Você está na página 1de 2

I Semestre – Curso de Direito

Orientador(a): Rickson José da Silva Data: 14/10/2022


Aluno(a): Jaqueline Cardoso Sarmento

LEI 6.001 E OS CONFRONTOS COM A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988.

Em 1973 foi promulgado o Estatuto do Índio (Lei n. 6.001/73), em grande parte devido
a pressões internacionais por medidas efetivas de proteção das populações indígenas, a
mesma discute os laços entre o governo brasileiro, a sociedade e as comunidades indigenas.
Mais especificamente, o estatuto manteve um princípio do Código Civil Brasileiro de 1916,
que dizia que, como os índios eram "relativamente incapazes", eles deveriam ser atendidos
por uma organização indígena patrocinada pelo Estado (de 1910 a 1967, o Serviço de
Proteção ao índio, ou SPI; atualmente, a Fundação Nacional do índio, ou FUNAI) até que
fossem integrados a sociedade brasileira.
Ao reconhecer o direito dos índios de preservar sua própria cultura, a Constituição de
1988 rompe com essa tradição secular. Houve um afastamento do pensamento
assimilacionista, que entende o índio como uma categoria social transitoria, a ser incorporada
à comunidade nacional.
A Constituição não menciona tutela ou orgão indígenista, mas mantém a obrigação
dos Estado de salvaguardar e defender os direitos indígenas. Apesar de não abordar
explicitamente a capacidade civil, a Constituição reconheceu a capacidade processual em seu
artigo 232 ao afirmar que "os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas
para ingressar em juizo, em defesa de seus direitos e interesses". Significa que os índios
podem, inclusive, entrar em juízo contra o próprio Estado, o seu suposto tutor.
No regime de tutela especial estabelecido para os índios não há intervenção judicial,
pois a própria lei já indicou o tutor, que é um órgão vinculado ao Poder Executivo Federal e
cuja responsabilidade também escapa ao controle judicial... O exercício da tutela fica,
inevitavelmente, condicionado à política indigenista do Poder Executivo Federal. Se este
adotar alguma providência contrária aos interesses dos índios, estes ficam, praticamente, sem
defesa, pois o tutor, a quem cabe defende-los, é órgão do governo federal. Portanto, não é
cabível a concepção de tutela-incapacidade, substituída pela tutela-proteção: ao
"reconhecimento" de que fala o caput do art. 231 se soma o parágrafo primeiro, que é claro
quanto à necessidade de garantir a "reprodução física e cultural" dos indígenas, "segundo
seus usos, costumes e tradições".
Por fim, não podiam os juízes de órfãos entregar os índios confiados à sua jurisdição
a tutores ou curadores, que administrassem os seus bens, mas a empregadores ou mestres
de ofício, como expressamente determina o art. 5° da Lei. De qualquer forma, o conteúdo da
norma é de proteção, como de proteção era o conteúdo das Ordenações. Não há nestas leis
nenhuma limitação ou restrição aos direitos das pessoas, nada autoriza o entendimento de
que os índios ou índias estavam privados do pátrio poder ou qualquer outro direito.

Você também pode gostar