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DOI: http://dx.doi.org/10.7784/rbtur.v12i1.1356
Resumo: Propósito justificado do tema: Estudos podem demonstrar o papel do espaço para a hospitalidade;
sobretudo para a hospitalidade urbana. No entanto, a associação do espaço citadino enquanto imagem e pai-
sagem urbanas dos meios de hospedagem como atributo de hospitalidade urbana, ainda não está devidamen-
te contemplada por bibliografia do referido tema. Objetivo: O objetivo dessa pesquisa é sistematizar a hospi-
talidade em meios de hospedagem, a qual foi construída potencialmente a partir de espaços internos dos
meios de hospedagem, mas que pode ser observada também à escala da cidade, portanto o meio de hospeda-
gem como fator de hospitalidade urbana – ideia pouco efetivada por bibliografia especializada. Metodolo-
gia/Design: Para tanto, a pesquisa se caracterizou como exploratória, respaldada pelo levantamento e leitura
bibliográficos, bem como estudos de caso e análises empíricas feitas à luz do ideal de representação (semiótica
peirceana). Na seleção do que se pretende representar, é possível identificar uma intelecção, por parte do
sujeito emissor (arquitetura de meios de hospedagem), em propor ideologias; e como tal, a arquitetura de
meios de hospedagem também pode ser signo de hospitalidade urbana. O método interpretativo de avaliação
dos resultados esteve amparado pelas teorias de hospitalidade urbana, essencialmente com o trabalho de
Lucio Grinover (2007), que se ampara nas teorias de urbanização acerca de imagem e paisagem urbanas nos
trabalhos de Kevin Lynch (2010). Resultados e originalidade do documento: Os resultados inferem sobre a
possibilidade da hospitalidade urbana ou da cidade, construída através de meios de hospedagem.
Abstract: Justification of the topic: Studies can demonstrate the role of space for hospitality; especially for
urban hospitality. However, the association of the city space as urban image and landscape of the lodgings as
1
Artigo oriundo de pesquisa financiada pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – Brasil).
2
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Balneário Camboriú, SC, Brasil. Concepção e desenho do trabalho
científico, identificação do problema de pesquisa, construção da metodologia, construção da fundamentação
teórica, coleta dos dados, formulação dos resultados, redação do trabalho.
3
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Balneário Camboriú, SC, Brasil. Construção da fundamentação
teórica e referencial teórico.
3
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Balneário Camboriú, SC, Brasil. Construção da bibliometria.
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an attribute of urban hospitality, is not yet adequately contemplated by a bibliography of this theme. Purpose:
The objective of this research is to systematize the hospitality in lodgings, which was potentially constructed
from internal spaces of lodgings, but can also be observed on the scale of the city, therefore the lodging as a
factor of urban hospitality – yet little systematic for thematic bibliography. Methodology/Design: Therefore,
the research is characterized as exploratory, supported by bibliographic survey and reading, as well as case
studies and empirical analyzes made in light under of the ideal representation (Peirce´s semiotic). In the selec-
tion of what is to represent, it is possible to identify a intellection, by the subject issuer (lodgings architecture),
propose ideologies; and as such, the architecture of lodging can be a sign of urban hospitality. The interpretive
method of evaluation of the results was supported by the theories of urban hospitality, especially with the
work of Lucio Grinover (2007) who seek refuge in the urbanization theories about image and urban landscape
in Kevin Lynch's work. Findings and originality: The results infer about the possibility of urban hospitality or of
the city built through of lodgings.
Resumen: Propósito justificado del tema: Estudios pueden demostrar el papel del espacio para la hospitali-
dad; sobre todo para la hospitalidad urbana. Sin embargo, la asociación del espacio de la ciudad como imagen
urbana y paisaje urbano de los medios de hospedaje como atributo de hospitalidad urbana, aún no está debi-
damente contemplada por bibliografía de dicho tema. Objetivo: El objetivo de esta investigación es sistemati-
zar la hospitalidad en instalaciones de alojamiento, que fue construida en realidad a partir de los espacios
internos de las instalaciones de alojamiento, pero también se puede observar en la escala de la ciudad, por lo
tanto la instalación de alojamiento como factor de hospitalidad urbana – idea poco difundida por la bibliogra-
fía temática de hospitalidad urbana. Metodología/Design: Por lo tanto, la investigación se caracteriza como
exploratoria, con el apoyo de revisión bibliográfica, así como estudios de casos y análisis empíricos hechos a la
luz del ideal de la representación (semiótica peirceana). En la selección de lo que se quiere representar es po-
sible identificar una intelección, por parte del emisor (arquitectura de instalaciones de alojamiento), en propo-
ner ideologías; y como tal, la arquitectura de instalaciones de alojamiento también puede ser signo de hospita-
lidad urbana. El método de interpretación de la evaluación de los resultados fue apoyado por las teorías de la
hospitalidad urbana, especialmente con la obra de Lucio Grinover (2007) que ha buscado apoyo en las teorías
de urbanización sobre la imagen urbana y el paisaje urbano con el trabajo de Kevin Lynch (2010). Resultados y
originalidad del documento: Los resultados pueden inferir la posibilidad de la hospitalidad urbana o de la
ciudad, construida a través de las instalaciones de alojamiento.
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dagem. Lash e Urry (2002) inferem acerca uma fundamentação para ajudar a entender
do papel do espaço quando o olhar tem pa- e a atender necessidades de clientes, no
pel fundamental na experiência da viagem. sentido de que se sintam bem recebidos
No entanto, as pesquisas em hospita- numa “moralidade” da oferta de alimento,
lidade têm se concentrado essencialmente bebida e abrigo. Pezzotti (2011), da mesma
no papel social dos sujeitos envolvidos, ana- maneira, infere que a hospitalidade é a es-
lisando uma variedade de domínios e seto- tratégia e o serviço a sua tática.
res independentes de classes sociais (Gibson Lashley (2015) elenca contempora-
& Molz, 2016; Bastos & Rejowski, 2015; neamente cinco atitudes hospitaleiras: mo-
Lashley, Lynch, & Morrison, 2007; Camargo, tivação oculta (no sentido de se obter algum
2015; O’Gorman, 2007). Tasci e Semerad benefício), motivação restritiva (para man-
(2016) afirmam que na hospitalidade a “in- ter o “inimigo” por perto e controlar suas
tensa” interação social entre anfitrião e ações ofensivas), motivação comercial (tra-
hóspede põe o ingrediente humano como tando muito bem o hóspede como um “cli-
essencial na experiência do hóspede; sobre- ente” na “residência” do anfitrião), motiva-
tudo porque é no valor humano que se cria ção recíproca (para receber o mesmo trata-
um produto especial. mento quando o anfitrião se torna hóspe-
Os conteúdos sociais dos estudos em de), motivação redistributiva (por ser gene-
hospitalidade chegam a tomar os clientes roso ou benevolente), motivação altruísta
(hóspedes) como agentes controladores e (por ser “agradável” aos outros). Compre-
até executores do planejamento e da gestão ende-se, portanto, um atributo efetivamen-
das empresas do ramo turístico e hoteleiro, te social nas motivações de Lashley (2015)
na lógica contemporânea da co-criação que é próprio à hospitalidade, sem dúvida;
(Roeffen & Grissemann, 2016). mas que não tomam o espaço como domi-
Para Knutson, Beck, Kim e Cha (2009) nante interpretativa; ainda que uma relação
a questão da hospitalidade se entende pelo dialética sócio-espacial (Soja, 1993; Lefeb-
necessário envolvimento de pessoas, e não vre, 1991) possa se expressar.
nas “coisas” (entendendo-as como objetos e Neste sentido, Pitt-Rivers (2012) in-
o espaço). fere acerca de relações sociais de hospitali-
Portanto, contemporaneamente, o dade em que o anfitrião recebe o hóspede
estudo da hospitalidade nos meios de hos- com generosidade, anfitrião e hóspede se
pedagem não tem efetivamente se pautado
nos valores espaciais como mote das inves- nobres, sua ação enfatiza o bem-estar do hóspede
e do anfitrião; e este último adquire prestígio e res-
tigações; mas, essencialmente, na sua lógica peito perante a comunidade na qual se insere. A
empresarial de cunho social (Lashley, 2015), hospitalidade foi registrada também no judaísmo e
porque até mesmo a antiga hospitalidade5 é depois no cristianismo como uma forma de lei. A
hospitalidade está assimilada na cultura, ainda que
renovada em diferentes épocas; mas, na atualida-
5 Segundo Raffestin (2013) a idéia de hospitalidade de, está essencialmente associada à noção de re-
surgiu na Antiguidade, sendo registrada em textos ceptividade e acolhimento (Raffestin, 2013, p. 167),
de Homero e Heródoto; quando o ideal de hospita- portanto envolvendo sujeitos; o que desdobram
lidade se encontra registrado na Odisséia de Home- (inevitavelmente) estudos de cunho social.
ro, foi entendida como responsabilidade dos lares
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paisagem urbanas, o quanto eles são signifi- com a qualidade da paisagem urbana do
cativos (pelo diferencial na imagem da cida- destino turístico citadino (o que inclui uma
de), criam lugares como referência urbana; imagem de cidade também hospitaleira para
e por isso, segundo as teorias de Lucio Gri- o cidadão) (Grinover, 2007; Grinover, 2006;
nover (2007), podem ser interpretados co- Grinover, 2003). E eis que se arriscou aqui
mo atributos para a hospitalidade urbana. que os meios de hospedagem podem
Justifica-se a relevância desse estudo contribuir para a formação da imagem e
para o turismo porque abordou dois fenô- paisagem urbanas de um destino turístico
menos que são intrínsecos a ele: meios de citadino considerado (então) como
hospedagem e hospitalidade urbana. Enten- hospitaleiro.
de-se que os meios de hospedagem são para De modo que o artigo se organiza
um destino citadino parte efetiva da cadeia inicialmente descrevendo tal metodologia
produtiva do turismo, sendo ainda conside- adotada; constrói um referencial teórico
rados parte de infra-estrutura turística (Am- para o entendimento de hospitalidade do
posta, 2015). espaço em meios de hospedagem; logo de-
Já a hospitalidade urbana se funda- pois se faz a demonstração de que os conte-
menta para o turismo com estudos údos de hospitalidade do espaço em meios
vinculados às Ciências Sociais Aplicadas e às de hospedagem estão essencialmente vincu-
Ciências Humanas, demonstrando que toda lados aos serviços e espaços internos dos
e qualquer ação social no deslocamento e edifícios que encerram esses meios de hos-
movimento de pessoas, para obtenção do pedagem. Confronta-se, na discussão dos
êxito, deve entender e atender conteúdos resultados, diante desse ideal predominante
de hospitalidade; sugere-se, portanto, que o da hospitalidade dos meios de hospedagem,
planejamento e a gestão de qualquer que a hospitalidade de um meio de hospe-
atividade turística estão diretamente ligados dagem também pode se dar à escala da ci-
à aplicação de preceitos de hospitalidade dade. De maneira que o resultado obtido é a
(sendo a hospitalidade urbana uma das possibilidade de desdobramentos de pes-
vertentes), aos preceitos de bem “acolher” quisas que procurem demonstrar a contri-
ao outro, à capacitação de pessoas para buição dos meios de hospedagem como
atividades turísticas no trato com o hospitalidade na imagem e paisagem urba-
estrangeiro e com a alteridade (Camargo, nas.
2005; Grinover, 2006).
De modo que dentre as diversas 2 METODOLOGIA
áreas de estudo da hospitaliade, a
hosptitaliade urbana foi destacada por essa Caracterizou-se por uma pesquisa
pesquisa por entender que ela está essencialmente exploratória e descritiva,
relacionada com a qualidade do ambiente pois, de acordo com Gil (2008), nos objeti-
urbano do destino turístico, com a qualidade vos dessa pesquisa, procurou-se obter uma
da experiência ótica do turista ao se visão generalizante de um fenômeno: meios
deslocar pela cidade visitada e, portanto, de hospedagem como signo de hospitalida-
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de urbana, ao mesmo tempo em que des- hospitalidade urbana; o uso desses termos
creve as características desse fenômeno. em inglês, bem como a combinação deles
Pode-se ainda inferir que o caráter entre si enquanto palavras-chave (e
exploratório da pesquisa também se adequa keywords), para a busca da produção cientí-
ao valor interdisciplinar porque pretendeu fica relacionada ao tema nos últimos cinco
“aproximar” dois fenômenos (meios de hos- anos (2012 a 2017) em portais de pesquisa
pedagem e hospitalidade urbana) até então acadêmica de base de dados: Ebscohost,
nunca antes correlacionados, pouco estuda- Elsevier, Scielo (Scientific Electronic Library
dos e sistematizados conjuntamente, permi- Online) e Portal de Periódicos Capes.
tindo-se a interação entre dois campos do Soma-se a isso uma “varredura” de
saber, recombinando-se elementos distintos produção científica (com os mesmos termos
constituintes para uma nova ideia; ainda utilizados na busca dos portais virtuais) na
que seja apresentada, num primeiro mo- biblioteca da Escola de Comunicação e Artes
mento, de maneira “ampla” e “aberta” (Vas- (ECA) da Universidade de São Paulo (USP),
concelos, 2002). na biblioteca da Faculdade de Arquitetura e
O caráter exploratório da pesquisa Urbanismo (FAU) da Universidade de São
foi respaldado pelo levantamento e leitura Paulo (USP), na biblioteca da Universidade
bibliográficos, bem como estudos de caso e do Vale do Itajaí (UNIVALI) e na biblioteca da
pesquisa de divulgação de meios de hospe- Universidade Anhembi-Morumbi (UAM),
dagem pelo trade turístico; houve a necessi- tendo-se assim um elenco essencialmente
dade de busca de informação em sítios ele- pautado por livros, teses e dissertações so-
trônicos que fazem a propaganda hoteleira bre o assunto.
– eis os instrumentos de coleta de dados – A busca em portais de base de dados
constituindo-se em material para “leitura” e nas bibliotecas conferiu um levantamento
espacial dos ambientes hoteleiros, sobretu- bibliométrico como parte e processo da
do como espaços urbanos, imagem urbana e pesquisa, necessário para a indicação da
paisagem urbana. bibliografia a ser utilizada na identificação
Entendeu-se que a etapa de coleta do problema de pesquisa, na construção do
de dados foi amparada por repertório ad- referencial teórico e para a fundamentação
quirido dos pesquisadores, fundamentando- teórica. Sobretudo, a bibliometria confirmou
se no que Roland Barthes (1971) compreen- a lacuna existente, o caráter inovador da
de por experiência e conhecimento prévio pesquisa e a contribuição dela para o campo
do pesquisador na seleção dos materiais do turismo: o meio de hospedagem nunca
considerados pertinentes ao tema de estu- antes havia sido associado como atributo e
do; ou seja, também um acúmulo de conhe- signo de hospitalidade urbana.
cimento empírico como dado a ser conside- Com todo esse material e repertório,
rado. seguiu-se à “leitura” espacial do objeto de
Houve também um momento de ve- estudo.
rificação dos conceitos de hospitalidade, A “leitura” espacial se apoiou no mé-
hospitalidade dos meios de hospedagem e todo interpretativo da representação (con-
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dos edifícios hoteleiros, por exemplo): os ação entre espaço edificado (casa de repou-
diversos espaços de um hotel podem consti- so) e hospitalidade, bem como a ideia de
tuir a ideia de lugar memorável (também “entretenimento de hóspedes” conferindo o
para cidadãos locais e não somente hóspe- caráter “emotivo” que as atividades e os
des) porque se correlacionam com códigos e espaços deveriam oferecer na recepção dos
signos sociais de marcação de “lembranças” hóspedes.
na vida; assim, a experiência do espaço ar- Para Gotman (2010), o termo hospi-
quitetural do ballroom de um hotel pode ser talidade está carregado de diversos signifi-
o fator para a recordação de uma festa de cados, tendo surgido no vocabulário francês
batismo, de uma festa de aniversário, casa- em 1206, significando, sobretudo, “aloja-
mentos, bodas, etc. Um exemplo de “trans- mento gratuito de caridade aos indigentes”,
ferência” mental é o fato de um hóspede, ao vinculando-se a caridade como virtude teo-
entrar em seu quarto de hotel, poder se lógica cristã; já no século XVI, hospitalidade
emocionar pela identificação da decoração retoma o significado “inspirado” na Antigui-
ou mobiliário de situações passadas (de am- dade, segundo Antoine Furetière em seu
bientes semelhantes que ele já vivenciou) Dicionário Universal de 1684: há uma hospi-
(Tricárico & Vargas, 2017). talidade fundamentada na caridade, na
De sorte que é possível associar o va- oferta de abrigo e na benevolência para com
lor semântico e sensorial do espaço com a os indigentes; e há outra hospitalidade se
hospitalidade: “O exercício da hospitalidade referindo ao direito recíproco de proteção
é uma retomada do simbólico” (Gotman, entre pares.
2001). Camargo (2015) afirma que certo
Pode-se também interpretar através desprestígio e preconceito (inclusive por
do uso da língua a devida relação entre o parte da academia) “ronda” o ideal de hos-
meio de hospedagem e a hospitalidade. Nos pitalidade, efetivamente quando se referida
países de língua latina houve a opção pelo à hotelaria contemporânea. Como interpre-
uso do termo “hotelaria” ao se referir a tação de hospitalidade, pode-se incluir a
meio de hospedagem; mas este mesmo sig- cobrança por diárias e a constatação do lu-
nificado para “hotelaria” surge em países cro oriundo dos serviços hoteleiros. Até
anglo-saxônicos como hospitalidade (Ca- mesmo o meio acadêmico se voltou para a
margo, 2015). Daí, portanto, o uso de hospi- formação de profissionais com o perfil para
tality para designar “hotelaria” e não o uso o mercado de negócios hoteleiros, “ofus-
de hotelbusiness (Camargo, 2015). Grinover cando” uma concepção humanista para o
(2007) assinala que o Oxford English Dictio- tema da hospitalidade (Camargo, 2015). Ou
nary registra o significado de hospitalidade seja, a concepção da hospitalidade muito se
como a “recepção e o entretenimento de configurou em razão dos serviços da empre-
hóspedes, visitantes, estrangeiros” e é ori- sa hoteleira; onde até mesmo o espaço do
unda do termo “hospício”, casa de repouso hotel era essencialmente tratado como fator
como restauração para os peregrinos da de gestão do empreendimento e dos negó-
Idade Média. Portanto, há uma clara associ- cios.
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De sorte então que seria necessário que o hospedeiro assim a fizesse de forma
percorrer uma história dos meios de hospe- pretensamente “voluntária”. De modo que
dagem para demonstrar que a evocação do se pode discernir entre uma hospitalidade
espaço em meios de hospedagem se expres- “preparada”, “treinada” e “planejada” (diga-
sa através da hospitalidade não necessaria- se do espaço hoteleiro inclusive) e uma hos-
mente empresarial. pitalidade voluntária por parte do anfitrião:
Nesse sentido, Camargo (2015) evi- “Ser anfitrião não significa ser hospitaleiro”
denciou a possibilidade da associação entre (Wada, 2003).
hospitalidade e estética (diga-se do espaço Atualmente, muitas empresas do se-
inclusive): “Uma associação de estética e tor hoteleiro não só comercializam seu pro-
hospitalidade poderia encontrar na ‘finali- duto “hotel”, mas vendem “experiências”
dade sem fim’ de Kant (1994) uma boa pista (através do espaço, inclusive) como signo de
de pesquisa. O mesmo Kant poderia intro- hospitalidade – condição desta fase do capi-
duzir o estudo da ludicidade, do prazer as- tal, explicada por Pine e Guilmore (1999)
sociado à ação humana de receber pessoas como uma quarta atividade econômica (de-
(...)” (Camargo, 2015). pois dos setores primário, secundário e ter-
Obviamente que as proposições de ciário), diferenciando-se dos bens e serviços,
“ludicidade” e “ação humana de receber porque agrega valores evocativos até então
pessoas”, (conforme citação acima) podem não identificáveis (Rubino, 2009).
prescindir de suportes espaciais. Parece ser inexorável que qualquer
De outra maneira, cabe a observação relação interpessoal direta com o hóspede
de Rita de Cássia Ariza da Cruz (2002) ao em algum momento deve incluir a condição
afirmar que a hospitalidade é o ato de aco- de uma hospitalidade genuína, mesmo se
lhimento que proporciona bem-estar ao tratando (em princípio) de uma hospitalida-
hóspede; e, portanto, ainda que se tenha o de comercial (Lashley, 2004): o valet do ho-
ingrediente do pagamento por esse serviço tel pode ajudar um idoso a atravessar a rua,
de restauração, não são excludentes os con- a relação entre um recepcionista e o hóspe-
teúdos de hospitalidade. Cruz (2002) propõe de pode incluir trocas culturais e de infor-
que mesmo não sendo paga, muitas vezes a mação que não estavam “previstas” como
hospitalidade está sendo oferecida de forma cobrança da diária do hotel.
não aceitável e não espontânea por parte do E se pode pensar ainda que dentro
anfitrião; portanto, o fato de não se pagar de uma interpretação de uma hospitalidade
por uma pretensa hospitalidade, não quer comercial, a satisfação do hóspede se daria
dizer (necessariamente) que ela se efetivou. o quão mais “luxuoso” e “caro” são os servi-
Ainda que não cobrada, a hospitali- ços de hospedagem; porém, muitos depoi-
dade oferecida pelo anfitrião muitas vezes mentos têm demonstrado que uma excelen-
podia ser por uma obrigação dos códigos e te experiência em hotel também se dá em
condutas religiosos de então: o medo do unidades mais simples e baratas, porém
“castigo” dos deuses para os maus anfitriões aconchegantes e dotadas de conforto (como
parece ter sido uma “moeda de troca” para atributos espaciais) (Lockwood & Jones,
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tas camas); as unidades tinham portas com jantar com ganchos para que as mulheres
fechaduras; cada unidade possuía bacia e pendurassem suas bolsas. Para Ritz, roupas
jarro para higienização pessoal (o hotel ofe- de cama deveriam ser leves para melhor
recia um sabonete de brinde) e disponibili- lavação e colchões deveriam ter capa prote-
zava um mensageiro para localizar hóspedes tora (Dias, 2002, p. 114). Pode-se ainda veri-
dentro do hotel. Tais inovações foram copi- ficar que Ritz incluiu um banheiro privativo
adas em várias cidades norte-americanas, dentro do quarto de hotel (Andrade et al.,
pois todas queriam um hotel luxuoso (Duar- 2000, p. 18).
te, 1996). Ritz tinha no lidar com pessoas a
Em meados do século XIX, albergues maior virtude para a profissão de um hote-
rurais surgiram como possibilidade de es- leiro (Walker, 2002, p. 21); e a fez (inclusive)
capismo (como mote do “retorno ao cam- revertendo esse pensamento para o valor
po”) de um meio urbano tumultuado, mar- do espaço interior do hotel como hospitali-
cado por multidões empolgadas pela Revo- dade. Cesar Ritz não só teve sucesso como
lução Industrial nas cidades (Duarte, 1996). empresário hoteleiro pelo “planejamento”
Na segunda metade do século XIX, da hospitalidade, mas porque sua ação pla-
Cesar Ritz, através de sua hotelaria, criou o nejadora esteve também amparada por uma
termalismo italiano, transformando a pe- hospitalidade voluntária, um valor prede-
quena vila de Salsomaggiore em um destino cessor como “sensibilidade” hospitaleira. O
termal de importância mundial (Dias, 1990, termo “ritz” (oriundo de Cesar Ritz) foi inclu-
p. 40). ído no vocabulário inglês e significa requin-
Ritz conseguiu associar os espaços do te, luxo, conforto, elegância e prestação de
hotel com experiências inusitadas: concer- serviços de alta qualidade de um hotel (Dias,
tos musicais durante as refeições; diversões 2002, p. 105). Cesar Ritz tratava muito bem
ao ar livre; decoração do hotel com flores seus clientes, recordando-se em detalhes de
naturais; propõe para o quarto de núpcias a suas idiossincrasias, do que eles gostavam e
iluminação indireta e a iluminação “peneira- do que eles não gostavam (Dias, 2002, p.
da”, tornando a mulher mais sedutora; de- 114).
senvolveu abajures para iluminar a comida Petrocchi (2002) aponta que o credo
sem ofuscar os integrantes à mesa (Dias, do empreendedorismo de Ritz, “simboliza-
2002, p. 115); introduziu armários embuti- do” (sobretudo) no Ritz-Carlton, é que “A
dos nas unidades habitacionais (Dias, 1990, estada no Ritz-Carlton aguça os sentidos,
p. 40). Ritz colocou closets nas unidades infunde bem-estar e satisfaz até mesmo os
habitacionais dos seus hotéis; propôs uma desejos e as necessidades não manifestados
ante-sala em um nível mais baixo que o sa- de nossos hóspedes.” Cabe então se pergun-
lão de jantar no Hotel Carlton de Londres, tar se as atitudes de Ritz eram somente vol-
para que as mulheres entrassem e saíssem tadas para a obtenção do lucro na cobrança
“teatralmente” pelas escadarias necessárias de diárias e pelos serviços prestados de res-
ao passar pelos diferentes níveis (Dias, 2002, tauração, ou se em nenhum momento sua
p. 111). Ritz dotou poltronas das salas de “inventividade” para negócios hoteleiros
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esteve motivada por sentimentos de hospi- tos hotéis para os “homens de negócios”
talidade genuinamente voluntários. Ritz ofereceram áreas de convivência ao ar livre,
criou signos para hotelaria que se perduram algo pouco usual em hotéis corporativos
na hotelaria contemporânea. (Otto, 2011, p. 3).
Em meados do século XX, após a Se- Nos anos de 1970 apareceram os
gunda Grande Guerra, o contexto econômi- Days Inn, Super 8 Motels e Comfort Inns e
co norte-americano se encontrava em gran- algumas corporações hoteleiras, tais como
de desenvolvimento, também porque a Eu- Marriott, Four Seassons, Hyatt, Canadian
ropa ficou arrasada com a guerra. “Cidadãos Pacific, Sheraton, Radisson, Hilton, Ramada,
médios” norte-americanos tinham poder de que se expandiram por todo mundo (Wal-
compra do automóvel; e, em gozo de suas ker, 2002, p. 20).
férias trabalhistas, viajavam com toda a fa- Há uma personificação na hotelaria
mília pelo território norte-americano. Diante dos anos 80 do século XX; surgem hotéis de
da necessidade de paradas e pernoites pelo arte, hotéis design, hotéis boutique; e,
caminho rodoviário, aparecem os motéis, exemplarmente, algumas pousadas em Por-
alterando-se condições dos hotéis tradicio- tugal que incluíram a experiência da culiná-
nais: o turista de automóvel escolhe estra- ria e da gastronomia locais junto à experiên-
das com valores cênicos (parkways), as quais cia da estada (Oliveira, 2006, p. 62).
serão privilegiadas na implantação de mo- Nos anos 1980, estâncias turísticas
téis (Motels, Hotels, Restaurants and Bars, em lugares tidos como “exóticos” se torna-
1960). Nota-se ainda que o modelo de motel ram populares e acessíveis. Os anos de 1990
norte-americano eliminou a “espera” nos foram marcados por recessões nas econo-
lobbies, excluiu a “formalidade” do serviço mias nacionais e por momentos de guerras
de recepção, acabou com problemas do es- que diminuíram receitas do turismo; e, por
tacionamento (pois o carro ficava junto à conseguinte, a hotelaria organizou associa-
unidade habitacional, conferindo conforto e ções e parcerias no intuito de se manter ou
tranquilidade), acabou com gorjetas (pois até se consolidar (Walker, 2002, p. 20).
hóspede ficava independente dos serviços Contemporaneamente, dos anos
oferecidos), os quartos eram novos e com 2000 até hoje, vive-se um “novo” turismo,
televisão em cores, havia piscina privativa muitas vezes classificado como pós-
(Dias, 1990, p. 37). massificado e com valores afeitos à solidari-
Nos anos 1960 surgiu Robert Huyot e edade e afetividade (turismo cultural e de
sua hotelaria para “homens de negócios”. base comunitária, por exemplos); onde o
Hyot enfatizou a sobriedade nos ambientes turista, em sua busca por experiências pes-
do hotel, concomitante com o perfil daque- soais, associa valores votivos do “coração”
les clientes. Huyot expôs que o hotel para (Petrocchi, 2002, p. 78). Nesse viés, a atual
homens de negócios tem que ser “diplomá- hotelaria (enquanto parte da cadeia produ-
tico”, econômico e se adequar aos valores tiva turística) passa a construir um vínculo
estéticos, psicológicos e emocionais da cli- com o desenho, cultura material e simbólica
entela (Dias, 1990, p. 42). No entanto, mui- do lugar (do espaço, portanto) (Montaner,
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Meios de hospedagem como signo de hospitalidade urbana
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Meios de hospedagem como signo de hospitalidade urbana
partir das pontes que ligam o continente à integrando hóspedes, hotel e a cidade (Otto,
ilha (Donzel, 1989, p. 11). 2011, p. 3).
Entre arranha-céus nova-iorquinos, a Tricárico e Gastaldi (2015) demons-
cúpula rosa do Hotel Royal Hawaiian reluzia traram que ao longo da praia de Copacaba-
como uma “jóia” no azulado céu, considera- na no Rio de Janeiro, Brasil, a presença dos
da como um dos últimos “bastiões” da elo- hotéis é que pode garantir a referência de
quente fantasia exótica norte-americana lugares ao longo de uma enseada e orla ma-
(Donzel, 1989, p. 185). rítima essencialmente e “constantemente”
A visibilidade adquirida pelo grande marcada pela visão do horizonte da “linha”
hotel norte-americano também se explica de mar e da areia da praia.
por ele ter incrementado serviços urbanos: O caráter monumental da edificação
o Hotel Fairmont em Yosemite Valley, Cali- hoteleira diante de outras arquiteturas na
fórnia, EUA, introduziu em 1939 um lounge cidade se faz por formas arquitetônicas inu-
bar no vigésimo andar do edifício, disponibi- sitadas elaboradas por arquitetos de “grife”
lizando uma vista panorâmica e inusitada da ou até mesmo vinculadas às “grifes”, tais
cidade (Donzel, 1989, p. 35). como Bulgari, Armani e Camper; e a oferta
O valor simbólico na cidade do gran- dos serviços não é apenas para turistas via-
de hotel norte-americano também pode ser jantes, mas para cidadãos locais (Spolon,
expresso através de filmes premiados pelo 2011, p. 175). Dentro dessa lógica da hotela-
Oscar; porque cineastas hollywoodianos ria contemporânea, pode-se elencar o Sofi-
identificaram a “grandiosidade” daqueles tel So Bangkok, “assinado” por Christian
hotéis, que representados na cinematogra- Lacroix, ou o Sofitel So Mauritius, “assinado”
fia, criaram um signo identitário para muitos por Kenzo (Revista O Globo, 2013, p. 66).
norte-americanos (Donzel, 1989, p. 37). Dentro da paisagem urbana brasilei-
Nesse sentido também, verificam-se ra, o motel adquiriu uma acepção de tipolo-
hotéis da Disney, sobretudo aqueles proje- gia identitária que acabou configurando um
tados por Michel Graves, com fachadas “ícone” característico na paisagem urbana,
construídas com elementos jocosos, propor- jocoso por vezes na imagem da cidade, mas
cionando alegria e descontração ao hóspede que “anima” o ambiente urbano:
transeunte pela rua.
O estilo desses motéis apresenta uma gama
A relação que um hotel deve ter com igualmente variada de opções. Encontramos
a rua pode denotar a condição de hospitali- réplicas de castelos medievais, construções
dade urbana: o lobby do hotel pode oportu- egípcias e mesopotâmicas, prédios com es-
trutura moderna pintados em cores berran-
nizar um acesso por uma rua pública, ao tes ou revestidos de materiais ‘luxuosos’
mesmo tempo em que pode garantir a circu- como mármore, granito, etc, presença de
pinturas murais com alusões ‘eróticas’ ou
lação dos hóspedes dentro do hotel (Andra-
com pequenos chalés separados uns dos ou-
de et al., 2000, p. 125). Ambientes de tros compondo certa paisagem bucólica (...).
uso coletivo para socialização apareceram Outro elemento que reforçaria o ‘apelo se-
xual’ seria o logotipo ou ‘marca’ do estabe-
contemporaneamente em hotéis design, lecimento: maçã mordida, gatinha, sereia,
etc.” (Cavalcanti & Guimaraens, 1982, p. 64)
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Figura 1 - Imagem do Hotel Burj Al-Arab como propaganda turística dos Emirados Árabes
Unidos
Fonte: http://www.fatimanews.com.br/turismo/predio-simbolo-de-dubai-e-o-unico-hotel-7-estrelas-
do-mundo-veja/164004/
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Meios de hospedagem como signo de hospitalidade urbana
Fonte: http://colecoes.mercadolivre.com.br/postal-do-rio-de-janeiro,-anos-60,-copacabana-*-
g-f-b-144
De sorte que os exemplos elencados (...)” (Grinover, 2006, p. 42; grifo dos auto-
acima configuram referências imagéticas res).
enquanto arquiteturas no espaço urbano Constitui-se um marco urbano para
(marcos urbanos), atributos de forma e sig- Kevin Lynch: “(...) ponto de referência, po-
nificado verificados na imagem da cidade. rém, neste caso são externos (...). Geral-
Para McNeil (2008) os hotéis têm sido cada mente, elementos construídos, edifícios
vez mais elementos estruturantes do espaço excepcionais (...) todos dotados de uma
urbano, tanto como marco referencial, tanto forma particular que facilita sua identifica-
como elementos de estratégias de reestru- ção. Podem estar dentro da cidade ou pró-
turação urbana. ximo a ela, a uma distância que simboliza
Grinover (2006) se apóia no trabalho uma direção constante (...)” (César, Tronca,
de Lynch (2010) para explicar que o espaço & Mattana, 2017).
citadino pode estar carregado de hospitali- Nesse viés, os meios de hospedagem
dade: “Esses conceitos desenvolvidos por estimulam a percepção do meio urbano, são
Kevin Lynch (1996), nos permitem resgatar condicionantes para uma cidade mais hospi-
essas análises, ainda atuais. Kevin Lynch taleira (Grinover, 2003, p. 35):
considerava legível uma cidade ou um terri-
tório quando os bairros, marcos ou cami- (...) a cidade torna-se mais hospitaleira na
medida em que o usuário a “lê” com mais
nhos pudessem ser facilmente reconhecíveis facilidade e seus elementos constitutivos
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bana a partir da comensalidade, dos servi- cação hoteleira junto à rua, criando-se aces-
ços e comércio nos bairros. sos de sugestões de uso coletivo para ball-
A partir dessas considerações teóri- rooms e restaurantes de hotéis.
cas, pode-se elencar a hotelaria e os serviços O caráter identitário dos hotéis en-
de restauração – essencialmente de baixo quanto lugares da e na cidade vai ao encon-
custo para hóspedes – nos bairros de Paler- tro da noção de lugares de hospitalidade à
mo e San Telmo, Buenos Aires, Argentina – escala urbana (Baptista, 2002, 2005, 2008;
são os hostels e até hotéis design (Figura 3) Salles, Bueno, & Bastos, 2014; Stefanelli &
– que se “abrigam” em edifícios antigos – e Bastos, 2016; Stefanelli, 2015).
por isso também se tornam um atrativo para Os edifícios antigos de Palermo e San
um público específico que os procuram ou Telmo não só passam então por um viés
simplesmente percorrem aqueles bairros. “patrimoniável” do bem esteticamente elei-
Tal condição empírica também se funda- to, mas concentram parte afetiva do cotidi-
menta concomitantemente com as teorias ano (memória de antepassados, memória
de urbanização de Kevin Lynch (2010) (vin- material do lugar, estilos arquitetônicas
culadas com teorias de hospitalidade urbana “aprazíveis” a diferentes gostos pela arqui-
de Lucio Grinover (2003, 2006, 2007)) acerca tetura), bem como possibilidade de desen-
da imagem e paisagem urbanas: configura- volvimento econômico (geração de emprego
se a legibilidade dos bairros de Palermo e e renda para população local nos serviços de
San Telmo pela possibilidade de um “agru- hotelaria e restauração). O confronto da
pamento legível” do conjunto dos diversos população local (seja a prestadora direta de
hotéis que se apropriaram de edifícios anti- serviços, seja o cidadão transeunte ou mo-
gos. rador do bairro) com o turista, expõe a pro-
Também nos termos de Lynch posição de hospitalidade urbana defendida
(2010), interpreta-se que os hotéis ocasio- por Severini (2014): relação social entre visi-
nam marcos no tecido urbano (referenciais tante e visitado, amparado pelos diversos
de “lugares” identitários na e da cidade); por espaços da cidade, sejam eles públicos ou
suas características peculiares: proporção e até privados de uso coletivo (hotéis e res-
escala da edificação monumental em rela- taurantes, por exemplos).
ção às outras edificações na cidade; deta-
lhes de cor, iluminação noturna e acaba-
mentos “chamativos”; implantação da edifi-
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Figura 3 - Sequência de imagens das entradas de meios de hospedagem em edifícios antigos em Palermo,
Buenos Aires, Argentina
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Meios de hospedagem como signo de hospitalidade urbana
ra como parte dele, poderia ofertar mais Baptista, I. (2005). Para uma geografia de proximida-
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rístico; se o meio de hospedagem é uma
Baptista, I. (2008). Hospitalidade e eleição intersub-
condição de marco urbano, então ele “car- jectiva. Revista Hospitalidade, (5)2, 5-14.
regaria” a cidade de referências para a hos-
Bastos, S., & Rejowski, M. (2015). Pesquisa científica
pitalidade urbana. Ou seja, ainda que a em- em hospitalidade: desafios em busca de uma configu-
presa de meios de hospedagem seja uma ração teórica. Revista Hospitalidade, 132-159.
iniciativa privada, ela poderia, por outro
Bell, D. (2007). Hospitality and Urban Regeneration in
lado, condicionar uma melhor qualidade de Hospitality: a social lens. Stirling: University of
imagem e paisagem urbanas, tornando o Stirling.
destino “carregado” de hospitalidade urba- Barthes, R. (1971). Elementos de semiologia. São
na – um benefício público – tanto para turis- Paulo: Cultrix.
tas como para cidadãos locais. Infere-se,
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Os limites dessa pesquisa foram os Aleph.
que a motivaram: a falta de uma bibliografia
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