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Módulo 7 - Problema 1

Allana Karine Gatinho Garcia

continuam a preparação para a gestação. Se a


gestação não ocorre, o corpo lúteo para de funcionar
1) Compreender o ciclo menstrual nas fases ovariana após cerca de duas semanas, e o ciclo ovariano é
e uterina, além de suas influências hormonais, explicando reiniciado.
o funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise- Fases do ciclo uterino (endometrial):
ovários.
2) Caracterizar os tipos e o mecanismos de ação dos 1. Menstruação: o começo da fase folicular no ovário
corresponde ao sangramento menstrual do útero;
métodos contraceptivos e relacionar com a atuação
no ciclo menstrual. 2. Fase proliferativa: a parte final da fase folicular do ovário
3) Entender a importância do planejamento familiar e corresponde à fase proliferativa no útero, durante a qual o
do direito reprodutivo. endométrio produz uma nova camada de células em
4) Caracterizar as seguintes infecções sexualmente antecipação à gestação;
transmissíveis: 3. Fase secretora: após a ovulação, os hormônios liberados
a. Sífilis pelo corpo lúteo convertem o endométrio espessado em uma
b. Cancro mole; estrutura secretora. Assim, a fase lútea do ciclo ovariano
c. Linfogranuloma venéreo; corresponde à fase secretora do ciclo uterino. Se não ocorrer
d. Donovanose; gravidez, as camadas superficiais do endométrio secretor são
e. Herpes; perdidas durante a menstruação, quando o ciclo uterino
f. HPV. inicia novamente.

Os ciclos ovariano e uterino estão sob o controle dos


hormônios GnRH (hormônio liberador de
O ciclo menstrual pode ser descrito de acordo com o gonadotropina) do hipotálamo, FSH e LH da adeno-
ciclo ovariano, pautado pelas mudanças que ocorrem hipófise (liberados em resposta ao GnRH), e estrogênio,
nos folículos ovarianos, ou pelo ciclo uterino progesterona, inibina e AMH do ovário (liberados em
(menstrual), de acordo com as mudanças que ocorrem resposta ao FSH e ao LH).
no revestimento endometrial do útero.
Durante a fase folicular do ciclo ovariano, o estrogênio
Fases do ciclo ovariano: é predominante e o pico de LH e FSH posterior causa a
1. Fase folicular: é um período de crescimento folicular ovulação; já na fase lútea, a progesterona predomina,
no ovário. Essa fase é a que tem duração mais variável, apesar de ainda haver estrogênio.
de 10 a 21 dias; O AMH (hormônio anti-mülleriano) é produzido pelos
2. Ovulação: Quando um ou mais folículos folículos ovarianos na primeira parte do ciclo e serve
amadurecem, o ovário libera o(s) ovócito(s) durante a para evitar que muitos folículos ovarianos se
ovulação; desenvolvam ao mesmo tempo.

3. Fase lútea: A fase do ciclo ovariano que segue a


ovulação é conhecida como pós-ovulatória ou fase
lútea. O segundo nome tem origem na transformação do O hipotálamo libera o GnRH, a partir do início da
folículo rompido em um corpo lúteo, assim denominado puberdade, nos núcleos arqueado e supraóptico e
devido ao pigmento amarelo e aos depósitos de apresenta um padrão cíclico de liberação do GnRH
lipídeos. O corpo lúteo secreta hormônios que (e de outros hormônios estimulantes) devido à presença
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de centros celulares tipo marcapasso. Além disso, o Também possui efeitos no sistema nervoso central,
GnRH é liberado de modo pulsátil, sendo sua onde estimula um comportamento dócil, possui
periodicidade e amplitude críticas para determinar a efeito antidepressivo e preserva a memória.
liberação correta e fisiológica do FSH e LH (a liberação Quanto ao metabolismo, estimula a deposição de
gordura no quadril e nas mamas. No sistema
pulsátil é essencial para o feedback positivo, pois uma
cardiovascular, promove aumento do HDL e
liberação constante causa inibição da liberação de
redução do LDL, o que é uma vantagem, reduzindo
FSH e LH pela adeno-hipófise). assim o risco cardiovascular. Por fim, quanto a pele e
Há comunicação direta do sistema límbico com os os pelos, os estrogênios proporcionam pele macia,
núcleos hipotalâmicos por diversas vias neuronais, o distribuição pilosa tipicamente feminina e aumento
que explica o motivo de as emoções e o estresse da resistência da pele.
interferirem no ciclo menstrual. Progesterona: envolvido na segunda fase do ciclo
O GnRH chega até a adeno-hipófise por meio do mensal, após a ovulação. No sistema reprodutor, a
sistema porta-hipofisário e desencadeia a secreção de progesterona estimula a secreção endometrial
(preparando o endométrio para a nidação caso
FSH e LH, que agem diretamente sobre os ovários,
haja fecundação), o relaxamento do miométrio, a
induzindo a maturação dos folículos e a secreção de
secreção de muco nas tubas uterinas (para
hormônios ovarianos. movimentar e nutrir o embrião e o espessamento do
O FSH e o LH se combinam a receptores muito muco cervical (pois, se já ocorreu a fecundação,
deve-se impedir a entrada de outro
específicos presentes nos ovários; esses receptores,
espermatozoide). Nas mamas, a progesterona possui
quando ativados, estimulam a secreção das células,
efeito mamogênico.
além de seu crescimento e proliferação. Quase todos os
efeitos apresentados pela presença de FSH e LH A liberação do estrogênio e da progesterona controla
resultam da ativação do sistema de segundo o eixo HHO por meio de um feedback negativo na
mensageiro do monofosfato de adenosina cíclico hipófise, inibindo o FSH e o LH, e no hipotálamo, inibindo
(AMPc). o GnRH.
A progesterona e o estrogênio são secretados pelas Os anticoncepcionais hormonais funcionam por ativarem
células ovarianas sob o estímulo do FSH e do LH, e agem o feedback negativo de modo sintético, pois simulam a
principalmente no útero, preparando-o para a progesterona e o estrogênio. Como eles são
implantação do óvulo fecundado, e na determinação percebidos como verdadeiros, o cérebro entende que
de características sexuais femininas. não é necessário produzir FSH e LH. Dessa forma, tanto
Estrogênios: estão envolvidos na primeira fase do
ciclo. No aparelho reprodutor, suas principais ações
são: produção de muco mais fluido, a fim de
favorecer o ato sexual e a penetração do
espermatozoide, para que a fecundação possa
ocorrer; também aumenta o crescimento uterino, em
especial o endométrio, crescimento das tubas
uterinas e da vagina; nas tubas uterinas, os
estrogênios promovem também o aumento da
atividade ciliar e da contração, tornando mais
fácil a movimentação. Ele também atua na mama,
desenvolvendo-a devido a seu efeito mamogênico,
e promove também a pigmentação da aréola. No
esqueleto ósseo, os estrogênios estimulam a
preservação da massa óssea (pois ativa os
osteoblastos), o crescimento e o fechamento das
epífises (ao se fecharem a menina não cresce mais).
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a ovulação quando a preparação do útero não A duração do ciclo menstrual é determinada pela variação
ocorrem). na duração da fase folicular, ou seja, o tempo necessário
para que o folículo se desenvolva e atinja sua maturidade.

1. Folículos primordiais: são gerados durante a vida fetal


e são oócitos com o desenvolvimento suspenso na
primeira parte da meiose. Folículos primordiais são
oócitos I envolvidos por uma camada única de células
foliculares achatadas (também chamadas de células da
granulosa), e estão em repouso, aguardando o estímulo
para crescer.

Fase folicular (equivalente à proliferativa)


Durante esta fase, ocorre uma sequência ordenada de
eventos, que assegura que um folículo se desenvolva e
esteja pronto para a ovulação. O resultado final desse
desenvolvimento folicular é, comumente, um único folículo
maduro viável, o qual passará pelos estágios de 2. Folículos primários: devido ao estímulo do FSH, o
folículo primordial, folículo primário, folículo pré- ovócito I começa a crescer e as células da granulosa
antral, antral e pré-ovulatório. Este processo ocorre se tornam cúbicas; assim, gera-se um folículo primário
ao longo de 10 a 14 dias. unilaminar. Nesse estágio, uma nova estrutura se forma
entre o ovócito e as células foliculares: uma delgada
camada acelular formada principalmente por
glicoproteínas denominada zona pelúcida (envoltório
transparente, acelular, glicoproteico que age como
barreira para os espermatozoides. Depois da
fertilização, ela bloqueia a poliespermia e protege o
embrião).
Conforme o estímulo de FSH prossegue, as células da
granulosa se proliferam gerando mais camadas, o que
origina o folículo primário multilaminar.
As células do estroma ovariano começam a se organizar
ao redor do folículo primário multilaminar formando a
teca interna, constituída principalmente por uma
camada celular ricamente vascularizada, e a teca
externa, constituída principalmente células do estroma
sem maiores modificações.
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As células que compõem a teca interna possuem 4. Folículos de Graaf (folículos maduros): com a
receptores para LH na membrana plasmática, e estas produção de mais fluido, gotículas individuais de líquido
células assumem características ultraestruturais de células folicular coalescem formando uma câmara única cheia
produtoras de esteroides. As células da teca interna de líquido, o antro folicular. O oócito se projeta para
produzem o hormônio sexual masculino dentro do antro formando o cúmulo oóforo, e a
androstenidiona, o qual penetra nas células da camada granulosa se organiza de modo que uma
camada granulosa, onde é convertido pela enzima camada de células circunde o ovócito no cúmulo
aromatase no estrógeno estradiol. As células da oóforo, formando a corona radiata.
camada granulosa estão separadas da teca interna
por uma espessa lâmina basal.

Folículo primário unilaminar x multilaminar CORONA


RADIATA
3. Folículos secundários (folículos antrais): são
semelhantes aos folículos primários, exceto pela Nesse momento, as células da camada granulosa se
presença de um acúmulo de líquido folicular entre as dividem em células do cúmulo oóforo e células murais
células foliculares da camada granulosa. da camada granulosa (que formam a parede do antro
folicular).
Sob a influência do FSH, o número de camadas de
células da camada granulosa aumenta, assim como o O folículo que possui a maior taxa de proliferação da
número de espaços intercelulares contendo fluido granulosa produz mais estrogênio e, consequentemente,
folicular. Este fluido, um exsudato do plasma, contém possui oócitos de melhor qualidade. Quando há a
glicosaminoglicanos, proteoglicanos e proteínas de presença de FSH, o estrogênio passa a ser o elemento
ligação a esteroides produzidas pelas células da dominante no líquido folicular. Por outro lado, na
camada granulosa. Além disso, ele contém os hormônios ausência de FSH, seja por causas naturais ou pelo uso
progesterona, estradiol, inibina, foliostatina de anticoncepcionais hormonais, o androgênio
(foliculostatina) e ativina, os quais regulam a liberação predomina; um microambiente androgênico opõe-se à
de LH e FSH. proliferação da granulosa e acarreta degeneração do
oócito, gerando a atresia folicular (morte dos folículos,
que posteriormente são fagocitados; as células da teca
se desdiferenciam e se tornam estroma).

Os estágios iniciais do desenvolvimento (até o folículo


secundário) não exigem estimulação de gonadotrofinas
e, por isso, são ditos “independentes de
gonadotrofinas”. A maturação folicular final exige a
presença de quantidades adequadas de LH e FSH na
circulação e, portanto, diz-se que é “dependente de
gonadotrofinas”.
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Ovulação Fase lútea (equivalente à secretora)


O processo da ovulação consiste na liberação do Após a ovulação, os restos de folículo de Graaf originam
conjunto de corona radiata, zona pelúcida e ovócito o corpo lúteo, que é uma glândula endócrina
para o infundíbulo da tuba uterina. Apenas um dos temporária do ovário que produz e libera os hormônios
folículos que atingiram o estágio de folículo de Graaf sexuais que sustentam o endométrio uterino.
ovulará: o folículo dominante.
Os vasos sanguíneos rompidos no processo da
Por volta do 14º dia de ciclo, o aumento do ovulação extravasam sangue para o antro folicular, o
estrógeno (produzido pelo folículo de Graaf e pelo que ocasiona um coágulo central; a estrutura resultante
folículo secundário) causa a inibição do FSH que é chamada de corpo hemorrágico, o qual é
causou a maturação dos folículos (por feedback convertido no corpo lúteo pela ação de LH, estradiol,
negativo) e também causa um pico de LH. gonadotrofina coriônica humana, prolactina e fatores
de crescimento semelhantes à insulina.
O pico de LH aumenta o fluxo sanguíneo nos ovários e
os capilares da teca externa extravasam plasma, O corpo lúteo é composto por células
causando edema; além disso, são liberadas histaminas, granulosoluteínicas e por células tecoluteínicas,
prostaglandinas e colagenase nas imediações do respectivamente células da granulosa e da teca
folículo de Graaf, e também é formada a plasmina, que modificadas. A manutenção do corpo lúteo depende
promove a proteólise que degrada a camada do LH.
granulosa e permite a liberação do ovócito.
O pico de LH também causa, logo antes da
ovulação, a continuidade da maturação do
ovócito primário: o ovócito no folículo de Graaf
reinicia a meiose que estava parada na prófase I e
termina a meiose I, dando origem a um ovócito
secundário e um corpúsculo polar. Depois, o ovócito
secundário entra na meiose II, a qual é interrompida
na metáfase. Assim, é ovulado o ovócito secundário
com divisão interrompida em metáfase I, e este só Células granulosoluteínicas: tem um grande número de
completa sua divisão quando é fertilizado. retículos endoplasmáticos, complexo de Golgi e
mitocôndrias, pois produzem e secretam progesterona e
convertem os androgênios produzidos pelas células
tecoluteínicas em estrógeno por meio da enzima
aromatase.

Pico de LH Células tecoluteínicas: secretam progesterona,


estrógenos e androgênios (hormônios que conferem
características masculinas, tal como a testosterona). A
progesterona e o estrógeno secretados causam,
respectivamente, inibição do LH e do FSH. A baixa no
FSH serve para inibir uma segunda ovulação, enquanto
a ausência de LH leva à degeneração do corpo lúteo.
No caso da fertilização do ovócito, a
gonadotrofina coriônica humana produzida pela
placenta mantém o corpo lúteo por três meses
(tornando-se o corpo lúteo da gestação, que
secreta hormônios importantes para a manutenção
da gestação).
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A medida em que o corpo lúteo se degenera e suas


células são fagocitadas por macrófagos, fibroblastos
passam a ocupar a região e produzem colágeno tipo I,
formando uma estrutura fibrosa chamada de corpo
albicans, que permanece por um tempo no ovário até
ser reabsorvido. Após a reabsorção, permanece
apenas uma pequena cicatriz na superfície do ovário.

As glândulas endometriais são o compartimento


epitelial glandular do endométrio que é contíguo ao
Refere-se à fisiologia do endométrio e as mudanças epitélio luminal. As glândulas sintetizam e segregam a
pelas quais ele passa durante as alterações hormonais maior parte das proteínas e outros componentes do
do ciclo ovariano; assim, o ciclo uterino depende dos fluido uterino. As secreções glandulares são
níveis sanguíneos de estradiol e progesterona. necessárias para a implantação do embrião.

Fase menstrual Por volta do 14º dia, quando ocorre a ovulação, a


camada funcional do endométrio já se encontra
Caracterizada pela descamação da camada completamente restaurada, com o epitélio, as glândulas,
funcional do endométrio, que ocorre porque o corpo o estroma endometrial e as artérias espiraladas
lúteo atrofia quando não há fecundação, deixando de
totalmente reconstituídos.
secretar o a progesterona e o estradiol que mantém o
endométrio espesso. Fase secretora (progestacional)
A descamação se dá devido à diminuição seguida Ocorre entre o 15º e o 28º dia do ciclo, e se
pela ausência de suprimento sanguíneo no endométrio, caracteriza pelo espessamento do endométrio devido
causando colapso das glândulas endometriais, invasão ao edema na região e ao acúmulo de glicogênio das
do estroma por leucócitos, isquemia e, por fim, necrose. glândulas endometriais intensamente enoveladas. Essa
Depois disso, o suprimento sanguíneo volta a ser fase é concomitante à fase lútea e é comandada pela
estabelecido, porém enfraquecido devido aos eventos progesterona liberada pelo corpo lúteo.
inflamatórios locais; por isso, se rompem, expelindo
Como uma fase de manutenção do endométrio e de
sangue que remove placas de endométrio e que é
propiciação de condições adequadas à viabilidade
eliminado no fluxo menstrual. O processo de
do embrião, as secreções das glândulas endometriais
descamação se prolonga por cerca de 3 a 4 dias.
consistem em um material rico em glicogênio para nutrir o
Fase proliferativa (estrogênica) embrião no período que antecede a formação da
placenta. As glândulas nessa etapa do ciclo uterino são
Se dá do 4º/5º dia até o 14º dia do ciclo. É
dilatadas e tortuosas devido à presença das secreções.
caracterizada pela reepitelização do revestimento do
endométrio e renovação da camada funcional, e
ocorre de modo concomitante à fase folicular ovariana
(os folículos ovarianos produzem estrógenos que
causam a revitalização do endométrio).
Nessa fase, a espessura endometrial ainda é
relativamente pequena, pois segue a descamação, e
as glândulas endometriais, que ainda estão sendo
reconstruídas, estão aproximadamente retilíneas e em
quantidade reduzida.
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2. Políticas públicas eficazes que assegurem esses


direitos.
No Brasil, cerca de 55% das gestações não são
planejadas (número que aumenta ainda mais entre
Os direitos reprodutivos foram incluídos como Direitos adolescentes, chegando a 90%). Para diminuir esse
Humanos na Conferência Internacional dos Direitos índice, é dever do profissional de saúde envolvido no
Humanos em Teerã, em 1968. No Brasil, o planejamento planejamento familiar buscar informar o casal acerca de
familiar foi oficialmente empregado a partir da década contracepção segura, de cuidados prévios à
de 1996, por meio da lei 9263, na qual consta que “o concepção e do fortalecimento da saúde da mulher e
planejamento familiar é direito de todo cidadão e é o da criança.
conjunto de ações e regulação da fecundidade que
Além disso, ao longo dos anos reprodutivos das
garanta direitos iguais de constituição, limitação ou
mulheres, as necessidades e os hábitos contraceptivos
aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo
sofrem mudanças, como desejo de futura gestação,
casal e é parte integrante de uma visão de atendimento
benefícios não contraceptivos dos métodos, influência
global e integral à saúde deles”.
na sexualidade, contracepção pós-aborto; devido a
Assim, o planejamento familiar corresponde ao recurso esse dinamismo, é importante o profissional de saúde ter
que visa garantir que o casal decida sobre a vida conhecimento aprofundado dos diferentes métodos
reprodutiva, o direito de escolha em ter ou não filhos, a anticoncepcionais para que possa orientar sua
quantidade de filhos e espaçamento de tempo entre as paciente na melhor escolha.
gestações, acesso aos métodos contraceptivos e pleno
exercício da sexualidade, de modo autônomo,
programado, informado e consciente.
Alguns dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres,
nesse contexto, são: A contracepção consiste em um conjunto de técnicas e
métodos físicos ou químicos que têm o propósito de
✓ Direito de decidir a quantidade de filhos e quando
impedir a gravidez; a maioria desses métodos é
tê-los;
oferecida pelo Sistema Único de Saúde.
✓ Direito de desfrutar das relações sexuais sem temor
de gravidez ou de contrair uma infecção transmitida Os métodos contraceptivos podem ser agrupados de
pela relação sexual; acordo com a efetividade que apresentam:
✓ Direito de gestar e ter o parto nas melhores
Métodos de primeira linha: mais efetivos e
condições;
caracterizados pela facilidade de uso. Esses
✓ Direito de conhecer, gostar e cuidar do corpo e dos
métodos requerem mínima motivação da usuária ou
órgãos sexuais;
intervenção e apresentam índice de gravidez não
✓ Direito a uma relação sexual sem violência ou maus-
desejada inferior a 2 em 100 durante o primeiro
tratos;
ano de uso. Proporcionam a maior duração de
✓ Direito de informação por profissional de saúde e
efeito contraceptivo e requerem o menor número
acesso aos métodos contraceptivos.
de consultas de retorno. Entre os métodos de
Nesse sentido, duas vertentes importantes do primeira linha estão dispositivos intrauterinos,
planejamento familiar consistem em: implantes contraceptivos e diversos métodos de
esterilização feminina e masculina.
1. Liberdade e autodeterminação individual para o
pleno exercício da sexualidade e da reprodução, sem Métodos de segunda linha: incluem contraceptivos
discriminação, coerção ou violência, sem interferência hormonais sistêmicos disponíveis em comprimidos
do Estado; orais (pílulas), injeção intramuscular, adesivos
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transdérmicos, anéis transvaginais ou método de Além disso, os métodos contraceptivos podem ser
lactação-amenorreia (MLA, temporário). Somados, classificados por meio dos seguintes tipos:
a taxa de fracasso esperado varia entre 3 e 9%
1. Métodos comportamentais: tabelinha (Ogino-Knaus),
durante o primeiro ano. Essa alta taxa é
temperatura basal, muco cervical (Billings), sintotérmico,
provavelmente reflexo do uso inadequado sem
coito interrompido e lactação;
nova dosagem no intervalo apropriado.
2. Métodos de barreira: preservativos masculino e
Métodos de terceira linha: a incluem métodos de
feminino (camisinha), diafragma, esponjas espermicidas;
barreira para homens e mulheres, assim como
métodos de consciência corporal, como as tabelas 3. Dispositivos intrauterinos (DIUs): DIU de cobre, SIU de
com base no ciclo menstrual. A taxa de fracasso levonorgestrel (Mirena);
esperada varia entre 10 e 20% no primeiro ano de
uso. Contudo, a eficácia aumenta com o uso 4. Contracepção hormonal: contraceptivos hormonais
consistente e correto. combinados (CHCs, incluindo pílulas contraceptivas de
uso oral, injetável mensal, adesivo transdérmico e anel
Métodos de quarta linha: fórmulas espermicidas, intravaginal) e contraceptivos apenas de
que têm taxa de fracasso alta, entre 21 e 30% no progestogênio (COPs);
primeiro ano de uso.
5. Contracepção cirúrgica: vasectomia ou ligadura
O coito interrompido, pela alta imprevisibilidade, é tubária (laqueadura ou LT);
desconsiderado como método contraceptivo.
6. Contracepção de emergência.

Critérios de elegibilidade
Servem de guia para o profissional de saúde definir,
junto à mulher, qual o método contraceptivo mais
adequado ao estado de saúde da paciente. Dessa
forma, a partir de critérios como comorbidades,
medicações em uso e antecedentes médicos, o método
pode ser ou não indicado para a paciente. Os
métodos podem ser categorizados de 1 a 4, em função
do perfil de segurança que oferecem:
1. Estado de saúde sem qualquer restrição para o uso
do método contraceptivo;
2. Estado de saúde no qual as vantagens de usar o
método superam os riscos teóricos ou comprovados;
3. Estado de saúde no qual os riscos superam as
vantagens de usar o método. o método não deve
ser usado, a menos que o profissional de saúde julgue
que a mulher pode usá-lo com segurança. Deve ser o
método de última escolha e, caso seja escolhido, um
acompanhamento mais rigoroso se faz necessário;
4. Estado de saúde que implica risco de saúde
inaceitável com o método contraceptivo
considerado, de modo que o método deve ser
totalmente desconsiderado.
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secreção. O período de abstinência vai do primeiro dia


de percepção do muco até o quarto dia de
São chamados também de métodos de abstinência percepção máxima da umidade
periódica e consistem na observação dos sinais e Sintotérmico
sintomas que caracterizam as diversas fases do ciclo
menstrual. Não são indicados na perimenopausa, O método sintotérmico combina o método da
próximo à menarca ou para mulheres com ciclos menores temperatura basal com o método do muco cervical,
que 26 dias e maiores que 32 dias. associado a sinais e sintomas que podem ocorrer
durante a ovulação, como sensibilidade mamária, dor
Tabelinha (método de Ogino-Knaus) pélvica e mudanças de humor. Nesse caso, o período
Para usar esse método, a mulher deve registrar o número de abstinência sexual vai desde o primeiro dia do ciclo
de dias de cada ciclo menstrual por, pelo menos, seis até o quarto dia após o pico das secreções cervicais
meses; caso a mulher tenha diferença de dias entre os ou o terceiro dia após a elevação da temperatura.
ciclos maior que 10 dias, esse método não é indicado. Sendo que na ocorrência do primeiro fator, deve-se o
segundo para ter relação sexual.
O período a adotar a abstinência sexual é encontrado
subtraindo 18 dias da duração do ciclo mais curto, Coito interrompido
para encontrar o primeiro dia do período fértil, e Esse método se baseia na retirada do pênis da vagina
subtraindo 11 dias do ciclo mais longo, para encontrar antes da ejaculação. Por isso, requer grande atenção
o último dia do período fértil. do homem durante o ato sexual. Esse método possui
Curva de temperatura basal altas taxas de falha (cerca de 25% ao ano), sobretudo
porque o líquido seminal pré-ejaculatório também pode
Nesse método a mulher deve-se observar as variações conter espermatozoides.
da temperatura corporal basal, buscando identificar
o provável dia de ovulação. O princípio se baseia no Lactação
fato de que após a ovulação, o aumento da Durante o aleitamento materno ocorre alterações
progesterona liberada pelo corpo lúteo atinge o centro hormonais no eixo hipotálamo-hipófise-ovário, levando
termorregulador do hipotálamo, levando ao aumento à anovulação. O método não tem contraindicações,
da temperatura corporal em 0,2 a 0,5 graus. Para utilizar desde que a amamentação seja exclusiva. No entanto,
este método, a mulher precisa verificar sua temperatura deve-se atentar ao fato de que parte das mulheres
diariamente, de preferência com o mesmo termômetro, ovulam em torno do terceiro mês de pós-parto, mesmo
no mesmo local do corpo e no mesmo horário, amamentando, o que pode reduzir a eficácia do
preferencialmente pela manhã antes de sair da cama. método.
O período de abstinência deve ser desde o primeiro
dia do ciclo menstrual até três dias após a elevação da
temperatura basal.
Preservativos (camisinha)
Muco cervical (método de Billings)
Dentre os métodos de barreira os preservativos são os
Busca-se observar as características do muco cervical mais utilizados, e existem versões de preservativos
sob ação estrogênica, durante período ovulatório. masculinos e femininos que podem ser feitos de látex ou
Nessa fase, o muco cervical torna-se filante, como clara poliuretano. Sua taxa de falha geralmente está ligada
de ovo, permitindo ao espermatozoide a sobrevivência ao uso incorreto do método.
e locomoção. Após a ovulação, sob ação
Além do efeito contraceptivo, os preservativos são o
progestágena o muco fica espesso e escasso. Para o
método mais eficaz de prevenção de ISTs e estão
uso deste método, a mulher precisa observar as
associados a redução de neoplasias do colo do útero
características do muco, examinando diariamente sua
por impedir a transmissão do HPV.
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Diafragma
Consiste em um disco de borracha ou látex, colocado
na vagina, recobrindo colo do útero para impedir a Seu índice de sucesso depende fundamentalmente da
entrada de espermatozoides. Possui vários tamanhos, paciente. Com isso, na prática seu índice de falhas
por isso, antes do início do uso, é necessária uma aumenta consideravelmente decorrente do uso
consulta com o ginecologista para ser indicado o incorreto.
tamanho mais adequado para a paciente. Geralmente Contraceptivos hormonais combinados (CHCs)
é usado em associação aos espermicidas, adquirindo
em conjunto um bom índice de efetividade. Combinam um estrógeno e um progestogênio no mesmo
método. Desse grupo fazem parte as pílulas
contraceptivas de uso oral, o injetável mensal, o
adesivo transdérmico e o anel intravaginal.
Sistema intrauterino com liberação de levonorgestrel:
Mecanismo de ação: inibição da ovulação por
Comercializado como Mirena, atua liberando supressão dos fatores liberadores de gonadotrofina
levonorgestrel a uma taxa relativamente constante de hipotalâmica, o que impede a secreção hipofisária do
20 mg/dia (a dose pequena reduz os efeitos sistêmicos). hormônio folículo-estimulante (FSH) e do hormônio
O levonorgestrel é um tipo de progestogênio sintético. luteinizante (LH). Os estrogênios suprimem a liberação
de FSH e estabilizam o endométrio impedindo a
Mecanismo de ação: transformação do ambiente
metrorragia (sangramento uterino excessivo ou fora do
uterino em um ambiente hostil aos espermatozoides,
período menstrual); os progestogênio inibem a
evitando a sua chegada até as trompas ou tendo
ovulação bloqueando o pico do LH, que permanece
efeito espermicida. Assim, o progestogênio torna o
em seus níveis basais, além de produzirem espessamento
endométrio atrófico; estimula a produção de muco
do muco cervical para retardar a passagem dos
cervical espesso que bloqueia a penetração dos
espermatozoides, tornando o endométrio desfavorável
espermatozoides no útero e talvez reduza a motilidade
à implantação.
das tubas, o que evitaria a união de óvulo e
espermatozoide.
Contraceptivos orais combinados (COCs)
DIU de cobre:
São um tipo de CHC e podem ser denominados também
Dispositivo revestido de cobre que não envolve o uso como contraceptivos orais, pílulas anticoncepcionais
de hormônios e pode permanecer no útero por até 10 ou, simplesmente, pílulas. O principal estrogênio utilizado
anos. nos COCs é o etinilestradiol, mas novas formulações
podem conter o estradiol e o valerato de estradiol,
Mecanismo de ação: por meio de ação iônica, o
que são estrogênios naturais. De acordo com o tipo de
cobre cria um ambiente hostil para o espermatozoide,
progestagênio usado, os COCs podem ser
impedindo que ele se encontre com o óvulo. Além disso,
classificados em primeira, segunda e terceira geração.
a intensa reação inflamatória local induzida dentro do
útero pelos dispositivos que contêm cobre leva à Os COCs de primeira geração são os que
ativação de lisossomos e outras ações inflamatórias que possuem levonorgestrel (progestágeno) associado
têm ação espermicida; mesmo em uma improvável a 50 mcg de etinilestradiol. Já as de segunda
possibilidade de haver fertilização, a mesma reação geração, contém o etinilestradiol em doses menores,
inflamatória passa a ser dirigida ao blastocisto e impede associado ao levonorgestrel. Se a pílula tiver
a implantação. desogestrel ou gestodeno associado ao
progestágeno, são denominadas de terceira
geração.
Alguns medicamentos como anticonvulsivantes,
antibióticos, antifúngicos e antirretrovirais estão
Allana Karine Gatinho Garcia - Medicina UEPA 2020.1 12

associados a redução da concentração dos Pílulas de progestogênio


anticoncepcionais orais, afetando a sua eficácia.
Os principais são Rifampicina, Griseofluvina, As pílulas apenas com progestogênio (também
Nelfinavir, Lopinavir, Ritonavir, Nevirapina, chamadas minipílulas) devem ser tomadas diariamente.
Barbitúricos (fenobarbital e primidona),
Mecanismo de ação: não inibem efetivamente a
Carbamazepina, Oxcarbamazepina, Felbamato,
Fenitoína e Topiramato. ovulação; sua efetividade depende mais de alterações
no muco cervical e de seus efeitos sobre o endométrio.
Injetável mensal combinado Como as alterações no muco perduram até 24 horas,
para que tenham efetividade máxima, as minipílulas
A aplicação ocorre via intramuscular no músculo devem ser tomadas no mesmo horário todos os dias.
deltoide a cada 30 dias. Os injetáveis mais utilizados
são o de valerato de estradiol com enantato de As pílulas apenas com progestogênio têm efeito
mínimo ou ausente sobre o metabolismo dos
noretisterona, e o cipionato de estradiol com acetato
carboidratos e sobre os fatores de coagulação;
de medroxiprogesterona. O sangramento menstrual
não causam nem agravam hipertensão arterial e,
ocorre a cada três semanas após o 22° dia da injeção. consequentemente, talvez sejam ideais para
mulheres com maior risco de complicações
Adesivo transdérmico cardiovasculares. Neste grupo estão também as
mulheres com história de trombose ou de enxaqueca,
Libera diariamente 20 μg de etinilestradiol e 150 μg do
além de tabagistas com mais de 35 anos de idade.
progestogênio norelgestromina, que, após metabolismo As minipílulas são adequadas às lactantes já que
hepático, se transforma em levonorgestrel. O adesivo não produzem efeito sobre a produção de leite. Por
deve ser aplicado na pele limpa, podendo ser todos esses efeitos benéficos da retirada do
colocado nas nádegas, parte externa do braço, estrógeno, em diversos casos, as minipílulas são
abdome inferior ou região superior do dorso, evitando preferidas em detrimento aos COCs; entretanto, têm
as mamas. Um novo adesivo deve ser aplicado a cada como principal desvantagem a necessidade de
semana durante três semanas, seguindo-se uma semana serem tomadas no mesmo horário todos os dias, o
que aumenta as chances de falha na contracepção.
sem adesivo para que haja descolamento do
endométrio. Desogestrel

Anel intravaginal É um COP composto por 75 μg de desogestrel que tem


a capacidade de inibir a ovulação, portanto, é mais
Trata-se de um anel flexível de polímero cujo núcleo eficaz que as minipílulas. Além disso, torna o muco
libera uma dose diária de 15 μg de etinilestradiol e 120 cervical espesso, o que dificulta a ascensão dos
μg do progestogênio etonogestrel. A inserção inicial é espermatozoides. Também pode ser indicado durante a
feita no prazo de cinco dias após o início da amamentação e tem a vantagem de poder ser tomado
menstruação e o anel é removido após três semanas, de com atraso de até 12 horas, sem comprometer a sua
modo que a paciente assim permanece durante uma eficácia.
semana para permitir que haja sangramento; a seguir, um
novo anel é inserido. Injetável trimestral
Contraceptivos apenas de progestogênio (COPs) O contraceptivo injetável trimestral geralmente é
Foram desenvolvidos contraceptivos contendo apenas utilizado em pacientes que possuem contraindicação
progestogênios para evitar os efeitos colaterais ao uso de estrogênios. Ele bloqueia a ovulação através
indesejados dos estrogênios. Os progestogênios da inibição do LH, também levando a alteração nas
podem ser administrados por diversos mecanismos, características do muco e atrofia endometrial. Além
incluindo comprimidos, injetável trimestral, implantes disso, pode levar a amenorreia e redução da
subdérmicos e dispositivos intrauterinos (Mirena). dismenorreia, TPM e câncer endometrial. Como efeitos
Allana Karine Gatinho Garcia - Medicina UEPA 2020.1 13

adversos, pode estar presente o sangramento deve também ter o consentimento do cônjuge e se
intermenstrual, edema, ganho de peso, acne, náuseas, for incapaz, deve ter a autorização judicial.
mastalgia, cefaleia, alterações do humor e redução da Vasectomia (esterilização masculina)
densidade mineral óssea. É aplicado via intramuscular
na nádega ou músculo deltoide a cada três meses. Procedimento no qual se faz uma secção no ducto
deferente por meio de uma incisão no saco escrotal, e
Implante subdérmico que não altera o aspecto do sêmen e não afeta o
desempenho sexual.
É composto por progestágenos como o etonogestrel
(Implanon, duração de 3 anos) e o levonorgestrel A esterilidade pós-vasectomia não é imediata e seu
início não pode ser previsto com segurança. O
(Norplant, duração de 5 anos). Esse dispositivo é
período para que se complete a eliminação de
implantado na parte subdérmica do antebraço, entre os
todos os espermatozoides acumulados distalmente
músculos bíceps e tríceps (para ser retirado, é preciso à interrupção do ducto deferente é variável e requer
fazer uma pequena incisão sob anestesia local). aproximadamente três meses ou 20 ejaculações
Mecanismo de ação: o implante atua inibindo a ação
do LH, impedindo a ovulação. Além disso, leva a atrofia
endometrial e alteração do muco cervical, que se torna Ligadura tubária (esterilização feminina ou laqueadura)
impenetrável aos espermatozoides. Por não apresentar Procedimento geralmente realizado com obstrução ou
um componente estrogênico que estabiliza o secção das tubas uterinas para impedir a passagem do
endométrio, pode ocorrer como efeito adverso o óvulo e, consequentemente, sua fertilização.
spotting (“escape” ou sangramento pequeno causado
pela alteração do fluxo, típico do uso de Há três métodos, além de suas variações, utilizados
progestogênios isolados). para ligadura tubária. Tais métodos incluem
aplicação de diversos anéis ou clipes permanentes
às tubas uterinas, eletrocoagulação de um
segmento ou ligadura propriamente dita com fio de
A contracepção cirúrgica consiste em método sutura, com ou sem remoção adicional de um
segmento da tuba.
considerado irreversível ou definitivo, podendo ser
masculina com a vasectomia ou feminina com a ligadura
tubária (LT ou laqueadura).
A Lei 9263 de 12/01/1996, também conhecida
como Lei do Planejamento Familiar, regulamenta o
Amplamente popularizada como “pílula do dia
seu uso no Brasil, sendo indicado somente nas
seguinte”, pode se dar por meio de métodos como os
seguintes situações:
compostos contendo esteroides sexuais e os compostos
1. Homens e mulheres com capacidade civil plena e antiprogesterona.
maiores de 25 anos de idade OU, pelo menos, com
dois filhos, desde que observado o prazo mínimo de Mecanismo de ação: varia de acordo com o período
60 dias entre a manifestação da vontade e o ato do ciclo menstrual no qual é utilizado. Se o uso ocorre
cirúrgico; na primeira fase do ciclo, antes do pico do LH (hormônio
luteinizante), ele altera o desenvolvimento folicular,
2. Risco à vida ou à saúde da mulher ou do futuro
concepto, desde que tenha relatório escrito e
impedindo ou retardando a ovulação. Já quando é
assinado por dois médicos. usado na segunda fase do ciclo menstrual, ou seja, após
a ovulação, ele modifica as características do muco
Para fazer a esterilização é necessário o registro da cervical, deixando-o mais viscoso e com isso alteração
expressa manifestação da vontade da paciente em o transporte dos espermatozoides.
documento escrito e firmado. Caso seja casada,
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papulosas, papuloescamosas, placas e, às vezes, lesões


papulotuberosas ou nodulares.
A sífilis secundária comumente afeta as superfícies
palmoplantares, as mucosas, o couro cabeludo e as
As infecções sexualmente transmissíveis (IST) são um unhas, e também podem causar manifestações
importante problema de saúde pública em todo o oftalmológicas, auditivas, musculoesqueléticas, renais,
mundo, tanto pela sua alta prevalência quanto pela hepáticas, gástricas e cardiopulmonares, além de
forma de transmissão, cuja prevenção depende muitas comprometer o SNC.
vezes de intervenções não só assistenciais como
Mesmo sem tratamento, as lesões cutâneas e as
comportamentais, educacionais e socioculturais.
manifestações sistêmicas regridem espontaneamente; a
Embora, na maioria dos casos, exista tratamento eficaz, partir disso, o paciente adentra o estágio latente da
as ISTs, quando não tratadas, podem evoluir com sífilis.
complicações sérias, como infecções crônicas do trato
Sífilis latente
genital, infertilidade, câncer cervical e aumento do risco
de transmissão e aquisição do HIV. Evolui sem sintomatologia clínica ou alterações
radiológicas, apenas com sorologia positiva. Pode ser
recente (até 1 anos de evolução), tardia (mais de 1
ano) ou indeterminada, quando não se sabe o tempo
Doença infectocontagiosa, com manifestações de evolução.
cutâneas e sistêmicas, evolução crônica e transmissão
predominantemente sexual, pelo contato com lesões Sífilis terciária
genitais ativas. Cerca de um terço dos pacientes com sífilis latente não
O agente etiológico é o Treponema pallidum, tratada desenvolverá sífilis terciária; os demais enfermos
bactéria que pode simular várias doenças e processos permanecerão latentes por toda a vida. As três
autoimunes, sendo, por esse motivo, conhecida como “a principais apresentações clínicas da sífilis tardia são as
grande imitadora”. A doença é classificada em primária, manifestações cutâneas e cardiovasculares e a
secundária, latente ou terciária. neurossífilis.

Sífilis primária Na sífilis tardia observam-se lesões nodulares e gomosas


e envolvimento das mucosas. As lesões tendem a
Conhecida como cancro duro. É a lesão inicial da sífilis, agrupar-se, formando placas com aspecto circinado e
que surge entre 10 a 90 dias após o período de podem ser encontradas em qualquer parte do corpo,
incubação. Inicialmente ocorre o aparecimento de mas predominam na superfície extensora dos braços, no
lesão genital ulcerada, quase sempre única, indolor, de dorso e na face. As gomas resultam de amolecimento,
bordas endurecidas e bem delimitadas, de fundo limpo, fistulização e ulceração dos nódulos. O processo é
coloração rosada e rica em treponemas. indolor e ocorre, geralmente, nos tecidos subcutâneo,
Sífilis secundária ósseo e/ou muscular. Essas lesões podem simular
tuberculose cutânea, leishmaniose, cromomicose,
As lesões podem surgir na vigência do cancro ou, com sarcoidose, esporotricose e tumores. Nas mucosas
mais frequência, de 6 semanas a 6 meses após a sua podem ocorrer lesões infiltrativas e gomosas,
regressão. O quadro clínico inicial dessa fase principalmente no palato, mucosa nasal, língua, tonsilas
caracteriza-se por erupção macular, de coloração e faringe. Entre as manifestações cardiovasculares mais
rósea (“roséola sifilítica”: exantema morbiliforme não importantes estão aortite, aneurisma aórtico, estenose
pruriginoso), lembrando quadro alérgico ou viral. coronariana, insuficiência da válvula aórtica e
Gradualmente, essa erupção macular evolui para lesões miocardite. Quanto às manifestações neurológicas,
destacam-se a meningite sifilítica aguda, a paralisia
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geral e a neurossífilis parenquimatosa (caracterizada Primário: lesões iniciais e precoces, podendo


por tabes dorsalis, - lenta degeneração de neurônios apresentar-se sob a forma de lesão herpetiforme (mais
que carregam informação sensorial para o cérebro -, comum), pápula, pústula, edema, violáceo, vesícula,
paralisia geral e atrofia óptica). erosão ou pequena úlcera, sendo caracteristicamente
indolor.
Secundário: acometimento dos linfonodos regionais,
É conhecido como a mais venérea das doenças também denominado síndrome inguinal; se caracteriza
sexualmente transmissíveis pelas características lesões de pela disseminação do agente etiológico pela
autoinoculação. Transmitida obrigatoriamente por via circulação linfática.
sexual, tem como agente etiológico o Haemophilus Terciário: manifestações tardias e sequelas, denominado
ducreyi. síndrome anogenital. A grande maioria dos pacientes se
Após curto período de incubação, observa-se uma recupera após o estágio secundário sem sequelas, mas,
discreta pápula, mácula ou pústula circundada por um em alguns, a persistência ou a disseminação progressiva
halo eritematoso, evoluindo rapidamente para uma da C. trachomatis nos tecidos anogenitais incita uma
lesão ulcerada com bordas irregulares talhadas a resposta inflamatória crônica com destruição do tecido
pique, com fundo purulento, base mole à compressão, nas áreas envolvidas.
fagedênica e muito dolorosa. Devido ao mecanismo de
autoinoculação, surgem novas lesões ulceradas, em
números variáveis, por vezes agrupadas e serpiginosas
Também conhecida como granuloma venéreo ou
ou mais comumente justapostas (“úlceras que se beijam”).
granuloma inguinal, é causada pela bactéria Klebsiella
No sexo feminino, a queixa de ulceração dolorosa é granulomatis. É uma doença de evolução crônica,
menos frequente, sendo substituída, na dependência da pouco contagiosa, caracterizada por lesões
localização da lesão, por dispareunia, sangramento e granulomatosas, ulceradas, indolores e autoinoculáveis.
corrimento vaginal e sangramento retal.
Acomete pele e tecido subcutâneo da região
No período de uma semana após o aparecimento do inguinocrural, e com menos frequência outras regiões
cancro, 30 a 50% dos pacientes desenvolvem uma cutaneomucosas ou mesmo órgãos internos. A doença
adenite inguinal, satélite, volumosa, recoberta por pele inicia por lesão nodular, única ou múltipla, de
eritematosa, denominada de bubão, unilateral em 75% localização subcutânea, que erosa, produzindo
dos casos, e muito dolorosa, podendo evoluir nos ulceração bem definida crescendo de forma lenta e
pacientes sem tratamento com supuração por um único sangrando com facilidade. A partir daí, as
orifício, drenando um pus espesso. manifestações estão diretamente ligadas às respostas
teciduais do hospedeiro, originando formas localizadas
ou extensas e, até mesmo, lesões viscerais por
disseminação hematogênica.
O linfogranuloma venéreo (LGV) é uma doença
infecciosa, sistêmica, sexualmente transmissível causada
pela Chlamydia trachomatis sorotipos L1, L2, L3.
O herpes genital (HG) é uma doença sexualmente
Descrito como assintomático nas fases iniciais em 5 a
transmissível. O herpes simples vírus (HSV) pode provocar
27% dos casos, o diagnóstico do LGV é baseado na
lesões em pequenas vesículas na pele e nas mucosas
maioria das vezes na suspeição clínica, dados
dos órgãos genitais masculinos e femininos.
epidemiológicos e na exclusão de outras etiologias.
As lesões do HG costumam regredir espontaneamente,
A doença se classifica em três estágios, de acordo com
mesmo sem tratamento, nos indivíduos
suas manifestações clínicas:
imunocompetentes. Em contrapartida, nos
Allana Karine Gatinho Garcia - Medicina UEPA 2020.1 16

imunodeprimidos, incluindo os infectados pelo HIV, elas A infecção do trato genital inferior pelo HPV é dividida
podem adquirir dimensões extraordinárias. em:
Caracterizam-se por apresentar ardor, prurido, Clínica: é a forma que se pode evidenciar a olho nu; são
formigamento e adenomegalia, que podem anteceder as verrugas genitais, também denominadas de
a erupção cutânea. Hiperemia aparece alguns dias condilomas acuminados.
após e depois evoluem para vesículas agrupadas, que,
Subclínica: seu diagnóstico só é possível por meio de
depois, se rompem formando exulceração dolorosa
recursos de magnificação (lente de aumento,
seguida de cicatrização. O vírus migra pela raiz nervosa
colposcopia e microscopia).
até alojar-se num gânglio neural, onde permanece
quiescente até a recidiva seguinte. Latente: é a identificação de sequências de DNA-HPV
com técnicas de biologia molecular em indivíduos com
tecidos clínica e colposcopicamente normais.

A infecção pelo papilomavírus humano (HPV) se Nas fases clínica e subclínica, os vírus se reproduzem
destaca como uma das doenças sexualmente rapidamente, liberando grande número de novas
transmissíveis (DST) mais comuns no mundo. Hoje, sabe-se partículas virais, para infectar outras células. A
que o HPV é o segundo agente mais oncogênico, multiplicação do vírus produzirá alterações celulares. As
superado apenas pelo tabaco. O HPV é responsável células desenvolvem halos perinucleares (coilocitose),
por 100% dos casos de câncer do colo do útero, 88% acantose, atipia citológica, multinucleação e
dos casos de câncer anal, 70% dos casos de câncer vacuolização citoplasmática. A maioria dos indivíduos é
vaginal, 50% dos casos de câncer do pênis, 43% dos capaz de eliminar espontaneamente a infecção por
casos de câncer de vulva e 26 a 50% dos casos de meio do sistema imune em período médio de oito meses
câncer de orofaringe no mundo. O HPV também é para os vírus de baixo risco oncogênico e 13 meses
responsável por outras doenças importantes, entre elas para os HPV de alto risco. Em uma pequena minoria, a
as verrugas genitais, papilomatose respiratória infecção pelo HPV torna-se persistente levando à
recorrente e tumor de Buschke-Lowestein. neoplasia e câncer genital.
O HPV tem a capacidade de codificar oito Na infecção latente, o DNA viral reside no núcleo em
proteínas maiores, das quais as oncoproteínas E6 forma epissomal (o DNA do vírus permanece livre no
e E7, presentes nos tipos de HPV de alto risco núcleo da célula do hospedeiro sem se ligar ao DNA
merecem maior destaque, pois estão associadas às do hospedeiro), porém não produz nenhuma alteração
funções de transformação e imortalização (câncer). no tecido (por isso, só pode ser detectada por métodos
A proteína carcinogênica E6 liga-se e inativa a
de biologia molecular) . A imunodepressão fisiológica ou
proteína supressora tumoral do hospedeiro (p53),
patológica são fatores que podem ativar o vírus.
evitando, dessa maneira, o reparo do defeito
genético e a apoptose. A E7 se liga e inativa a
proteína supressora tumoral pRB, liberando, assim, os
fatores de transcrição E2F, que participam do
estímulo à síntese de DNA na célula do hospedeiro.
E7 também se liga e ativa complexos de ciclina
como a p33cdk2, que controla progressão, por
meio do ciclo celular. Assim, E7 ativa células
quiescentes para o ciclo celular, e E6 remove o
mecanismo de segurança da apoptose, que
normalmente é ativado quando existe grande
defeito de DNA ou progressão de ciclo celular não
programado. O efeito combinado resulta em um
fenótipo com mutação em que a célula se perpetua
de modo desregulado.

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