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PARECER TÉCNICO REFERENTE AOS TALUDES NA VILA APOLONIA

1- IDENTIFICAÇÃO
Análise e posicionamento técnico referentes à estabilidade do talude entre o prédio e as
casas da Rua Vitória da Conquista, bem como riscos para estruturas e moradores, na Vila
Apolônia, Belo Horizonte.

2-
AVALIAÇÃO
Juracy Coelho Ventura – Professor de Mecânica dos Solos no CEFET-MG; Especialista em
Materiais para Construção Civil e Advogado Especializado em Responsabilidade Civil;
3 – OBJETIVO
Emitir parecer de forma a encaminhar a tomada de decisões técnicas sobre a estabilização
do talude e ações quanto às casas e moradores afetados.

4 – METODOLOGIA
Foram necessárias e realizadas duas visitas técnicas aos locais, consultas a projetistas e
executores anteriores, mais coleta e avaliação de relatos e documentos a saber:
a) Uma vistoria e visita inicial no dia 22 de dezembro de 2008 com conclusões,
sugestões e conseqüências;
b) Uma vistoria e visita no dia 05 de janeiro de 2009 com conclusões e parecer final;

Desta forma o trabalho foi desenvolvido em duas etapas, e será apresentado nesta
seqüência, sendo que primeiro se apresenta uma descrição geral do problema.

O trecho em questão é a área ocupada pelo conjunto formado pelo talude existente entre o
bloco de apartamentos em alvenaria estrutural em construção à sua montante, na Vila
Apolônia, BH, e as edificações pré-existentes à jusante. A área está localizada no encontro
da Avenida Central com a Rua Vitória da Conquista
O bloco de apartamentos se encontra em fase de acabamento, e aparência íntegra, tendo
sido informado que a fundação do mesmo é direta, em radier parabolóide.
O talude apresenta visivelmente pontos de instabilidade e movimentações, bem como
infiltrações e percolação de águas pluviais e afloramento do Lençol freático.
Já haviam ocorrido deslizamentos e a superfície do talude estava revestida com lonas
plásticas para evitar impacto direto das fortes chuvas.
As construções preexistentes no aglomerado são muito simples, e já bastante afetadas
pelo tempo e condições geológico-geotécnicas desfavoráveis, aliado tudo isto à
precaridade dos materiais, estruturas, acabamentos e manutenção.
Na Rua Vitória da Conquista existe uma galeria com um córrego canalizado e muitas
nascentes e afloramentos de água se dirigem para a via, inclusive os que nascem e
percolam do talude em questão.

Crista do talude entre o bloco e o Bloco de apts à montante em fase de


aglomerado sem proteção ou drenagem acabamento
Talude e casas a jusante – casas Afloramento do lençol com caixas
precárias e em risco coletoras artesanais

Percolação de água por baixo das casas Pé do talude com sinais de deslizamentos
e riscos de desabamento de casas

PRIMEIRA ETAPA
VISITA TÉCNICA E VISTORIA
Vistoria e visita inicial no dia 22 de dezembro de 2008, realizada com o acompanhamento
de engenheiros e técnicos da URBEL
Os funcionários da Urbel historiaram a obra e os problemas informando que as fundações
do bloco de apartamentos originalmente estavam previstas como tubulões a céu aberto,
em face das sondagens de referência, mas que as mesmas não puderam ser executadas
devido a que, durante as escavações, o Lençol freático se apresentou em cota muito
superior à prevista.
As fundações foram reprojetadas e adotou-se como solução fundações diretas por radier
parabolóide, que foram executadas.
A crista do talude está em distância segura das fundações mas foi relatado que um arrimo
de contenção e proteção, ao longo desta crista superior, recomendado pelo projetista, Sr.
Ronei Lombardi Filgueiras CREA 2761/D MG, não foi executado.
A vistoria das casas a jusante, no pé do talude, verificou a existência de danos,
deslizamentos que haviam sido contidos de forma inadequada (retirada de terra com
carrinhos de mão pelos moradores e lonas plásticas), bem como evidente situação de risco
para as habitações e pessoas.
Os moradores informaram que as casas e o talude se encontravam em equilíbrio estável a
muitos anos, e que foi agora, com as obras, a intervenção no talude, e a erosão e
carreamento da terra solta a montante que os problemas se manifestaram.

c) Avaliação
Todas as intervenções se encontram sem procedimentos adequados de preservação e
proteção, especialmente o talude e as casas que já foram afetadas e/ou atingidas.
Existem casas e pessoas expostas a risco real de desabamentos e deslizamentos de terra
e inclusive muitas crianças. Valendo também referenciar que a insalubridade das casas é
alta devido à falta de condições técnicas das moradias e ao ambiente inadequado, que foi
exacerbado pelos danos no talude e alteração das condições de permeabilidade e
percolação das águas de montante.
Uma das casas está com as fundações descalçadas completamente e outra já foi atingida
em parte por um deslizamento de terra estando na iminência de sofrer mais danos. Sendo
as maiores preocupações no momento.
5 - a – PARECER E CONCLUSÃO PARCIAL
Considerando os relatos, dados e a vistoria “in loco” realizada, temos:

1) A instabilidade e movimentação do talude é grave e tem de ser reparada com sua


contenção e estabilidade efetivada, mas tal não pode ser executado nas condições
de chuva da vistoria, em face dos riscos para as inúmeras casas e pessoas no pé e
área de risco do referido talude;
2) Deve-se proceder a imediata avaliação de risco das construções pelos órgãos de
defesa civil competentes, e tomadas imediatamente as providências determinadas
de proteção e prevenção das pessoas em risco, bem como de seu patrimônio;
3) A galeria e pavimento da Rua Vitória da Conquista, no limite da vistoria não
apresenta danos;
4) Recomenda-se a imediata proteção por muro de contenção ou similar da crista do
talude, bem como desvio das águas que por ali estão descendo;
5) Após a avaliação de risco e proteção dos cidadãos, bem como melhoria nas
condições metereológicas, nova avaliação e soluções definitivas;

Foi o parecer parcial e preliminar da primeira etapa.

SEGUNDA ETAPA
VISITA TÉCNICA E VISTORIA
Vistoria e visita no dia 05 de janeiro de 2009 realizada com o acompanhamento de
engenheiros e técnicos da URBEL, mais o Sr. Ronei Lombardi Filgueiras, projetista das
fundações do bloco de apartamentos.
Os relatórios de sondagens foram apresentados para analise, e nova vistoria foi realizada,
sendo que a intensidade das chuvas tinha diminuído no interregno.
Em uma das casas existe um arrimo de blocos de cimento preenchidos por concreto que
aparenta estabilidade e capacidade efetiva de contenção.
Os afloramentos e percolação de água haviam aumentado o que é compatível com o
levantamento e aumento de volume do lençol freático.
O grau de insalubridade das moradias havia aumentado e muito, sendo que em quase
todas ocorria infiltração de água pelos assoalhos sendo necessária sua retirada através de
processos primários de absorção com panos de limpeza e baldes, manualmente, durante
todo o dia.
A avaliação de risco havia confirmado as avaliações destes peritos e condenado uma das
casas, bem como determinado a desocupação de outra por medida de segurança, mas foi
observado na vistoria que os moradores (especialmente crianças) não haviam saído nem
sido forçadas a tanto, e que a casa condenada ainda se encontrava em balanço já que sua
fundação havia sido descalçada.

Casa descalçada com risco de Fundação exposta


desabamento

Cômodo apoiado no talude, insalubre e Ordem para desocupação neste cômodo


com risco grave para toda a casa

Infiltração e insalubridade Infiltração pelo piso e retirada contínua de


água pelos moradores
c) Avaliação
Foram apresentadas as duas sondagens realizadas que são compatíveis no aspecto do
perfil geológico-geotécnico mas discrepantes quanto à localização do NA, sendo que a
realidade já resolveu tal dúvida na medida em que as cavas de fundação encontraram
água, e a superficialidade do Lençol especialmente no talude e nos afloramentos é
evidente.
A insalubridade das casas afetadas especialmente no que toca às crianças envolvidas é
muito além do tolerável, e tal fato deve ser resolvido porque está ligado diretamente à
percolação e elevação do lençol proveniente da instabilidade do talude;
Todas as intervenções continuam sem procedimentos adequados de preservação e
proteção, especialmente o talude e as casas que já foram afetadas e/ou atingidas.
Existem casas e pessoas expostas a risco real de desabamentos e deslizamentos de terra
e inclusive muitas crianças. Valendo também referenciar que a insalubridade das casas é
alta devido à falta de condições técnicas das moradias e ao ambiente inadequado, que foi
exacerbado pelos danos no talude e alteração das condições de permeabilidade e
percolação das águas de montante.
5 - b – PARECER E CONCLUSÃO FINAL
Considerando os relatos, dados e as vistorias “in loco” realizadas, temos:

1) O bloco de apartamentos e suas fundações não sofreram danos até o momento,


mas especialmente considerando ser o mesmo de alvenaria estrutural, recomenda-
se a imediata execução de estrutura de contenção e drenagens adequadas na crista
do talude e na praça ali localizada, que já haviam sido recomendadas quando da
apresentação do projeto;
2) Deve-se proteger especialmente as casas que estão apoiadas ou muito próximas do
talude até que as condições metereológicas permitam a execução de muro de
contenção no pé do talude que é fundamental e obrigatório. Recomenda-se sua
execução por etapas escalonadas tecnicamente para reduzir o risco de
desabamentos ou movimentações excessivas;
3) O muro de arrimo preexistente em uma das casas a jusante pode ser incorporado à
solução final, devendo-se avaliar a possibilidade de a estrutura de arrimo partir dele,
já que é de se supor que ali temos a massa de solo já com chances de estabilizada;
4) Demolir a casa condenada pelo relatório de risco e no mínimo o cômodo apoiado no
talude da casa que foi determinada o deslocamento dos moradores, que deverá ser
forçado imediatamente;
6) Proceder à avaliação de risco sanitário e de saúde para as moradias situadas ao pé
do talude, pelos órgãos sanitários competentes, e tomadas imediatamente as
providências determinadas de proteção e prevenção das pessoas em risco, bem
como de seu patrimônio;
É o parecer final.

Belo Horizonte 15 de janeiro de 2009.

Juracy Coelho Ventura

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