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Artigo

DOI: http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v12i1.1356

Meios de hospedagem como signo de hospitalidade urbana1

Lodgings as sign of urban hospitality

Instalaciones de alojamiento como signo de hospitalidad urbana


Luciano Torres Tricárico2
Josildete Pereira de Oliveira3
Diva de Mello Rossini4

Resumo: Propósito justificado do tema: Estudos podem demonstrar o papel do espaço para a hospitalidade;
sobretudo para a hospitalidade urbana. No entanto, a associação do espaço citadino enquanto imagem e pai-
sagem urbanas dos meios de hospedagem como atributo de hospitalidade urbana, ainda não está devidamen-
te contemplada por bibliografia do referido tema. Objetivo: O objetivo dessa pesquisa é sistematizar a hospi-
talidade em meios de hospedagem, a qual foi construída potencialmente a partir de espaços internos dos
meios de hospedagem, mas que pode ser observada também à escala da cidade, portanto o meio de hospeda-
gem como fator de hospitalidade urbana – ideia pouco efetivada por bibliografia especializada. Metodolo-
gia/Design: Para tanto, a pesquisa se caracterizou como exploratória, respaldada pelo levantamento e leitura
bibliográficos, bem como estudos de caso e análises empíricas feitas à luz do ideal de representação (semiótica
peirceana). Na seleção do que se pretende representar, é possível identificar uma intelecção, por parte do
sujeito emissor (arquitetura de meios de hospedagem), em propor ideologias; e como tal, a arquitetura de
meios de hospedagem também pode ser signo de hospitalidade urbana. O método interpretativo de avaliação
dos resultados esteve amparado pelas teorias de hospitalidade urbana, essencialmente com o trabalho de
Lucio Grinover (2007), que se ampara nas teorias de urbanização acerca de imagem e paisagem urbanas nos
trabalhos de Kevin Lynch (2010). Resultados e originalidade do documento: Os resultados inferem sobre a
possibilidade da hospitalidade urbana ou da cidade, construída através de meios de hospedagem.

Palavras-chave: Meios de hospedagem. Hospitalidade urbana. Cidade.

Abstract: Justification of the topic: Studies can demonstrate the role of space for hospitality; especially for
urban hospitality. However, the association of the city space as urban image and landscape of the lodgings as

1
Artigo oriundo de pesquisa financiada pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – Brasil).
2
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Balneário Camboriú, SC, Brasil. Concepção e desenho do trabalho
científico, identificação do problema de pesquisa, construção da metodologia, construção da fundamentação
teórica, coleta dos dados, formulação dos resultados, redação do trabalho.
3
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Balneário Camboriú, SC, Brasil. Construção da fundamentação
teórica e referencial teórico.
3
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Balneário Camboriú, SC, Brasil. Construção da bibliometria.

Artigo recebido em: 03/09/112017. Artigo aprovado em: 26/10/2017.

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an attribute of urban hospitality, is not yet adequately contemplated by a bibliography of this theme. Purpose:
The objective of this research is to systematize the hospitality in lodgings, which was potentially constructed
from internal spaces of lodgings, but can also be observed on the scale of the city, therefore the lodging as a
factor of urban hospitality – yet little systematic for thematic bibliography. Methodology/Design: Therefore,
the research is characterized as exploratory, supported by bibliographic survey and reading, as well as case
studies and empirical analyzes made in light under of the ideal representation (Peirce´s semiotic). In the selec-
tion of what is to represent, it is possible to identify a intellection, by the subject issuer (lodgings architecture),
propose ideologies; and as such, the architecture of lodging can be a sign of urban hospitality. The interpretive
method of evaluation of the results was supported by the theories of urban hospitality, especially with the
work of Lucio Grinover (2007) who seek refuge in the urbanization theories about image and urban landscape
in Kevin Lynch's work. Findings and originality: The results infer about the possibility of urban hospitality or of
the city built through of lodgings.

Keywords: Lodgings. Urban hospitality. City.

Resumen: Propósito justificado del tema: Estudios pueden demostrar el papel del espacio para la hospitali-
dad; sobre todo para la hospitalidad urbana. Sin embargo, la asociación del espacio de la ciudad como imagen
urbana y paisaje urbano de los medios de hospedaje como atributo de hospitalidad urbana, aún no está debi-
damente contemplada por bibliografía de dicho tema. Objetivo: El objetivo de esta investigación es sistemati-
zar la hospitalidad en instalaciones de alojamiento, que fue construida en realidad a partir de los espacios
internos de las instalaciones de alojamiento, pero también se puede observar en la escala de la ciudad, por lo
tanto la instalación de alojamiento como factor de hospitalidad urbana – idea poco difundida por la bibliogra-
fía temática de hospitalidad urbana. Metodología/Design: Por lo tanto, la investigación se caracteriza como
exploratoria, con el apoyo de revisión bibliográfica, así como estudios de casos y análisis empíricos hechos a la
luz del ideal de la representación (semiótica peirceana). En la selección de lo que se quiere representar es po-
sible identificar una intelección, por parte del emisor (arquitectura de instalaciones de alojamiento), en propo-
ner ideologías; y como tal, la arquitectura de instalaciones de alojamiento también puede ser signo de hospita-
lidad urbana. El método de interpretación de la evaluación de los resultados fue apoyado por las teorías de la
hospitalidad urbana, especialmente con la obra de Lucio Grinover (2007) que ha buscado apoyo en las teorías
de urbanización sobre la imagen urbana y el paisaje urbano con el trabajo de Kevin Lynch (2010). Resultados y
originalidad del documento: Los resultados pueden inferir la posibilidad de la hospitalidad urbana o de la
ciudad, construida a través de las instalaciones de alojamiento.

Palabras-Clave: Instalaciones de alojamiento. Hospitalidad urbana. Ciudad.

1 INTRODUÇÃO nado com a atividade turística, onde um


meio de hospedagem (para um hóspede no
Encontra-se um novo momento de- gozo das férias, por exemplo) pode ser me-
nominado por muitos por uma era pós- lhor “desenhado”, não só enquanto suporte
moderna; justificando-se, de forma generali- do conforto, mas também como experiência
zante e em determinados contextos, um estética, eficiência operacional na oferta de
padrão demográfico consolidado pela me- serviços e em equidade ambiental para com
lhoria da qualidade de vida e condições mais o local e a comunidade onde se implanta tal
fácies de sobrevivência; seja através da saú- meio de hospedagem (Dias, 1990, p. 147).
de com seus avanços, seja por conquistas De sorte que tais situações descritas
trabalhistas, seja pela garantia de uma apo- acima podem ser sistematizadas por teorias
sentadoria, entre outras formas de amparo de hospitalidade e sustentabilidade (por
social. Isso tudo também pode ser relacio- exemplos) dos espaços em meios de hospe-

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dagem. Lash e Urry (2002) inferem acerca uma fundamentação para ajudar a entender
do papel do espaço quando o olhar tem pa- e a atender necessidades de clientes, no
pel fundamental na experiência da viagem. sentido de que se sintam bem recebidos
No entanto, as pesquisas em hospita- numa “moralidade” da oferta de alimento,
lidade têm se concentrado essencialmente bebida e abrigo. Pezzotti (2011), da mesma
no papel social dos sujeitos envolvidos, ana- maneira, infere que a hospitalidade é a es-
lisando uma variedade de domínios e seto- tratégia e o serviço a sua tática.
res independentes de classes sociais (Gibson Lashley (2015) elenca contempora-
& Molz, 2016; Bastos & Rejowski, 2015; neamente cinco atitudes hospitaleiras: mo-
Lashley, Lynch, & Morrison, 2007; Camargo, tivação oculta (no sentido de se obter algum
2015; O’Gorman, 2007). Tasci e Semerad benefício), motivação restritiva (para man-
(2016) afirmam que na hospitalidade a “in- ter o “inimigo” por perto e controlar suas
tensa” interação social entre anfitrião e ações ofensivas), motivação comercial (tra-
hóspede põe o ingrediente humano como tando muito bem o hóspede como um “cli-
essencial na experiência do hóspede; sobre- ente” na “residência” do anfitrião), motiva-
tudo porque é no valor humano que se cria ção recíproca (para receber o mesmo trata-
um produto especial. mento quando o anfitrião se torna hóspe-
Os conteúdos sociais dos estudos em de), motivação redistributiva (por ser gene-
hospitalidade chegam a tomar os clientes roso ou benevolente), motivação altruísta
(hóspedes) como agentes controladores e (por ser “agradável” aos outros). Compre-
até executores do planejamento e da gestão ende-se, portanto, um atributo efetivamen-
das empresas do ramo turístico e hoteleiro, te social nas motivações de Lashley (2015)
na lógica contemporânea da co-criação que é próprio à hospitalidade, sem dúvida;
(Roeffen & Grissemann, 2016). mas que não tomam o espaço como domi-
Para Knutson, Beck, Kim e Cha (2009) nante interpretativa; ainda que uma relação
a questão da hospitalidade se entende pelo dialética sócio-espacial (Soja, 1993; Lefeb-
necessário envolvimento de pessoas, e não vre, 1991) possa se expressar.
nas “coisas” (entendendo-as como objetos e Neste sentido, Pitt-Rivers (2012) in-
o espaço). fere acerca de relações sociais de hospitali-
Portanto, contemporaneamente, o dade em que o anfitrião recebe o hóspede
estudo da hospitalidade nos meios de hos- com generosidade, anfitrião e hóspede se
pedagem não tem efetivamente se pautado
nos valores espaciais como mote das inves- nobres, sua ação enfatiza o bem-estar do hóspede
e do anfitrião; e este último adquire prestígio e res-
tigações; mas, essencialmente, na sua lógica peito perante a comunidade na qual se insere. A
empresarial de cunho social (Lashley, 2015), hospitalidade foi registrada também no judaísmo e
porque até mesmo a antiga hospitalidade5 é depois no cristianismo como uma forma de lei. A
hospitalidade está assimilada na cultura, ainda que
renovada em diferentes épocas; mas, na atualida-
5 Segundo Raffestin (2013) a idéia de hospitalidade de, está essencialmente associada à noção de re-
surgiu na Antiguidade, sendo registrada em textos ceptividade e acolhimento (Raffestin, 2013, p. 167),
de Homero e Heródoto; quando o ideal de hospita- portanto envolvendo sujeitos; o que desdobram
lidade se encontra registrado na Odisséia de Home- (inevitavelmente) estudos de cunho social.
ro, foi entendida como responsabilidade dos lares

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respeitam e se homenageiam mutuamente, feito em sua experiência de viagem


mas que o hóspede respeita o anfitrião so- (Bareham, 2004; Hemmington, 2007; Nailon,
bre o uso do espaço. Valores espaciais mui- 1982; Carvalho, Salazar, & Neves, 2011;
tas vezes não são apreensíveis e “mensurá- Gouveia, 2013; Gentile, Spiller, & Noci,
veis” a partir de dados quantitativos; nesse 2007).
intuito, Oh e Jeong (2010) demonstraram Ora, verifica-se então um primeiro
que em diferentes segmentos do mercado problema de pesquisa: a falta em tomar o
de hospedagem se deve depositar maior espaço como signo primordial para os estu-
confiança em teorias do que em dados. dos em hospitalidade dos meios de hospe-
Muitas das pesquisas atuais até in- dagem. E mais, como um segundo problema
terpretam o espaço como signo de hospita- de pesquisa demonstrado pelo levantamen-
lidade na escala citadina; mas, na maior par- to bibliográfico que se apresenta na Funda-
te das vezes, a motivação da pesquisa passa mentação teórica: não há a associação do
pelo viés social, empresarial e da gestão de espaço do meio de hospedagem como hos-
negócios hoteleiros e turísticos. Assim, o pitalidade urbana; ou seja, o espaço do meio
destino turístico é interpretado à luz da sa- de hospedagem sempre foi tratado como
tisfação do cliente com perfil adequado ou hospitalidade somente na escala interior da
não para aquele destino estudado (Hosany edificação ou na oferta de serviços hotelei-
& Martin, 2012); a imagem do destino é es- ros.
tudada a partir da escolha que o viajante faz Diante destes dois problemas, arris-
antecipadamente da imagem do destino cou-se que a hipótese dessa pesquisa está
(Ahn, Ekinci, & Li, 2013; Kamins & Grupta, na revelação da arquitetura de meios de
1994); a “felicidade” da experiência turística hospedagem como possível signo e atributo
e a percepção da hospitalidade são interpre- de hospitalidade urbana, à escala da cidade.
tadas pela imagem do destino turístico co- Justifica-se a pesquisa, portanto, pela carên-
mo parte contribuinte de uma análise social cia bibliográfica em associar o meio de hos-
predominante (Hatfield, Cacioppo, & Rap- pedagem (também) como hospitalidade
son, 1994). urbana.
Por isso há uma série de autores que Para tanto, coube uma “varredura”
fazem a crítica a um viés interpretativo de da condição de hospitalidade na história dos
“mão única” para a hospitalidade se toman- meios de hospedagem. O percurso metodo-
do dados quantitativos, da percepção do lógico compreendeu a interpretação da edi-
cliente num intuito de averiguações da efici- ficação dos meios de hospedagem à escala
ência empresarial do planejamento e da da cidade, como paisagem urbana. Tais mei-
gestão nos negócios turísticos e hoteleiros: os de hospedagem foram elencados a partir
há um “fio condutor” nos estudos de hospi- de sugestões amparadas em bibliografia, em
talidade dado à importância ao acolhimento estudos de caso e na divulgação de meios de
do indivíduo no intuito de atendimento das hospedagem em mídias do trade turístico.
suas necessidades fisiológicas, psicológicas e Notou-se, a partir das representações
sociais; tendo em vista um consumidor satis- dos meios de hospedagem na imagem e

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paisagem urbanas, o quanto eles são signifi- com a qualidade da paisagem urbana do
cativos (pelo diferencial na imagem da cida- destino turístico citadino (o que inclui uma
de), criam lugares como referência urbana; imagem de cidade também hospitaleira para
e por isso, segundo as teorias de Lucio Gri- o cidadão) (Grinover, 2007; Grinover, 2006;
nover (2007), podem ser interpretados co- Grinover, 2003). E eis que se arriscou aqui
mo atributos para a hospitalidade urbana. que os meios de hospedagem podem
Justifica-se a relevância desse estudo contribuir para a formação da imagem e
para o turismo porque abordou dois fenô- paisagem urbanas de um destino turístico
menos que são intrínsecos a ele: meios de citadino considerado (então) como
hospedagem e hospitalidade urbana. Enten- hospitaleiro.
de-se que os meios de hospedagem são para De modo que o artigo se organiza
um destino citadino parte efetiva da cadeia inicialmente descrevendo tal metodologia
produtiva do turismo, sendo ainda conside- adotada; constrói um referencial teórico
rados parte de infra-estrutura turística (Am- para o entendimento de hospitalidade do
posta, 2015). espaço em meios de hospedagem; logo de-
Já a hospitalidade urbana se funda- pois se faz a demonstração de que os conte-
menta para o turismo com estudos údos de hospitalidade do espaço em meios
vinculados às Ciências Sociais Aplicadas e às de hospedagem estão essencialmente vincu-
Ciências Humanas, demonstrando que toda lados aos serviços e espaços internos dos
e qualquer ação social no deslocamento e edifícios que encerram esses meios de hos-
movimento de pessoas, para obtenção do pedagem. Confronta-se, na discussão dos
êxito, deve entender e atender conteúdos resultados, diante desse ideal predominante
de hospitalidade; sugere-se, portanto, que o da hospitalidade dos meios de hospedagem,
planejamento e a gestão de qualquer que a hospitalidade de um meio de hospe-
atividade turística estão diretamente ligados dagem também pode se dar à escala da ci-
à aplicação de preceitos de hospitalidade dade. De maneira que o resultado obtido é a
(sendo a hospitalidade urbana uma das possibilidade de desdobramentos de pes-
vertentes), aos preceitos de bem “acolher” quisas que procurem demonstrar a contri-
ao outro, à capacitação de pessoas para buição dos meios de hospedagem como
atividades turísticas no trato com o hospitalidade na imagem e paisagem urba-
estrangeiro e com a alteridade (Camargo, nas.
2005; Grinover, 2006).
De modo que dentre as diversas 2 METODOLOGIA
áreas de estudo da hospitaliade, a
hosptitaliade urbana foi destacada por essa Caracterizou-se por uma pesquisa
pesquisa por entender que ela está essencialmente exploratória e descritiva,
relacionada com a qualidade do ambiente pois, de acordo com Gil (2008), nos objeti-
urbano do destino turístico, com a qualidade vos dessa pesquisa, procurou-se obter uma
da experiência ótica do turista ao se visão generalizante de um fenômeno: meios
deslocar pela cidade visitada e, portanto, de hospedagem como signo de hospitalida-

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de urbana, ao mesmo tempo em que des- hospitalidade urbana; o uso desses termos
creve as características desse fenômeno. em inglês, bem como a combinação deles
Pode-se ainda inferir que o caráter entre si enquanto palavras-chave (e
exploratório da pesquisa também se adequa keywords), para a busca da produção cientí-
ao valor interdisciplinar porque pretendeu fica relacionada ao tema nos últimos cinco
“aproximar” dois fenômenos (meios de hos- anos (2012 a 2017) em portais de pesquisa
pedagem e hospitalidade urbana) até então acadêmica de base de dados: Ebscohost,
nunca antes correlacionados, pouco estuda- Elsevier, Scielo (Scientific Electronic Library
dos e sistematizados conjuntamente, permi- Online) e Portal de Periódicos Capes.
tindo-se a interação entre dois campos do Soma-se a isso uma “varredura” de
saber, recombinando-se elementos distintos produção científica (com os mesmos termos
constituintes para uma nova ideia; ainda utilizados na busca dos portais virtuais) na
que seja apresentada, num primeiro mo- biblioteca da Escola de Comunicação e Artes
mento, de maneira “ampla” e “aberta” (Vas- (ECA) da Universidade de São Paulo (USP),
concelos, 2002). na biblioteca da Faculdade de Arquitetura e
O caráter exploratório da pesquisa Urbanismo (FAU) da Universidade de São
foi respaldado pelo levantamento e leitura Paulo (USP), na biblioteca da Universidade
bibliográficos, bem como estudos de caso e do Vale do Itajaí (UNIVALI) e na biblioteca da
pesquisa de divulgação de meios de hospe- Universidade Anhembi-Morumbi (UAM),
dagem pelo trade turístico; houve a necessi- tendo-se assim um elenco essencialmente
dade de busca de informação em sítios ele- pautado por livros, teses e dissertações so-
trônicos que fazem a propaganda hoteleira bre o assunto.
– eis os instrumentos de coleta de dados – A busca em portais de base de dados
constituindo-se em material para “leitura” e nas bibliotecas conferiu um levantamento
espacial dos ambientes hoteleiros, sobretu- bibliométrico como parte e processo da
do como espaços urbanos, imagem urbana e pesquisa, necessário para a indicação da
paisagem urbana. bibliografia a ser utilizada na identificação
Entendeu-se que a etapa de coleta do problema de pesquisa, na construção do
de dados foi amparada por repertório ad- referencial teórico e para a fundamentação
quirido dos pesquisadores, fundamentando- teórica. Sobretudo, a bibliometria confirmou
se no que Roland Barthes (1971) compreen- a lacuna existente, o caráter inovador da
de por experiência e conhecimento prévio pesquisa e a contribuição dela para o campo
do pesquisador na seleção dos materiais do turismo: o meio de hospedagem nunca
considerados pertinentes ao tema de estu- antes havia sido associado como atributo e
do; ou seja, também um acúmulo de conhe- signo de hospitalidade urbana.
cimento empírico como dado a ser conside- Com todo esse material e repertório,
rado. seguiu-se à “leitura” espacial do objeto de
Houve também um momento de ve- estudo.
rificação dos conceitos de hospitalidade, A “leitura” espacial se apoiou no mé-
hospitalidade dos meios de hospedagem e todo interpretativo da representação (con-

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forme a semiótica peirceana). Ou seja, en- interpretado como dotado de signos de


tenderam-se as imagens de divulgação e os hospitalidade urbana (Grinover, 2007).
espaços dos hotéis em meio urbano como Enquanto possíveis generalizações e
representação. Na seleção do que se pre- caráter inovador dessa pesquisa há a possi-
tende representar, foi possível identificar bilidade de se vislumbrar a hospitalidade do
uma intelecção, por parte do sujeito emissor meio de hospedagem (enquanto arquitetu-
ou objeto emissor (arquiteturas de meios de ra) não só como condição espacial interna à
hospedagem), em propor ideologias; as edificação. Para tanto, o método interpreta-
quais, neste sentido, foram interpretadas tivo de avaliação dos resultados esteve am-
como signo para criar diferenças na imagem parado pelas teorias de hospitalidade urba-
e paisagem urbanas. na, essencialmente com o trabalho de Lucio
Ao se representar, os meios de hos- Grinover (2007), que se ampara em teorias
pedagem indicam ideologias de um emissor de urbanização acerca de imagem e paisa-
e, possivelmente interpretadas pelo recep- gem urbanas, sobretudo nos trabalhos de
tor, indicam-se os valores deste; conside- Kevin Lynch (2010).
rando-se que nos processos de emissão e
recepção a informação gerada pelo receptor 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
não compreende numa total comunicação e
informação; daí também a possibilidade de 3.1 Hospitalidade em meios de hospeda-
interpretar a razão pela qual não se deu o gem
objetivo emitente. Nesses processos de re-
presentação (emissão e recepção) se revela Pode-se justificar e fundamentar a
o repertório cultural dos sujeitos e objetos hospitalidade por aspectos físicos do espaço
(meios de hospedagem), podendo-se produ- em meios de hospedagem. Sendo assim,
zir signos que, associados, puderam recon- veem-se autores que se utilizam do mote da
siderar hipóteses formuladas no início da estética de um hotel enquanto aparência
pesquisa; permitindo-se possíveis generali- física do produto hoteleiro, o que se pode
zações ou interpretações próprias à lingua- “sentir” com ela, as qualidades sonoras dos
gem visual e espacial plurissignificativa pre- ambientes hoteleiros, dos sabores na oferta
conizada pela semiótica peirceana. de restauração e até o cheiro dos ambien-
De modo que as arquiteturas de tes, como signos vinculados à hospitalidade
meios de hospedagem, enquanto imagem (Garvin, 1992).
urbana, foram entendidas como representa- Nesse sentido também, a hospitali-
ção de lugares na cidade ou como marcos dade do espaço de um meio de hospedagem
urbanos; ou seja, são elementos visuais “for- pode ser explicada através da psicologia
tes” guardados na memória individual ou com os conteúdos de “experiência” ou de
coletiva como referenciais no meio urbano “transferência” mental. No caso “experien-
(tanto para turistas como cidadãos). Por cial”, afirmações de Yu-Fu-Tuan (2013) po-
isso, se os meios de hospedagem são com- dem explanar as diferenças entre as catego-
preendidos como marcos urbanos, pode ser rias de espaço e lugar (atribuídas na análise

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dos edifícios hoteleiros, por exemplo): os ação entre espaço edificado (casa de repou-
diversos espaços de um hotel podem consti- so) e hospitalidade, bem como a ideia de
tuir a ideia de lugar memorável (também “entretenimento de hóspedes” conferindo o
para cidadãos locais e não somente hóspe- caráter “emotivo” que as atividades e os
des) porque se correlacionam com códigos e espaços deveriam oferecer na recepção dos
signos sociais de marcação de “lembranças” hóspedes.
na vida; assim, a experiência do espaço ar- Para Gotman (2010), o termo hospi-
quitetural do ballroom de um hotel pode ser talidade está carregado de diversos signifi-
o fator para a recordação de uma festa de cados, tendo surgido no vocabulário francês
batismo, de uma festa de aniversário, casa- em 1206, significando, sobretudo, “aloja-
mentos, bodas, etc. Um exemplo de “trans- mento gratuito de caridade aos indigentes”,
ferência” mental é o fato de um hóspede, ao vinculando-se a caridade como virtude teo-
entrar em seu quarto de hotel, poder se lógica cristã; já no século XVI, hospitalidade
emocionar pela identificação da decoração retoma o significado “inspirado” na Antigui-
ou mobiliário de situações passadas (de am- dade, segundo Antoine Furetière em seu
bientes semelhantes que ele já vivenciou) Dicionário Universal de 1684: há uma hospi-
(Tricárico & Vargas, 2017). talidade fundamentada na caridade, na
De sorte que é possível associar o va- oferta de abrigo e na benevolência para com
lor semântico e sensorial do espaço com a os indigentes; e há outra hospitalidade se
hospitalidade: “O exercício da hospitalidade referindo ao direito recíproco de proteção
é uma retomada do simbólico” (Gotman, entre pares.
2001). Camargo (2015) afirma que certo
Pode-se também interpretar através desprestígio e preconceito (inclusive por
do uso da língua a devida relação entre o parte da academia) “ronda” o ideal de hos-
meio de hospedagem e a hospitalidade. Nos pitalidade, efetivamente quando se referida
países de língua latina houve a opção pelo à hotelaria contemporânea. Como interpre-
uso do termo “hotelaria” ao se referir a tação de hospitalidade, pode-se incluir a
meio de hospedagem; mas este mesmo sig- cobrança por diárias e a constatação do lu-
nificado para “hotelaria” surge em países cro oriundo dos serviços hoteleiros. Até
anglo-saxônicos como hospitalidade (Ca- mesmo o meio acadêmico se voltou para a
margo, 2015). Daí, portanto, o uso de hospi- formação de profissionais com o perfil para
tality para designar “hotelaria” e não o uso o mercado de negócios hoteleiros, “ofus-
de hotelbusiness (Camargo, 2015). Grinover cando” uma concepção humanista para o
(2007) assinala que o Oxford English Dictio- tema da hospitalidade (Camargo, 2015). Ou
nary registra o significado de hospitalidade seja, a concepção da hospitalidade muito se
como a “recepção e o entretenimento de configurou em razão dos serviços da empre-
hóspedes, visitantes, estrangeiros” e é ori- sa hoteleira; onde até mesmo o espaço do
unda do termo “hospício”, casa de repouso hotel era essencialmente tratado como fator
como restauração para os peregrinos da de gestão do empreendimento e dos negó-
Idade Média. Portanto, há uma clara associ- cios.

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De sorte então que seria necessário que o hospedeiro assim a fizesse de forma
percorrer uma história dos meios de hospe- pretensamente “voluntária”. De modo que
dagem para demonstrar que a evocação do se pode discernir entre uma hospitalidade
espaço em meios de hospedagem se expres- “preparada”, “treinada” e “planejada” (diga-
sa através da hospitalidade não necessaria- se do espaço hoteleiro inclusive) e uma hos-
mente empresarial. pitalidade voluntária por parte do anfitrião:
Nesse sentido, Camargo (2015) evi- “Ser anfitrião não significa ser hospitaleiro”
denciou a possibilidade da associação entre (Wada, 2003).
hospitalidade e estética (diga-se do espaço Atualmente, muitas empresas do se-
inclusive): “Uma associação de estética e tor hoteleiro não só comercializam seu pro-
hospitalidade poderia encontrar na ‘finali- duto “hotel”, mas vendem “experiências”
dade sem fim’ de Kant (1994) uma boa pista (através do espaço, inclusive) como signo de
de pesquisa. O mesmo Kant poderia intro- hospitalidade – condição desta fase do capi-
duzir o estudo da ludicidade, do prazer as- tal, explicada por Pine e Guilmore (1999)
sociado à ação humana de receber pessoas como uma quarta atividade econômica (de-
(...)” (Camargo, 2015). pois dos setores primário, secundário e ter-
Obviamente que as proposições de ciário), diferenciando-se dos bens e serviços,
“ludicidade” e “ação humana de receber porque agrega valores evocativos até então
pessoas”, (conforme citação acima) podem não identificáveis (Rubino, 2009).
prescindir de suportes espaciais. Parece ser inexorável que qualquer
De outra maneira, cabe a observação relação interpessoal direta com o hóspede
de Rita de Cássia Ariza da Cruz (2002) ao em algum momento deve incluir a condição
afirmar que a hospitalidade é o ato de aco- de uma hospitalidade genuína, mesmo se
lhimento que proporciona bem-estar ao tratando (em princípio) de uma hospitalida-
hóspede; e, portanto, ainda que se tenha o de comercial (Lashley, 2004): o valet do ho-
ingrediente do pagamento por esse serviço tel pode ajudar um idoso a atravessar a rua,
de restauração, não são excludentes os con- a relação entre um recepcionista e o hóspe-
teúdos de hospitalidade. Cruz (2002) propõe de pode incluir trocas culturais e de infor-
que mesmo não sendo paga, muitas vezes a mação que não estavam “previstas” como
hospitalidade está sendo oferecida de forma cobrança da diária do hotel.
não aceitável e não espontânea por parte do E se pode pensar ainda que dentro
anfitrião; portanto, o fato de não se pagar de uma interpretação de uma hospitalidade
por uma pretensa hospitalidade, não quer comercial, a satisfação do hóspede se daria
dizer (necessariamente) que ela se efetivou. o quão mais “luxuoso” e “caro” são os servi-
Ainda que não cobrada, a hospitali- ços de hospedagem; porém, muitos depoi-
dade oferecida pelo anfitrião muitas vezes mentos têm demonstrado que uma excelen-
podia ser por uma obrigação dos códigos e te experiência em hotel também se dá em
condutas religiosos de então: o medo do unidades mais simples e baratas, porém
“castigo” dos deuses para os maus anfitriões aconchegantes e dotadas de conforto (como
parece ter sido uma “moeda de troca” para atributos espaciais) (Lockwood & Jones,

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2002). tendas construídas para paragens de cara-


O fato é que as duas categorias de vanas nos chamados khans (espaço com
hospitalidade – tanto voluntária como em- estábulo, pouso e fortaleza) (Walker, 2002,
presarial – podem por vezes se fundir. Pare- p. 4).
ce ser difícil uma distinção definitiva acerca Desde o século VI a.C. já havia de-
desse tema. Petrocchi (2002), referindo-se à manda por hospedagem em razão do inter-
hotelaria, afirma que mesmo como negócio, câmbio comercial entre cidades mediterrâ-
ela deve preliminarmente satisfazer o clien- neas. Naquele momento, o meio de hospe-
te e não ser entendida como venda de servi- dagem se caracterizava pelo auto-serviço,
ços e produtos: “Isso é customização. Em eram partes de residências ou quartos ocu-
suma, vive-se a era do cliente” (Petrocchi, pados com três até dez camas, sem a dife-
2002, p. 77). Petrocchi (2002) procura justi- renciação do tipo de hóspede (Duarte,
ficar esta condição da personalização do 1996).
cliente através de uma visão empresarial A Antiguidade será marcada pela
através de um “quarto” tipo de oferta eco- hospitalidade em instâncias hidrominerais
nômica – “pós-serviços” – que deve atingir a na Britânia (Inglaterra), na Helvécia (Suíça) e
sensibilidade do cliente – e eis o suporte no Oriente Médio (Andrade, Brito, & Jorge,
espacial para tanto. 2000, p. 19).
Os jogos olímpicos eram realizados
3.2 A hospitalidade em meios de hospeda- no santuário de Olímpia, na Antiga Grécia;
gem essencialmente associada a espa- ali então foram construídos balneários e
ços e serviços internos à edificação uma hospedaria. Os balneários de águas
termais não constituíam necessariamente
Convém, portanto, para o objetivo uma hospedagem, mas eram lugares de la-
dessa pesquisa, evidenciar a hospitalidade zer que dispunham cômodos para descanso
durante o percurso da história dos meios de (Campos & Gonçalves, 1998).
hospedagem, demonstrando que ele ofere- A noção de hospitalidade como aco-
ceu condições sensorial e semântica, mas, lhida foi verificada na Grécia Antiga através
essencialmente do espaço interno às edifi- dos códigos rituais de hospitalidade: ofere-
cações para alojamento ou hoteleiras. cia-se ao hóspede um banho inicial para se
São poucos registros que sinalizam o refrescar; depois o colocava no lugar consi-
início da história dos meios de hospedagem, derado o mais acolhedor da casa, sala ou
porém, sabe-se que eles surgiram pela ne- quarto, onde se acendia uma lareira, símbo-
cessidade de viajantes por um abrigo, apoio lo do deus Lares (daí a etimologia de “lar”);
e alimento em suas viagens (Campos & Gon- derramar perfume na cabeça dos viajantes
çalves, 1998). Antes da Antiguidade Clássica mais importantes era um sinal de boas-
havia referência à hospitalidade em taver- vindas (Dias, 2002, p. 100); o anfitrião ainda
nas: o Código de Hamurabi (cerca de 1700 cuidava dos pés do viajante sem lhe pergun-
a.C.) anunciava esses locais como “casas de tar o nome ou a razão de sua viagem, man-
prazer”. Encontravam-se na Antiga Pérsia tendo certa “distância” em relação ao “es-

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trangeiro”, em respeito à sua identidade, romanos demonstravam espacialmente re-


origem e singularidade (Grinover, 2007, p. cursos materiais próprios à hospitalidade no
35). cotidiano, bem como àqueles recursos ne-
No período Clássico Greco-Romano cessários para suprir as carências de um
houve o aumento das trocas de alimentos e viajante (Dias, 2002, p. 103). No período do
utensílios, fazendo com que as viagens tam- Império Romano, os apóstolos de Jesus Cris-
bém precisassem de locais para descanso e to pregavam o ideal de uma casa cristã com
restauração, que se deram primeiramente o dever de um “albergue de Cristo” (refe-
nas casas dos próprios habitantes. Mas, com renciando-se a caridade cristã como moral
o passar do tempo, a hospitalidade na Gré- para se ofertar um meio de hospedagem)
cia e Roma também pôde se verificar espa- (Grinover, 2007, p. 35).
cialmente em tavernas – as tabernae. Marco Com a decadência do Império Roma-
Polo concluiu que muitas tavernas estavam no, a hospitalidade pública se tornou um
“à altura de um rei”. O florescimento do pressuposto das ordens religiosas (Walker,
Império Romano fez tavernas e estalagens 2002, p. 5). As tavernas, tidas como locais
locais para encontros de mercadores, estu- do “prazer” e como espaço mundano, não
diosos e atores, sendo assim chamadas por podiam mais receber peregrinos religiosos;
divertorium. Tavernas e estalagens junto às eles se hospedavam em pousadas junto aos
estradas eram locais para pessoas da mais templos e lugares sagrados. O Cristianismo e
“baixa espécie” (prostitutas, bêbados e vici- as Cruzadas, nesse sentido, contribuíram
ados, pessoas de hábitos rudes e moral du- para o incremento dos meios de hospeda-
vidosa), chamados por ganea (Dias, 1990, p. gem (Monteiro, 2005). Carlos Magno no
28). século VIII construiu pousos para peregrinos
No Império Romano também se veri- religiosos por toda Europa, promovendo-se
fica o stabulum como hospedagem de via- também segurança e pouso para ordens de
jante e tratamento da montaria; possuía um cavalaria. Corporações medievais “abriam
tipo de hóspede diferenciado (por ter cava- suas casas” para o devido acolhimento, as-
los como meio de transporte). A mutatione semelhando-se com aposentos de mosteiros
era construída em vias mantidas pelo Estado (Walker, 2002, p. 6).
Romano, dava suporte à troca de animais Hospitais e albergarias eram hospe-
em trânsito e para o descanso do viajante. A darias para peregrinos nos lugares “santos”,
mansione era destinada a abrigar tropas muitas vezes localizados junto aos mostei-
militares. A popinae ofertava comida e bebi- ros, ofereciam tratamento médico (daí o
da; a oenopolia ofertava bebidas alcóolicas e “hospital” como se conhece atualmente) e
a thermopolia ofertava bebidas quentes floresceram no século XI, sobretudo em Por-
(Dias, 1990, p. 28). tugal. No período medieval também se nota
O hostellum no Império Romano era o surgimento das estalagens ou estáus (ou
um palacete onde reis e nobres se hospeda- estáos, ou hostáos) como casas de aposen-
vam em viagem (Duarte, 1996). tadoria pública ou da corte (Dias, 1990, p.
As residências de hospedagem dos 29). No século XIII, na Europa, o hospitalis

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era lugar de caridade para com indigentes e número de estabelecimentos de hospeda-


viajantes; também promovia conhecimento gem em razão da estabilidade política
mútuo entre os internados (Grinover, 2007, (Chon, 2003, p. 87). Associa-se o fato de que
p. 36). as carruagens se tornaram o meio de trans-
Em Paris, no século XIII, a prestação porte mais utilizado na Inglaterra, eram ne-
de serviços de hospitalidade era regulamen- cessárias as paradas em pousadas e taver-
tada; portanto, tida como atividade consoli- nas (post houses, estalagens de correios,
dada e crescente (Dias, 2002, p. 103). Por hotéis de carruagem ou stagecoach inn)
toda Idade Média, o acolhimento a viajantes para a devida restauração (Walker, 2002, p.
foi tratado como obrigação espiritual e mo- 6).
ral (Andrade et al., 2000, p. 18). Ainda du- De maneira geral, a era das grandes
rante a Idade Média e já nos primórdios da monarquias nacionais ficou marcada por
era moderna, a hospedagem se consolidou hospedagem aos nobres, operacionalizada
em abadias, mosteiros, acomodações junto pelos Impérios em palácios, em instalações
a correios, abrigos para peregrinos religiosos militares e administrativas. Viajantes ple-
e cruzados (Andrade et al., 2000, p. 19). Flo- beus eram acolhidos precariamente em al-
rença, por exemplo, em 1282, criou a junta bergues e estalagens (Walker, 2002, p. 6).
de empresários de alojamentos, com o intui- Também no início da colonização do
to de defender os interesses comuns daque- Novo Mundo se pode notar a implantação
les empresários (Pires, 1991a). de meios de hospedagem: em 1642 os ho-
O termo hospitalidade também deri- landeses montaram a primeira taverna nos
vou do termo hospice, e que atualmente Estados Unidos, o Stadt Huys, em Niewn
possui significado ligado aos espaços de Amsterdam (atualmente Nova York). Em
“asilos” ou “albergues”; termo oriundo de 1643, a Companhia das Índias Orientais fun-
uma palavra francesa que significa “dar aju- dou a Taverna Krieger, em Bowling Green
da ou dar abrigo aos viajantes”. Um dos (Walker, 2002, p. 10).
hospices que ficou mais conhecido é do Be- Os primeiros registros de hospitali-
aune, na Borgonha, França, inaugurado em dade na Terra de Santa Cruz (Brasil) foram
1443 (Walker, 2002, p. 4). Aspectos espaci- de caráter religioso e familiar. “Casas de
ais relevantes do Hospice de Beune são as- Hóspedes” aparecem em registros das anti-
sim relatados: “A extravagância do Hospice gas capitais do Brasil (como Salvador e Rio
de Beaune é desconcertante, com ornatos de Janeiro) nos séculos XVII e XVIII, estavam
arabescos, pátios rodeados de frontões e localizadas em conventos, em ordens religi-
uma deslumbrante cobertura de telhas poli- osas que davam hospedagem a confrades
cromadas (...). O Hospice é ainda valorizado em trânsito e muitas foram tidas como
por notável coleção de arte (...) tais como o “hospícios” em seus primórdios (como, por
Juízo Final, de Roier van der Weyden (...)” exemplo, o Hospício da Ordem Terceira de
(Walker, 2002, p. 4). Santo Agostinho, em Salvador, fundado em
No século XVI, durante a Dinastia Tu- 1693); mas, com o tempo, esses locais se
dor na Inglaterra, houve um aumento no transformaram em hotéis a partir de poucas

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adaptações (Buarraj, 2004). Unidos, concomitante com uma política de


O século XVIII reifica a noção de hos- igualdade própria da democracia norte-
pitalidade com acepção comercial, ainda americana (Duarte, 1996). Dessa maneira,
que carregue a prática da troca, da recipro- no ano de 1794 em Nova York, o primeiro
cidade e da pacificação (Montadon, 2003, p. prédio projetado para ser um hotel foi con-
138). Assim sendo, manifestam-se no século siderado um “imenso estabelecimento”,
XVIII iniciativas para a efetivação de um ho- pois 70% da área total era destinada ao uso
tel que fará a cobrança pelos serviços pres- social; a população da cidade, que era de 30
tados; em 1760 a palavra “hotel”, oriunda mil habitantes naquele momento, passou a
de hôtel-garni, passou a ser utilizada na In- utilizar o hotel para encontros sociais. Desde
glaterra; significava um estabelecimento então, vários hotéis foram construídos como
conhecido em meio francês, mas se identifi- um lugar importante das cidades norte-
cando no contexto inglês com acomodações americanas. Destaca-se, nesse viés, o pri-
luxuosas e ostentativas (Dias, 2002, p. 104). meiro “arranha-céu” que se construiu em
Em 1774, surgiu o primeiro hotel familiar em Nova York – o edifício Adelphi Hotel – com
Londres, na casa de Lord Archer, em Con- seis andares.
vent Garden (Dias, 1990, p. 32). A instalação da Família Real portu-
Em 1788, foi inaugurado um dos guesa no Rio de Janeiro, em 1808, promo-
primeiros hotéis europeus – o Hotel Henri- veu hotéis de categoria, contando com no-
que IV – em Nantes (Walker, 2002, p. 7). vos serviços nunca antes conhecidos pela
No Brasil, em 1785, constituiu-se a população da colônia brasileira (Pires,
Casa dos Hóspedes no Colégio da Compa- 1991a).
nhia de Jesus, em Salvador; o qual hospedou Data do início do século XIX inova-
personalidades, pois a participação da Igreja ções na hotelaria do México: em 1825 se
Católica tinha papel fundamental na hospe- constrói o primeiro hotel de luxo – o Hotel
dagem de visitantes ilustres para aquele Itúrbide (Duarte, 1996).
momento (Duarte, 1996). No início do século XIX se introduziu
A idéia de resort hotel apareceu no o gerente de hotel, recepcionistas e a confi-
final do século XVIII e início do XIX (Dias, guração de toda equipe hoteleira; portanto,
2002, p. 104). Também nesse período, surge surgem novas concepções espaciais para o
o grand american hotel nos Estados Unidos, edifício hoteleiro, dadas aos novos serviços
onde qualquer cidadão ou turista poderia prestados (Dias, 2002, p. 104).
usufruir os serviços oferecidos (desde que O arquiteto Isaiah Rogers (conside-
pagasse por eles); diferente da hotelaria rado autoridade na construção hoteleira),
européia que ficou “fechada” à sociedade projetou em 1829 o chamado “Adão e Eva
como um todo, servindo somente à aristo- da Hotelaria”, pelo fato de ser o maior e
cracia. mais caro hotel devido às principais inova-
Ainda no século XVIII, houve um rá- ções físicas, com acomodações privadas,
pido crescimento da hotelaria devido ao quartos single e double (pois até então os
pioneirismo dos “innkeepers” nos Estados hotéis possuíam grandes quartos com mui-

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tas camas); as unidades tinham portas com jantar com ganchos para que as mulheres
fechaduras; cada unidade possuía bacia e pendurassem suas bolsas. Para Ritz, roupas
jarro para higienização pessoal (o hotel ofe- de cama deveriam ser leves para melhor
recia um sabonete de brinde) e disponibili- lavação e colchões deveriam ter capa prote-
zava um mensageiro para localizar hóspedes tora (Dias, 2002, p. 114). Pode-se ainda veri-
dentro do hotel. Tais inovações foram copi- ficar que Ritz incluiu um banheiro privativo
adas em várias cidades norte-americanas, dentro do quarto de hotel (Andrade et al.,
pois todas queriam um hotel luxuoso (Duar- 2000, p. 18).
te, 1996). Ritz tinha no lidar com pessoas a
Em meados do século XIX, albergues maior virtude para a profissão de um hote-
rurais surgiram como possibilidade de es- leiro (Walker, 2002, p. 21); e a fez (inclusive)
capismo (como mote do “retorno ao cam- revertendo esse pensamento para o valor
po”) de um meio urbano tumultuado, mar- do espaço interior do hotel como hospitali-
cado por multidões empolgadas pela Revo- dade. Cesar Ritz não só teve sucesso como
lução Industrial nas cidades (Duarte, 1996). empresário hoteleiro pelo “planejamento”
Na segunda metade do século XIX, da hospitalidade, mas porque sua ação pla-
Cesar Ritz, através de sua hotelaria, criou o nejadora esteve também amparada por uma
termalismo italiano, transformando a pe- hospitalidade voluntária, um valor prede-
quena vila de Salsomaggiore em um destino cessor como “sensibilidade” hospitaleira. O
termal de importância mundial (Dias, 1990, termo “ritz” (oriundo de Cesar Ritz) foi inclu-
p. 40). ído no vocabulário inglês e significa requin-
Ritz conseguiu associar os espaços do te, luxo, conforto, elegância e prestação de
hotel com experiências inusitadas: concer- serviços de alta qualidade de um hotel (Dias,
tos musicais durante as refeições; diversões 2002, p. 105). Cesar Ritz tratava muito bem
ao ar livre; decoração do hotel com flores seus clientes, recordando-se em detalhes de
naturais; propõe para o quarto de núpcias a suas idiossincrasias, do que eles gostavam e
iluminação indireta e a iluminação “peneira- do que eles não gostavam (Dias, 2002, p.
da”, tornando a mulher mais sedutora; de- 114).
senvolveu abajures para iluminar a comida Petrocchi (2002) aponta que o credo
sem ofuscar os integrantes à mesa (Dias, do empreendedorismo de Ritz, “simboliza-
2002, p. 115); introduziu armários embuti- do” (sobretudo) no Ritz-Carlton, é que “A
dos nas unidades habitacionais (Dias, 1990, estada no Ritz-Carlton aguça os sentidos,
p. 40). Ritz colocou closets nas unidades infunde bem-estar e satisfaz até mesmo os
habitacionais dos seus hotéis; propôs uma desejos e as necessidades não manifestados
ante-sala em um nível mais baixo que o sa- de nossos hóspedes.” Cabe então se pergun-
lão de jantar no Hotel Carlton de Londres, tar se as atitudes de Ritz eram somente vol-
para que as mulheres entrassem e saíssem tadas para a obtenção do lucro na cobrança
“teatralmente” pelas escadarias necessárias de diárias e pelos serviços prestados de res-
ao passar pelos diferentes níveis (Dias, 2002, tauração, ou se em nenhum momento sua
p. 111). Ritz dotou poltronas das salas de “inventividade” para negócios hoteleiros

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esteve motivada por sentimentos de hospi- tos hotéis para os “homens de negócios”
talidade genuinamente voluntários. Ritz ofereceram áreas de convivência ao ar livre,
criou signos para hotelaria que se perduram algo pouco usual em hotéis corporativos
na hotelaria contemporânea. (Otto, 2011, p. 3).
Em meados do século XX, após a Se- Nos anos de 1970 apareceram os
gunda Grande Guerra, o contexto econômi- Days Inn, Super 8 Motels e Comfort Inns e
co norte-americano se encontrava em gran- algumas corporações hoteleiras, tais como
de desenvolvimento, também porque a Eu- Marriott, Four Seassons, Hyatt, Canadian
ropa ficou arrasada com a guerra. “Cidadãos Pacific, Sheraton, Radisson, Hilton, Ramada,
médios” norte-americanos tinham poder de que se expandiram por todo mundo (Wal-
compra do automóvel; e, em gozo de suas ker, 2002, p. 20).
férias trabalhistas, viajavam com toda a fa- Há uma personificação na hotelaria
mília pelo território norte-americano. Diante dos anos 80 do século XX; surgem hotéis de
da necessidade de paradas e pernoites pelo arte, hotéis design, hotéis boutique; e,
caminho rodoviário, aparecem os motéis, exemplarmente, algumas pousadas em Por-
alterando-se condições dos hotéis tradicio- tugal que incluíram a experiência da culiná-
nais: o turista de automóvel escolhe estra- ria e da gastronomia locais junto à experiên-
das com valores cênicos (parkways), as quais cia da estada (Oliveira, 2006, p. 62).
serão privilegiadas na implantação de mo- Nos anos 1980, estâncias turísticas
téis (Motels, Hotels, Restaurants and Bars, em lugares tidos como “exóticos” se torna-
1960). Nota-se ainda que o modelo de motel ram populares e acessíveis. Os anos de 1990
norte-americano eliminou a “espera” nos foram marcados por recessões nas econo-
lobbies, excluiu a “formalidade” do serviço mias nacionais e por momentos de guerras
de recepção, acabou com problemas do es- que diminuíram receitas do turismo; e, por
tacionamento (pois o carro ficava junto à conseguinte, a hotelaria organizou associa-
unidade habitacional, conferindo conforto e ções e parcerias no intuito de se manter ou
tranquilidade), acabou com gorjetas (pois até se consolidar (Walker, 2002, p. 20).
hóspede ficava independente dos serviços Contemporaneamente, dos anos
oferecidos), os quartos eram novos e com 2000 até hoje, vive-se um “novo” turismo,
televisão em cores, havia piscina privativa muitas vezes classificado como pós-
(Dias, 1990, p. 37). massificado e com valores afeitos à solidari-
Nos anos 1960 surgiu Robert Huyot e edade e afetividade (turismo cultural e de
sua hotelaria para “homens de negócios”. base comunitária, por exemplos); onde o
Hyot enfatizou a sobriedade nos ambientes turista, em sua busca por experiências pes-
do hotel, concomitante com o perfil daque- soais, associa valores votivos do “coração”
les clientes. Huyot expôs que o hotel para (Petrocchi, 2002, p. 78). Nesse viés, a atual
homens de negócios tem que ser “diplomá- hotelaria (enquanto parte da cadeia produ-
tico”, econômico e se adequar aos valores tiva turística) passa a construir um vínculo
estéticos, psicológicos e emocionais da cli- com o desenho, cultura material e simbólica
entela (Dias, 1990, p. 42). No entanto, mui- do lugar (do espaço, portanto) (Montaner,

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1997). automação e conteúdos semânticos “emoti-


A “aparência física” dos espaços de vos” nos espaços interiores de um hotel,
um hotel geralmente é “lembrada” como dando subsídios para outras manifestações
imagem memorável. Imagens memoráveis da arquitetura (Tricárico & Vargas, 2017;
do “produto” hotel demonstraram interfe- Tricárico, Rossini, & Tomelin, 2016; Tricári-
rência na tomada de decisão quando se fa- co, 2016; Oliveira, Tricárico, Velasquez, &
zem as reservas de quartos (unidades habi- Gorski, 2015; Tricárico, Rossini, & Tomelin,
tacionais) (Chen, Ekinci, Riley, Yoon, & Tjei- 2016a; Tricárico, Rossini, & Tomelin, 2015;
flaat, 2001). De outra maneira, pesquisas Tricárico, 2015; Tricárico, Tomelin, & Rossi-
sobre qualidade da hospedagem também ni, 2014; Tricárico, Oliveira, Rossini, & Mi-
inferiram que o ambiente interno tanto co- randa, 2013).
mo o ambiente externo de um hotel, deve Nota-se, portanto, que a abordagem
ser bem cuidado, limpo e iluminado (Ladha- bibliográfica acerca da hospitalidade (seja
ri, 2012). Assim, por exemplo, pesquisas voluntária ou empresarial) do espaço em
realizadas no Hotel Hamilton na Nova Ze- meios de hospedagem se caracteriza efeti-
lândia demonstraram o papel relevante atri- vamente pela descrição da mesma em espa-
buído pelo hóspede à aparência e ao confor- ços interiores à edificação, da prestação dos
to do quarto de hotel (unidade habitacio- serviços e no máximo, da escala arquitetural
nal), referindo-se também à qualidade da do espaço hoteleiro. Não tendo, portanto,
mobília nele existente (Mohsin, 2007). em nenhum momento da “varredura” bibli-
Referências locais, muitas vezes com ométria se verificada a relação hipotética
recorrência aos valores do lar, podem ter desta pesquisa: meios de hospedagem como
outros objetivos além do ideal do home signo e atributo de hospitalidade urbana.
away from home6 na hotelaria contemporâ-
nea; pois pesquisas realizadas na China su- 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
geriram que uma hotelaria de escala domés-
tica pode contribuir com o setor hoteleiro 4.1 A hospitalidade dos meios de hospeda-
chinês (de grande escala) a superar dificul- gem à escala urbana e da cidade
dades oriundas desde o final da década de
1990; haja vista que em mercados com alo- Cabe observar que se pode outorgar
jamentos saturados, pequenos hotéis garan- aos meios de hospedagem a capacidade de
tiram o ciclo econômico (em escala nacional hospitalidade também exposta para a cida-
chinesa) (Gu, 2003). de e na paisagem urbana, para além de sua
Trabalhos recentes têm demonstra- condição sistematizada até então em espa-
do o valor que a arquitetura hoteleira tem ços internos à arquitetura. Tal interpretação
depositado na inserção de sustentabilidade, será possível porque muitos dos meios de
hospedagem tratados a seguir conseguiram
6
se configurar como referências e marco ur-
Quanto ao conceito de home away from home, ver
o trabalho de Célia Maria de Moraes Dias (1990), bano, lugares da e na cidade.
elencado no final do artigo como referência Lantos (1977) propõe aos avós que
bibliográfica.

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nunca saíram de suas pequenas cidades ou condições primordiais para o sucesso de um


de suas aldeias, que se fossem presenteados hotel: em primeiro lugar é o local; em se-
(juntamente com seus netos) para uma visi- gundo lugar vem o local e em terceiro lugar
ta à “cidade grande”, ganhando também a se encontra o local (Dias, 2002, p. 113).
estada em um grande hotel; ficariam espan- Cidades norte-americanas ficaram
tados na chegada diante do hotel; depois se reconhecidas mundo afora, sem contar ain-
espantariam também com o luxo e o confor- da com o teor identitário para seus cida-
to do edifício hoteleiro; denotando-se, por- dãos, da imagem urbana que palace-hotéis
tanto, que o hotel na cidade se diferencia construíram ao longo do tempo. Assim, co-
das demais arquiteturas. De modo que Lan- mo exemplo, deu-se em Chicago através do
tos (1977) observou que as catedrais fica- Hotel Palmer House; ou em Nova Orleans
ram “ridículas” perante edifícios hoteleiros. com os hotéis Saint Charles e Saint Louis; em
Os edifícios hoteleiros também Saint Louis com o Planter’s Hotel; com o
promoveram novos “ídolos” para nossas Hotel del Coronado em San Diego (sendo
cidades: Rockefeller, Hilton e Meliá – dado o também um referencial histórico). Outras
conteúdo simbólico dos hotéis na imagem e cidades norte-americanas, como Washing-
paisagem urbanas; marcando lugares urba- ton e Buffalo, contaram com a extravagância
nos. Até porque grandes hotéis são constru- e opulência da edificação hoteleira como um
ídos em locais de referência e porções no- símbolo de cidade (Walker, 2002, 14).
bres dentro das cidades, assim como sedes Deve-se verificar também que os
de governo, igrejas, quartéis, bancos, entre grandes hotéis norte-americanos represen-
outros (Buarraj, 2004). taram um característico “amor” estaduni-
Cesar Ritz, nos finais do século XIX, dense pela grandeza; segundo Donzel
escolhia o local de seus hotéis próximos a (1989), os hotéis constituem um dos únicos
uma praça central, tendo-se uma vizinhança lugares em que a sociedade norte-
requintada com perfumarias, joalherias e americana se sente segura em ter uma vida
ateliês de alta costura (Dias, 2002, p. 113); pública, com “urbanidade”, e em conviver
ou seja, usos urbanos que “aguçavam” sen- com experiências civilizatórias na esfera
tidos: olor das perfumarias ou o brilho das “pública”; sem dúvida que são espaços “pri-
vitrinas, numa “animação” citadina da práti- vados” somente do ponto de vista legal
ca do footing de compras. Para Ritz, coisas (Donzel, 1989, p. 8).
“bonitas” do ambiente urbano, quando ex- Deve-se notar que a monumentali-
postas, tornavam o caminho do hóspede dade do grande hotel norte-americano veio
mais prazeroso no retorno para o hotel, ou acompanhada pelas revoluções das técnicas
até quando se partia do hotel, guardando-se construtivas daquele momento, devidamen-
uma imagem urbana memorável (Dias, te apropriadas pela arquitetura hoteleira – o
2002, p. 119). arranha-céu e o elevador para subir tantos
A adequada localização de um hotel pavimentos – promovendo-se uma fruição
na cidade se consolidou na “máxima” do visual “assustadora” do skyline de Manhat-
hoteleiro Conrad Hilton. Para Hilton, há três tan para turistas que chegam pelo mar ou a

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Meios de hospedagem como signo de hospitalidade urbana

partir das pontes que ligam o continente à integrando hóspedes, hotel e a cidade (Otto,
ilha (Donzel, 1989, p. 11). 2011, p. 3).
Entre arranha-céus nova-iorquinos, a Tricárico e Gastaldi (2015) demons-
cúpula rosa do Hotel Royal Hawaiian reluzia traram que ao longo da praia de Copacaba-
como uma “jóia” no azulado céu, considera- na no Rio de Janeiro, Brasil, a presença dos
da como um dos últimos “bastiões” da elo- hotéis é que pode garantir a referência de
quente fantasia exótica norte-americana lugares ao longo de uma enseada e orla ma-
(Donzel, 1989, p. 185). rítima essencialmente e “constantemente”
A visibilidade adquirida pelo grande marcada pela visão do horizonte da “linha”
hotel norte-americano também se explica de mar e da areia da praia.
por ele ter incrementado serviços urbanos: O caráter monumental da edificação
o Hotel Fairmont em Yosemite Valley, Cali- hoteleira diante de outras arquiteturas na
fórnia, EUA, introduziu em 1939 um lounge cidade se faz por formas arquitetônicas inu-
bar no vigésimo andar do edifício, disponibi- sitadas elaboradas por arquitetos de “grife”
lizando uma vista panorâmica e inusitada da ou até mesmo vinculadas às “grifes”, tais
cidade (Donzel, 1989, p. 35). como Bulgari, Armani e Camper; e a oferta
O valor simbólico na cidade do gran- dos serviços não é apenas para turistas via-
de hotel norte-americano também pode ser jantes, mas para cidadãos locais (Spolon,
expresso através de filmes premiados pelo 2011, p. 175). Dentro dessa lógica da hotela-
Oscar; porque cineastas hollywoodianos ria contemporânea, pode-se elencar o Sofi-
identificaram a “grandiosidade” daqueles tel So Bangkok, “assinado” por Christian
hotéis, que representados na cinematogra- Lacroix, ou o Sofitel So Mauritius, “assinado”
fia, criaram um signo identitário para muitos por Kenzo (Revista O Globo, 2013, p. 66).
norte-americanos (Donzel, 1989, p. 37). Dentro da paisagem urbana brasilei-
Nesse sentido também, verificam-se ra, o motel adquiriu uma acepção de tipolo-
hotéis da Disney, sobretudo aqueles proje- gia identitária que acabou configurando um
tados por Michel Graves, com fachadas “ícone” característico na paisagem urbana,
construídas com elementos jocosos, propor- jocoso por vezes na imagem da cidade, mas
cionando alegria e descontração ao hóspede que “anima” o ambiente urbano:
transeunte pela rua.
O estilo desses motéis apresenta uma gama
A relação que um hotel deve ter com igualmente variada de opções. Encontramos
a rua pode denotar a condição de hospitali- réplicas de castelos medievais, construções
dade urbana: o lobby do hotel pode oportu- egípcias e mesopotâmicas, prédios com es-
trutura moderna pintados em cores berran-
nizar um acesso por uma rua pública, ao tes ou revestidos de materiais ‘luxuosos’
mesmo tempo em que pode garantir a circu- como mármore, granito, etc, presença de
pinturas murais com alusões ‘eróticas’ ou
lação dos hóspedes dentro do hotel (Andra-
com pequenos chalés separados uns dos ou-
de et al., 2000, p. 125). Ambientes de tros compondo certa paisagem bucólica (...).
uso coletivo para socialização apareceram Outro elemento que reforçaria o ‘apelo se-
xual’ seria o logotipo ou ‘marca’ do estabe-
contemporaneamente em hotéis design, lecimento: maçã mordida, gatinha, sereia,
etc.” (Cavalcanti & Guimaraens, 1982, p. 64)

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Muitos motéis brasileiros já estão nhas da Barra” e “vista para as montanhas e


optando por implantações e tipologias que Pedra da Gávea” (Cavalcanti & Guimaraens,
verticalizam a unidade habitacional, deixan- 1982, p. 89).
do o térreo para o estacionamento do au- Hotéis podem representar uma na-
tomóvel e o nível superior como unidade ção (Figura 1); também podem representar
habitacional. Essa lógica na escolha da tipo- uma cidade, tais como o Grande Hotel Pe-
logia também tornou possível a abertura de trópolis em Petrópolis, RJ; o Hotel Palace
vistas para o exterior sem tirar a privacidade Casino em Poços de Caldas, MG; o Hotel
dos ocupantes; assim alguns motéis cariocas Renar em Friburgo, SC; o Palace Hotel de
podem utilizar a vista a partir da unidade Caxambu, MG; o Hotel Copacabana Palace
habitacional para divulgar seu empreendi- no Rio e Janeiro, RJ (Figura 2) (Tricárico &
mento: “vista panorâmica para as monta- Gastaldi, 2015).

Figura 1 - Imagem do Hotel Burj Al-Arab como propaganda turística dos Emirados Árabes
Unidos

Fonte: http://www.fatimanews.com.br/turismo/predio-simbolo-de-dubai-e-o-unico-hotel-7-estrelas-
do-mundo-veja/164004/

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Tricárico, L. T. ; Oliveira, J. P. ; Rossini, D. M.
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Figura 2 - Cartão-postal da cidade do Rio de Janeiro tendo como imagens o Hotel


Copacabana Palace

Fonte: http://colecoes.mercadolivre.com.br/postal-do-rio-de-janeiro,-anos-60,-copacabana-*-
g-f-b-144

De sorte que os exemplos elencados (...)” (Grinover, 2006, p. 42; grifo dos auto-
acima configuram referências imagéticas res).
enquanto arquiteturas no espaço urbano Constitui-se um marco urbano para
(marcos urbanos), atributos de forma e sig- Kevin Lynch: “(...) ponto de referência, po-
nificado verificados na imagem da cidade. rém, neste caso são externos (...). Geral-
Para McNeil (2008) os hotéis têm sido cada mente, elementos construídos, edifícios
vez mais elementos estruturantes do espaço excepcionais (...) todos dotados de uma
urbano, tanto como marco referencial, tanto forma particular que facilita sua identifica-
como elementos de estratégias de reestru- ção. Podem estar dentro da cidade ou pró-
turação urbana. ximo a ela, a uma distância que simboliza
Grinover (2006) se apóia no trabalho uma direção constante (...)” (César, Tronca,
de Lynch (2010) para explicar que o espaço & Mattana, 2017).
citadino pode estar carregado de hospitali- Nesse viés, os meios de hospedagem
dade: “Esses conceitos desenvolvidos por estimulam a percepção do meio urbano, são
Kevin Lynch (1996), nos permitem resgatar condicionantes para uma cidade mais hospi-
essas análises, ainda atuais. Kevin Lynch taleira (Grinover, 2003, p. 35):
considerava legível uma cidade ou um terri-
tório quando os bairros, marcos ou cami- (...) a cidade torna-se mais hospitaleira na
medida em que o usuário a “lê” com mais
nhos pudessem ser facilmente reconhecíveis facilidade e seus elementos constitutivos

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Meios de hospedagem como signo de hospitalidade urbana

O constante crescimento dos custos


são percebidos e interpretados sem
grandes esforços (...) estudam-se os da construção é proporcional à demanda de
elementos marcantes da paisagem urbana, edificações antigas, uma vez que prédios
aqueles que apresentam individualidades,
desvalorizados requerem uma renda menor
ou seja, traços de singularidade que, por
sua vez, são pontos particulares, que aqueles que ainda não saldaram o capi-
específicos da paisagem, que diferenciam e tal investido. Muitas das empresas que se
caracterizam o espaço urbano que está
sendo estudado. Isso parece ser um ponto tornaram lucrativas não teriam crescido se
fundamental das características da não houvessem encontrado um espaço de
hospitalidade, uma vez que ela vive, em baixo custo em malhas urbanas “antigas” e
parte, das especificidades dos lugares.
(Grinover, 2003, p. 35) consolidadas. Nesse contexto, as empresas
de meios de hospedagem com baixo nível de
Para Grinover (2007), a hospitalidade investimento inicial, sobretudo as direcio-
é um “dom” do espaço carregado pelos sig- nadas ao público de menor renda (hostels e
nos da acessibilidade, legibilidade e identi- hotéis econômicos, por exemplos) podem
dade (Grinover, 2007, p. 123) – portanto, encontrar em malhas urbanas consolidadas
aqueles atributos (também) já sistematiza- a infraestrutura adequada, ao mesmo tem-
dos por Kevin Lynch (2010) em teorias da po em que encontram em edifícios antigos
urbanização. um bom suporte para suas instalações.
Cabe verificar ainda que as categori- Por isso, Jacobs (2003) sugere que o
as de análise identificadas por Lucio Grino- sucesso de um bairro está ligado com a di-
ver (2007) também estão afeitas com as versidade de construções em estilos de épo-
teorias de hospitalidade de Raffestin (1997). ca, bem como a ação do tempo sobre eles.
A representação de lugares através O espaço urbano necessita de mesclas de
de um meio de hospedagem também pode prédios antigos para cultivar a diversidade
se dar na escala de identidade de um bairro (inclusive social) própria à cidade. Muitos
a partir da hotelaria. Para explanar e exem- dos prédios antigos, se bem distribuídos,
plificar tal condição, é recorrente o trabalho tornam-se essenciais. Tal ideal de uma di-
de Jane Jacobs (2003). Segundo Jacobs versidade estética acumulada com edifícios
(2003), um território legível como bairro ao longo do tempo vai ao encontro das pro-
dentro de uma cidade deve incluir significa- posições de Camargo (2015) acerca da con-
tiva porcentagem de edificações antigas de dição de hospitalidade urbana, aliada a um
diferentes idades e estados de conservação processo que inexoravelmente inclui pesso-
variados. Áreas predominantemente com as, numa condição para o “ver-e-ser-visto”.
construções novas são pouco atrativas para Ora, se há pessoas, é porque também há
a experiência identitária de lugares constru- uma oferta de serviços (inclusive de restau-
ídos ao longo do tempo; daí então que estas ração aliados à hotelaria), denotando-se,
áreas não terão movimento de pessoas e por outro lado, a condição de hospitalidade
consequentemente será pouco útil do ponto urbana conferida por Latham (2003) e Bell
de vista de um comércio de rua, por exem- (2007), ao entenderem a hospitalidade ur-
plo.

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bana a partir da comensalidade, dos servi- cação hoteleira junto à rua, criando-se aces-
ços e comércio nos bairros. sos de sugestões de uso coletivo para ball-
A partir dessas considerações teóri- rooms e restaurantes de hotéis.
cas, pode-se elencar a hotelaria e os serviços O caráter identitário dos hotéis en-
de restauração – essencialmente de baixo quanto lugares da e na cidade vai ao encon-
custo para hóspedes – nos bairros de Paler- tro da noção de lugares de hospitalidade à
mo e San Telmo, Buenos Aires, Argentina – escala urbana (Baptista, 2002, 2005, 2008;
são os hostels e até hotéis design (Figura 3) Salles, Bueno, & Bastos, 2014; Stefanelli &
– que se “abrigam” em edifícios antigos – e Bastos, 2016; Stefanelli, 2015).
por isso também se tornam um atrativo para Os edifícios antigos de Palermo e San
um público específico que os procuram ou Telmo não só passam então por um viés
simplesmente percorrem aqueles bairros. “patrimoniável” do bem esteticamente elei-
Tal condição empírica também se funda- to, mas concentram parte afetiva do cotidi-
menta concomitantemente com as teorias ano (memória de antepassados, memória
de urbanização de Kevin Lynch (2010) (vin- material do lugar, estilos arquitetônicas
culadas com teorias de hospitalidade urbana “aprazíveis” a diferentes gostos pela arqui-
de Lucio Grinover (2003, 2006, 2007)) acerca tetura), bem como possibilidade de desen-
da imagem e paisagem urbanas: configura- volvimento econômico (geração de emprego
se a legibilidade dos bairros de Palermo e e renda para população local nos serviços de
San Telmo pela possibilidade de um “agru- hotelaria e restauração). O confronto da
pamento legível” do conjunto dos diversos população local (seja a prestadora direta de
hotéis que se apropriaram de edifícios anti- serviços, seja o cidadão transeunte ou mo-
gos. rador do bairro) com o turista, expõe a pro-
Também nos termos de Lynch posição de hospitalidade urbana defendida
(2010), interpreta-se que os hotéis ocasio- por Severini (2014): relação social entre visi-
nam marcos no tecido urbano (referenciais tante e visitado, amparado pelos diversos
de “lugares” identitários na e da cidade); por espaços da cidade, sejam eles públicos ou
suas características peculiares: proporção e até privados de uso coletivo (hotéis e res-
escala da edificação monumental em rela- taurantes, por exemplos).
ção às outras edificações na cidade; deta-
lhes de cor, iluminação noturna e acaba-
mentos “chamativos”; implantação da edifi-

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Figura 3 - Sequência de imagens das entradas de meios de hospedagem em edifícios antigos em Palermo,
Buenos Aires, Argentina

Fonte: da esquerda para a direita: http://www.hotelbluesoho.com/; http://www.duquehotel.com/;


http://www.ninahotelbuenosaires.com/palermo-soho/; http://www.purobaires.com.ar/;
http://www.malabiahouse.com.ar/docs/pt/malabia-house-hotel.php

A proposição de Severini (2014) vai de informação é uma expressão de hospita-


ao encontro das teorias de Mauss (1974) lidade urbana: escolha de itinerários urba-
que entende a hospitalidade urbana como nos que vão além da rapidez do desloca-
um fato social “total”, pois se “mistura” num mento, mas “também pelo fluxo ‘emotivo’
suporte espacial diferenças sociais, inclusive que se libera quando atravesso essas ruas”
contando com o outro estrangeiro (um pos- (Grinover, 2007, p. 146). Ora, essa condição
sível turista, talvez). E que se adequam aos é essencial para o turismo, uma vez que são
três “D”s das categorias de Dumazadier pelas vias públicas que se dão os desloca-
(1980) para explicar a existência de hospita- mentos dos turistas nos destinos citadinos.
lidade urbana: descanso, diversão e desen-
volvimento, minimizando as dificuldades 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
cotidianas na cidade (Sagi, 2008).
Os estudos acerca da concepção do Constata-se que há a vinculação do
urbano a partir da imagem da cidade contri- termo hospitalidade com os meios de hos-
buíram concomitantemente com a noção de pedagem e, especificamente, tratada em
hospitalidade urbana e todo seu escopo espaços de uso interno e serviços em hotéis;
ligado aos estudos em turismo; assim se amparada por uma bibliografia específica;
pode verificar nos trabalhos dos pesquisado- porém se pode inferir que há uma hospitali-
res latino-americanos como Roberto Boullón dade dos meios de hospedagem enquanto
(2000) e Lucio Grinover (2006, 2007). Para abrangência urbana, da cidade e da paisa-
eles, o “estrangeiro” se sente acolhido, bem gem que até então uma bibliografia vascu-
recebido, sabe por onde tem de ir (legibili- lhada e atual ainda não inferiu. Ou seja, a
dade), encontra o que procura, passeia des- hipótese dessa pesquisa se confirma, ao
compromissado se dedicando à contempla- demonstrar, através dos conteúdos preconi-
ção sem o risco de se perder – porque existe zados essencialmente por Grinover (2003,
uma imagem de cidade que cria uma infor- 2006, 2007), que os meios de hospedagem
mação legível acerca do espaço urbano e podem constituir um marco urbano (Lynch,
das arquiteturas que o compõe – tal oferta 2010) e, como tal, são dotados de legibilida-

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Meios de hospedagem como signo de hospitalidade urbana

de em meio urbano – atributo e signo de urbana, os estudos devem se atentar tam-


hospitalidade urbana. bém para o caráter que o espaço possui co-
A metodologia adotada, baseada em mo contribuinte, uma vez que pesquisas
pesquisa de caráter exploratório e descriti- estão se fazendo pelo valor essencialmente
vo, foi conveniente nesse caso, pois é um social que a hospitalidade encerra em suas
primeiro momento de inferência acerca da definições e conteúdos. Deve-se valer, en-
hipótese levantada. Julga-se, portanto, que tão, do papel que o espaço pode conferir
outras pesquisas vindouras podem ser des- numa explanação para o fenômeno da hos-
dobradas no intuito de uma sistematização pitalidade, tais quais as disciplinas da geo-
dos meios de hospedagem (também) como grafia ou da urbanização já o fizeram a partir
signo de hospitalidade urbana. do ideal de uma dialética sócio-espacial (So-
De modo que, do ponto de vista me- ja, 1993; Lefebvre, 1991).
todológico, poder-se-iam fazer aplicações De qualquer forma, a verificação de
em turistas e cidadãos das categorias e mo- conteúdos espaciais como atributo de hospi-
delos de Kevin Lynch (suporte teórico das talidade urbana através dos meios de hos-
proposições de hospitalidade urbana de pedagem podem se desdobrar em qualifica-
Lucio Grinover) em destinos citadinos que ção das destinações turísticas citadinas, na
hipoteticamente possuem uma “praça” ho- melhoria do espaço urbano e turístico. De
teleira considerável – tratam-se dos mapas sorte que se pode concluir que a qualidade
mentais – que “medem” a frequência de de uma cidade como destino turístico tam-
citações de edificações de meios de hospe- bém pode se dar pela quantidade e qualida-
dagem quando das “entrevistas” através de de de seus meios de hospedagem enquanto
desenhos, se são ou não referências urbanas imagem e paisagem urbanas.
efetivamente “desenhadas” a ponto de Sendo a cidade, enquanto imagem e
identificar tais meios de hospedagem como paisagem urbanas, “exposta” a todos (se-
marcos urbanos. jam cidadãos ou turistas) e, portanto, sem
Discutindo-se de outra maneira, no- “cobrar” nada por isso; dotada de edifícios
ta-se que essa manifestação de hospitalida- de meios de hospedagem que propõem
de urbana e da cidade através de meios de identidade, simbolismo, hospitalidade; po-
hospedagem, faz-se de modo a recorrer a de-se então pensar num ideal de que há
outras categorias de análise (tais como as uma hospitalidade genuína (e não somente
teorias da urbanização de Kevin Lynch), não “empresarial”) por parte destas edificações.
necessariamente próprias aos estudos cor- Se a imagem do destino e a percep-
rentes de hospitalidade. Com isso, procura- ção da hospitalidade do destino é o hotel,
se enfatizar os conteúdos de hospitalidade então muitos hotéis podem ser o próprio
citadina; diante da necessidade de mais evi- destino; assim, a percepção da imagem do
dências teóricas construídas por uma epis- destino pautada em hotéis também pode
temologia da hospitalidade urbana. ampliar uma compreensão cognitiva do tu-
Nesse sentido, do ponto de vista de rista na escolha do destino citadino turístico.
uma epistemologia para a hospitalidade Nessa perspectiva, planejadores e gestores

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Meios de hospedagem como signo de hospitalidade urbana

do trade podem se amparar na identificação que revelasse o papel da hospitalidade à


da hotelaria como imagem de cidade, por- escala da cidade e da paisagem urbana atra-
que dotada de hospitalidade urbana. vés de um meio de hospedagem.
Se o hotel é um atributo de hospita-
lidade urbana, deve-se superar um mani- REFERÊNCIAS
queísmo da ideia de que ele sempre foi his-
Ahn, T., Ekinci, Y., & Li, G. (2013). Self-congruence,
toricamente destinado ao acolhimento de functional congruence and destination choice. Jour-
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lazer; o hotel pode também promover rela-
Amposta, J. B. (2015). Tourism destination manage-
ções de pertencimento e identidade a partir ment: an overview of the advances of California.
de sua imagem urbana. De modo que até Tourismos, 10(2), 185-198.
mesmo as formas de classificação hoteleira, Andrade, N., Brito, L., & Jorge, W. E. (2000). Hotel:
essencialmente baseadas nas instalações Planejamento e Projeto. SENAC: São Paulo.
internas e nos serviços oferecidos pelo ho-
Bareham, J. (2004). Understanding the Hospitality
tel, podem ser incrementadas com os valo- Consumer. International Journal of Hospitality Man-
res de imagem urbana que um hotel pode agement, 23(1), 95-97.
proporcionar ao destino. Baptista, I. (2002). Lugares de Hospitalidade. In C. M.
Pode-se interpretar que o incentivo de M. Dias (Org.), Hospitalidade: Reflexões e Perspec-
ao turismo, entendendo-se a cadeia hotelei- tivas. São Paulo: Manole.

ra como parte dele, poderia ofertar mais Baptista, I. (2005). Para uma geografia de proximida-
meios de hospedagem para um destino tu- de humana. Revista Hospitalidade, (2)2, 11-22.
rístico; se o meio de hospedagem é uma
Baptista, I. (2008). Hospitalidade e eleição intersub-
condição de marco urbano, então ele “car- jectiva. Revista Hospitalidade, (5)2, 5-14.
regaria” a cidade de referências para a hos-
Bastos, S., & Rejowski, M. (2015). Pesquisa científica
pitalidade urbana. Ou seja, ainda que a em- em hospitalidade: desafios em busca de uma configu-
presa de meios de hospedagem seja uma ração teórica. Revista Hospitalidade, 132-159.
iniciativa privada, ela poderia, por outro
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lado, condicionar uma melhor qualidade de Hospitality: a social lens. Stirling: University of
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destino “carregado” de hospitalidade urba- Barthes, R. (1971). Elementos de semiologia. São
na – um benefício público – tanto para turis- Paulo: Cultrix.
tas como para cidadãos locais. Infere-se,
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portanto, sobre um processo de retroali- de São Paulo. Dissertação de mestrado não publica-
mentação mútua entre o setor privado dos da, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da
Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, Brasil.
meios de hospedagem e a qualidade pública
da imagem do destino (hipoteticamente) Boullón, R. C. (2000). Planejamento turístico. Bauru:
hospitaleiro, “alinhavados” e intencionados EDUSC.
pelo mote do meio de hospedagem. Camargo, L. O. (2005). Hospitalidade. São Paulo:
Os limites dessa pesquisa foram os Aleph.
que a motivaram: a falta de uma bibliografia

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