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Esterilização pelo calor: autoclavagem 

Básico
Publicado em 18/11/2005 
A utilização de calor em ambiente húmido é um dos métodos mais eficazes de destruição
de microrganismos.

Fig. 1 - Esterilização por calor húmido em autoclave.


A morte das células microbianas por acção do calor húmido resulta da desnaturação das
proteínas e da destabilização da membrana citoplasmática. Ocorre quando as células são
sujeitas a temperaturas superiores à temperatura máxima de crescimento dos
microrganismos em causa.
A esterilização por calor húmido é efectuada em autoclave (figura 1), que consiste numa
câmara com vapor de água saturado à pressão de 1 atm acima da pressão atmosférica, a que
corresponde, em locais ao nível do mar, uma temperatura de ebulição da água de 121ºC. No
laboratório de Microbiologia, é usual sujeitar o material a esterilizar a 121ºC (1 atm;
pressão relativa) durante 15 minutos, de modo a assegurar a morte de todas as formas de
vida bacterianas, incluindo a dos endósporos bacterianos, mais resistentes ao calor que as
células vegetativas. Contudo, o tempo necessário para se esterilizar convenientemente os
materiais, a esta temperatura, depende da natureza do material a esterilizar e/ou do seu
volume.
O calor húmido sob pressão é utilizado na esterilização de meios de cultura que não
contenham componentes termolábeis e na esterilização de material de plástico e de vidro a
utilizar nos trabalhos experimentais de Microbiologia.
Fig. 2 - Placas depois de autoclavadas.
É também usado na descontaminação de roupas e instrumentos médicos e cirúrgicos,
assim como de diversos materiais, reutilizáveis ou descartáveis, contaminados com culturas
de células viáveis, antes de serem lavados ou colocados no lixo.

Esterilização Química - Formaldeído


A esterilização por agentes químicos é essencialmente utilizada para a desinfecção e/ou
esterilização de artigos termosensiveis. É um processo não apenas utilizado para a
esterilização mas como também para a desinfecção de materiais contaminados, antes de estes
prosseguirem para a esterilização.
No caso do Formaldeído, a sua acção esterilizadora ocorre devido ao estabelecimento de
pontes de etileno ou metileno entre os radicais carboxil, amino, oxidril e sufudril de proteínas,
impedindo assim o funcionamento correcto destes compostos celulares.
Não é um procedimento recomendado visto o grau de toxicidade ser elevado, a esterilidade não
ser completamente assegurada e, em alguns casos, chegar mesmo a comprometer a integridade
do material a esterilizar. Além disso, o formaldeído perde actividade aquando da presença de
matéria orgânica.

Esterilização por calor seco


A esterilização através do calor seco pode ser alcançada pelos seguintes métodos:

Flambagem: aquece-se o material, principalmente fios de platina e


pinças, na chama do bico de gás, aquecendo-os até ao rubro. Este método
elimina apenas as formas vegetativas dos microrganismos, não sendo
portanto considerado um método de esterilização.

Incineração: é um método destrutivo para os materiais, é eficiente na


destruição de matéria orgânica e lixo hospitalar.

Raios infravermelhos: utiliza-se de lâmpadas que emitem radiação


infravermelha, essa radiação aquece a superfície exposta a uma temperatura
de cerca de 180O C.
Estufa de ar quente: constitui-se no uso de estufas elétricas. É o método
mais utilizado dentre os de esterilização por calor seco.

O uso do calor seco, por não ser penetrante como o calor úmido, requer o uso de
temperaturas muito elevadas e tempo de exposição muito prolongado, por isso este método
de esterilização só deve ser utilizado quando o contato com vapor é inadequado. Cabe
observar também que o uso de temperaturas muito elevadas pode interferir na estabilidade
de alguns materiais, como por exemplo o aço quando submetido a temperaturas muito
elevadas perde a têmpera; para outros materiais como borracha e tecidos além da
temperatura empregada ser altamente destrutiva, o poder de penetração do calor seco é
baixo, sendo assim a esterilização por este método inadequada.

Os materiais indicados para serem esterilizados por este método são instrumentos de ponta
ou de corte, que podem ser oxidados pelo vapor, vidrarias, óleos e pomadas.

Equipamentos
Como o processo de esterilização em estufas de ar quente é o método mais utilizado dentre
os de esterilização por calor seco, iremos descrever o equipamento utilizado neste método,
que é a estufa ou forno de Pasteur. Estes são equipados com um termômetro que mostra
temperatura do interior da câmara; um termostato, onde se programa a temperatura
desejada; uma lâmpada que mostra a situação de aquecimento ou a estabilização da
temperatura interna da câmara; algumas com um ventilador para promover a circulação do
ar, garantindo um aquecimento rápido e uniforme na câmara (estufas de convecção
mecânica). Não há um controlador de tempo, este controle é feito pelo operador do
aparelho.

As estufas podem ser divididas em dois tipos: as de convecção por gravidade e a de


convecção mecânica.

As estufas de convecção por gravidade possuem uma resistência elétrica na parte inferior
da câmara e um orifício na parte superior onde ocorre a drenagem do ar frio que é
empurrado pelo ar quente à medida que o ar esquenta dentro da câmara. Neste processo
qualquer obstáculo que esteja no caminho dificulta a circulação do ar, interferindo na
uniformidade da temperatura na câmara.

As estufas de convecção mecânica possuem um dispositivo que produz movimento do ar


quente, favorecendo a circulação do ar uniformemente e limitando a variação da
temperatura nos vários pontos da câmara em 1o C. Este tipo de estufa reduz o tempo
necessário para que se atinja a temperatura ideal para a esterilização.

 Mecanismo de ação
Este processo causa a destruição dos microrganismos fundamentalmente por um processo
de oxidação, ocorrendo uma desidratação progressiva do núcleo das células.

Tempo de esterilização

Tempo de Exposição *
Temperatura (o C)
 

180 30 minutos

170 1 hora

160 2 horas

150 2 horas e 30 minutos

140 3 horas

121 6 horas

Cuidados para a eficiência do processo


Higienizar convenientemente os artigos a serem esterilizados;

aquecer previamente a estufa;

utilizar embalagens adequadas;

não colocar na estufa artigos muito pesados e volumes muito grandes para
não interferir na circulação do ar, as caixas não devem conter mais de 50
peças;

evitar sobrepor artigos;

marcar o início do tempo de exposição quando o termômetro marcar a


temperatura escolhida;
evitar que o termômetro toque em algum dos artigos dentro da câmara;

não abrir a estufa durante a esterilização

Falhas no processo
Para se evitar falhas no processo deve-se observar os cuidados citados acima além de
cuidados como:

ao distribuir os artigos no interior da câmara, não deixar que toquem as


paredes do interior do equipamento, deixar também um espaço entre os
materiais, para favorecer a circulação do ar;

o invólucro deve ser adequado para este tipo de esterilização e para o


material a ser esterilizado. As embalagens mais utilizadas são as caixas
metálicas, papel alumínio e frascos de vidro refratário;

os artigos a serem esterilizados devem possuir boa condutividade térmica.


Como já foi mencionado, materiais não termorresistentes não devem ser
esterilizados por este método, como os tecidos, borrachas e papéis;

o equipamento deve ser calibrado e validado. O fabricante precisa


informar qual o ponto mais frio da câmara. A esterilização é eficiente
quando neste ponto a temperatura é atingida, é necessário portanto que os
testes com os indicadores biológicos sejam realizados neste local.

Esterilização

A esterilização é um processo de eliminação completa de micróbios que emprega métodos físicos, tais como
forno Pasteur, estufa e autoclave, e químicos, como óxido de etileno, glutaraldeído e formaldeído. Normalmente
são utilizadas embalagens para acondicionar os materiais durante a esterilização para evitar contaminação
posterior. Este capítulo tratará do processo de esterilização pelo calor úmido.

O uso da autoclave confere muita eficiência ao processo de esterilização, realizado através da desnaturação
protéica. No entanto, requer também bastante preparo de quem o manuseia. Os cuidados têm início com a
limpeza e secagem do material a ser esterilizado. Ele deve ser acondicionado em pacotes, tambores, caixas
metálicas com furos e vidros com tampão de algodão ou papel. Devem ser acomodados adequadamente, sem
compactação.
Recomenda-se o uso de invólucros de tecido de algodão cru, duplo, com trama têxtil adequada; papel grau
cirúrgico, papel kraft com pH 5-8 e filme de poliamida entre 50 e 100 micras de espessura.

Roupas e outros tecidos de algodão, objetos metálicos (instrumental), vidros e borracha devem ser esterilizados
em tempo de exposição que varia de 15 a 30 minutos, de acordo com a espessura dos materiais e instruções do
fabricante do aparelho.

Algumas medidas devem ser adotadas ao carregar a autoclave. Os materiais selecionados de acordo com a sua
espessura facilitam definição do ciclo de esterilização. A disposição dos materiais não pode prejudicar a
circulação do vapor. Convém manter espaço para circulação do vapor em toda superfície dos pacotes. As dobras
dos pacotes de tecido ou papel devem ser colocadas para baixo, a fim de facilitar a penetração do vapor. Evite
encostar pacotes na superfície lateral ou posterior do parelho. Os objetos côncavos têm de ser dispostos com a
boca virada para baixo, preferencialmente.

Confira as condições do pacote. Ele tem de estar bem vedado, mas não pode apertar o conteúdo. Tem de estar
sem furos e remendos. É importante verificar também se não há muita mistura de materiais em seu interior. Não
sobrecarregue a autoclave. Usar apenas dois terços da capacidade do aparelho em cada ciclo de esterilização.

Após a esterilização, o material deve ser guardado em local limpo. Vestígios de umidade no pacote revelam
deficiência no processo. Pode ser defeito do aparelho ou inobservância, pelo usuário, do tempo correto de
secagem. Se isto ocorrer, repita a operação. O material deve ser reutilizado num período de 24 horas. Se a
secagem obedeceu os procedimentos corretos, pode-se obedecer o período de armazenamento recomendado
pelo fabricante.

Existem certos macetes para assegurar que a esterilização foi bem feita. Fitas termossensíveis possibilitam
confirmam a exposição às temperaturas desejadas. Cronômetros para acompanhar o tempo de exposição ao
calor são muito úteis para tirar dúvidas quanto ao desempenho do aparelho. Recomenda-se ainda testes
biológicos mensais com o bacillus stearothermophylus na primeira carga do dia e ao término de todas as
manutenções realizadas.

A manutenção e limpeza da autoclave prolonga a vida útil do aparelho e garante níveis mínimos de
biossegurança durante a operação. A rotina de limpeza da autoclave deve ser diária, antes da primeira
esterilização. Use sabão neutro e esponja.

Atenção
A autoclave deve permanecer bem fechada durante a esterilização para evitar o risco de acidentes graves (as
tampas podem se soltar violentamente). Nunca tente abrir a tampa da autoclave enquanto houver pressão. O
vapor da despressurização pode provocar queimaduras. Cuidado. Caso haja queda de energia, o ciclo será
interrompido automaticamente. Complete novamente o nível da água e reinicie o programa.

Confira, no próximo número, dicas de esterilização pelo calor seco.

Características dos materiais utilizados para invólucros


e sua adequação ao processo de esterilização

Material Estufa
Autoclave
Campo de algodão cru, duplo Sim Não
Papel kraft Sim Não

Papel alumínio Não Sim

Poliamida Sim Não

Papel grau cirúrgico Sim Não

Caixa de alumínio ou inox fechada Não Sim

Caixa de alumínio ou inox perfurada e


Sim Não
envolvida com papel ou tecido

Vidro tampado com bucha de algodão


Sim Sim
hidrófilo

Tempos mínimos de exposição (em minutos) para esterilização de


materiais, pela autoclave e forno, segundo a temperatura e o tipo de
material

Processo de
Observaçõe Forno Observações
Esterilização Autoclave
s
Alto
Material Gravidade Gravidade Vácuo 170º
121º 132º 132º -

30’ 15’ 4’ Embrulhados - -


Roupas em campos de
tecido, ou papel
grau cirúrgico.

Embrulhados
Material de individualmente
borracha (luvas, em campo de
drenos,
15’ 10’ 4’
tecido, papel
- -
catéteres) kraft, ou grau
cirúrgico.

Acondicionados
em caixa
metálica
perfurada ou Acondicionados
Instrumentos
30’ 15’ 4’ embrulhados em 60’ em caixas
metálicos
campo de metálicas
tecido, papel fechadas
krafty ou grau
cirúrgico.

Montadas em Montadas em
tubos de vidro tubos de vidro
Agulhas 30’ 15’ 4’ 60’
com tampa de com tampa de
algodão hidrófilo algodão

Montadas em
gaze e
embrulhadas em Acondicionadas
Agulhas de
30’ 15’ 4’ campo de 60’ em caixas
sutura
tecido, papel metálicas
kraft ou grau
cirúrgico.

Desmontadas e Embrulhadas
embrulhadas em papel
individualmente alumínio,
Seringa de vidro 30’ 15’ 4’ em campo de 60’ acondicionadas
tecido, papel em caixas
kraft ou grau metálicas
cirúrgico. fechada.

Embrulhados
Embrulhadas
individualmente
em papel
em campo de
alumínio e
Instrumentos de tecido ou papel
30’ 15’ 4’ 60’ acondicionados
corte kraft
em caixas
acondicionados
metálicas
em caixas
fechadas.
perfuradas.

Frascos, balões 30’ 15’ 4’ Tampados com 60’ Tampadas com


de vidro, tubos bucha de bucha de
de ensaio algodão hidrófilo algodão e
e embrulhados colocados em
em campo de caixa metálica
tecido, papel fechada.
kraft.

Montadas e
Acondicionadas
embrulhadas em
Placas de Petri 30’ 15’ 4’ 60’ em caixas
papel kraft ou
metálicas.
grau cirúrgico.

Colocada em
Vaselina líquida frascos de vidro
e óleo
- - - 60’
- fechados ou
caixa fechada.

Líquido em Verificar se o
Frascos 75 a - - - líquido pode ser - -
250 ml 15’ - - saturado pelo
- -
500 a 1.000 ml 30’ - - vapor. Eliminar
1.500 a 2.000 40’ o ciclo de - -
- -
ml secagem. - -

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