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CAMPANHA ELEITORAL, CENSURA E LIMITES DA LIBERDADE DE

EXPRESSÃO

É bem verdade que “ataques” desferidos aos adversários políticos


tendem a dominar as campanhas eleitorais a cargos eletivos de cúpula, fator
que coloca em xeque o debate ideológico e propostas de modificação do status
quo, predominando as declarações acerca da desonestidade ou incapacidade
do adversário político.
Neste contexto diversos atores – além dos próprios candidatos – são
envolvidos, destacando-se a imprensa como importante ator de influência na
construção da imagem pretendida por um dos lados da disputa, dado a sua
forte capacidade de influenciar e formar a opinião do público que consome
seus conteúdos.
Por este motivo, o sensacionalismo torna-se o ponto de inflexão que
questiona a confiabilidade das informações transmitidas pelo veículo de
imprensa, ao passo que denota um posicionamento tendencioso para um dos
lados da disputa – seja ela política, religiosa ou de qualquer outra vertente -,
abrindo mão do compromisso com a integridade da informação.
Nesta linha, destaca-se a recente e polêmica decisão do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) que pretende vetar manifestações de determinada
rede jornalística acerca de candidato à Presidência da República, com esteio
no fundamento de que, em síntese, as informações transmitidas pelo veículo
de imprensa seriam tendem a denegrir a imagem do candidato com base em
ilações subjetivas e não comprometidas com a verdade, em especial no que
tange a condenações criminais pretéritas, e que não produzem mais quaisquer
efeitos jurídicos.
A providência jurídica em comento assume maior espectro quando seus
fundamentos são confrontados com a realidade dos períodos de campanha
eleitoral, os quais tendem a estabelecer uma modificação na forma como o
Poder Judiciário – e a própria sociedade – enxergam os movimentos dos
candidatos, sucedendo-se uma espécie de super-tolerância as violações
ocorridas.
Assim dizendo, certas manifestações são, notadamente, vistas como
violações ao Código Penal Brasileiro, tal como declarar que determinado
sujeito se utilizou de sua função pública para desviar verbas, conduta que pode
tipificar o crime de calúnia (Art.138 do Código Penal).
Todavia, o mesmo parece não acontecer na atmosfera política, sendo
comum que se lancem propagandas televisas destinadas, unicamente, a
revelar a suposta prática de condutas criminosas por parte do adversário
político ou seus coligados, sem que com isto haja a responsabilização criminal
do candidato responsável por veicular a informação.
Em virtude deste cenário, a discussão em torno dos limites da liberdade
de expressão no panorama eleitoral torna-se especialmente difícil, dado que os
ambientes de disputa parecem assentir uma tolerância incomum fora deste
contexto, acomodando discursos muitas das vezes ofensivos à honra do
oponente político.
Assim sendo, a restrição da liberdade de manifestação aplicada sobre
veículos de imprensa encontra obstáculo não só nas previsões constitucionais
relativas à vedação de qualquer forma de censura – Art.220, § 2º da
Constituição Federal – mas, de igual forma, no caminho lógico trilhado para
que se determine qual material jornalístico ofende ou não a liberdade
estabelecida, e em quem finca as estacas que delimitam as liberdades
asseguradas.

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