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Reprodução, sistema genital, ontogênese


Ciclo reprodutor feminino e
métodos contraceptivos
Hamilton Haddad Junior
Maria Aparecida Visconti

4.1 Introdução
4.2 O ciclo reprodutor feminino
4.3 O controle hormonal do ciclo reprodutor feminino
4.4 Métodos contraceptivos
4.4.1 Métodos de barreira
4.4.2 Abstinência periódica
4.4.3 Métodos hormonais
4.4.4 Métodos cirúrgicos
4.4.5 Coito interrompido
4.4.6 Dispositivos intrauterinos
4.5 Conclusão
Referências

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4.1 Introdução
A produção de gametas femininos não ocorre de maneira contínua ao longo da vida repro-
dutiva da mulher, ao contrário do que ocorre com os homens. Flutuações hormonais cíclicas
desencadeiam alterações ovarianas, responsáveis pelo desenvolvimento, amadurecimento e
liberação de oócitos em ciclos com duração de aproximadamente 28 dias. Durante esse período,
modificações na parede interna do útero, também estimuladas pelas flutuações hormonais, o
preparam para uma possível gestação. As modificações uterinas provocam a menstruação quando
não ocorre a gravidez e, por isso, podem ser chamadas de ciclo menstrual ou uterino, enquanto
as modificações ovarianas identificam o ciclo ovariano. Tanto o ciclo menstrual quanto o ciclo
ovariano garantem à mulher as características fisiológicas necessárias para iniciar uma gravidez;
por isso, esse conjunto de alterações é denominado ciclo reprodutor feminino.
A regulação do ciclo reprodutivo ocorre por meio de alças de retroalimentação entre
os hormônios secretados pelos ovários, pela hipófise e pelo hipotálamo. Suas características
funcionais, bem como o controle de suas secreções, serão detalhadamente discutidos ao longo
do texto. Entretanto, vale ressaltar que modificações em suas concentrações fisiológicas podem
impedir a adequada maturação dos oócitos, inviabilizando o desenvolvimento de uma gravidez.
Por isso, métodos contraceptivos fazem uso da administração de hormônios sexuais, impedindo
ou dificultando o desenvolvimento do oócito, bem como a sua fertilização e implantação.

A seguir, discutiremos os eventos fisiológicos característicos de cada etapa do


ciclo reprodutor feminino, orientados por flutuações hormonais, e os possíveis
métodos contraceptivos associados ao ciclo reprodutor.

4.2 O ciclo reprodutor feminino


Vamos iniciar a descrição do ciclo reprodutor feminino identificando as modificações que
ocorrem nos folículos ovarianos ao longo das três fases que dividem o ciclo:
• fase folicular;
• ovulação;
• fase lútea.

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Para compreender a fase folicular, é importante lembrar que os ovários possuem, em sua
região cortical, diversos folículos em diferentes estágios de desenvolvimento (Figura 4.1).
Os folículos são constituídos de oócitos em desenvolvimento, circundados por células que
participam de sua proteção e nutrição. Essas células também secretam hormônios sexuais. Nesta
fase, considerada a primeira fase do ciclo reprodutor, ocorre o crescimento e amadurecimento
de alguns dos folículos ovarianos sob influência hormonal. No final deste período, que tem
uma duração variável (em torno de dez dias a três semanas), apenas um folículo permanece se
desenvolvendo, enquanto os demais interrompem seu desenvolvimento e sofrem morte celular,
denominada atresia.

Figura 4.1: Ilustração da histologia do ovário, contendo folículos ovarianos em diferentes estágios de desenvolvimento.
/ Fonte: modificado de Tortora, 2002.

Após a maturação completa do folículo, ocorre a ovulação, ou seja, o rompimento do folículo


e a expulsão do oócito. Posteriormente, inicia-se a última fase do ciclo ovariano, denominada
fase lútea, ou fase pós-ovulatória. Neste período, as células formadoras do folículo rompido
adquirem características bioquímicas e morfológicas necessárias para a síntese de hormônios
que participam da preparação do endométrio para uma possível gestação. Essas células passam
a ser chamadas de corpo lúteo. Caso o oócito liberado não seja fecundado e implantado, o

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corpo lúteo terá uma vida útil de 12 dias. Esta fase tem uma duração relativamente constante,
quando comparada à fase folicular, cuja duração é bastante variável. O final da fase lútea carac-
teriza o encerramento de um ciclo reprodutor e o início do próximo.
Paralelamente às alterações ovarianas, ocorrem as alterações uterinas, que constituem o ciclo
uterino ou menstrual, onde podemos identificar a:
• menstruação;
• fase proliferativa;
• fase secretória.
A menstruação marca o início do ciclo reprodutor por ser facilmente identificada e
correspondente ao início da fase folicular nos ovários. A descamação do endométrio – ou
seja, a menstruação – é causada pela atresia do corpo lúteo, que tem papel fundamental na
manutenção das células endometriais. Sua duração pode variar em torno de três a sete dias,
sendo o fluxo menstrual bastante específico para cada mulher. Após a menstruação, as células
endometriais começam a se proliferar, reconstituindo a camada celular perdida durante a
descamação do endométrio. Esta fase, denominada fase proliferativa, coincide com o período
final da fase folicular dos ovários. Após a ovulação, inicia-se a fase secretória uterina, em que
as células endometriais depositam lipídeos e glicogênio para o fornecimento de energia para
uma possível gestação. Além disso, ocorre o crescimento de novos vasos sanguíneos nessa região.
Quando ocorre a atresia do corpo lúteo – finalizando a fase lútea e iniciando a fase foli-
cular nos ovários – ocorrem também o fim da fase secretória uterina e o início de uma nova
menstruação, caracterizando o começo de um novo ciclo reprodutor.
Podemos notar que existe correspondência entre os eventos uterinos e ovarianos do ciclo
reprodutor feminino. A relação entre os ciclos se dá pelo controle hormonal a que estão
submetidos os ciclos ovariano e uterino. Essa relação é essencial para que uma eventual gestação
se estabeleça, uma vez que o útero deve estar em condições adequadas para receber um embrião
logo após a ovulação, o que possibilitará a fecundação. Vamos agora compreender o controle
hormonal do ciclo reprodutor feminino e sua influência sobre o organismo feminino.

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4.3 O controle hormonal do ciclo


reprodutor feminino
Os principais hormônios envolvidos no controle do ciclo reprodutor feminino são:
• Hormônio Liberador de Gonadotrofinas (GnRH);
• Hormônio Folículo Estimulante (FSH) e Hormônio Luteinizante (LH);
• Estrógeno e Progesterona.
O GnRH é secretado pelo hipotálamo e estimula a secreção dos hormônios FSH e LH – também
chamados gonadotrofinas – pela hipófise anterior (Figura 4.2). O FSH estimula as células da
granulosa do folículo ovariano (Figura 4.3) a secretar estrógenos, enquanto o LH estimula as células
da teca (Figura 4.3) a secretar androgênios, que serão convertidos em estrógenos e progesterona
nas células vizinhas. O Gráfico 4.1 mostra-nos a flutuação na secreção desses hormônios ao longo
do ciclo reprodutor feminino, relacionando-a com os eventos que ocorrem no útero e nos ovários.

Figura 4.2: Esquema do controle da secreção Figura 4.3: Ilustração dos folículos ovarianos com
hormonal por retroalimentação negativa e positiva. detalhe para as células da granulosa e da teca. / Fonte:
/ Fonte: modificado de Silverthorn, 2010. modificado de Silverthorn, 2010.

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Gráfico 4.1: Flutuações hormonais ao longo do ciclo reprodutor feminino e os eventos uterinos e ovarianos
relacionados. / Fonte: modificado de Silverthorn, 2010.

Veremos agora o controle intrínseco dessas secreções hormonais em detalhes e suas conse-
quências fisiológicas em cada fase do ciclo reprodutor.
Podemos observar que, no final do ciclo reprodutor, ocorre um aumento na secreção das
gonadotrofinas pela hipófise anterior. Esse aumento é responsável pelo recrutamento de
folículos ovarianos, que darão início à sua maturação sob influência do FSH, o que caracteriza
a fase folicular. O crescimento dos folículos provoca um aumento na secreção de hormônios

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esteroides pelas células foliculares. Neste período, o aumento gradual de estrógeno é bastante
evidente, principalmente na fase folicular tardia. O aumento de estrógeno inibe a secreção de
FSH e LH, bem como de GnRH, por mecanismos de retroalimentação negativa (Figura 4.2).
A diminuição da secreção de LH e FSH impede o recrutamento de novos folículos no mesmo
ciclo. Entretanto, apesar da diminuição principalmente de FSH, permanece o aumento na
secreção de estrógenos, controlada por uma alça de retroalimentação positiva, em que os estró-
genos estimulam a secreção de mais estrógenos pelas células da granulosa (Figura 4.2).
Por volta do 6º dia da fase folicular, um dos folículos
torna-se dominante, interrompendo o crescimento dos
demais folículos recrutados. Isso ocorre por meio da secre-
ção de um hormônio chamado inibina, que também inibe
a secreção de FSH pela hipófise anterior (Figura 4.4).
A diminuição de FSH, associada à secreção de inibina, causa
a parada no crescimento dos demais folículos, fazendo com
que, em geral, apenas um folículo ovule a cada ciclo.
Durante a primeira metade da fase folicular ocorre a
menstruação uterina, que dura em torno de cinco a sete dias.
Esse fluxo menstrual uterino é composto de 50 a 150 ml
de sangue, líquido tecidual, muco e células epiteliais do
endométrio. A menstruação é causada pela diminuição
dos hormônios estrógeno e, principalmente, progeste-
Figura 4.4: Esquema do controle da secreção
rona (no final da fase lútea). Essa diminuição estimula a hormonal por retroalimentação negativa e positiva.
/ Fonte: modificado de Silverthorn, 2010.
liberação de prostaglandinas, que causarão constrição das
arteríolas uterinas do endométrio, privando-o de oxigênio. Com isso, ocorre a morte das células
endometriais e a posterior descamação, chamada de menstruação. O fluxo menstrual é elimi-
nado da cavidade uterina através do colo e da vagina. Após o final da menstruação, inicia-se a
fase proliferativa no útero, quando o aumento do estrógeno secretado pelos folículos estimula
nova proliferação celular no endométrio. Além disso, ocorre o aumento da vascularização do
endométrio e de seu suprimento de nutrientes e oxigênio. O aumento de estrógenos também
causa a secreção de muco claro e viscoso pelas glândulas mucosas do colo do útero. Essa se-
creção facilita a relação sexual e a entrada de espermatozoides na cavidade uterina em um

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período próximo à ovulação, propiciando uma possível fertilização. A detecção do muco e suas
características viscosas são utilizadas por algumas mulheres para identificar o seu período fértil
próximo à ovulação. Neste período, o muco possui uma viscosidade que permite sua distensão
por alguns milímetros (Figura 4.5).

Figura 4.5: Fotografia do colo do útero contendo muco cervical à esquerda e fotografia ilustrativa da distensão do muco à direita.
/ Fonte: modificado de Aires, 2012.

Ao longo do desenvolvimento folicular ocorre o acúmulo de líquido dentro de uma cavidade


folicular denominada antro. Esse líquido contém hormônios e enzimas necessárias para a ovulação.
Pouco antes da ovulação, o aumento progressivo de estrógeno atinge um limiar, e passa a estimular
a secreção de GnRH, antes inibida por este mesmo hormônio. Ou seja, o controle do estrógeno
sobre a secreção de GnRH passa a ser uma retroalimentação positiva (Gráfico 4.1). Dessa forma,
o aumento de estrógeno leva ao aumento de GnRH, o que causa uma rápida elevação na secreção
de LH, conhecido como o pico do LH. Este pico de LH é o causador do final da maturação do
oócito e sua ovulação, que ocorre entre 16 e 24 horas após o pico.
Quando o folículo se encontra maduro, ele secreta uma enzima denominada colagenase, res-
ponsável por separar as células foliculares. Isso causa uma reação inflamatória na superfície dos
folículos, que leva à migração de leucócitos e liberação de prostaglandinas. As prostaglandinas
causam a contração de células musculares no ovário, contribuindo para a ruptura do folículo em
sua região mais frágil. Dessa maneira, o oócito e as células granulares agregadas serão expulsos
do folículo, juntamente com o líquido antral (Figura 4.6). O oócito será transportado pela
tuba uterina, onde poderá ser fecundado.

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Figura 4.6: Ilustração do rompimento folicular e expulsão do oócito envolto por células da
granulosa. / Fonte: modificado de Tortora, 2002.

Após a ovulação, as células foliculares restantes se transformarão em células lúteas sob a


influência do LH. Essas células, denominadas corpo lúteo, apresentam características secretoras
importantes para o desenvolvimento da fase lútea, bem como para a manutenção do primeiro
trimestre de uma eventual gestação. Para isso, armazenam lipídeos e glicogênio, que serão im-
portantes fontes de nutrição e energia para o embrião em desenvolvimento, além de secretar
quantidades crescentes de progesterona. Com isso, os níveis de progesterona sobem durante
a fase lútea, enquanto os níveis de estrógeno descem, apesar de ele ainda continuar sendo
secretado pelo corpo lúteo. A duração do corpo lúteo na ausência de uma gestação é de 12 dias,
com poucas variações. Por isso, a variação na duração de diferentes ciclos ocorre por causa das
variações na fase folicular (Figura 4.7).

Figura 4.7: Ilustração de ciclos reprodutores feminino com diferentes durações. / Fonte: modificado de Aires, 2012.

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Os níveis de GnRH, bem como de FSH e LH, diminuem durante a fase lútea, pois suas secreções
estão sendo inibidas pela presença da progesterona, do estrógeno e da inibina lútea (Figura 4.8).
Assim, neste período não são recrutados novos folículos, uma vez que o organismo feminino está se
preparando para uma possível gestação.
Podemos considerar a progesterona como o principal hormônio da
fase lútea. Seus efeitos causam o contínuo crescimento do endométrio,
onde as glândulas endometriais se enrolam e novos vasos são formados,
além do depósito de lipídeos e glicogênio já mencionado. Também
causam o espessamento do muco secretado pelas glândulas do colo do
útero. Esse espessamento provoca a formação de um tampão no colo do
útero, que impede a entrada de microrganismos, assim como de novos es-
permatozoides. Portanto, o útero encontra-se protegido para desenvolver
uma possível gestação.
Quando ocorrem a fecundação e a implantação do embrião no útero pre-
parado, células endometriais se modificam e iniciam a secreção do hormônio
4.8: Esquema
gonadotrofina coriônica humana (hCG), que sustenta a presença do corpo Figura do controle da secreção
lúteo. Isso faz com que o corpo lúteo permaneça íntegro, secretando seus hor- hormonal por retroalimen-
tação negativa.
mônios durante o primeiro trimestre gestacional. Entretanto, na ausência da /SFonte: modificado de
ilverthorn, 2010.

gestação, o corpo lúteo vai degenerar após 12 dias


de sua formação. Consequentemente, ocorre a queda na secreção de
estrógeno e principalmente de progesterona, que tem função funda-
mental na manutenção do endométrio. A queda na progesterona causa
vasoconstrição na camada superficial do endométrio, levando ao déficit
de oxigênio e de nutrientes para as células endometriais, que morrem e
descamam dois dias após a degeneração do corpo lúteo, formando a
menstruação. O início de uma nova menstruação caracteriza o fim da
fase lútea e o início de um novo ciclo reprodutor. Além disso, a queda
de progesterona e estrógeno no final do ciclo libera a hipófise anterior
e o hipotálamo de sua inibição, aumentando a secreção de GnRH, FSH
e LH, que participam do recrutamento de novos folículos para o início
Figura 4.9: Esquema da secreção
hormonal presente no final do de um novo ciclo (Figura 4.9 e Gráfico 4.1).
ciclo reprodutor feminino. / Fonte:
modificado de Silverthorn, 2010.

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Resumindo o que discutimos até agora, a Figura 4.10 mostra uma síntese do controle hor-
monal do ciclo reprodutor por mecanismos de retroalimentação positiva e negativa. Eles deter-
minam modificações temporalmente precisas para que a ovulação ocorra no momento em que as
demais condições do organismo feminino estejam adequadas para receber a implantação de um
futuro embrião. Além disso, podemos destacar a predominância de estrógeno na primeira metade
do ciclo e da progesterona na segunda metade.

Figura 4.10: Resumo do controle hormonal ao longo do ciclo reprodutor feminino por meio de retroalimentação.
/ Fonte: modificado de Silverthorn, 2010.

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Modificações nas concentrações adequadas desses hormônios podem dificultar e, até mesmo,
impedir a ovulação, a fecundação ou a implantação. Por essa razão, podem ser utilizadas como
métodos contraceptivos.Veremos agora os principais métodos contraceptivos existentes.

4.4 Métodos contraceptivos


Os métodos contraceptivos têm como objetivo evitar o risco de uma gestação não planejada.
Para a mulher, esses avanços garantiram grande liberdade para a sua inserção no mercado de
trabalho, para o seu comportamento sexual, bem como para o planejamento familiar. Hoje,
existem diversos métodos contraceptivos, que podemos dividir em:
• métodos de barreira;
• abstinência periódica;
• métodos hormonais;
• métodos cirúrgicos;
• coito interrompido;
• dispositivos intrauterinos.

A eficácia de cada um deles é bastante variável, sendo um dos motivos de


escolha entre eles. Além disso, a fase reprodutiva do indivíduo e também as
características fisiológicas individuais devem ser levadas em conta na escolha
do método. Por isso, a orientação médica individual é fundamental desde o
início da vida sexual ativa.

4.4.1 Métodos de barreira

Os métodos de barreira têm como finalidade impedir a entrada de espermatozoides na


cavidade uterina por meio de barreiras físicas. Esses métodos apresentam a vantagem de proteger
os indivíduos do contágio de doenças sexualmente transmissíveis. Por isso, e também pela
facilidade de uso com planejamento a curto prazo, se constituem em um dos métodos mais
utilizados em todo o mundo.

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A barreira contraceptiva utilizada pelo homem é o preservativo, também conhecido como


camisinha. Ele é feito de látex ou plástico, que envolve o pênis, isolando o sêmen do trato re-
produtor feminino. O preservativo feminino é formado por uma bolsa de plástico cilíndrica,
com dois anéis. O anel menor se encaixa no colo do útero, enquanto o maior se adapta na
genitália externa (Figura 4.11). Dessa forma, ocorre a proteção do colo uterino, da vagina e da
genitália externa feminina, impedindo o contato com o sêmen e fornecendo proteção contra
as doenças sexualmente transmissíveis.

Figura 4.11: Ilustração do


preservativo feminino e sua posição
quando colocado no sistema trato
reprodutor feminino. / Fonte:
modificado de Zugaib, 2012.

O diafragma é outro método de barreira utilizado pelas mu-


lheres. Possui a forma de um capuz côncavo, que se adapta ao colo
uterino (Figura 4.12). Sua utilização deve ser associada ao uso de
espermicidas, pois a sua eficácia é baixa, chegando a 20% de falhas
anuais. O colo uterino apresenta diferenças no tamanho e formato,
sendo necessária a escolha adequada dos diferentes tamanhos de
diafragma existentes. As desvantagens para o uso do diafragma são
possíveis infecções do trato urinário, dor pélvica, retenção urinária
e alergia ao espermicida. Entretanto, a ausência de contraindicações,
a possibilidade de uso durante a lactação e a relativa proteção contra
algumas doenças podem ser avaliadas como vantagens.
Figura 4.12: Ilustração do diafragma e sua posição quando
adaptado ao colo uterino. / Fonte: modificado de Zugaib, 2012.

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4.4.2 Abstinência periódica

A abstinência periódica, também conhecida como tabelinha, consiste na abstenção do ato


sexual durante os dias férteis da mulher. Para isso, ela deve ter ciclos reprodutivos regulares,
para poder identificar o provável dia da ovulação e evitar relações sexuais no período de três
dias antes e três dias depois da provável ovulação. Sua eficiência é variável, uma vez que o ciclo
reprodutor feminino tem irregularidades.

4.4.3 Métodos hormonais

Os métodos hormonais são largamente utilizados devido à sua grande eficácia. Além disso,
avanços significativos na anticoncepção hormonal ocorreram na década de 70, no sentido de
diminuir a quantidade de hormônios utilizados, além de combiná-los de maneira adequada
para maior eficácia e menores efeitos colaterais. Entre esses métodos, o mais utilizado é a
pílula anticoncepcional, que apresenta concentrações variáveis de estrógeno e progesterona.
A presença desses hormônios no organismo feminino inibe a secreção de GnRH pelo hipo-
tálamo, bem como de FSH e LH pela hipófise anterior, impedindo a maturação de oócitos e,
consequentemente, a sua ovulação. Além disso, a progesterona presente leva ao espessamento do
muco cervical, dificultando a entrada de espermatozoide na cavidade uterina. Modificações no
endométrio também podem ser provocadas, dificultando a instalação de uma gestação.
Os anticoncepcionais hormonais podem ser administrados por via oral (as pílulas), injetáveis,
adesivos transdérmicos, implante subdérmico e anel vaginal. A escolha entre cada um deles deve
ser feita com orientação ginecológica. Existem algumas vantagens para a utilização das pílulas de
baixa dosagem hormonal, que são as mais utilizadas nos dias de hoje. Podemos destacar entre elas:
• diminuição do fluxo e da cólica menstrual;
• controle das irregularidades menstruais;
• proteção ou tratamento contra tumores ovarianos benignos;
• proteção contra doenças mamárias benignas;
• proteção contra anemia ferropriva;
• proteção contra endometriose.

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Contudo, existem complicações e contraindicações importantes, que devem ser levadas em


consideração e discutidas com o ginecologista, como por exemplo:
• hipertensão arterial;
• distúrbios de coagulação sanguínea;
• danos nos vasos sanguíneos cerebrais;
• disfunção hepática;
• risco cardíaco aumentado para fumantes;
• risco de acidente vascular aumentado para fumantes.

4.4.4 Métodos cirúrgicos

Os métodos cirúrgicos produzem a esterilização do indivíduo, ou seja, torna-o incapaz de


se reproduzir. A esterilização cirúrgica masculina é a vasectomia, procedimento em que parte
do ducto deferente é removida. Isso impossibilita a condução dos espermatozoides até o ducto
ejaculatório e a uretra. Entretanto, os espermatozoides continuam sendo produzidos, mas são
reabsorvidos pelo organismo masculino. É importante lembrar que a vascularização testicular
permanece íntegra, não alterando os níveis circulantes de testosterona secretada pelos testículos.
Por isso, a vasectomia não altera a libido e o desempenho sexual.
Nas mulheres, a esterilização é realizada pela laqueadura tubária. Durante o procedimen-
to, as tubas são amarradas e posteriormente cortadas, como mostra a Figura 4.13. Desse modo,
os oócitos não percorrem a tuba no sentido do útero, e os espermatozoides não conseguem
encontrá-los. Anéis ou grampos podem ser utilizados nas tubas (Figura 4.14), que podem
também ser apenas amarradas (Figura 4.15), tendo nesse caso a possibilidade de reversão do
procedimento. Entretanto, existe o risco da soltura dos grampos ou da amarração, comprome-
tendo a eficácia do método. No Brasil, dos casais que optam pelo método cirúrgico, apenas um
quarto é submetido à vasectomia, ao passo que três quartos realizam a laqueadura.

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Figura 4.13: Ilustração da laqueadura tubária por meio da secção das trompas uterinas. /
Fonte: modificado de Zugaib, 2012.

Figura 4.14: Ilustração da laqueadura tubária


por meio da utilização de anéis nas trompas
uterinas. / Fonte: modificado de Zugaib, 2012.

Figura 4.15: Ilustração da laqueadura tubária por meio da amarração das trompas uterinas. /
Fonte: modificado de Zugaib, 2012.

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4.4.5 Coito interrompido

O coito interrompido ocorre com a retirada do pênis da vagina antes que ocorra a
ejaculação. Entretanto, durante o ato sexual ocorre a emissão pré-ejaculatória de líquido da
uretra, já contendo espermatozoides. Por isso, e pela dificuldade de retirar o pênis no momento
adequado, a eficácia deste método pode ser comprometida.

4.4.6 Dispositivos intrauterinos

O dispositivo intrauterino (DIU) é colocado na cavidade uterina (Figura 4.16), onde pro-
voca alterações no endométrio, impedindo a progressão do espermatozoide e a implantação do
embrião. Hoje em dia, o modelo mais utilizado libera pequenas quantidades de progestógeno
(hormônio sintético semelhante à progesterona), causando aumento da viscosidade do muco
cervical, atrofia do endométrio, inibição da ovulação e inibição da motilidade espermática.
Todos esses efeitos impedem a fecundação e a implantação, não permitindo, portanto, a gestação.

Figura 4.16: Ultrassonografia uterina para visualização do correto posicionamento do DIU.


/ Fonte: modificado de Zugaib, 2012.

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Agora é a sua vez...


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4.5 Conclusão
Discutimos aqui a sequência de eventos fisiológicos característicos do ciclo reprodutor
feminino, bem como o controle hormonal das diversas fases do ciclo ovariano e uterino, e a
relação temporal entre eles. Relacionamos as modificações uterinas e ovarianas com as variações
nos níveis de hormônios como os estrógenos, progesterona, LH e FSH. Além disso, descrevemos
alguns métodos contraceptivos, relacionando-os com a anatomofisiologia do sistema reprodutor
masculino e feminino.

Referências
Aires, M. M. (org.). Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.
Berne, R. M. et al. Fisiologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
Campbell, N. A. et al. Biologia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
Curi, R.; Procópio, J. Fisiologia Básica. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.
Guyton, A.C.; Hall, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.
Silverthorn, D. U. Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada. 5. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2010.
Tortora, G. J.; Grabowski, S. R. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 10. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2012.
Zugaib, M. Zugaib Obstetrícia. 2. ed. Barueri: Manole, 2012.

Glossário
Retroalimentação: Mecanismo pelo qual parte do sinal de saída de um sistema é transferida para a sua
entrada com o objetivo de diminuir, aumentar ou controlar a saída desse mesmo sistema.

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