveis, permitindo-lhe alcançar
melhores resultados.

Como se calcula a inflação?


Para se calcular com exatidão o valor da inflação seria preciso conhecer a
variação de preço de todos os produtos e serviços em um determinado
período de tempo, fazer uma média e então obter um valor para a inflação
desse período.
Não parece ser uma tarefa simples.
A solução encontrada foi analisar somente a variação de preço dentro de
um determinado universo amostral, atendendo ao interesse de quem está
analisando.
Dessa forma, o que você vai encontrar por aí são os chamados “Índices
de Inflação”, que calculam a variação de preços analisando uma parcela
específica dos produtos.
Há diversas variáveis: é possível analisar os preços de somente algumas
cidades do país, de somente algum tipo específico de produto ou serviço,
de produtos disponíveis a pessoas com uma renda específica e o que mais
você conseguir imaginar. E é por isso que os valores que você vê
divulgados nem sempre refletirão a sua realidade.
No Brasil, o Índice de Preços adotado como oficial pelo governo para
análise da inflação é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA).
O IPCA é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) e tem as seguintes características1:

As informações são coletadas no período do dia 1° ao dia 30 do


mês de referência;
Abrange as famílias com rendimentos mensais compreendidos
entre 1 e 40 salários mínimos, residentes nas áreas urbanas das
regiões pesquisadas;
Abrangência geográfica: regiões metropolitanas de Belém,
Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São
Paulo, Curitiba, Vitória, Porto Alegre, Brasília e municípios de
Goiânia e Campo Grande;
Os dados são obtidos em estabelecimentos comerciais e de
prestação de serviços, concessionárias de serviços públicos e
domicílios (para levantamento de aluguel e condomínio); e
Para o cálculo, considera os seguintes grupos de despesas:
Alimentação e Bebidas, Habitação, Artigos de Residência,
Vestuário, Transportes, Saúde e Cuidados Pessoais, Despesas
Pessoais, Educação e Comunicação.

Observe as características acima e repare: são analisadas somente


algumas cidades do país, somente alguns grupos de produtos e a coleta de
informações é feita somente em alguns estabelecimentos. Além disso,
depois de coletados, esses valores entrarão na fórmula de cálculo
estabelecida pelo IBGE que, como qualquer fórmula, pode alterar o
resultado dependendo do peso dado a cada componente.
A importância do IPCA está no fato de que ele é considerado como o
valor da inflação oficial do país e portanto, influencia na economia como
um todo.
Existem outros índices? Sim, existem diversos Índices de Preços
divulgados periodicamente e calculados por diversas instituições. Alguns
você encontrará no seu dia a dia, como o IGP-M (Índice Geral de Preços
do Mercado), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), muito
utilizado em transações financeiras de longo prazo (como em imóveis).
O IGP-M resulta da média de três outros índices: o Índice de Preços por
Atacado (IPA-M) com 60% de peso, o Índice de Preços ao Consumidor
(IPC-M) com 30% e o Índice Nacional de Custo da Construção Civil
(INCC-M) com 10% de peso.
Ao verificarmos a forma de cálculo do IGP-M descrita acima, fica ainda
mais claro como o valor obtido pode ser influenciado pelo peso dado aos
índices. Por exemplo, uma variação grande de preços no mercado de
atacado (transações feitas entre empresas antes das vendas para o
consumidor final) terá grande influência no índice, já que seu peso é de
60%, enquanto uma variação grande dos custos na construção civil terá
pouca influência, pois tem somente 10% de peso.
Agora que você já conhece os fatores envolvidos no cálculo de Índices
de Preços, fique atento ao fazer transações que envolvam reajuste de preço
baseados em um Índice (como contratos de aluguel ou pagamento de
imóveis). Procure conhecer a metodologia de cálculo desse índice e qual
foi o objetivo com que ele foi criado. Comparar os valores dos índices em
um determinado período também lhe dará uma ideia interessante de como
eles se comportam.
Observe, por exemplo, os valores anuais do IPCA e do IGP-M em um
período de 10 anos2:
ANO IPCA IGP-M
2013 5,91% 5,53%
2012 5,83% 7,81%
2011 6,50% 5,09%
2010 5,90% 11,32%
2009 4,31% -1,71%
2008 5,90% 9,80%
ANO IPCA IGP-M
2007 4,45% 7,74%
2006 3,14% 3,84%
2005 5,69% 1,20%
2004 7,60% 12,42%
2003 9,30% 8,69%
Perceba que em alguns anos há uma diferença grande entre os índices, o
que influenciará diretamente no seu bolso ou, no caso do investidor, nos
seus rendimentos.
As metodologias completas de cálculo dos índices não serão
comentadas aqui, mas você poderá facilmente obtê-las fazendo uma
pesquisa nos sites das instituições que os divulgam.
1 Fonte: www.ibge.gov.br

2 Fonte: www.ibge.gov.br e www.portalibre.fgv.br


CAPÍTULO 8

RISCOS

Risco é a probabilidade que as coisas têm de dar errado. Quanto mais


coisas podem dar errado, maior será o risco. E quanto maior for a chance
de algo dar errado, maior será o risco. Além disso, o que acontece quando
as coisas dão errado pode afetar o modo como você percebe o risco.
Ao falarmos de risco, portanto, falamos sobre:

O que pode dar errado;


Qual a chance de dar errado; e
O que acontece se der errado.

O risco está presente em tudo o que fazemos. Considere o ato de


atravessar a rua. Quais são os riscos que existem quando você está lá
parado na calçada e resolve ir para o outro lado da rua?

Quais são o riscos de se atravessar a rua?


Se você tentou imaginar, verá que os riscos são vários. Coisas que vão
de raios caindo na sua cabeça, passando por carros desgovernados saindo
da pista e te atropelando e chegando a explosões nucleares podem
acontecer enquanto você está ali parado dando chance ao acaso. Parece
óbvio também que a maior probabilidade existente é a de ser atropelado.

São tantos riscos!


No entanto, você corriqueiramente atravessa as ruas de sua cidade,
muitas vezes só se preocupando em aguardar o sinal dos pedestres abrir e
dando uma rápida olhada para ver se todos os carros pararam.
Isso acontece porque antes de sair atravessando ruas por aí, você
aprendeu que respeitando o sinal, suas chances de ser atropelado
diminuem drasticamente e, verificando que todos os carros pararam, elas
diminuem ainda mais. As chances de ser atingido por um raio são
pequenas e normalmente você evita sair andando a pé em dias de chuva
com raios. E quanto a explosões nucleares, não há muito o que você possa
fazer quando elas acontecerem.
Essa análise que fazemos das coisas que podem dar errado em uma
situação, das chances de elas acontecerem e o que podemos fazer para
evitá-las é a chamada análise do risco. Fazemos isso naturalmente em
certas ocasiões, está em nossos genes, é um fator primordial para a
sobrevivência das espécies. Em outras, é necessário colocar o cérebro para
funcionar e imaginar o que pode dar errado.
Agora, imagine uma pessoa que salta de paraquedas. Quais são os riscos
envolvidos? Logo de cara, podemos considerar a chance do paraquedas
não se abrir. Nesse caso o paraquedista poderá fazer uso do paraquedas
reserva. Mas e se o reserva falhar? E se não houver tempo para abri-lo? A
morte provavelmente será inevitável.

Conheça os riscos para agir com confiança.


Compare com as consequências de atravessar a rua. Ao atravessar a rua
pode acontecer de você inicialmente não perceber um carro vindo, mas,
num reflexo, conseguir sair da frente no último momento. Esse mesmo
carro pode frear bruscamente e evitar o atropelamento no último instante,
ou, na pior das hipóteses, você pode ser atropelado com chances de sair
levemente machucado a fatalmente ferido. Ao saltar de paraquedas se as
coisas derem errado ou você sairá muito machucado ou não sobreviverá.
Analisando essas duas atividades vemos que para atravessar a rua há
diversas formas de diminuirmos o risco de sermos atropelados e, se ainda
assim isso acontecer, há chances de que possamos continuar as nossas
vidas normalmente depois do incidente. No salto de paraquedas os
aspectos são diferentes. Não há outra forma de sobreviver senão com o
paraquedas funcionando e normalmente só há o principal e o reserva, em
caso de ambos falharem a chance de não sobreviver é enorme.
Atravessar a rua nessa comparação pode ser considerada uma atividade
de baixo risco. O principal risco existente (o de ser atropelado) pode ser
evitado de inúmeras maneiras e mesmo que ele aconteça há boas chances
de continuar vivo. Os demais riscos (raios por exemplo) podem ser
praticamente cancelados, ou são muito raros (explosão atômica).
Já no caso do salto de paraquedas, o risco é alto. O risco principal (falha
no paraquedas) pode ser evitado somente com a abertura do paraquedas
reserva, e se esse falhar (outro risco) não há solução. Pode ser que,
estatisticamente, a chance de ser atropelado seja maior do que a de seus
dois paraquedas falharem, no entanto, um salto mal sucedido terá
consequências devastadoras.
Por que saltar de paraquedas então? Quem pratica esse esporte
certamente lhe dirá que a emoção e a adrenalina são incomparáveis, ainda
mais quando colocadas ao lado da emoção e da adrenalina ao se atravessar
uma rua. Para os paraquedistas, a satisfação do salto compensa o risco
envolvido.
A pessoa que atravessa ruas todos os dias certamente não deseja que
essa atividade corriqueira seja emocionante, e, portanto, deseja que o risco
seja mínimo.
Todos os aspectos considerados nessas duas atividades podem ser
estendidos a diversas atividades humanas, entre elas, os investimentos.
Quando se trata de investimentos, podemos considerar a emoção e a
adrenalina como o rendimento. Em outras palavras, altos rendimentos
estarão diretamente ligados a riscos elevados. É uma troca, assim como no
exemplo de atravessar a rua, o investidor que recebe menos rendimentos
espera ter riscos menores. Bem como o investidor que está disposto a
aceitar riscos elevados espera, em troca, receber altos rendimentos.
Riscos e rendimentos estarão sempre atrelados, do contrário, imagine
uma aplicação que oferecesse rendimento maior e com riscos menores do
que todas as outras. Certamente todo o dinheiro do mundo seria investido
ali.
É importante que você analise os riscos de forma objetiva. Não se deixe
levar pela emoção, procure conhecer o que realmente pode dar errado nos
investimentos que irá realizar e quais as chances de isso acontecer.
Finalmente, imagine o que poderá resultar se tudo der errado: Você
perderá todo o dinheiro investido? Perderá somente uma pequena fração?
Não perderá dinheiro mas terá rendimentos abaixo do esperado?
Conhecendo os riscos você saberá como combatê-los e para quais deve
dar maior atenção. Mais à frente discutiremos com detalhes como fazer
isso. No momento, faça um exercício de autoconhecimento imaginando as
respostas para as seguintes perguntas:
Você prefere aplicações de risco alto, mas que podem dar bons
rendimentos, ou prefere baixo risco com rendimento pequeno, porém
garantido? Perder todas as suas economias afetará sua vida? Você é um
funcionário com estabilidade e salário garantido e pode arriscar o que
guarda sem medo de ficar na mão no futuro? Você se sentirá mais
tranquilo aplicando uma pequena parte de seu dinheiro em investimentos
de risco alto se a maioria de seu patrimônio estiver em uma aplicação
segura?

Enriqueça seu vocabulário

Investidor Agressivo: É aquele investidor que está disposto a arriscar


mais, procurando obter maiores rendimentos.
Investidor Conservador: É o investidor que busca segurança, está
disposto a receber rendimentos menores, porém garantidos e com risco
reduzido.

E então, você se considera um investidor agressivo ou conservador? Não


se preocupe se não chegar a nenhuma conclusão por enquanto.
É comum que, inicialmente, você se considere um investidor
conservador, na maioria das vezes porque a falta de conhecimento o faz
enxergar investimentos classificados como de alto risco com aversão.
Naturalmente, à medida que você for se desenvolvendo como investidor
e compreendendo melhor as coisas ganhará confiança em suas análises,
fará uso de novas ferramentas de forma inteligente e estará disposto a
aceitar riscos maiores.
Ao final, você verá que o investidor inteligente é na verdade uma
mistura dos dois e, mesmo quando agressivo, saberá arriscar somente
aquilo que pode perder.
CAPÍTULO 9

VALOR INICIAL

O Valor Inicial de um investimento é aquele montante de dinheiro que você


precisa para fazer a primeira aplicação. Em certos ativos o valor necessário
para iniciar no investimento é maior do que o valor mínimo para fazer
movimentações. O Valor Inicial é um conceito simples e parece estranho que
seja preciso falar dele, mas este será um fator importante em suas atividades
financeiras.
Qualquer aplicação financeira tem um valor mínimo a ser investido. Por
exemplo:

Uma ação que seja negociada a R$15,00. No mercado acionário é


necessário comprar no mínimo uma ação, portanto, você terá que
possuir pelo menos R$15,00 para poder investir naquela ação.
Um apartamento que custa R$300.000,00. Você pode negociar com o
vendedor de pagar uma entrada de R$50.000,00 e o restante em
parcelas. Nesse caso será preciso ter esses R$50.000,00 logo de início
para poder fechar o negócio.
Um fundo de investimento cuja aplicação inicial mínima seja de
R$100.000,00, o saldo mínimo de R$5.000,00 e aplicações adicionais
de R$100,00. Para começar a investir nesse fundo será preciso dispor
dos R$100.000,00 iniciais exigidos. Depois, é possível fazer aplicações
adicionais de no mínimo R$100,00, sendo que você sempre terá que
deixar investidos os R$5.000,00 de saldo mínimo.

Há diversos outros exemplos. O importante aqui é perceber que este será um


fator limitante nas suas opções de investimento e que será preciso avaliar quais
são os benefícios oferecidos em troca do valor de investimento inicial exigido.
Observe a tabela 9-1:
Aplicação Aplicações Saldo Taxa de Rendimento
Fundo Risco
Mínima Adicionais Mínimo Administração 12 meses
A Baixo 50,00 50,00 50,00 1,60% 7,92%
B Baixo 10.000,00 500,00 1.000,00 1,50% 8,07%
C Baixo 30.000,00 500,00 3.000,00 1,00% 8,65%

Tabela 9-1: Opções de fundos de investimento de um banco.


Analise os seguintes aspectos: taxa de administração em relação à aplicação
mínima e aplicação mínima em relação ao rendimento dos últimos 12 meses.
O que você conclui?
Em troca de um valor maior a ser aplicado, este banco lhe oferece taxas de
administração menores (o que impacta no seu rendimento nominal líquido) e o
rendimento tende a melhorar em fundos de aplicação inicial maiores.
Essas observações estão diretamente ligadas à análise do risco que vimos no
capítulo anterior.
Se os fundos A,B e C (Tabela 9-1) investem no mesmo tipo de coisa, eles
possuem risco semelhante. Portanto, fazer uma aplicação inicial maior, por
exemplo no fundo C, você estará comprometendo uma parte maior do seu
patrimônio e expondo-o aos riscos do fundo. Se o seu patrimônio não for muito
grande, a escolha do fundo C poderá ser desvantajosa, pois como verá adiante,
diversificar seus investimentos é uma das melhores formas de se combater os
riscos.
Mas então qual é a vantagem de arriscar uma maior parte do seu patrimônio,
tendo que comprometer mais dinheiro ao aplicar no fundo C, ao invés de
aplicar uma quantia menor no fundo A, sendo que ambos possuem os mesmos
riscos?
A vantagem está na menor taxa de administração e nos rendimentos maiores
que o fundo C consegue obter, o que é possível notar na coluna “Rendimento
12 meses”.
Encare aplicações financeiras como um produto (Tabela 9-2). O valor inicial
a ser aplicado é o preço que você irá pagar para comprar esse produto:
Produto Preço Características
Produto Preço Características

A 50,00 Bom

B 30,00 Bom

C 30,00 Bom

Tabela 9-2: Produtos para compra.


Imagine que você tem em mãos R$60,00 e está escolhendo entre os produtos
da tabela 9-2. Se o produto A custa mais caro que o B e, no seu ponto de vista,
ambos têm as mesmas características, por que você iria comprar o produto A?
Especialmente quando ao invés de comprar apenas um A, pode comprar dois
do produto B, ou ainda um produto B e um produto C, diversificando suas
compras?

Investimentos são como produtos em uma vitrine.


Digamos que você optou pelo produto A. Restaram-lhe R$10,00. Algum
tempo depois você passa de novo na loja e observa uma mudança nos preços
(Tabela 9-3).
Agora você tem disponível o produto D, com características melhores, mas
não possui o dinheiro necessário para comprá-lo. Se anteriormente você tivesse
optado pela compra do produto B, você teria adquirido um produto semelhante
ao produto A e agora teria o suficiente para adquirir o produto D também.
Assim como os preços dos produtos mudam com o tempo, opções de
investimento podem se tornar melhores ou piores, abrindo novas oportunidades
para o investidor.
Produto Preço Características

A 50,00 Bom

B 30,00 Bom

C 30,00 Bom

D (promoção) 30,00 Ótimo

Tabela 9-3: Surge um novo produto em promoção.


Um investimento que exija um grande valor inicial e que equivale a uma
grande parte do seu capital disponível, aumentará sua exposição a um risco
conhecido como “custo de oportunidade”.

Enriqueça seu vocabulário

Custo de oportunidade: É o que você deixa de ganhar ao escolher entre duas


coisas.

Sacrificando grande parte do seu capital, caso você venha a encontrar opções
melhores de investimento ou precise de dinheiro para alguma outra coisa, não
poderá fazer nada por não ter dinheiro disponível em mãos.
CAPÍTULO 10

LIQUIDEZ

Para compreender o que é liquidez, considere a seguinte situação:


Você tem R$10.000,00 em dinheiro na sua mão e não quer ficar andando
por aí com tudo isso nas mãos. Decide então ir até o banco para guardar
seu dinheiro. Chegando lá, entrega o dinheiro ao caixa e em troca ele lhe
dá um papel escrito: “Este papel vale R$10.000,00 depositados na conta
X”. Para pegar o seu dinheiro de volta basta voltar ao caixa, durante o
horário de funcionamento do banco, portando o papel e ele lhe dará o valor
descrito.

“Aqui está seu comprovante, senhor.”


Observe que ao entregar o seu dinheiro no banco, em troca o caixa
entrega-lhe um papel que representa um direito: o direito a retirar
R$10.000,00 em dinheiro, que estão depositados na conta X.
O quão fácil é exercer esse direito? Não parece ser difícil, certo? Basta
ir até o banco quando você quiser e pegar seu dinheiro de volta. Mas e se,
por acaso, o dinheiro for necessário justamente quando o banco estiver
fechado? Você será obrigado a esperar até o próximo dia em que o banco
abrir.
Agora, digamos que, devido a uma regra do banco, você só possa retirar
o dinheiro às terças e quintas-feiras. O que fazer se for necessário retirar o
dinheiro na segunda-feira?
Nesses momentos em que a retirada dos seus R$10.000,00 não é
possível, o papel que lhe dá esse direito perde seu valor, afinal, o que você
precisa é do dinheiro e não de um comprovante de depósito.
A velocidade e a facilidade com que o seu comprovante de depósito (o
papel que o caixa lhe entregou quando você deixou o dinheiro no banco)
ou qualquer outro ativo financeiro tem de ser trocado por dinheiro é a
chamada liquidez.
Se o banco do nosso exemplo funcionasse 24 horas por dia e você
pudesse retirar o seu dinheiro a qualquer momento, a liquidez do seu
comprovante é grande, afinal é fácil trocá-lo de novo por dinheiro.
Se por acaso o banco só aceitasse retiradas às terças e quintas, a liquidez
do seu comprovante seria menor, pois agora será mais difícil retirar o
dinheiro. Se você precisar ter os R$10.000,00 em mãos na segunda, não
conseguirá, e terá que esperar até terça.
Agora imagine que o seu banco faliu: em alguma manobra financeira
desastrosa, todo o dinheiro dos clientes foi perdido e não há mais como
fazer retiradas. Qual é a liquidez do seu comprovante agora? Não tem
liquidez, pois o banco não efetua mais a troca de comprovantes por
dinheiro e consequentemente seu comprovante de depósito não tem mais
valor, passou a ser só um pedaço de papel sem significado. O direito que
ele dava de ser trocado por R$10.000,00 a quem o possuía já não pode ser
exercido.
Lá se vai sua liquidez.
Sabendo o que é liquidez, fica simples visualizar como ela pode
influenciar nos seus investimentos.
Digamos que você foi até o banco, depositou R$10.000,00, em troca o
caixa lhe deu o comprovante de depósito, que dá a quem o possuir o
direito de retirar naquele banco R$10.000,00 em dinheiro da conta X.
Suponha que seu banco funcione vinte e quatro horas por dia e a retirada
de valores pode ser feita a qualquer momento. Para retirar o dinheiro não é
necessário que você pessoalmente vá ao banco. Você pode pedir para outra
pessoa fazer isso, basta que ela leve o comprovante, pois ele dá o direito
aos R$10.000,00 a quem o possuir e não a quem fez o depósito.
Certo dia, você vai até a concessionária com um amigo e surpresa! A
moto dos seus sonhos está à venda por R$15.000,00, somente em dinheiro
e só há uma disponível. Vários ao seu redor também estão interessados,
quem sacar a grana do bolso e alcançar o vendedor primeiro levará a moto
para casa.
Sua garganta seca ao perceber que só tem R$5.000,00 naquele momento.
Não há como ir ao banco retirar os R$10.000,00 sem perder a
oportunidade. Você propõe ao seu amigo: ele lhe empresta R$10.000,00 e
em troca fica com o comprovante de depósito, bastando que ele vá ao
banco e troque pelo dinheiro. Na prática, você vendeu o seu comprovante
de depósito (e o direito aos R$10.000,00 que ele representa) ao seu amigo.
Ele concorda, afinal, assim que sair dali ele já poderá exercer o direito e
recuperar os R$10.000,00 que te emprestou.
Agora imagine que o seu banco é aquele que só aceita retiradas às terças
e quintas-feiras e vocês estivessem olhando as motos justamente na sexta-
feira? Seu amigo pensaria duas vezes, pois agora ele teria que esperar até a
próxima terça para poder recuperar o dinheiro que te emprestou.
Infelizmente, ele estava querendo usar aquela grana antes disso. Vendo seu
desespero, ele te oferece R$9.800,00 pelo comprovante e o restante ele lhe
emprestará com juros. Sem ter o que fazer, você aceita. Observe: a falta de
liquidez do seu comprovante, aliada à sua necessidade por dinheiro rápido,
fez você aceitar um valor menor pelo seu comprovante, vendendo-o com
um deságio em relação ao seu valor de face.
Em palavras claras, por estar desesperado por dinheiro em mãos, você
aceitou vender seu comprovante por um valor menor do que ele realmente
valia. Era isto ou ficar sem a moto.

Enriqueça seu vocabulário

Ágio: Valor que se paga a mais do que o valor de face.


Deságio: Valor que se paga a menos do que o valor de face.
Valor de face: Valor nominal ou previsto de alguma coisa.

Talvez você nunca tenha ouvido falar em liquidez até hoje. Isto porque
os investimentos mais comuns, como a poupança, têm liquidez imediata.
No momento em que você desejar o dinheiro, o banco lhe fornecerá. Essa
característica faz com que as pessoas encarem a poupança ou a conta
corrente como uma caixinha onde o banco guarda seu dinheiro e da qual é
possível tirá-lo quando quiserem. Na verdade, o que ocorre é o que
exemplificamos, ao aplicar seu dinheiro na poupança, o banco lhe dá o
direito de retirar aquela quantia quando solicitado, apesar de hoje em dia
não existir o “papel” (como no caso do certificado de depósito). Sua
garantia é a palavra do banco e as leis que regem esse tipo de transação. Se
o banco vier a falir ou mudar a política de retiradas, você poderá ser
prejudicado.
Agora, considere a situação em que foi preciso vender o direito ao seu
amigo por um preço abaixo do valor. Quando alguma coisa a ser vendida
não possui compradores, ou o inverso, algo para comprar não possui
vendedores, você está numa situação de baixa liquidez. Neste caso,
aqueles que estão dispostos a fazer negócio podem oferecer valores muito
abaixo (ou acima) do que você desejaria, buscando se aproveitar da sua
necessidade e da falta de concorrência.
Isso ocorre muito na venda de imóveis, onde o vendedor, para vender
logo e conseguir o dinheiro em mãos, se vê obrigado a ir baixando o preço
até encontrar algum comprador ou até se dar por vencido e aceitar uma
proposta abaixo do preço que gostaria.
Essa diferença entre os preços de venda e os preços oferecidos para
compra é chamada spread.

Enriqueça seu vocabulário

Spread: É a diferença de preço entre a melhor oferta de compra e a


melhor oferta de venda de alguma coisa.

Em ativos de baixa liquidez, o spread tende a ser grande, o que o


obrigará, no caso de precisar de dinheiro rápido, a aceitar as propostas
disponíveis, e não a melhor ou a mais justa. Se não houver liquidez
alguma (ou seja, ninguém quer vender ou comprar) você se verá preso com
um ativo que não quer mais possuir e também não consegue vender. É o
caso do detentor do comprovante de depósito de um banco falido, aquele
direito que ele possuía já não tem mais valor.
Diversos fatores podem influenciar a liquidez: poucos compradores,
poucos vendedores, valor muito alto, garantias, qualidade do ativo, etc.
Será importante que você avalie a liquidez de seu investimento para
analisar com clareza os riscos envolvidos, evitar ter de pagar o spread e
não acabar tendo um ativo sem liquidez nas mãos.
Com pouca liquidez é difícil sair negócio!
CAPÍTULO 11

APLICANDO O CONHECIMENTO

Começamos o livro discutindo sobre o quão bom seria para você estar
agora na praia tomando água de coco enquanto seu dinheiro se multiplica.
Analisando o assunto, vimos que para atingir esse objetivo é preciso
primeiro cumprir duas metas: obter renda e acumular patrimônio.
Para a grande maioria das pessoas, obter renda significa conseguir um
emprego ou abrir um negócio que proporcione algum dinheiro no final do
mês. O primeiro passo seria então: ganhar dinheiro.
Em seguida, observamos que enriquecer significa acumular patrimônio,
em outras palavras, juntar dinheiro. Para cumprir essa meta foi
estabelecido o segundo passo: gastar menos do que ganha.
Quando você conseguir uma fonte de renda e estiver guardando uma
parte dela no fim do mês estará cumprindo as duas metas. E depois?
Uma melhor análise sobre o significado de investir leva a conclusão de
que investir nada mais é que colocar o dinheiro para trabalhar. O grande
objetivo de um investidor é chegar ao ponto em que seus investimentos se
tornem sua fonte de renda e sejam suficientes para lhe proporcionar boa
qualidade de vida com alguma sobra para ser reinvestido.
Para chegar nesse patamar é preciso de dinheiro cuja única função seja
ser investido, ou seja, dinheiro que você não irá precisar utilizar com outra
coisa. Como o futuro é incerto, deve-se ter certeza de que jamais utilizará
essa grana. Para isso, nada é mais eficaz do que ter uma reserva de
emergência, aquela quantia de dinheiro que servirá para situações
inesperadas. Surge o terceiro passo, criar uma reserva de emergência.
Uma vez tendo garantido seu sono tranquilo, você pode começar a
pensar em colocar o seu dinheiro para trabalhar. É hora de pensar em
investir, o quarto passo.
A maioria das pessoas acha que o segredo da riqueza reside no quarto
passo. Basta encontrar o pote de ouro, o investimento que lhe dará mil por
cento de rendimento em poucos dias e pronto, é só fazer as malas e ir
aproveitar a vida.
Ao aprender sobre o cálculo dos rendimentos, você viu que não é bem
assim. A inflação faz com que você comece o jogo perdendo e mesmo o
mais habilidoso dos investidores tem de se esforçar muito só para
conseguir manter o valor de seu patrimônio. Além disso, altos
rendimentos estarão associados a altos riscos, e não é uma boa ideia para o
pequeno investidor, com suas pequenas economias, colocar-se em risco,
podendo perder tudo e voltar à estaca zero.
Se o segredo não está no quarto passo, em qual passo ele está?
Enriquecer nada mais é do que acumular patrimônio. O raciocínio é
lógico: quanto mais dinheiro você juntar mais rico você será. Esta ideia
está presente no segundo passo: gastar menos do que se ganha. E é aqui
que a maioria das pessoas desiste. A ideia de economizar é rapidamente
considerada como sacrifício e uma consequente diminuição da qualidade
de vida.
Uma abordagem radical do assunto certamente exigirá o corte de gastos
com atividades não essenciais para gerar mais economia, no entanto, nada
disso é necessário. Investir e economizar não devem exigir sacrifício ou
esforços desproporcionais. Finalizar o mês com saldo positivo não exige
radicalismo, basta um uso inteligente e eficiente do dinheiro disponível.
Trate bem o seu dinheiro.
Mas se somente o uso eficiente do dinheiro não é o segredo, o que resta?
Restou o primeiro passo: obter renda. Focar no aumento da sua renda
pode ser a única solução para que você consiga enriquecer. Porém, não se
esqueça que a riqueza consiste no acúmulo de patrimônio, portanto não
adianta você ganhar milhões por mês e gastar tudo.

Inicie sua riqueza e seu patrimônio.


A melhor abordagem para acelerar o seu enriquecimento é o foco no
primeiro e segundo passos. Aumente sua renda e junte mais dinheiro no
final do mês, isso acelerará o crescimento do seu patrimônio como
nenhum investimento será capaz de fazer.
Acelere seu enriquecimento aumentando seu patrimônio.
Para a maioria das pessoas isto significa concentrar-se em sua atividade
principal, seja um emprego ou algum tipo de comércio ou
empreendimento, e fazer um bom uso do dinheiro que ganha para ter o que
investir no final do mês. Observe que aumentar sua renda, aumentará sua
qualidade de vida ao mesmo tempo em que pode aumentar o valor que
você economiza ao final do mês, impulsionando seus investimentos.
Lidar com seus investimentos pode ser uma atividade muito
recompensadora, pois quanto mais você aprende mais pode melhorar seus
resultados, uma característica estimulante que nem sempre se encontra em
ambientes rotineiros de trabalho ou no dia a dia. No entanto, não se
esqueça que no início nada será melhor para seus investimentos do que
aumentar sua renda e juntar mais dinheiro. Por isso, foque seus esforços
em crescer em seu emprego ou em alguma outra atividade que poderá lhe
render mais alguns trocados no fim do mês.
Trate seus investimentos com paciência e tranquilidade, sem gastar mais
do que o tempo necessário ou preocupar-se em excesso.
Não cometa o erro dos principiantes, perdendo seu tempo, e
provavelmente o seu dinheiro, procurando o investimento que lhe deixará
rico. Foque em aumentar sua renda e turbinar suas economias e concentre
suas energias em procurar investimentos que protejam seu patrimônio.

Proteja seu patrimônio.


CAPÍTULO 12

MONTANDO SEU PLANO

Você já viu características importantes a serem analisadas quando for


escolher onde investir:

O rendimento, principalmente o rendimento líquido real, que é o


que efetivamente vai ganhar depois de pagar as taxas e os
impostos;
O risco, que consiste na análise do que pode dar errado, quais as
chances de dar errado e as consequências que isso lhe trará;
O valor inicial a ser aplicado, que pode comprometer grande parte
do seu capital, deixando você fora de futuras oportunidades ou
aumentando demais o seu risco; e
A liquidez, que é a facilidade com que você pode trocar seus
investimentos por dinheiro.

Primeiramente defina seu objetivo: acumular patrimônio suficiente para


viver de rendimentos? Juntar dinheiro para comprar um imóvel daqui há
dois anos? Acumular uma quantia para pagar a faculdade dos filhos?
Com um objetivo em mente fica mais fácil escolher entre as
possibilidades de investimento. Principalmente porque, dependendo do
objetivo, suas opções serão limitadas.
Por exemplo, se o seu objetivo é acumular um certo valor para usá-lo no
futuro, você ficará restrito a investimentos que garantam uma renda
conhecida e que ao final do período lhe assegurem a possibilidade de
retirar o valor investido somado aos juros. Você verá que, com essas
caraterísticas, existem os investimentos de renda fixa. Restará escolher
entre eles qual o mais adequado.
Se o seu objetivo é acumular patrimônio, protegê-lo da inflação e talvez
até obter um bom rendimento, você terá muitas opções. Será preciso
analisar todas frente às quatro características discutidas, sempre focando
na mais importante: o risco.
Para o investidor iniciante, que tem pouco conhecimento e pouco
capital, a principal prioridade deve ser reduzir o risco.
Lembra-se do exemplo de atravessar a rua que viu quando aprendeu
sobre risco? Quando você era pequeno, até mesmo o ato de atravessar a
rua era considerado perigoso. Em algum momento da sua vida, um adulto
mais experiente foi lá e lhe deu a mão, chamando sua atenção para a cor
do sinal e falando sobre a importância de olhar para os dois lados antes de
atravessar.
Deixe-me dar-lhe a mão, caro leitor, chamando-lhe a atenção para o fato
de que, para quem inicia nos investimentos, não existe nada mais eficiente
para reduzir o risco do que a diversificação.
Diversificar significa variar, aplicar pouco capital em diversos
investimentos com características diferentes.

Diversifique para reduzir o seu risco.


É um raciocínio contraditório para a maioria das pessoas. Vai contra o
senso comum de que com pouco dinheiro deve-se focar no rendimento e
concentrar as apostas em um único alvo para conseguir ganhar mais. Não
há ideia mais arriscada. É esse tipo de abordagem que faz milhares de
pessoas se frustrarem e perderem seu dinheiro todos os anos.
A LEBRE E A TARTARUGA

Os iniciantes querem ser lebres.


Há uma conhecida fábula de Esopo, sobre uma lebre que gabava-se de ser
o animal mais rápido da natureza e foi desafiada para uma corrida por
uma tartaruga. Confiante na vitória, a lebre resolveu tirar uma soneca no
meio caminho. Dormiu demais e foi ultrapassada pela tartaruga, que
acabou vencendo a corrida. A estória trás uma moral de que a constância e
a persistência levam ao êxito.
Influenciadas pelas estórias fantásticas de enriquecimento rápido, as
pessoas iniciam querendo ser lebres. Querem os maiores rendimentos e
passam movimentando seu dinheiro de um lugar para o outro procurando
o campeão da vez. Ao final, a soma das taxas pagas por toda essa
movimentação sacrifica todo o rendimento que esperavam receber e elas
continuam onde estavam no início. Ou pior, um único erro, aquele
investimento que dá errado e desvaloriza 30% em uma semana, e elas se
veem fora do jogo e sem dinheiro.
O pequeno investidor iniciante deve ser como a tartaruga. A persistência
e a constância lhe trarão vantagens que ao final tornarão seus
investimentos vencedores.

JUROS COMPOSTOS
O efeito mais sensacional e eficaz do investimento de longo prazo está nos
juros compostos. Este tipo de juros está presente no dia a dia das pessoas,
porém a maioria só conhece seu lado negativo. Os juros compostos são
utilizados em empréstimos, tornando a dívida cada vez maior, e, por mais
que a pessoa pague suas parcelas, o valor devido continua aumentando.
O investidor inteligente joga com os juros compostos a seu favor,
deixando seu dinheiro aplicado e permitindo que os juros rendam sobre os
juros já ganhos, num ciclo que poderá deixar-lhe rico.
Para que você possa entender melhor, saiba que existem dois tipos de
juros, o simples e o composto.
Os juros simples são aqueles aplicados somente sobre o valor inicial.
Por exemplo: você aplica R$100 com juros de 1% ao mês na
modalidade de juros simples. Passado o primeiro mês você ganhará R$1
de juros. Na sua conta agora existem R$101 (R$100 aplicados mais R$ 1
de juros). Mais um mês se passa. Como você recebe juros simples, você
receberá novamente R$1 de juros (1% de R$100). Depois de dois meses
você terá na conta R$102.
Os juros compostos incidem não só sobre o valor aplicado inicialmente
como também sobre os juros já recebidos.
Se os R$100 forem aplicados na modalidade de juros compostos,
também com juros de 1% a.m, após o primeiro mês, você terá na sua conta
R$101 (R$100 aplicados mais R$1 de juros). Após o segundo mês, você
receberá 1% de juros sobre o valor aplicado (R$100) somado aos juros do
mês anterior (R$1), ou seja, receberá 1% de juros sobre R$101, que
equivale a R$1,01. Portanto, ao final do segundo mês você terá R$102,01.
Pode parecer pouco, somente 1 centavo de diferença, no entanto
imagine isso acontecendo pelos próximos 10 anos.
Depois de 10 anos da aplicação rendendo juros simples, haveria na
conta R$220. O mesmo período rendendo juros compostos resultaria em
R$330 na conta.
Observe, com juros simples seu capital rendeu 120%, enquanto que
pelos juros compostos foram 230% de rendimento, 110% a mais.
Deixe os juros compostos fazerem seu trabalho, evite movimentar seu
dinheiro de um investimento para outro.

DIVERSIFIQUE

Você, como pequeno investidor iniciante, deve procurar ter consciência da


sua falta de conhecimento e experiência. Este livro está aqui para ajudá-lo
a livrar-se de erros logo no início e agir de forma inteligente desde o
começo, aumentando suas chances de sucesso.
Combata seu pouco conhecimento utilizando a diversificação, inicie
com pouco dinheiro em cada aplicação e observe o que acontece. À
medida que você se tornar mais experiente e tiver mais capital poderá
arriscar mais e redistribuir seus investimentos da maneira que lhe parecer
melhor.

Diversifique e fique tranquilo!


Por que a diversificação é a forma mais eficiente de reduzir o risco? A
explicação é matemática. Diversificação significa menos dinheiro
aplicado em um único ativo. Consequentemente, uma queda no valor
daquele ativo terá menor impacto no seu patrimônio total. Observe a
tabela 12-1:
Pouca diversificação

Investimento Valor Percentagem

A 100,00 100%

TOTAL 100,00 100%

Tabela 12-1: Investindo sem diversificação.


No caso acima, se o investimento A tiver uma queda de 50%, você
perderá 50%, ou metade do seu capital.

Diversificado

Investimento Valor Percentagem

A 25,00 25%

B 25,00 25%

C 25,00 25%

D 25,00 25%

TOTAL 100,00 100%


Tabela 12-2: Investindo com diversificação.
Se você tivesse diversificado como na tabela 12-2, uma queda de 50%
no investimento A, representaria uma perda financeira de R$12,50, ou
apenas 12,5% do seu capital total.
Além disso, imagine que os investimentos B, C e D tivessem rendido
20% cada um. Você teria ganho R$5,00 em cada um, R$15,00 no total.
Somando seus ganhos e suas perdas (R$15,00 menos R$12,50) você ainda
teria, ao final, um ganho de R$2,50.
A grande crítica à diversificação vem da situação inversa. Por exemplo:
no caso de pouca diversificação, um rendimento de 50% no investimento
A representaria um ganho de R$50,00 no seu capital. Já no caso
diversificado, com esse mesmo rendimento no investimento A você teria
ganho apenas R$12,50.

Não diversificar pode trazer-lhe surpresas desagradáveis.


A resposta a essa crítica vem do que já foi discutido. É impossível
acertar qual é o melhor investimento sempre, mesmo grandes instituições
como bancos, que com equipes de profissionais experientes, erram
constantemente. Além disso, o foco deve ser no risco e não no rendimento.
Os grandes bancos podem perder bilhões. Você não.
Para finalizar, há um outro detalhe sobre focar apenas no rendimento e
ficar pulando de galho em galho em busca das melhores valorizações, que
vai contra a ideia de um dia viver da renda de seus investimentos. Buscar
os melhores rendimentos exigirá um estudo continuado das opções
disponíveis e dedicação exclusiva. Para conseguir pagar suas contas, este
tipo de investidor estará sempre consumindo os juros que ganhou, tendo a
obrigação de continuar se dedicando e acertando, num jogo onde mesmo
os grandes podem perder.
Considere quais são as possibilidades de um investidor pequeno e
inexperiente efetivamente ter sucesso nessa atividade. E ainda que tenha,
sua vida não será nada além dessa busca pelos melhores investimentos.
Não se engane achando que o dia em que tiver a quantidade certa de
dinheiro basta parar e colocar tudo na renda fixa para então descansar.
Enquanto este investidor passou a vida nesta “guerra” com o seu dinheiro,
o investidor inteligente enriqueceu e teve tempo para aproveitar a melhora
contínua e gradual em sua qualidade de vida, acumulando durante o
caminho a experiência e o conhecimento para administrar de forma eficaz
seu patrimônio, provavelmente tendo aproveitado também para separar um
capital de risco e obtido rendimentos formidáveis.
Não há motivos para achar que o foco no rendimento é a melhor
abordagem de investimento. Preocupe-se sempre em reduzir o seu risco

Diversificando, você pode ter bons resultados.

Enriqueça seu vocabulário


Capital de risco: Quantidade de dinheiro separada para ser aplicada em
investimentos ou operações de alto risco. Uma quantidade que, se for
perdida, não afetará sua vida.
CAPÍTULO 13

SEGUINDO EM FRENTE

Agora você está pronto para começar. O restante do livro irá lhe apresentar
uma grande quantidade de aplicações financeiras disponíveis ao pequeno
investidor e suas características dentro dos critérios que foram estudados.
Além disso, você verá de forma prática como efetivamente abrir uma
conta em uma corretora, comprar uma ação, movimentar seu dinheiro e
esses tipos de coisas que não ensinam na escola.
Aproveite agora para definir seu objetivo e analisar quais as
características que você quer em seus investimentos. Com as informações
que virão, você será capaz de escolher as melhores opções e aprofundar
seus estudos.
Porém, não se esqueça: foque em diminuir o risco e diversifique.
Para o pequeno investidor, rendimentos pequenos e constantes são
melhores do que crescimentos acelerados intercalados por quedas
abruptas, não só por uma questão de disponibilidade de capital, como
também por uma questão psicológica, e só a diversificação poderá te
protegê-lo com eficácia dos seus próprios erros.
PARTE TRÊS
CAPÍTULO 14

RENDA FIXA E RENDA VARIÁVEL

Existem basicamente dois tipos de investimentos financeiros: os de renda


fixa e os de renda variável. O próprio nome já diz bastante sobre suas
diferenças. Mas você verá que esta nomenclatura pode enganar.
Aplicações de renda fixa são aquelas onde o rendimento para um
determinado período de tempo é conhecido antes de se fazer a aplicação.
Observe, existem dois fatores:

Rendimento: a taxa de juros que será paga; e


Período de tempo: é o período ao término do qual você receberá o
rendimento combinado.

A maioria das pessoas entende renda fixa como investimentos que só


rendem positivamente, ou seja, só sobem, e cuja taxa de rendimento é fixa.
Observando os fatores que caracterizam a renda fixa você verá que não é
bem assim.
Em primeiro lugar, o rendimento previsto não necessariamente será um
número positivo fixo, muitas vezes o rendimento a ser pago por uma
aplicação de renda fixa é baseado em um índice ou taxa, o qual pode em
algum momento tornar-se negativo.
Em segundo lugar, a taxa combinada só será paga ao término do
período. Pode ser que em algum momento desse intervalo de tempo seu
investimento esteja desvalorizado em relação à sua aplicação inicial.
O fato é que, mesmo sendo renda fixa, seu resultado pode acabar sendo
negativo ou desconhecido. Portanto, conheça bem as regras e
características das aplicações em que pretende colocar seu dinheiro para
não ter surpresas desagradáveis.
Renda variável é aquela em que seu rendimento é desconhecido para
qualquer período. Os valores podem subir, cair ou ficar onde estão, tudo
isso em amplitudes que ninguém sabe.
Portanto, ao lidar com renda variável não é possível saber qual será o
rendimento de sua aplicação. Por que investir em renda variável então?
Só porque o rendimento de um investimento é desconhecido, não quer
dizer que ele seja ruim. Aplicações classificadas como renda variável,
como as ações, trazem inúmeras outras vantagens e possibilidades a que
investimentos de renda fixa não dão oportunidade.
Você gostaria de se tornar sócio de um empresa que tem bilhões de reais
de lucro e receber a sua parte do bolo? Você gostaria de ser dono de um
prédio inteiro e receber os aluguéis de todos os andares? Ver valorizações
que nenhuma renda fixa poderá lhe proporcionar? Com as aplicações de
renda variável tudo isso será possível, no entanto, você verá que esse tipo
de aplicação é ideal para o longo prazo e exige um bom controle de risco e
algum estudo e dedicação.Não se preocupe, você aprenderá tudo o que
precisará saber.
CAPÍTULO 15

APLICAÇÕES DE RENDA FIXA

Existem diversos tipos de aplicações financeiras de renda fixa. Para ter


acesso a elas você deve utilizar alguma instituição financeira,
normalmente um banco ou uma corretora de valores.
Na parte quatro, este livro irá ajudá-lo a escolher uma instituição
adequada para suas necessidades e a abrir uma conta naquela em que
escolher.
Entre as aplicações de renda fixa mais conhecidas serão discutidas:
poupança, Certificado de Depósito Bancário (CDB), Letra de Crédito
Imobiliário (LCI), Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), Certificado de
Recebíveis Imobiliários (CRI), Debêntures e Tesouro Direto.

FUNDO GARANTIDOR DE CRÉDITO


Um dos principais riscos inerentes aos investimentos é a falência da
instituição financeira onde seu dinheiro está guardado. Por exemplo, se o
banco onde você tem sua Conta Poupança falir, ele não será capaz de lhe
devolver o dinheiro que você tinha investido e você acaba sem ver um
centavo de volta.
Para evitar esse tipo de situação e dar mais confiabilidade ao sistema
financeiro, existem organizações responsáveis por garantir o crédito de
certas aplicações. Em outras palavras, estas organizações garantem que
você não irá perder seu dinheiro mesmo com a falência da instituição onde
ele está investido.
No Brasil existe o Fundo Garantidor de Crédito (FGC), ao qual
determinadas instituições têm adesão obrigatória por lei, isto é, para
existirem elas obrigatoriamente devem se associar a ele.
Imagine que por algum motivo a economia do país andasse mal das
pernas e alguns bancos e instituições começassem a falir deixando
famílias inteiras com as contas bancárias vazias. A população assustada,
temendo perder suas economias, iniciaria uma retirada em massa de suas
aplicações achando mais seguro guardar dinheiro em baixo do colchão do
que nos bancos. Os bancos não seriam capazes de atender essa demanda
por dinheiro o que resultaria numa falência do sistema como um todo. O
FGC serve para tentar evitar esse tipo de coisa.
Como Funciona?
Basicamente as instituições financeiras guardam uma parte de tudo o
que recebem no FGC , que é administrado como uma entidade particular
sem fins lucrativos, e esse dinheiro garante o pagamento quando for
necessária uma intervenção.
São garantidos pelo FGC:

depósitos à vista ou sacáveis mediante aviso prévio;


depósitos de poupança;
depósitos a prazo, com ou sem emissão de certificado;
depósitos mantidos em contas não movimentáveis por cheques
destinadas ao registro e controle do fluxo de recursos referentes a
prestação de serviços de pagamento de salários, vencimentos,
aposentadorias, pensões e similares;
letras de câmbio;
letras imobiliárias (LI);
letras hipotecárias (LH);
letras de crédito imobiliário (LCI);
letras de crédito do agronegócio (LCA);
operações compromissadas que têm como objeto títulos emitidos,
após 8 de março de 2012, por empresa ligada.

Isso significa que , com algumas exceções, os ativos de renda fixa que
você verá neste livro são garantido pelo FGC.
Qual o valor garantido?
O valor garantido pelo FGC é de até R$250.000,00 por CPF/CNPJ por
instituição bancária.
Isto significa que um investidor que possui R$200.000,00 investidos no
Banco A e R$200.000,00 investidos no Banco B, receberá R$400.000,00
caso ambos os bancos venham a falir. Já um investidor que possui
R$400.000,00 investidos no Banco Alfa, caso o Banco Alfa venha a falir,
receberá somente R$250.000,00.
Na prática você deve evitar ter mais de R$250.000,00 investidos em
ativos de uma mesma instituição financeira garantida pelo FGC.
Ainda que o FGC ofereça uma garantia, você deve sempre estar atento ao
fazer seus investimentos, afinal você receberá seu dinheiro somente após
um longo tempo e não receberá nenhum tipo de correção nesse período.
Ao se expor a um risco elevado aplicando em instituições financeiras
pouco sólidas em busca de um rendimento maior, caso ela venha a falir,
você poderá ficar um longo tempo sem o seu dinheiro e no final obter um
rendimento pífio em comparação às alternativas existentes.
Caso queira saber mais sobre o Fundo Garantidor de Crédito, acesse o
site do fundo em www.fgc.org.br
CAPÍTULO 16

POUPANÇA

A Poupança é uma conta de depósitos para as pessoas físicas remunerada


pela Taxa Referencial (TR) acrescida de juros mensais. É o investimento
mais tradicional e popular do Brasil.
A Poupança é o primeiro contato da população com a atividade de
investir e o próprio nome já é bem sugestivo. Sua popularidade certamente
está relacionada a sua simplicidade, o resgate e aplicação de dinheiro são
muito fáceis e as regras do governo garantem funcionamento padronizado
em todas as instituições financeiras.
Analisando a Poupança diante dos aspectos que você estudou
anteriormente, será possível entender melhor por que essa modalidade de
investimento é tão atrativa ao público.
Em primeiro lugar, para ter uma Poupança basta você criar uma conta
no banco. Normalmente a maioria das pessoas já cumpriu esse passo por
algum outro motivo. Em segundo lugar, para ter uma conta de Poupança
não é preciso pagar taxas e nem imposto de renda. O depósito dos
rendimentos recebidos é automático e não é necessário reinvestimento dos
juros. Tais características fazem com que o trabalho de administrar seus
investimentos na Poupança seja praticamente nulo. Em troca de todas
essas facilidades, você tem um rendimento que não é grande coisa.

RENDIMENTO DA POUPANÇA

A Poupança é remunerada por uma taxa chamada Taxa Referencial (TR)


somada a uma remuneração adicional correspondente a:

0,5% ao mês, enquanto a meta da taxa SELIC ao ano for superior a


8,5%; ou
70% da meta da taxa SELIC ao ano, convertida para o valor mensal,
vigente na data de início do período de rendimento, enquanto a
meta da taxa SELIC ao ano for igual ou inferior a 8,5%

Ou seja, com meta da taxa SELIC maior que 8,5% ao ano, você receberá
TR + 0,5% ao mês. Com SELIC menor ou igual a 8,5% ao ano, você recebe
TR + 70% da taxa SELIC convertida para o valor mensal.
A coisa parece meio complicada agora? Não se preocupe, uma análise
detalhada irá sanar suas dúvidas.
A TR é uma taxa calculada diariamente pelo Banco Central do Brasil. O
cálculo e obtenção dos valores não serão demonstrados aqui e podem ser
encontrados no site do Banco Central1. De qualquer forma, entender a TR
com tantos detalhes não ajudará muito sua análise.
Já a taxa SELIC merece ser estudada com mais detalhes. Leia o quadro
abaixo para compreender seu funcionamento.

Taxa SELIC
Selic significa Sistema Especial de Liquidação e Custódia.
É um conjunto de supercomputadores que registram todas as operações
que envolvem títulos públicos. O sistema faz o registro, liquidação
(pagamento) das transações e a custódia (armazenamento).
Imagine o SELIC como uma feira gigante, dessas onde você iria para
comprar legumes e hortaliças, a diferença aqui é o produto que está sendo
negociado.
Participam da feira governo, bancos, corretoras e outras instituições
financeiras. O único produto negociado são títulos do governo. O governo
pega dinheiro emprestado e se compromete a devolver dali a algum tempo
pagando certos valores de juros.
Os supercomputadores fazem o registro dessa operação:
Fazem a liquidação (troca dos valores e dos títulos):

E a custódia (armazenamento dos títulos):

Nessa feira além de negociarem com o governo utilizando prazos


longos, os participantes fazem empréstimos rápidos uns para os outros,
normalmente com duração de um dia.
Existem vários bancos, grandes e pequenos, uns com dinheiro sobrando
e outros precisando de dinheiro para realizarem suas operações. Eles
querem realizar empréstimos rápidos, com um dia útil de duração e o
governo não faz esse tipo de operação, então os participantes têm que ficar
negociando entre si.
Quando um banco toma dinheiro emprestado de outro banco, oferece
como garantia para o empréstimo algum título público de sua posse.
Empréstimo entre os bancos no SELIC.
No final do dia o Sistema faz uma média da taxa de juros cobradas em
todos esses empréstimos e obtém a taxa SELIC.
A taxa SELIC é importante porque ela baliza a taxa de juros cobrada por
bancos e outras instituições no Brasil. O Banco Central a utiliza como
uma ferramenta de política monetária, em outras palavras, tenta controlar
seu valor como forma de controlar a economia e a inflação.
O governo é uma instituição com despesas infindáveis (imagine tudo o
que ainda precisa ser feito nesse país) e não liga em pegar um dinheiro
emprestado agora para devolvê-lo depois, normalmente com prazos
longos. Em troca, o governo paga os juros.
Quando você empresta dinheiro para alguém, você obviamente espera
que essa pessoa o devolva. Você com certeza pensa duas vezes antes de
emprestar para aquela pessoa que sempre dá calote ou que não tem
qualquer garantia para lhe oferecer. Pois bem, no mercado financeiro,
ninguém é considerado mais confiável do que o governo do país.
Emprestar para o governo significa assumir o risco mais baixo possível.
Se o governo é a instituição que oferece o menor risco, antes de você
emprestar sua grana para outras instituições que não o governo, você
certamente exigirá uma vantagem em troca do risco maior que estará
correndo. Você exigirá juros maiores.
Observe que essas instituições lhe ofereceriam uma taxa um pouco
melhor do que a do governo. Se eles oferecerem uma taxa muito alta,
provavelmente não conseguirão pagar. Se oferecerem igual ou menor à do
governo, ninguém empresta dinheiro a eles.
Portanto, no SELIC, os bancos fazem empréstimos uns para os outros,
porém a taxa de juros desses empréstimos costuma sempre ficar próxima
a taxa de juros que o governo oferece.
Entendendo essa dinâmica, você já pode visualizar como o governo
consegue controlar a taxa de juros.
Se o governo quer aumentar a taxa SELIC, ele aumenta a taxa de juros
oferecida por seus empréstimos, o que vai fazer com que todos os
participantes da feira da SELIC tenham que aumentar a sua taxa também e
no final do dia quando a taxa SELIC for calculada, a média estará próxima
dos juros oferecidos pelo governo.
Se o governo quer diminuir a taxa SELIC, ele oferece juros menores para
quem lhe emprestar dinheiro e consequentemente as demais instituições
podem diminuir suas taxas e ainda assim oferecer uma vantagem em
relação ao governo.
Mas por que seria necessário controlar a taxa SELIC dessa maneira?
Imagine que o governo queira controlar o preço dos produtos no país. Se a
população tem dinheiro sobrando, os vendedores podem cobrar mais caro
pelos produtos pois todos estarão dispostos a pagar um pouco a mais pela
mesma coisa. Isso geraria um aumento do preço dos produtos e uma perda
do poder de compra da população. É a temida inflação.
Por outro lado, se o dinheiro anda escasso, ninguém vai querer comprar
nada e os vendedores podem se ver obrigados a baixar os preços, gerando
uma deflação.
Com taxas de juros maiores, a tendência é que as pessoas peguem
menos dinheiro emprestado, ocorrendo uma diminuição do dinheiro em
circulação. Nessa situação os preços tendem a ficar estáveis ou até mesmo
diminuírem.
Juros em alta, dinheiro faltando.
Com taxas de juros menores, haverá mais dinheiro em circulação e
consequentemente haverá um aquecimento na economia, todo mundo
comprando e vendendo.
Observe portanto que, se a taxa SELIC baliza todos os empréstimo feitos
pelas instituições financeiras do Brasil, controlando a taxa SELIC, o
governo controla o dinheiro em circulação e a inflação.

Juros em baixa, dinheiro sobrando.


Obviamente essa é uma maneira simplista de analisar a economia do
país, mas serve para você ter uma noção básica de como as coisas
funcionam quando a situação está normal.

Recapitulando o rendimento da Poupança:

TR + 0,5% se a taxa SELIC for maior que 8,5% ao ano; ou


TR mais 70% da SELIC, se a taxa SELIC for igual ou menor que 8,5%
ao ano.
Agora que você sabe o que é TR e taxa SELIC, observe que apesar de a
grande maioria achar que a Poupança sempre terá rendimento positivo,
isso pode não ser verdade. O mais importante é entender que você não tem
nenhum controle sobre esses valores e que eles são divulgados somente
após serem calculados, não antes, portanto não devemos esquentar a
cabeça com isso. Além disso, na história recente, ele sempre foi positivo.
Todos esses valores representam o rendimento nominal. Como você viu,
é sempre preciso pensar em termos de rendimento real líquido, ou seja, o
rendimento nominal descontado das taxas, impostos e inflação. Como na
poupança não incidem taxas nem impostos, é preciso descontar do
rendimento a perda monetária gerada pela inflação (Tabela 16-1)2.
Rendimento Rendimento
Mês IPCA(%)
Poupança(%) Real Líquido (%)
02/15 0,58 1,22 -0,62
03/15 0,51 1,32 -0,79
04/15 0,63 0,71 -0,08
05/15 0,60 0,74 -0,13
06/15 0,61 0,79 -0,17
07/15 0,68 0,62 0,06
08/15 0,73 0,22 0,51
09/15 0,68 0,54 0,15
10/15 0,69 0,82 -0,13
11/15 0,67 1,01 -0,33

Tabela 16-1: Rendimento real da Poupança.

TAXAS DA POUPANÇA

Outro aspecto que simplifica as coisas é que a Poupança não exige o


pagamento de nenhuma taxa. Não é preciso pagar para abrir ou manter a
conta nem para depositar ou resgatar valores. Porém, fique atento. Alguns
bancos cobram taxas para executar transferências para outras contas e para
realizar mais de um resgate no mesmo mês.
Para completar, os rendimentos da Poupança são isentos de imposto de
renda.
Toda essa simplicidade agrada a grande maioria das pessoas,
contribuindo para a popularidade desse investimento e atraindo a maioria
dos investidores.
Como a Poupança não tem taxas e não paga imposto, para obter o
rendimento real líquido é preciso levar em conta somente a inflação.
Observe a Tabela 16-1 e veja os resultados reais da Poupança em alguns
meses, levando em conta seu rendimento descontado o IPCA (inflação
oficial).
Dos dez meses analisados, sete tiveram rendimento real negativo e, com
poucas exceções, o rendimento real quando foi positivo ficou em torno de
0,1% ao mês.

PAGAMENTO DE JUROS

O pagamento de juros da Poupança é automático e os juros que você


recebe são depositados diretamente na conta Poupança onde está o
dinheiro aplicado, não sendo necessário acessar o seu banco para reinvestir
esse valor como ocorre em outros tipos de aplicações. No entanto, o
cálculo dos juros a serem pagos pela Poupança tem certas peculiaridades.
O pagamento é mensal. Isto significa que, para receber os juros, você
deve deixar seu dinheiro depositado pelo menos um mês inteiro.
A data considerada para pagamento e cálculo do período de um mês é a
data em que você faz o depósito, também chamada de data de aniversário.
Dessa forma, cada depósito tem sua data de aniversário e é interessante
que você a conheça para evitar retirar seu dinheiro antes de percorrido o
período de um mês.
Suponha que você realizou depósitos como na tabela 16-2:
Data Movimentação Comentário
Você depositou uma quantia, chamaremos de depósito A.
01/01/2000 Depósito A A data de aniversário do Depósito A é o dia 1 do mês.
Data Movimentação Comentário
Você depositou uma quantia, chamaremos de depósito B.
05/01/2000 Depósito B A data de aniversário do Depósito B é o dia 5 do mês.

Juros depósito Faz um mês que você realizou o depósito A, você recebe
01/02/2000 os juros relativos a este período.
A
Você resgatou todo o valor disponível na conta. Como o
Resgate do
03/02/2000 dia de aniversário do depósito B é dia 5, você não recebe
valor total qualquer rendimento relativo a este depósito.

Tabela 16-2: Entendendo a remuneração da Poupança.


Vale ressaltar que o resgate é sempre feito dos montantes com a data de
aniversário mais próxima do dia do resgate (Tabela 16-3).
Data Mov. Valor Comentário
Depósito
01/01/2000 1.000,00 Depósito A no valor de R$1.000,00.
A
Depósito
05/01/2000 1.000,00 Depósito B no valor de R$1.000,00.
B
01/02/2000 Juros A 5,00 Juros do Depósito A.
05/02/2000 Juros B 5,00 Juros do Depósito B.
Resgate de R$ 500,00. Esse valor é retirado do valor aplicado
06/02/2000 Resgate 500,00 no depósito B (ou seja, na sua conta com aniversário no dia 5
só restam R$505,00).
01/03/2000 Juros A 5,00 Juros do Depósito A.
Recebimento de juros correspondente ao valor na conta com
05/03/2000 Juros B 2,50 aniversário no dia 5 que efetivamente ficou aplicado durante
um mês (R$505,00).

Tabela 16-3: Entendendo o resgate de valores na Poupança.

VALOR INICIAL DE APLICAÇÃO.

A Poupança, na maioria das instituições, não possui restrição de valor


inicial. Também não possui exigências de valor residual (valor mínimo
que você deve manter depositado) ou de valores mínimos de resgate.

LIQUIDEZ

A liquidez da Poupança é imediata, basta você ir até um caixa automático


e resgatar os valores da sua conta direto em dinheiro. Além disso, os
bancos são obrigados a garantir o seu resgate. Isto significa que o valor
que aparece no seu extrato é efetivamente o valor que você conseguirá
resgatar em dinheiro, na hora.
Pode ser que o seu banco coloque, por motivos de segurança, limites no
valor máximo que você pode sacar por dia ou diretamente em um caixa
eletrônico. Para valores muito grandes possivelmente você terá de ir até o
banco pessoalmente e conversar com o gerente para resolver. No entanto,
esta característica está relacionada a sua instituição, por maior que seja o
valor, uma vez resolvido os problemas de segurança com o banco, você
sairá com o dinheiro em mãos, pois a liquidez é imediata.

RISCOS

Até aqui você viu que a Poupança é um instrumento de investimento muito


simples, não exige muito estudo ou dedicação, porque as regras são as
mesmas para todos, o reinvestimento é automático e a liquidez é imediata.
O valor depositado em uma Poupança é garantido até a quantia de
R$250.000,00 pelo Fundo Garantidor de Crédito e existem leis que
obrigam os bancos a garantir a liquidez do seu dinheiro aplicado na
Poupança.
Olhando assim, a Poupança parece ser um investimento de baixo risco, o
que de fato é verdade, porém em troca, ela lhe oferece rendimento baixo.
O rendimento baixo torna-se um dos principais fatores negativos da
Poupança, pois, no caso da ocorrência de uma inflação elevada, seu
rendimento real se tornará negativo, o que implica em você perdendo
dinheiro. Como visto, até mesmo com a inflação controlada, houve meses
com rendimento real negativo para o dinheiro aplicado.
O aumento da inflação é um fator de risco para quem investe na
Poupança.
As regras de remuneração da Poupança são definidas pelo governo, que
pode, a qualquer momento, alterar como ocorre a remuneração do dinheiro
investido. Isso ocorreu recentemente, em 2012, quando as regras de
remuneração que você viu aqui passaram a vigorar. Assim, de uma hora
para outra, você pode ver o rendimento da Poupança se tornar pífio,
perdendo de longe para a inflação e te deixando numa situação
desagradável.
Alterações na legislação são um fator de risco para quem investe na
Poupança.
Alterações podem ocorrer não só nos rendimentos como também nas
taxas e no pagamento de imposto. Há o risco ainda do confisco, ocorrido
algumas vezes na história recente, quando quem tinha dinheiro na
Poupança teve suas economias congeladas (não podia retirar o dinheiro, o
que equivale a liquidez zerada) e remuneradas a uma taxa medíocre como
manobra do governo para controlar a inflação.
Resumindo, os principais riscos da poupança são:

Ter um valor maior do que o garantido pelo FGC depositado e


ocorrer a falência da instituição;
Inflação alta; e
Alterações da forma de remuneração e outras mudanças que o
governo pode realizar.

Enriqueça seu vocabulário

TR: Taxa Referencial. É a taxa de remuneração básica da Poupança,


calculada pelo Banco Central do Brasil.
SELIC: Sistema Especial de Liquidação e Custódia. Sistema onde são
realizadas transações financeiras envolvendo títulos públicos.
Taxa SELIC: Média das taxas de juros do SELIC. Baliza a taxa de juros
cobrada por bancos e outras instituições no Brasil.
Valor principal: Valor depositado inicialmente. No caso da Poupança os
juros são depositados na mesma conta em que está o valor principal,
somando-se a este..
1 www.bcb.gov.br

2 Fonte: www.bcb.gov.br e www.ibge.gov.br


CAPÍTULO 17

CERTIFICADO DE DEPÓSITO BANCÁRIO (CDB)

Os Certificados de Depósito Bancários (CDB) são títulos privados


oferecidos pelos bancos como forma de obter capital. Em outras palavras,
você empresta dinheiro ao banco e em troca ele lhe paga juros.
Desde os primórdios da história, a principal função de um banco é
emprestar dinheiro e cobrar juros em troca. No entanto, os bancos
preferem usar o dinheiro dos outros para financiar suas atividades. Uma
fração (determinada por lei) de todo o dinheiro que está nas mãos de um
banco oriundos da Conta Corrente ou da Poupança das pessoas pode ser
usada por ele em suas atividades sem a necessidade de remunerar o dono
do dinheiro. Em resumo, o banco empresta seu dinheiro para outras
pessoas e você não ganha nada por isso. Quanto do dinheiro depositado
pode ser utilizado é limitado pelo Governo para evitar que os bancos
fiquem sem liquidez e para garantir que você possa sacar o seu dinheiro da
Poupança ou da Conta Corrente sem problemas.

Figura 17-1: Funcionamento do CDB.


No caso do CDB, todo o dinheiro que você empresta ao banco poderá ser
usado por ele em suas atividades, porém em troca você receberá juros do
banco pelo empréstimo.
A vantagem para o banco está no fato de que ele emprestará o seu
dinheiro a alguém cobrando uma taxa maior do que a que ele irá lhe pagar,
embolsando a diferença sem arriscar nem um único centavo.
Para se investir em um CDB basta ser correntista do banco. A aplicação
em CDB é muito oferecida pelos gerentes dos bancos a seus clientes.
Gerentes costumam destacar as melhores taxas quando comparadas às da
poupança e o risco relativamente pequeno, além da facilidade de executar
tudo no seu próprio banco, sem a necessidade de reinvestir os juros e
dependendo do CDB, ter boa liquidez.
Obviamente, o maior interessado aqui é o banco e antes de se deixar
levar por esse mar de qualidades positivas, analise o CDB frente aos
aspectos que devem ser estudados em um investimento para decidir você
mesmo o que é vantagem e o que não é.

RENDIMENTO DO CDB

Os CDB podem ser do tipo prefixado ou pós-fixado.

Prefixado: São aqueles em que é paga uma taxa fixa. Por exemplo:
10% a.a.
Pós-fixado: São aqueles CDB onde a taxa paga é baseada em um
índice. Por exemplo: 90% do CDI ou IPCA + 3% a.a. Você só
conhecerá o rendimento final depois de passado o período
combinado.

As taxas podem ser negociadas com o banco e normalmente variam


baseadas em fatores como: valor a ser investido, tempo mínimo para
resgate e tamanho do banco.
Em um mesmo banco, valores diferentes de aplicação podem acarretar
em taxas diferentes, bem como se o tempo para resgate do valor aplicado
for maior, melhores taxas podem ser obtidas.
Normalmente bancos menores oferecem as melhores taxas, pois o risco
de investir em um banco pequeno é maior. Bancos pequenos vão a falência
com muito mais frequência do que os grandes, por isso emprestar-lhes
dinheiro torna-se mais arriscado. Para balancear esse risco eles oferecem
melhores taxas de rendimento do que os demais.

CERTIFICADO DE DEPÓSITO INTERBANCÁRIO


Os CDI são como os CDB, porém de um banco para outro.
Lembra-se da feira da SELIC?
Imagine agora uma feira onde só existem bancos. Bancos com dinheiro
sobrando emprestam para outros bancos em troca de uma taxa de juros. A
diferença é que aqui as operações não envolvem títulos do governo.
Todas essas transações são eletrônicas e ocorrem na Central de Custódia
e de Liquidação Financeira de Títulos (CETIP), uma empresa privada.
Estes são empréstimos muito rápidos, duram somente um dia útil. A
essa operação se dá o nome de Depósito Interfinanceiro (DI). Ao final do
dia a taxa média de juros das negociações é calculada e a CETIP divulga o
resultado, o qual é conhecido como DI-OVER (onde o over, vem do termo
overnight e indica as operações DI de somente um dia de duração).
O valor acumulado dessa taxa no tempo é também chamado de CDI como
forma de simplificar e, normalmente, o valor é muito próximo ao da taxa
SELIC.
Se você quiser conhecer exatamente como são feitos esses cálculos,
acesse o site da CETIP em www.cetip.com.br

TAXAS DO CDB

A aplicação em CDB está sujeita a imposto de renda retido na fonte. Retido


na fonte significa que a Receita Federal recolhe o imposto de renda
automaticamente, sem que seja necessário que o investidor faça qualquer
tipo de declaração, cálculo ou pagamento.
O valor do imposto de renda incide sobre o lucro que você teve na
operação e depende de quanto tempo você deixou o dinheiro aplicado.
Atualmente as alíquotas são as seguintes:

Até 180 dias, alíquota de 22,5%;


De 181 a 360 dias, alíquota de 20%;
De 361 a 720 dias, alíquota de 17,5%; e
Mais de 720 dias, alíquota de 15%.

Além da alíquota de imposto de renda devida, caso você deixe seu


dinheiro aplicado por menos de 30 dias, deverá pagar também o Imposto
sobre Operações Financeiras (IOF).
Não há taxas de administração no CDB.
Observando essas características, veja que um fator importante a ser
considerado é o tempo durante o qual o dinheiro ficará aplicado, pois isso
irá reduzir consideravelmente a alíquota do imposto de renda, melhorando
o seu rendimento real.

PAGAMENTO DE JUROS

O pagamento de juros é automático. No entanto, o período em que irá


ocorrer depende do contrato que você fizer com o seu banco. Você pode
combinar para receber diariamente, ao final do período combinado, etc.

VALOR INICIAL

O valor inicial a ser aplicado é um fator importante do CDB. Quanto maior


a quantia a ser investida, melhores podem ser as taxas de rendimento que
você irá obter. Os valores de resgate e saldo mínimo também variam
dependendo do CDB.

LIQUIDEZ

A liquidez é outro fator a ser combinado com o banco. Normalmente para


períodos de aplicação maiores, será possível obter melhores taxas de
rendimento. Existem diversos tipos de CDB. Há aqueles em que é possível
retirar o valor somente no final do período, aqueles em que após um
período mínimo já será possível retirar o valor e aqueles em que a liquidez
é diária.
Normalmente, ao solicitar o resgate do valor aplicado, o crédito na sua
conta é imediato, no entanto, alguns bancos determinam horários limites
de movimentação, fique atento.

RISCOS

O principal risco do CDB está no fato de que você está emprestando


dinheiro ao banco e, caso ele não consiga lhe devolver o empréstimo, você
ficará de mãos vazias. A aplicação em CDB é garantida pelo Fundo
Garantidor de Crédito (FGC) em até R$250.000,00 em caso de falência do
banco, como vimos anteriormente. Porém, lembre-se que essa devolução é
demorada e você não recebe juros.
Por isso, analise com cuidado antes de aplicar em CDB de bancos
pequenos, que são os que oferecem as melhores taxas, caso eles venham a
falir o processo para recuperar o seu dinheiro pode ser longo e
desagradável. Não se engane, bancos irem a falência é mais comum do que
você imagina.
Outro risco a ser considerado é o do custo de oportunidade. Nos grandes
bancos normalmente a taxa de remuneração do CDB será pequena e, para
melhorar seu rendimento, será preciso negociar o investimento de um
valor maior por um período de aplicação maior, o que pode lhe deixar fora
de outras oportunidades, bem como prejudicar a sua diversificação. Além
disso, um valor muito grande lhe deixará fora da garantia do FGC.
Considere também o fato de que para pagar uma alíquota de imposto de
renda reduzida você deve deixar seu dinheiro investido por pelo menos
dois anos. Caso venha a necessitar do dinheiro antes disso, seu rendimento
real poderá não ser tão vantajoso quanto estimava.
Caso a inflação venha a ficar elevada, seus rendimentos poderão ser
seriamente afetados, visto que em alguns CDB sua taxa de remuneração não
está atrelada a nenhum índice de inflação.
Observe que o CDB é um investimento mais elaborado do que a
poupança. Sua movimentação é simples, mas há diversos parâmetros que
podem ser trabalhados de forma a aumentar o rendimento e diminuir as
taxas. Leve sempre em conta sua necessidade de liquidez e disponibilidade
de capital quando for estudar um CDB.
Resumindo, os risco de se investir em um CDB são:

Falência da instituição financeira;


Custo de oportunidade;
Necessidade de esperar dois anos pela alíquota reduzida de
imposto de renda; e
Inflação alta.

Enriqueça seu vocabulário

CDB: Certificado de depósito bancário. Equivale a emprestar dinheiro ao


banco.
Prefixado: Rendimento cuja taxa é fixa e conhecida no início da operação.
Pós-fixado: Rendimento cuja taxa é variável e envolve um índice só
conhecido com o passar do tempo.
CETIP: Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos.
Empresa privada onde são registradas as operações financeiras realizadas
entre os bancos.
DI: Depósito Interfinanceiro. É o nome das operações de empréstimo que
os bancos fazem uns com os outros.
DI Over: São os Depósitos Interfinanceiros com duração de um dia útil.
Over = Overnight.
Taxa DI Over: Média das taxas utilizadas nas operações de DI Over
durante o dia e calculada pela CETIP.
CDI: Certificado de depósito Interbancário. Caracteriza os empréstimos
feito entre os bancos. Também é utilizado para se referir a taxa DI Over
acumulada no tempo.
CAPÍTULO 18

LETRA DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO (LCI)

As letras de crédito imobiliário são títulos de crédito lastreados por


crédito imobiliário garantido por hipoteca ou por alienação fiduciária do
imóvel.
Analise por partes para entender o que isso significa. Títulos, letras,
certificados e outros termos desse tipo remetem ao tempo em que você
efetivamente saía com um papel do banco onde se lia: “título de crédito”,
representando o seu direito pelo valor investido. Hoje em dia, tudo é
digital e o seu direito fica registrado em um computador. Você recebe
apenas um comprovante. Assim, quando você ler título de crédito, entenda
como direito a um valor.
As LCI são títulos de crédito lastreados por crédito imobiliário. Ao ler
“lastreado”, entenda “protegido” ou “garantido”. O dinheiro envolvido nas
LCI está relacionado ao dinheiro envolvido em empréstimos e
investimentos imobiliários e suas respectivas garantias.
Por fim, há a informação de que o crédito imobiliário é garantido por
hipoteca ou alienação fiduciária do imóvel.
O que é uma hipoteca? Hipotecar significa basicamente dar como
garantia. Na compra de imóveis hipotecados, o comprador do imóvel faz
um empréstimo com o banco e como garantia, oferece o imóvel que está
comprando. Caso o comprador não possa mais pagar a dívida, o banco se
torna o dono do imóvel, podendo recuperar o dinheiro que emprestou
vendendo o imóvel, por exemplo.
A alienação fiduciária é semelhante a hipoteca. Alienar nesse caso
significa tirar a posse. A diferença entre a alienação e a hipoteca é que na
alienação o comprador não tem total direito sobre o imóvel, o imóvel não
é realmente dele até a dívida ser paga. Já na hipoteca o imóvel é do
comprador e ele tem certos direitos sobre o imóvel que não existem na
alienação fiduciária.
Mas e a LCI?
Toda aquela frase do início do capítulo indica o seguinte:
O banco faz empréstimos a pessoas que querem comprar imóveis ou
fazer operações no mercado imobiliário. A garantia para estes
empréstimos está nos próprios imóveis, ou seja, se quem pegou
emprestado não pagar, o banco pega o imóvel para si.
Em seguida, o banco “empacota” estes empréstimos em um instrumento
chamado LCI e vende para você.
Apesar de ter um nome diferente, na prática, a LCI é como um CDB, onde
você fará um empréstimo ao banco. A diferença aqui está no que o banco
pode fazer com o dinheiro, que basicamente é financiar o mercado
imobiliário
O banco lucra na diferença dos juros e no pagamento de taxas, além de
não precisar arriscar o próprio capital. Você assume o risco do empréstimo
em troca de poder participar dos lucros do mercado imobiliário sem a
necessidade de ter todo o montante necessário para adquirir um imóvel.
A aplicação em LCI pode ser feita diretamente pelo Banco, ou através de
outras instituições que fazem a intermediação entre você e o banco, como
as corretoras de valores.

Figura 18-1: Funcionamento da LCI.

RENDIMENTO DA LCI
O rendimento da LCI pode ser alguma percentagem do CDI ou algum índice
de preço (como o IPCA) somado a uma taxa. Assim como no CDB, valores e
prazos maiores podem obter taxas de remuneração maiores. Bancos
menores costumam oferecer melhores taxas.

TAXAS DA LCI

A LCI não possui taxas e também é isenta de imposto de renda. A isenção


de imposto de renda é um modo do governo estimular este tipo de
investimento. Fique atento pois isso pode mudar.

PAGAMENTO DE JUROS

Os juros totais são pagos no momento em que é solicitado o resgate, não


sendo necessário reaplicar os juros recebidos enquanto o dinheiro ficar
aplicado.

VALOR INICIAL

Normalmente as LCI exigem valores iniciais consideráveis, em torno de


R$30.000,00. Aplicações adicionais, resgates e saldo remanescente
também exigem valores mínimos.

LIQUIDEZ

Caso sua LCI seja remunerada pelo DI, é necessário manter a aplicação por
no mínimo noventa dias antes de poder resgatar. Após esse período,
normalmente a liquidez se torna diária e o dinheiro do resgate é creditado
em sua conta no próximo dia útil.
Em outros casos, será preciso verificar com o seu banco.

RISCOS

O principal risco da LCI está na instituição emissora, o banco. Assim como


no CDB, caso o banco que emitiu sua LCI não seja capaz de honrar o
pagamento, você ficará sem ver a cor do seu dinheiro. A qualidade da
carteira de crédito imobiliário do banco, ou seja, a qualidade dos
empréstimos que o banco fez para compra de imóveis também deve ser
analisada. Afinal, se a pessoa que fez o empréstimo não pagar ao banco, o
banco não poderá lhe pagar também.
Apesar de os empréstimos serem garantidos pelos imóveis financiados,
ocorre que normalmente os bancos operam alavancados, utilizando
dinheiro que não possuem realmente. Caso o banco faça empréstimos
ruins e opere alavancado demais, cedo ou tarde ele não terá dinheiro para
honrar seus credores e investidores e irá a falência.
Até que a recuperação e venda dos imóveis financiados seja feita para se
pagar os credores ou o FGC honre os investidores do banco, você, mais uma
vez, passará por noites de insônia imaginando quando verá seu dinheiro
novamente.
Assim como em qualquer investimento que exija grande aporte inicial e
período longo de aplicação, na LCI também existe o risco do custo de
oportunidade.
Outro risco, a se considerar para as LCI com rendimento atrelado ao DI, é
que caso a inflação se torne muito elevada, o investidor poderá obter um
rendimento real negativo.
Por fim, há o risco da mudança de legislação em que o imposto de renda
ou outro tipo de taxa comece a ser cobrado, diminuindo seu rendimento
real.
A isenção de imposto de renda é a principal qualidade da LCI, porém, o
alto valor inicial exigido quando comparado a outros investimentos pode
tornar este investimento menos adequado para sua condição. Avalie sua
disponibilidade de capital e necessidade de liquidez quando analisar uma
LCI.
Em resumo, os principais riscos da LCI são:

Falência da instituição financeira;


Custo de oportunidade;
Inflação alta; e
Mudança na legislação do imposto de renda.

Enriqueça seu vocabulário


LCI: Letra de crédito imobiliário. Equivale a você fazer um empréstimo
ao banco para que ele financie o setor imobiliário.
Hipoteca: Empréstimo que se obtém dando como garantia um imóvel.
Você continua dono do imóvel.
Alienação fiduciária: Semelhante a hipoteca, porém quem lhe emprestou
o dinheiro torna-se dono do imóvel até que você pague a dívida.
CAPÍTULO 19

LETRA DE CRÉDITO DO AGRONEGÓCIO (LCA)

As Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) são semelhantes às LCI. Você


emprestará seu dinheiro ao banco para que ele empreste a outras pessoas.
No caso das LCA o dinheiro servirá para financiar o agronegócio, onde os
produtores pegam dinheiro emprestado para realizarem suas plantações e
as dão como garantia para o pagamento do empréstimo.
As LCA não são instrumentos tão comuns como a LCI ou o CDB e somente
alguns bancos as oferecem como possibilidade de investimento para
pessoa física com um valor inicial acessível ao pequeno investidor.
As vantagens para o banco são as mesmas da LCI, ele empresta o
dinheiro ganhando juros maiores do que os que pagará a você e não arrisca
seu próprio capital. Para o investidor, a LCA representa a oportunidade de
lucrar indiretamente no agronegócio.

RENDIMENTOS DA LCA

Assim como na LCI e no CDB, as LCA podem ter rendimentos pré ou pós-
fixados e baseadas nos resultados de algum índice ou indicador.
O rendimento varia de acordo com o valor inicial a ser investido, o
período de aplicação e o risco da instituição que as emite. Como na LCI,
bancos menores irão oferecer taxas de rendimento melhores pois possuem
um risco maior.

TAXAS

Normalmente, os bancos não cobram taxas de administração pelas LCA e


elas são isentas de imposto de renda.

PAGAMENTO DE JUROS
São realizados no momento do resgate.

VALOR INICIAL

Os valores iniciais mínimos podem variar, mas costumam estar entre


R$5.000,00 e R$50.000,00.

LIQUIDEZ

Por definição do governo, toda LCA tem um período mínimo de aplicação


de noventa dias antes de poder ser resgatada. A partir desse período, a
liquidez irá depender do contrato feito com o emissor da LCA, podendo ser
diária ou a partir de um período mínimo.

RISCOS

O maior risco está no banco emissor da LCA. A LCA também é garantida


pelo FGC em até R$250.000,00, mas como você viu, mesmo com seu
dinheiro garantido, a falência do banco pode lhe custar uma boa dor de
cabeça e perdas no rendimento final.
Aqui também existe o risco da mudança na legislação do imposto de
renda, podendo cair a isenção quanto à cobrança; o custo de oportunidade
de deixar uma grande quantia investida por muito tempo e o risco de o
rendimento real ser reduzido devido a uma inflação que supere o
rendimento do indicador ou índice que remunera sua LCA.
Em resumo, os principais riscos da LCA são:

Falência da instituição financeira;


Alteração na cobrança do imposto de renda;
Risco de oportunidade; e
Inflação elevada.

Enriqueça seu vocabulário


LCA: Letra de Crédito do Agronegócio. Equivale a emprestar seu dinheiro
ao banco para que ele financie o setor do agronegócio.
CAPÍTULO 20

CERTIFICADO DE RECEBÍVEIS IMOBILIÁRIOS


(CRI)

Os Certificados de Recebíveis Imobiliários são títulos de crédito emitidos


por empresas securitizadoras lastreados em crédito imobiliário. Diferente
da LCI, onde você empresta seu dinheiro ao banco, ao adquirir um CRI, você
está comprando o direito sobre um fluxo de pagamentos. Vamos entender
melhor.
Como já visto, certificados e títulos representam apenas o nome do
instrumento. “Títulos de crédito” significa que envolve dinheiro e
“lastreados em crédito imobiliário” que esses títulos têm garantias no
dinheiro destinado a operações que envolvem imóveis.
O diferente aqui está no “emitido por empresas securitizadoras”.
Funciona assim: imagine que você aluga sua casa pelos próximos doze
meses e a soma desses doze meses de aluguel resulte numa quantia de
R$12.000,00. Você deseja adiantar o recebimento dessa quantia e aceita
pagar uma taxa de desconto (receber um pouco menos) em troca. Você me
procura e nós fazemos um negócio. Eu lhe dou R$10.000,00 à vista e agora
quem recebe os aluguéis sou eu.
Você tem dinheiro em mãos e se livrou do risco de inadimplência do
aluguel. Eu assumi esse risco mas em troca, ao final de um ano, receberei
um valor maior do que o que lhe emprestei e terei lucro.
Continuando a operação, eu repasso esse mesmo empréstimo para outra
pessoa, em troca de R$10.500,00. Observe, eu tive um lucro de R$500,00
fazendo essa intermediação e a outra pessoa assumiu o risco da dívida em
troca do lucro de R$1500,00 ao final de doze meses.
Nesse exemplo eu, o intermediador, fiz o que as empresas
securitizadoras fazem. Securitização é uma palavra aportuguesada que
vem da palavra inglesa security (valor mobiliário). Securitizar tem o
sentido de “transformar em valor mobiliário” ou seja, em algo que pode
ser negociado. Você normalmente não pode sair por aí negociando os
aluguéis a que tem direito de receber. As empresas securitizadoras podem.
Elas podem comprar direitos sobre recebíveis (dívidas) que estão
relacionados a imóveis (financiamentos, aluguéis, arrendamentos, etc.),
transformar em CRI e negociar esses CRI. Ou podem simplesmente agir
como intermediadoras, transformando a dívida dos clientes de alguma
empresa em CRI e recebendo por este serviço.

Figura 20-1: Funcionamento de um CRI.


Investir em CRI, significa comprar o direito de receber os pagamentos de
uma dívida relacionada a imóveis em troca de assumir o risco do não
pagamento.
Os CRI normalmente exigem altos valores de investimento e são
negociados por corretoras da bolsa de valores ou por bancos. Uma
alternativa para investir em CRI com valores menores, porém com riscos
diferentes, são os Fundos de Investimento Imobiliário, que serão
estudados mais à frente.
Para obter informações de um CRI você deve ler o prospecto de oferta do
mesmo. Isto pode ser obtido com sua corretora, banco ou através do site da
BM& FBOVESPA1.

RENDIMENTOS DO CRI
Os rendimentos dos CRI são normalmente pós-fixados e atrelados a índices
de inflação como o IPCA e o IGP-M.

TAXAS

Investimentos em CRI são isentos de imposto de renda.


Diferente dos investimentos vistos até agora, investir em CRI exige
intermediação de uma corretora de valores e operações no ambiente da
bolsa de valores, o que implica em taxas. Haverá taxas de administração,
taxas de custódia, taxas da bolsa e outras mais. Procure se informar antes
de começar.

PAGAMENTOS DE JUROS

O pagamento dos juros é periódico (normalmente mensal, semestral ou


anual) e depositado na conta da sua corretora. Não há reinvestimento
automático dos juros. Além disso, junto com os juros do período você
recebe um valor conhecido como amortização, que nada mais é que a
devolução de parte do dinheiro que você emprestou. Ao invés do valor
emprestado ser devolvido somente ao final do período combinado, você o
receberá em partes.

VALOR INICIAL

O valor inicial para investimento em CRI é alto. Normalmente está na faixa


dos R$300.000,00. Excetuando-se os casos em que há alguma liquidez no
mercado secundário, não há possibilidade de resgate antecipado nem de
investimentos adicionais.

LIQUIDEZ

Não há liquidez em CRI. O investimento é feito na oferta inicial do mesmo


e só se encerra no final do período acordado. Depois da emissão do CRI,
pode ser possível negociá-lo no mercado secundário caso haja outros
compradores, no entanto, a liquidez é baixa. Considere que, uma vez
investido no CRI, você estará com ele até o final do prazo estipulado.
RISCOS

O principal risco do CRI está em quem vai pagar a dívida. Se o devedor


ficar inadimplente, todo o CRI vai por água abaixo.
Por isso, considerando os altos valores envolvidos, ao investir em CRI
será necessário certo estudo. É preciso analisar com cautela quais os riscos
da dívida que está sendo negociada e possíveis reviravoltas na saúde
financeira dos envolvidos em caso de mudanças macroeconômicas (bolhas
imobiliárias, inflação, medidas governamentais, acidentes). É o tipo de
coisa sobre as quais você normalmente não tem nenhum controle e não
pode prever.
Se o devedor já corre o risco de não pagar a dívida na emissão do CRI em
situações normais, imagine o que acontecerá em caso de crises.

Analise a capacidade do pagamento ser realizado mesmo em crises.


Assim como na LCI, existem algumas garantias por trás da dívida dos
CRI, que envolvem alienações e cessões de imóveis e empreendimentos.
Caso haja algum problema, o emissor do CRI pode entrar na justiça e
solicitar o pagamento do restante da dívida adquirindo o direito sobre
essas garantias. No entanto, além de ser possível que as garantias não
sejam suficientes para cobrir todo o valor restante, não é certo que a
justiça dê decisão favorável aos detentores do CRI.
Em todo prospecto de CRI há uma parte que especifica os riscos a que os
investidores estarão expostos. Dedique atenção especial a ela.
Você verá que nos prospectos há um classificação de risco (algo como
AA+, AAA, etc.). Estas são classificações realizadas por empresas
especializadas em analisar o risco de instrumentos financeiros.
Dependendo do risco, elas dão uma certa classificação de risco,
caracterizada por essas letras. Ainda que sejam grandes empresas ,
especializadas em analisar investimentos, não se deixe levar por essas
classificações e sempre faça sua própria análise. Nunca se sabe quais
foram os interesses reais dessas empresas ao fazer a análise do risco.
A baixa liquidez do mercado secundário pode se tornar um risco. Se
você precisar vender antes do vencimento, poderá não conseguir devido a
falta de compradores ou terá que aceitar vender com lucro pequeno ou
prejuízo.
Também considere os já conhecidos riscos de mudança na legislação do
imposto de renda e do custo de oportunidade. O risco do aumento da
inflação é reduzido pelo rendimento baseado em índices inflacionários que
alguns CRI possuem, mas é sempre bom acompanhar se o seu índice não
está ficando defasado da realidade.
CRI são investimentos complexos. Exigem grande valor inicial, têm
liquidez restrita e riscos que devem ser avaliados pelo investidor com
cautela. Não há garantias como ocorre nas LCI, LCA e CDB. Em
contrapartida, são isentos de imposto de renda e oferecem boa
rentabilidade.

Enriqueça seu vocabulário

CRI: Certificado de Recebíveis Imobiliários. Equivale a adquirir o direito


sobre o fluxo de pagamento relacionado ao mercado imobiliário (aluguel,
financiamento, arrendamento).
Empresas securitizadoras: Empresas autorizadas por lei a transformar
fluxos de pagamentos e dívidas em ativos negociáveis (security).
Amortização: Parcela do empréstimo principal que é devolvida a quem
emprestou.
Mercado Secundário: São as operações realizadas por compradores e
vendedores que não envolvem os emissores dos títulos negociados.
Prospecto: Documento que especifica todas as características de uma
emissão de títulos financeiros.
MERCADO SECUNDÁRIO
Existem dois tipos de mercado. O primário e o secundário.
O mercado primário é aquele que envolve o emissor do título (quem
“criou” o título) e possíveis compradores.
No caso dos CRI, a empresa securitizadora é quem “cria” o CRI, portanto,
quando a empresa securitizadora faz a emissão do CRI e o vende para você,
trata-se do mercado primário.
O mercado secundário envolve as negociações que ocorrem após a
emissão do título, entre compradores e vendedores alheios à emissora.
Quando você vende o seu CRI para outra pessoa, trata-se do mercado
secundário.
No caso das LCI, LCA e CDB o próprio banco (emissor dos títulos) é quem
compra de volta estes títulos quando você decide retirar seu dinheiro antes
do prazo.
Já nos CRI, a emissora não se compromete a comprar de volta seus CRI
caso você deseje convertê-los em dinheiro antes do prazo. Para você fazer
isso, será necessário encontrar alguém que esteja disposto a comprar o seu
CRI. Essa negociação é feita na bolsa de valores.
Por se tratar de modalidade de investimento recente e restrita a
investidores qualificados, o mercado secundário de CRI é bastante limitado
e sem liquidez, ou seja, não há quase ninguém querendo comprar ou
vender estes títulos.

Resumindo os riscos do CRI:

Calote do devedor;
Risco de oportunidade devido ao alto valor inicial;
Mudança na legislação do imposto de renda; e
Pouca liquidez.
1 www.bmfbovespa.com.br/rendafixa/
CAPÍTULO 21

DEBÊNTURES

Até aqui foram vistos instrumentos de renda fixa que equivalem a


emprestar seu dinheiro ao banco. As debêntures equivalem a emprestar seu
dinheiro para empresas.
Para algumas empresas é mais vantajoso operar com dinheiro
emprestado do que com seu próprio capital, devido ao alto retorno que elas
conseguem obter com suas atividades. No final paga-se os juros e ainda
sobra muito lucro.
Uma forma utilizada por essas empresas para captar recursos são as
debêntures. Portanto, ao investir em debêntures, você está emprestando
seu dinheiro a uma empresa em troca de receber juros.
Para investir em debêntures é necessário ter conta em uma corretora de
valores. As operações são realizadas na BM&FBOVESPA e na CETIP. Todas as
informações relativas a uma emissão de debêntures são definidas nos
prospectos e comunicados que podem ser obtidos nos sites dessas duas
instituições. Normalmente todo o processo será realizado através da sua
corretora. Você informará quanto quer investir, a corretora registrará a
ordem no sistema e informará quando for executada.

RENDIMENTOS DAS DEBÊNTURES

Os rendimentos variam para cada debênture. Normalmente envolvem


algum rendimento relativo a outro instrumento (índices, títulos do tesouro,
juros de referência, entre outros) acrescido de uma sobretaxa fixa. Ex: IPCA
+ 5%, Tesouro IPCA+ com juros semestrais 2020 + 0,7% .

TAXAS
Sobre o lucro obtido com aplicações em debêntures incide a tabela
regressiva de imposto de renda:

Até 180 dias, alíquota de 22,5%


De 181 a 360 dias, alíquota de 20%
De 361 a 720 dias, alíquota de 17,5%
Mais de 720 dias, alíquota de 15%

Além disso, poderá haver taxas da BM&FBOVESPA e taxas da corretora.


Se você negociar suas debêntures no mercado secundário em menos de
30 dias após a compra, haverá a cobrança de IOF.
Existe um tipo especial de debênture chamada debênture incentivada.
Estas são debêntures emitidas por empresas, normalmente de
infraestrutura, que irão realizar projetos considerados essenciais pelo
governo. Como forma de estimular o investimento nessas emissões
específicas, fez-se uma lei isentando o investimento em debêntures
incentivadas do pagamento de imposto de renda.
Portanto, em debêntures incentivadas não ocorre a incidência de
imposto de renda.
PAGAMENTOS DE JUROS
O pagamento dos juros é periódico, podendo ser mensal, semestral ou
anual. Não há reinvestimento automático dos juros e eles são depositados
na sua conta na corretora de valores. Pode haver também o pagamento de
amortizações periódicas.
VALOR INICIAL
O valor inicial depende muito de cada oferta. Varia bastante, com valores
entre R$1.000,00 e R$300.000,00.
LIQUIDEZ
Em debêntures, o emissor não se compromete a recomprar os títulos,
portanto, uma vez adquirido, você terá de manter o investimento até o
vencimento. Caso deseje vender antes, será preciso tentar negociar no
mercado secundário, que pode não ter uma boa liquidez, obrigando-o a
vender com deságio.
RISCOS

O principal risco está na empresa para a qual você está emprestando seu
dinheiro. Você deve ter certeza de que ela será capaz de pagar a dívida.
Será preciso analisar, através dos balanços, como anda a saúde financeira
da empresa, a governança (a forma como a empresa é dirigida) e o
histórico de emissão debêntures ( para saber se a empresa pagou em dia ou
realizou negociações e pagamentos antecipados).
Estas demonstrações financeiras podem ser obtidas nos próprios
prospectos.
Existe o risco da empresa desejar adiantar o pagamento da dívida, o que
implica em seu dinheiro ficar aplicado menos tempo do que você esperava
e lhe obrigar a pagar as alíquotas maiores de imposto de renda. Em alguns
casos, a possibilidade do pagamento antecipado já é prevista no prospecto
da emissão. Procure saber se a debênture em que você deseja investir pode
incorrer nesse caso.
A baixa liquidez no mercado secundário também é um risco para o
investidor de debêntures. Caso você se encontre em uma situação em que
precisa retirar o dinheiro aplicado, isto poderá não ser possível, ou exigirá
a venda com lucro ínfimo, às vezes até mesmo no prejuízo.
Investir em debêntures exigirá uma boa capacidade de analisar empresas
e seus resultados frente a possíveis acontecimentos para se ter certeza de
que ela será capaz de pagar a dívida. Além disso, a característica de baixa
liquidez do mercado secundário e o valor inicial que pode ser alto implica
em investir dinheiro que não será necessário no curto prazo.
Analise com cuidado as taxas de remuneração; normalmente, quando
comparadas a outros investimentos de renda fixa, elas oferecem vantagens
somente em certas condições: inflação estabilizada, aumento da taxa SELIC,
queda da taxa SELIC, etc.
Resumindo, os principais riscos do investidor em debêntures são:

Incapacidade da empresa emissora de pagar a dívida;


Pagamento adiantado das remunerações, pagando mais imposto de
renda;
Pouca liquidez; e
Taxas de remuneração que são vantajosas somente em situações
macroeconômicas específicas.

Enriqueça seu vocabulário

Debênture: Títulos de crédito frente a uma empresa emissora. Equivale a


você emprestar dinheiro para uma empresa.
Debênture Incentivada: São debêntures em que não incide imposto de
renda sobre os rendimentos.
CAPÍTULO 22

TESOURO DIRETO

O Tesouro Direto é um sistema eletrônico criado pelo governo federal para


possibilitar a um investidor pessoa física o investimento em títulos
públicos. Tesouro Direto é o nome dado ao sistema, e não ao investimento.
É através do Tesouro Direto que você investe em títulos públicos do
governo federal.
Investir em títulos públicos pelo Tesouro Direto é o mesmo que
emprestar dinheiro ao governo e em troca receber juros. Os títulos
disponíveis, datas de vencimento e taxas de remuneração variam, por isso
é importante se informar sobre os títulos em negociação no momento em
que você for investir.
Observe a Figura 22-1 retirada do site do Tesouro Direto1, nela você vê
que, naquele momento havia três tipos de títulos disponíveis para compra:
indexados ao IPCA, prefixados e indexados à taxa SELIC. Na primeira coluna,
estão listados os títulos disponíveis.
Na coluna da direita, “Vencimento”, está a data de vencimento dos
títulos, ou seja, a data em que o governo se compromete a devolver o seu
dinheiro acrescido dos juros combinados.
Em seguida, na coluna “taxa (a.a.)”, estão especificadas as taxas
oferecidas para compra e para venda. Alguns títulos não estão mais
disponíveis para compra, como o Tesouro IPCA+ 2017 (NTN-B), por isso a
coluna compra fica em branco para eles.
A coluna “Preço unitário” indica o preço de um título. Quando você
investe pelo Tesouro Direto, você está comprando do governo um título
que dá ao comprador o direito de receber o seu valor corrigido pela taxa
combinada ao término do período especificado.
Depois que você compra um título há duas coisas que podem acontecer:
aguardar até o fim do prazo estipulado e receber o valor combinado ou
vender o título antecipadamente (antes do vencimento) de volta para o
governo. No segundo caso, o governo irá pagar pelo título o valor do título
no dia da venda.
Na coluna “Preço unitário” é possível ver o preço para compra do título
e para venda do título de volta ao governo, naquele dia (os preços mudam
diariamente).

Figura 22-1: Títulos em negociação no Tesouro Direto.

TÍTULOS INDEXADOS AO IPCA

Os títulos públicos indexados ao IPCA, são chamados Notas do Tesouro


Nacional – Série B (NTN-B). Também existe um subtipo chamado NTN-B
PRINCIPAL . A diferença entre a NTN-B e a NTN-B PRINCIPAL é que a NTN-B paga
cupons semestrais, depositando parte do rendimento na sua conta
periodicamente. A NTN-B PRINCIPAL só irá lhe pagar os rendimentos no
vencimento do título. Para facilitar às pessoas entender o funcionamento
dos títulos, o Tesouro também adotou uma nomenclatura descritiva
(TESOURO IPCA+, TESOURO PREFIXADO e TESOURO SELIC). Independente do
nome, o mais importante é que você conheça as características de cada
título.
A NTN-B PRINCIPAL possui fluxo de pagamento simples. O investidor faz a
aplicação e resgata o valor de face (valor investido somado à
rentabilidade) na data de vencimento do título:

Figura 22-2: Fluxo de pagamento da NTN-B Principal.


Já na NTN-B o rendimento da aplicação é recebido pelo investidor ao
longo do período de investimento, por meio de cupons semestrais de juros,
e na data do vencimento do título, quando houver o resgate do valor de
face (valor investido somado à rentabilidade restante) e pagamento do
último cupom de juros:
Figura 22-3: Fluxo de pagamento da NTN-B.
Observe a Figura 22-4 que mostra os títulos indexados ao IPCA
disponíveis para compra ou venda em um determinado dia. Na coluna
“Vencimento” está a data de vencimento do título. Esta é a data em que o
governo irá lhe devolver seu dinheiro somado ao valor dos juros conforme
a taxa combinada. É importante observar aqui uma característica da renda
fixa que já foi discutida. Sempre haverá dois fatores, uma taxa e um prazo.
Ao investir em títulos públicos você deve dar atenção especial a estes dois
fatores, pois o valor combinado só será pago efetivamente na data de
vencimento do título. Se você decidir por revender seus títulos antes do
vencimento, não é possível saber com certeza qual será o resultado da sua
operação, podendo até ser negativo.2

Figura 22-4: Títulos indexados ao IPCA.


O valor em percentual que aparece na coluna “Taxa % a.a.”, é o
rendimento percentual que será pago além do valor do IPCA. Por exemplo,
na NTN-B 150820 o valor de 7,34% na coluna taxa indica que na data
consultada o governo remuneraria o dinheiro que você investisse naquele
título com uma taxa de IPCA + 7,34% ao ano (a.a.). Isso equivale a dizer
que, se em um ano o IPCA for igual a 6%, seu dinheiro seria remunerado em
13,34% (6 + 7,34).
Em seguida, na coluna “Preço unitário” está o valor em reais daquele
título na data consultada. No caso da NTN-B 150820 o valor era de R$
2.660,10 para compra e R$2.656,09 para venda. Isto significa que, se você
quisesse comprar 10 títulos NTN-B 150820, você teria de desembolsar
R$26.601,00 mais as taxas.
O mínimo que pode ser comprado é o equivalente a 0,1 título. Portanto,
o mínimo possível de ser comprado em NTN-B 150920 naquela data era de
R$266,01.
Qual título comprar, NTN-B ou NTN-B PRINCIPAL?
A NTN-B faz pagamentos semestrais enquanto a NTN-B PRINCIPAL não. Ter
pagamentos semestrais pode ser uma vantagem caso você queira utilizar
esse dinheiro como forma de complementar sua renda. A principal
desvantagem é que você pagará valores maiores de Imposto de Renda,
devido à tabela regressiva que é utilizada na cobrança do imposto em
aplicações no Tesouro Direto. Para uma mesma data de vencimento, o
investidor que comprou o título que não paga cupons irá ter um
rendimento maior do que o que optou por receber os cupons.
Os cupons semestrais pagos equivalem a 6% a.a. sobre o valor nominal
atualizado. Para entender melhor como este cálculo funciona, leia o
quadro “CÁLCULO DOS PREÇOS DOS TÍTULOS PÚBLICOS” ao final
do capítulo.
Caso você não necessite dessa renda semestral, a NTN-B PRINCIPAL oferece
mais vantagens pois aproveitará todo o potencial dos juros compostos e
evita as maiores alíquotas de imposto de renda.

TÍTULOS PREFIXADOS

Os títulos prefixados são as Letras do Tesouro Nacional (LTN), também


chamadas de Tesouro Prefixado e as Notas do Tesouro Nacional – Série F
(NTN-F), também chamadas de Tesouro Prefixado com Juros Semestrais.
Ao comprar estes títulos, você já sabe quanto receberá de juros, pois a
taxa de remuneração deles não depende de nenhum índice.

Figura 22-5: Títulos prefixados.


Na figura 22-5 é possível ver que naquele dia estavam disponíveis duas
LTN e uma NTN-F para negociação (títulos com taxa e preço informados na
coluna “Compra”). Caso você optasse por comprar a LTN com vencimento
em 2018, você receberia juros de 15,95% a.a.
As LTN possuem fluxo de pagamento simples, enquanto as NTN-F pagam
cupons semestrais equivalentes a 10% a.a. do valor nominal do título na
sua data de resgate, que é de R$1.000,00. Isto equivale a cerca de R$49,00
por semestre para um título.
Figura 22-6: Fluxo de pagamento da LTN.

Figura 22-7: Fluxo de pagamento da NTN-F.


As vantagens entre LTN e NTN-F são equivalentes às da NTN-B e NTN-B
PRINCIPAL . Caso você não necessite de pagamentos semestrais, prefira as
LTN.

TÍTULOS INDEXADOS À TAXA SELIC

Os títulos indexados à taxa SELIC são chamados de Letras Financeiras do


Tesouro (LFT) ou Tesouro SELIC. Elas rendem o mesmo que a taxa SELIC do
período, somado ao ágio ou deságio de compra.
Na LFT disponível para compra na Figura 22-8 (Tesouro SELIC 2021), sua
taxa de rendimento seria equivalente à taxa SELIC sem ágio pois o mesmo
está em 0% (conforme subcoluna “Compra” da coluna “Taxa % a.a.”).
A LFT possui fluxo de pagamento simples. O rendimento das letras
financeiras é calculado diariamente e ocorre conforme a variação da taxa
SELIC no período reduzida pelo seu ágio ou somada ao seu deságio.
Figura 22-8: Tìtulos indexados à taxa SELIC.

Figura 22-9: Fluxo de pagamento da LFT.


Por exemplo, se no dia primeiro você comprou a LFT 070317 (Tesouro
SELIC 2017) com o ágio de 0,01, seu rendimento ocorrerá conforme a
Tabela 22-1.
Dia Variação SELIC Ágio Seu
rendimento
2 0,2% -0,01% 0,19%
3 0,3% -0,01% 0,29%

Tabela 22-1: Rendimento de uma LFT.


Essa característica torna as LFT um pouco diferente dos demais títulos
públicos porque, como o cálculo do rendimento é diário, caso você
necessite fazer uma venda antecipada (antes da data de vencimento) seu
rendimento será muito semelhante à variação registrada pela taxa SELIC no
período em que você permaneceu com o título. Em outros títulos, você
seria obrigado a aceitar o preço que o governo esta pagando naquele dia, o
que pode acabar resultando em rendimento negativo.

RENDIMENTOS DOS TÍTULOS PÚBLICOS


NTN-B
e NTN-B PRINCIPAL: variação do IPCA mais a taxa oferecida no
momento da compra.
LTN e NTN-F: taxa fixa oferecida no momento da compra.
LFT :
igual à variação da taxa SELIC subtraindo-se o ágio ou
somando-se o deságio.

Caso você faça a venda dos seus títulos antes da data de vencimento,
você receberá o preço que está sendo oferecido no dia da venda e isso,
como você verá, não tem qualquer ligação com a taxa acordada na compra
do seu título, podendo inclusive ser um preço abaixo do que você pagou.

TAXAS

Para investir pelo Tesouro Direto é necessário ter conta em uma corretora
de valores que faça parte desse sistema.
A BM&FBOVESPA cobra uma taxa de custódia (manutenção da sua conta)
de 0,3% ao ano sobre o valor total dos seus títulos. O valor é descontado
semestralmente, no primeiro dia útil dos meses de janeiro e julho. Fique
atento para disponibilizar dinheiro na corretora para pagar estas taxas.
Sua corretora pode ou não cobrar uma taxa de custódia. Existem
corretoras que não cobram essa taxa, procure se informar a respeito, pois
isso pode ser uma vantagem. No próprio site do Tesouro Direto3 é possível
obter uma lista com as corretoras e suas respectivas taxas.
O imposto de renda é cobrado na já conhecida tabela regressiva:

Até 180 dias, alíquota de 22,5%


De 181 a 360 dias, alíquota de 20%
De 361 a 720 dias, alíquota de 17,5%
Mais de 720 dias, alíquota de 15%

E para investidores muito afoitos que façam operação de menos de 30


dias incidirá o IOF proporcional.

PAGAMENTOS DE JUROS
Nas NTN-B PRINCIPAL, LTN e LFT o pagamento é feito na data de vencimento
do título.
Nas NTN-B e NTN-F é feito o pagamento de cupons semestrais até a data
de vencimento do título, onde é pago o restante da rentabilidade
combinada.

VALOR INICIAL

Depende do preço dos títulos, lembrando que o mínimo a ser aplicado é o


equivalente a 0,1 título. Em reais, o valor mínimo que pode ser aplicado é
de R$30,00.

LIQUIDEZ

O Tesouro Nacional faz a recompra dos títulos diariamente. O investidor


deve comandar a venda dos títulos das 18h às 05h em dias úteis e em
qualquer horário nos fins de semana e feriados. A transação será efetuada
no dia útil posterior à ordem de venda.
Fique atento, em alguns títulos, ao vender antecipadamente, você pode
ter rendimentos negativos consideráveis.
No vencimento do título, tudo ocorre automaticamente e o valor total
que você tem a receber será depositado na sua conta da corretora de
valores.

RISCOS

Para entender um dos principais riscos do Tesouro Direto, é preciso


analisar qual a relação entre o valor dos títulos e a taxa SELIC. Leia o
quadro “CÁLCULO DOS PREÇOS DOS TÍTULOS PÚBLICOS” para
compreender com mais detalhes o funcionamento dos títulos públicos e a
variação de seus preços.
Caso você não queira perder tempo com a explicação basta saber o
seguinte:
Com aumento da taxa SELIC, o preço das notas do tesouro (NTN) e da
letras do tesouro (LTN) cai. Com redução da taxa SELIC, os preços desses
títulos aumentam.

Á Í Ú
CÁLCULO DOS PREÇOS DOS TÍTULOS PÚBLICOS
O preço unitário de um título público (PU), é calculados pela seguinte
fórmula:

VNA, significa “Valor Nominal Atualizado”. Para títulos prefixados (LTN


e NTN-F) o VNA será sempre R$1.000,00. Para títulos pós-fixados o VNA
equivale a R$1.000,00 corrigidos pelo índice que remunera o título desde
a data base (01/07/2000 para LFT e 15/07/2000 para NTN-B) até o dia de
hoje.
O VNA de uma NTN-B corresponde a quanto valem R$1.000,00 aplicados
em 15/07/2000 e corrigidos pelo IPCA até o dia de hoje.
Raciocínio semelhante vale para as LFT. O VNA de uma LFT equivale a
quanto valem R$1.000,00 aplicados em 01/07/2000, corrigidos pela taxa
SELIC até o dia de hoje.
A segunda parte, a COTAÇÃO, equivale ao valor presente do fluxo do
título, descontando-se a taxa de juros informada. Isso quer dizer que a
cotação de um título equivale a resposta para a seguinte pergunta: “Qual é
o valor que aplicado hoje a uma taxa conhecida, valerá 100 no
vencimento?”. Em outras palavras, você conhece o valor que receberá no
futuro, mas quer saber quanto ele vale no presente, levando-se em conta a
taxa de juros que o remunera. O cálculo é feito através da fórmula:

Onde:
taxa: Taxa de juros anual
du: dias úteis até o vencimento.
Finalmente, multiplicando o valor da COTAÇÃO vezes o VNA e dividindo
por 100, você terá o valor do PU.

O cálculo para os títulos que pagam cupons (NTN-B e NTN-F) exige


também que se leve em conta o fluxo de pagamento dos cupons para se
calcular o preço do título.
Segue uma análise somente dos títulos que não pagam cupom.
Observe a figura 22-10:

Figura 22-10: Títulos em negociação no Tesouro Direto.


Esta é a tabela de preços e taxas dos títulos retirada do site do Tesouro
Direto no dia 05/09/2014.
Em consulta ao site do Banco Central nesta data, a meta da taxa SELIC ao
ano era de 11% e o IPCA anual era de 6,35%.
Observe a NTN-B PRINCIPAL 150519 na Figura 22-10. A taxa paga para
quem a comprasse naquele dia era de IPCA mais 5,35%. Somando 6,35% do
IPCA mais os 5,35% oferecidos, resultará o valor de 11,70% a.a. Muito
próximo do valor da meta da taxa SELIC. Observe como a taxa de
remuneração dos outros títulos também tem essa característica.
O fato é que as taxas oferecidas para remunerar os títulos públicos são
sempre muito próximas à taxa SELIC e são alteradas quando a taxa SELIC é
alterada. Se a taxa SELIC aumenta, as taxas dos títulos públicos também
aumentam; se a taxa SELIC é reduzida, as taxas dos títulos públicos são
reduzidas.
Como isso influi nos preços dos títulos?
Lembra-se da forma para cálculo da COTAÇÃO dos títulos?

Nela há duas variáveis, dias úteis (du) e a taxa de remuneração.


Mudanças na taxa SELIC geram mudanças nas taxas de remuneração dos
títulos e consequentemente, haverá mudanças no valor da COTAÇÃO dos
títulos.
Vamos calcular, para uma LTN com vencimento daqui a 504 dias úteis
(aproximadamente 2 anos), o impacto na variação das taxas sobre o PU
(Tabela 22-2):
Taxa VNA Cotação PU
7%a.a. 1.000,00 87,343 873,43
8%a.a. 1.000,00 85,733 857,33
9%a.a. 1.000,00 84,167 841,67
10%a.a. 1.000,00 82,644 826,44
11%a.a. 1.000,00 81,162 811,62
Tabela 22-2: Cálculo do Preço Unitário (PU) de um Título Público.
Observe que um aumento nas taxas afeta negativamente o PU da LTN e
redução nas taxas afeta positivamente. Como a taxa de juros oferecida
para a LTN é semelhante à taxa SELIC, um aumento da taxa SELIC irá causar
um aumento nas taxas oferecidas para as LTN o que causará uma
diminuição no valor desses títulos.
O mesmo raciocínio vale para as NTN-B pois variações nas taxas afetarão
a cotação desses títulos e , consequentemente, seu preço.
E as LFT?
Nas LFT, a variável taxa utilizada para o cálculo da cotação equivale ao
ágio ou deságio oferecido no momento da compra. Isto significa que
variações na taxa SELIC não afetam a cotação das LFT e sim o seu VNA.
Como o VNA se refere ao passado, variações na taxa SELIC farão a LFT
render mais, ou render menos, mas não irão causar variações negativas no
preço como uma mudança na taxa SELIC de 7% para 11% causaria na LTN
(com uma variação dessas, as LTN cujo preço era de 873,43, passam a valer
811,62, uma variação de -7%).
Portanto, o preço dos títulos públicos do Tesouro Direto é afetado pelo
valor da taxa SELIC estipulado pelo governo.
Quanto mais longe for o vencimento do título, mais o preço deles será
afetado por variações na taxa SELIC. Isto também pode ser entendido
observando-se a fórmula do cálculo da cotação, pois os dias úteis para o
vencimento (du) são um fator que influi na fórmula.
Repita o cálculo feito para uma LTN com vencimento daqui a 504 dias,
agora para um título com vencimento daqui a 2520 dias, ou 10 anos.
Taxa VNA Cotação PU
7%a.a. 1.000,00 50,834 508,34
8%a.a. 1.000,00 46,319 463,19
9%a.a. 1.000,00 42,241 422,41
10%a.a. 1.000,00 38,554 385,54
11%a.a. 1.000,00 35,218 352,18
Tabela 22-3: Cálculo do PU para título com vencimento longo.
Na LTN com vencimento em 504 dias úteis, uma variação positiva nas
taxas de 7% para 11%a.a. resultaria em uma queda de 7% no preço do
título. Já na LTN com vencimento para daqui a 2520 dias úteis, a mesma
variação nas taxas, resultaria em uma queda de 30% no preço do título.
No caso de queda nas taxas, ocorrerá o inverso, havendo um aumento
nos preços dos títulos, que será mais expressivo quanto maior for o prazo
para o vencimento do título

As Letras e Notas do Tesouro sofrem variação em seu preço quando ocorre


variação na taxa SELIC. Isto significa que, caso o investidor venda seu título
antes do prazo combinado, sua rentabilidade pode ser menor ou maior do
que a que ele esperava.
A rentabilidade combinada na compra do título só será recebida se o
título for mantido até a data de vencimento. Se você precisar vender seu
título antes do vencimento por qualquer motivo, você poderá ter uma
surpresa.
Suponha que você comprou uma LTN com vencimento para daqui a 10
anos, numa época em que a taxa combinada era de 7% a.a., pagando R$
508,34 por título e, um ano depois da sua compra, o governo eleva a meta
da taxa SELIC para 11% a.a. Consequentemente, as taxas oferecidas pelo
governo para remunerar a LTN serão ajustadas para um valor próximo
disso. Essa variação nas taxas faz o preço da LTN cair para R$390,92.
Por algum motivo, você se vê obrigado a retirar o dinheiro que você
tinha aplicado no Tesouro Direto. Você terá que vender sua LTN por
R$390,92, resultando em um prejuízo de R$117,42 ou 23%.
Você percebeu? Comprou um título que prometia pagar 7% a.a., mas
depois de um ano precisou vender e obteve uma rentabilidade negativa de
23%.
Suponha a situação inversa. Você comprou sua LTN numa época em que a
taxa oferecida era de 11% a.a., pagando R$352,18. Um ano depois, o
governo reduziu a taxa SELIC para 7% a.a. e você decide vender seu título.
Você receberá R$543,93 pela sua LTN, resultando em um lucro de R$191,74
e uma rentabilidade de 54%.
Toda essa explicação serve para você entender que a taxa combinada no
momento da compra do título, só será recebida se você mantiver a
aplicação até o vencimento. Portanto, ao investir em NTN-B, NTN-F e LTN,
caso você tenha que vender seus títulos antes do combinado, você estará se
expondo ao risco da variação nos preços dos títulos causada por mudanças
na taxa SELIC. Esse efeito da variação das taxas sobre o preço dos títulos é
chamado de marcação a mercado.
A LFT (Tesouro Selic) não sofre desse mal, rendendo sempre igual à
variação da taxa SELIC no período.
Caso haja um aumento na inflação, as LTN, NTN-F e as LFT não estarão
protegidas, pois a inflação pode ultrapassar a taxa que você recebe na sua
LTN ou NTN-F e a taxa SELIC que remunera a LFT . Nesse caso, investindo em
um desses títulos, você pode ter rendimentos reais negativos caso ocorra
um aumento da inflação.
Você também já deve ter percebido que o principal risco de todos os
títulos é o caso de o governo decidir não pagar as suas dívidas, manobra
conhecida como calote. Isso já ocorreu em alguns países. No Brasil, o
resultado de um calote do governo provavelmente será uma crise
econômica geral tão grave que afetará não só os seus investimentos, mas
também sua vida como um todo.
Para combater esse risco, diversifique seus investimentos.
Resumindo os riscos de cada título:
NTN-B e NTN-B PRINCIPAL:

Risco de calote do governo; e


Risco da variação nos preços no caso de vender antes do
vencimento.

LTN e NTN-F:

Risco de calote do governo;


Risco de aumento da inflação; e
Risco da variação nos preços no caso de vender antes do
vencimento.
LFT :

Risco de calote do governo; e


Risco de aumento da inflação.

Por fim, é possível também que o governo decida mudar os títulos


disponíveis para venda, prejudicando seus planos de investimento. Os
títulos estudados aqui são os que estavam disponíveis na época em que
este livro foi escrito. Pode ser que o governo brasileiro venha futuramente
a retirar alguns títulos do sistema ou a lançar títulos com características
diferentes das vistas aqui. Neste caso, basta se informar no site do Tesouro
sobre as características destes novos títulos e analisá-los como fizemos
neste capítulo.

Enriqueça seu vocabulário

Tesouro Direto: Sistema eletrônico utilizado para investir nos Títulos do


governo federal.
NTN-B: Notas do Tesouro Nacional Série B. Título pós-fixado que recebe
como juros a variação do IPCA mais uma taxa combinada na compra do
título. Paga cupons de 6% a.a.
NTN-B PRINCIPAL: Diferencia-se das NTN-B porque não recebe cupons.
LTN: Letras do Tesouro Nacional. É um título prefixado
NTN-F: Notas do Tesouro Nacional Série F. É um título prefixado que
paga cupons de 10% a.a.
LFT: Letras Financeiras do Tesouro. Título pós-fixado que paga juros
correspondentes à variação da taxa SELIC.
Marcação a mercado: Efeito da variação da taxa de juros sobre o preço
dos títulos públicos

1 Todas as figuras desse capítulo foram tiradas do site do Tesouro Direto, disponível em
www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto.

2 Você pode estimar o valor que irá receber utilizando a calculadora do Tesouro Direto disponível
em www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-calculadora.

3 www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-instituicoes-financeiras-habilitadas.
CAPÍTULO 23

APLICAÇÕES DE RENDA VARIÁVEL

Aplicações de renda variável são chamadas assim porque o seu rendimento


é desconhecido, podendo ser tanto positivo quanto negativo ou neutro.
Como diz um jargão dos investidores, pode subir, cair ou ficar onde está.
Neste cenário de incerteza, fica a dúvida de por que deveríamos investir
em ativos de renda variável.
Todos os dias você deve acompanhar no jornal que a Bolsa subiu tantos
por cento, ou caiu tantos por cento e os apresentadores se esforçando para
justificar essas variações.
No momento em que você iniciar sua vida na renda variável, abrindo sua
conta em uma corretora e lendo sobre ações, você será esmagado pelas
estórias de enriquecimento rápido, oportunidades de se alavancar e ganhar
muito dinheiro.
Ao se deparar com os gráficos de ações você chegará à mesma
conclusão a que todos chegam: basta comprar barato e vender caro, fazer
isso algumas vezes, e você ficará milionário.
Comprar alguma coisa para vender mais caro depois sem se importar
com o que está vendendo e sem adicionar valor àquela coisa é uma
atividade conhecida como especulação.
Especulação pode ser feita com qualquer tipo de produto ou serviço, no
entanto, a imensa liquidez da bolsa de valores e a fantástica quantia de
dinheiro movimentada neste ambiente, tornam a especulação com o preço
das ações uma forma de ganhar dinheiro que salta aos olhos do observador
principiante. Há ainda um grande incentivo por todos os intermediários
envolvidos nas negociações, pela própria bolsa de valores e pelo governo
para que você faça operações de especulação. Para eles não importa se
você ganha ou perde, terá de pagar as taxas do mesmo jeito.
Não se engane, é muito provável que em seu primeiro contato com a
Bolsa, você também fique impressionado com a variação insana dos
preços e a aparente possibilidade de ganhar muito dinheiro em pouco
tempo. Você ficará tentado a operar todo o dinheiro que possui em ações
que, “sem sombra de dúvidas”, só podem subir. Ficará encantado com a
mágica dos preços que se movimentam e os gráficos que não param onde
estão fazendo-o vislumbrar a riqueza que está ali a seu alcance.
Por sorte, este livro está aqui para trazê-lo de volta à realidade e injetar
um pouco de nitrogênio líquido em suas veias antes que você perca seu
dinheiro e saia derrotado nunca mais querendo voltar.

Para investir na Bolsa você precisa ser frio.


Antes de mais nada, você precisa compreender o que é uma Bolsa de
Valores e por que ela foi criada. Para isso, nós vamos abrir uma empresa, a
INVESTINDO S.A.

BOLSA DE VALORES

Você e eu nos juntamos e resolvemos abrir uma empresa. Somando nosso


dinheiro vemos que não teremos a quantia total necessária para estruturar
a nossa empresa de forma adequada. Se quisermos evitar o fim da
INVESTINDO antes mesmo de ela começar, precisaremos obter mais
dinheiro. Temos duas alternativas, podemos fazer um empréstimo ou
encontrar um investidor disposto a tornar-se nosso sócio. Suponha que um
amigo em comum resolva entrar na jogada e complemente o dinheiro que
falta. Resolvido este impasse, nós agora podemos dar início à
INVESTINDO S.A.
VALOR NECESSÁRIO PARA ABRIR A EMPRESA: 100
VALOR QUE EU TENHO: 40
VALOR QUE VOCÊ TEM: 40
INVESTIDO POR OUTROS: 20
Para saber quanto cada um de nós possuirá da empresa, nós pegamos o
valor inicial que investimos nela e dividimos por algum número
combinado previamente, digamos 100. Podemos chamar essas cem partes
de cotas ou ações. Assim, se você investiu dinheiro equivalente a 40 ações,
você agora é dono de 40 ações da INVESTINDO S.A.
AÇÕES TOTAIS DA EMPRESA: 100
AÇÕES QUE EU POSSUO: 40
AÇÕES QUE VOCÊ POSSUI: 40
AÇÕES DOS OUTROS: 20
Portanto, ações são como pequenos pedaços da empresa. Mas qual a
importância disso? Para que fazer essa divisão?
Quando abrimos nossa empresa, fizemos um contrato. Nele,
especificamos exatamente como saber quem é que manda na empresa e
como serão feitas as divisões dos possíveis lucros. Para isso, utilizamos as
ações.
Quando tivemos a ideia da INVESTINDO, não queríamos nosso amigo
se intrometendo na empresa, mas precisávamos do seu dinheiro. Ele por
outro lado não estava interessado nesse assunto, encarando a operação toda
apenas como um investimento. Mas como saber se um dia ele não
discordará de nossas decisões e resolverá se intrometer? Ou como saber
quem decide mais dentro da empresa, eu ou você? Como saber quanto da
empresa pertence a mim ou a você realmente? E se você um dia resolver
vender sua parte da empresa?
Resolvemos este problema com as ações. Só poderá votar nas decisões
da empresa quem possuir um número mínimo de ações. A porção dos
lucros a ser dividida entre os donos será proporcional ao número de ações.
Se você desejar sair da empresa, basta vender suas ações.
Retome comigo: nós resolvemos criar a INVESTINDO S.A. Para isso
contamos com o investimento de um amigo, que nos ajudou a obter o
dinheiro necessário para abrir a empresa. Este dinheiro é conhecido como
CAPITAL SOCIAL. Para deixar tudo bem claro quanto às questões de
posse da empresa, dividimos seu valor em pequenas partes chamadas de
ações e cada um recebeu um número de ações proporcional ao valor que
investiu.
A INVESTINDO S.A. torna-se um sucesso. Queremos crescer cada vez
mais e para isso tomamos empréstimos e convencemos investidores a nos
darem seu dinheiro, pois sabemos que poderemos pagar e ainda ter lucro.
A empresa continua crescendo, e para manter o ritmo nós agora
precisamos de muito dinheiro. Já não está tão fácil conseguir empréstimos
ou investidores que possam fornecer todo esse capital. Nossa rede de
contatos se esgotou.
Precisamos de um lugar onde possamos mostrar a nossa empresa para
que muitos possíveis investidores a conheçam e possam investir mais
capital. Além disso, alguns investidores da nossa empresa querem vender
suas ações, mas não encontram ninguém para comprar, ou não acham um
meio seguro de fazer isso.
Seria ótimo se tivéssemos um ambiente que centralize os investidores e
os negócios com ações, fornecendo segurança e oportunidade para nossa e
outras empresas, bem como aos investidores.
Nós precisamos de uma Bolsa de Valores!
A Bolsa de Valores reúne investidores e empresários.
Alguém ouve nosso chamado e resolve organizar uma Bolsa de Valores.
Compra um galpão imenso, contrata alguns seguranças, cobra ingresso de
entrada e abre as portas. O local rapidamente ferve de gente. Investidores e
empresários de todo o país lutam por espaço, subindo um por cima dos
outros vendo quem grita mais alto e encontra um possível negociador.
Ao fim do dia, saímos de lá eu e você sujos, cansados, roucos e sem
sucesso. Procuramos o dono do lugar e cobramos mais regras e
organização. Ele concorda. Surgem novas regras. A Bolsa evolui e é
reorganizada.
Somente algumas pessoas poderão entrar no ambiente da Bolsa e fazer
negócios. Serão os corretores. Para fazer isso eles terão de comprar um
lugar dentro da Bolsa, em troca, poderão cobrar uma taxa daqueles para
quem fizerem o negócio, chamada taxa de corretagem.
Para cada negócio feito dentro da Bolsa, o dono dela ficará com uma
pequena fração do valor da transação, chamado emolumento.
Para que haja uma padronização, as empresas serão representadas por
siglas com quatro letras, os corretores por números e haverá um grande
quadro mostrando o nome da empresa, quem deseja comprar e a que preço
e quem deseja vender e a que preço. Será mostrado também o valor do
último negócio.
Aqueles investidores que desejarem fazer negócio dentro da Bolsa,
deverão contratar um corretor e mandar suas ordens de compra ou venda
através dele.
Para poderem iniciar seus negócios na Bolsa, as empresas deverão
seguir diversas regras e pagar uma quantia significativa de dinheiro ao
dono da Bolsa, além de contratar os corretores para organizarem o início
da negociação de suas ações, num processo chamado Initial Public
Offering (IPO).
Em troca de todas essas cobranças, a Bolsa garante a segurança das
operações, dando certeza de que os pagamentos realmente serão realizados
e que o controle de qual investidor possui qual ação será efetivo.
As mudanças são um sucesso, e nós vemos a oportunidade perfeita para
a nossa empresa.
Resolvemos organizar o IPO da INVESTINDO S.A. Decidimos quanto
dinheiro precisamos obter e quantas novas ações serão criadas.
Reorganizamos as regras da nossa empresa de forma a deixar mais claras
as questões de controle e distribuição dos lucros. Por fim, é iniciada a
negociação das nossas ações na Bolsa. Diversos investidores se interessam
por nossa empresa e compram as ações. Conseguimos obter o dinheiro do
qual precisávamos e nossos sócios estão felizes pois agora podem vender
suas ações a qualquer momento.
A estória da INVESTINDO S.A serve para você entender que a Bolsa de
Valores é nada mais do que uma empresa, responsável por administrar um
ambiente onde são negociadas as ações de diversas empresas (inclusive as
da própria Bolsa) entre outros ativos. Ela centraliza e garante a segurança
das operações, facilitando a investidores e empresas atingirem seus
objetivos.
No Brasil existe apenas uma Bolsa de Valores, a Bolsa de Valores de São
Paulo, ou BM&FBOVESPA, onde o BM&F significa Bolsa de Mercadorias e
Futuros. Há países que possuem mais de uma Bolsa. Você já deve ter
ouvido falar da New York Stock Exchange (NYSE) e da NASDAQ, duas Bolsas
de Valores norte americanas.
Assim como na CETIP, que custodia títulos da dívida pública, a Bolsa
também tem um departamento responsável pela custódia das ações e
efetivação das transações, chamado Companhia Brasileira de Liquidação e
Custódia (CBLC – Antigamente uma empresa independente, hoje faz parte
da BM&FBOVESPA), a qual também cobra uma taxa para cada transação
efetuada na Bolsa.
Antigamente as ações, assim como os títulos públicos, eram
representadas por papéis. Hoje em dia todas as transações são digitais e os
corretores não vão mais até a Bolsa ficar berrando para fechar negócios. O
investidor envia a ordem de seu próprio computador ou via telefone. A
corretora apenas repassa a ordem para o sistema informatizado da Bolsa,
que automaticamente fecha o negócio de compra ou venda.
Torne-se sócio de empresas gigantes.
E para o investidor, quais as vantagens?
A Bolsa possibilita ao investidor ter acesso a ações de dezenas de
empresas, sem ser necessário contatar seus donos diretamente e com a
segurança de que as ações que comprar serão válidas e atendem a diversos
requisitos.
Além disso, a centralização e a normatização proporcionada pela Bolsa
de Valores, oferece transparência e facilidade de se obter informações a
respeito das empresas, facilitando a vida do investidor.
Estes aspectos abrem uma possibilidade ímpar a você, pequeno
investidor: a chance de se tornar sócio de empresas gigantes com lucros
bilionários, investindo apenas uma quantia pequena e com a segurança de
que não será enganado.

INVESTIDOR OU ESPECULADOR

A Bolsa não só oferece a possibilidade de que investidores e empresas


negociem ações, como também possibilita aos investidores negociarem
ações entre si, num ambiente conhecido como mercado secundário, sendo
o mercado primário aquele em que os investidores negociam direto com a
empresa (como no IPO).
Como existem muitos participantes, o mercado secundário possui
liquidez enorme, e a cada segundo, milhares de ações são negociadas entre
investidores, envolvendo a movimentação de milhões de reais. Essa
liquidez faz com que o preço das ações possa variar em grande amplitude
em uma pequena fração de tempo. Em nenhum outro lugar esta
característica é tão facilmente perceptível.
Mercados como o de imóveis, por exemplo, apresentam liquidez baixa
com variação lenta dos preços, além disso você não fica sabendo por
quanto cada apartamento da sua cidade foi vendido apenas olhando na tela
do seu computador. Na Bolsa de Valores você terá acesso a esse tipo de
informação em tempo real. É essa facilidade de acesso à informação,
aliada à variação incessante dos preços, que atrai os especuladores,
interessados em obter lucro nessa movimentação.
Perceba, o especulador está interessado nas variações de PREÇO, para
ele pouco importa de qual empresa é a ação que está negociando.
Especular com sucesso, ou seja, obter lucro com a compra e venda de
ações, procurando ganhar com a variação do preço é uma das atividades
mais difíceis deste planeta. A Bolsa é um ambiente dominado por
tubarões, onde grandes quantidades de dinheiro se movimentam
freneticamente e podem influenciar o preço de uma ação em questão de
segundos. O preço das ações no curto prazo, onde o especulador opera, não
segue notícias, resultados, clima ou qualquer outra coisa. O movimento
dos preços das ações no curto prazo é totalmente aleatório e imprevisível.
Ganhar dinheiro assim exige muito capital, disciplina, tempo,
gerenciamento de risco e sorte.
Ainda assim, é nesse tipo de atividade que os iniciantes se aventuram e
são incentivados pelas corretoras, pela Bolsa e pelo governo. Por que isso
ocorre?
As pessoas sonham com o dinheiro fácil e em enriquecer rapidamente.
Ao olhar as variações de 2%, 3% ou 10% que as ações fazem durante o
dia, elas pensam: “um mês conseguindo pegar esse movimento e eu vou
ganhar 1000%”. Os principiantes costumam focar somente em rendimento
e esquecem-se de avaliar as outras características.
As corretoras ganham dinheiro quando você vende ou compra alguma
ação. Se você fizer poucas operações, eles ganham pouco. Se você fizer
muitas operações eles ganham muito. As corretoras o incentivam a ficar
comprando e vendendo, alimentando o seu sonho de enriquecer
rapidamente, para que você pague mais taxas de corretagem e elas ganhem
mais. Se as suas operações dão ou não certo, pouco importa, você terá de
pagar a taxa de corretagem do mesmo jeito.
O mesmo ocorre com a Bolsa, que ganha uma parte do valor negociado
em cada compra e venda de ação.
O governo ganhará mais impostos quanto mais movimentação houver.
Quanto mais lucro as corretoras e a Bolsa tiverem, mais o governo ganha.
Quanto mais lucro você tiver, mais o governo ganha. Como verá adiante,
um investidor que pretende investir pensando em ser sócio de empresas,
fará muito poucas operações e provavelmente nunca irá vender suas ações,
não realizando o lucro (ou seja, vender e embolsar o lucro) e não pagando
nenhum imposto.
Para pequenos investidores que especulam, no final das contas, o
resultado é sempre o mesmo: o pequeno investidor inicia na Bolsa jogando
no campo dos experts, a especulação. Assiste ao valor do seu dinheiro
derreter enquanto o preço de suas ações despenca e, desesperado, vende
quando os preços estão em seu patamar mais baixo. Sai do jogo abatido e
revoltado, largando pragas contra a Bolsa, o governo e o mundo. Não
percebe que a culpa foi toda e somente dele. Afinal, ninguém lhe obrigou a
ficar especulando na Bolsa.
Por isso é tão comum ver as pessoas comentarem que Bolsa de Valores é
coisa para rico, ou terem receio de se informar sobre este tipo de
investimento.
É preciso que você entenda de forma clara que especular com os preços
não é atividade para principiantes e não foi com esse intuito que a Bolsa
de Valores foi criada.
A Bolsa de Valores foi criada para que as empresas financiassem suas
atividades e investidores pudessem se tornar sócios de grandes empresas,
de forma transparente e segura.
E é esta característica que este livro tem em foco. A Bolsa de Valores
lhe dá a oportunidade de se tornar sócio de grandes empresas, com lucros
gigantescos e, o melhor de tudo, receber a sua fatia do bolo.
Ainda assim, não existe almoço grátis. Será necessário saber diferenciar
as boas empresas das ruins, confiar em sua análise nos ciclos de baixa nos
preços e aguardar o lento, porém inexorável trabalho dos juros compostos.
Investir nas ações de boas empresas lhe dará a chance de um dia, se
tornar rico. Possivelmente não será de forma rápida ou fácil.
A possível lentidão e as dificuldades do processo deixam claro o porquê
da falta de interesse dos intermediários em incentivar este tipo de
filosofia. Em primeiro lugar, enriquecimento lento e gradual com trabalho
e dedicação não atrai muito as pessoas, em segundo, se tornando sócio, o
investidor faz pouca movimentação de seu patrimônio, comprando ações
de vez em quando e se tudo der certo, vendendo praticamente nunca. Se
você opera pouco, as corretoras e a Bolsa não ganham suas taxas. Se você
não vende nunca e não realiza seu lucro (transforma as ações em dinheiro),
o governo não pode cobrar-lhe os impostos.
E não se esqueça, especular parece simples, mas não só é difícil e
trabalhoso, como também exigirá um bom tempo para prover resultados,
que podem jamais acontecer. Mesmo os melhores especuladores levaram
anos para realmente obterem ganhos significativos. Por que você
conseguiria fazer melhor que eles?
Além disso, especular não é investir, uma vez obtido o lucro, o
especulador terá que fazer alguma coisa com o dinheiro. A atividade de
especular pode ser considerada como uma fonte de renda e não como
investimento.
Comprar ações com o intuito de se tornar sócio de empresas, lhe
possibilitará receber parte dos lucros, aumentando sua renda, e à medida
que as empresas crescem e se valorizam, o preço de suas ações tende a
acompanhar esse crescimento, aumentando seu patrimônio.
Talvez um dia você possa vir a exercer ambas as atividades, especular e
investir, tomando o cuidado apenas de não misturá-las. Mas se você é
iniciante na Bolsa, foque em se tornar sócio de boas empresas e dedique
sua energia a desenvolver a habilidade de analisar empresas e saber
separar as boas das ruins.
CAPÍTULO 24

AÇÕES

Ações são como pequenas partes de uma empresa que lhe dão direitos em
relação a esta empresa. Para ter acesso a compra e venda de ações, o
pequeno investidor deve operar em um ambiente de Bolsa de Valores
através de uma corretora de valores.
Para que você possa entender melhor o assunto, serão explicados
diversos termos surgidos à medida que as coisas evoluíram e novas regras
surgiram, criando uma terminologia específica do meio financeiro.

SEGMENTOS DE LISTAGEM

Segmentos de listagem são como grupos ou categorias nos quais as


empresas são divididas de acordo com as regras que devem cumprir. Com
o desenvolvimento das regras da Bolsa, buscou-se cada vez mais
transparência e segurança das operações para todas as partes envolvidas.
Como resultado dessa evolução, novas empresas que abrem capital na
Bolsa, iniciando a negociação de suas ações devem se adequar ao conjunto
mais recente de regras, enquanto as antigas são incentivadas a se
ajustarem.
Os segmentos de listagem existentes atualmente são os seguintes:
Tradicional, Nível 1, Nível 2, Novo Mercado, Bovespa Mais Nível 2 e
Bovespa Mais.
Para conhecer em detalhes sobre as características de cada segmento
acesse o site da BM&FBOVESPA1.

Enriqueça seu vocabulário


Abrir Capital: termo que indica iniciar negociação de ações em bolsa de
valores.
Governança Corporativa: é o conjunto de regras e costumes que regulam
a maneira como uma empresa é administrada.

TIPOS DE AÇÕES

No mercado de ações no Brasil existem dois tipos de ação, as ordinárias


(ON) e as preferenciais (PN).
As ações ON são as ações que os donos da empresa possuem. Elas dão
direito a seu possuidor de influir nos rumos da empresa pois dão direito a
voto em assembleias das empresas.
As ações PN recebem esse nome pois dão ao seu possuidor a preferência
no recebimento de dividendos (normalmente em percentual maior do que
os da ON), no entanto, não dão direito a voto. As existência dessas ações é
uma manobra para que seus possuidores não possam influir nos rumos da
empresa e portanto os donos não percam o controle sobre a empresa.
Observe a página do site da BM&FBOVESPA que fala sobre os segmentos de
listagem e perceba que à medida que novos segmentos foram surgindo ( a
evolução vai do “tradicional” para o “novo mercado”) as características
das ações emitidas tendem a se tornar apenas ações ON.
Isto ocorre porque as ações PN são as que menos protegem o acionista
minoritário (aquele que não é dono da empresa, mas como eu e você, quer
investir nela através de ações) devido a sua característica de não permitir o
voto em assembleia e não garantir ao seus detentores o preço pago aos
donos de uma empresa em caso de venda da mesma.
Se o seu objetivo ao investir em ações é tornar-se sócio das empresas,
você deve possuir as mesmas ações que seus donos possuem: as ações ON.
Algumas empresas negociam um conjunto dos dois tipos de ação ao
mesmo tempo, chamado Unit. Ao comprar uma Unit, você pode estar
adquirindo por exemplo: 1 ação ON e 2 PN daquela empresa.

FREE FLOAT

Free Float é o termo que representa quantas ações do total de ações de


uma empresa estão sendo negociadas na Bolsa de Valores.
Lembra-se da nossa empresa INVESTINDO S.A.? Inicialmente ela
possuía 100 ações. À medida que ela foi crescendo, fomos adequando as
ações a sua nova realidade até que, no momento em que iríamos efetuar
nosso IPO, a INVESTINDO possuía 500 ações no total.
Para fazer nosso IPO, tivemos que nos adequar às regras do segmento
“Novo Mercado”. Para isso teríamos de possuir apenas ações ON e um
mínimo de 25% de free float.
Foi acertado então que emitiríamos 500 novas ações ON, totalizando
agora 1.000 ações, e que 250 destas seriam negociadas na Bolsa, o restante
permaneceria conosco e com os antigos investidores, donos da empresa.
Qual a importância desse número para o pequeno investidor?
Digamos que daqui a algum tempo, nós optemos por tirar a
INVESTINDO S.A. da Bolsa, ou seja, não queremos mais que outras
pessoas possuam ações de nossa empresa. Para conseguir isso, faríamos
um fechamento de capital, em um processo conhecido como Oferta
Pública de Aquisição (OPA).
Fechar capital nada mais é do que comprar todas as ações de nossa
empresa que estão em circulação. Assim, quantos mais ações da nossa
empresa forem negociadas na Bolsa, mais difícil será fechar o capital da
empresa, pois teremos de desembolsar mais dinheiro para conseguir
comprar todas as ações.
Portanto, uma empresa com free float grande terá mais dificuldade em
fechar capital, um sinal de que ela não deseja fechar capital e sim manter-
se sendo negociada na Bolsa, o que é um ponto positivo para o pequeno
investidor. Além disso, grande número de ações sendo negociadas em
Bolsa, aumenta a liquidez das ações dessa empresa o que facilita fazer
negócios, mais um aspecto positivo para o pequeno investidor.
Por outro lado, uma empresa com free float pequeno possui facilidade
em fechar o capital e suas ações podem ter pouca liquidez devido ao baixo
número de ações em negociação. Tais características podem indicar que o
controlador da empresa não deseja possuir investidores minoritários.

Enriqueça seu vocabulário

Fechar Capital: termo que indica encerrar a negociação de ações de uma


empresa em Bolsa de Valores.
TAG ALONG

O tag along é uma espécie de proteção aos acionistas minoritários que


obriga os compradores de uma empresa a pagarem certo percentual do
valor oferecido aos donos também aos minoritários.
Imagine que em determinado momento, uma grande empresa
multinacional, a TUBA CORP., decide comprar nossa empresa, a
INVESTINDO S.A.
Para fazer isso, nos reunimos e eles oferecem R$100,00 por cada ação
que possuímos. Decidimos vender a empresa. Mas como ficam os
acionistas minoritários, aqueles que possuem as 250 ações da nossa
empresa que são negociadas na Bolsa?
Quando você compra uma ação, decide se tornar sócio de uma empresa.
Você considera que os atuais donos fazem um bom trabalho e que gostaria
de participar investindo um pouco do seu dinheiro. Mas se houver troca
dos donos talvez você não fique tão satisfeito com o futuro dessa empresa.
No entanto, para assumir o controle de uma empresa, um possível
comprador não precisa comprar todas as ações daquela empresa, basta
apenas que ele compre as ações do grupo controlador, passando ele a ser o
controlador e novo dono.
Para evitar que os acionistas minoritários fiquem a ver navios no caso
de uma troca de controle, a legislação brasileira prevê que para assumir o
controle de uma empresa, o comprador é obrigado a propor a compra das
ações de todos os acionistas, num valor proporcional ao oferecido aos
controladores, determinado pelo tag along.
No caso da INVESTINDO S.A., regida pelas regras do segmento “Novo
Mercado”, todas as ações são ON e todas as ações ON tem tag along de
100%. Isto significa que, além de oferecer pagar R$100,00 pelas ações dos
donos da INVESTINDO, a TUBA CORP. teria de oferecer pagar os
mesmos R$100,00 para todos os detentores de ações da INVESTINDO que
quisessem vendê-las.
O tag along evita que sejam feitas ofertas de grande vulto somente aos
controladores de uma empresa e permite ao pequeno acionista escolher se
prossegue sendo sócio da empresa ou se vende suas ações a um preço
justo.
Por exemplo, se o tag along da INVESTINDO fosse de 80%, a TUBA
CORP. poderia oferecer somente R$80,00 pelas ações dos minoritários. Se
não houvesse tag along, a TUBA CORP. teria a possibilidade de oferecer
pagar o valor que quisesse aos minoritários.
Mais uma vez: observe na página da BM&FBOVESPA sobre os segmentos
de listagem como o tag along evolui para 100% à medida que as regras
evoluem.

NA PRÁTICA

Para conhecer quais os tipos de ações, free float e tag along de uma
empresa, acesse o site da BM&FBOVESPA e, utilizando o menu de navegação,
acesse Mercados>Ações>Empresas.
Observe os dados disponíveis da PETROBRAS S.A:
Figura 24-1: Dados da PETROBRAS S.A. no site da Bovespa.
Inicialmente são apresentados alguns dados da companhia como nome,
código de negociação, CNPJ, atividade, site para os acionistas etc.
Figura 24-2: Informações sobre as ações da PETROBRAS S.A.
Em seguida vem uma pequena tabela com as cotações das ações.
Observe na coluna “Espec.” como as ações ON são representadas pelo
código PETR3 e as PN pelo código PETR4. Não há nenhuma indicação de
segmento de listagem após o ON na coluna “Espec.”, indicando que as
ações da Petrobras são do segmento de listagem “Tradicional”.

Figura 24-3: Informações sobre as ações da PETROBRAS S.A.


Após, o site mostra uma série de dados econômicos com os quais você
não precisa se preocupar por enquanto.
Em seguida há algumas informações sobre as ações, conforme é
possível visualizar na Figura 24-4.
A posição acionária permite saber quem possui mais de 5% de todas as
ações. Aqui é possível saber quem são os grandes controladores da
empresa e que de fato tomam as decisões. Observe que a União Federal
possui 50,26% das ações ON. A Petrobras é uma empresa estatal e,
portanto, controlada pelo governo.
Você, pequeno investidor, está na categoria “Outros”.
Em seguida são mostradas as ações em circulação no mercado, o free
float. No total, 36,39% das ações ON e 72,07% das PN estão em
negociação na Bolsa. No total de todas ações, 51,71% estão em
negociação. Isto significa que o free float da Petrobras é 51,71%.
Você deve preocupar-se apenas com o free float total, pois para uma
empresa fechar capital ela deve comprar todas as ações ON e PN.
Por fim, um quadro (Figura 24-4) mostra a composição do capital social
da empresa, que é o quantitativo total de ações existentes.

Figura 24-4: Dados de posição acionária.


Observe que a Petrobras possui 13.044.496.930 ações no total. Destas,
6.745.900.391 estão em circulação no mercado. Divida as ações em
circulação pelas totais e obtenha o free float:
1 www.bmfbovespa.com.br/pt-br/servicos/solucoes-para-empresas/segmentos-de-listagem/o-que-
sao-segmentos-de-listagem.aspx?Idioma=pt-br
CAPÍTULO 25

EVENTOS COM AÇÕES

Se você investe em ações para se tornar sócio, como poderá ganhar nesse
investimento?
Já se falou bastante sobre a variação do preço e como as pessoas têm a
impressão de que essa é a forma mais óbvia de ganhar dinheiro com ações.
No entanto, a principal vantagem de se tornar sócio de empresas é que
você tem direito a receber uma parte do lucro e ganhar com a valorização
da empresa. E é basicamente por esse motivo que o verdadeiro sócio não
dá muita atenção ao preço de suas ações, mas sim à saúde financeira de
sua empresa.
Imagine que você é dono de um negócio, uma padaria por exemplo. Ao
final do mês a sua padaria costuma dar lucro, o qual você usa para
comprar suas coisas. O lucro é o dinheiro que você ganha depois que pega
todo o dinheiro recebido pela padaria, também chamado receita, e tira as
contas e os impostos que devem ser pagos, como matéria prima e imposto
de renda. Ou seja, lucro é um dinheiro que você realmente ganhou.
O lucro da sua padaria é também a sua fonte de renda, é de onde você
tira dinheiro para poder viver.
Você acredita que sua padaria pode crescer e lhe render mais dinheiro.
Para isso, você costuma separar parte do lucro que recebe para investir na
padaria, comprando maquinário e fazendo mais produtos, fazendo
propaganda e aumentando as vendas, etc.
Observe que esses investimentos podem demorar um tempo para trazer
resultado, mas à medida que o tempo vai passando é possível perceber que
o valor da sua padaria tende a crescer.
Suponha que é possível a você saber quanto vale a sua padaria a
qualquer hora do dia. Isto faria alguma diferença para você? Se você visse
que após a compra de uma nova máquina o preço de sua padaria subiu
25% em um dia, você venderia toda ela? Provavelmente não, pois o que
mais lhe interessa é a renda que ela é capaz de gerar e o patrimônio que ela
representa, não qual o preço que pagariam por ela naquele momento.
Ao investir em ações você deve raciocinar como o dono da padaria, você
é dono da empresa, seu interesse é na renda que ela pode lhe gerar e não
em seu preço.
Observe também que, assim como na padaria, se a sua empresa for boa,
além do lucro que você recebe, o valor da empresa tende a aumentar e
quando você é o dono da empresa, isto significa que seu patrimônio está
valorizando e consequentemente, você está ficando mais rico.
É fato que boas empresas, no longo prazo, verão suas ações valorizarem-
se acompanhando o crescimento da empresa. Se você quiser se aprofundar
nessa área, leia o livro “Investindo em Ações no Longo Prazo” de Jeremy
Siegel.
Então, investindo em ações de boas empresas, você pode ganhar de duas
formas: participação nos lucros e valorização das ações.
A oportunidade de receber periodicamente a sua parte dos lucros da
empresa, proporciona um aumento à sua renda. Investimentos de renda
fixa não costumam ter essa característica, pois a maioria deles atua
somente no valor do seu investimento principal. Aumentando sua renda,
você pode melhorar sua qualidade de vida e aumentar a quantidade de
dinheiro que você junta para investir. Investindo mais e comprando mais
ações, você receberá maior participação nos lucros, entrando num ciclo
virtuoso que no longo prazo pode efetivamente deixá-lo rico, atingindo a
independência financeira.
Como é feita a distribuição dos lucros de uma empresa para seus
acionistas? Ela é feita através de eventos chamados Pagamento de
Dividendos e Pagamento de Juros sobre Capital Próprio.
Além destes eventos, há alguns outros que discutiremos com maiores
detalhes.
Para saber os eventos que foram divulgados por uma empresa, acesse a
página dela no site da BM&FBOVESPA.
As empresas são obrigadas a divulgar com certa antecedência tudo o que
pretendem fazer e que, pelas regras da Bolsa, são considerados fatos
relevantes. É possível ter acesso a esses informes de diversas formas, até
mesmo pelo site da própria empresa, mas, o local oficial, é o site da Bolsa.
Ao informar um evento como o pagamento de dividendos por exemplo,
a empresa informa uma data chamada “COM” e uma data chamada “EX”.
A data “COM” é a data limite para se possuir a ação e poder receber o
dividendo. Por exemplo:
Se uma empresa divulga fato relevante de pagamento de dividendos
relativos ao exercício 2014 a partir do dia 25/12, com base na posição
acionária de 27/10, isto significa que a empresa distribuirá parte dos
lucros do ano 2014 para os acionistas que possuírem a ação até o dia
27/10. O pagamento será feito a partir do dia 25/12.
Nesse caso, o dia 27/10 é o dia “COM” e o dia 28/10 é o dia “EX”. Se
você possuir a ação até o dia 27/10, você terá direito aos dividendos
anunciados. Se você só possuí-la a partir do 28/10, você não terá direito
aos dividendos.

DIVIDENDOS

Depois que uma empresa encerra o ano e tem lucro, ela pode escolher
entre distribuir o lucro ou reinvestir na empresa.
O percentual mínimo dos lucros a ser distribuído por uma empresa
como dividendos é determinado em seu estatuto.
Assim, uma empresa pega suas receitas, pagas suas contas e
fornecedores, paga o imposto de renda e o que sobra é lucro. Este lucro
pode ser distribuído aos acionistas como dividendo.
Normalmente ele é pago como um valor em reais relativo a uma ação.
Por exemplo: R$0,22 por ação.
Os dividendos são isentos de imposto de renda para o acionista, isto
porque a empresa já pagou imposto de renda e agora está distribuindo
somente seu lucro efetivo.

JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO

Os Juros Sobre Capital Próprio (JCP) representam uma fração do lucro da


empresa distribuída antes do pagamento de Imposto de Renda.
Portanto, a empresa pega sua receita, paga suas contas e fornecedores e
distribui uma parte do que sobrar para os acionistas em forma de Juros
sobre Capital Próprio. O valor distribuído é considerado como uma
despesa pela empresa e, portanto, diminui o valor a ser pago de imposto de
renda.
O pagamento de JCP gera uma vantagem fiscal para a empresa pois ela
não paga imposto sobre esse valor.
Como a empresa não pagou imposto, o acionista que receber JCP deve
fazê-lo, pagando 15% do valor recebido, que já é descontado na fonte,
antes do dinheiro cair em sua conta.
Há um limite estabelecido em lei em relação ao montante de JCP a ser
pago em um ano por uma empresa.

BONIFICAÇÃO

A bonificação ocorre quando a empresa entrega gratuitamente novas ações


aos acionistas. Isto ocorre quando a empresa deseja, por exemplo,
transformar uma certa reserva de dinheiro que possui em mãos em Capital
Social, o qual representa o valor investido pelos sócios na empresa.
Se uma empresa resolve fazer uma bonificação de 20%, isto significa
que, se você tinha 100 ações, você receberá 20 em forma de bonificação,
ficando com 120 ações.
A bonificação representa uma vantagem para o investidor no longo
prazo porque mais ações representam mais dividendos, mais renda e mais
patrimônio.
No curto prazo não tem qualquer diferença porque o preço da ação se
ajusta de forma a absorver o aumento do número de ações.
Por exemplo, se o preço de uma ação dessa empresa que bonificou 20%
antes era de R$100,00, após a bonificação, o preço passará a ser de
R$83,33.
Observe: Inicialmente você tinha 100 ações vezes R$100,00, totalizando
R$10.000,00.
Quando uma empresa faz uma bonificação, ela não cria dinheiro, apenas
faz uma manobra contábil, sem mudar o valor do patrimônio total.
Portanto, após as bonificações o preço deve representar ao final um
patrimônio igual ao que você possuía antes do evento
Ao final da operação suas 120 ações devem valer no total os mesmos
R$10.000,000 que você tinha antes. R$10.000,00 divididos por 120 será
igual a R$83,33.
Quando uma empresa anuncia a Bonificação, ela informa o preço que
deve ser considerado para fins de Imposto de Renda. É importante tomar
nota desse preço pois ele será utilizado como se fosse o preço que você
pagou por essas novas ações quando for preencher seu Imposto de Renda.
O que ocorre se você tiver 102 ações? 20% novas ações seriam 20,4
ações, no entanto não tem como você possuir apenas 0,4 de uma ação.
Nesse caso, você receberá as 20 ações e o restante será vendido pela
própria empresa e você receberá o valor em dinheiro dessa fração.

SUBSCRIÇÃO

A subscrição é um direito dado aos acionistas de comprar mais ações de


uma empresa por um preço pré-determinado.
Uma empresa pode querer aumentar o seu número de ações. Como
forma de beneficiar seus acionistas, ela dá o direito de que os mesmos
comprem estas ações antes dos demais investidores por um preço que às
vezes pode ser abaixo do praticado no mercado secundário.
O direito de subscrição é uma espécie de direito de preferência dado ao
acionista. Pode ser vantajoso se o preço oferecido for abaixo do praticado
no mercado. Além disso, ao exercer o seu direito, efetivamente comprando
as ações, você não paga algumas taxas, como a corretagem, por exemplo.
Imagine que uma empresa possui capital de R$100,00, composto por
100 ações no valor de R$1,00 cada. Ela decide aumentar seu capital em
R$50,00 com novas ações valendo R$0,75. Neste caso, haverá um aumento
de capital de 50%. A empresa pode lhe dar o direito de subscrever 50% do
número atual de ações que você possui, pelo valor de R$0,75.
Se você possuía 10 ações, terá o direito de comprar mais 5 por R$0,75.
A esse direito é dado o nome de Direito de Subscrição.
Como é um direito, ele pode ser passado para outra pessoa. Por isso é
comum ver os direitos de subscrição serem negociados na Bolsa como se
fossem ações.
Caso você não quisesse comprar 5 novas ações dessa empresa por achar
que já possui muitas ações dela, você poderia vender seus 5 direitos de
subscrição para alguém interessado. Este alguém então poderia exercer os
direitos de subscrição, comprando as ações.
Os direitos de subscrição são negociados na Bolsa com o código de
quatro letras, relativos à empresa, seguidos do algarismo 1 ou 2. Por
exemplo: direitos de subscrição da Petrobras S.A. seriam negociados com
o código PETR1 ou PETR2.

SPLIT ou DESDOBRAMENTO

O desdobramento é um aumento do número de ações da empresa sem que


se altere o valor do seu Capital Social. Isto significa que não há qualquer
valor em dinheiro envolvido, a empresa simplesmente multiplica o
número de ações que possui.
Pode ser utilizado para diminuir o preço das ações de uma empresa ou
aumentar o número de ações e a liquidez.
Se uma empresa tem 100 ações e faz um desdobramento de 1 para 10,
cada ação desta empresa será convertida em 10 ações. Ao final a empresa
terá 1000 ações.
Se você possui 10 ações dessa empresa num valor total de R$10,00
(R$1,00 para cada ação), você passará a possuir 100 ações no valor de
R$0,10, totalizando os mesmos R$10,00 que você possuía anteriormente.
Este evento não traz qualquer implicação para o investidor.

GRUPAMENTO

Ao efetuar um Grupamento a empresa diminui o número de ações sem


alterar o valor do seu Capital Social.
Se a empresa possui 1000 ações com preço de R$0,10, totalizando
R$100,00 e ela decide fazer um grupamento de 10 para 1 ela passará a ter
100 ações valendo R$1,00.
Este evento diminui o número de ações de uma empresa e aumenta o
preço das ações.
No caso de ao final da operação você terminar com uma fração, 9,8
ações por exemplo, a empresa deverá informar como tratará esse
problema. Normalmente ocorre a venda das frações pela própria empresa e
o valor será depositado em sua conta.
Observe que, graças ao grupamento, é possível que o preço de uma ação
jamais pare de cair. Quando o preço atingir um valor irrisório, a empresa
faz um grupamento, o preço aumenta e volta a ter espaço para queda. É um
acontecimento mais comum em empresas com resultados ruins. Ocorre em
empresas boas raramente, normalmente em casos de reestruturação.
Na prática, não traz qualquer implicação ao investidor.
CAPÍTULO 26

ESCOLHENDO UMA AÇÃO

Como escolher uma ação para tornar-se sócio? Há diversas abordagens


para essa questão e vantagens e desvantagens para cada uma delas. Não
existe resposta exata, se houvesse, todas as pessoas a seguiriam e seriam
ricas.
É importante que você compreenda as diversas formas de se analisar
uma empresa, inicie com cautela, aprenda com seus erros, mantenha a
dedicação e se aperfeiçoe com o tempo, encontrando a forma que mais lhe
agrade de selecionar e acompanhar o desempenho de uma empresa.
Para investir em ações você deve procurar a estratégia que funcione para
você, pois nem sempre o que funcionou para os outros dará certo com
você, a realidade dos outros não é a sua realidade.
A técnica de comprar ações pensando como sócio e mantê-las enquanto
a empresa servir ao seu propósito é conhecida como Buy and Hold, uma
expressão da língua inglesa que significa “comprar e manter”. A ideia é
diferenciar do Trade, técnica em que você compra e vende ações pensando
em ter lucro na operação com a diferença de preços.
A abordagem da estratégia do Buy and Hold é uma análise dos
fundamentos da empresa, isto é, de seus dados de patrimônio,
contabilidade, mercado e governança. Este tipo de estudo é conhecido
como Análise Fundamentalista.
Um dos investidores mais conhecidos e que aperfeiçoou esta estratégia
foi Benjamin Graham, que escreveu um livro chamado “O investidor
Inteligente”. Outro nome famoso no meio, que utilizou os princípios de
Graham em suas estratégias, sendo hoje talvez o investidor que mais tenha
ganho dinheiro aplicando em ações, é Warren Buffet.
Ambos são ícones para investidores por toda parte e é comum que os
iniciantes tentem copiá-los ao investirem.
O problema aqui é que a realidade desses investidores não é a sua
realidade. Investidores de grande porte com muito dinheiro, investem
raciocinando em comprar a empresa e não em apenas tornar-se sócio. A
diferença é simples: eles compram a empresa e podem influenciar nas
decisões que serão tomadas dali para a frente. Você, pequeno investidor,
compra poucas ações e não influencia em nada.
Por que é importante saber disso? Para que você não cometa o erro de
tentar copiar o que grandes investidores fazem.
Grandes investidores, que normalmente aplicam largas somas de
dinheiro de uma vez só, costumam avaliar não só as características da
empresa como também o valor que irão pagar por elas. E aqui surge um
novo termo: precificação.
Precificar uma empresa é tentar descobrir qual é o preço justo para sua
ação, ou seja, quanto realmente a ação daquela empresa deveria valer. Tal
atividade é uma arte. É preciso lidar com variáveis futuras que são
totalmente subjetivas. É preciso ter um conhecimento avançado de
contabilidade e das características de cada empresa. É preciso dedicação e
tempo. Nada garante que você irá acertar.
Imagine que um amigo seu tem uma padaria. Certo dia você resolve
comprar a padaria dele. Como saber se você está fazendo um bom
negócio? Primeiro, você irá avaliar a situação atual da padaria: quanto ela
fatura, quais são as despesas, qual o lucro, quais são as dívidas. Após essa
análise, você percebe que a padaria tem mais potencial e seu amigo não
está fazendo um bom trabalho. É possível diminuir custo, comprar
equipamentos melhores, aumentar a produção, aumentar a clientela,
aumentar a receita e o lucro.
Com esses fatores em mente você irá avaliar se o preço cobrado pela
padaria é justo. Isto porque ao comprar a padaria você não está só pagando
pelo que ela possui agora, mas também por todo a futura receita e lucro
que serão gerados. E é simples para você acreditar que ela realmente terá
essas melhoras porque, uma vez comprada, você é quem tomará as
decisões na padaria.
Como você aplicará grande quantia de dinheiro na compra da padaria,
você espera pagar um preço relativamente baixo em relação ao potencial
de fazer dinheiro que ela tem; senão, levará muito tempo para recuperar o
seu investimento.
Este é o raciocínio dos grandes investidores. Eles aplicam muito
dinheiro de uma vez só, às vezes comprando empresas inteiras, portanto
eles buscam empresas com expectativas de retorno grande e cujo preço
atual não reflita estas expectativas. Eles buscam pagar barato por alguma
coisa que pode vir a valer muito mais.
Normalmente, os pequenos investidores iniciantes, deslumbrados com
os ganhos fantásticos destes mestres da Bolsa, acham que podem
simplesmente copiá-los, perdendo tempo tentando comprar empresas boas
por preços baixos e deixando de comprar ações de empresas excelentes
porque consideram que elas estão muito caras. Alguns perdem tempo
procurando pela empresa de enorme potencial que foi ignorada pelo
mercado. Tais oportunidades são difíceis de encontrar, ainda mais em um
mercado pequeno como o do Brasil (com cerca de 300 empresas listadas
em Bolsa).
Precificação e análise de valor de empresas é matéria para especialistas.
Nada impede que você se interesse pelo assunto e se torne hábil em
executá-lo; no entanto, no início, gaste seu tempo com coisas que podem
efetivamente acelerar seu enriquecimento. Também não adianta nada
comprar empresas por valores baixos se você só comprar R$500,00 em
ações. No longo prazo, o investidor que comprar aleatoriamente terá
desempenho tão bom ou melhor quanto o seu e terá gasto um décimo do
tempo gasto por você em estudo e análises.
No exemplo da padaria, como agiria o pequeno investidor iniciante? Em
primeiro lugar, consciente de que tentar adivinhar o futuro é perda de
tempo e que mesmo comprando algumas ações ele não poderá influenciar
no futuro da empresa. O investidor iniciante deve se contentar com o que
existe de fato. E o que existe de fato é o passado.
Se você quer tornar-se sócio na padaria do seu amigo, sendo que
somente ele irá tomar as decisões, você deve avaliar se ele tem feito um
bom trabalho. A padaria tem dado lucro? Ele está fazendo uma boa
administração? As vendas têm crescido? Ele tem uma política de
crescimento ou está satisfeito com o tamanho atual da padaria? Ele só está
preocupado com o dinheiro que ele mesmo está ganhando ou está
preocupado em melhorar a padaria?
Se as respostas a todas essas perguntas lhe agradarem, você considera
que seu amigo tem feito um bom trabalho e que, provavelmente, ele deve
se manter assim no futuro, portanto é de se esperar que a padaria mantenha
seu desempenho pelos próximos anos.
Com seu pequeno capital, você irá aos poucos, periodicamente,
investindo uma pequena quantia na padaria do seu amigo, recebendo a
parte dos lucros que lhe pertence e avaliando se o desempenho que lhe
agradou anteriormente foi mantido. Caso ele mude, você vende sua parte
da padaria e vai investir em outro lugar.
Benjamin Graham dizia que o investidor inteligente busca os melhores
retornos possíveis de se obter com o menor esforço.
Seja um investidor inteligente. Para o pequeno investidor existem
maneiras mais inteligentes de obter melhores rendimentos do que a
precificação de empresas.
Aumentar o montante que você investe todo mês por exemplo, tem
efeito muito melhor no seu enriquecimento do que acertar o momento
certo de comprar a ação de uma determinada empresa.

ANÁLISE DE EMPRESAS

Há diversas abordagens para a escolha de empresas onde investir, umas


mais complexas que as outras, mas de forma geral, a maneira mais
simples e eficiente de se compreender se uma empresa é boa é através da
análise de seus Balanços Contábeis.
Balanços Contábeis são documentos utilizados pelas empresas que
detalham o patrimônio, dívidas e direitos. Sua confecção é regida pelas
leis de Contabilidade, existindo diversas regras e situações especiais. No
entanto, para se chegar à conclusão de que uma empresa é boa, não é
preciso conhecimentos avançados de contabilidade. Com rápido raciocínio
de senso comum já será possível separar o joio do trigo.
Obviamente, se você deseja se dedicar e aperfeiçoar suas escolhas, o
estudo da análise de balanços é uma matéria a qual você deve se dedicar.
Para escolher uma empresa dentre as disponíveis, primeiro defina seus
critérios.
Se o seu objetivo ao tornar-se sócio de uma empresa é receber parte dos
lucros que ela obtém, você já possui um critério: empresas que dão lucro.
Acredite, existem diversas empresas na Bolsa que não dão lucro, e
pessoas que compram suas ações.
Se você espera que, além de ter lucros, a empresa cresça e aumente de
valor, é de se esperar que a empresa consiga com o passar do tempo
vender mais, aumentando receitas e lucros, e reinvista parte do dinheiro,
aumentando seu maquinário, construindo novas fábricas, lançando
produtos diferenciados, melhorando processos, diminuindo custos etc.
Portanto, você já tem mais um critério: empresas que aumentaram suas
receitas nos últimos anos, mantendo também o crescimento dos lucros e
um crescimento do patrimônio.
Você contrai dividas? Quando alguém contrai dívidas normalmente é
porque não tem o dinheiro necessário para executar o que deseja e precisa
do dinheiro na hora.
Para empresas a situação é um pouco diferente, às vezes é mais
vantajoso para uma empresa fazer empréstimos do que utilizar o próprio
dinheiro. Isto ocorre porque a empresa é capaz de gerar com o dinheiro
emprestado, ganhos suficientes para pagar os juros e ainda sobrar lucro. O
dinheiro que ela tem em mãos, ou dinheiro em caixa, é utilizado para outra
coisa.
Diferentemente das pessoas físicas, para empresas é normal ter dívidas,
às vezes é até vantajoso. Algumas empresas fazem dívidas grandes para
fazerem grandes investimentos com os quais esperam obter muito lucro lá
na frente, compensando o atual endividamento e o pagamento de juros.
Portanto, ao se tornar sócio de uma empresa você provavelmente espera
que a dívida seja uma dívida controlada, fácil de ser paga e que realmente
esteja trazendo uma vantagem para a empresa. Ou talvez você fique
confortável com dívidas grandes no presente, porém sabendo que os
prováveis benefícios desse endividamento serão recompensadores no
futuro. Quem sabe você prefira empresas sem qualquer dívida? Você tem
mais um critério: as dívidas da empresa.
Se você quer ser sócio de uma empresa que permaneça boa por muito
tempo, você espera que ela esteja preparada para enfrentar possíveis
períodos de crise ou momentos desfavoráveis de mercado, com preços em
baixa e lucros caindo. Portanto, você busca empresas que possuam uma
certa margem de folga em seus lucros, podendo perder um pouco de
receita e de vendas, mas continuando a ter lucro e sem necessidade de se
endividar para sobreviver. Este critério é conhecido como Margem
Líquida. Para calculá-lo normalmente divide-se o lucro da empresa pelo
valor da receita daquele ano. Obtém-se uma percentagem que representa
quanto da receita se torna lucro.
Por exemplo:
Receita de R$100,00 com lucro de R$10,00. Dividindo-se o lucro pela
receita, tem-se uma margem de 10%. Se esta empresa tiver uma piora nos
seus resultados, levando a uma diminuição nos lucros de 50%, ela ainda
lucrará R$5,00 para cada R$100,00.
Já se a receita é de R$100,00 e o lucro é de R$1,00, a margem desta
empresa é de 1%. Qualquer variação nos resultados pode levar a empresa a
entrar no prejuízo.
Você tem disponível agora mais um critério para escolha de empresas, a
margem. É importante ficar atento ao fato de que não existe número
mágico para este ou qualquer outro parâmetro. Setores como o de
supermercado (varejo), por exemplo, são tradicionalmente de margem
baixa, o que não significa que estas empresas sejam ruins. Para entender se
a margem da empresa é boa, será preciso compará-la em relação a outras
empresas do mesmo setor.
Talvez você busque empresas que sejam eficientes, gerando bons lucros
em relação ao capital que você investiu. Este parâmetro é conhecido como
ROE (Return On Equity – Retorno sobre o Patrimônio) e é obtido dividindo-
se o lucro pelo patrimônio da empresa, resultando num número que pode
indicar a percentagem do dinheiro investido que vira lucro. Normalmente
define-se um valor mínimo de ROE em relação a alguma coisa, como por
exemplo, ser maior do que a taxa SELIC. Novamente, este não é um
parâmetro fixo ou para o qual se tenha um valor mágico definido.
Algumas empresas têm lucros muito grandes mesmo tendo um patrimônio
bem pequeno, resultando em um ROE imenso. Para diferenciar estas
exceções e definir qual é a melhor empresa será preciso compará-las com
outras empresas do mesmo setor.
Já que você não vai ser dono da empresa, mas sim sócio, você espera
que os atuais donos tenham uma política favorável para os pequenos
investidores como você. A governança de suas empresas deve beneficiar
os minoritários, com políticas de dividendos justas, evitando o excesso de
benefícios aos controladores e altos executivos, fazendo clara divulgação
de dados e respondendo às suas dúvidas de forma eficaz e eficiente através
do Relação com Investidores.
Normalmente, se a empresa passou por todos os crivos anteriores, é
grande a chance de que ela possua uma governança que seja favorável aos
minoritários. No entanto, ainda assim é bom ficar atento a como
funcionam os programas de benefício aos controladores. Há empresas que
possuem muita receita, monopólio de mercado e ainda assim dão prejuízo,
porque os controladores não estão interessados em lucro, apenas em
receita e consequente bônus e aumentos de salários. Por outro lado,
políticas justas e razoáveis de benefícios aos diretores de uma empresa são
bem-vindas porque os incentivam a fazer um bom trabalho.
É comum as empresas proporcionarem aos seus executivos a
oportunidade de comprarem ações por preços abaixo do praticado do
mercado como forma de recompensa. Se eles estiverem fazendo um bom
trabalho, não há por que se preocupar.
Todas as empresas da Bolsa devem possuir um funcionário responsável
por se relacionar com os investidores, chamado de Relação com
Investidores ou R.I. Você pode perguntar qualquer coisa a ele, desde
dúvidas básicas sobre o funcionamento da empresa até quais são as
estratégias futuras da mesma. O que não for secreto será respondido.
Avalie a velocidade e qualidade das respostas para saber se a empresa
possui um bom R.I. e dedica atenção aos seus minoritários. Para se
comunicar com o R.I. utilize os meios divulgados nos sites das empresas.
Rapidamente já foi possível estabelecermos vários critérios para que
alguém selecione as empresas em que irá investir: ter lucro, ter crescido
nos últimos anos, possuir dívida controlada, boa margem, bom ROE e
governança favorável para os minoritários.
Os critérios para seleção de uma empresa dependem muito de cada
pessoa, mas você viu que é simples chegar até eles.
Você também pode optar por investir somente em empresas cujo
negócio você conheça, ou naquelas cujos produtos você tem acesso no dia
a dia. Com o tempo e a experiência você será capaz de definir os seus
critérios. Além disso, não basta só definir critérios, será preciso saber
quais valores você considera aceitáveis e quais as características dos
diversos setores que podem influenciar em múltiplos como o ROE ou a
Margem Líquida.

Enriqueça seu vocabulário


Margem Líquida: Resultado da divisão do valor do lucro líquido pelo
valor da receita da empresa. Indica quanto dinheiro recebido pela empresa
vira lucro.
ROE: Return on Equity (Retorno sobre o Patrimônio). Resultado da
divisão do valor do lucro líquido pelo valor do patrimônio da empresa.
Indica quanto do dinheiro aplicado na empresa está virando lucro.

Finalmente, há um critério do qual nenhuma pessoa pode escapar: a ação


escolhida deve ter alguma liquidez. Ao analisar uma empresa, observe os
dados de free float. Números muito baixos (menores que 20%) podem
indicar que a empresa não tem muito interesse em ter sócios, pois ao
disponibilizar somente uma pequena fração de suas ações para negociação
na Bolsa, a empresa pode ter planos de um dia recomprar essas ações e
fechar capital. Depois, é preciso verificar se há negócios suficientes
daquela ação para você conseguir comprar algumas de vez em quando.

CLASSIFICANDO EMPRESAS

Uma análise que também pode ser utilizada como critério de seleção de
empresas é o destino que elas dão aos seus lucros.
Algumas empresas buscam o crescimento rápido. Para crescer é preciso
investimento: compra de maquinário, construção de fábricas, propaganda,
etc. Normalmente essas empresas utilizam todo o seu lucro para reinvestir
na empresa.
Outras empresas não têm mais como crescer, afinal, nenhuma empresa
pode crescer para sempre. Outras ainda, optam por crescer de forma lenta
e gradual, havendo também aquelas que preferem não crescer, apenas
mantendo suas atividades com pouca necessidade de investimentos. Como
resultado, elas podem distribuir grande parte dos seus lucros para os
acionistas.
Empresas de crescimento normalmente são as que têm maior retorno no
valor das ações, suas ações valorizam-se rápido, por outro lado elas não
distribuem ou distribuem pouco dos seus lucros para os acionistas,
reinvestindo tudo e as vezes fazendo dívidas para sustentar o crescimento.
Empresas que distribuem grande parte de seus lucros em forma de
dividendos são chamadas empresas de dividendos. Estas empresas
oferecem uma participação maior dos lucros aos acionistas, por outro lado
suas ações não têm a oportunidade de valorizar-se tanto quanto as de
empresa de crescimento.
Estas classificações não possuem regras rígidas, existem empresas que
crescem e também distribuem dividendos e empresas que passam de uma
fase para a outra durante sua existência. O importante é ter consciência de
que não se deve esperar dividendos gordos ao se investir em empresas de
crescimento e nem valorizações rápidas nas ações de empresas de
dividendos.
O múltiplo utilizado para avaliar a distribuição de dividendos é o
payout. O payout é a percentagem dos lucros que são distribuídos como
dividendos. Para obter esse número basta dividir o valor dos dividendos
pelo valor dos lucros. Ex: lucro de R$100,00 e dividendos distribuídos no
valor de R$10,00. Nesse caso o payout é de 10%.
Muitos investidores gostam de utilizar um múltiplo conhecido como
dividend yield, que representa o valor do dividendo de uma ação dividido
pelo preço da ação, como uma forma de avaliar o retorno do investimento
feito na empresa. Para efeitos de análise este é um múltiplo pobre, pois um
de seus fatores é o preço da ação, o qual pode variar a cada segundo.
Existem empresas chamadas de blue chips, termo em inglês que faz
menção às fichas azuis do jogo de pôquer. As empresas blue chips são
empresas de grande porte, bem estabelecidas e que valem muito dinheiro.
Normalmente são empresas com longo histórico na Bolsa e boa liquidez,
no entanto, isto não quer dizer que sejam boas empresas para se investir.
O oposto das blue chips são as small caps, empresas pequenas com
patrimônio reduzido e baixo valor de mercado.
A classificação das empresas em blue chips ou small caps não deve
interferir nos seus critérios para escolha de empresas, é apenas uma forma
de dividir as ações em relação ao valor de mercado das empresas (valor
obtido ao se multiplicar o preço de uma ação pelo número total de ações
da empresa).

Enriqueça seu vocabulário

Múltiplo: Qualquer valor obtido através de um cálculo com os dados de


uma empresa. (Margem líquida, Payout, Yield, etc.)
Payout: Percentagem dos lucros de uma empresa distribuídos como
dividendos.
Dividend Yield: Resultado da divisão do valor do dividendo distribuído
por ação pelo preço de uma ação.
Valor de Mercado: Resultado da multiplicação do total de ações de uma
empresa pelo preço de uma ação. É o valor necessário para comprar todas
as ações de uma empresa.
Blue Chips: Ações com grande valor de mercado , boa liquidez e longo
histórico.
Small Caps: Ações com baixo valor de mercado.

ANÁLISE DE EMPRESAS NA PRÁTICA

Para fazer a análise dos resultados de uma empresa, é preciso que você
tenha uma noção básica de como são organizadas as demonstrações de
resultado divulgadas pelas mesmas. As demonstrações são feitas na forma
de Balanço Patrimonial, Demonstração de Resultado de Exercício e
Demonstrativo de Fluxo de Caixa.
As empresas são obrigadas a publicar seus balanços em dois períodos:
trimestralmente e anualmente. Para acessar os balanços oficiais enviados
pelas empresas utilize o site da BM&FBOVESPA. Inicialmente , preocupe-se
apenas com as informações anuais, balanços trimestrais não irão lhe dar as
informações completas para uma boa análise.
À medida que ganhar experiência, poderá consultar os informes
trimestrais para acompanhar mais de perto os resultados da empresa.

BALANÇO PATRIMONIAL
Imagine uma empresa que fabrica o produto de marca X. Ela possui uma
fábrica, maquinários e funcionários. Todo mês ela compra a matéria prima
necessária para fazer o produto X, faz o produto X, estoca o produto X e
vende o produto X com lucro.
Pode ser que ela venda o produto X a seus revendedores a prazo e só
receba o dinheiro depois de algum tempo. Para poder comprar sua matéria
prima, é possível que ela utilize o dinheiro de uma dívida, já que ainda
não recebeu nada pelos produtos que vendeu.
Mensalmente, ela tem que pagar seus funcionários, comprar material de
escritório, pagar impostos.
De vez em quando pode ser que ela tenha despesas com algum processo
que tenha perdido na justiça, ou receba dinheiro vendendo um terreno não
utilizado.
Ás vezes a empresa também faz investimentos financeiros, em
aplicações no banco por exemplo.
São muitas características e para analisá-las é preciso ter um padrão. O
padrão para demonstrar aquilo que a empresa possui, em um determinado
período, é o Balanço Patrimonial.
A ciência que cuida da confecção dessas demonstrações é a
Contabilidade. Para fins de padronização, diversas regras e leis regem esta
matéria e como são muitas as variáveis, é comum você se deparar com
lançamentos nos balanços que existem para algumas empresas e para
outras não, no entanto, é comum que a própria empresa costume
enriquecer os seus balanços com notas explicativas que permitem
entender o que houve.
O Balanço Patrimonial representa o que a empresa possui, seja em
dívidas, direitos ou bens num determinado período.
Repare no seguinte: se uma empresa tem funcionários, ela sabe que
precisa pagá-los todo mês, portanto ela possui uma obrigação: pagar os
salários. Ela também precisa pagar seus fornecedores, os quais venderam-
lhe a matéria prima: mais uma obrigação.
Por outro lado, se ela possui dinheiro aplicado no banco, ela tem direito
a esse dinheiro. Se ela possui dinheiro em caixa, este dinheiro é um bem
que ela possui. Caso ela tenha estoques do produto X, será mais um bem
possuído pela empresa. Se ela tem dinheiro a receber de clientes, este é
um direito que ela possui.
De forma geral, direitos e bens da empresa, são considerados como
ATIVO no balanço patrimonial e as obrigações da empresa são
consideradas PASSIVO.
O Balanço Patrimonial é representado por uma tabela de duas colunas
com o Ativo à esquerda e o Passivo à direita, onde cada linha é chamada
de “conta”:
BALANÇO
ATIVO PASSIVO
Caixa Fornecedores
Clientes Salários
Estoques

Dentro do Passivo e do Ativo é feita uma subdivisão levando-se em


consideração o prazo. Direitos e obrigações com prazos menores que os
próximos doze meses são colocadas no Ativo Circulante e Passivo
Circulante, respectivamente; as demais, no Ativo e Passivo Não
Circulante:
Relembrando:
Bens e direitos encontram-se na coluna Ativo. No caso de serem
utilizados nos próximos doze meses irão no Ativo Circulante; nos demais
casos, são registrados no Ativo Não Circulante
Obrigações e deveres compõem o Passivo. Se vencem nos próximos
doze meses constituem o Passivo Circulante; as demais compõem o
Passivo Não Circulante.
Com essas novas contas, o balanço fica assim:
BALANÇO
ATIVO PASSIVO
CIRCULANTE CIRCULANTE
Caixa Fornecedores
Clientes Salários
Estoques
NÃO CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE
Contas a receber Empréstimos realizados

Uma empresa também possui entre seus bens sua fábrica, suas máquinas
e o estoque dos produtos que fabrica.
Marcas, apesar de não serem algo palpável, também têm valor e é
possível à uma empresa vender uma marca. Existem empresas cujo maior
bem é a própria marca, por exemplo a Coca-Cola. Para entender isso basta
imaginar que uma empresa que comprar a marca Coca-Cola
provavelmente conseguirá ter boas vendas, pois essa é uma marca já
bastante conhecida.
Bens como fábricas e máquinas entram em subcontas do Ativo Não
Circulante. Bens como Marcas entram na subconta Intangível:
BALANÇO
ATIVO PASSIVO
CIRCULANTE CIRCULANTE
Caixa Fornecedores
Clientes Salários
Estoques
NÃO CIRCULANTE NÃO CIRCULANTE
Realizável a longo prazo Empréstimos realizados
Contas a receber
Imobilizado
Imóveis
Máquinas
Intangível
Marca

Uma regra da Contabilidade diz que, se você somar todos os valores da


coluna da esquerda, deverá ter um valor igual na soma da coluna da
direita. Isto ocorre porque dinheiro não surge do nada. Assim, se a
empresa aumenta seus estoques, ela precisa tirar dinheiro do caixa ou
fazer uma dívida e o balanço fica sempre equilibrado. Você não precisa
compreender totalmente esse funcionamento, a intenção aqui é demonstrar
que, para que tal regra seja cumprida, falta demonstrar no balanço o
dinheiro que os donos da empresa investiram e possuem na empresa. Este
valor é chamado de Patrimônio Líquido.
Se subtrairmos o valor total do Passivo do valor de todo o Ativo,
teremos o valor do Patrimônio Líquido. O Patrimônio Líquido também
possui subcontas, como capital social (dinheiro investido pelos donos),
reservas de dinheiro que não são distribuídas, entre outras.
Por fim, chega-se ao Balanço Patrimonial Completo:
BALANÇO
ATIVO PASSIVO
CIRCULANTE CIRCULANTE
Caixa e Bancos Fornecedores
Clientes Salários e Encargos sociais
Estoques Impostos e Contribuições
(-) Provisão p/ devedores duvidosos Empréstimos e financiamentos
Outras contas Outras Contas
Despesas antecipadas NÃO CIRCULANTE
NÃO CIRCULANTE Empréstimos realizados
Realizável a longo prazo Adiantamentos de Acionistas
Contas a receber Outras contas
Investimentos PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Participação em outras empresas Capital Social
Imobilizado Reservas de Capital
Veículos Ajustes de Avaliação Patrimonial
Máquinas e equipamentos Reservas de Lucros
Móveis e Utensílios Ações em Tesouraria
Imóveis Prejuízos Acumulados
Intangível
Marca
TOTAL DO ATIVO TOTAL DO PASSIVO

Agora você já possui o conhecimento adequado para iniciar suas


análises dos resultados de uma empresa.
O Balanço Patrimonial permite-lhe verificar, de uma forma clara e
rápida, as condições da empresa e compará-la a outras ou ainda, através da
análise de diversos balanços, verificar a evolução do patrimônio e
endividamento da empresa com o tempo.
Observe (Figura 26-1) o balanço Patrimonial da Petrobras em 2013
conforme divulgado no site da empresa.

Figura 26-1: Balanço Patrimonial da Petrobras S.A.


Assustador, não é? E de fato não é simples. Imagine a quantidade de
características diferentes que possuem as diversas empresas, no entanto,
todas devem preencher o balanço seguindo as mesmas regras. Isto
possibilita uma análise racional do desempenho da empresa e um
parâmetro de avaliação que permite a comparação, além de esclarecer à
Receita Federal se as empresas pagam seus impostos em dia.
Normalmente os balanços são divulgados com diversos comentários dos
controladores das empresas, sua leitura permitirá que você obtenha um
conhecimento inestimável sobre a empresa.
O balanço leva em conta o patrimônio de uma empresa, ou seja, o que
ela possui de fato, seja em maquinário, dinheiro investido, dívidas, etc.
Como saber se ela deu lucro durante o ano? Para isso é preciso observar
outra demonstração, conhecida como Demonstração de Resultado do
Exercício (DRE).

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO DO EXERCÍCIO (DRE)


Enquanto o balanço verifica todos os bens, direitos e obrigações de uma
empresa, a DRE lida com os valores obtidos com as operações da empresa
durante um período. O objetivo é conhecer o resultado da empresa nesse
período, se houve lucro ou prejuízo.
Na empresa fabricante do produto X o processo é o seguinte: vende-se o
produto X e obtém-se a “Receita Operacional Bruta” que é quanto
dinheiro foi recebido na venda. Da receita bruta tiram-se os gastos com
impostos sobre vendas, devoluções de produtos e abatimentos nos preços.
O resultado é a “Receita Líquida de Vendas e Serviços”, ou “Receita
Operacional Líquida”.
DRE

RECEITA OPERACIONAL BRUTA 100


(-) Deduções (abatimentos, impostos etc.) (10) *
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 90

*Valores negativos são representados entre parênteses


A receita operacional bruta mostra quanto a empresa recebeu no total
com a venda do produto X, este valor seria semelhante a multiplicar o
número de unidades vendidas pelo preço cobrado. Se foram vendidas 10
unidades do produto X por R$10,00, a receita operacional bruta será igual
a R$100,00.
Alguns impostos incidem direto sobre o faturamento bruto (IPI, ISS,
ICMS etc.) e pode ocorrer de terem sido vendidos alguns produtos com
desconto, ou que o comprador desista no meio da compra. Suponha que a
soma desses valores foi de R$10,00, ou 10% da receita operacional bruta.
Dos R$100,00 que chegariam nas mãos da empresa, R$10,00 já ficam no
meio do caminho e só R$90,00 entram no bolso. Esses R$90,00
representam a receita operacional líquida que é considerada a receita
efetiva da empresa, o valor que ela realmente recebeu pelos produtos que
vendeu.
Para produzir o produto X, é necessário comprar matéria-prima e
efetuar a transformação dela em produto X, isto gera um custo, chamado
“Custo dos Produtos/Mercadorias Vendidas (CPV)”. Para saber se a
empresa teve lucro ou prejuízo com a venda do produto X, é preciso
subtrair o valor do custo de produção do produto do valor recebido pela
venda dos mesmos (receita operacional líquida). O resultado dessa
operação é o “Resultado Bruto”.
DRE

RECEITA BRUTA 100


(-) Deduções (abatimentos, impostos etc.) (10)
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 90
(-) Custo De Produtos Vendidos (10)
RESULTADO BRUTO 80

Com essas cinco informações você pode analisar o quanto os custos de


produção do produto impactam no resultado da empresa. Uma empresa
que aumente suas vendas, mas não consiga melhorar seus resultados, pode
estar sendo impactada por um aumento no valor do seu custo de produção,
o CPV. Por exemplo: se a empresa aumentar em 10% a receita bruta, por
vender mais produtos X, porém o CPV aumentar em 20% devido à
necessidade de troca de fornecedor da matéria prima, haverá uma piora na
eficiência da empresa.
Continuando com a DRE, para efetuar a venda dos produtos X a empresa
teve gastos: propaganda, salários e comissões dos vendedores, custo da
distribuição entre outros. Estas são as “Despesas com Vendas”.
Para a empresa funcionar, certamente haverá gastos administrativos
como honorários da administração, salários e material de escritório. São
as “Despesas Administrativas”.
A empresa pode ter contraído dívidas, tendo que pagar juros. Pode
também ter feito aplicações que geram rendimentos. Estes resultados são
chamados “Encargos Financeiros Líquidos”.
A soma das despesas com vendas e das despesas administrativas
representa as “Despesas Operacionais” da empresa, despesas necessárias
para fazer a empresa existir, enquanto os “Encargos Financeiros Líquidos”
representam o resultado das atividades financeiras (investimentos e
dívidas) da empresa.
Se subtrairmos as despesas operacionais do resultado bruto, obteremos
o “Resultado Operacional” da empresa, que representa o quanto a empresa
recebe pela sua atividade principal, vender o produto X.
Em seguida, adicionamos ou subtraímos os encargos financeiros
líquidos e obtemos o resultado operacional:
DRE

RECEITA BRUTA 100


(-) Deduções (abatimentos, impostos etc.) (10)
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 90
(-) Custo De Produtos Vendidos (10)
RESULTADO BRUTO 80
(-) Despesas operacionais (10)
(-/+) Encargos financeiros líquidos 20
RESULTADO OPERACIONAL 90

Uma empresa pode aumentar as vendas, porém não conseguir melhorar


seu desempenho porque está tendo muito gasto com despesas operacionais
(dinheiro gasto para fazer a empresa funcionar), o que pode indicar
desperdício ou falta de eficiência. A análise dos lançamentos da DRE lhe
permitirá identificar uma situação desse tipo.
Pode ser que a empresa tenha receita e despesas com atividades não
diretamente relacionadas à venda do produto X, como aluguel, venda de
prédios, multas, doações, etc. Considere estes valores como “Receitas e
Despesas Não Operacionais”.
Somando o resultado das atividades não operacionais ao resultado
operacional, obtém-se o “Resultado Antes Dos Impostos”. Para fins de
cálculo do imposto de renda este é o valor considerado. Será lucro se as
receitas forem maiores que as despesas ou prejuízo se as despesas forem
maiores que a receita. Caso tenha sido lucro, este é o dinheiro que a
empresa efetivamente ganhou no período da DRE e será o valor utilizado
para calcular o imposto de renda a ser pago.
DRE

RECEITA BRUTA 100


(-) Deduções (abatimentos, impostos etc.) (10)
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 90
(-) Custo De Produtos Vendidos (10)
RESULTADO BRUTO 80
(-) Despesas operacionais (10)
(-/+) Encargos financeiros líquidos 20
RESULTADO OPERACIONAL 90
(-) Despesas não operacionais (10)
(+) Receitas não operacionais 10
RESULTADO ANTES DOS IMPOSTOS 90

A análise da DRE até este ponto permite identificar se os resultados da


empresa são impactados pela sua atividade operacional (venda do produto
X) ou outros fatores como resultados financeiros, venda de imóveis, etc.
Uma empresa que só consegue lucro porque suas aplicações estão
rendendo dinheiro enquanto sua atividade principal dá prejuízo,
certamente não tem um futuro muito promissor.
Descontados os impostos, resultará o “Resultado Líquido do Exercício”
ou “Lucro/Prejuízo Líquido”. Este é o lucro final que a empresa teve no
período. Do dinheiro que entrou no bolso da empresa, paga-se tudo e o que
sobrar será o lucro líquido, se faltar, será o prejuízo líquido.
Uma DRE completa fica semelhante a esta:
DRE

RECEITA BRUTA 100


(-) Deduções (abatimentos, impostos etc.) (10)
RECEITA OPERACIONAL LÍQUIDA 90
(-) Custo De Produtos Vendidos (10)
RESULTADO BRUTO 80
(-) Despesas operacionais (10)
(-/+) Encargos financeiros líquidos 20
RESULTADO OPERACIONAL 90
(-) Despesas não operacionais (10)
(+) Receitas não operacionais 10
RESULTADO ANTES DOS IMPOSTOS 90
(-) Impostos (15)
RESULTADO LÍQUIDO 75

A DRE permite uma análise dos resultados da empresa em relação a suas


atividades operacionais e uma visão rápida do que está influenciando nos
seus resultados.

Observe na figura 26-2 a DRE da Petrobras S.A. ao término do ano de 2013.


Figura 26-2: DRE da Petrobras S.A.
Com o Balanço Patrimonial e a DRE, você pode verificar alguns dos
critérios que foram estabelecidos para a seleção de empresas
anteriormente.
Inicialmente, será que a Petrobras dá lucro?
De acordo com a DRE, nos anos de 2012 e 2013 a Petrobrás deu lucro.
Observe a linha Lucro Líquido (LL), na coluna Consolidado. Em 2012 o LL
foi de 20.959 e em 2013 foi de 23.007. Os valores são em milhões, ou seja,
em 2012 a Petrobras conseguiu com suas atividades um lucro de cerca de
vinte e um bilhões de reais .
A Petrobras está crescendo?
Ainda observando a DRE, o LL teve um crescimento de aproximadamente
9%. Na primeira linha da DRE, receitas, observe como elas cresceram de
281.379 em 2012 para 304.890 em 2013. E o patrimônio? No Balanço da
empresa, embaixo à direita, há em negrito “Patrimônio Líquido” (PL),
seguido de vários itens e também dividido em colunas. Na coluna
consolidado, ano de 2012 encontre o penúltimo valor, 330.775, este é o
valor do PL em 2012. Em 2013 ele alterou para 349.334, portanto houve
um aumento do patrimônio líquido da empresa. O patrimônio líquido
representa o dinheiro que efetivamente os donos possuem na empresa já
descontadas as dívidas que devem ser pagas e outros tipos obrigações.
Podemos concluir que de 2012 para 2013 a Petrobras foi uma empresa que
cresceu.

Figura 26-3: Patrimônio Líquido da Petrobras S.A.


A Petrobrás tem dívidas?
Para descobrir as dívidas da Petrobrás, observe no Balanço Patrimonial,
no lado direito, as linhas que indicam Financiamentos. Há duas entradas,
uma no Passivo Circulante e outra no Não Circulante. A diferença entre
elas é a duração da dívida. A dívida do Passivo Circulante é de curto prazo
e deve ser paga em menos de um ano, a do Não Circulante é de longo
prazo e deve ser paga num período maior que um ano.
Figura 26-4: Passivo da Petrobras S.A.
Dívidas de curto prazo são as mais críticas para as empresas pois seu
pagamento deve ser feito já no próximo ano, o que pode não dar tempo
hábil dos investimentos gerarem o retorno esperado, podendo tornar
negativas as contas da empresa.
A Petrobras possuía em 2012 uma dívida de 15.283 de curto prazo, que
aumentou para 18.744 em 2013 e 180.818 de longo prazo, que aumentou
para 248.867 em 2013. Some as duas linhas para os anos e você terá
R$196.101.000.000,00 de dívidas em 2012 e R$267.611.000.000,00 em
2013. Sim, são duzentos bilhões de reais em dívidas.
Não se assuste com valores absolutos de dívidas. Você está lidando com
uma empresa que deu mais de vinte bilhões de lucro por ano. Para saber se
a dívida de uma empresa é realmente significativa é preciso avaliar a
capacidade da empresa de pagar essa dívida.
Por exemplo, pegando somente a dívida de curto prazo de 2013,
aproximadamente 18 bilhões, veja que se a empresa mantiver o mesmo
valor de lucro líquido no próximo ano, ela será capaz de pagar essa dívida
sem problemas só com o seu lucro.

Figura 26-5: Ativo Circulante da PETROBRAS S.A.


Além disso, observe no balanço patrimonial, no “Ativo Circulante”, as
linhas que indicam “Caixa e equivalentes de caixa” e a linha “Títulos e
valores mobiliários”. Somando as duas para 2012 obtém-se 48.944 e para
2013, 46.273. Esses valores representam o dinheiro que a empresa tem em
mãos e em aplicações financeiras que podem rapidamente ser convertidas
em dinheiro. Somente esses valores são mais do que suficientes para
pagarem a dívida de curto prazo.
E a dívida de longo prazo?
O risco de se contrair dívidas é a incapacidade de se pagar os juros e a
amortização, o que levará uma empresa à falência. Você viu que a
Petrobras estava segura para o ano de 2014, no entanto para pagar toda a
dívida da empresa seriam necessários quase dez anos de lucro líquido nos
mesmos patamares do de 2013. Em uma situação negativa, em que a
empresa tenha uma perda de eficiência e comece a ter redução nos lucros,
de repente, os juros da dívida se tornam muito grandes e, para não ter
prejuízo, a empresa começa a utilizar o dinheiro em caixa. Quando o
dinheiro em caixa acabar, mantendo-se o cenário negativo, será preciso
vender coisas para gerar dinheiro, o que irá diminuir o Patrimônio Líquido
(PL) da empresa.
Imagine que você comprou uma casa com financiamento e de repente
você pare de receber seu salário. Para se livrar da dívida sua única opção é
vender a casa e pagar o empréstimo. Em um cenário negativo e com lucros
caindo, a empresa estaria em situação semelhante, tendo que vender coisas
para poder pagar a dívida e não deixar os juros levarem-na à falência.
Se a Petrobras vender todo o seu Patrimônio Líquido, ela será capaz de
pagar a dívida?
Em 2013 a empresa tinha um PL de 349.334 e uma dívida total de
267.820, o que dá uma proporção de 0,77. Ou seja, vendendo tudo o que
possui, a Petrobras seria capaz de pagar suas dívidas.
Você deve estabelecer valores que considera adequado e com os quais
fique confortável em relação à dívida e sua relação com os ativos da
empresa quando for selecionar suas empresas. Não há números mágicos e
nem regras rígidas. Cada caso é um caso.
Um estudo mais profundo da Petrobras mostrará que toda essa dívida
estava, na época, sendo utilizada para realizar investimentos e a empresa
esperava que estes investimentos viessem a gerar retornos expressivos no
futuro.
Observando os fatos relevantes da empresa na época pode-se verificar
que apesar de estar endividada ela mantinha uma política de pagamento de
dividendos.
Você emprestaria dinheiro para um amigo que você sabe que está
endividado, mas que compra um carro zero todo ano?
Não parece ser muito inteligente distribuir dinheiro que poderia ser
utilizado para pagar as dívidas e diminuir o impacto dos juros nos
resultados da empresa. No entanto, os controladores da empresa podem
pensar diferente.
Veja como há diversos pontos na análise da dívida dessa empresa com
os quais você pode concordar ou não. Não há como se afirmar se ela estava
endividada demais ou não, ou se a política de dividendos deveria ser
revista. A empresa é como é. Pode ser que devido aos investimentos
pesados ela quintuplique os lucros nos próximos 10 anos gerando um
ganho considerável de valor ao acionista, bem como pode ser que os
investimentos não deem certo e as dividas se tornem insustentáveis,
levando a empresa a ter de rever suas operações.
Cabe a você analisar se essa situação lhe agrada e atende seus critérios
para ser ou não sócio.
Para se ter uma visão geral de uma empresa não basta analisar apenas
um ano de resultados. No mínimo cinco anos de dados são necessários
para que se possa avaliar se uma empresa realmente apresenta certo
padrão de desempenho. Por isso, no início, fique longe de empresas que
são recentes na Bolsa e possuem histórico pequeno de resultados ou
daquelas que ainda estão iniciando suas atividades, sem estarem com a
produção totalmente bem estabelecida, chamadas empresas pré-
operacionais.
Procure por empresas que há pelo menos cinco anos apresentem
resultados consistentes que atendam aos seus critérios e, uma vez
compradas as ações, mantenha o acompanhamento anual, verificando se a
empresa continua lhe agradando.

Evite empresas recém criadas ou ainda não totalmente operacionais.


Acompanhe os resultados, compare com os anos anteriores e entenda as
mudanças que ocorreram na empresa. Às vezes, eventos inesperados,
como uma multa muito grande ou a venda de uma parte da empresa, geram
efeitos consideráveis em um único período, são eventos conhecidos como
“não recorrentes” porque não são comuns nas operações da empresa. Pode
ser que, com o tempo, os não recorrentes se tornem recorrentes ocorrendo
com frequência, indicando uma piora da empresa. A análise de um período
longo de resultados vai lhe permitir identificar essas discrepâncias e ter
uma visão mais real da empresa.
Na Tabela 26-11 estão os dados da Petrobras no período de 2003 a 2013.
A Petrobras vinha aumentando seu Patrimônio gradativamente ao longo
dos últimos dez anos, possuindo em 2013 um patrimônio quase sete vezes
maior do que em 2003. A receita também sofreu aumento gradativo ao
longo do período, multiplicando-se por três
O lucro da empresa também vinha aumentando de forma relativamente
constante até 2011. Em 2012 ele diminuiu em quase 10 bilhões e em 2013
manteve-se no mesmo patamar. Por que isso ocorreu? Para responder a
esta questão seria preciso verificar se não houve algum evento não
recorrente que impactou nos lucros ou se foi o rendimento da empresa que
realmente piorou.
Ano Patrimônio Receita Lucro Dívida Margem ROE Div/PL
2003 49.367 95,742 17.794 42.247 18,59% 36,04% 0,86
2004 62.130 111.127 16.887 51.781 15,20% 27,18% 0,83
2005 78.785 136.605 23.724 44.942 17,37% 30,11% 0,57
2006 97.530 158.238 25.918 44.065 16,38% 26,58% 0,45
2007 113.854 170.577 21.511 38.307 12,61% 18,89% 0,34
2008 142.841 215.118 32.987 63.323 15,33% 23,09% 0,44
2009 166.893 182.710 30.051 102.450 16,45% 18,01% 0,61
2010 309.828 211.841 35.189 115.947 16,61% 11,36% 0,37
2011 332.224 244.176 33.313 155.554 13,64% 10,03% 0,47
2012 330.775 281.379 20.959 196.313 7,45% 6,34% 0,59
2013 349.334 304.890 23.007 267.820 7,55% 6,59% 0,77

Tabela 26-1: Dados históricos da Petrobras S.A.


*Valores em milhões de reais.
Verifique na Tabela 26-1 que a dívida aumentou em quase seis vezes
desde 2003, com um salto relativamente significativo de 2008 para 2009.
As razões para esse endividamento e o aumento súbito em 2009 você
poderia encontrar lendo os resultados da empresa.
Conhecendo as razões por trás das decisões da empresa, você decidiria
se seguiria sócio ou se abandonaria esse barco, desconfortável com os
possíveis impactos da dívida. Note que o valor absoluto não quer dizer
nada. A dívida cresceu em seis vezes, no entanto o patrimônio e a receita
também cresceram, mantendo-se uma proporção entre a dívida e o
Patrimônio Líquido que começou a crescer mais a partir de 2011, como
pode ser visto na coluna Div/PL.
A análise da Margem e do ROE mostram que o aumento do
endividamento não trouxe uma melhora no desempenho da empresa, os
dois indicadores vinham em queda desde 2007. Para conhecer o motivo
dessa piora operacional, mais uma vez repito, seria preciso ler os
comentários da empresa para conhecer seus resultados, suas estratégias e
questionar ao Relação com Investidores(RI) as dúvidas que restarem.
Qual é o negócio da Petrobras? Como ela ganha dinheiro? A Petrobras é
uma empresa que explora petróleo. É possível, por exemplo, que ela tenha
se endividado para comprar maquinário e construir plataformas em alto
mar, mas que esses investimentos ainda não estivessem totalmente
operacionais. No entanto, os juros da dívida já estavam sendo cobrados, o
que aumentou as despesas e prejudicou os resultados, piorando os números
da empresa. Você precisaria decidir se essa estratégia fazia sentido para
você e optar entre continuar sócio ou sair da empresa.
Pela internet há sites que facilitam sua vida, disponibilizando quadros
com as principais informações já resumidas de diversos anos. Mas lembre-
se de que ler o informe das empresas com os balanços é também uma
forma muito boa de conhecer melhor a empresa e entender o que seus
controladores estão fazendo. Além disso, com a prática, rapidamente você
será capaz de ler as demonstrações e identificar pontos importantes e que
merecem atenção. Provavelmente, um dia você irá fazer seus próprios
quadros e organizar as informações do jeito que melhor lhe convier.
E a governança da Petrobras? Você já viu que ela possuía um bom free
float em 2013, tendo metade das suas ações em circulação no mercado. Já
sabe que seu principal controlador é o Governo Federal e que ele faz o que
achar melhor com a empresa. A Petrobras está listada no segmento
Tradicional da BM&FBOVESPA e possui tanto ações ordinárias com tag along
de 80%, quanto ações Preferenciais sem tag along. Lendo os resultados e
observando se o RI responde aos seus questionamentos de forma clara e
rápida, você poderá concluir se a empresa se esforça em ser transparente e
tratar bem seu investidor minoritário. Junte todos esses fatores e avalie se
a governança lhe agrada ou não.

DEMONSTRATIVO FLUXO DE CAIXA

Além do Balanço Patrimonial e do Demonstrativo de Resultados (DRE), as


empresas divulgam o Demonstrativo de Fluxo de Caixa. Até aqui você já
viu resumidamente como funcionam o Balanço e o DRE e fez uma pequena
análise prática da Petrobras S.A. no ano de 2013. Aprenderá agora sobre o
Fluxo de Caixa.
A diferença entre o Balanço Patrimonial, a DRE e o Fluxo de Caixa está
na forma em como se analisam os resultados da empresa. O Balanço e o
DRE são regidos pelo Regime de Competência. Isto significa que se leva
em conta a data dos fatos geradores das despesas e receitas, mas não
considera se o dinheiro efetivamente entrou ou saiu da empresa. Por
exemplo, no regime de competência, compras feitas em janeiro com
pagamento em abril, serão lançadas como despesas no mês de janeiro.
Já o Fluxo de Caixa é regido pelo Regime de Caixa. O regime de caixa
não se importa com a data em que foram geradas as receitas ou despesas,
ele se importa com o dinheiro que foi efetivamente movimentado no
período. Por exemplo, compras feitas em janeiro com pagamento em abril,
só serão lançadas como despesas quando o dinheiro efetivamente for pago,
ou seja, em abril.
Suponha que você irá computar suas despesas e receitas de um mês. Se
você compra alguma coisa que vale R$10.000,00, porém só irá pagá-la no
mês seguinte, pelo regime de competência você deverá lançar uma despesa
de R$10.000,00 no mês atual. Já pelo regime de caixa, como não houve
movimentação no seu dinheiro, você não teve despesas, pois só irá pagar
no mês seguinte
Esse exemplo demonstra a importância de se analisar ambos os regimes.
Se você olhar suas movimentações somente pelo fluxo de caixa, terá a
impressão de que não tem qualquer despesa e que as finanças estão
tranquilas. Já pelo regime de competência fica claro que você tem uma
despesa a ser paga em breve e, portanto, deve pensar em conseguir o
dinheiro para pagá-la.

Figura 26-6: Cálculo pelo regime de competência e pelo fluxo de caixa.


O raciocínio inverso é válido também para receitas. Se você vendeu um
apartamento por R$100.000,00, porém só receberá o pagamento no mês
que vem, pelo regime de competência você teve uma receita de
R$100.000,00. Já pelo regime de caixa, você não teve qualquer receita.
Se você fez as duas operações no mesmo mês (compra de R$10.000,00 à
prazo e venda de apartamento financiado por R$100.000,00), o resultado,
pelo regime de competência, é um lucro de R$90.000,00 (R$100.000
menos os R$10.000,00), enquanto pelo fluxo de caixa o resultado é
R$0,00.
Diferença de resultado para um mesmo mês dos dois regimes.
Quem analisa somente o regime de competência, pode concluir que você
tem bastante dinheiro sobrando, enquanto quem analisa seu fluxo de caixa
vê que não é bem assim.
Piorando ainda mais a situação, no caso de empresas, existem
lançamentos que são registrados nos balanços como receitas ou despesas,
mas na verdade não têm qualquer efeito de caixa, isto é, não representam
dinheiro que entrou ou saiu e sim uma manobra nos números para se
cumprir a lei e fazer as contas darem certo. O resultado é que se você olhar
apenas o balanço poderá ver lucro, quando, no entanto, a empresa não está
gerando caixa (dinheiro) de forma positiva: há mais dinheiro saindo do
que entrando.
Se há mais dinheiro saindo do que entrando, certamente em algum
momento não haverá mais de onde tirar e a empresa será obrigada a fazer
empréstimos, ou, para uma empresa que já tenha empréstimos, jogar a
toalha e começar a vender patrimônio.
Quais são esses lançamentos mágicos que podem confundir o analista
principiante? Eis aqui alguns exemplos:

Depreciação: Quando uma empresa compra um veículo ou um


maquinário, o valor total pago pelo bem não é lançado
imediatamente nos balanços. É considerado que estes bens vão
perdendo valor com o tempo. Como calcular esta perda? As regras
são definidas pela Receita Federal e variam dependendo do bem:
veículos têm prazo de 5 anos enquanto para as máquinas é de 10
anos. Dessa forma, um veículo de R$ 10.000,00 será depreciado
R$2.000,00 por ano durante cinco anos. Esses R$2.000,00 são
lançados como custos (despesas) no Balanço Patrimonial.
Amortização: A amortização é semelhante à depreciação, porém é
aplicada a bens imateriais, como softwares de computador.

No caso da compra do carro, a empresa paga os R$10.000,00 pelo


veículo de uma vez só, no entanto, em seus resultados esta despesa é
dividida em cinco parcelas de R$2.000,00.
No fim das contas, as depreciações serão consideradas na DRE como
despesas operacionais (Tabela 26-2) durante cinco anos e diminuirão o
lucro líquido da empresa em todos esses anos. No entanto, este dinheiro só
foi gasto lá atrás, quando houve a compra do carro.
DRE

RECEITA BRUTA
(-) Deduções (abatimentos,
impostos etc.)
RECEITA OPERACIONAL
LÍQUIDA
(-) Custo De Produtos Vendidos
RESULTADO BRUTO
Depreciações e amortizações entram aqui, diminuindo o
(-) Despesas operacionais
resultado operacional.
(-/+) Encargos financeiros
líquidos
RESULTADO OPERACIONAL
(-) Despesas não operacionais
(+) Receitas não operacionais
RESULTADO ANTES DOS
IMPOSTOS
(-) Impostos
RESULTADO LÍQUIDO

Tabela 26-2: Depreciações e Amortizações na DRE.


Para saber se você não está sendo enganado pelos lançamentos sem
efeito caixa realizados na DRE e no Balanço Patrimonial você precisa
analisar o Demonstrativo de Fluxo de Caixa, que representa a
movimentação efetiva de dinheiro na empresa.
O demonstrativo de fluxo de caixa de uma empresa é dividido em três
partes: atividades operacionais, de investimento e de financiamento.
Nas atividades operacionais são listados os pagamentos e recebimentos
resultantes das atividades operacionais da empresa. Nessa parte,
lançamentos sem efeito caixa como as depreciações e amortizações são
somados ao lucro da empresa:
Fluxo de Caixa

ATIVIDADES OPERACIONAIS
Lucro Líquido 100
Ajustes 2
Recursos gerados pelas atividades operacionais: 102

Tabela 26-3: Fluxo de Caixa.


De acordo com a DRE da Tabela 26-3, havia um lucro líquido de 100, no
entanto, como 2 eram de amortização sem efeito caixa, na verdade o
dinheiro que entrou no bolso da empresa devido a suas atividades
operacionais foi 102.
O efeito inverso ocorre para vendas a prazo. Vendas a prazo são lançadas
no DRE em seu valor total, no entanto só entram no caixa da empresa as
parcelas efetivamente pagas. O resultado é um Lucro Líquido maior do
que o dinheiro que efetivamente entrou na empresa.
Estes são apenas exemplos das nuances da análise dos demonstrativos.
Outros fatores podem ter influência parecida nos resultados.
Na segunda parte do Fluxo de Caixa, “Atividades de Investimento”,
entram valores gastos com investimento para compra de imóveis,
maquinário, manutenção, etc.
Nessa parte é possível verificar no quê a empresa investiu. Empresas
com grande quantidade de imóveis e maquinário, por exemplo, precisam
fazer altos investimentos de manutenção. No exemplo de fluxo de caixa da
Tabela 26-4 é possível ver que a empresa fez a compra de algum ativo,
pois há um gasto de 50 para aquisição de imobilizado.
Fluxo de Caixa

ATIVIDADES OPERACIONAIS
Lucro Líquido 100
Ajustes 2
Recursos gerados pelas atividades operacionais: 102
Fluxo de Caixa

ATIVIDADES DE INVESTIMENTO
Aquisição de imobilizado (50)
Recursos gerados pelas atividades de investimento: (50)

Tabela 26-4: Fluxo de Caixa.


Comparando o resultado das atividades operacionais com o resultado
das atividades de investimento, é possível verificar se a empresa não está
gastando mais dinheiro em investimentos do que recebe. Para isso, basta
subtrair o valor dos investimentos do valor dos resultados operacionais,
obtendo um valor conhecido como Fluxo de Caixa Livre (FCL). No
exemplo, existe um FCL positivo de 52, obtido somando-se o fluxo positivo
de 102 com as atividades de investimento, que resultaram num fluxo
negativo de 50. Em outras palavras, nas mãos da empresa chegaram 102
em dinheiro e saíram 50, restando 52, que é o FCL.
Gastos com investimentos devem trazer resultados. Nos próximos
demonstrativos, será preciso verificar se a compra do imobilizado
aumentou os resultados operacionais da empresa.
Se o desembolso pela aquisição fosse maior do que o caixa gerado pelas
atividades operacionais, a empresa precisaria fazer uma dívida, afinal ela
não tem dinheiro disponível para pagar por esse investimento. Para fazer
essa dívida é preciso ter certeza de que o investimento irá aumentar sua
produção e consequentemente seus resultados operacionais, pois agora,
além de arcar com as despesas normais, terá também a despesa com juros.
Se o investimento falhar e os resultados esperados não forem alcançados,
poderá haver prejuízo.
Portanto, deve haver um equilíbrio entre os investimentos e o resultado
operacional. Em empresas com FCL negativo, é preciso avaliar se os
investimentos realmente fazem sentido e irão propiciar melhoras à
empresa. Será preciso observar os próximos resultados e avaliar se o
desempenho tem melhorado ou se os investimentos não têm gerado os
resultados esperados.
A terceira parte do demonstrativo trata do fluxo de caixa em relação às
atividades de financiamento. Entram aqui gastos com pagamento de
dividendos, pagamento de juros, dinheiro captado em empréstimos, etc.
Resultados positivos aqui indicam que a empresa fez algum tipo de
empréstimo, enquanto resultados negativos indicam pagamento das
dívidas.
Fluxo de Caixa

ATIVIDADES OPERACIONAIS
Lucro Líquido 100
Ajustes 2
Recursos gerados pelas atividades operacionais: 102
ATIVIDADES DE INVESTIMENTO
Aquisição de imobilizado (50)
Recursos gerados pelas atividades de investimento: (50)
FCL(Recursos operacionais-Recursos de investimento) 52
ATIVIDADES DE FINANCIAMENTO
Dividendos pagos (10)
Amortização de juros (5)
Recursos gerados pelas atividades de financiamento: (15)
Equivalente de caixa: 37

Tabela 26-5: Continuação do Fluxo de Caixa.


Continuando com o exemplo (Tabela 26-5), o demonstrativo indica que
a empresa recebeu em dinheiro 102, investiu 50 e pagou 15 em dívidas,
sobrando 37. Este valor final é o valor que entrará na conta Caixa do Ativo
no Balanço Patrimonial e representa o dinheiro que a empresa possui em
mãos.
Observe a figura 26-7 que mostra o fluxo de caixa da Petrobras para o
ano de 2013.
Calculando o FCL, você obterá um resultado negativo em torno de 20
bilhões de reais. Isto indica que a Petrobras estava investindo mais
dinheiro do que ela vinha recebendo vendendo seu petróleo. Vê-se que a
maioria dos investimentos foi em “Aquisições de imobilizados e
intangíveis”, o que indicava que a empresa tinha comprado muita coisa.
Para saber o que ela tinha comprado e qual o objetivo da compra seria
preciso ler com mais detalhes os relatórios.
Figura 26-7: Demonstrativo de Fluxo de Caixa da Petrobras S.A.
No Figura 26-7, no Fluxo de Caixa de Financiamentos da Petrobras
havia um valor grande especificado como “Captação”, que é o valor que
salvou o caixa da Petrobras de ficar no vermelho naquele ano. Captação
nada mais é que o dinheiro emprestado que a empresa pegou.
A análise do fluxo de caixa da Petrobras em 2013 confirma o que o
histórico dos resultados já tinha lhe indicado: a empresa estava querendo
crescer, investindo pesado e se endividando no processo. Se desse certo, o
lucro poderia multiplicar-se e ser o suficiente para pagar as dívidas e
colocar a empresa de volta no verde. Se não desse certo, a empresa teria de
rever suas contas.

Enriqueça o seu vocabulário

Regime de Competência: Regime que leva em conta a data dos fatos


geradores para cálculo dos resultados.
Regime de caixa: Regime em que se leva em conta somente a data de
movimentação do dinheiro.
FCL: Fluxo de Caixa Livre. É o valor da subtração entre o total dos
resultados operacionais e o total dos investimentos apresentados no
demonstrativo de fluxo de caixa.

GUIA PARA SELECIONAR EMPRESAS

Não há mistério no investimento em ações. Relembre o que você viu até


aqui. Através do senso comum e da lógica estabeleceu critérios básicos
para selecionar empresas nas quais quer investir. Em seguida aprendeu
sobre a divulgação de resultados de uma empresa e a como fazer uma
análise rápida e geral desses resultados, observando se a empresa atende
aos seus critérios. Uma vez comprada a ação, basta repetir o processo
anualmente e decidir se segue investindo ou não.
No começo é provável que você cometa erros, interpretando alguns
dados de forma equivocada e tomando decisões ruins. Para diminuir seu
prejuízo caso isso ocorra, é importante diversificar, investindo em
diversas empresas e sempre um pouco de dinheiro de cada vez. Lembre-se
de, anualmente, manter o acompanhamento dos resultados das empresas
em que você investe verificando os demonstrativos anuais.
É importante que você dedique um pouco do seu tempo aos seus
investimentos, ganhando confiança nas próprias decisões e aprendendo
com seus erros. Seguir a opinião dos outros, seja quem for, só fará você
ficar preocupado e perder dinheiro.
O investidor inteligente investe em ações porque acredita que as
empresas serão capazes de fazer melhor com o seu dinheiro do que ele
mesmo faria. Ele não se preocupa com preço de ação, pois sabe que o
preço de suas pequenas compras periódicas não fará diferença no longo
prazo, preocupa-se com fundamentos da empresa e se ela mantem-se uma
boa empresa. Não perde tempo com coisas que não mudam nada no
desempenho de sua empresa, como notícias ou variação de preço da ação.
Uma vez por ano, pega o resultado anual das empresas em que investe,
analisa, decide se continua ou se sai e no restante do ano apenas segue o
seu plano. Para se proteger dos próprios erros, diversifica seus
investimentos e aplica pequenas quantias periodicamente. Está sempre
preparado para reconhecer que errou, abandonar os investimentos ruins,
aprender com o erro e seguir em frente, colocando seu dinheiro em
empresas melhores.
Para investir é preciso ter atitude para confiar nas próprias decisões,
humildade para reconhecer que errou e consciência para saber que sempre
há algo inesperado ou desconhecido que pode fazer você perder tudo. Sua
única chance é diversificar e manter o estudo e o preparo.
Para escolher quais ações estudar das dezenas que existem na
BM& FBOVESPA, há diversas maneiras:

Você pode procurar por empresas que estão presentes no seu dia a
dia, como o seu banco, operadora de telefonia, máquina de cartão
de crédito ou posto de gasolina.
Você pode procurar empresas que lidam com atividades nas quais
você também trabalha e acha que tem mais conhecimento para
poder analisar.
Você pode ir direto aos sites que apresentam resumo dos
resultados das empresas e simplesmente filtrar as que atendam aos
seus critérios.

Há investidores que consideram melhor investir em empresas de cujo


negócio eles entendam, para poderem avaliar melhor se o que a empresa
diz está realmente sendo feito. Outros gostam de poder avaliar na prática
se os serviços e produtos da empresa são bons e satisfatórios e optam por
empresas a cujo produto eles têm acesso. Outros optam por apenas
analisar os resultados. Seja qual for a sua estratégia, o importante é que,
uma vez selecionada uma empresa, você faça a análise dela. Não vá sair
comprando ações apenas porque seu amigo falou que ela tem potencial ou
saiu no jornal que a empresa teve lucro recorde.
Quando escolher quais empresas deseja analisar, siga estes passos:

Inicie sua análise pela liquidez. Se não há ninguém querendo


vender a ação daquela empresa, significa que você não poderá
comprar então não há por que perder tempo estudando.
Considere as características de governança, tais como segmento
de mercado, free float e tag along. Uma empresa que não possui
tag along em suas ações não serve para o pequeno investidor pois
em caso de troca de controle da empresa você não terá qualquer
garantia.
Veja se a empresa já possui pelo menos uns cinco anos de
resultados disponíveis para estudo. Empresas muito recentes ou
que ainda não estão totalmente operacionais não dispõem de
informações suficientes para poder se chegar a uma boa
conclusão.
Avalie se a empresa dá lucro e se esse lucro é constante e, melhor
ainda, se vem crescendo de forma contínua nos últimos anos.
Observe se a empresa apresenta consistência nos resultados.
Variações grandes de um ano para o outro indicam que a empresa
sofre problemas que podem vir a prejudicar seu desempenho no
futuro.
Confira se o crescimento da receita e da margem são consistentes,
indicando que a empresa consegue aumentar suas vendas e manter
uma boa margem de lucro. Estabeleça um número que considere
adequado para a margem (muitos utilizam 20%) e veja se a
empresa está dentro desse critério.
Verifique o ROE da empresa e veja se ele se mantém constante e
está acima do valor que você deseja (normalmente acima da taxa
de juros básica da economia).
Esteja atento às características de cada setor. Se perceber que uma
empresa apresenta uma margem muito baixa, porém tem bons
resultados, compare com outras empresas do mesmo setor e veja
se a margem de todas é semelhante. Empresas do setor de
consumo, por exemplo, têm margem baixa de forma geral, porém
podem ter alta lucratividade.
O mesmo vale para o ROE. Lembre-se que o ROE é o lucro dividido
pelo Patrimônio Líquido da empresa. Discrepâncias nesses fatores
podem gerar ROE fora do normal.
Analise a dívida da empresa. Não se prenda a valores absolutos,
mas sim a características como quanto da dívida é de curto e de
longo prazo, quanto é em moeda nacional e moeda estrangeira,
quais são os juros pagos pela empresa e se eles realmente são
vantajosos. Verifique se a empresa é capaz de pagar a dívida
apenas com dinheiro em caixa e qual é a proporção da dívida em
relação ao lucro líquido e ao patrimônio líquido. Estabeleça
valores que você considera aceitável para essas proporções. Se é
uma empresa que se endivida pensando em resultados futuros,
analise se esses investimentos fazem sentido para você.
Por fim, analise a governança da empresa. Procure informações de
como a empresa remunera seus controladores e executivos. Veja
se as informações disponibilizadas pela empresa são claras e bem
explicadas. Faça perguntas ao RI e veja se ele responde
rapidamente e de forma clara.

Após finalizar sua análise, conclua se irá ou não comprar ações daquela
empresa. Por fim, lembre-se que quem deseja ser sócio sempre compra
ações Ordinárias.
E nunca se esqueça que, apesar de tudo, você pode estar errado. Não
escolha somente uma empresa para investir todo o seu dinheiro. Selecione
pelo menos umas 10 empresas, de setores diferentes da economia pois em
caso de crises elas não serão afetadas todas da mesma maneira. Faça
investimentos periódicos (mensais ou semanais), comprando uma pequena
quantidade de cada vez e, uma vez por ano, analise os resultados anuais de
suas empresas, decidindo se irá manter-se sócio para o ano seguinte ou se
sairá da empresa, vendendo suas ações, porque ela deixou de atender seus
critérios.
1 Dados disponíveis em www.bmfbovespa.com.br
CAPÍTULO 27

RESUMO DE AÇÕES

Vamos analisar o investimento em ações da mesma forma que os outros


investimentos foram avaliados até agora, levando-se em consideração as
taxas, rendimentos, valor inicial, liquidez e risco.
Com a exceção das taxas, todos os demais fatores são característicos à
empresa da qual você irá comprar ações, exigindo uma análise mais
criteriosa do que alguns outros investimentos, em troca de possibilidades
de retorno maiores.
Talvez você tenha lido tudo aqui e mantido aquele antigo raciocínio
mostrado no início do livro, de que “isto não é para mim” e “exige muito
esforço”. Agora você sabe o suficiente para poder decidir por si mesmo,
mas o fato é que:
Investir em ações de boas empresas e efetuar a reaplicação dos
rendimentos recebidos para comprar mais ações é a única maneira
comprovadamente eficaz de uma pessoa comum ter a chance de tornar-
se rica.
Se você não for empresário, herdeiro, astro da música, esportista de
sucesso ou ganhador da Mega-Sena, suas melhores chances de ganhar
dinheiro com investimentos e mudar de vida estão no mercado de ações.

RENDIMENTOS

Os rendimentos do investimento em ações podem resultar do ganho dos


dividendos e juros sobre capital próprio (JCP), ganho de capital referente a
operações com as ações e, o mais importante, ganho de valor e aumento de
patrimônio à medida que a empresa em que você investiu cresce e
aumenta seus lucros.
Os dividendos e JCP não só lhe permitem um aumento imediato de renda,
pois é dinheiro que pinga na sua conta sem que você tenha que fazer nada,
como também, quando reaplicados na compra de mais ações,
potencializam o aumento do seu patrimônio e ajudam o trabalho dos juros
compostos no longo prazo.
Para entender melhor o efeito no aumento da sua renda que os
dividendos fazem, suponha que você receba um salário de R$5.000,00 e
aplique 20% todo mês para comprar ações. Isto significa que você todo
mês compra R$1.000,00 em ações. Imagine que você compra ações de
uma empresa que tem um dividend yield de 10%, ou seja, distribui cerca
de 10% do valor de sua ação em dividendos por ano,
No primeiro ano, você irá investir R$12.000,00 e receberá 10% desse
valor em dividendos, R$1.200,00.
ANO APLICADO DIVIDENDO

1 12.000,00 1.200,00

Tabela 27-1: Exemplo de aplicação em ação durante um ano.


Se você quiser manter o ritmo no ano seguinte, investindo o equivalente
a R$12.000,00 durante o ano, você só precisará tirar do seu salário
R$10.800,00, pois os outros R$1.200,00 a empresa já deu para você.
R$10.800,00 equivalem à aplicação de R$900,00 mensais. Ou seja, todo
mês agora você terá R$100,00 sobrando e ainda manterá o ritmo de
aplicações nas ações que tinha estipulado antes, R$1.000,00 por mês.
Mantendo esses rendimentos e aplicações, você terá um resultado igual
ao mostrado na tabela 27-2.
Observe que no terceiro ano, ao invés de alocar R$1.000,00 do seu
salário por mês, você estará alocando somente R$800,00 todo mês e assim
por diante, até chegar o dia, com 10 anos de aplicações, em que mesmo
não colocando um centavo do seu salário em jogo, você continuará
aplicando os mesmos R$1.000,00 mensais, devido ao pagamento de
dividendos.
Outra forma de encarar essa situação é considerar que, ao final do ano,
você receberá R$1.200,00 a mais no primeiro ano para gastar com o que
quiser. No segundo terá R$2.400,00 e assim por diante.
Claro, para que isso ocorra estamos supondo uma empresa que
mantenha o mesmo pagamento de dividendos durante todo esse período,
no entanto este exemplo serve para mostrar como o investimento em ações
pode aumentar sua renda.
ANO APLICADO DIVIDENDO SAÍDA DO SALÁRIO

1 12.000,00 1.200,00 12.000,00


2 24.000,00 2.400,00 10.800,00
3 36.000,00 3.600,00 9.600,00
4 48.000,00 4.800,00 8.400,00
5 60.000,00 6.000,00 7.200,00
6 72.000,00 7.200,00 6.000,00
7 84.000,00 8.400,00 4.800,00
8 96.000,00 9.600,00 3.600,00
9 108.000,00 10.800,00 2.400,00
10 120.000,00 12.000,00 0,00

Tabela 27-2: Exemplo de aplicação em ação durante dez anos.


Apesar de parecer boa, essa estratégia de gastar os dividendos que se
recebe não demonstra o verdadeiro poder dos dividendos. O que pode
realmente te deixar rico é manter as aplicações de R$1.000,00 mensais e
ainda comprar mais ações com os dividendos recebidos.
ANO APLICADO DIVIDENDO

1 12.000,00 1.200,00
2 25.200,00 2.520,00
3 39.720,00 3.972,00
4 55.692,00 5.569,20
5 73.261,20 7.326,12
6 92.587,32 9.258,73
7 113.846,10 11.384,61
8 137.230,70 13.723,07
ANO APLICADO DIVIDENDO

9 162.953,70 16.295,37
10 191.249,10

Tabela 27-3: Reaplicando os dividendos.


A tabela 27-3 mostra o mesmo procedimento de aplicação anual de
R$12.000,00, porém agora considerando que além dos R$12.000,00 anuais,
também se reinvestiu os dividendos recebidos
No início, a diferença parece pequena, mas a partir do quinto ano
mantendo essa estratégia, quando os juros compostos começam a
despertar, sua vantagem começa a se mostrar, pois observa-se não só um
patrimônio maior como uma maior quantia de dividendos recebidos, até
que, com cerca de 10 anos de investimentos, você terá quase 60% a mais
de patrimônio reinvestindo os dividendos ao invés de resgatá-los.

Figura 27-1: Vantagens de se reinvestir os dividendos.


Isto pode ser visto no gráfico da Figura 27-1. A curva preta é o seu
patrimônio crescendo exponencialmente quando você reinveste seus
dividendos. A reta cinza é o seu patrimônio também crescendo, porém sem
reinvestir os dividendos.
A diferença percentual de patrimônio comparando as duas estratégias é
mostrada na tabela 27-4.
Ao final de 10 anos, quem reinvestiu seus dividendos terá um
patrimônio quase 60% maior do que quem não o fez. Após dez anos os
dividendos recebidos serão mais do que suficientes para você utilizar um
pouco visando melhorar sua qualidade de vida e ainda continuar
reinvestindo e aumentando seu patrimônio.
Além dos dividendos, se você fizer a escolha certa e comprar ações de
boas empresas, o preço da ação dessas empresas se valorizará ao longo do
tempo, acompanhando o crescimento dos resultados e do patrimônio da
empresa. No longo prazo o mercado acompanha os fundamentos e
empresas boas sempre verão suas ações se valorizarem. O resultado será
que as ações que você comprou por R$10,00 há anos atrás, agora valem
R$50,00.
ANO REINVESTINDO SEM REINVESTIR DIFERENÇA

1 R$12.000,00 R$12.000,00 0,00%


2 R$25.200,00 R$24.000,00 5,00%
3 R$39.720,00 R$36.000,00 10,33%
4 R$55.692,00 R$48.000,00 16,03%
5 R$73.261,20 R$60.000,00 22,10%
6 R$92.587,32 R$72.000,00 28,59%
7 R$113.846,1 R$84.000,00 35,53%
8 R$137.230,7 R$96.000,00 42,95%
9 R$162.953,7 R$108.000,00 50,88%
10 R$191.249,1 R$120.000,00 59,37%

Tabela 27-4: Diferencial de patrimônio reinvestindo ou não os dividendos.


Mas o que fazer para empresas que não pagam dividendos?
Existem empresas que não pagam, ou pagam pouco dividendos,
preferindo reinvestir o lucro no crescimento da própria empresa. Se esse
reinvestimento der certo, a empresa se valorizará e o preço das ações irá
acompanhar.
Neste tipo de empresa, os próprios donos estão fazendo o trabalho de
reinvestir os dividendos para você e o seu principal ganho estará na
valorização da ação. O resultado final será muito semelhante à estratégia
de reinvestir os dividendos, pois seu patrimônio também aumentará.
Se no futuro você quiser obter alguma renda desse tipo de empresa, você
deverá vender uma pequena parte de suas ações. A valorização das ações
que continuarem em suas mãos deverá ser suficiente para cobrir suas
retiradas e ainda manter o aumento do patrimônio.

TAXAS

As taxas para se investir em ações incluem:

Corretagem: valor variável para cada corretora, pago quando você


efetua uma operação (compra ou venda);
Emolumentos: 0,0050% do montante negociado, pagos para a
Bolsa quando você efetua uma operação;
- Liquidação: 0,0275% do montante negociado, pagos para a Bolsa
quando você efetua uma operação;
- Taxa de custódia: R$6,90 por mês (esta taxa é cobrada da
corretora pela Bolsa. A sua corretora pode ou não repassar a
cobrança para você); e
- Taxa sobre o valor em custódia: taxa percentual cobrada pela
Bolsa, uma vez ao ano, de investidores com carteiras de ações
cujo valor seja superior a R$300.000,00, de acordo com a Tabela
27-5.
VALOR TAXA
R$300.000,00 a R$ 1.000.000,00 0,0130%
R$1.000.000,00 a R$10.000.000,00 0,0072%
R$10.000.000,00 a R$100.000.000,00 0,0032%
R$100.000.000,00 a R$1.000.000.000,00 0,0025%
R$1.000.000.000,00 a R$10.000.000.000,00 0,0015%
Acima de R$10.000.000.000,00 0,0005%
Tabela 27-5: Taxa de custódia para valores maiores que
R$300.000,00

A alíquota de imposto de renda que incide sobre operações no mercado à


vista com ações é de 15% sobre o lucro das operações. No entanto, só será
necessário pagar o imposto se o valor do somatório de todas as vendas de
ações que você fizer no mês, for maior que R$20.000,00. Para entender
melhor como funciona o imposto de renda para investimentos em ações,
leia o Apêndice “Imposto de Renda”.

VALOR INICIAL

Para investir em ações você só precisa ter o suficiente para comprar uma
ação. O preço de uma ação varia de empresa para empresa, indo de
centavos a milhares de reais. De qualquer forma, para não fazer com que
as taxas de corretagem sejam maiores do que o valor das ações que você
está comprando, é recomendado que você comece investindo pelo menos
R$500,00 por ação.

LIQUIDEZ

A liquidez depende de cada ação. É preciso verificar quantos negócios são


realizados com aquela ação em um dia para analisar sua liquidez. Ações
que possuem mais de 100 negócios por dia já apresentam liquidez
suficiente para o pequeno investidor.
Quando seu patrimônio em uma única ação ficar muito grande, lembre-
se de ficar atento com a liquidez para não acabar ficando preso com suas
ações caso deseje vendê-las.

RISCOS

Os riscos são inerentes às empresas em que se investe. De forma geral,


grandes ciclos de depressão na economia acabam afetando as empresas
como um todo, mas as boas empresas sempre sobreviverão. Assim, analise
com cautela com que tipo de negócio a sua empresa lida e veja quais os
riscos que ela corre. Dívidas, variações de câmbio, preço da matéria
prima, concessões governamentais, políticas fiscais e diversos outros
fatores são coisas que podem afetar o desempenho da sua empresa.
Para o pequeno investidor, o maior risco está no efeito psicológico
causado pela disponibilidade das cotações instantâneas.
O investidor que não tem certeza da qualidade das empresas que
comprou, ao ver a cotação desabar sem motivo venderá suas ações com
prejuízo e sairá reclamando do mercado acionário.
O investidor que analisa os fundamentos da empresa em que investe e
está preocupado com os resultados anuais que as empresas apresentam ao
se deparar com uma queda muito grande dos preços ou ouvir falar de
possíveis explicações para a “queda da Bolsa”, simplesmente seguirá seu
plano, aproveitando a baixa para comprar mais ações com o mesmo
dinheiro que investe todo mês.
Notícias, crises e quedas nas cotações não afetam os resultados das
empresas, mas geram a oportunidade de se ganhar muito dinheiro, pois o
mercado em pânico começa a fazer coisas sem sentido como vender ações
de boas empresas a preços baixos. Quem sabe o que faz e continua
comprando, pode ter bons resultados quando o mercado voltar a subir.
O contrário também é válido. Às vezes uma empresa fica famosa entre
os analistas, que recomendam a compra e todo mundo sai comprando, seja
porque o vizinho falou, viu no jornal ou seu corretor recomendou. As
ações da empresa sobem agressivamente. Às vezes, essa empresa pode
começar a apresentar falhas em seus resultados, quem os acompanha
venderá suas ações muito antes do mercado perceber o erro que estava
cometendo e os preços derreterem.
A economia é feita de ciclos. Os preços sobem e descem e voltam a
subir. No longo prazo, o valor geral das ações tende sempre a subir pois
reflete o aumento da produção e da riqueza gerada pelos homens. Não se
preocupe com preços e notícias. Preocupe-se com fundamentos. Às vezes
uma notícia pode parecer ruim para uma empresa, mas antes que você
soubesse, os administradores já tinham tomado precauções a respeito e a
empresa continua apresentando bons resultados.
As empresas divulgam seus resultados uma vez por ano. É nessa época
que você deve dedicar um pouco de seu tempo ao mercado acionário para
estudo dos relatórios. No restante do tempo, preocupe-se com sua
qualidade de vida e siga o seu plano.
Quando chegar a hora de vender suas ações, também será preciso força
de vontade. Se os fundamentos da sua empresa ficaram ruins ou não
atendem mais aos seus critérios, não hesite em vender suas ações a
qualquer preço. É comum investidores ficarem presos a empresas por
motivos psicológicos, torcendo para que ela melhore ou esperando que o
preço volte a subir para buscar um “empate”.
Para investir é preciso ser realista e frio, se sua empresa tem
apresentado resultados ruins não adianta torcer, venda logo antes que você
perca mais dinheiro. Também não fique se enganando dizendo que vai
esperar o preço da ação voltar a subir. Ações de empresas com
fundamentos ruins não irão se valorizar, não importa o quanto você espere.
Durante esse tempo que você perde com esperanças inúteis, seu dinheiro
poderia estar investido em boas empresas, adicionando valor ao seu
patrimônio.
CAPÍTULO 28

FUNDOS DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO

Fundos de Investimento Imobiliário (FII) são fundos que investem em


ativos relacionados ao mercado imobiliário. Um FII pode fazer
investimentos como: comprar um prédio para alugar, investir em CRI e
outros ativos relacionados ao crédito imobiliário e negociar cotas de
outros FII.
FII que investem em imóveis têm objetivos muito semelhantes ao de
pessoas que investem em imóveis. A diferença é que FII podem comprar
prédios de milhões de reais enquanto eu e você nos contentamos com um
apartamento de alguns cômodos.

“Me vê aquele prédio, por gentileza...”


Os FII proporcionam ao pequeno investidor a chance de investir no
mercado corporativo de imóveis com uma pequena quantidade de
dinheiro.
Para se investir em um FII é necessário comprar uma cota do fundo. As
cotas dos fundos imobiliários são negociadas em ambiente de Bolsa assim
como as ações. Seus preços variam de alguns reais até alguns milhares de
reais.
Nem tudo são vantagens. Diferente de quando você é o dono de um
imóvel e toma as decisões, num fundo as decisões são tomadas pelas
assembleias de cotistas ou pelo administrador quando esse tem poder para
tal, o resultado é que a decisão da maioria nem sempre será igual à decisão
que você tomaria.
Pode-se classificar os FII de diversas formas. Inicialmente, considere-os
de acordo com o tipo de ativo em que investem:

FIIque investem em ativos reais, ou seja, imóveis que de fato


existem, chamados FII de tijolo; e
que investem em ativos financeiros relacionados ao mercado
FII
imobiliário, conhecidos como FII de papel.

FII DE TIJOLO

FII de tijolo têm objetivos semelhantes aos que um investidor teria ao


adquirir um imóvel.

Você pode comprar um imóvel, pensando em alugar e receber o


valor do aluguel.
Você pode comprar um imóvel ainda na planta pensando em
revendê-lo a um preço maior quando o mesmo for entregue.
Você pode comprar um imóvel ainda na planta pensando em
alugá-lo quando ele ficar pronto.
Você pode comprar um imóvel pensando em revendê-lo a um
preço maior após certo tempo, além de outros objetivos.

O importante aqui é perceber que FII de tijolo trabalham com objetivos


semelhantes a esses e incorrem nos mesmos riscos que você incorreria ao
tentar uma dessas estratégias:

Pode ser que não seja possível alugar o imóvel, sendo necessário
arcar com as despesas de manutenção do mesmo.
Pode ser que a construtora vá à falência antes do prédio ficar
pronto.
Pode ser que depois de pronto, o imóvel não valorize.
Para imóveis já prontos, é possível que não ocorra uma
valorização ao longo do tempo. Às vezes serão necessárias
reformas para corrigir avarias e sempre haverá os custos para
manutenção, que podem tornar-se insustentáveis.
Sempre existe o risco de não conseguir alugar o imóvel, tendo que
arcar com as despesas. Se você fez uma dívida para adquirir o
imóvel e esperava a ajuda do aluguel para tirá-lo do sufoco
quando o imóvel ficasse pronto, você poderá ficar em uma
situação complicada.

Para saber qual o objetivo de um FII, é necessário ler o prospecto de


emissão, disponível no site da Bolsa. Lá estará detalhado quanto dinheiro
o fundo esperava arrecadar quando foi lançado e o que desejava fazer com
ele.
Há FII que planejam comprar algum tipo de imóvel já pronto, seja
comercial (prédio de escritórios) ou logístico (imóveis para indústrias)
para obter a renda do aluguel, há outros que pretendem construir um
imóvel para só depois alugá-lo e há outros que têm como objetivo
revender com lucros imóveis que vierem a adquirir.

FII DE PAPEL

FII de papel investem em ativos financeiros ligados ao mercado


imobiliário como os CRI e as LCI. A vantagem aqui é que, para investir
diretamente em um CRI seria preciso muito dinheiro, enquanto para
comprar a cota de um FII de papel normalmente bastam algumas dezenas
de reais.
Além disso, por ter grande disponibilidade de capital, os FII podem
investir em diversos CRI ao mesmo tempo, gerando diversificação e
dispersão do risco.
Os riscos de um FII de papel estão ligados aos ativos em que eles
investem. Por exemplo, fundos que investem em CRI terão riscos
semelhantes ao investimento em CRI.
Outro tipo de FII de papel é o fundo de fundos, cujo objetivo é ganhar na
negociação das cotas de outros FII. Estes fundos compram grandes
quantidades de cotas de vários fundos, gerando uma diversificação e a
chance do investidor ter acesso a vários fundos de uma só vez. O
rendimento deles vem do ganho na venda das cotas e dos rendimentos
recebidos dos fundos que possui. O ponto negativo é que muitas vezes
estes fundos acabam comprando FII com fundamentos ruins porque sua
estratégia está mais relacionada ao preço da cota do que à qualidade dos
fundos que compra. Além disso, você, investidor do fundo de fundos,
pagará taxas de administração duas vezes: uma do fundo de fundos e outra,
paga indiretamente, dos fundos em que o FII investe.
Pode-se também classificar os FII quanto à gestão do fundo: ativa ou
passiva:

Fundos de gestão ativa, são aqueles em que o gestor (a pessoa que


toma conta dos imóveis do fundo) é livre para tomar decisões que
envolvam compra e venda de imóveis, reformas etc.
Fundos de gestão passiva não dão muita liberdade de decisão ao
gestor. Para tomar qualquer decisão, desde a execução de reforma
de um prédio até a venda ou compra de um imóvel, é preciso
convocar a assembleia de cotistas e votar o tema em pauta.

Normalmente, FII de gestão ativa fazem giro do patrimônio do fundo,


procurando, além de receber os aluguéis dos imóveis que possui, ganhar
dinheiro na compra e venda de imóveis. Estes fundos costumam ser mais
diversificados, investindo em vários imóveis e alugando para vários
inquilinos.
Já os FII de gestão passiva são mais parados. Compram o imóvel
desejado e preocupam-se apenas com a administração dos contratos de
aluguel e possíveis intervenções para melhoria do imóvel. Para
conseguirem comprar outro imóvel será preciso fazer uma nova emissão
de cotas, que deve ser aprovada pela assembleia, para então conseguir o
dinheiro e efetuar a compra.
Outra forma de classificar os FII é quanto ao prazo de duração:
indeterminado ou determinado.

FIIde prazo indeterminado são aqueles que não têm prazo para
acabar. Enquanto os prédios estiverem lá, ou enquanto houver
novos CRI para se investir, o fundo manterá sua estratégia.
FIIde prazo determinado são FII que já nascem criados com data de
término. Normalmente, são fundos que buscam um objetivo muito
específico, como por exemplo um fundo que busca comprar
diversos imóveis no setor hoteleiro porque espera que haverá
grande valorização no médio prazo e os imóveis serão vendidos
com lucro. O lucro é distribuído aos cotistas em forma de
rendimento, e o valor investido nos imóveis é devolvido em forma
de amortizações. Ao final, o fundo deixa de existir.

Para estudar um FII você deve primeiramente ler o prospecto1 de emissão


que é o documento que detalha os objetivos do fundo quando ele foi
criado. É um documento grande e chato, mas as partes que interessam se
resumem a algumas poucas páginas. É comum os prospectos incluirem
uma análise dos imóveis realizada por empresas especializadas, muito
interessante para se conhecer o que está se comprando.
Para realizar o acompanhamento dos FII é necessário ler os relatórios
emitidos pelos administradores. Os administradores de FII são obrigados
por lei a emitir relatórios semestrais sobre o que aconteceu com seus
fundos e as perspectivas para o futuro. A maioria dos FII, no entanto,
disponibiliza relatórios mensais, onde os administradores resumem a
situação do fundo, comentam sobre os contratos de aluguéis, os ativos
comprados, ganhos e perspectivas futuras. Estes relatórios são
disponibilizados no site da Bolsa.
Os FII também disponibilizam suas demonstrações financeiras no site da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o que permite analisar a saúde
financeira de um FII, da mesma forma que podemos analisar empresas para
a compra de ações.

EVENTOS COM FII


Eventos com FII são muito parecidos com os de ações.
Quando é criado um FII, é feito uma Initial Publical Offering (IPO) com
emissão de um número determinado de cotas.
Se algum FII precisa levantar mais dinheiro para alguma coisa, como,
por exemplo, comprar outro imóvel, é necessário fazer uma nova emissão.
Como FII não podem fazer dívidas (a não ser através de complexas
manobras financeiras), resta emitir mais cotas para levantar mais dinheiro.
Quando algum FII faz uma nova emissão, é comum quem já é cotista ter
direito a subscrever algumas cotas antes dos demais investidores. Depois
que os cotistas exerceram suas subscrições, se sobrar alguma cota, os
cotistas normalmente terão direito às sobras. Se ainda assim sobrar, as
cotas restantes serão oferecidas aos demais investidores. Normalmente, as
cotas são oferecidas para subscrição por um preço menor que o do
mercado secundário.
Para devolver o dinheiro que receberam dos cotistas, os FII utilizam a
amortização.
Por exemplo, se um FII pretendia comprar três imóveis no valor total de
99 milhões, mas consegue comprar só dois, sobrando 33 milhões, o FII
pode optar por comprar outro imóvel ou devolver o dinheiro. Se optar por
devolver ele vai amortizar estes 33 milhões, dividindo o valor pelo
número de cotas e entregando esse dinheiro aos cotistas. O valor da
amortização cairá na sua conta da corretora assim como ocorre com os
rendimentos dos FII ou das ações.
Se um FII pretende construir um prédio antes de alugá-lo, para atrair os
cotistas, costuma guardar uma parte do dinheiro arrecadado no IPO e
distribuí-lo durante o tempo da construção como forma de rendimento, até
que o prédio fique pronto e possa ser alugado. É a chamada Renda Mínima
garantida (RMG).

Enriqueça seu vocabulário

Renda Mínima Garantida (RMG): Rendimento fixo pago por alguns FII
durante prazo determinado em prospecto, com o objetivo de propiciar
rendimento aos cotistas enquanto o fundo não consegue obter seus
próprios rendimentos.
RENDIMENTO

Quando você aluga um imóvel, além de receber a renda do aluguel, ao


longo do tempo seu imóvel pode valorizar-se, gerando um aumento do seu
patrimônio. Com os imóveis dos FII as coisas acontecem da mesma
maneira. Você recebe os rendimentos do fundo relativos aos aluguéis e
ganhos de capital e, no longo prazo, as cotas podem vir a valorizar-se,
acompanhando a variação do valor dos imóveis do fundo.
Já nos FII de papel, os rendimentos são oriundos dos juros pagos pelas
aplicações financeiras em que o fundo investe. Todo o ganho obtido com
estas aplicações é distribuído como rendimento não havendo valorização
do patrimônio no longo prazo.
FII são obrigados a distribuir 95% dos lucros que têm todo semestre.
Alguns FII fazem distribuições mensais, outros semestrais.
Não há mistério. Contabiliza-se os aluguéis recebidos, subtrai-se as
despesas (que incluem IPTU, condomínio, administração do fundo e
impostos) e tem-se o lucro do fundo, que é distribuído aos cotistas.
Os FII não são como as empresas que podem escolher reinvestir os seus
lucros e crescer. Esses fundos são obrigados a distribuir a maior parte do
seu lucro para os cotistas. Isso faz com que, após receber o dinheiro do IPO,
o fundo não tenha como aumentar o seu patrimônio, comprando novos
prédios por exemplo. Para fazer isso será preciso fazer nova subscrição
para levantar o dinheiro do novo imóvel, ou novo CRI no caso dos FII de
papel. Já os fundos de gestão ativa, podem decidir por vender alguns
imóveis, distribuindo os lucros da venda e usando o restante do dinheiro
para comprar outro imóvel.
Fique atento com os FII que pagam Renda Mínima Garantida (RMG). A
RMG nada mais é do que o pagamento parcelado de um dinheiro guardado
quando da criação do fundo. No prospecto do fundo estará especificado
por quanto tempo será paga a RMG. O fim da RMG é um risco a se considerar
como você verá na seção de riscos de FII, visto que se o fundo não
conseguir atingir seus objetivos e o fim da RMG chegar, os rendimentos
podem ir a zero.
Alguns FII têm características diferenciadas, como inquilinos que pagam
o aluguel todo de uma só vez em determinada época do ano, fazendo os
rendimentos variarem expressivamente. Há ainda aqueles FII que
distribuem rendimentos somente uma vez por semestre, ao contrário da
grande maioria, que distribui mensalmente.
Por isso, para analisar o percentual dos rendimentos em relação ao preço
da cota, é preciso considerar os rendimentos pagos no período de um ano,
pois se você utilizar somente o valor de um mês, pode se deparar com uma
das situações citadas, o que tornará o resultado do seu cálculo não
confiável.
Os rendimentos dos FII são pagos em dinheiro na sua conta da corretora
e são isentos de imposto de renda.

TAXAS

FIIcobram taxas de administração em relação ao patrimônio que possuem,


ou em relação ao seu valor de mercado (número de cotas multiplicado pelo
seu preço na Bolsa). Podem cobrar também taxa de gestão e taxas de
performance (quando o FII atinge resultados acima de um parâmetro pré-
determinado). Estas taxas são descontadas direto das receitas dos fundos e,
portanto, influenciam nos rendimentos que serão entregues para os
cotistas.
Taxas de administração maiores que 1% ao ano sobre o Patrimônio
Líquido do fundo já podem ser consideradas altas e exigem uma análise
para avaliar se o administrador vale o dinheiro que recebe. Alguns fundos
contratam gestores especializados para gerir o patrimônio do fundo, isto
gera mais uma taxa, a taxa de gestão.
Em fundos que cobram taxas de performance, analise se quem ganha
com elas não são só os administradores ou se de fato o fundo possui
alguma vantagem em relação aos outros que corroborem a existência desta
taxa.
Normalmente, despesas com assessores e consultoria imobiliária estão
inclusas na taxa paga ao administrador. Despesas com reformas e
melhorias no prédio serão descontadas das receitas do fundo.
Todas estas taxas não serão pagas por você diretamente, mas sim
descontadas das receitas do fundo, o que dá na mesma, já que implica em
menos rendimento recebido ao final.
As taxas que saem direto do seu bolso são a taxa de corretagem cobrada
pela corretora na compra e venda de cotas e a taxa de custódia cobrada
pela Bolsa de Valores.
Os rendimentos pagos pelos FII são isentos de imposto de renda. Já as
operações de compra e venda de cotas de FII que derem lucro devem pagar
20% de imposto de renda sobre o lucro, não há isenção para vendas abaixo
de R$20.000,00 como há nas ações.
Por exemplo, se você comprou 100 cotas a R$100,00 e vendeu por
R$110,00, terá R$1.000,00 de lucro e deverá pagar 20% de imposto sobre
os R$1.000,00.
O pagamento e a compensação de prejuízos ocorrem da mesma forma
que nas ações. Deve-se apurar o resultado de cada mês, calcular o imposto
devido, preencher o Documento de Arrecadação de Receitas Federais
(DARF) e pagar. Se tiver prejuízo, poderá compensar com possíveis
resultados positivos dos meses seguintes.

VALOR INICIAL

O valor inicial para se investir em um FII está relacionado ao valor de sua


cota. Há FII com cotas custando R$1,00 e outros que custam mais de
R$1.000,00. É possível comprar no mínimo uma cota por vez.

LIQUIDEZ

A negociação dos FII é muito semelhante à de ações. A emissão do fundo,


equivalente ao IPO de uma ação, será o mercado primário, com o emissor
vendendo cotas para os investidores interessados. Após a emissão, a
negociação das cotas ocorre entre os investidores em ambiente de Bolsa,
no mercado secundário.
Com exceção dos fundos com prazo determinado, em que o investidor
receberá de volta o dinheiro investido em forma de amortização, nos
outros FII, caso o investidor queira vender suas cotas terá de utilizar o
mercado secundário.
Apesar de haver alguns fundos com muita liquidez no mercado
secundário, de forma geral, a liquidez dos FII é mais baixa do que nas
ações. Isto gera spreads (diferença entre o preço das ofertas de compra e
venda) maiores. Tenha isso em mente quando for investir em FII.
Há muitos fundos cuja cota não é negociada nenhuma vez durante o dia.
Antes de escolher investir em um fundo, avalie se suas cotas possuem
negócios na Bolsa e se a quantidade de negócios lhe agrada. Porém, a
liquidez nos FII também é um fator relativo para cada investidor. Por
exemplo, você pode ter escolhido comprar cotas de um FII de prazo
determinado que tinha um objetivo específico e não pretende abandonar o
fundo antes do término. Nesse caso, ter ou não liquidez no mercado
secundário pode ser irrelevante.

RISCOS

Já foram citados alguns riscos relacionados aos FII de tijolo e papel que são
intimamente ligados ao mercado imobiliário. Estes riscos podem ser
maiores ou menores de acordo com os ativos do fundo.
Prédios podem ficar sem inquilinos, o que aumenta os custos do fundo
que terá de arcar com as taxas de condomínio e manutenção, diminuindo
os rendimentos dos cotistas.
Se você possui um imóvel e não consegue alugá-lo, terá que pagar as
contas, retirando dinheiro do seu bolso. Se um FII tem um imóvel 100%
vago ainda assim ele tem que pagar as despesas. Como FII não mantém
dinheiro em caixa, pode ser que os cotistas sejam chamados a aportar
capital (dar mais dinheiro) para cobrir as despesas do fundo. Este é um
risco para FII com grande vacância ou que têm despesas que superam as
receitas.
Inquilinos problemáticos podem gerar muito transtorno para o fundo,
dando calote, entrando na justiça para revisão do aluguel e outras coisas
que acabam sempre prejudicando o rendimento dos cotistas.
Em fundos que estão construindo imóveis e utilizam o recurso da Renda
Mínima Garantida (RMG) é possível que o prédio demore mais tempo para
ficar pronto do que o previsto. Isto fará o prazo da RMG acabar e o fundo
ficar sem pagar rendimentos.
É possível também que o prédio fique pronto no prazo, mas o fundo não
consiga inquilinos suficientes para ter uma receita que possa igualar ou
superar os pagamentos da RMG, o resultado é que quando a RMG acaba, o
rendimento do fundo cai drasticamente e o preço da cota acompanha. A
receita que um fundo recebe dos aluguéis de seus imóveis ou de suas
aplicações financeiras é chamada de Renda Real. Em FII que paga RMG é
preciso avaliar se a renda real está se equiparando a RMG ou se o fundo terá
condições de igualar as duas antes do fim da RMG; caso contrário, o
resultado não será bom para o cotista.

Figura 28-1: Preocupe-se com a renda real, pois a RMG um dia acaba.
FII que possui somente um imóvel e um inquilino tem mais chances de
ficar numa situação ruim caso não consiga renovar o aluguel do que um FII
que possua diversos prédios alugados para diversas empresas diferentes.
Por outro lado, há FII que possuem apenas um prédio alugado para somente
um inquilino, no entanto este inquilino é algum órgão do governo ou
grande corporação que opta por fazer um contrato longo (duração de cinco
ou dez anos), o que dá grande segurança ao fundo.
FII de papel que investe somente em um CRI, terá seu risco concentrado
naquele CRI, enquanto FII que investem em diversos CRI farão uma
dispersão do risco.
Há o risco de queda no preço da cota, que varia de acordo com o humor
dos investidores. As cotas de FII em especial têm-se mostrado intimamente
ligadas à taxa de juros da economia, a nossa já conhecida taxa SELIC, de
forma que o preço das cotas tende a se ajustar de acordo com os
rendimentos distribuídos pelo fundo para que estes equivalham à taxa de
juros oferecida pelo governo nos seus títulos.
Por exemplo: Se a SELIC está em 10% a.a., um FII que distribua R$10,00
em rendimentos durante um ano, terá sua cota com o preço próximo a
R$100,00, de forma que os rendimentos (R$10,00) equivalham a cerca de
10% a.a. em relação ao valor da cota. Caso a SELIC suba para 20% a.a., o
que se tem observado é que os investidores irão derrubar o preço da cota
para R$50,00 para fazer o rendimento de R$10,00 ser equivalente a 20%
a.a.
FII que investem nas cotas de outros FII costumam acumular os riscos
que você viu até aqui. Assim, além de redução nos rendimentos se houver
algum problema nos FII em que investem, quedas nos preços das cotas
também os afetam. Se isso ocorre, o fundo não consegue vendê-las com
lucro, diminuindo seu rendimento. Isso derruba o preço da sua cota acima
do ajuste de preços realizado pelos investidores nos outros fundos.
Sempre pense duas vezes antes de comprar cotas na emissão ou IPO de
um FII. O custo pago pelas cotas no IPO inclui o valor da execução do IPO,
material publicitário, intermediários e outros gastos não relacionados à
compra do ativo do FII. No final, você paga mais do que o patrimônio do
fundo realmente vale, isto pode fazer com que você pague R$100,00 em
uma cota no IPO e no primeiro dia de negociação o mercado ajuste o preço
para R$96,00.
Preste atenção com fundos de prazo determinado. Se um fundo possui
um patrimônio de R$100 milhões e 100.000 cotas e pretende encerrar em
10 anos, sua cota deveria valer R$1.000,00 que é o valor total do
patrimônio dividido pelo número de cotas. Este valor é o chamado Valor
Patrimonial da cota (VP). No entanto, é impossível saber com precisão qual
o verdadeiro Valor Patrimonial de um FII, visto que o preço teórico de seus
ativos pode não ser o preço pelo qual eles serão vendidos. Isto faz com que
o preço das cotas no mercado possa ficar distorcido. Por exemplo, o FII
pode possuir um prédio que está avaliado em 100 milhões mas somente
consegue vender por 90 milhões. Se o mercado estava precificando a cota
deste fundo baseado no preço de 100 milhões do prédio, ela provavelmente
estaria mais cara do que o ideal e o investidor que tinha comprado uma
cota esperando receber sua parte dos 100, receberá sua parte somente de
90.
Se você comprar as cotas de um FII de prazo determinado, num momento
em que as cotas estão distorcidas para cima, você irá perder dinheiro,
porque está pagando mais caro do que o valor que será amortizado até o
fim do fundo. Por outro lado, se comprar num momento em que elas estão
distorcidas para baixo, poderá ganhar mais.
Por exemplo:
Patrimônio do Fundo: R$100.000.000,00
Número de cotas: 100.000
VP cota: R$1.000,00
Prazo: 10 anos
Suponha que esse fundo fará amortizações iguais até o término. Isso
equivale a amortizações de dez milhões de reais por mês, ou R$100,00 por
cota. Se você por acaso comprar a cota por R$1.200,00, no término de 10
anos você terá recebido R$1.000,00 de amortização, o fundo deixará de
existir e você terá o prejuízo dos R$200,00 que pagou a mais. Se por
algum motivo você conseguir comprar a cota por R$900,00, ao final de 10
anos receberá R$1.000,00 em amortizações e ainda receberá os
rendimentos do fundo, tendo um bom lucro.
Apesar disso, é difícil saber com precisão o VP de um fundo e a não ser
que o administrador seja específico no valor que irá amortizar no total,
não é possível afirmar com segurança qual o VP da cota, que seria o valor
justo a se pagar por ela.
O mais importante a se aprender aqui é: ao analisar um fundo de prazo
determinado, procure se informar sobre qual valor será amortizado até o
fim do fundo. Com essa informação será possível estimar um preço justo a
se pagar pela cota.
FII é investimento de Renda Variável. Todas as regras vistas sobre a
renda variável valem para os FII. Para investir em FII você deve utilizar
dinheiro que não pretende gastar e pensar sempre no longo prazo. Não se
deve escolher um FII pelo rendimento, mas sim pelos ativos que ele possui,
pela qualidade de seus inquilinos e pela sua capacidade de manter uma
baixa vacância.
Por último, se o governo alterar a legislação e iniciar a cobrança de
imposto de renda sobre os rendimentos pagos pelos FII, o preço das cotas
certamente será afetado negativamente, portanto, alterações na legislação
do imposto de renda também representam um risco para o investidor dos
fundos de investimento imobiliário.

ANALISANDO FII

Os FII popularizaram-se recentemente, a partir do ano de 2011, com novas


emissões massivas depois de 2012, época em que a taxa SELIC estava em
queda e a o preço das cotas subiam. Isto faz com que haja poucos FII com
vários anos de existência e grande histórico de dados para se analisar.
Analisar FII basicamente consiste em analisar os ativos em que ele
investe. Para os de tijolo, analise os imóveis. Para os de papel, analise os
instrumentos de crédito que ele possui. Para os fundos de fundos, faça uma
análise individual de cada fundo em que o fundo investe.
Será preciso avaliar a qualidade dos imóveis do fundo, se o valor do
aluguel cobrado é competitivo, se a vacância (falta de inquilinos) na
região do prédio é grande ou pequena e se ele oferece uma vantagem
competitiva em relação aos outros prédios. Verifique ainda se ele não
possui nenhum processo na justiça.

Enriqueça seu vocabulário

ABL: Área bruta locável. Espaços de um imóvel que realmente podem ser
locados.
Vacância: Percentual de um imóvel ainda não locado.
Vacância contratada: Inquilinos ainda no imóvel mas que anunciaram
intenção de sair.
Vacância financeira: Valor de aluguel que não está sendo recebido em
relação ao total possível de se receber.

A área do imóvel que um fundo pode locar é a chamada de Área Bruta


Locável (ABL) e inclui somente os espaços que realmente podem ser
locados. Num prédio de escritórios isto excluiria o hall de entrada e as
áreas comuns, por exemplo. A vacância representa o percentual da área
locável do fundo que não está alugada. Você verá também termos como
vacância contratada, que indica os inquilinos que estão no prédio, mas já
indicaram que irão sair e vacância financeira, que indica o percentual do
valor dos aluguéis que não estão sendo recebidos em relação ao valor total
de aluguel que o fundo poderia receber.
Inicie com uma boa leitura do prospecto, para analisar os ativos e
objetivos do fundo. Em seguida analise o histórico do fundo por meio de
seus relatórios mensais. Procure por informações a respeito dos inquilinos,
tipo de contrato, validade e histórico de vacância.
Analise a validade dos contratos atuais que o fundo tem com seus
inquilinos e observe se os vencimentos estão concentrados em um mesmo
ano. Isto poderá gerar dificuldades para o fundo manter a ocupação dos
prédios quando aquele ano chegar.
Existem dois tipos de contrato de aluguel nos FII. Os típicos e os
atípicos. Nos contratos típicos o valor do aluguel pode ser revisto a cada
três anos para se adequar ao valor de mercado (é diferente do ajuste devido
à inflação). Neste contrato o inquilino pode solicitar uma revisão para
baixo, porque o valor do aluguel cobrado em imóveis semelhantes está
abaixo do que ele paga ou o dono do imóvel pode solicitar a majoração
(aumento do aluguel) caso o preço de mercado esteja acima. Se não houver
acordo, quem tiver interesse deverá fazer uma ação revisional e o assunto
será decidido pela justiça ou os envolvidos podem optar por desistir de
renovar o contrato. Nos contratos atípicos o prazo de duração pode ser
muito mais longo e podem ser definidas multas e indenizações em caso de
rescisão pelas partes antes do prazo. Nestes contratos, a revisão do preço
será realizada em períodos mais longos do que três anos.
Uma análise das demonstrações financeiras indicará se o fundo
apresenta receitas e despesas estáveis ao longo do tempo ou se em
determinados meses há alguma coisa diferente, como um inquilino que
paga todo o aluguel de uma só vez, ou despesas desproporcionais e sem
motivo.
Verifique se as despesas do fundo não podem influenciar demais os
resultados. Despesas como encargos pagos ao administrador do fundo,
impostos, condomínio e reformas devem ser avaliadas. Além disso, podem
existir despesas que só ocorrem em determinados casos, como taxas de
performance devidas ao gestor caso o fundo supere certo patamar de
rendimentos.
Observe o histórico de pagamentos do fundo e veja se eles são
constantes e crescentes, indicando que o fundo mantém uma boa ocupação
e reajusta os aluguéis periodicamente. Fique atento com fundos que pagam
Renda Mínima Garantida e procure conhecer qual é a Renda Real do fundo
até o momento.
Lembre-se que fundos de papel não costumam ter rendimentos estáveis,
principalmente devido à variação das taxas às quais o rendimento está
atrelado como o IPCA e o IGP-M. Em um mês com IGP-M alto o fundo pagará
um valor alto de rendimentos em comparação a um mês de IGP-M baixo.
Para fundos com poucos inquilinos ou inquilino único, analise se os
mesmos serão capazes de pagar o aluguel que devem e se já tiveram
problemas de não pagamento ou atraso no pagamento com outros fundos.
Alguns inquilinos exigem modificações especiais no prédio. Nesse caso,
se o inquilino deixar o prédio será preciso uma ampla reforma para
adequar o espaço a receber outro tipo de inquilino. Prédios construídos
para atender necessidades específicas de seus inquilinos são chamados
“Built-to-Suit”.
Quando for analisar as receitas, fique atento com a possibilidade de
haver aluguéis majorados ou em carência. A majoração ocorre quando o
inquilino paga um valor a mais durante um tempo em troca de alguma
melhoria no imóvel a ser realizada pelo locatário. A carência ocorre
quando em troca de realizar reforma no imóvel, o inquilino deixa de pagar
aluguéis durante um tempo.
Para fundos que pretendem construir um imóvel, procure manter-se
informado sobre o andamento da obra.
Para fundos que têm objetivos de ganho com estratégias específicas, é
preciso analisar se a estratégia faz sentido para você e se você aceita o
risco de ela dar errado.
Para fundos de papel é preciso analisar com critério os ativos e
principalmente se os devedores serão capazes de pagar a dívida. Avalie
também se existe dispersão de risco, com aplicações em diversos ativos
diferentes.
A forma mais segura de se escolher seus Fundos de Investimento
Imobiliário é raciocinar com a diversificação. A não ser que você entenda
muito sobre imóveis e seja capaz de analisar os prédios do FII ou conheça
de perto o shopping onde o FII investe, opte primeiro por FII que possuem
vários imóveis, cada um alugado para vários inquilinos.
Caso você não tenha nada contra os objetivos do gestor, prefira os
fundos de gestão ativa com vários imóveis alugados para diversos
inquilinos. Eles costumam ter mais liberdade para agir e às vezes
conseguem boas oportunidades que os fundos de gestão passiva não
conseguem aproveitar por precisarem convocar assembleias de cotistas
para tomar decisões. Além disso, os fundos de gestão ativa costumam ser
mais diversificados.
Na sequência, prefira os fundos de gestão passiva, porém com vários
imóveis, cada um deles alugados para vários inquilinos diferentes. A
diversificação de inquilinos impede que a saída de um inquilino tenha
grande impacto nas receitas do fundo. Vários imóveis garantem que
problemas em um deles não irá afetar totalmente seus rendimentos.
A próxima opção pode ser fundos que possuem poucos imóveis, mas
com qualidade e alugados para vários inquilinos ou fundos que possuem
poucos imóveis e poucos inquilinos, porém com contratos atípicos de
longa duração e inquilinos de qualidade. Outra opção ainda são os fundos
que investem em empreendimentos de seu interesse, como shoppings e
universidades.
Utilize os fundos de papel como forma de diversificação, evitando
investir dinheiro demais neste tipo de ativo, a não ser que esta seja sua
estratégia.
Evite os fundos de fundos, eles fazem o que você mesmo pode fazer
sozinho e muitas vezes podem acabar investindo em FII que você não
considera bons. No entanto, para pessoas que preferem a facilidade de ter
outros fazendo as coisas por elas, os fundos de fundos oferecem uma
diversificação simples e rápida.

Enriqueça seu vocabulário

Contrato Típico: Contrato onde o valor do aluguel é revisto a cada 3 anos


sem implicações em caso de desistência da renovação.
Contrato Atípico: Contrato de longa duração com revisões mais
demoradas e multas em caso de rescisão contratual.
Built-to-Suit: Imóveis construídos de forma a atender necessidades
específicas de um inquilino
Aluguel majorado: Valor de aluguel pago acima do normal por algum
motivo.
Carência: Período em que o inquilino não pagará aluguel mesmo
utilizando o imóvel, devido a um acordo com o locador.

1 Acesse www.bmfbovespa.com.br/Fundos-Listados/FundosListados.aspx?
tipoFundo=imobiliario&Idioma=pt-br
CAPÍTULO 29

FUNDOS DE INVESTIMENTO

Fundos de investimento nada mais são do que intermediadores entre você


e os investimentos que existem por aí. Dependendo do ativo em que
aplicam podem ser considerados tanto como renda fixa quanto renda
variável.
Imagine que você e um grupo de amigos desejam investir em
instrumentos de renda fixa, mas não sabem como. Vocês juntam o dinheiro
e contratam uma outra pessoa para fazer esse investimento para vocês.
Vocês estão constituindo um fundo e a pessoa contratada para cuidar do
dinheiro será o administrador do fundo.
Para saber o quanto cada um possuirá do fundo, soma-se todo o dinheiro
que vocês investiram e divide-se por um número de partes iguais
chamadas cotas. Cada um terá direito a um número de cotas proporcional
ao valor investido.
O administrador do seu fundo investe o dinheiro em troca de uma taxa
equivalente a, por exemplo, 0,25% ao ano de todo o valor que o fundo
possui, também chamado de patrimônio líquido (PL). Quando os
investimentos do fundo geram rendimentos, eles são somados aos valores
investidos inicialmente, o que faz as cotas valorizarem. O raciocínio
inverso é válido para o caso de prejuízo.
Quando você decide retirar o seu dinheiro, o fundo pega o número de
cotas que você possuiu, multiplica por quanto as cotas estão valendo e lhe
paga em dinheiro.
Na Tabela 29-1 está um exemplo prático.
Digamos que o patrimônio líquido do seu fundo de investimento é de
R$100.000,00, valor que representa o total investido por você e pelos
demais investidores.
Investidores Valor investido
Você R$10.000,00
Fulano R$50.000,00
Ciclano R$40.000,00
Total R$100.000,00

Tabela 29-1: Aplicação em fundos de investimento.


Vocês decidem que o fundo terá cem cotas. Portanto, cada cota valerá
R$1.000,00 (R$100.000,00 dividido pelo número de cotas) e cada
investidor terá o número de cotas proporcional ao seu investimento,
ficando como na tabela 29-2.
Investidores Valor investido Cotas
Você R$10.000,00 10
Fulano R$50.000,00 50
Ciclano R$40.000,00 40
Total R$100.000,00 100
Valor da cota: R$1.000,00

Tabela 29-2: Divisão das cotas.


O administrador do fundo fará o trabalho dele e aplicará os
R$100.000,00 em algum tipo de investimento que foi determinado quando
da criação do fundo, por exemplo, títulos do governo.
Suponha que, após um ano, os R$100.000,00 investidos renderam
R$10.000,00 de juros.
Nesse mesmo período, o administrador do fundo recebe 0,25% do PL do
fundo. Para simplificar, imagine que ele recebeu esse valor relativo ao PL
do fundo no final do período, ou seja, 0,25% de R$110.000,00. Portanto
ele receberá R$275,00 pelo trabalho de cuidar do dinheiro de vocês. Este
valor é subtraído dos R$10.000,00 ganhos.
Agora, o patrimônio líquido do fundo é de R$109.725,00 e para saber o
novo valor das cotas deve-se dividir o novo PL pelo número de cotas, o que
resultará no valor de R$1.097,25 por cota.
O valor dos investimentos de cada um ficará como na tabela 29-3.
Se nesse momento você resolver sair do fundo, o fundo lhe pagará
R$1.097,25 por cada cota que você possui e você receberá R$10.972,50.
Investidores Valor investido Cotas
Você R$10.972,50 10
Fulano R$54.862,50 50
Ciclano R$43.890,00 40
Total R$109.725,00 100
Valor da cota: R$1.097,25

Tabela 29-3: Valorização das cotas.


O fundo de investimento que você encontra por aí é muito semelhante
ao exemplificado, com a diferença de que pode haver milhares de
investidores envolvidos.
A estória do fundo criado por você e seus amigos ajuda a compreender
algumas coisas:

Ao aplicar em um fundo, você estará pagando para alguém fazer


algum tipo de investimento para você.
As pessoas acham que, por lidarem com muito dinheiro e
trabalharem na área, os administradores de fundos sabem de
coisas que elas não sabem. Isso nem sempre é verdade, a grande
maioria dos fundos tem estratégias bem simples de investimento e
eliminando o intermediário e suas taxas, você poderá obter
resultados melhores que muitos deles.
Lidando com quantias grandes de dinheiro, os fundos têm acesso a
instrumentos com rendimentos melhores e mais facilidade para
investir. De fato, por terem grande capacidade de capital, os
fundos de investimento podem ter acesso a instrumentos
disponíveis somente para investidores qualificados e que às vezes
podem ter rendimentos melhores do que os disponíveis ao
pequeno investidor. No entanto, possuir grandes quantias de
capital nem sempre é uma vantagem. Em situações em que é
necessário movimentar o dinheiro ou encerrar uma aplicação, por
ser uma grande quantia envolvida, os fundos podem demorar a
conseguir realizar essas transações, as vezes perdendo o melhor
momento ou até mesmo ficando “presos” pela falta de liquidez.

Os fundos, portanto, oferecem-lhe a vantagem de não ter que


administrar seus próprios investimentos e a possibilidade de acesso a
instrumentos aos quais você pode estar restrito devido ao pequeno capital
ou falta de conhecimento para lidar diretamente. Em troca, você pagará
uma taxa.
Existem vários tipos de fundos de investimento, suas características
determinam em que tipo de investimento eles podem operar. Fundos de
renda fixa estarão restritos a instrumentos de renda fixa. Fundos
multimercado podem operar em diversos instrumentos de renda fixa e
renda variável. Os investimentos específicos em que um fundo irá investir
são detalhados no prospecto do fundo.
Para investir em um fundo você deve comprar suas cotas. Isso pode ser
feito através de um banco, para fundos daquele banco, ou de corretoras de
valores que disponibilizam acesso a diversos fundos de diversas
instituições financeiras.

TIPOS DE FUNDOS

FUNDOS DI
Fundos que buscam igualar o rendimento da taxa DI (Depósito
Interbancário). Normalmente, aplicam em títulos pós-fixados de renda
fixa e baixo risco, executando também operações de proteção contra a
variação da taxa SELIC. São fundos estáveis, que apresentam rendimento
positivo constante, porém pequeno.
FUNDOS MULTIMERCADO
Fundos mais arriscados, que buscam rentabilidade acima da taxa DI,
investindo em diversos tipos de mercados como renda variável,
derivativos e câmbio. Normalmente, têm taxas de administração mais
elevadas e são mais voláteis (têm grande variação nos rendimentos),
podendo inclusive render negativamente, resultando em cotas
desvalorizadas).
FUNDOS DE RENDA FIXA
Buscam rendimento próximo da taxa DI aplicando em títulos públicos.
Oferecem maior risco que os fundos DI por estarem expostos ao efeito da
variação da taxa SELIC nos valores dos títulos.
FUNDOS DE CURTO PRAZO
Semelhante aos fundos de Renda Fixa e DI, porém as operações desses
fundos são limitadas a um número específico de dias.
FUNDOS DE AÇÕES
São fundos que investem em ações. Podem ter como critério: investir em
ações de um determinado setor, investir em ações de uma empresa
específica, investir nas mesmas ações que compõem algum índice – como
o IBOVESPA, investir com estratégias de compra e venda específica, entre
outras.
FUNDOS CAMBIAIS
Acompanham a variação do câmbio (valor de uma moeda em relação a
outra). Por exemplo: fundos de câmbio que investem em dólar tendem a
ter rendimentos positivos em caso de valorização do dólar frente ao real e
rendimentos negativos em caso de desvalorização.
Os fundos de investimento também podem aplicar em outros fundos que
possuem o mesmo objetivo e características descritos em seus
regulamentos.
Mais uma vez, perceba que investir em fundos de investimento é colocar
um intermediário entre você e os ativos de investimento. Há fundos de
investimento em ação por exemplo que nada mais fazem do que comprar
as ações de uma só empresa, coisa que você pode muito bem fazer por
conta própria. Outros, como os cambiais, lidam com ativos e operações
aos quais o pequeno investidor não tem muito acesso no Brasil, o que pode
ser uma vantagem caso você esteja interessado neste tipo de investimento.
Os fundos costumam ser classificados pelo risco: baixo, médio e alto.
Normalmente esta classificação está mais relacionada à volatilidade dos
rendimentos do fundo do que ao risco das aplicações em que eles
investem. Por isso, para compreender com clareza quais são os riscos de
um fundo, você deve ler o prospecto, identificar em que tipos de ativo o
fundo investe e analisar o risco desses ativos.

RENDIMENTOS DOS FUNDOS

Os rendimentos dos fundos ocorrem pela valorização ou desvalorização


das cotas e dependem de cada fundo. Os fundos de renda fixa e DI
normalmente procuram balizar seus rendimentos por uma percentagem da
taxa DI. Outros como os de ações, câmbio e multimercado, seguem as
variações dos ativos em que investem, podendo ser mais voláteis.

TAXAS

Investimento em Fundos de Investimento estão sujeito à tabela de alíquota


regressiva do Imposto de Renda (IR):

Até 180 dias, alíquota de 22,5%


De 181 a 360 dias, alíquota de 20%
De 361 a 720 dias, alíquota de 17,5%
Mais de 720 dias, alíquota de 15%

Os Fundos de Investimento de Curto Prazo estão sujeitos a tarifas


diferentes:

Até 180 dias, alíquota de 22,5%


Acima de 180 dias, alíquota de 20%

Semestralmente, nos meses de maio e novembro, é descontado das suas


cotas o valor de 15% para os fundos de investimento e de 20% para os
fundos de investimento de curto prazo. Este desconto é chamado de
“come-cotas”, porque é isso que ele faz, diminui o valor de cotas que você
possui, pegando algumas para pagar o imposto adiantado. No longo prazo
isto afetará muito seu rendimento.
Para períodos de investimento menores que 30 dias, caso você venda
suas cotas, também terá de pagar o IOF.
Em fundos de investimento podem haver diversas taxas: taxas de
administração, pagas ao administrador do fundo, taxas de gestão, para
fundos que possuem gestores, taxas de performance, quando o
administrador do fundo ganha uma parte do rendimento se o fundo render
acima de determinado valor, honorários a consultores, etc. Para conhecer
todas com exatidão leia o prospecto e o regulamento do fundo.

PAGAMENTO DE JUROS

Não há pagamentos de juros em fundos de investimento, o que ocorre é a


valorização da cota.

VALOR INICIAL

Depende do fundo e varia bastante. Normalmente, os fundos também


exigem um valor mínimo para aplicações adicionais e valores residuais e
podem também exigir valor mínimo de resgate.

LIQUIDEZ

Pode ou não ser imediata. Em alguns fundos, ao resgatar o seu dinheiro, o


depósito na sua conta é feito no mesmo dia. Em outros, pode levar até três
dias úteis. Há fundos que estabelecem períodos mínimos de aplicação
antes que você possa fazer o primeiro resgate.

RISCOS

Os riscos de um fundo são inerentes ao tipo de investimento em que ele


aplica e também são detalhados nos prospectos. De forma geral, fundos de
renda fixa estão expostos ao risco de aumento da inflação e da variação da
taxa de juros do país. Fundos cambiais estão expostos a variação do
câmbio. Fundos de ações que seguem índices ou aplicam somente em
determinado setor ou empresa estão expostos aos mesmos riscos que quem
possui estas ações com a desvantagem de possuírem um patrimônio muito
grande, o que pode impedir saídas rápidas e indolores do mercado a que
está exposto.
Enriqueça seu vocabulário

Fundos de Investimento: Instituições financeiras que funcionam como


intermediadores entre você e o investimento em diversos tipos de ativos.
Volatilidade: Nos fundos de investimento está relacionada à variação do
preço das cotas. Alta volatilidade significa muita variação. Pouca
volatilidade significa estabilidade.
Come-cotas: imposto de renda cobrado semestralmente dos investimentos
em fundos de investimento e que é descontado reduzindo o número de
cotas que o investidor possui.
Derivativos: instrumentos financeiros que envolvem contratos de
pagamentos futuros e onde o valor acordado depende do comportamento
do preço de outro ativo (ação, cotação do dólar, valor da inflação, etc.).
Exemplos de derivativos são as Opções, os Contratos a Termo e os
Contratos Futuros.
PARTE QUATRO
CAPÍTULO 30

ESCOLHENDO UM BANCO

Para escolher um banco é bom ter em mente o fato de que, se o banco falir,
você pode perder todo o dinheiro que estava lá depositado. Por isso, a não
ser que você tenha um motivo especial, é melhor optar por um dos grandes
bancos de varejo nacionais.
Você deve levar em conta os serviços que pretende usar e quais os
serviços que os bancos disponibilizam. Os pacotes de serviço dos bancos
de varejos são em grande parte padronizados, no final das contas a escolha
passa a ser mesmo sua própria preferência. Você também pode levar em
consideração a disponibilidade de agências e caixas eletrônicos na sua
cidade ou algum outro critério do seu interesse.
Para fins de investimento na Bolsa, ao analisar os pacotes de serviço dos
bancos procure por disponibilidade de Internet Banking e transações (TED e
DOC) grátis. Para o dia a dia, busque por taxas pequenas e disponibilidade
de cartões de crédito que lhe agradem.
Está previsto em lei que todo banco deve oferecer como opção a
abertura de uma conta corrente onde todas as transações devem ser
realizadas de forma digital, sem a cobrança de taxas e sem a mensalidade
de pacote de serviços. Esta opção é comumente chamada de ”conta
digital” e pode ser uma boa opção caso você necessite apenas dos serviços
básicos de um banco e faça todas as operações pela internet.
A maioria dos bancos passam a dar descontos e vantagens à medida que
você investe em fundos e aplicações do banco, tem renda estável e se torna
um cliente antigo.
Bancos ganham dinheiro emprestando dinheiro. Eles gostam de pessoas
que pegam dinheiro emprestado e que possam pagar, ou de pessoas que
deixam seu dinheiro no banco de forma que ele possa utilizar o seu
depósito para financiar suas atividades.
Se você tiver uma renda mensal estável e crescente, como funcionários
públicos por exemplo, você verá, aos poucos, sua disponibilidade de
crédito ir aumentando e o seu gerente ligando para oferecer alguma
“vantagem”.
Tempo de existência da conta e quantidade de investimento em ativos do
Banco podem lhe dar um argumento para “chorar” com o seu gerente
descontos nas taxas dos serviços e acessos aos cartões de crédito com mais
vantagens sem pagar as anuidades.
Para quem deseja investir, o ideal é buscar por pacotes de serviços que
disponibilize transações financeiras (Doc e TED) sem taxa, no mínimos uma
por mês, pois você utilizará estes serviços quando for transferir seu
dinheiro para a corretora de valores. Quanto menos taxas, melhor.
Acesso ao Internet Banking também é um ponto importante e facilitará
sua vida. No Brasil, ir ao banco pessoalmente não só é perigoso como
exige tempo e filas desnecessárias. Gerencie sua conta pela internet e tudo
será mais fácil.
CAPÍTULO 31

ESCOLHENDO UMA CORRETORA DE


VALORES

Corretoras de valores são empresas que fazem a intermediação entre o


usuário e o sistema da Bolsa de Valores. Para ter acesso ao ambiente de
bolsa de valores, em qualquer lugar do mundo, você precisa ter conta em
uma corretora de valores. Como em qualquer outro negócio, há diferenças
nos serviços e taxas oferecidos. Gaste um tempo escolhendo uma boa
corretora e você não se arrependerá.
A maioria das pessoas tem um certo receio com corretoras de valores.
Normalmente, quando resolvem iniciar, começam pela corretora do
próprio banco em que possuem conta.
Geralmente, as corretoras dos bancos não são as melhores opções, pois
cobram taxas altas e oferecem poucos serviços.

Corretoras de valores fazem a intermediação entre o investidor e a Bolsa.


A existência e funcionamento das corretoras de valores é regida por lei
de forma semelhante ao que ocorre com bancos, financeiras e qualquer
outro órgão do sistema financeiro nacional. O órgão governamental
responsável por regulamentar e fiscalizar o mercado de bolsa de valores e
as instituições envolvidas é a Comissão de Valores Mobiliários1 (CVM).
Para escolher uma corretora, como de praxe, comece pela análise dos
riscos envolvidos:

A corretora pode quebrar e você perder seu dinheiro que


encontrava-se na conta da corretora;
A corretora pode executar operações não autorizadas com os seus
ativos;

No primeiro caso considere o seguinte: ao criar sua conta em uma


corretora de valores, eles criam uma espécie de conta corrente, semelhante
à do seu banco, que é para onde vai o dinheiro que você transfere do seu
banco para a corretora. Neste momento, seu dinheiro está na mão da
corretora. Quando você compra uma ação, seu dinheiro sai da conta da
corretora e vai para a conta de quem lhe vendeu a ação. O negócio é
escriturado pela Bolsa e suas ações são custodiadas pela BM&FBOVESPA.
Não é a corretora que guarda suas ações, é a bolsa de valores. A
corretora é o agente, autorizado por você, a efetuar modificações na sua
custódia (suas ações guardadas lá na Bolsa) quando você mandar.
Portanto, se a corretora quebrar e você tiver dinheiro em sua conta da
corretora, você o perderá. Por outro lado, se a corretora quebrar e você
tiver comprado ações, você não as perderá, elas continuam sendo suas.
Você vai até outra corretora e solicita à eles pegarem suas ações e
transferirem para esta nova corretora.
No segundo risco, em que a corretora executa operações não
autorizadas, ela está cometendo um crime. A corretora tem o poder de
operar nas suas coisas quando você manda, se ela estiver com más
intenções, poderá fazer operações sem você mandar e sem lhe comunicar.
Já aconteceu, e certamente acontecerá de novo. Para evitar este tipo de
coisa, ao escolher sua corretora não foque somente nos preços, analise-a
como um todo.
Inicialmente é preciso definir o que você quer fazer na Bolsa.
Investidores iniciantes provavelmente buscam a oportunidade de investir
no Tesouro Direto pela internet e comprar e vender ações pela internet.
Com isso em mente, analise as taxas e os serviços disponíveis nas
corretoras.
Para investimentos no Tesouro Direto, a taxa mais importante é a taxa
de administração, sendo facultativo a corretora cobrá-la ou não. Acesse o
site2 do Tesouro Direto e veja os valores cobrados por todas as corretoras
que têm acesso ao sistema.
Algumas corretoras têm integrado em seus próprios sites o acesso ao
sistema do Tesouro Direto, facilitando na hora de comprar pois é menos
uma senha para decorar.
Para operar ações pela internet, é preciso ter acesso ao homebroker, um
programa que lhe permite negociar suas ações pelo computador.
Antigamente, antes do homebroker, você teria que ligar para a corretora e
falar para eles o que você gostaria de fazer.

“Bom dia, compra 300 INVD3 a 10,15 por favor.”


Depois teria que ligar novamente para ver se a ordem foi executada.
Com o homebroker as coisas ficaram mais simples. É tudo eletrônico e
veloz. Você digita o que quer fazer, seleciona enviar, as coisas acontecem
e você fica sabendo na hora.
Algumas pessoas preferem o bom e velho contato pessoal e gostam de
bater papo com seus corretores e pagar para que eles digitem no
computador no seu lugar. Quando você faz isso, você está operando pela
“mesa”. Normalmente, as taxas cobradas são diferentes para operações via
homebroker e via mesa.
No futuro, talvez você queira fazer algumas operações mais avançadas,
como aluguel de ações e operações com opções. Algumas corretoras não
permitem fazer operações mais arriscadas ou complexas pelo homebroker,
obrigando-o a ligar ou a entrar no chat de atendimento para mandar a
ordem.
Se você considera que, no futuro, pretende evoluir em suas operações e
não gostaria de ter de lidar com um intermediário, é interessante observar
quais os serviços que a corretora disponibiliza em seu homebroker.
No geral todas as corretoras disponibilizam o homebroker com as
funcionalidades adequadas ao iniciante.
Procure no site das corretoras pelos preços da corretagem cobrada para
operação no mercado à vista com homebroker (mercado à vista é o
mercado em que o investidor normalmente opera) e via mesa. Veja se a
corretora cobra taxa de custódia e outras taxas que porventura possam
existir (taxa para utilizar o homebroker, descontos na taxa de custódia,
taxa para contas sem movimentação).
Observadas as taxas e os serviços básicos disponíveis, faça uma busca
por outros serviços e características que possam lhe interessar. Há pessoas
que preferem corretoras que tenham uma filial física em sua cidade, para
poder ir lá conversar frente á frente com o profissional que recomenda
suas operações. Há corretoras que oferecem aplicativos para celular.
Outras oferecem análises do mercado e acesso a sites de investimento que
são pagos, mas fazem parceria com a corretora para dar livre acesso aos
seus clientes.
Lembre-se também que as corretoras de valores oferecem vários outros
tipos de investimento, como fundos e instrumentos de renda fixa, abrindo
um leque maior de opções do que o seu banco pode dar. Verifique quais
outras opções de investimento uma corretora oferece, pois este pode ser
um fator determinante na sua escolha.
É possível abrir contas em várias corretoras. Caso você abra conta em
uma e não goste do que viu, retire seu dinheiro e vá para outra corretora.
As corretoras mudam seus preços e serviços com o tempo e às vezes a sua
corretora pode desagradar-lhe ou alguma que não lhe agradava pode vir a
ser vantajosa.
Você pode abrir conta em uma corretora para utilizar os serviços e
opções de investimento como fundos, LCI de pequenos bancos, análises,
relatórios de investimento ou cursos e optar por fazer suas operações com
ações em outra corretora com uma corretagem menor. Atente apenas para
as taxas que podem ser cobradas em caso de inatividade da conta.
Se você já estiver há algum tempo em uma corretora, tendo comprado
ações e FII, e por acaso decidir trocar, solicite à sua nova corretora fazer a
transferência de custódia (basta preencher um formulário e dali a alguns
dias você terá acesso aos seus ativos pela nova corretora).
Depois de dois anos sem fazer movimentações em sua conta em uma
determinada corretora, você não poderá fazer negócios até efetuar uma
atualização cadastral exigida por lei. A partir de dois anos sem
movimentação, a Bolsa começará a cobrar uma taxa de inatividade de sua
conta. Fique atento. Se for o caso, mande sua antiga corretora cancelar a
sua conta.
Por fim, separado o joio do trigo, procure o histórico da corretora e veja
se ela já está há bastante tempo no mercado, se seu site é bom e funcional
e veja se encontra reclamações dela pela internet. Outro ponto a ser
analisado é a qualidade do atendimento em caso de dificuldades técnicas.
Acesse o chat, mande e-mails e faça ligações para ver como você será
tratado e se as respostas são rápidas e claras. Fique atento com corretoras
que cobram taxas de corretagem muito abaixo da média.
Resumindo, procure pelos melhores serviços e, dentre esses, pelos
melhores preços. A ideia deste livro é torná-lo independente e capaz de
tomar as suas próprias decisões, não se deixe levar a pagar taxas de
corretagem altas só porque a corretora tem vendedores na sua cidade e eles
ficam passando-lhe indicações: corretores ganham quando você opera e
não se importam se você ganha ou perde. Também não se prenda apenas a
taxas muito baixas pois a corretora pode acabar dando-lhe dores de cabeça.
Corretoras são nada mais do que intermediários obrigatórios em seus
negócios na Bolsa e no Tesouro Direto. Se você está pensando em investir
apenas em ações e Tesouro Direto, busque uma corretora com um bom
homebroker, taxas de corretagem aceitáveis para operações com ações e
uma taxa de administração reduzida para aplicações no Tesouro Direto.
Para uma lista completa de todas as corretoras de valores do Brasil,
acesse o site3 da BM&FBOVESPA.
E claro, nunca deixe uma quantia grande de dinheiro em sua conta na
corretora, nunca se sabe o que pode acontecer.

ABRINDO SUA CONTA

Abra sua conta na corretora pela internet. É o jeito mais fácil e rápido. Se
você é maior de 18, precisará do seu documento de identidade, CPF,
comprovante de endereço, uma caneta e um scanner. Se você é menor de
18, precisará também do seu responsável.
O processo todo é muito simples, bastando você preencher seus dados,
selecionar onde quer operar e aceitar os termos. Na sequência terá que
mandar a cópia dos seus documentos e do contrato assinado via internet e
pronto. No próximo dia útil você terá sua senha de acesso.
Para se cadastrar proceda assim:

Procure no site da sua corretora por um link de abertura de conta e


clique no link;
Selecione sua categoria, pessoa física ou jurídica;
Preencha seus dados pessoais e profissionais;
Preencha seu telefone e endereço. É essencial que ambos estejam
corretos. Quando comprar suas primeiras ações, você começará a
receber correspondências, algumas informativas e outras de
extrema importância, como a declaração anual de rendimentos
para preencher a declaração do imposto de renda. Se o seu
endereço estiver errado você terá muita dor de cabeça. Lembre-se
que quem opera ações, independente da renda anual, deve declarar
imposto de renda;
As corretoras costumam solicitar que você preencha suas
informações financeiras e patrimoniais. Preencha como considerar
melhor. Caso tenha qualquer dúvida do que acontece se você
preencher alguma coisa “sem estar de acordo com a realidade”,
leia os contratos e regulamentos;
Você será questionado em que mercados deseja operar. Selecione
Bovespa via homebroker (ou semelhante) e Tesouro Direto. Nas
outras opções use a regra: se você não sabe do que se trata,
preencha com “não”. Se você sabe do que se trata e não quer,
preencha com “não”. Não ter acesso a alguns sistemas já é uma
boa forma de evitar que você faça besteira quando for operar. De
qualquer forma, estas opções podem ser modificadas depois e caso
você selecione “sim” em tudo, não haverá nenhuma consequência
negativa imediata;
Quando você selecionar onde quer operar, terá de concordar com
os regulamentos da Bolsa e da corretora. Se você não quer gastar
tempo, concorde com tudo. De qualquer forma, não há muita
escolha;
Você terá que imprimir alguns contratos e assinar. Tome cuidado
para assinar da mesma forma que em seu documento de
identidade; e
Digitalize todos seus documentos e os contratos assinados e faça o
upload pelo sistema do site da corretora, ou envie via e-mail,
conforme a corretora solicitar. O comprovante de endereço deve
ter o mesmo endereço que você preencheu no cadastro.

Pronto. Se alguma coisa der errado você será informado ou, caso demore
a receber informações, entre em contato com a corretora (primeiro teste de
qualidade). Dando certo, você recebe seu login e senha de acesso.
Após fazer o cadastro e ele ser aprovado, a corretora enviará o número
da conta onde você deverá depositar o dinheiro para iniciar suas
operações. Você só pode enviar e retirar dinheiro da corretora por alguma
conta de banco que tenha seu CPF atrelado (ou do responsável, no caso de
menores). O prazo para o dinheiro aparecer no seu saldo da corretora
depende se você fez TED (mesmo dia útil) ou DOC (próximo dia útil).
Quando tiver enviado o dinheiro, entre no site, faça o login e observe
sua página de acesso.
No primeiro acesso, algumas corretoras solicitarão o preenchimento de
um questionário para definir se você é um investidor conservador ou
arrojado. Farão perguntas como “você está disposto a perder todo o seu
dinheiro?” e este tipo de coisa. Responda como lhe for conveniente. Suas
respostas serão utilizadas para que a corretora o classifique em
determinada categoria de investidor e permita seu acesso a alguns tipos
específicos de operações conforme as regras da Bolsa. Na prática,
qualquer um que investe em renda variável deve ser arrojado e estar
preparado para perder todo o seu dinheiro investido, pois é isso que
acontece quando a empresa em que você investe vai à falência. Já é hora
de compreender que dinheiro aplicado em ações é dinheiro que você não
pretende usar por muito tempo e que, em último caso, não vai mudar sua
vida se for perdido. Fique tranquilo. Escolha boas empresas e acredite nas
suas decisões.
Nas crises, até as ações das melhores empresas despencam trinta ou
quarenta por cento. Variações na taxa SELIC, podem fazer o valor do seus FII
variarem mais de trinta por cento para cima ou para baixo do dia para a
noite. Nada disso muda os fundamentos, as empresas boas continuam
sendo boas e os prédios dos FII continuam lá com os mesmos inquilinos
pagando os mesmos aluguéis.

Investidor de renda variável está sempre preparado para as crises.


De volta ao site da corretora. Normalmente, após o login, abrirá uma
página com informações de saldo que você possui e links para fazer todas
as operações que deseja. Procure pelo link que dá acesso ao homebroker.
Algumas corretoras dão nomes bonitos para seus homebroker, como
InvestPlus, Xbroker etc. Outras oferecem diferentes versões, às vezes com
a opção de instalar no seu computador como você faria com um programa
de computador qualquer, versões com recursos gráficos avançados,
versões que devem ser pagas entre outras. Procure pelo homebroker básico
e que você consiga visualizar direto no seu navegador de internet.
1 www.cvm.gov.br

2 www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-instituicoes-financeiras-habilitadas

3 www.bmfbovespa.com.br/corretoras/BolsaDeValores.aspx?idioma=pt-br
CAPÍTULO 32

USANDO O HOMEBROKER

Quando você abrir o programa se deparará com algo mais ou menos assim:

Figura 32-1: Tela inicial do homebroker.


Posso imaginar seu coração batendo mais rápido e a emoção de possuir
tantas informações ininteligíveis em uma única tela. Será que é assim que
os pilotos de caça se sentem quando entram em seus aviões e veem todos
aqueles botões? Se você tiver aberto o programa durante o horário de
pregão então, a euforia será ainda maior, haverá luzes piscando, setas
vermelhas e verdes surgindo do nada, números que não ficam parados
tempo suficiente para você ver, gráficos surgindo por todos os lados,
gráficos de vela, de linha, de barras, cores e mais cores.
Toda essa agitação só indica uma coisa: há bilhões de reais em
movimento e nenhum deles está indo para o seu bolso, com certeza não é
algo para se animar.
Daqui para a frente o homebroker será chamado de HB.
Alguns HB podem abrir com uma página inicial bastante diferente da
imagem. Na verdade, será apenas uma forma diferente de apresentar as
mesmas informações.
O HB é como uma janela do seu navegador de internet em que se abrem
vários painéis, você poderá configurar para que apareçam somente aqueles
a que deseja visualizar.
No HB da figura 32-1, em cima a esquerda, está a janela “Carteira de
Papéis”.

Figura 32-2: Carteira de papéis.


A Carteira de Papéis é uma tabela em que cada linha é uma ação e cada
coluna representa uma informação sobre esta ação.
As ações na Bolsa são representadas por códigos de quatro dígitos e um
número. Os dígitos diferenciam qual é a empresa e o número diferencia o
tipo de ação: ordinária ou preferencial. Para saber quais os códigos da
empresa que você deseja comprar, acesse as informações da empresa no
site da BM&FBOVESPA.
Para a grande maioria das empresas, o número quatro no final do código
representa ações preferenciais e o número três ações ordinárias. Há outros
números como cinco e onze que podem representar preferenciais e units.
Units representam um conjunto de ações. Exemplos:
PETR4 = Ações preferenciais da Petrobras.
VALE5 = Ações preferenciais da Vale do Rio Doce.
PETR3 = Ações ordinárias da Petrobras.
SANB11 = Units do Banco Santander. Uma unit do Santander é igual a 1
ação ON e 1 ação PN.
Na figura 32-3 é possível ver as ações PETR4, VALE5 e IBOV. IBOV é
o código para o Índice IBOVESPA.

Figura 32-3: Ações na Carteira de Papéis.

ÍNDICE BOVESPA
Você provavelmente já deve ter assistido a algum jornal na televisão em
que é comentado que o Índice Bovespa caiu tanto ou subiu tanto e esta
variação é usada como se fosse o resultado que a Bolsa de Valores teve
como um todo. Mas o que é o Índice Bovespa?
O Índice Bovespa, ou Ibovespa, simula o resultado que alguém teria se
tivesse aplicado em ações que atendessem alguns critérios estipulados
pela Bolsa. Entre esses critérios estão ter negócios na maioria dos pregões
e ter representatividade no volume financeiro negociado diariamente. São
critérios que buscam incluir as principais empresas com alguma
significância na BMF&BOVESPA.
Trata-se de uma tentativa de representar o desempenho geral das ações
da Bolsa de Valores de São Paulo. Porém, os ativos não são computados de
forma igual, sendo a participação de cada ação ponderada em relação ao
valor de mercado do free float da empresa. Isto significa que algumas
ações têm maior participação que outras.
Observe alguma das ações da carteira teórica para o mês de julho de
2015:
QTD
CÓDIGO AÇÃO TIPO PART %
TEÓRICA

ABEV 3 AMBEV S/A ON 3.608.712.145 8,114


BBDC4 BRADESCO PN EJ N1 2.431.329.422 7,979
PETR4 PETROBRAS PN 4.037.414.651 5,489
BRFS3 BRF SA ON EJ NM 557.128.268 4,449
PETR3 PETROBRAS ON 2.708.485.740 4,144
CIEL3 CIELO ON NM 772.547.017 3,94
ITSA4 ITAUSA PN N1 3.427.012.618 3,548
VALE5 VALE PNA N1 1.878.758.554 3,121
JBSS3 JBS ON NM 1.653.729.368 3,032

Tabela 32-1: Participação de algumas ações no Ibovespa.


Figura 32-3: Evolução do Ibovespa de 1960 a 2014.
É possível perceber que há bastante diferença entre a participação de
cada ação e, portanto, grandes variações em ações com grande
participação podem influenciar mais no resultado do Ibovespa do que
grandes variações em ações com participação pequena.
A moral da estória é que o Ibovespa pode despencar alguns por cento e
as suas ações terem subido do mesmo jeito, por isso, variações no
Ibovespa estão entre as coisas as quais o investidor inteligente não deve
dar muita atenção.

A função da carteira de ações é permitir que você possa visualizar


rapidamente as informações sobre as ações que deseja. Você pode
adicionar ou tirar ações dessa lista como bem entender.
Na carteira você encontrará informações como:
Valor da última negociação (Últ.);
Variação no dia (diferença entre o preço de abertura e o preço da
última);
Quantidade de ações oferecidas pelo melhor preço de compra (K= 1000
ações, ou seja, 89,1K = 89100 ações);
Preço da melhor oferta de compra (Compra) – Observe que agora
sabemos que há oferta de compra de 89.100 ações PETR4 por R$7,09.;
Preço da melhor oferta de venda;
Quantidade de ações oferecidas pelo melhor preço de venda;
Preço médio dos negócios do dia;
Preço de abertura, ou preço do primeiro negócio no dia;
Preço Máximo do dia;
Preço Mínimo do dia;
Preço de fechamento, ou preço da última negociação do dia;
Volume, que é o valor financeiro de todas as operações realizadas
naquela ação durante o dia. No dia da imagem, foram feitos negócios
com PETR4 que somaram 277,52 milhões de reais; e
Número de negócios, que é a quantidade de transações realizadas
durante o dia.
Se ocorrem os seguintes acontecimentos durante o dia:
Abertura do pregão
100 PETR4 negociadas a R$10,00
200 PETR4 negociadas a R$8,00
500 PETR4 negociadas a RS15,00
Fechamento
Como estarão as informações da carteira?
Haverá um preço de abertura que é definido no leilão de abertura. É uma
média entre as ordens que já estavam lançadas antes do início da
negociação, suponha que foi de R$9,80. Durante o dia os preços variaram
entre um mínimo de R$8,00, preço mínimo, e um preço máximo de
R$15,00. O preço de fechamento é definido assim como o de abertura,
uma média das ordens que ficaram depois do pregão. Suponha que foi
R$8,20.
No total, foram negociadas 800 ações (100+200+500) em 3 negócios (1
de 100 ações, 1 de 200 ações e 1 de 500 ações) e o volume total foi de
R$10.100,00 (R$1.000,00 + R$1.600,00 +R$ 7.500,00). A sua carteira de
ações ficaria como na figura 32-4.
Figura 32-4: Entendendo as informações da carteira de ações.
Abaixo da carteira de ações você verá informações em forma de gráfico,
como na Figura 32-5.

Figura 32-5: Gráfico do preço da ação.


O gráfico da Figura 32-5 é um gráfico de velas e representa os preços de
abertura, fechamento, máximo e mínimo de uma ação para cada dia, hora,
minuto, mês ou outro período que você escolher.
As velas são vermelhas (pretas) para períodos em que a abertura foi
acima do fechamento e verdes (cinzas) para o inverso. Se o exemplo de
pregão anterior fosse mostrado em um gráfico de velas com período
diário, você veria uma vela vermelha, pois a abertura, R$9,80, foi acima
do fechamento, R$8,20.

Figura 32-6: Vela com abertura em 9,80 e fechamento em 8,20.


Analisar gráficos não entra no escopo da estratégia deste livro. Encare
apenas como uma forma de visualizar os preços de uma ação para um
grande período. Cores, tamanhos e tipos (linha e barras) podem ser
alterados facilmente no homebroker.
A direita do gráfico está o ”Livro de Ofertas”.
Figura 32-7: O livro de ofertas.
No Livro de Ofertas você pode visualizar quem está oferecendo vender
ou comprar e em qual quantidade e preço. As ofertas de compra a esquerda
e as de venda a direita, com as colunas espelhadas:
Veja que a melhor oferta de venda é de algum cliente da corretora
SOCOPA, que está oferecendo vender 10.000 ações PETR4 por R$7,10. Na
parte da compra, algum cliente da corretora CONCORDIA oferece
comprar 300 ações por R$7,09.
A diferença entre a melhor oferta de compra e a melhor oferta de venda
é o spread. Na figura 32-7, o spread é de R$0,01. Quanto mais líquida a
ação, menor será o spread, quanto menor a liquidez, maior será o spread.
Para saber se uma ação é líquida, primeiro observe o livro de ofertas, se
o spread for pequeno e houver muitas ofertas de compra e venda
registradas, provavelmente você estará diante de uma ação com boa
liquidez. Depois, verifique o número de negócios, informação disponível
na Carteira de Ações. Ações com mais de 100 negócios por dia apresentam
liquidez suficiente para que você faça pequenos aportes mensais e uma
saída rápida quando necessário se o seu capital não for gigantesco.
No Livro de Ofertas também é possível visualizar todas as outras ofertas
registradas. Para um negócio acontecer, alguém tem que se propor a
vender por R$7,09 ou alguém a comprar por R$7,10, caso contrário, nada
acontece. Saiba que o que aparece no livro não é a representação total da
realidade. Há muitas ordens ocultas e automáticas que não são visíveis no
livro de ofertas.
Por exemplo, pode haver uma ordem de compra por R$7,08 que está
oculta pois quem deu a ordem não quer que o mercado saiba dela (pode ser
uma ordem muito grande, de compra de 500.000 ações, que poderia acabar
influenciando nos preços). Também é possível colocar uma ordem de
compra automática, que sobe um centavo acima da melhor oferta: se a
melhor oferta for de R$7,08, a corretora colocará automaticamente uma
ordem R$7,09. Se surgir uma nova oferta de compra por R$7,10, a ordem
automática retira a ordem de R$7,10 e coloca uma de R$7,11.
Às vezes acontece de ocorrer um negócio por um preço que não está em
nenhum dos dois lados. Se havia uma ordem oculta de vender por
determinado valor e alguém oferece comprar pelo mesmo valor, o negócio
ocorre imediatamente e as ordens nem chegam a aparecer no livro.
Em ações com muitos negócios e portanto, muita liquidez, enquanto o
pregão da Bolsa estiver ocorrendo, todas essas informações do HB serão
extremamente dinâmicas, variando vários centavos em poucos segundos.

Figura 32-8: Boleta de compra e venda.


Ao lado direito do Livro de Ofertas, você verá a boleta de compra e
venda:
Em cima dela está o seu saldo, quanto de dinheiro você tem na conta
para operar ações.
Atente que quando você compra uma ação, a liquidação financeira não é
efetuada na mesma hora, ela só ocorre três dias depois de você comprar no
homebroker. Então, se você compra R$100,00 hoje, este valor só sai da sua
conta e as ações só passam para o seu nome daqui três dias. Por aí, você
verá esses prazos sendo descritos como D. D (dia D) é o dia em que você
faz o negócio no homebroker e D+3 (dia D mais três dias úteis) o dia em
que ocorre a liquidação financeira.
Sempre confira se o seu saldo está de acordo com o que você esperava
antes de sair mandando ordens.
A boleta em si é bem simples. Há vários tipos de envio de ordens, na
Figura 32-8 há as opções: Normal, Stop, Trava e Lançamento.
Nesta corretora, na opção “normal”, existe a possibilidade de compra ou
venda. Preenchendo o código do ativo, as ofertas serão preenchidas
automaticamente. Ao colocar o preço pelo qual você quer comprar ou
vender, a quantidade de ações, o momento em que você quer que a ordem
seja enviada, a validade da ordem e digitar sua senha ou assinatura digital,
o valor total da sua ordem será mostrado com as taxas já computadas.
Clique em enviar, aparecerá um resumo, confirme e pronto. Se sua ordem
não for executada imediatamente, você verá ela aparecer no livro de
ofertas.

Enriqueça seu vocabulário

Call de abertura ou leilão de abertura: Período antes da abertura das


negociações (pregão) da bolsa, em que as ordens de compra e vendas
podem ser enviadas, mas não serão executadas. No leilão de abertura é
definido o preço de abertura de uma ação.
Call de fechamento ou leilão de fechamento: Período antes do fim do
pregão em que as ordens podem ser enviadas mas não serão executadas e
quando é definido o preço de fechamento. Após o leilão de fechamento, só
serão executadas as ordens ao preço de fechamento.

Ordens STOP/START são ordens programadas para serem enviadas


quando a ação atingir determinado preço:
Se você comprou uma ação por R$10,00 e gostaria de colocar um preço
limite de R$7,90 para vendê-la caso o preço da ação venha a cair abaixo de
R$8,00. Para isso você deve utilizar uma ordem STOP, preenchendo o
preço de disparo (R$8,00) como o preço que ao ser atingido irá fazer o
sistema enviar a suar ordem de venda pelo preço preenchido no campo
“preço loss” (R$7,90).
Figura 32-9: Ordens START/STOP.
Figura 32-10: Funcionamento da ordem STOP.
A ordem START é mais utilizada para compra. Quando uma ação atinge
determinado preço, disparo do start, o sistema manda uma ordem de
compra com um preço um pouco acima do de disparo.

Figura 32-11: A Cesta de Ordens.


As ordens que você enviou podem ser vistas na Cesta de Ordens. A
Cesta de Ordens lista qual a ação, tipo da ordem, status da ordem
(parcialmente executada ou executada), preço que você colocou,
quantidade, preço em que foi executado, quantidade executada, validade
da ordem e data hora da última atualização das ordens.
Se você enviar uma ordem de compra 100 ações a R$10,00, quando você
envia a ordem, o sistema da Bolsa checa se ela está correta (status
enviada) e aceita ou não (status aceito/cancelado). Se for aceita, sua ordem
vai para o Livro de Ofertas.
Após você enviar sua ordem, pode ser que apareça alguém querendo
fazer negócio no preço que você quer, porém, oferecendo uma quantidade
menor de ações, ou num preço menor do que você pretende pagar.
Nesse caso se, por exemplo, alguém colocar uma ordem de venda de 80
ações por R$9,80, você verá na sua cesta de ordens o status de
parcialmente executada, quantidade 80 e preço executado de R$9,80.
Outra janela interessante que não aparece na primeira imagem do HB que
você viu, é a de Custódia, onde todos seus ativos em custódia (que você
possui) são listados em forma de tabela, junto com suas quantidades e as
variações de preço no dia, como na Figura 32-12.
Perceba que as informações mostradas no HB são as mesmas em
praticamente todas as janelas, mudando apenas a forma em que são
apresentadas. Alguns HB não disponibilizam o gráfico de velas junto com
as outras informações. Para acessar o gráfico você teria que abrir outra
janela específica para gráficos. Há diversas outras diferenças de
organização que podem fazer você visualizar uma janela bem diferente do
HB mostrado neste livro.

Figura 32-12: Custódia.


Por exemplo, um layout comum para HB é um onde são mostradas várias
janelinhas, uma por ação, contendo todas as informações que você agora já
conhece. Utilize a visualização que considera melhor quando for utilizar o
seu HB.
Figura 32-13: Homebrokers possuem diferentes layouts.
Observe o HB da Figura 32-13. Tudo o que você já viu também está
presente aí. Há a informação de saldo lá em cima, logo abaixo, a Cesta de
Ordens e, abaixo desta, uma série de quadrados com informações sobre
uma ação específica:
Este quadrado tem as informações de PETR4. A esquerda, em cima, o
preço do último negócio, no meio, o código e a descrição da ação
(PETROBRAS PN), qual o lote mínimo (número de ações mínimo para
negociar daquela ação) e o horário do último negócio. A direita está a
variação em % do dia. Na parte de baixo há um extrato do Livro de Ofertas
e dois botões “comprar” e “vender” que irão abrir a boleta já preenchida
com o código da ação.
Figura 32-13: “Quadrado” de informações.
Em baixo dos quadrados há uma janela igual a primeira, porém
selecionada na aba “cotações”. Nada mais é do que a Carteira de Papéis.
Há uma aba “carteiras” que serve para você conferir o desempenho das
ações das carteiras recomendadas pela corretora.
Esta corretora oferece o serviço de pregão ao vivo que é o vídeo online
dos analistas comentando o que está acontecendo naquele dia. Outras
corretoras podem oferecer serviços semelhantes, este é um daqueles
fatores que você deve analisar quando for escolher uma corretora.

COMPRANDO OU VENDENDO UMA AÇÃO

Você percorreu um longo caminho até aqui. Escolheu a empresa em que


quer investir, separou um pouco do seu dinheiro, escolheu uma corretora,
abriu a conta, enviou o dinheiro e finalmente chegou a hora de comprar
suas ações.
Se você já leu a descrição do homebroker, você já tem uma boa ideia de
como comprar uma ação, bastando preencher a boleta e enviar a ordem.
Procure efetuar suas operações durante o horário de pregão (consulte o
site da BM&FBOVESPA para se informar). Fique longe dos leilões de abertura
e fechamento e de preferência acesse o HB no horário do almoço, em que as
coisas estão calmas e você tem tempo no trabalho. Evite colocar as ordens
durante a noite, principalmente se você não tiver um preço específico em
mente, porque no dia seguinte a ação pode negociar a preços muito
diferentes dos do dia anterior.
Digite o código da ação no Livro de Ofertas, observe qual a melhor
oferta de venda e decida se você vai comprar da melhor oferta de venda ou
colocar um preço específico.
Para preços específicos, a não ser que você tenha outras razões,
selecione a validade da ordem como “até cancelar” (você deve cancelar a
ordem para que ela saia do sistema). Ordens com validade “para o dia”
serão automaticamente canceladas no fim do pregão. Se a sua ordem foi só
parcialmente executada, no dia seguinte você terá que fazer outra ordem e
pagar mais corretagem. Se a validade for “até cancelar”, sua ordem
permanece para os dias seguintes e, em algumas corretoras, você pagará
apenas uma corretagem. Se você optar pela melhor oferta de venda, apenas
coloque aquele preço e sua ordem será executada imediatamente.
Se você for comprar poucas ações em números que não são múltiplos de
100, você deverá utilizar o mercado fracionário. No mercado normal, ou
mercado à vista, só é possível negociar quantidades em múltiplos de 100
(100,200,300,1000 etc.). Já no fracionário você pode comprar ou vender
ações em qualquer quantidade abaixo de 100.
Para comprar um número maior que 100, porém não múltiplo, por
exemplo 135 ações, você deverá enviar duas ordens, uma de 100 para o
mercado à vista e outra de 35 para o mercado fracionário.
Normalmente o mercado fracionário é um pouco menos líquido que o
mercado à vista. Isso faz com que os spreads sejam maiores, nesse caso,
como proceder?
Ao comprar pelo preço da melhor oferta de venda, você estará
comprando “a mercado”, que é o mesmo que negociar pelo preço que o
mercado está oferecendo no momento.
Se você deseja comprar a mercado um número de ações não múltiplo de
100, porém no fracionário a melhor oferta de venda está com um preço
acima do ofertado no mercado à vista, coloque a ordem de compra no
fracionário com o mesmo preço da melhor oferta de venda do mercado à
vista e com validade “até cancelar”. Normalmente você conseguirá fazer
negócio. Se você já pretendia comprar por um outro preço, basta colocar a
ordem no preço que você deseja.
Para negociar a ação no mercado fracionário, basta colocar a letra F
depois do código da ação. Por exemplo, para comprar PETR4 no mercado
fracionário, você terá que utilizar o código PETR4F.
A ação vendida no mercado fracionário é a mesma ação do mercado à
vista, o F é apenas para diferenciar o tipo de mercado. Se você comprar 55
PETR4F, você na verdade está comprando 55 PETR4. Quando juntar um
múltiplo de 100, você poderá vender essas ações no mercado à vista sem
problemas.

Figura 32-14: Livro de ofertas de PETR4 (mercado à vista).

Figura 32-15: Livro de ofertas de PETR4F (mercado fracionário).


Observe nas Figuras 32-14 e 32-15 a diferença entre as ofertas para
PETR4 e PETR4F. Enquanto o spread no mercado à vista era de R$0,10,
no fracionário é de R$0,32. Isto ocorre porque a liquidez no mercado
fracionário é menor. Ainda assim, é possível perceber que o último
negócio no mercado à vista foi a R$10,02 e no fracionário foi a R$10,03.
Acompanhe este exemplo prático de uma compra:
Você quer comprar R$1.000,00 em ações ITUB3 e está disposto a
comprar a mercado, pagando um preço próximo do que o mercado está
negociando.
Inicialmente, observe no livro de ofertas ou na carteira de ações, o valor
do último negócio e das melhores ofertas de compra e venda. Nesta ação
há um spread de 12 centavos. Você decide comprar pelo preço do último
negócio, no caso R$33,57.

Figura 32-16: Livro de ofertas de ITUB3.


Como irá comprar R$1.000,00 em ações pelo preço de R$33,57, isto
equivale a 29 ações. Você terá de usar o mercado fracionário. Veja na
figura 32-17 as ofertas e o preço do último negócio de ITUB3F:
Figura 32-17: Livro de ofertas de ITUB3F.
O último negócio foi em R$33,60, um pouco acima do mercado à vista.
Não há ninguém oferecendo vender no preço que você quer pagar, no
entanto, colocando um preço próximo ao do negociado no mercado à vista,
as chances de sua ordem ser executada rapidamente são grandes.
Abra a boleta, digite o código ITUB3F no campo “ativo”. O campo
“ofertas” será preenchido com as melhores ofertas de compra e de venda.

Figura 32-18: Ordem de compra.


Coloque o preço que você quer pagar, no caso R$33,57 e quantidade de
29. Em agendamento, selecione “Enviar Agora” e a validade “Até
Cancelar”. Digite sua assinatura digital e selecione “Enviar”.

Figura 32-19: Preenchimento da ordem de compra.


Observe o aparecimento da ordem na sua Cesta de Ordens com status
“Aceita pela Bolsa” e veja sua ordem surgir no Livro de Ofertas.
Figura 32-20: Aparecimento da ordem no livro de ofertas.

Agora é só esperar. No fim do dia, veja se a ordem foi executada


totalmente.
Figura 32-21: Ordem totalmente executada.
É possível ver na cesta de ordens que a ordem para comprar 29 ITUB3F
por R$33,57 foi executada. Observe que a ordem foi enviada as 13:04 e a
execução foi as 13:08 (conforme coluna “Últ. Atu.”). Como o preço de
compra que você enviou foi próximo ao do negociado no mercado à vista,
mesmo não havendo nenhuma oferta por aquele preço no momento de
envio da ordem, demorou apenas 4 minutos para surgir alguém querendo
fazer negócio. Em ações menos líquidas isso pode demorar mais, às vezes
dias, mas na maioria das vezes acaba dando certo.
Se após transcorrido muito tempo sua ordem não for executada, caso
ache necessário, você pode alterar a ordem, bastando cancelar a ordem
enviada e fazer uma nova ordem. Lembre-se que você só paga taxas e
corretagem quando sua ordem é executada. Cancelar uma ordem que ainda
não foi executada e enviar outra não lhe custará nada.
Para vender uma ação faça o mesmo procedimento, porém selecionando
“Vender” e observando as ofertas de compra do livro.

Enriqueça seu vocabulário

Mercado à vista: ambiente da Bolsa de valores em que são negociadas


ações somente em múltiplos de 100.
Mercado Fracionário: ambiente da Bolsa onde é possível comprar ações
em um número menor que 100.

COMPRANDO OU VENDENDO COTAS DE FUNDO DE


INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO

Fundos de Investimento Imobiliário (FII) são negociados via homebroker


exatamente como as ações. Os códigos dos FII também são compostos de 4
letras e um número (normalmente 11).
Alguns possuem além desse código, a letra B no final, que indica que
aquele fundo também é negociado em mercado de balcão. O mercado de
balcão segue algumas regras diferenciadas do mercado à vista. Na prática,
não muda nada na sua vida, apenas as taxas cobradas serão diferenciadas.
Observe as taxas cobradas pela BM&FBOVESPA:
MERCADO EMOLUMENTOS LIQUIDAÇÃO TOTAL
À VISTA 0,005% 0,0275% 0,0325%
BALCÃO 0,007% 0,0275% 0,0345%

Pode ser que a sua corretora também cobre corretagem diferenciada para
operação em diferentes mercados. Fique atento.
Alguns exemplos de códigos de FII:
AEFI11 = FUNDO DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO AESAPAR

BCFF11B = FII BTG PACTUAL FUNDO DE FUNDOS (este FII é negociado em


mercado de balcão, as taxas serão diferenciadas)
Para comprar ou vender FII siga os mesmos passos para operações com
ações, apenas colocando o código do FII que deseja comprar.
O mercado de FII normalmente tem menos liquidez do que o de ações.
Será comum você encontrar spread de vários reais. Você tem duas opções:
pagar o preço da melhor oferta de venda e levar seus FII para casa ou
colocar uma ordem “até cancelar” pelo preço que deseja e aguardar o que
acontece.
Observe o Livro de Ofertas para o FII Parque Dom Pedro Shopping
(PQDP11):
Figura 32-22: Livro de ofertas PQDP11.
Há somente duas ofertas de venda registradas e o spread é de quase
R$30,00. Caso você não queira pagar os R$1.270,00 que estão pedindo na
melhor oferta de venda, são grandes as chances de que demore para você
conseguir realizar negócio.
No entanto, se o seu objetivo é comprar por um preço específico, nada
impede que você largue a ordem lá e vá cuidar da sua vida. Quando
alguém concordar com o seu preço, o negócio será fechado.

Enriqueça seu vocabulário

Mercado de balcão: ambiente da bolsa de valores em que são realizados


negócios sujeitos a regras e taxas diferentes do mercado à vista.
CAPÍTULO 33

OPERANDO NO TESOURO DIRETO

Sua senha para acesso ao Tesouro Direto também é enviada pela sua
corretora. As corretoras que estão integradas ao sistema oferecem o acesso
ao Tesouro Direto pelo próprio site da corretora. Você faz o login pelo site
da corretora, seleciona a área de Tesouro Direto e faz suas operações por
ali mesmo.
Se a sua corretora não é integrada, você deve acessar o site do Tesouro
Direto1, selecionar a aba “Já é investidor? Acesse aqui” e em seguida
selecionar o menu “Investidor Cadastrado”, chegando à página de login:

Figura 33-1: Login no site do Tesouro Direto.


Digite seu CPF e sua senha. Pode ser que você seja solicitado a definir
uma nova senha. Faça o processo para mudar a senha e em seguida você
entra no sistema.

Figura 33-2: Página inicial do Tesouro Direto.


Na página inicial (Figura 33-2) você encontra um gráfico demonstrando
sua posição nos diversos títulos, alguns avisos e uma tabela com os preços
dos títulos.
Na parte superior há um menu com as opções “Início”, “Comprar e
Vender”, “Consultar” e “Ajuda”.
Na tabela com os títulos e seus preços, há uma pequena lupa ao lado de
cada título. Se você clicar nela, surge uma janela com informações sobre o
título, semelhante à da figura 33-3.
Figura 33-3: Informações sobre os títulos.
Ao clicar na opção “Comprar e vender” você terá as opções “Comprar”,
“Vender” e “Reinvestir”.
Você pode efetuar compras e vendas de duas formas: Investimento
Programado e Investimento Tradicional.

INVESTIMENTO PROGRAMADO

O investimento programado contempla o agendamento das suas operações.


Você pode programar o sistema para comprar sempre a mesma quantidade
financeira ou numérica de um determinado título em determinado dia do
mês. O mesmo pode ser feito para vendas e para o reinvestimento dos
juros que você receber dos títulos que pagam cupom ou dos que irão
vencer e serão depositados na sua conta.
Para programar uma compra, primeiro selecione a opção “Comprar” do
menu “Comprar e vender”, chegando na página de compras:
Figura 33-4: Página de compra do Tesouro Direto.
Escolha a opção “Agendar uma compra” e selecione o seu agente de
custódia, que é a sua corretora.
Após selecionar seu agente, a página se atualizará conforme a figura 33-
5:
Primeiro você poderá definir a data da primeira compra, em seguida
qual a frequência em que deseja repeti-la, sendo a única opção disponível
no momento a “mensal”.
Caso você deseje programar apenas esta compra e não quer que ela se
repita futuramente, selecione a opção “Realizar apenas esta compra”. Do
contrário, você terá de informar se quer que o sistema repita a compra
mensalmente até determinada data, até um número específico ou até que
você acesse o site e cancele a operação.
Em seguida, você deverá selecionar o título que deseja comprar e o
valor. Ao final da página há um aviso: “A taxa de retorno desse
investimento será a taxa oferecida na data programada para efetivação
dessa operação”. Serve para informá-lo que as taxas de juros oferecidas
pelos títulos podem mudar e pode ser que a taxa que você consiga quando
a compra for efetuada seja diferente da informada na tabela naquele
momento.
Figura 33-5: Compra programada.
Observe a figura 33-6 e veja como preencher para realizar uma compra
mensal de R$1.000,00 em títulos Tesouro Prefixado 2018 (LTN) todo dia
15 até que você deseje cancelar a operação:
Depois de preencher, clique em “Continuar”. Você verá a tela de
confirmação (figura 33-7), onde poderá confirmar a compra, editar ou
cancelar. Caso esteja satisfeito, clique em “Confirmar” e pronto.
Mensalmente na data selecionada o sistema comprará o equivalente em
títulos do valor que você definiu. Se assegure apenas de que o dinheiro
estará disponível na conta da corretora na data da compra.
Figura 33-6: Compra programada preenchida.
Figura 33-7: Tela de confirmação.
Para vendas, o processo é muito semelhante, com a diferença que você
só poderá vender os títulos que já possui.
Caso queira editar ou cancelar algum agendamento, selecione no menu
superior a opção “Consultar” e em seguida selecione “Agendamentos”.
Você deverá preencher campos de busca informando protocolo do
agendamento, data ou o agente de custódia:

Figura 33-8: Consultando agendamentos.


Digite uma das informações e selecione “Consultar”.

Figura 33-9: Agendamentos realizados.


Serão mostrados todos os agendamentos que você fez conforme a figura
33-9. Para saber mais e poder editar ou cancelar os agendamentos, clique
sobre o número de protocolo.
Se você tem títulos que pagam cupons semestrais ou títulos que estão
para vencer e deseja já programar para que estes valores sejam
reinvestidos, selecione no menu “Comprar e vender” a opção “Reinvestir”.
Novamente, você deverá selecionar seu agente de custódia para que a
página seja atualizada. Após a atualização, serão mostrados todos os
títulos que você possui em custódia no sistema e a possibilidade de
escolher para cada um deles em qual título deseja reaplicar e qual o
percentual do valor total você deseja reaplicar:
Figura 33-10: Programando o reinvestimento automático.
Basta você preencher os campos, selecionar “Continuar” e confirmar a
operação. Da mesma forma que nos outros agendamentos, selecione a
opção “Agendamentos” no menu “Consultar” para visualizar os
agendamentos de reinvestimento que possui.

INVESTIMENTO TRADICIONAL

No investimento tradicional, você manda a ordem para ser executada


apenas uma vez e na mesma hora.
Para comprar, selecione no menu “Comprar e vender”, a opção
“Comprar”. Em seguida selecione no campo ”Você deseja:” a opção
“Comprar” e selecione o seu agente de custódia:
Aparecerá uma tabela (figura 33-11) com os títulos disponíveis para
compra. Você poderá comprar tanto por quantidade quanto por valor em
reais desejado. Lembre-se que a quantidade mínima é de 0,1 título.
Preencha os campos com valor ou quantidade de cada título que deseja
comprar e clique em “Continuar”. Novamente, você será levado à página
de confirmação, onde poderá confirmar, editar ou cancelar a ordem.

Figura 33-11: Compra tradicional.


Assim como no investimento programado, a modalidade tradicional
para venda é muito semelhante à compra, com a diferença de que você só
poderá vender títulos que já possua.
No menu “Consultar”, além de poder consultar seus agendamentos, há
também as seguintes opções:
Protocolos: permite visualizar as informações de todas as operações que
você fez (títulos comprados ou vendidos, quantidade, valor e taxas);
Extrato Consolidado: verifique informações do seu saldo em títulos do
tesouro; e
Taxa de custódia semestral: mostra o valor da taxa semestral que é
cobrada pelo Tesouro Direto.
Se você decidir operar direto pelo site da sua corretora (quando esta
possuir o sistema integrado com o Tesouro Direto), provavelmente o
aspecto do sistema será um pouco diferente, mas as operações e a forma
como são feitas serão as mesmas que estão disponíveis no site do Tesouro
Direto.
1 http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto
CAPÍTULO 34

ADMINISTRANDO SEU PATRIMÔNIO

Você deve ter um controle próprio das suas operações na Bolsa de Valores,
em primeiro lugar, para acompanhar o desenvolvimento do seu patrimônio
e o cumprimento dos seus objetivos e, em segundo lugar, porque um
controle preciso tornará o preenchimento do imposto de renda muito mais
simples e rápido.
Apesar de ser possível visualizar no homebroker sua custódia atual, lá
não está especificado o preço que você pagou pelas ações nem o seu preço
médio, que é o que você deve lançar no imposto de renda. Além disso,
pode ser que por algum evento do destino você não receba seus informes
de rendimentos no final do ano, e caso você não tenha anotado tudo o que
recebeu no ano, terá problemas para encontrar as informações necessárias
sem o seu registro próprio.
Com o hábito, controlar o seu patrimônio acabará se tornando uma
atividade rotineira, às vezes prazerosa, por isso, sempre faça registro
completo de todas suas operações e dos valores que recebeu dos seus
investimentos.
Há pessoas que gostam ou precisam deixar tudo na mão de outros, se
você é desses, terá que, no mínimo, imprimir todas suas ordens de
corretagem e extratos mensais da corretora para que o contador faça o
serviço e você se resguarde em caso de problemas.
Este livro vai lhe mostrar uma das maneiras de fazer esse controle. Você
pode seguir o que for mostrado e aperfeiçoar para o seu gosto ou encontrar
outras maneiras que considere melhores, o importante é que você tenha
um bom controle.
Nesta maneira de controlar investimentos em renda variável, será
utilizado o Microsoft Excel. Qualquer outro programa de tabelas pode
funcionar. O Excel oferece vantagens porque permite desenvolver suas
próprias fórmulas e é muito versátil. As tabelas mostradas aqui podem ser
baixadas do site http://www.investindo.org.

NOTAS DE CORRETAGEM

Quando você faz uma compra ou vende algum ativo na Bolsa de Valores,
após o término do pregão, sua corretora lhe enviará, normalmente via e-
mail, a nota de corretagem:

Figura 34-1: Nota de corretagem.


Nesta imagem não é mostrado o cabeçalho da nota. Ele inclui a data do
pregão em que foi realizado o negócio e informações sobre o seu cadastro.
Com exceção de cores e tamanho de letra todas as notas de corretagem de
qualquer corretora serão padronizadas ou muito parecidas com esta.
Figura 34-2: Negócios realizados.
Na parte de cima há uma descrição dos negócios realizados:
A primeira coluna “Q” não interessa no momento.
A coluna “Negociação” será sempre “1-BOVESPA” para ações e FII e “5-
SOMA” para FII negociados em balcão (que tem um B no final do
código).
A coluna “C/V” indica se foi (C) compra ou (V) venda.
A coluna “Prazo” é só para ativos que têm vencimento, como as opções
e os contratos futuros.
A coluna “Especificação do Título” descreve o nome e o tipo da ação ou
FII.

A coluna “Obs” contém uma observação codificada (verifique a legenda


no fim da nota). Na imagem existe a letra “h” que indica que o negócio
foi feito via homebroker.
Depois, há a coluna quantidade, preço por cada ativo e o total da
operação (quantidade multiplicada pelo preço).
A coluna “D/C” indica se o valor é D (débito) da conta do investidor ou
C (crédito) na conta.
Figura 34-3: Resumo dos negócios.
Na parte de baixo da nota de corretagem (figura 34-3) existe um resumo
de todas as negociações daquela nota. Caso você tenha feito mais de uma
operação no dia, o somatório das operações será lançado nesta parte.
Na coluna da esquerda é mostrado um resumo dos seus negócios,
classificados por tipo de operação, especificações diversas e a legenda.
Na coluna da direita está discriminado valor das taxas cobradas.
Primeiro, aparece o total das suas operações e, em seguida, são listados os
valores pagos (D) para a CBLC, BMF&BOVESPA e corretagem. Para corretoras
de São Paulo é listado o valor do ISS. Algumas corretoras descontam o
valor do ISS da operação da sua conta. Outras não. Para saber se isto está
ocorrendo basta conferir na linha “Líquido para XX/XX/XXXX” se o valor
total está somando o ISS ou não.
A linha “Líquido para XX/XX/XX” indica a data D+3, que é quando o
dinheiro será tirado da sua conta.
Observe nota de corretagem da Figura 34-4.
Figura 34-4: Outra nota de corretagem.
Dessa vez, a operação realizada foi a venda de 200 ações ON da
EMBRAER. Observe que na coluna que lista as despesas, surgiu a linha
“IRRF s/ operações, base R$2.786,00” com o valor R$0,13. IRRF significa
Imposto de Renda Retido na Fonte.
A Receita Federal obriga as corretoras a reterem uma pequena
quantidade de imposto sempre que você executar uma venda. É o chamado
“dedo-duro”. É através dele que a Receita sabe que você executou venda
de ações e, portanto, deve declarar qual foi o resultado, pagando os 15%
quando tiver lucro.
Lembre-se que para operação com ações, existe uma isenção para
vendas cuja soma seja menor que R$20.000,00 no período de um mês. No
entanto, nem todas as corretoras levam isto em consideração e descontam
o “dedo-duro” mesmo que você não tenha vendido mais que R$20.000,00
em um mês.
O valor do IRRF deverá ser lançado na declaração de ajuste anual do
imposto de renda.

Enriqueça seu vocabulário

IRRF: Imposto de renda retido na fonte.

REGISTRANDO SUAS OPERAÇÕES PARA CONTROLE

Quando receber a Nota de Corretagem, confira os valores, salve na forma


digital e imprima sempre que possível.
Depois, com ela em mãos, faça o registro em sua tabela de controle do
Excel.
Para registrar compras e vendas e outros eventos, crie uma tabela com
13 colunas (observe a tabela 34-1).
Quando fizer operações basta copiar os dados da nota para a tabela,
adicionando uma nova linha para cada operação.
Por exemplo: para registrar as operações mostradas nas notas de
corretagem que você viu até agora, suponha que a data das notas seja
15/01/2014 e 22/05/2014, respectivamente.
Na primeira foi feita a compra de 100 AMBEV ON (código ABEV3) por
R$64,00 cada ação. Isto gerou taxas CBLC no total de R$1,76 e taxa de
emolumentos de R$0,44. A corretagem foi de R$16,90 e ISS não foi
somado no valor da nota.
Preencha a data da nota na coluna “A”, se foi compra (C) ou venda (V)
na coluna B, a quantidade de ações ou FII negociados na coluna “C”, o
código do ativo na coluna “D”, preço por ação na coluna “E”, valor da
corretagem na coluna “F”, valor das taxas CBLC na coluna “G”, valor das
taxas Bovespa na coluna “H”, valor do ISS cobrado na nota na coluna “I” e
o total da operação na coluna “J”.
Tabela 34-1: Registrando suas operações.
O valor total da operação para compras é igual ao número de ações
compradas multiplicado pelo preço, somado das taxas de corretagem,
CBLC, BM& FBOVESPA e ISS. Você sempre deve somar o valor das taxas que
pagou para comprar algum ativo na Bolsa de Valores pois elas serão
consideradas caso você faça alguma venda com lucro.
Já que está utilizando o Excel, aproveite o programa e automatize alguns
cálculos. Você sabe que se a operação for uma compra, o valor da coluna
“J” é igual ao valor da coluna “C” vezes o valor da coluna “E” e somado a
este resultado o valor das colunas “F”, ”G”, ”H” e “I”. Coloque nas células
da coluna “J” a seguinte fórmula:

Onde “X” equivale ao número da linha. Preencha para a primeira linha,


depois selecione a célula e arraste para baixo e o programa preencherá as
demais linhas com a fórmula já correta.
Agora registre a venda da segunda nota de corretagem:
É praticamente a mesma coisa, ficando diferente somente a coluna “B”
para indicar Venda. Observe que na segunda nota de corretagem o ISS foi
cobrado do investidor, portanto registre o valor na coluna “I”. Finalmente,
coloque também o valor do IRRF na coluna “K” para fins de registro.
Se você automatizou o cálculo da coluna “J”, verá que o valor não está
batendo. Isto é porque o cálculo do total para uma venda é diferente.
Quando você compra, paga um preço pelas ações e, além disso, as taxas de
corretagem. Quando você vende, recebe um valor pelas ações que vendeu
e, desse valor, serão descontadas as taxas. Portanto, a fórmula para o
cálculo da coluna J em caso de vendas será:
Para que o programa saiba sozinho se foi uma compra ou uma venda,
use a coluna “B”. Se a coluna “B” tiver a letra “C”, utilize a fórmula para
compra na coluna “J”, do contrário, utilize a fórmula para venda.
Como o objetivo do controle é, ao final, saber a soma do valor das ações
que estão em custódia, pode-se padronizar que valores para compra serão
positivos e valores para venda serão negativos (compras indicam entrada
ação na carteira e vendas saída de ação). Para que isso ocorra, transforme
o valor total das vendas em um número negativo. Ao final, a fórmula para
as células da coluna “J” fica assim (lembre-se de trocar o X pelo número
da linha):

Ou:

Pode-se automatizar o cálculo para os valores da coluna “H” – CBLC e


“G”-EMOLUMENTOS, pois estes valores serão iguais a uma percentagem
fixa do valor da negociação. Lembrando de diferenciar se o ativo for
operado em mercado de balcão (tiver um B no fim do código). Utilize as
seguintes fórmulas:
Para a coluna “G”:
Para a coluna “H”:

Estas fórmulas verificam se há um B no final do código do papel e


calculam a taxa de acordo. Fique atento porque às vezes a BM&FBOVESPA
altera as taxas. Neste caso você precisará alterar a fórmula para os novos
lançamentos.
Mantenha uma tabela destas para cada tipo de ativo. Ou seja, uma para
ações, outra para FII. Nomeie esta tabela como “Lançamentos”. Você
também pode adaptar esta mesma tabela para controlar seus títulos do
Tesouro Direto ou outros investimentos que fizer.
CONTROLE DA CUSTÓDIA
Utilize outra tabela, chamada de “Custódia”, para controlar o total de
um determinado ativo que possui. Isso permitirá que você possa
determinar quantos % do total de dinheiro investido quer ter em cada ação
e rapidamente visualizar quais ações estão para trás e quais já receberam
muitos aportes. Além disso, caso interesse, através de serviços oferecidos
pelas corretoras, é possível ver quanto suas ações estão valendo no
momento e quanto elas representam da sua carteira no preço atual.
Crie outra planilha e a nomeie “Custódia – Ações”. As colunas ficam
como a tabela 34-2.
Preencha as células da coluna “A” com o código das ações que você
possui, deve ser o mesmo código que você utiliza na tabela “Lançamentos
- Ações”. Em seguida, preencha as colunas como segue:
Coluna “B”:
Coluna “C”:
Tabela 34-2: Controle da custódia.
Coluna “D”:

Na Coluna “E” utilize a fórmula para acesso as cotações em tempo real


pelo sistema DDE ou RTS fornecidos pela sua corretora. DDE e RTS são
duas tecnologias utilizadas pelo Excel para ter acesso a dados de
servidores online. Normalmente, as corretoras disponibilizam este serviço
para todos os clientes, questione a sua corretora como utilizá-lo.
Você também pode utilizar as cotações de algum site. Por exemplo,
construa esta mesma tabela no Google Docs1 e utilize a fórmula abaixo na
coluna “E” para obter as cotações pelo Google Finance (lembrando de trocar
o “X” pelo número da linha).

Se você não tem acesso a nenhum sistema de cotações online ou


simplesmente não deseja saber qual é o preço das suas ações no momento,
apenas delete as colunas “E”, “F”, “G”, “I” e “J”.
Para as células da coluna “F”, utilize a fórmula:

Coluna “G”:
Na Coluna “H” coloque o valor percentual que você deseja para essa
ação dentro do total da sua carteira. Por exemplo, se você quer que essa
ação represente 10% do valor investido em ações, registre nessa célula o
valor 10%.
Coluna “I”:

Coluna “J”:

Coluna “K”:

Quando tiver preenchido as linhas com todas as ações que possui, crie
após a última linha, uma linha que representa o somatório de todas as
linhas de cada coluna.
Nesta linha, nas colunas “C”, “D”, “F”, “G”, “H”, “I” e “J” insira a
fórmula:
Troque a letra C pela letra de cada coluna, a X pela primeira linha da
tabela que contém uma ação (normalmente a linha 2, pois a primeira é o
cabeçalho) e a letra Y pela última linha que contém uma ação.
Feito isto, nomeie as células que possuem o total da coluna “C” para
“ACOES_IN” e da coluna “F” para “ACOES_AT”.
O que essa tabela faz é o seguinte:
Coluna “A”: Código da ação.
Coluna “B”: Somatório do número de ações de todas as compras e
vendas registradas na tabela “Lançamentos-Ações”.
Coluna “C”: Somatório do valor total de todas as compras e vendas
registradas na tabela “Lançamentos-Ações”.
Coluna “D”: Define o percentual do dinheiro investido naquela ação em
relação ao dinheiro que você investiu no total, representado pela célula
“ACOES_IN”.
Coluna “E”: Mostra a cotação atual da ação.
Coluna “F”: Mostra o valor atual de todas as suas ações daquela
empresa. É o resultado do somatório do número de ações com o código
da coluna A multiplicado pelo valor da cotação.
Coluna “G”: Define quantos % o valor atual desta ação representa em
relação ao valor atual total de todas as suas ações, representado pela
célula ACOES_AT.
Coluna “H”: É o valor percentual que você definiu para esta ação ter na
sua carteira. Utilize para compará-lo com as colunas D e G e ver se o
que você planejou está de fato acontecendo.
Coluna “I”: É a diferença ente o valor investido e o valor atual, colunas
C e F.
Coluna ”J”: É a diferença percentual entre o valor investido e o valor
atual. Utilize para verificar se suas ações se valorizaram e quantos %
elas valorizaram em relação ao dinheiro que você aplicou inicialmente.
Coluna “K”: Somatório do valor investido mais o valor das bonificações
e subscrições que ocorrerem com esta ação. Você verá com mais
detalhes estes lançamentos na próxima seção. Esta coluna é importante
para facilitar o preenchimento do IR.
Uma vez construídas as tabelas “Lançamentos – Ações” e “Custódia –
Ações”, basta você efetuar os lançamentos das notas de corretagem e a
tabela de custódia se atualizará sozinha, mantendo você a par da situação
dos seus investimentos em ações. Para que as cotações online funcionem
você deverá estar conectado à internet e com os programas da corretora
abertos, para que eles forneçam o sinal.
Caso você compre uma ação que não tinha inserido antes, basta inserir
uma nova linha e copiar os códigos da linha de cima, apenas alterando o
código da ação, o código para obter a cotação e o valor percentual alvo na
coluna “H”.
A tabela Custódia permite que você verifique se o valor de uma ação em
sua carteira está de acordo com o percentual que você definiu na coluna
“H”. Dessa forma, quando for comprar mais ações você saberá de qual
ação comprar, basta ver qual tem a maior diferença entre o % alvo e o %
carteira. Para fazer essa análise, compare os valores das colunas “H” e “G”
ou, se preferir, pode comparar as colunas “H” e “D”.
Utilizar a coluna “G”, com o valor atual da ação, fará com que ações que
valorizaram ganhem percentual maior na sua carteira e ações que caíram
de preço percam valor percentual. O resultado é que você compra mais das
ações que caíram e menos das que estão subindo. Se você fez a lição de
casa e escolheu boas empresas, esta estratégia automaticamente fará você
comprar ações da empresa que está mais barata.
Esta forma de administrar a carteira também facilita na hora de comprar.
Basta comprar a ação que está mais para trás em relação ao percentual
planejado.
Por outro lado, fique atento se você tiver que comprar a mesma ação
várias vezes seguida. Isto indica que o preço dela está em queda durante
muito tempo. Talvez seja interessante você rever sua análise desta
empresa.

CONTROLE DOS FII

Para controlar os FII utilize as mesmas tabelas com pequenas diferenças.


Crie uma nova tabela com o nome de “Lançamentos – FII” para registrar
suas compras de FII.
Crie também “Custódia – FII” e copie as fórmulas, alterando onde
estiver escrito “Lançamentos – Ações” para “Lançamentos – FII” e
mantendo todos os outros valores.
Na coluna “K”, coloque a seguinte fórmula:

Lembrando de trocar a letra “X” pelo número da linha e arrastar para as


demais.
O que esta fórmula faz é subtrair do valor total investido o valor das
amortizações recebidas daquele FII. As amortizações são uma espécie de
devolução do dinheiro investido que o FII faz para seus cotistas. Não há lei
clara sobre o assunto, mas a interpretação mais conservadora até o
momento é considerar que a amortização diminui o preço que você pagou
em suas cotas, alterando o preço médio que deve ser informado à Receita
Federal.

CONTROLE DE EVENTOS COM AÇÕES E FII

Para registrar eventos como Dividendos, Juros sobre Capital Próprio,


Distribuição de rendimento de FII e Amortização, crie uma nova tabela
com o nome “Recebidos – Ações” para as ações e “Recebidos – FII” para
os FII.
Preencha as células da primeira linha como as tabelas da figura 34-5.
Na coluna “F”, coloque a fórmula:
Para preencher estas tabelas, todo início de mês, acesse o site de sua
corretora e faça a impressão do extrato da sua conta, colocando como data
de início e término, o primeiro e último dia do mês anterior,
respectivamente.
O extrato reporta todo o dinheiro que entrou e saiu da sua conta e de
onde ele veio. Será algo parecido com a figura 34-6.
Apesar das informações virem abreviadas, é fácil de entender a que elas
se referem. Se tiver dúvidas, questione a sua corretora.
Figura 34-5: Registro dos proventos recebidos.

Figura 34-6: Extrato da corretora.


Neste extrato (Figura 34-6) é possível verificar que:
o primeiro lançamento de 02/01 indica que o dinheiro que você enviou
para a corretora foi creditado;
o lançamento de 05/01 indica que foram debitados R$500,00 da sua
conta referente às operações que você fez no dia 03/01 registrada na
Nota de Corretagem 0810;
o primeiro lançamento de 10/01 indica o crédito de Dividendos em sua
conta pagos pela empresa cujo código é ABEV3. O lançamento também
demonstra que você recebeu um valor de dividendos referente a 7 ações
desta empresa;
o segundo, no dia 10/01, indica que você recebeu uma amortização sobre
14 cotas do FII cujo código é HTMX11B;
no dia 16/01 você recebeu crédito de Juros sobre Capital Próprio para 10
ações da empresa cujo código é CRUZ3. Também nesse dia há o
lançamento de um débito referente ao Imposto de Renda retido na Fonte
(IRRF) equivalente a 15% do valor recebido de Juros sobre capital
Próprio;
no dia 18/01 há o lançamento do crédito referente às sobras da ação cujo
código é ITUB4. Isto indica que esta empresa fez algum tipo de
bonificação em que você teve direito a um número quebrado de ações,
como por exemplo 3,14 ações. Neste caso, você recebe as 3 ações e a
fração, 0,14 ação, será colocada à venda em um leilão na Bolsa pela
própria empresa. Depois do leilão, o dinheiro referente a sua fração é
creditado na sua conta;
o lançamento do dia 19/01 se refere ao rendimento recebido sobre os
Juros s/ Capital (JCP). Poucas empresas fazem esta operação. Consiste
em separar o dinheiro que será pago em forma de JCP e deixá-lo aplicado
em alguma aplicação financeira até a data do pagamento. O período em
que os JCP ficam aplicados, geram um rendimento, que é o lançado no
dia 19/01 neste extrato. Repare também que, na mesma linha, está
registrado o valor de IRRF; e
finalmente, no dia 31/01 está lançado o crédito dos rendimentos
referentes a 10 cotas do FII de código BRCR11.
Com o extrato em mãos, inicie o preenchimento das tabelas de
“Recebidos”. Não há mistério, você está basicamente repassando os dados
do extrato para as tabelas. Você deve fazer isso por dois motivos:
primeiro, vai permitir-lhe fazer diversos cálculos com os valores
recebidos, facilitando entre outras coisas, o preenchimento do imposto de
renda;
segundo, a corretora mantém o registro das operações somente por um
determinado período de tempo. Caso você não receba o informativo de
rendimento das empresas, você terá que recorrer ao extrato da corretora e,
pode ser que ela não disponibilize mais a data que você deseja.
Lembre-se de imprimir e guardar os extratos. Faça o lançamento das
informações do extrato todo início de mês. Não levará mais que 30
minutos e certamente fará diferença quando você tiver que preencher o
imposto de renda ou quiser avaliar como andam seus investimentos.
Observe na figura 34-5 como ficaram as tabelas “Recebidos – Ações”” e
“Recebidos – FII” preenchidas de acordo com o extrato da Figura 34-6.
REGISTRANDO SUBSCRIÇÕES
Relembrando, Subscrições são direitos dados aos sócios de uma empresa
para efetuar a compra de mais ações quando a empresa fizer a emissão de
novas ações ou o direito dado aos cotistas de um FII para efetuar a compra
de mais cotas quando houver emissão de novas cotas pelo FII.
Normalmente, a quantidade de subscrições a que você tem direito está
relacionada com a quantidade de ativos que você já possui.
Por exemplo:

Você tem 10 ações e ocorre uma subscrição de 10%. Você terá


direito a 01 subscrição.
Você tem 100 cotas e ocorre uma subscrição de 20%. Você terá
direita a 20 subscrições.

Quando ocorre uma subscrição, as suas subscrições aparecem em sua


custódia com o código igual ao da ação/cota e com um número diferente
(normalmente 12) no final. Uma vez na sua conta, você pode vender as
subscrições como se fossem ações/cotas no mercado ou solicitar a sua
corretora a execução das subscrições a que você tem direito, convertendo-
as em novas ações/cotas que aparecerão na sua conta.
Suponha que você tenha 100 ações da empresa cuja ação tem o código
XXXX3. A empresa faz uma nova emissão de ações, com o preço de
R$9,00, dando direito aos atuais sócios de subscreverem o equivalente a
10% da sua posição no dia 10/01, com período para exercer iniciando em
15/01 e terminando em 20/01.
No dia 10/01 você tinha exatamente 100 ações, portanto terá direito a 10
subscrições.
Lá pelo dia 15/01 você checa a custódia e vê que existem 10 ativos com
o código XXXX12, que representam suas subscrições. Se você abrir o
homebroker e digitar no Livro de Ofertas o código XXXX12, verá que há
pessoas negociando estes ativos, sendo que o preço da última negociação
foi de R$0,80.
Você verifica quanto foi último negócio da ação XXXX3 e vê que foi a
R$10,00.
Observe que o direito de subscrição equivale ao direito de comprar uma
ação XXXX3 por R$9,00, sendo que a ação está sendo negociada no
mercado por R$10,00. Portanto, você tem duas opções:

Opção 1: Se você deseja adquirir mais ações XXXX3, exercer seus


direitos de subscrição é uma vantagem pois você pagará menos
pelas ações (R$9,00) do que se fosse comprar no mercado à vista
(R$10,00). Você terá até o dia 20/01 para informar a sua corretora
que você quer exercer seus direitos.
Opção 2: Se você não deseja ter mais ações XXXX3 do que as 100
que já possui, você pode simplesmente não fazer nada e seus
direitos expirarão no dia 20/01 ou pode vender seus direitos no
mercado. Os direitos estarão sendo negociados por um preço
próximo à diferença entre o preço de subscrição e o preço do
mercado à vista da ação, com o ágio ou deságio adicionado pelo
mercado. Para vendê-los basta abrir a Boleta de Ordens e
preencher uma venda do ativo com o código XXXX12.

É comum que depois que você exerça seus direitos, as novas ações
XXXX3 não apareçam imediatamente em sua conta corrente. Ao invés
disso, surge mais um ativo desconhecido com o código XXXX13. Isto
ocorre porque algumas vezes as ações/cotas que você recebe quando
exerce uma subscrição levam um certo tempo para terem todos os direitos
do ativo original. É como se elas fossem uma larva em um casulo de
XXXX3 se desenvolvendo ali na sua custódia até romperem o invólucro e
se tornarem uma XXXX3 plena. Na prática isto não muda muita coisa na
sua vida.
Se você exercer suas subscrições, registre na tabela “Lançamentos”
como se fosse uma compra normal pelo preço definido na subscrição, com
a vantagem de não pagar nenhuma taxa (figura 34-7).
Se você vender suas subscrições, terá de calcular o lucro que teve na
operação e recolher o imposto devido.
Você também pode exercer somente uma parte e vender o resto ou
simplesmente não fazer nada. No término do período de subscrição seus
direitos desaparecerão.
REGISTRANDO BONIFICAÇÕES
Bonificações são mais comuns em ações do que em FII. É como se a
empresa lhe desse de presente algumas novas ações sem cobrar nada.
Quando informam que irão realizar uma bonificação, as empresas também
informam qual o preço que o investidor deve considerar para cada ação
para fins de declaração de Imposto de Renda.
Figura 34-7: Registro dos eventos acionários.
As bonificações são relativas a uma percentagem das ações que você
possui e caso você tenha direito a frações, já sabe que receberá esta parte
em dinheiro.
Por exemplo:
A empresa cuja ação tem o código XXXX3 informa que realizará uma
bonificação de 10% no valor por ação de R$9,00 a ser creditada em 25/02
para investidores que possuírem ações no dia 20/02.
No dia 20/02 você tinha exatas 115 ações XXXX3. Você terá direito a
11,5 ações nesta bonificação. Na prática, aparecerão na sua custódia 11
novas ações XXXX3 e depois de algum tempo você receberá um dinheiro
relativo a 0,5 ação que faltou.
Para registrar uma bonificação na tabela “Lançamentos”, observe as
considerações abaixo.
Para fins de cômputo da sua custódia, essas ações têm custo zero,
porque você não pagou nada por elas. Portanto deve lançar uma
bonificação como uma nova compra de 11 ações por R$0,00 e sem taxas.
No entanto, se algum dia você vender essas ações, o lucro a ser
considerado para o imposto de renda será calculado pela diferença entre o
preço que você vendeu e o preço que você pagou. Acontece que a própria
empresa já informa que você deve considerar, para fins de imposto de
renda, que estas ações custaram R$9,00.
Tendo em vista que você quer ter um acompanhamento fiel do dinheiro
que realmente investiu e também um acompanhamento do que deve ser
lançado no imposto de renda, criam-se duas colunas na tabela
“Lançamentos”: Bonificação e Valor Nominal. Essas colunas serão
utilizadas para registrar a bonificação (Figura 34-7).
Lance a bonificação como se fosse uma compra normal com custo e
taxas zero e na coluna “L” – Bonificação coloque a fórmula que multiplica
as células da coluna “C” com a coluna “M”, lembre-se de trocar o “X”
pelo número da linha:

Em seguida, registre na coluna “M” o valor informado pela empresa.


O resultado é que agora, a tabela “Custódia – Ação” irá computar o
valor da bonificação na coluna “TOTAL IR” informando o valor que você
deve utilizar no preenchimento da Declaração Anual de Imposto de Renda.
REGISTRO DE DESDOBRAMENTOS E GRUPAMENTOS
Desdobramentos funcionam multiplicando o número de ações que você
possui por um número X, sem alterar nada no valor financeiro.
Agrupamentos funcionam dividindo o número de ações que você possui
por um número X, sem alterar nada no valor financeiro.
Por exemplo:
A empresa da ação XXXX3 anuncia um desdobramento de 500% ou 1
para 5 no dia 30/03.
Você tem 100 ações XXXX3 no dia 29/03 que valem R$10,00 cada. No
dia 30/03 você terá 500 ações que valem R$2,00 cada. Antes você tinha
R$1.000,00 e agora continua tendo R$1.000,00. A quantidade de ações que
você possui mudou, mas o valor financeiro permaneceu.
A empresa da ação XXXX3 anuncia um agrupamento 10 para 1 no dia
30/03.
Você tem 100 ações XXXX3 no dia 29/03 que valem R$10,00 cada. No
dia 30/03 você terá 10 ações que valem R$100,00 cada. Antes você tinha
R$1.000,00 e agora continua tendo R$1.000,00. A quantidade de ações que
você possui mudou, mas o valor financeiro permaneceu.
Para registrar esses eventos no controle, para desdobramentos, lance
uma nova compra com a quantidade de ações a mais que você tem em
relação às que você tinha antes do split, com preço e taxas zero. Coloque
um comentário nesta linha informando que foi um desdobramento (Figura
34-7).
Para agrupamentos, lance uma venda com a diferença da quantidade de
ações que você possuía antes do evento e a que possuí agora, com preço e
taxas zero (Figura 34-7).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No curto prazo nenhum evento com ações faz qualquer diferença para os
investidores, porque a Bolsa desconta do preço de fechamento da ação um
valor proporcional ao evento ocorrido de forma que o valor total das suas
ações antes e logo após o evento permanecem o mesmo. No entanto, com
exceção dos desdobramentos, no longo prazo, se você estiver investindo
em boas empresas e reaplicando os dividendos, bonificações e subscrições
abaixo do preço de mercado podem adicionar um ganho a sua carteira,
pois representam mais ações sendo compradas por um custo reduzido.
Desdobramentos são feitos com a intenção de reduzir o preço das ações
e aumentar a liquidez. Já agrupamentos são feitos para evitar que a ação
caia abaixo de R$0,01. Não alteram o patrimônio de quem já possui a
ação.
Uma possível desvantagem de não exercer suas subscrições é que,
quando as mesmas ocorrem, há um aumento do número total de
ações/cotas e se você não exercer seus direitos, sua posição percentual em
relação ao total será diminuída, o que é chamado de diluição. Se você tem
pouco dinheiro investido e a nova emissão for pequena em relação ao total
de ações/cotas existentes antes, não há por que se preocupar. No entanto,
se você tiver uma posição muito grande (por exemplo, 5% de todas as
cotas de um FII) e ocorrer uma nova emissão significativa (dobrar o
número de cotas que já existem do FII), sua posição será diluída (você terá
agora apenas 2,5% das cotas).
Ser diluído significa que você será dono de um pedaço menor da
empresa, ou terá direito a uma fatia menor dos rendimentos de um FII.
Novas emissões gigantescas tendem a privilegiar apenas um grupo
seleto de pessoas, normalmente os próprios controladores de uma
empresa. Se a empresa em que você investe anda fazendo emissões
grandes e dando números enormes de ações para seus executivos, é hora de
analisar se a governança não está se deteriorando.

Diluição em caso de novas emissões.

1 docs.google.com
CAPÍTULO 35

ESTUDO DE CASO

Para finalizar, analise estas pequenas estórias que servirão para ajudar
você a definir uma estratégia que esteja de acordo com seus objetivos.
A primeira estória trata de estratégias que têm objetivos bem
específicos, obter um determinado valor dentro de um prazo definido.
Para objetivos com prazo definido não sobram outras opções além do
investimento em renda fixa. É impossível prever quanto valerá um ativo
de renda variável na época em que você for precisar do dinheiro que tinha
planejado. Resta então analisar as opções de renda fixa disponíveis para
ver qual se adequa ao seu objetivo e oferece mais vantagens.

ESTÓRIA UM

Este é o Paulo.
Paulo Tavares ganha cerca de R$3.000,00 por mês. Ele sempre consegue
guardar um pouco no final de cada mês, já tendo juntado cerca de
R$15.000,00 na poupança. Ele considera seu emprego bem estável, acha
que não corre o risco de ser demitido no futuro próximo e está confortável
com o dinheiro que tem na poupança como reserva de emergência.
Paulo possui um veículo que está em bom estado, mas que ele pretende
trocar por um mais novo dali a cerca de dois anos. Ele considera que uma
quantia de R$60.000,00 será o suficiente para adquirir um veículo
adequado dali há dois anos. Estima que conseguirá vender seu veículo
atual por cerca de R$20.000,00 e está disposto a retirar R$5.000,00 da
poupança de emergência para ajudar com a compra. Fazendo as contas ele
conclui que precisará juntar cerca de R$35.000,00 em dois anos, o que dá
algo próximo de R$1.460,00 por mês.
Paulo considera que consegue fazer um esforço e juntar R$1.000,00 por
mês. Para atingir seu objetivo Paulo teria que encontrar uma aplicação
com taxa de 1,1% a.m. Difícil de conseguir.
Como vai fazer aplicações todos os meses, Paulo não conseguirá entrar
na menor alíquota de IR. que ocorre após dois anos com o capital investido.
Ele terá que focar somente nas aplicações isentas de IR. Seu banco
disponibiliza as opções de investir na Poupança, LCI, LCA ou CRI isentos de
imposto.
Com seu capital inicial de R$5.000,00 Paulo não conseguirá aplicar em
LCI, LCA ou CRI do seu banco e ele não está interessado em arriscar em
bancos pequenos. Além disso, nunca se sabe, se ele for demitido vai querer
usar o dinheiro que vinha juntando, precisará de liquidez imediata. Restou
a poupança.
As perspectivas não parecem boas para Paulo e ele já começa a ver seu
futuro carro desaparecendo no horizonte de seus sonhos.
Paulo não está muito animado.
Naquela época a taxa SELIC estava em 12% a.a. e vinha aumentando
seguidamente devido à economia derrapante. Paulo sabe que com a SELIC
nesse patamar a poupança rende 0,5% a.m. mais o valor da TR e a
perspectiva da SELIC manter-se nos dois dígitos ao ano era grande.
Paulo faz uma simulação, considerando uma taxa de 0,6 a.m. para a
poupança, e vê que com a sua estratégia, teria ao final de dois anos cerca
de R$32.600,00.
Uma pontada de esperança tranquiliza o coração agonizante de Paulo e o
carro volta a tomar forma em sua mente. Afinal, se ele não utilizar sua
reserva de emergência nesse período de dois anos, ainda terá R$10.000,00
e poderá completar a diferença. Ou quem sabe, aguardar mais uns dois
meses e não precisa utilizar dinheiro restante em sua reserva.
Então ele se lembra que sua reserva de emergência também está na
poupança e ele não vai fazer outra conta só para o carro, o dinheiro dos
aportes mensais irá para a mesma poupança. Isso mudará o montante
inicial do investimento. Paulo recalcula, agora considerando os
R$15.000,00 como capital inicial. Obtém o resultado de cerca de
R$44.200,00 ao final de dois anos.

Paulo fez as contas e viu que conseguirá comprar seu carro!


Se ele tirar os R$35.000,00 de que precisa, ainda sobrarão R$9.200,00
que é um pouco abaixo do valor de R$10.000,00 que ele se propôs a
manter em sua reserva. Mais um mês juntando os R$1.000,00 e ele
voltaria a ter sua reserva no patamar adequado.
Paulo avalia os possíveis riscos. Ele sabe que a poupança não consegue
proteger seu dinheiro da inflação, mas em sua estimativa de R$60.000,00
ele já considerou a inflação do carro que desejará comprar dali a dois anos.
Ele sabe que, apesar de se sentir seguro no emprego, nada é definitivo e
pode ser que ele seja demitido. Neste caso o dinheiro estará acessível na
poupança.
Paulo ainda avalia a possibilidade de não conseguir manter os aportes
mensais de R$1.000,00. Se for o caso, ele conclui que basta juntar por um
pouco mais de tempo ou então usar uma fatia maior do capital de
emergência, se comprometendo a complementá-lo mais tarde.
A fim de tranquilizar-se psicologicamente para o esforço de economia
vindouro, ele reflete consigo mesmo que se comprasse o carro agora,
pegando emprestados os 35.000,00 para pagamento em 60 meses a uma
taxa modesta de 1% a.m., Paulo teria que pagar quase R$800,00 mensais
pelos próximos 5 anos e ao final teria entregue à concessionária mais de
R$47.000,00.

No seu caso, diferente do Paulo, pode ser que você não tenha nenhum
objetivo em mente mas tenha dinheiro em mãos para ser investido. Se
você pretende aplicar no mercado financeiro, o primeiro passo é decidir se
você pretende utilizar o dinheiro no futuro. Se você não sabe ou tem
dúvidas, o melhor é ficar longe da renda variável e focar nas opções de
renda fixa.
A segunda estória trata do que fazer quando se recebe uma quantia
grande de dinheiro de uma só vez.

ESTÓRIA DOIS

Pedro Travori é um funcionário público que se esforça para terminar o


mês sem dívidas no banco. Ele é casado e sua mulher recebe a renda de
aluguéis de alguns imóveis que sua família aluga. A família Travori nunca
fez um planejamento financeiro e ninguém se interessa pelo dinheiro,
preferindo gastar seu tempo encontrando maneiras de como gastá-lo com
festas ou trocando de carro.
Certo dia, o sogro de Pedro morre e ao final da partilha da herança sua
esposa fica com o direito à metade de um imóvel que será vendido. O
valor estimado pelo advogado da parte da esposa é de cerca de
R$400.000,00. A família nunca teve tanto dinheiro em mãos de uma vez só
e não sabe o que fazer. O advogado recomenda investir em LCA.
Pedro acha que chegou a hora de se preocupar um pouco com o dinheiro
e resolve perguntar a um amigo, grande entusiasta do mercado financeiro,
o que ele deveria fazer.

A esposa de Pedro recebeu uma boa grana!


Certo dia você recebe uma ligação de Pedro que lhe explica a situação.
A primeira pergunta que você faz é: Pedro, vocês pretendem usar esse
dinheiro no futuro?
Pedro responde que não sabe.
Você então comenta que Pedro deve analisar esta questão. Se eles têm
planos de trocar de casa, investir em imóveis, utilizar o dinheiro para
comprar alguma coisa ou se a família ficará confortável em aplicar o
dinheiro apenas com o objetivo de receber a renda do investimento e não
se preocupar com o valor do principal.
Pedro conclui que provavelmente irão utilizar o dinheiro, só não sabe
quando.
Com Pedro decidido, você já pode mostrar a ele possíveis opções do que
fazer com o dinheiro. O que você diria?
Sabendo que o Pedro pretende utilizar o dinheiro algum dia, você não
pode recomendar o investimento em Renda Variável. Se no dia em que ele
vender suas ações, visando usar seu dinheiro, for o dia em que ocorrer a
maior queda da história na Bolsa de Valores e Pedro conseguir só cem mil
dos quatrocentos que tinha investido no início, certamente você e sua
família serão amaldiçoados pelas próximas dez gerações.
Resta a renda fixa.
De início você já poderia explicar ao Pedro que R$400.000,00
ultrapassam o valor coberto pelo Fundo Garantidor de Crédito e seria um
risco investir tudo em uma única instituição. No entanto, você sabe que
aportes maiores resultam nos bancos oferecendo rendimentos melhores. Se
Pedro preferir investir tudo no mesmo lugar, que pelo menos o faça em um
banco grande e sólido.
Como ele não sabe quando precisará do dinheiro, é importante estar
atento às características de liquidez do investimento que escolher, para
que consiga tirar o dinheiro a qualquer momento sem incorrer em perdas.
Sem prazo definido é preciso estar atento com os investimentos no
Tesouro Direto. A melhor opção seria o título Tesouro SELIC (LFT), pois o
preço destes títulos não varia para baixo antes do vencimento.
Aplicações em LCI ou LCA podem ser vantajosas em relação ao Tesouro
Direto porque não são tributadas com imposto de renda principalmente
para prazos menores de dois anos.
O ideal seria que Pedro diversificasse. Inicialmente constituindo uma
reserva de emergência na poupança e depois procurando investimentos
isentos de IR, com boas taxas, em instituições financeiras confiáveis,
tomando o cuidado de evitar ultrapassar o valor do FGC. O que sobrasse,
investiria no Tesouro Direto nos títulos Tesouro SELIC.

Se você possui grandes quantias de dinheiro e quer investir, o primeiro


passo é traçar seus objetivos. Como sempre, caso você não tenha certeza
se vai usar ou não o dinheiro é sempre bom evitar a renda variável. Faça
sempre uma reserva de emergência em investimentos com alta liquidez.
Utilize o grande valor de capital que você tenha disponível para conseguir
vantagens e melhores taxas, mas nunca deixe de diversificar.
Acompanhe agora a terceira estória.
ESTÓRIA TRÊS

Peter Travis é um funcionário público que ganha em torno de R$6.000,00


por mês. Chegar até este ponto não foi fácil. Anos de estudo e dedicação
foram precisos para passar no concurso e mais alguns para se estabilizar
no emprego.
Peter nunca foi de gastar mais do que ganhou, sempre juntando um
pouco. Com o tempo começou a investir nos fundos que seu banco
disponibilizava, sem estudar as coisas muito a fundo, mas esperando
rendimentos melhores. Sempre teve certo interesse em investir em ações,
mas considerava melhor não se aventurar com essas coisas para não se
sobrecarregar. Peter era dessas pessoas que gostam de fazer o melhor em
tudo o que fazem e ele sabia que a renda variável abriria muitas portas
para o desconhecido, mas naquele momento tinha que se concentrar em se
estabilizar no emprego. Para não dizer que não estava arriscando, ele
também investiu um pouco em fundo de ações daqueles que ficam em
células vermelhas na classificação de risco do banco.
O tempo passou, os fundos não renderam o que ele esperava e havia um
tempo sobrando nas horas de folga, por que não dar uma olhada nesse
negócio de ações?
Começou a estudar sobre as ações e o mercado de renda variável.
Interessado por desafios foi atraído pela especulação, mas sempre foi
precavido e começou devagar e aos poucos.
Com o tempo concluiu que para viver de especulação seria preciso
muito dinheiro, muito tempo, muita sorte e muita habilidade, mais do que
seu trabalho poderia lhe permitir. O tempo dedicado para análise do
mercado diariamente, no entanto foi bom para amaciá-lo e Peter se tornou
imune ao efeito da variação de preços. Quedas de 5% alardeadas pela
mídia não lhe impressionavam pois já tinha visto dezenas de vezes ações
que caíam 5% num dia, só para, no resto da semana, subir 10%.
Dedicou-se ao estudo da análise fundamentalista e a ideia de que a
riqueza consiste em aumento de patrimônio e investimento em valor
tomou forma em sua mente. Estudou sobre a variação dos preços no longo
prazo e viu que o preço das ações acompanha o valor das empresas no
longo prazo e que o mercado acionário tem a característica de estar
sempre subindo, refletindo o crescimento da riqueza produzida pelo ser
humano. Peter concluiu que se havia um investimento ideal para o longo
prazo, este investimento seria em ações.
Peter sabia que a forma mais rápida de tornar-se rico é ganhando mais
dinheiro, no entanto em seu trabalho, com exceção das eventuais correções
de salário, para se ganhar mais dinheiro, só sendo promovido, e as
promoções eram por tempo de serviço. Em outras palavras, trabalhar mais
não iria fazê-lo ganhar mais. Investir em ações poderia aumentar sua renda
e seu patrimônio. Gostava do que fazia e não queria sair do trabalho. A
estabilidade lhe deixava bem à vontade para investir em ações sem medo
de perder. Ele sabia que estudar ações significa estudar empresas e esse era
um conhecimento muito útil num país capitalista, onde as empresas são as
grandes geradoras de riqueza.
Peter não tinha muito tempo livre e além de tudo queria continuar se
dedicando um pouco à especulação, pois gostava do assunto. Precisava de
uma estratégia que lhe permitisse trabalhar, viver, investir e especular.
Começou a raciocinar como uma empresa. Dividiu seu patrimônio em
imobilizado e financeiro. Já tinha uma casa e um carro e para mantê-los
utilizava seu salário, fonte de renda estável. Não tinha muitos gastos e não
era de sair desperdiçando.
Na parte financeira, queria resultados rápidos e resolveu que começaria
agressivo, investindo metade de seu salário todos os meses. Como não
tinha muito conhecimento, sabia que investindo uma vez por mês poderia
comprar ações tanto na época em que elas estavam com preço alto, quanto
na que estavam com preço baixo. O mesmo valia para os títulos do
Tesouro Direto. A SELIC subia e descia como as ondas em alto mar e ele viu
o mesmo título variar de taxas que iam de IPCA +2,5 para IPCA + 6,25.
Quanto investir em renda variável e renda fixa? Sabia que a renda
variável poderia aumentar sua renda e quanto mais comprasse mais
receberia, mas ficava com um pé atrás pensando num eventual dia em que
resolvesse comprar alguma coisa e precisasse retirar o dinheiro. Começou
pensando em manter metade em cada, depois optou por ser mais agressivo
e manter 60% em renda variável e 40% em renda fixa.
Dentro da renda fixa, resolveu investir somente em títulos públicos. Iria
fazer pequenos aportes e não pretendia deixar o dinheiro aplicado por
menos de dois anos. Para qualquer emergência ele já tinha um bom
dinheiro aplicado em fundos no banco que davam liquidez imediata.
Concluiu que a melhor forma de se proteger do risco da variação da
SELIC no Tesouro Direto seria diversificando. Assim, determinou que o
objetivo seria ter 25% de títulos atrelados à taxa SELIC, 15% em títulos
prefixados e 60% em títulos atrelados à inflação. Dentro de cada categoria
iria investir em títulos com diversos vencimentos. Isto lhe daria a
possibilidade de constantemente ter títulos vencendo nos anos vindouros,
gerando capital disponível para ser investido em circunstâncias favoráveis.
Peter acreditava que, com o tempo, iria se tornar mais sábio e poderia
fazer boas escolhas. Tendo dinheiro em mãos quando os títulos vencessem
ele poderia aproveitar as oportunidades ou até mesmo usar o dinheiro para
outra coisa.
Na renda variável, Peter queria resultados imediatos. Sabia que as
empresas só pagam dividendos uma ou duas vezes por ano, mas ele
precisava de um aumento de renda para ajudá-lo em seus aportes e
desafogar o esforço. Decidiu que também investiria em FII. Dividiu sua
carteira de renda variável em 60% em ações e 40% em FII.
Começou a se dedicar a escolher empresas. Estabeleceu como critério
empresas com lucros crescentes nos últimos cinco anos, margem acima de
20%, ROE acima de 15% e somente ações ON com tag along maior que 80%
e boa liquidez. Decidiu que começaria com cinco e à medida que fosse
estudando mais, adicionaria novas empresas. Tinha em mente que deveria
ter pelo menos umas dez empresas e que deveria diversificar em empresas
grandes e estáveis, as blue chips, empresas de dividendos e empresas de
crescimento. Quanto aos fundos de investimento imobiliário, definiu que
compraria os FII mais rentáveis de cada mês, formando sua carteira aos
poucos. À medida que estudasse mais poderia avaliar essa estratégia.
Para facilitar as coisas ele montou uma tabela e foi determinando a
percentagem que cada ativo teria em sua carteira. Inicialmente definiu o
mesmo percentual para todas as ações. Nos FII como não tinha escolhido
nenhum, manteve em branco. Sua estratégia era, quando chegasse o dia de
comprar, olhar qual investimento estava com o menor percentual em
relação ao planejado e comprar mais dele.
Esperava que dessa forma, tendo escolhido boas empresas, poderia
aproveitar situações em que as ações estariam desvalorizadas, pois com o
preço da ação menor, a participação da empresa em sua carteira diminuiria
e, confiante nos resultados da empresa, ele compraria mais ações.
Mensalmente acompanharia os rendimentos recebidos dos FII e das
ações para ver se estava tendo resultado e, no início do ano seguinte,
quando as empresas divulgassem seus relatórios anuais, reavaliaria toda a
sua carteira.
E assim fez Peter, dividindo todo mês seus R$3.000,00 em fatias de 40%
e 60% e aplicando em títulos públicos, ações e FII. Por falta de critério
melhor, começou a comprar as ações em ordem alfabética.
Para os FII adotou uma estratégia de comprar os FII que tiveram os
melhores rendimentos no mês anterior em relação ao preço da cota.
Nos títulos públicos, começou comprando aqueles com vencimento mais
próximos, para depois comprar aqueles com vencimentos mais distantes.
O primeiro ano foi longo. Só para comprar ações de cada uma das cinco
empresas, foram necessários cinco meses. Na carteira de FII Peter terminou
o ano com cerca de cinco FII diferentes. No Tesouro Direto, dos seis títulos
que havia definido, conseguiu fazer dois aportes em cada.
Figura 35-1: Carteira de ações do Peter após o primeiro ano.
Figura 35-2: Carteira de FII e Tesouro Direto do Peter após o primeiro
ano.
Durante os seus estudos ao longo do ano, encontrou mais 5 empresas
que considerou boas e das quais gostaria de ter ações. Percebeu também
que algumas boas empresas estavam fora de seus critérios devido a
características de setor e que ele podia ser flexível nos critérios se fizesse
uma boa análise. Também percebeu que sua estratégia para os FII não era
das melhores, mas manteve o que tinha planejado.
Ao final do primeiro ano, sua carteira estava como na figura 35-1.
Recebeu no total R$480,00 de dividendos e juros sobre capital próprio
no ano.
Em rendimentos de FII, no total, recebeu R$320,00. Houve também uma
amortização do FIIE11B no valor de R$140,00.
Não foi um bom ano para se investir. A inflação resolveu subir e o
governo optou por aumentar a taxa SELIC. A Bolsa passou os últimos quatro
meses do ano em queda e Peter percebeu que o preço das cotas dos FII se
ajustaram para baixo de forma que os rendimentos foram semelhantes ao
da taxa SELIC. Um fundo que pagava R$10,00 por mês e cuja cota valia
R$100,00 continuou pagando os mesmos R$10,00 mas o preço da cota caiu
para R$90,00.
A renda fixa também não foi muito bem. Se tivesse que tirar o dinheiro
naquela época sairia com menos do que começou no Tesouro Direto.
Como definido, era hora de rever o plano.
Não houve surpresa nas ações, todas as empresas mantiveram bons
resultados. Apenas uma delas reduziu um pouco o lucro e os múltiplos,
mas nada anormal. Decidiu que para o ano seguinte iria manter as cinco
empresas que já tinha e adicionar mais cinco. Manteria uma percentagem
igual para todas.
Peter se dedicou bastante a aprender mais sobre os FII. Percebeu que sua
estratégia não foi uma boa estratégia. Acabou comprando fundos não
muito bons e que tiveram rendimentos instáveis. Um deles inclusive
anunciou que iria se encerrar num futuro próximo e estava vendendo todos
os seus imóveis. A incerteza sobre o futuro desse fundo fez o preço da cota
despencar.
Peter aprendeu que existem os fundos de papel e os de tijolo e percebeu
que os de tijolo tinham rendimentos percentuais em relação ao preço da
cota piores do que os de papel. Mas com a queda geral do preço das cotas,
essa relação melhorou e fundos de tijolo cujos rendimentos representavam
só 0,6% ao mês do valor da cota, agora estavam pagando 0,75%. Percebeu
que os fundos de tijolo podem ser mais eficientes no longo prazo por
possuírem imóveis reais e resolveu alterar sua estratégia.
Peter estudou com mais detalhe os fundos que já tinha e resolveu mantê-
los. Apesar da grande queda do fundo que informou que iria encerrar, não
havia data concreta e o fundo ainda tinha perspectiva de pagar bons
rendimentos com a venda dos imóveis e os aluguéis restantes. Se vendesse
agora, teria um bom prejuízo. Se segurasse até o fim do fundo, ninguém
sabia o que poderia acontecer. Optou por mantê-lo na carteira, mas sem
comprar mais cotas colocando o objetivo percentual em zero. Dos outros
quatro fundos, três eram fundos de papel com aplicações que estavam
atreladas ao IPCA e ao IGP-M e outro era um fundo em Renda Mínima
Garantida (RMG), cujo prédio ainda estava em construção. Marcou o fundo
em RMG para acompanhá-lo lendo os relatórios mensais e decidiu reduzir o
seu objetivo percentual. Em seguida, resolveu que deveria investir mais
em fundos de tijolo, diversificando sua carteira. Optou por dividir, dentro
dos FII seus investimentos em 30% fundos de papel e 70% fundos de tijolo.
Como não sabia analisar muito bem os imóveis de cada fundo, optou por
três fundos de gestão ativa com vários imóveis e um fundo de Shopping
Center que por coincidência era perto do seu trabalho e que ele considerou
bem seguro, pois o shopping era excelente. Apesar desses fundos terem
rendimentos percentuais em relação ao preço da cota um pouco menores
do que os outros, Peter considerou que a segurança do investimento valia
essa troca.
Na parte de renda fixa, a única mudança a ser feita seria investir em uma
nova LFT pois a antiga tinha deixado de ser vendida pelo governo.
Provavelmente por seu vencimento ser dali a menos de dois anos.
Para facilitar as coisas, resolveu melhorar sua tabela utilizando a função
“formatação condicional” para colorir as células das colunas resultados de
verde se forem maiores que zero e vermelho se menores. Além disso,
inseriu uma nova coluna na custódia dos FII para saber se o fundo é de
tijolo (identificado por um T) ou de papel (identificado por um P).
Ao analisar seus rendimentos e dividendos, viu que recebeu no total
R$800,00. Resolveu que iria reinvestir os dividendos e manter os aportes
mensais de R$3.000,00. Estava em férias e o décimo terceiro foi suficiente
para fazer uma boa viagem e ainda começar o aporte de janeiro com
R$1.000,00 a mais.
No ano seguinte, Peter manteve o planejado e aproveitou o tempo que
sobrava para estudar melhor as técnicas para especular no mercado
financeiro. Quando tivesse um bom patrimônio, pretendia alocar uma
pequena fração, talvez 5%, para especular. Já havia treinado com uma
quantidade pequena e sabia que as taxas faziam ter prejuízo até nas
operações vencedoras. Precisaria de uma quantidade maior de capital para
compensar essa dificuldade. Enquanto isso, aproveitava para treinar e
estudar.
No final do ano sentou-se para analisar seus investimentos. Este ano
também não tinha sido grande coisa. Inflação subindo, taxa SELIC também,
Bolsa e títulos caindo. Durante as compras mensais percebeu que as cotas
dos FII só caíam. Confiante em suas análises manteve-se comprando sem
se preocupar com o preço.
Ao final do segundo ano, sua carteira estava como na figura 35-3.
O total de dividendos recebidos foi de R$1.100,00, todos foram
reaplicados na compra de mais ações. O total de rendimentos recebidos
dos FII foi de R$875,00. Tudo foi reinvestido em mais cotas de FII. Recebeu
ainda uma amortização no valor de R$100,00 do FIIE11B.
Nas ações novamente nenhuma surpresa. A maioria das empresas
apresentaram bons números. A empresa BBB3 teve uma grande
diminuição no lucro, mas foi em razão de um acontecimento não
recorrente. A empresa AAA3, que teve redução nos lucros no ano
retrasado, continuou com queda nos lucros. Aparentemente a empresa
estava sofrendo uma piora em seus negócios. Peter sente que é hora de
decidir se sai ou não da empresa, mas está inseguro pois ainda não
consegue decidir por si só se a empresa realmente está piorando ou se é
apenas um ciclo ruim. A empresa AAA3 é uma empresa de comércio
cíclico e a economia não está indo bem. Ainda assim, ele decide criar um
critério para abandonar empresas. Decide que se a empresa tiver piora nos
resultados dois anos seguidos sem nenhuma razão não recorrente, não fará
mais compras das ações daquela empresa no ano seguinte, determinando
seu objetivo percentual como 0%. Se o resultado ruim permanecer no
terceiro ano seguido e for possível concluir que realmente há uma piora na
empresa, ele venderá as ações que possui e aplicará o dinheiro em uma
empresa melhor, independente do preço da ação naquele momento.
Como adicionou 5 novas empresas, quase todos os aportes do ano foram
para essas empresas, no entanto, a carteira começa a tomar forma e a
técnica de investir na empresa que está para trás no percentual começará a
ser mais utilizada.
Figura 35-3: Carteira de ações do Peter após o segundo ano.
Figura 35-4: Carteira de FII do Peter após o segundo ano.
Figura 35-5: Carteira de títulos do Peter após o segundo ano.
Com o desenvolvimento dos seus estudos começou a prestar mais
atenção nas dívidas de suas empresas. Percebeu que no ano passado a
empresa HHH3 fez uma grande dívida para comprar outra empresa, o que
poderá resultar em melhores resultados no futuro. Como não sabe o que
vai acontecer, resolveu diminuir o percentual dessa ação em sua carteira,
pois prefere empresas sem dívidas. Ele divide os 10% da empresa AAA3
pelas outras empresas, reduz o objetivo da HHH3 para 7% e distribui esses
4% extras nas empresas DDD3 e FFF3 que se mostraram máquinas de
gerar lucro, sem dívida e pagando bons dividendos.
Reaplicando os dividendos durante o ano Peter já pode perceber seus
efeitos na carteira. Os dividendos totais dobraram em relação ao outro ano
e ele conseguiu investir R$1.100,00 a mais para comprar ações. Um
aumento de 7% nos seus aportes anuais em ações.
Os FII continuaram seguindo a lógica de se ajustarem à taxa SELIC em
alta e despencaram. Peter considerou como uma oportunidade, pois os
mesmos FII com os mesmos prédios e os mesmos inquilinos estavam sendo
vendidos a preços menores. A queda nas cotas não o assusta e os
rendimentos recebidos totais de R$875,00 representaram um acréscimo de
8% nos seus aportes.
O FII de sua carteira com Renda Mínima Garantida continuou pagando
rendimentos e as obras do prédio estavam seguindo o cronograma
previsto. O FII que anunciou seu fim, amortizou apenas uma pequena
quantia e continuou dando bons rendimentos, vendendo vários de seus
imóveis com lucro. Nada mudou na estratégia com esses dois fundos.
Durante o ano, descobriu alguns FII com ótimos prédios e com muito
pouca vacância, com a maioria dos contratos para vencer somente dali a
cinco anos. Decidiu adicionar mais três FII de tijolo a sua carteira para o
ano seguinte. Uma coisa diferente que aconteceu neste ano foi que um FII
que ele queria comprar custava mais por cota do que seu aporte mensal.
Solucionou este problema juntando por dois meses o dinheiro para poder
comprar uma cota daquele FII.
No final das contas, esqueceu-se de aplicar as sobras do décimo terceiro
do ano passado, tendo deixado o dinheiro na poupança. Aproveitou para
curtir mais as férias deste ano ficando em um bom hotel e jantando em
restaurantes caros. No próximo ano prometeu a si mesmo que não
esqueceria de investir o que sobrasse.
Os títulos públicos fizeram o previsto. As LFT subiram e o resto caiu de
preço. Nada que o emocionou. No ano seguinte Peter já teria uma LFT
vencendo e pingando na sua conta e tinha que decidir o que fazer com esse
dinheiro.
Concluiu que não fazia sentido ficar separando os rendimentos de FII dos
dividendos das ações para investir estes em ações e aqueles em FII. Seria
mais fácil somar tudo o que recebeu no mês com o seu aporte, calcular as
porcentagens previstas e fazer as compras. Resolveu adotar esta estratégia
para o ano seguinte.
Finalmente, analisou seus gastos com taxas e viu que eles eram bastante
significativos, às vezes representando quase 10% de uma compra. Seria
preciso pensar em uma maneira de diminuir este impacto.
E assim Peter seguiu com seus investimentos nos anos seguintes.

Observe que Peter começou seus investimentos em uma época ruim.


Recessão, economia do país andando devagar, inflação e taxa SELIC
subindo. Apesar de começar sem muito conhecimento, sabiamente focou
no controle do risco e diversificou em vários ativos e investindo pouco
dinheiro de cada vez. Mesmo com tudo andando de lado, por confiar em
suas decisões, manteve sua estratégia e seguiu comprando. Certamente
comprou mais ações e FII com bons fundamentos por um preço menor com
a mesma quantidade de dinheiro.
As crises, quando as pessoas vendem tudo em desespero ao preço que
conseguirem e não pelo preço que as coisas valem, são o melhor momento
para o investidor cabeça fria e com dinheiro na mão. Crises vão e vêm e
enquanto alguém está perdendo dinheiro, alguém está ganhando. É nas
crises que surgem muitos milionários e quem já tem dinheiro tem a chance
de ganhar muito mais.
Eventualmente, os preços voltarão a subir e seguirão os bons
fundamentos das empresas, enquanto isso, Peter vai construindo seu
patrimônio e incrementando sua receita. Focando nos dividendos e
rendimentos que recebe e confiante em suas análises, ele não se preocupa
com a variação de preço dos ativos. Ele é um investidor agressivo e numa
situação confortável. Talvez você não se encontre na mesma situação, mas
pode adaptar esta estória para a sua realidade.
Se você é como Peter e trabalha em um emprego onde não há como ter
aumento de salário, talvez você possa se dedicar a alguma atividade extra
para aumentar sua renda, quem sabe até dedicando um capital de risco
para a especulação. Se você trabalha em um lugar onde mais dedicação
poderá resultar em um salário melhor, certamente valerá mais a pena
dedicar-se ao seu trabalho. Quanto mais você ganhar, mais pode acumular
e acelerar o processo.
CONCLUSÃO

Todo este livro foi escrito tendo como base uma estratégia de investimento
que busca a independência financeira no longo prazo. Para isso, essa
estratégia tem como fundamentos:

Reinveste os rendimentos para turbinar os efeitos dos juros


compostos;
Combate aos riscos, através da diversificação de ativos, investindo
em ativos financeiros de renda variável e de renda fixa; e
Realiza a diversificação de preços e taxas de compra, através do
investimento em pequenos aportes periódicos durante um longo
período.

Esta estratégia certamente lhe proporcionará uma melhora na qualidade


de vida e, como bônus, oferece uma chance real de você se tornar rico.
Para conseguir aplicá-la você precisa antes passar pelos passos iniciais
do investidor, adquirindo uma fonte de renda relativamente estável,
gastando menos do que ganha e formando uma reserva de emergência.
Quando cumprir estes requisitos você estará pronto para investir em
Renda Variável. O investidor que não precisa se preocupar com o quanto
valem suas ações porque não está interessado no preço, mas sim nas
empresas em que investe e nos rendimentos que recebe, é o investidor que
terá mais chances de alcançar o sucesso. Do contrário, quando ver o preço
das suas ações despencar 30%, entrará em desespero vendendo tudo sem
atentar se houve piora no desempenho da empresa.
O foco da estratégia está no aumento do patrimônio. Quando você
investe em empresas, através das ações, aumentar o patrimônio não tem
nada a ver com preço de ação, mas sim em ver a empresa ganhando mais
dinheiro e passando a valer mais. O preço das ações acompanhará o
crescimento.
Investir em renda variável também exigirá mais dedicação do que outros
investimentos. Será preciso ter controle do que comprou e vendeu e fazer a
contabilidade pelo menos uma vez por mês. Milhares de pessoas gastam
um dia inteiro para comprar um calçado, semanas para comprar um carro,
meses para comprar uma casa, mas não querem gastar 1 hora por mês para
acompanhar suas ações. É uma atitude estranha se você considerar que um
trabalho bem feito em ações poderá torná-lo rico.
A estratégia deste livro simplifica as coisas, incorrendo em poucas
operações, praticamente nenhuma de venda e, portanto, um controle muito
simples de tudo.
Mesmo com o estudo e a dedicação, todos podem fazer más escolhas.
Para combater esse risco, somente a diversificação será realmente eficaz.
Diversificando em renda fixa e renda variável e dentro destas categorias,
diversificando em diversos ativos, esta estratégia protege o investidor de
seus próprios erros, dando-lhe a chance de errar pequeno e poder continuar
no jogo.
Se você investir tudo de uma vez ou fizer somente um único aporte em
um investimento, poderá entrar em uma época ruim, perdendo boas
oportunidades de taxa ou pagando caro demais. Para combater esse risco
faça aportes pequenos e periódicos durante um longo tempo, pegando
vários períodos e situações econômicas, às vezes comprando pouco e caro,
ás vezes comprando muito e barato, às vezes pegando taxas de rendimento
baixas, às vezes pegando taxas altas.
Finalmente, se os rendimentos forem consumidos, a inflação derrotará
todos os esforços e o patrimônio não crescerá. Com isso em vista, no
início, tudo o que se ganha em rendimento é reinvestido para comprar
mais ações, mais FII, mais títulos. Em pouco tempo surgirão rendimentos
que complementarão o investimento feito com o dinheiro do salário e é
possível optar por manter o valor retirado do salário e somar os
rendimentos, alavancando os aportes, ou manter o valor fixo de
investimento, reinvestindo os rendimentos e deixando de utilizar parte do
seu salário para isso. O resultado será mais dinheiro em mãos e uma
consequente melhora na qualidade de vida.
Nada é mais eficiente para torná-lo rico do que aumentar a quantidade
de dinheiro que você recebe e junta todo mês. Para isso você precisará de
tempo para se dedicar ao seu trabalho e fonte de renda. Um investidor
preocupado com seus investimentos, que não consegue dormir nervoso por
não saber o que está acontecendo com o seu dinheiro provavelmente não
conseguirá se dedicar ao seu trabalho. Através do estudo e da seleção, esta
estratégia seleciona bons investimentos e gera confiança para enfrentar
períodos de crise em que o preço das coisas cai. Além disso, sabendo da
segurança gerada pela diversificação, o investidor estará tranquilo para
desligar-se de seus investimentos e focar no seu trabalho.
Ajudando ainda mais, o tempo gasto administrando os investimentos é
reduzido, resumindo-se a poucas horas por mês basicamente para registro
das operações. Toda a estratégia e o operacional é definido no início e
revisado apenas anualmente. Durante o ano apenas segue-se o plano.
Finalmente, através do investimento gradual e constante, o investidor
terá tempo de estudar, observar e aprender, aperfeiçoando-se durante o
percurso. Mesmo dedicando-se apenas uma vez por ano para revisar suas
decisões, ainda assim ele consistentemente obterá resultados melhores e
poderá gastar menos tempo administrando seus investimentos.
Se você fizer as escolhas certas, persistir na estratégia e o mundo não
acabar, seus rendimentos serão mais do que suficientes para cobrir suas
despesas e ainda aplicar mais um pouco. Seu patrimônio terá crescido
exponencialmente. Você será rico e independente.
APÊNDICE
IMPOSTO DE RENDA

Segue um pequeno guia para orientá-lo quanto ao imposto de renda. As


informações aqui mostradas são apenas uma orientação geral do
lançamento e apuração de investimentos no mercado financeiro a ser feito
nas declarações de imposto de renda. Para ter certeza de qual é a forma
correta de preencher sua declaração, consulte os manuais da Receita
Federal ou algum profissional de sua confiança.

ATENÇÃO
As informações contidas aqui são apenas uma orientação geral. Consulte
os manuais oficiais da Receita Federal ou algum profissional antes de
fazer o preenchimento do seu imposto de renda.

IMPOSTO DE RENDA COM A VENDA DE AÇÕES OU COTAS DE


FII

A alíquota de imposto de renda que incide sobre operações no mercado à


vista com ações é de 15% sobre o lucro das operações. No entanto, só será
necessário pagar o imposto se o valor do somatório de todas as vendas de
ações que você fizer no mês, for maior que R$20.000,00.
Quem lida com renda variável, precisa, ao término de cada mês, calcular
o resultado das suas operações para poder fazer o cálculo do imposto de
renda, gerar a guia de pagamento (chamado DARF — Documento de
Arrecadação de Receitas Federais) e efetuar o pagamento.
Antes que você desista por aqui, saiba que todo esse trabalho só é
necessário para quem vende suas ações, pois, diferente de todos os
investimentos que você viu, a Receita não retém o imposto de renda na
fonte para operações de renda variável, ficando a cargo do investidor fazer
as contas. Certamente não é um incentivo, e posso arriscar que o governo
não deseja que todos fiquem ricos comprando ações, no entanto, não é
nada para fazer você perder o seu dia. Na estratégia deste livro, se você
fizer as escolhas certas e se tornar sócio de boas empresas, provavelmente
nunca venderá qualquer ação e terá uma vida tranquila usando seus
dividendos isentos de imposto.
Ainda assim, conhecer todos os aspectos relativos ao imposto de
operação com ações deixarão você tranquilo e confiante para fazer seus
investimentos, por isso, segue um exemplo prático para você compreender
o cálculo do imposto de renda para operações com ações.
Para simplificar, considere que você só faz operações com a ação de
uma empresa. Caso operasse com mais de uma, teria que fazer este
acompanhamento para cada ação.
Suponha que esta é uma planilha das operações que você realizou no
mês de janeiro:
DATA OPERAÇÃO QTD VALOR TOTAL

10/01 COMPRA AÇÕES 100 R$1,00 R$100,00


15/01 VENDA AÇÕES 100 R$2,00 R$200,00
RESULTADO: R$100,00

No dia 31 de janeiro, último dia do mês, você verificou suas operações


do mês e calculou o resultado das operações naquele mês. Você teve um
lucro de R$100,00 pois comprou 100 ações a um real e a vendeu cinco dias
depois pelo dobro do preço. Como o total de suas vendas no mês foi
inferior a R$20.000,00, não precisa pagar imposto sobre esse lucro.
Mês de fevereiro:
DATA OPERAÇÃO QTD VALOR TOTAL

05/02 COMPRA AÇÕES 1000 R$10,00 R$10.000,00


20/02 VENDA AÇÕES 1000 R$25,00 R$25.000,00
RESULTADO: R$15.000,00

Dessa vez, ao final do mês de fevereiro você teve um lucro de


R$15.000,00 com as operações com ações e o total de vendas foi de
R$25.000,00, ultrapassando o limite de R$20.000,00 da isenção. Você terá
que pagar imposto. Pagará uma alíquota de 15% sobre o valor do lucro,
que dará o valor de R$2.250,00. Como efetuar o pagamento? É preciso
preencher uma DARF, código 6015, com o valor de R$2.250,00 e efetuar o
pagamento até o último dia útil do mês subsequente. No site1 da Receita
Federal do Brasil (SICALCWEB) também é possível preencher os dados e o
programa fará a DARF para você.

Figura 1: DARF.
Preencha a DARF colocando seu nome, telefone e CPF. O campo 02,
período de apuração, é o último dia do mês que você está considerando
para cálculo do imposto, no caso do exemplo, 28/02. O código da receita é
o 6015, o campo 05, código de referência fica em branco. Na Data de
Vencimento vai o último dia do mês seguinte do mês apurado, neste caso,
31/03. Valor do principal é o valor do imposto, R$2.250,00. O campo 08,
valor da multa é só em caso de atraso no pagamento, para calculá-lo é
melhor utilizar o site da receita. Valor total é a soma do valor principal
com o valor da multa, se houver. Pague a DARF, guarde os comprovantes e
pronto.
No mês de março você tem um resultado diferente:
DATA OPERAÇÃO QTD VALOR TOTAL

01/03 COMPRA AÇÕES 1000 R$10,00 R$10.000,00


12/03 VENDA AÇÕES 1000 R$5,00 R$5.000,00
RESULTADO: -R$5.000,00

No mês de março houve um prejuízo nas operações com ações. Quando


você tem prejuízo, é preciso guardar esse valor, pois ele pode ser
contabilizado no cálculo de lucros futuros.
Resultados do mês de abril:
DATA OPERAÇÃO QTD VALOR TOTAL

02/04 COMPRA AÇÕES 1000 R$15,00 R$15.000,00


14/04 VENDA AÇÕES 1000 R$30,00 R$30.000,00
RESULTADO: R$15.000,00

No mês de abril, você contabilizou um lucro de R$15.000,00 e foram


feitas vendas totais de R$30.000,00, acima do limite de isenção de
R$20.000,00. Terá que pagar imposto sobre o lucro.
Porém, antes, você descontará o prejuízo que foi verificado em março,
no valor de R$5.000,00, do lucro de abril, resultando num lucro final de
R$10.000,00. É desse valor final que o imposto de 15% deve ser calculado,
obtendo R$1.500,00 de imposto de renda a ser pago até o último dia útil do
mês de maio.
Resultado do mês de maio:
DATA OPERAÇÃO QTD VALOR TOTAL

01/05 COMPRA AÇÕES 1000 R$20,00 R$20.000,00


14/05 VENDA AÇÕES 1000 R$20,05 R$20.050,00
RESULTADO: R$50,00

No mês de maio você vendeu mais do que R$20.000,00 e teve um lucro


de R$50,00. Deverá pagar o imposto relativos a 15% do lucro de R$50,00
no valor de R$7,50. No entanto, surge mais uma regra diferente: se o
imposto a pagar no mês for menor que R$10,00, você deve acumular o
valor com os próximos valores de imposto a serem pagos até o total
ultrapassar R$10,00. Ou seja, você terá que anotar esse valor em algum
lugar, e quando tiver um novo mês em que seja necessário pagar imposto,
somar os valores.
Mês de Junho:
DATA OPERAÇÃO QTD VALOR TOTAL

03/06 COMPRA AÇÕES 1000 R$20,00 R$20.000,00


19/06 COMPRA AÇÕES 500 R$21,15 R$10.575,00
RESULTADO:

No mês de junho não foram feitas vendas, portanto não houve lucro nem
prejuízo. Ainda assim, você deve manter um controle de suas compras
para saber o preço médio que pagou em suas ações, pois é sobre ele que
calculará futuros resultados. Observe que você comprou 1000 ações a
R$20,00 e depois comprou mais 500 a R$21,15. Como saber qual será o
lucro quando as vender?
Basta somar todo o valor investido (R$20.000,00 + R$10.575,00) e
dividi-lo pelo número total de ações compradas (1000+500). O resultado
desse cálculo será R$ 20,3833. Arredonda-se para cima somente quando a
terceira casa decimal for maior que cinco, dessa forma o seu preço médio
será 20,38.
Isto significa que, na média, você pagou R$20,38 pelas suas ações
daquela empresa específica. Este é o preço médio. Mantenha um controle
desse preço para o cálculo do resultado de futuras vendas.
Mês de Julho:
DATA OPERAÇÃO QTD VALOR TOTAL

10/07 COMPRA AÇÕES 100 R$18,00 R$1.800,00


15/07 VENDA AÇÕES 1000 R$25,00 R$25.000,00
RESULTADO: R$23.200,00

No mês de julho você comprou mais 100 ações a R$18,00 e vendeu 1000
a R$25,00. O resultado do mês foi um lucro de R$23.200, mas para o
pagamento de imposto, na verdade não foi bem isso que ocorreu.
Lembre-se que você possuía 1500 ações compradas em junho por um
preço médio de R$20,38. Ao comprar mais 100 ações por R$18,00, terá
que calcular seu novo preço médio.

O novo preço médio é de R$20,23 por ação.


No dia 15/07 vendeu 1000 ações por R$25,00, das 1600 que possuía
compradas por um preço médio de R$20,23. Qual o resultado dessa
operação?
Analise a operação raciocinando somente com uma ação: O preço médio
de uma ação era R$20,23. Vendeu essa ação por R$25,00. O resultado será
R$25,00 menos os R$20,23 do seu preço médio, resultando em R$4,77 de
lucro por ação. Como você vendeu 1000 ações, multiplique 1000 por
R$4,77 e obtenha o lucro total da operação, que foi de R$4.770,00.
Portanto, em julho, houve um lucro de R$4.770,00. Como as vendas
foram maiores que R$20.000,00 será necessário pagar o imposto. Calcule
15% desse valor, resultando em R$715,50 de imposto a ser pago.
Porém, ao preencher a DARF, lembre-se que havia R$7,50 a ser pago das
operações do mês de maio. Some os R$7,50 aos RS 715,50, e terá o valor
de R$723,00 de imposto para pagar.
Esta é a rotina do controle das operações de quem lida com renda
variável. Com a prática e os softwares adequados, torna-se atividade
rotineira e simples. Não deixe as dificuldades interferirem no seu objetivo
de enriquecer.
Para cotas de fundos de investimento imobiliário, o processo é
exatamente o mesmo, no entanto, as operações com FII são sujeitas à
alíquota de 20% e não têm isenção. Você sempre terá que pagar o imposto
caso tenha lucro. O raciocínio com o preço médio e o preenchimento da
DARF são idênticos aos da operação com ações.

DECLARAÇÃO ANUAL DO IMPOSTO DE RENDA PARA RENDA


FIXA E FUNDOS DE INVESTIMENTO
Declarar investimentos em renda fixa anualmente no imposto de renda é
mais simples porque você receberá um demonstrativo que já mostra quais
os campos e os valores a serem lançados. De forma geral, você deve
registrar o saldo que possui investido em um determinado investimento na
aba “Bens e Direitos” do programa da Receita Federal, especificando qual
é o tipo de investimento e outras informações que julgar necessário.
Os valores que receber como juros deverão ser lançados na aba
“Rendimentos isentos e não tributáveis” para aqueles isentos de Imposto
de Renda ou na aba “Rendimentos Sujeitos à tributação exclusiva” para os
que não são isentos.
POUPANÇA
Registre os rendimentos recebidos na aba “Rendimentos Isentos e não
tributáveis”, no item “08–Rendimentos de cadernetas de poupança e letras
hipotecárias”.
Será preciso colocar o seu CPF ou do seu dependente, o CNPJ da fonte que
lhe pagou os rendimentos (informado no demonstrativo, normalmente é o
do banco onde você possui a conta poupança), o nome da fonte pagadora e
o valor recebido no ano.
Figura 2: Declaração de rendimentos da Poupança.
O saldo constante na conta, registre na aba “Bens e Direitos” com o
código “41–Caderneta de Poupança”. Será preciso informar o valor
investido no dia 31 de dezembro do ano retrasado e do ano passado:
Figura 3: Declaração de investimentos na Poupança.

LCI, LCA E CRI


Registre os ganhos recebidos na aba “Rendimentos Isentos e não
tributáveis”, no item “24–Outros”. Será preciso especificar seu CPF, CNPJ da
fonte pagadora, nome da fonte pagadora e descrição do rendimento.
Registre algo como “Rendimento de LCI do Banco NOME DO BANCO”.
O saldo aplicado deve ser registrado na aba “Bens e direitos” com o
código “45–Aplicação de renda fixa (CDB, RDB e outros)”.
FUNDOS DE INVESTIMENTO
Registre os rendimentos na aba “Rendimentos Sujeitos à tributação
exclusiva”, no item “06–Rendimento de aplicações financeiras”
especificando nome e CNPJ do fundo (cada fundo possui um CNPJ) e o valor
recebido.
O saldo aplicado deve ser registrado na aba “Bens e Direitos” com o
código específico do seu fundo: “71–Fundo de curto prazo”, “72–Fundo de
Longo Prazo e Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC)”,
“74–Fundo de ações, Fundos Mútuos de Privatização, Fundos de
Investimento em Empresas Emergentes, Fundos de Investimento em
Participação e Fundos de Investimentos de Índice de Mercado...” ou “79–
Outros fundos.”.
TESOURO DIRETO
Os rendimentos recebidos devem ser lançados na aba “Rendimentos
Sujeitos à tributação exclusiva” item “06–Rendimentos de aplicações
financeiras”. Note que só haverá algum lançamento nesta aba se você teve
um título que venceu naquele ano ou se recebe os cupons semestrais.
Registre o saldo investido na aba “Bens e Direitos” com o código “45–
aplicação de renda fixa (CDB, RDB e outros)”. Faça um lançamento para
cada título. Especifique qual é o título, data de vencimento, quantidade,
corretora onde possui os títulos e o CNPJ da mesma.
Figura 4: Declaração de investimentos em Tesouro Direto.

DEBÊNTURES
Os rendimentos recebidos de debêntures não isentas, devem ser lançados
na aba “Rendimentos Sujeitos à tributação exclusiva” item “06–
Rendimentos de aplicações financeiras”. Especifique com o nome da
empresa ou conforme constar no seu informe de rendimentos.
Os rendimentos das debêntures incentivadas são registrados na aba
“Rendimentos Isentos e não tributáveis”, no item “24–Outros”. Será
preciso especificar seu CPF, CNPJ da fonte pagadora, nome da fonte
pagadora e descrição do rendimento.
O saldo investido deve ser lançado na aba “Bens e Direitos” com o
código “45–Aplicação de renda fixa (CDB, RDB e outros)”. Discrimine
informando como Debêntures seguido do nome e CNPJ da empresa e
informe o valor conforme lançado em seu informe de rendimentos.

DECLARAÇÃO ANUAL DO IMPOSTO DE RENDA PARA RENDA


VARIÁVEL

Como regra geral para o preenchimento do Imposto de Renda, você deve


registrar todo o dinheiro que recebeu, mesmo isento, e todo o patrimônio
que possui. É importante que seu patrimônio não tenha um crescimento
maior do que o total de receitas que você teve no ano, do contrário sua
declaração terá problemas.
Por isso, é importante manter um registro detalhado de tudo o que
ocorreu com suas aplicações de renda variável e descrever os eventos no
Imposto de Renda. Mesmo que você não seja obrigado a preencher a
declaração de Imposto de Renda normalmente, se você operar em ativos
da Bolsa de Valores, deverá preencher a declaração.
AÇÕES
Registre as ações que você possui em custódia na aba “Bens e Direitos”
com o item “31–Ações”. Especifique qual é a ação, ordinária ou
preferencial que possui e o nome da empresa, a quantidade e corretora
onde possui as ações. O valor a ser lançado é o valor que você pagou pelas
ações.
Você já sabe que se fizer alguma venda de ação, terá de apurar os
resultados mensalmente e pagar o imposto devido. Na declaração anual,
você deverá especificar os resultados que teve em cada tipo de ativo mês a
mês, utilizando a aba “Renda Variável” e a opção “Operações
comuns/Day-Trade”. É importante fazer esse lançamento para poder
carregar seus prejuízos para o próximo ano, ou especificar impostos que
ficaram abaixo dos R$10,00 mínimos para pagamento de DARF.

Figura 5: Declaração de ações em custódia.


Figura 6: Declaração de operações com renda variável.
Caso tenha lucros isentos com vendas abaixo de R$20.000,00, deverá
registrar na aba “Rendimentos Isentos e não tributáveis”, no item “18–
Ganhos líquidos no mercado à vista de ações em bolsas de valores...”.
Para as bonificações, registre na aba “Rendimentos Isentos e não
tributáveis”, no item “14–Incorporação de reservas ao
capital/Bonificações em ações” o valor total das ações bonificadas, que é o
número de ações recebidas vezes o valor nominal informado pela empresa:
Figura 7: Declaração de bonificações.
Caso você tenha sido bonificado com um número fracionado de ações,
32,3 por exemplo, a 0,3 ação será vendida pela própria empresa e o valor
depositado na sua conta em dinheiro. Você deverá lançar o valor em reais
recebidos com a venda das sobras no item “24–Outros”, especificando o
valor como “Venda residual de ações bonificadas NOME DA EMPRESA”.
O Desdobramento ou Agrupamento de ações apenas mudará a
quantidade de ações lançadas na aba “Bens e Direitos”.
O valor recebido como dividendo deve ser registrado na aba
“Rendimentos isentos e não tributáveis” item “05–Lucros e dividendos
recebidos pelo titular e pelo dependente”, especificando por empresa.
Para os Juros sobre Capital Próprio, registre o valor recebido na aba
“Rendimentos Sujeitos à tributação exclusiva” item “10–Juros Sobre
Capital Próprio”, especificando por empresa.
Algumas empresas pagam valores especificados como “Rendimento
sobre Juros de Capital Próprio”. Registre este valor na “Rendimentos
Sujeitos À tributação exclusiva”, item “12–Outros” especificando por
empresa e com a descrição “Rendimento sobre JCP da NOME DA
EMPRESA”.
Você verá nos informativos anuais que as empresas enviam, que alguns
valores de Juros Sobre Capital Próprio foram contabilizados pela empresa,
mas ainda não foram pagos, sendo descriminados como JCP a receber.
Registre este valor na aba “Bens e Direitos” com o código “99–Outros
bens e direitos” e especificando como “Créditos em trânsito – Juros sobre
Capital Próprio a receber – NOME DA EMPRESA – CNPJ DA
EMPRESA”:

Figura 8: JCP a receber na declaração de I.R.


Ganhos com aluguel de ação são tributados como renda fixa e retidos na
fonte. Os juros que você recebeu de aluguel devem lhe ser informados pela
sua corretora ou obtidos na sua área privada no site da BM&FBOVESPA e
serem lançados na aba “Rendimentos Sujeitos à tributação exclusiva”, no
item “06–Rendimento de aplicações financeiras”. Especifique como
“Empréstimo de ações NOME DA EMPRESA” ou “Aluguel de Ações
NOME DA EMPRESA”, com uma entrada para cada empresa em que
realizou esta operação.
FUNDOS DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO
Assim como nas ações, registre as cotas que possui em custódia na aba
“Bens e Direitos”, item “73–Fundos de Investimento Imobiliário”,
especificando a quantidade, nome do fundo, CNPJ do fundo, corretora onde
possui as cotas e o total pago pelas cotas.
Para as operações de venda que realizar com cotas de FII, você deverá
apurar o resultado mês a mês pagando a DARF quando necessário. Lembre-
se que nas operações com cotas de FII paga-se 20% de imposto sobre o
lucro e não há valor de isenção como ocorre para venda de ações.
Na declaração anual, registre o resultado de suas operações
mensalmente na aba “Renda Variável”, “Operações Fundos Invest. Imób.”.
Para subscrições, some as novas cotas a sua custódia com o preço de
aquisição das mesmas, lançando na aba “Bens e Direitos”.
Caso você negocie seus direitos de subscrição, o resultado da operação
deverá ser apurado no mês em que foi feito o negócio, assim como nas
operações com ações e cotas de FII. Não há valor de isenção.
Registre os rendimentos que receber dos seus FII na aba “Rendimentos
Isentos e não tributáveis”, item “24–Outros”, especificando para cada FII
como “Rendimento de FII–NOME DO FII” e o respectivo valor.
Para amortizações o mais conservativo é considerar como uma
“devolução do dinheiro investido” e, portanto, o valor deve ser descontado
do valor que você pagou por suas cotas, influenciando no valor que você
deve lançar na aba “Bens e Direitos” para as cotas que possui.
1 www.receita.fazenda.gov.br/pagamentos/sicalcwebnovo.htm

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