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O DISTANCIAMENTO NECESSÁRIO ENTRE O LOBBY E A CORRUPÇÃO

Numa sociedade pautada por vieses democráticos, oportunizar espaços


de fala para todos os setores e opiniões torna-se imperativo para que se tenha,
de fato, uma democracia operante, e não apenas um sistema ilusoriamente
guiado pela garantia da livre expressão e manifestação de pensamento.
Neste cenário, é necessário que se admita que as partes envolvidas em
uma negociação operem movimentos de persuasão como o Lobby, entendido
como a atividade de apresentar, junto aos tomadores de decisões políticas, as
ideias e posicionamentos de uma determinada classe, setor ou empresa que
serão afetadas, direta ou indiretamente, pelas deliberações públicas.
Isto posto, o Lobby é, inegavelmente, a atividade que garante o pleno
exercício democrático no ambiente político, na medida em que garante que os
agentes que não possuem poder de voto nas decisões do Estado possam, por
meio de práticas de convencimento, direcionar a administração pública para a
satisfação de determinados interesses.
Logo, o exercício do Lobby não é, por si só, criminoso, tendo em vista
que encontra, inclusive, guarida constitucional no Art.5º, incisos IV, XVI e XVII
da Carta Magna, onde estão dispostas as garantias da liberdade de
manifestação de pensamento e liberdade de reunião e associação para fins
lícitos.
Entretanto, nota-se que a linha da legalidade é cruzada quando se
objetiva a satisfação de interesses ilícitos, ou quando os meios utilizados são
criminosos, tais como o uso do tráfico de influência e da corrupção para burlar
as regras do jogo.
Em razão disto, o Lobby tem sido sinônimo de criminalidade nos últimos
anos, sobretudo em virtude das operações policias que envolveram grandes
empresas, como a Lava Jato, em que lobistas foram acusados de corromper
agentes públicos para obter vantagens de diversas espécies.
Mais recentemente, pode-se mencionar o caso noticiado em que um
Pastor foi apontado pelo chefe do Poder Executivo de determinado Município
de solicitar pagamentos em dinheiro e ouro para que pudesse representar os
interesses da prefeitura perante o Ministério da Educação (MEC).
Tais acontecimentos recorrentes anunciando a prática de crimes contra
a administração pública fazem com que o imaginário popular associe, cada vez
mais, a imagem do Lobby com a criminalidade empresarial, sendo o lobista o
sujeito que é pago para corromper agentes públicos em busca de interesses
egoístas.
Todavia, é necessário que se busque um distanciamento entre a
atuação lícita de manifestação da vontade de setores e grupos sociais que não
possuem poder de fala diante das deliberações políticas e a atuação espúria de
segmentos que pretendem burlar as regras do jogo em busca de vantagens
individuais, de forma que o lobby não é bom ou ruim em sua essência sendo,
apenas, o exercício da defesa de interesses.
Outrossim, pode-se constatar que a falta de regulamentação do lobbing
é mais um empecilho para que não se tenha muito bem definido o limite entre a
atividade de influência e a atividade de representação criminosa perante o
Estado, dificultando a compreensão e a própria criminalização, o que acaba por
ocasionar acusações por corrupção ativa e tráfico de influência, no mais das
vezes pouco fundamentadas.
Diante do exposto, afirma-se que o Lobby é uma atividade importante
em uma sociedade pautada em valores democráticos, podendo ser usado para
uma boa causa, de benefício e interesse social, na mesma medida em que
pode ser utilizado para a satisfação de inclinações de empresas e segmentos
específicos com prejuízo do social.

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