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prático de como um ser humano comum pode despertar ou ter incorporado diversos
ensinamentos de Adiváita, sem que nem mesmo tenha se dado conta disso. O Adiváita está ao
seu alcance, e aí vai um exemplo real.
Relato aqui, um fato que se passou após a segunda guerra mundial, com um Americano da
infantaria, veterano de guerra, chamado Richárdi Thompson, que como muitos, perdeu um
membro do corpo, tornando-se um cadeirante e que por circunstâncias traumáticas da vida
tornou-se viciado em cocaína. Um dia, Richárdi se levantou da cama tão desgostoso de tudo,
achando a vida tão sem propósito, tão sem sentido, já que não tinha ocupação e percebendo-
se tão falho por ser dependente químico e humilhado por andar de cadeira de rodas, que
decidiu tomar a sua vida em suas próprias mãos. Sentado na cadeira de rodas, ele aspirou uma
dose seguramente mortal da droga. Seus membros começaram a tremer, sentiu grande falta
de ar, uma enorme dor no peito e teve um infarto fulminante indo imediatamente a óbito.
Nesse momento, ele percebeu subitamente que estava de pé, e que o ambiente que até o
momento estava agradavelmente em penumbra, foi gradualmente se iluminando com uma luz
branco-dourada por trás dele, até o ponto em que o quarto se encheu de uma luz que de tão
intensa o cegaria se ele estivesse com olhos físicos. Ele virou-se para trás e viu uma figura toda
iluminada, banhada nessa luz que parecia emanar dela própria. Como ele não identificasse
quem fosse o ser de luz, ele graduou de intensidade, e para sua surpresa, diante dele, estava a
figura de Jesus Cristo, com um rosto amável e gentil, sorrindo e emanando tanto amor e
bondade pelo soldado deficiente e viciado, que ele se viu envolto na mais intensa compaixão
que um ser poderia ter pelo outro. Ele se pôs imediatamente de joelhos em reverência à figura
viva do amantíssimo, mas ele pediu que não o temesse e o ajudou a se erguer e ficar em
prumo novamente. O veterano perguntou: Como o Senhor pode se manifestar diante de uma
criatura tão desprezível quanto eu? Eu matei inocentes na guerra, não fiz nada de valor na
vida, e ainda por cima me viciei em drogas. Eu sei disso, redarguiu Jesus e eu sempre estive ao
seu lado, mas não cabe a mim outra tarefa além de amar ao meu próximo e ter compaixão por
ele assim como Eu faço a mim mesmo. Morrer machucado e humilhado na cruz é
imensamente doloroso, ainda mais quando se quer levar uma mensagem de amor e caridade
para o próximo. Tinha a opção de me sentir extremamente amargurado e desesperançoso com
a humanidade, mas meu Pai mostrou que todos somos um e que se deixasse de amar até
mesmo meu algoz, estaria deixando de amar um aspecto de mim mesmo. E onde há amor
genuíno Richárdi, não há julgamento. Vamos rever sua vida? Richárdi assentiu, mas sentindo
bastante vergonha. Uma tela mental se formou em sua mente, e ele começou a acompanhar
cada passo de sua vida. Teve pais bondosos e viveu uma infância feliz. Sua vida avançou mais
no tempo e viu quando recebeu o telegrama de convocação para a guerra. Ele se sentiu
subitamente mal, tinha planos na vida e era uma pessoa de índole pacífica. Querendo ajudar,
alistou-se. Quando chegou à Europa, viu atrocidades que jamais havia concebido e nas
trincheiras dos campos de guerra se viu obrigado a lutar para sobreviver. Não desejava de
modo algum, mas se viu obrigado a matar alguns inimigos. Numa noite, encontrou-se em uma
trincheira vazia com um soldado alemão. Estava em vantagem, pois o havia pego de surpresa e
poderia tê-lo matado. O inimigo tinha quase a sua idade, e começou a chorar, suplicando para
que poupasse a vida dele. O soldado alemão então, tirou do bolso uma foto desbotada em
preto-e-branco de toda sua família. Richárdi então abriu o bolso da sua camisa, e mostrou a
foto dele com a sua família também. Richárdi percebeu que tanto ele como o soldado eram
quase que como uma imagem espectral um do outro. Ambos sentiam da mesma forma,
amavam com a mesma intensidade, e sentiam tanto medo da guerra como um do outro. Uma
luz despertou em Richárdi. A luz do Adiváita, da verdade absoluta. Ambos eram iguais em
essência e ambos faziam parte do mesmo Absoluto, ou Deus. Não havia dualidade, dissidência,
disputa ou rancor. Tomado de um profundo senso de amor ao próximo, Richárdi depôs a arma,
e chorando, abraçou-se ao único ser humano com quem se sentia totalmente identificado.
Ambos sorriram, dividiram o pouco de ração e água, e o Alemão, num gesto de retribuição,
entregou a Richárdi o que de mais importante possuía: a foto amarrotada e desbotada de sua
família. Richárdi compreendeu o gesto de retribuição, e tirou de seu bolso a foto de sua família
e entregou ao soldado alemão. Durante toda guerra, quando na trincheira, estava em alguma
situação de risco de vida, abria o bolso da camisa e tirava a foto da família do soldado alemão
e rezava fervorosamente para que todos estivessem bem. De novo, sem perceber, mas usando
o princípio da não-dualidade reconheceu a sua própria família na do soldado alemão e lhes
devotava tanto amor quanto à sua própria família. Foi quando se deu conta de que Jesus
olhava toda a cena enternecido e lhe disse: com a guerra você aprendeu a amar o próximo
como a si mesmo. Então Richárdi reviu a terrível cena em que a explosão de um morteiro lhe
dilacerou as artérias maiores da perna e começou a perder tanto sangue que entregou sua
alma à Deus e acordou horas mais tarde na enfermaria do hospital de campanha, para
descobrir que sua perna direita havia sido amputada. Richárdi entrou em desespero e
começou a gritar na enfermaria para que por favor colocassem a sua perna de volta, e qual
como um desequilibrado, começou a perguntar a médicos e enfermeiras onde haviam jogado
fora a perna dele. A perna era parte de quem ele era. Era como se tivessem tirado uma parte
de seu ser. Nesse momento, a figura de luz se fez presente e lhe confidenciou: nesse momento
Richárdi, por mais dolorosa que tenha sido a experiência, você aos poucos foi se dando conta
de que sua essência não era o seu corpo físico, ainda que tivesse perdido as pernas e braços.
Que dura lição você escolheu para si. É preciso muita coragem. Richárdi recebeu dispensa do
serviço militar após o acidente, e com tanto sofrimento, traumas e perdas, se sentiu tão
desequilibrado que começou, à princípio, consumir remédios para a dor que sentia, e também
para dormir. Não demorou muito tempo depois, para que começasse a consumir drogas mais
pesadas como a cocaína, que lhe dava a temporária sensação de se sentir um super-herói.
Jesus acompanhava tudo. Richárdi então decidiu parar de consumir cocaína com medo de
morrer de forma tão sem sentido. Ele ingressou em grupos semelhantes ao Narcóticos
Anônimos, e por diversas, inúmeras vezes, tentou ficar limpo, mas os traumas e o sofrimento
eram tanto que acabava em relapso no uso de drogas, o que o fez se sentir um fracassado e
tentar cometer suicídio. Jesus novamente acompanhava tudo em silêncio. Quando Richárdi
tentou se explicar, Jesus interrompeu: Filho, às vezes escolhemos para o nosso aprendizado
passarmos por situações muito difíceis. Ele abriu um meigo sorriso e lhe disse: ficar viciado em
drogas foi uma circunstância em sua vida, não obstante, o que de mais belo vejo, foram as
inumeráveis tentativas que você fez de todo coração para largar um vício extremamente difícil.
O que nos importa não é se vencemos ou não uma prova, mas sim se tivermos tido a intenção
e o esforço em vencê-la mesmo que nós a percamos. Emocionado, Richárdi começou a soluçar
profusamente. Aquele Ser Iluminado o fez perceber que no fundo no fundo era uma pessoa
boa e bem intencionada e que errar fazia parte da experiência humana. Jesus o abraçou
profundamente, e comovido lhe disse: você é e continuará sempre sendo um filho de Deus
que lhe quer muito bem. Essa revisão da vida, onde nada passa desapercebido é o famoso “Dia
do Julgamento na Bíblia”, e cabe a vocês, e não a mim, julgá-los pelos seus próprios atos, pois
Eu sou a Verdade e a Vida, o Amor incondicional e a Compaixão, e são elas que o libertarão
sempre, não importa quem tenha sido. Os que julgam, são os seus irmãos que não têm a
coragem para rever de forma tão sincera e honesta as suas próprias vidas. Jesus então pediu
para que me erguesse com dignidade e foi o que fiz referto de alívio e de um grande amor por
mim. Sua figura de pé começou novamente a se iluminar profusamente e seus raios me
banhavam de luz, mas a sua forma lentamente foi mudando, e quando me dei conta, era a
imagem de Buda que via, em toda a sua resplandecência, com um largo sorriso. Poucos
segundos depois, a luz se transformava em Lord Krishna, que me banhava em intensa luz de
amor e bondade. Logo em seguida, a figura então mudou para a de Nossa Senhora de Fátima,
que com seu jeito maternal, me abençoou e sorriu para mim, o que me deixou profundamente
emocionado pois me despertou o meu sentimento de ser como um filho para ela. A luz foi
então, subsequentemente se transformando em Mahatma Ghandi, Madre Teresa de Calcutá,
Martin Luther King, São Francisco de Assis, num ritmo cada vez mais rápido, até que a luz se
transformou em uma mandala ou símbolo, onde toda a humanidade estava de mãos dadas em
torno do planeta Terra. Confesso, que de todas as imagens que vi, essa foi a que mais me
emocionou pois todos éramos um. Novamente, a luz se transfigurou em Jesus Cristo. Intrigado,
eu perguntei o porquê dessa demonstração. Jesus então esclareceu que, à medida em que
amadurecemos espiritualmente, nos identificamos mais e mais com todos os seres humanos, e
gradualmente deixamos de nos identificar com a nossa própria identidade, com quem fomos
ou representamos na Terra. Perdendo o ego, nós voltamos a Unidade de quem nós realmente
somos, pois em verdade, eu e todos os mestres que vistes nos tornamos em planos superiores
a imagem e semelhança de Deus uno com toda a humanidade. Não nos importa mais quem
nós fomos, ou o que fizemos. Não nos sentimos especiais ou superiores a qualquer ser
humano, pois o que somos hoje serão vocês amanhã. E o que faço hoje, vocês farão ainda
melhor no futuro. Por um tempo eu ponderei sobre tudo o que ele disse e então lhe disse:
Posso só lhe fazer mais uma pergunta Mestre Jesus? Claro redarguiu ele. Qual é o propósito da
vida afinal? Para que viemos ao mundo? Jesus baixou a cabeça e novamente a ergueu se
dirigindo a ele como um professor se dirige a um aluno. O maior propósito da vida Richárdi é
aprender a amar a si próprio e a todos os seus semelhantes, e quando me refiro a semelhante,
incluem-se os animais, as plantas, as montanhas, campinas, riachos, desertos, minerais e
oceanos, pois todos são obras do Absoluto ou Deus, e quem ama as suas obras também ama
seu Criador. Por isso a sua missão não está ainda completa. Há muito a quem amar,
primeiramente a você mesmo, e depois a inúmeras pessoas que passarão pela sua vida.
Lentamente, Richárdi recobrou a consciência com a lembrança de tudo que lhe havia
acontecido. Seu ser se encheu de felicidade e esperança. Sentiu em si, despontarem os
primeiros raios do que no futuro seria um fulgurante ser radiante de amor-próprio e
compaixão pelo próximo.