Subscribe to DeepL Pro to translate larger documents.

Visit www.DeepL.com/pro for more information.

Revista Géographique de l'Est

A autenticidade dos territórios rurais turísticos em questão.

Reflexões a propósito do Auxois e do Morvan
Valérie Delignières

Citer ce document / Citar este documento :

Delignières Valérie. A autenticidade dos territórios rurais turísticos em questão. Réflexions au sujet de l'Auxois et du
Morvan. In: Revue Géographique de l'Est, tome 38, n°3,1998. Bourgogne, Franche-Comté, Suisse : tourisme, transports,
frontière, économie. pp. 103-116;

doi : 10.3406/rgest.1998.2340

http://www.persee.fr/doc/rgest_0035-3213_1998_num_38_3_2340

Documento gerado em 06/06/2016

Resumo
A autenticidade dos territórios turísticos rurais? Reflexões sobre Auxois e Morvan. - Talvez nunca
o espaço rural tenha estado tão presente nas preocupações dos turistas e dos profissionais do
turismo. Este interesse profundo explica-se por uma tendência em desenvolvimento que tem por
objectivo fazer do espaço rural um espaço "autêntico", propício, na maior parte das vezes, a um
"regresso aos valores de base" e designado por
"genuíno". Depois de reconhecer este fenómeno, é tempo de fazer um balanço e de dar resposta
a numerosas questões. O que é a autenticidade? Pode corresponder a uma realidade específica?
Não será simplesmente uma invenção humana para responder a uma necessidade que as
pessoas sentem de mudar de ambiente e de esquecer momentaneamente as vicissitudes da sua
vida urbana? Abordaremos o problema segundo uma dupla abordagem: uma teórica (avaliação
conceptual, identificação dos elementos interligados, proposta de uma definição) e uma prática
(aplicação a Auxois e Morvan). Tentaremos dar respostas a questões, centrando o nosso estudo
em dois pontos essenciais e reveladores deste fenómeno: a decifração das mensagens de
marketing que enaltecem a autenticidade e a análise dos empreendimentos turísticos que visam
reintroduzir elementos do passado.

Resumo
A questão da autenticidade dos espaços turísticos rurais. Reflexões sobre Auxois e Morvan. - O
espaço rural talvez nunca tenha estado tão no centro das preocupações dos clientes como dos
profissionais do turismo. Este empenho explica-se por um fenómeno crescente que visa fazer do
rural um espaço "real", propício a um "regresso às origens", muitas vezes qualificado de
"autêntico". Perante esta constatação, é altura de esclarecer e responder a muitas questões. O
que é que significa autenticidade? Pode corresponder a uma realidade? Não será apenas uma
invenção puramente humana em resposta a uma necessidade de mudar de sítio e de esquecer
momentaneamente a impermanência da vida urbana? Abordando o problema a partir de um duplo
ângulo - teórico (conceito de equilíbrio, identificação dos elementos de interacção, proposta de
definição) e prático (aplicação no Auxois e no Morvan) - tentamos dar respostas às questões,
centrando o estudo em dois pontos essenciais, porque esclarecem o fenómeno: a revelação dos
slogans de mercado que enaltecem a autenticidade e a análise das acções de
desenvolvimento turístico que procuram reintroduzir um elemento do passado.

Currículo
A questão da autenticidade dos espaços turísticos rurais. Reflexões sobre Auxois e Morvan. - O
espaço rural talvez nunca tenha estado tão no centro das preocupações dos clientes como dos
profissionais do turismo. Este empenho explica-se por um fenómeno crescente que visa fazer do
rural um espaço "real", propício a um "regresso às origens", muitas vezes qualificado de
"autêntico". Perante esta constatação, é altura de esclarecer e responder a muitas questões. O
que é que significa autenticidade? Pode corresponder a uma realidade? Não será apenas uma
invenção puramente humana em resposta a uma necessidade de mudar de sítio e de esquecer
momentaneamente a impermanência da vida urbana? Abordando o problema a partir de um duplo
ângulo - teórico (conceito de equilíbrio, identificação dos elementos de interacção, proposta de
definição) e prático (aplicação no Auxois e no Morvan) - tentamos dar respostas às questões,
centrando o estudo em dois pontos essenciais, porque esclarecem o fenómeno: a revelação dos
slogans de mercado que enaltecem a autenticidade e a análise das acções de
desenvolvimento turístico que procuram reintroduzir um elemento do passado.
Valérie DELIGNIÈRES
U+vuesiblBi+ąe
4? lesVgtes
Currículo :
Jamais peut-être l'espace rural
n'aura autant été au centre des
øréoccupalions des clienlèles el
des professionnels du tourisme.
Cet engouement s'explique par
l'existence 4'un phínomène
croissanł visant à faire en un
" retour aux sources ..., qualifié le
plus souvent " d'aułhenłique ".
Face à ce conslat, il est temps de
faire le p0inl et de répondre à de
nombreuses questions. üu'esLce
que Luthenłiciłé ? PeLWe
COffčSpONdFč à Ufle FéalÎté '?
N'est-elle pas que reine création
humaine en réponse à un besoin
de dépaysement el d'oubli
momentané des vicissitudes de la
vie urbaine * En abordant le
problè "ie selon un 4oubIe
aspect lhéorique (bilan
conceptuel, identification des
éléments an interaction,
proposilion ge délinilion) et
pratique (application à I'Auxois
et au Morvan), nous lenterons
d'apporler des réponses
üUX i ß t e f r 0 g ü l İ 0 f l S č N a xüßt
não se trata de um estudo sobre
os pontos essenciais e
reveladores da
p hźfl0lTlèfle . le üéCFÿptağe 4eS
mensagens de marketing que
valorizam a autenticidade e a
análise das acções de
desenvolvimento turístico que
visam reintroduzir um elemento
do passado.
tfie aułfienłiciły oł rural fourirrir
tertitoriøs ? Reflexões sø Auxois
anif M0rra/t. - Talvez nunca o
espaço rural tenha sido tão r "uth
a preocupação dos turistas' e dos
profissionais do turismo. Este
interesse profundo pode ser
explicado por uma tendência em
desenvolvimento que tem como
objectivo a criação de um
espaço rural para o turismo.
" zona autêntica ..., propícia, na
maior parte das vezes, a um "
regresso aos valores de base ...
aná designada por
"genuíno". Depois de reconhecer
este fenómeno, é mais do que
tempo
uma avaliaçãol foram
desenhados e
Quadro 1 : Os diferentes temas relacionados com a autenticidade.
A dos territórios
autenticidade
ruraux touristiques en question
Reflexões a propósito do Auxois
e do Morvan
INTRODUÇÃO
As férias à la campagne existem desde há muito
tempo, mas, nos últimos anos, verificou-se uma
mudança nas expectativas e nas atitudes dos clientes
turísticos em relação a umas férias actualmente
redescobertas e revalorizadas. Estas mudanças,
amplamente divulgadas e comentadas nos meios
de comunicação social e na imprensa escrita,
explicam-se em grande parte por novas exigências
em termos de conforto e de qualidade de vida. Mais
precisamente, estas exigências traduzem-se em
expressões eloquentes: procuramos um novo modo
de vida.
" espaço protegido " " um espaço de vida preservado "
" une nature intacte " ou ainda " un paysage authen-
tique --. . Todas estas noções são muito próximas umas
das outras e denotam uma necessidade de
voltar às fontes, a algo "de verdade", como se a vida
quotidiana, e sobretudo profissional, fosse sinónimo
de comportamentos "falsos", artificiais e sem valores
tradicionais. Num plano um pouco caricatural, opõe-se
à agitação e à indiferença da cidade, um espaço
autêntico, ainda que repleto de ânimo humano, como
se a campanha estivesse, de alguma forma,
protegida da crise socioeconómica. Esta noção de
autenticidade, actualmente muito explorada pelos
profissionais do turismo (veremos os exemplos do
Auxois e do Morvan), está muito presente no espírito
dos turistas; foi pesquisada, está quase esquecida.
Mas podemos perguntar-nos se não é um pouco
exagerado, se não acaba por ser um gabinete de mística
para a atractividade da campanha, ou, mais
directamente, podemos perguntar-nos se há uma ou
mais formas de expressão da autenticidade:
podemos afirmar com precisão e unanimidade o que
é um espaço rural autêntico?
1. - A AUTENTICIDADE: UM CONCEITO
• PLURIEL - ?
O termodiferentes
muito - autenticidade '- pode
uns dos ter vários
outros, como significados
em témoi-
gnent par example, les nombreux synonymes qui lui
e que se podem classificar em função de quatro
termos principais (quadro 1). Note-se que os termos
que mais se aproximam das nossas preocupações
estão indicados em baixo.
Cette liste met in mídiatement I'accent sur la
complexité conceptuelle qui entoure la notion d'authen-
ticití. De uma forma geral, sabe-se intuitivamente o que
significa, mas é difícil traduzi-la por palavras mais
simples. À ce titre, on ne peut que rejoindre l'opinion de
M. Dítienne [12] qui identifie l'au- thenticité comme un "
mot-outil -, car elle est souvent utilisée comme -' une
procédure grossière d'idenłifica- tion -. Toujours d'après
ce même auteur, " l'important, c'est à quoi ce mot
permet de site se référer '-. Allant dans le même sens,
A. Adorno {1] affirme que " /a langue emplł9ie le motif
"authentique" de manière flot- tame '-. Cependant, et
comme la suite de l'étude pourra le démontrer, cette
notion renferme une double optique qui comprend
- uma abordagem que permita intervir num
parâmetro
fempore/: la pírennité des héritages culturels et histo-
rİqUes U ri1fiie sU U F 8 d 'İder\tİ(É ¢( dUii
d ' ö L l l I 1 e n [ i C i t é
territorial ;
- uma abordagem baseada em características
espaciais: o espaço autêntico é "verdadeiro", intacto
de qualquer transformação ou deformação humana.
Além disso, e antes de aprofundar esta linha
de investigação, é necessário substituir o termo
"autenticidade" no contexto específico do estudo e
abordar o problema tendo em conta dois critérios:
— a visão do géografo, que levanta algumas
questões centrais: como definir a autenticidade em
relação às preocupações de análise da géografia? ou
ainda: como é que o contraste da géografia pode
ajudar a definir a autenticidade?
— o parâmetro turístico que irá, também ele, conduzir
a certas interrogações em que a autenticidade pode ser
como é que os actores do turismo reconhecem e
garantem a sua autenticidade?
Pour répondre de manière explicite à ces
diffírentes questions, il est primordial d'insister sur
le rôle essen- tial jouí par la perception des lieux
dans les processes d'idcntiłication d¢
l'authenticité.

1.1. - A importância da
percepção dos lugares
Em que critérios se baseia para afirmar que um
pagador é mais ou menos autêntico? A decisão é
relatórios para os representantes que determinam a
conformidade

103
das nossas atitudes e das nossas ideias, pré-
existentes no nosso espírito em relação ao que o
mundo exterior nos oferece. Cela suppose donc une
comparaison entre, d'un part, ce que l'on voit et ce que
l'on ressent et, d'autre part, ce que our enseignement
personnel et nos héritages socio-culturalls ve permis
d'acqué- rir. Esta valorização da percepção, da inter-
pretação e do sentido do lugar na literatura americana
está na origem do surgimento da "géographie du sacré
et du profane", tal como qualificada por P. Claval [8].
Toujours selon cet auteur,
"Não é possível ter em conta a diversidade da terra as manipulações agroalimentares que Fig. 1 :
sem ter em conta a imanência do outro mundo que cria demonstraram, até à data, perigos potenciais para o Do mundo real ao mundo
o autêntico e o inautêntico, que cria os homem; construído: a interferência do
enraizamentos ou torna as pessoas móveis, e que filtro cultural.
afecta os lugares e o destino das criaturas tanto — le toucher : ce sens est peut-ètre le moins impor-
quanto os constrangimentos naturais que são os tant, mais il est tout de même bien présent. De facto,
mais importantes. não é raro encontrar pessoas que sentem a
visíveis -. Globalmente, o grau de autenticidade de um necessidade de tocar em monumentos históricos,
território pode, portanto, ser identificado como "o cais, animais, árvores ou até mesmo de tocar na numerosas perguntas
invisível", a carga afectiva que cada indivíduo sauvage das flores no coração do sentier... encontraram uma resposta. O
carrega num território e cuja intensidade varia de uma que é a autenticidade? Pode
A combinação destes cinco sentidos determina, portanto, corresponder a um
pessoa para outra. determinado
a estrutura mental da imagem da campanha autêntica;
Não se trata apenas de uma
Estas atenções e ideias dependem de processos one passes ainsi du monde " réel ", neutre et sans invenção humana para
relacionados com a psicologia do espaço e contenants, à un monde - construit ", imaginé, idéalisé, responder a uma necessidade
correspondem à construção mental de imagens vécu, rempli de valeurs d'usages et qui devient territoire que as pessoas sentem de
se sentirem num ambiente
relacionadas com os territórios. No que respeita mais grâce à la - culturalité- (Pinchemel, [20j) imposée amplo e de esquecerem
especificamente ao espaço rural, nota-se que os par chaque individu (figura 1). momentaneamente as
processos em questão intervêm e combinam os vicissitudes da sua vida
cinquenta sentidos da seguinte forma Para além do que é transmitido pelos cinco urbana? 7 Abordaremos a
sentidos, outros fenómenos intervêm e tocam a abordagem do
— a vista: ela permite a construção de imagens protemloMwingaCod: uma
mentais, por vezes estereotipadas, da campanha; citamos •mitificação do campo;
transcendentes -. 0nsão os ainsi
peut fenómenos
parler des valeurs teórica (avaliação conceptual,
identificação dos elementos
de interligação, proposta de
uma definição) e uma prática
(aplicação a Auxois e
e que preocupam cada vez mais o público devido aos
por exemplo, um tipo de paisagem, composto de aditivos químicos e alimentares. réelles du paysage (ce qui
campos, de pradarias delimitadas por fenos, de uma affleure "), auxquelles s'ajoutent
aldeia em que o relógio da igreja é distinto, de um les valeurs - sacrées " du paysage
rio, de uma floresta, de um céu, de um tipo de (ce qui le mythifie), et l'espace
clima... ; rural n'est pas dépourvu de
— l'ouïe : elle fait intervenir les bruits de la cam- croyances surréelles. As terras, as
pagne, tels que le chant des oiseaux et des coqs, le montanhas, os bosques, os
murmure de la rivière, le son du tracteur, le retentisse- campos, os campos de golfe,
ment des cloches du village..., ou au contraire, le foram, ao longo dos séculos,
silence de la campagne, par opposition au vacarme de lugares de lendas que não existiam
la ville; senão no espírito dos viajantes.
— l'odorat : les senteurs de la campagne sont égale- Ces " croyances topogra-
ment fréquemment stéréotypées; parmi les plus cou- phiques ", même si elles ont pour la
rantes, on trouve : le bon air de la campagne (par plupart disparu, ont Iaissé des traces
opposition à l'air pollué de la ville), le parfum des et continuent à envoûter un certain
fleurs, ou, moins poétiquement, les odeurs de la public (comme la forêt de
ferme.... . Brocéliande en Bretagne).
— O gosto: este é um sentido que tende a tornar- Globalement, on ne peut donc que
se cada vez mais importante, porque se refere à rejoindre A. Frémont [14], que
gastronomia e, sobretudo, aos alimentos afirmava em 1974 que "a
considerados puros e naturais que se encontram realidade de uma região reside no
no campo. Os produtos do terroir têm o vento a favor facto de ser viva, percebida,
e opõem-se aos produtos da agricultura intensiva, valorizada, carregada de valores
que se destinam à comercialização em grande escala pelas suas gentes, e q u e a
paisagem rural é constituída pelo suporte material
(espaço) e pelas pessoas que o percebem,
l'investit de sa subjectivité, et l'utilise suivant son inten-
ti0nnalité propre - (Béroutchachvili et Rougerie [3]).
De acordo com estes autores, a paisagem é uma
estrutura tripartida que se presta frequentemente a
comparar ou a assistir.
miler message et récepteur, et c'est souvent sur la
variabilité de ce récepteur que repose la polysëmie du
paysage -. A paisagem rural torna-se assim - espectáculo
-.
104 REVUE GÉOGRAPHIOUE DE L'EST - TOME XXXVIII - 0-1998
Morvan). Tentaremos dar respostas às questões
colocadas.
pontos reveladores sobre
pliefl0lîlefl0n : a deCifragem de
mensagens de marketing que enaltecem a este assunto
autenticidade e a análise de desenvolvimentos
turísticos que visam ijsjjgtopçreijn traduce elementos de
,
ZUSANIYIENFASSUNG :
/7a questão da auifienticidade do
Espaços de trabalho para turistas. IJberlegungen zu
Äuxois und ßforxa/t. - O espaço rural
talvez nunca tenha estado tão em
A tónica foi colocada nas preocupações dos clientes e
dos profissionais do turismo. Este empenho explica-
se por um fenómeno crescente que visa transformar o
espaço rural num espaço "real", adequado para
"Regresso às 4 origens",
frequentemente qualificada como "autêntica". Perante
esta afirmação, é altura de esclarecer e responder a
muitas questões. O que é que
Aulenticidade? Pode ela ser uma
corresponde à realidade? Não
será apenas uma invenção
puramente humana em resposta
a uma necessidade de mudar de
oris e esquecer
momentaneamente a
impermanência da vida urbana?
Ao abordar o problema de um
duplo ponto de vista - teórico
(conceito de equilíbrio,
identificação dos elementos de
interacção, proposta de
definição) e prática (aplicação
no Auxois e no Morvan) -
tentamos dar resposta às
questões, centrando o estudo em
dois pontos essenciais, porque
esclarecem o fenómeno: a
revelação dos slogans de
mercado que exaltam a
autenticidade e a análise das
acções de desenvolvimento
turístico que procuram
reintroduzir um elemento do
passado.
Autenticidade, campismo, turismo
rural, paysages, imagens,
tel'rit0iFeS, AlJXOiS, IŸIOFVan .
Key-l-oräs :
Autenticidade, campo, rural
t0lJFiSnl, landSCapeS, inlages,
territórios, Auxois, Morvan.
Fissuras:
Autenticidade, espaço rural,
turismo rural, paisagens,
imagem, territórios, Auxois,
Morvan.
(Brunet [5j), ou ainda, -' â la fois construction de la Champagne, aux portes d'Avignon e na Suíça. Assim, a
nature, de l'homme et de l'esprit de l'homme -. nossa região perdeu o seu património noutros locais,
o que nos permite responder à seguinte questão: a
Em conclusão, podemos afirmar que cada um de nós
estrangeiridade da Borgonha não existe, em parte ou
"modélise" l'authenticité de la campagne. Com efeito,
na totalidade, noutras regiões que, em tempos,
o espaço rural é simbolizado por estruturas ou
foram locais de aprovação burguesa?
combinações de estruturas que revelam os seus
valores intrínsecos. Regozijando-nos com a definição Por outro lado, podemos perguntar se não é
comum do modelo, podemos afirmar que a
necessário intervir também na memória colectiva
autenticidade de um espaço rural depende muito da e/ou individual? Por outras palavras, podemos pensar
representação que cada indivíduo faz dessa área que a autenticidade (do ponto de vista humano) de
geográfica que é o espaço rural. um território depende da comparação entre a imagem
que o território oferece actualmente e a que está
1.2. Propostas de definição preservada na memória; memória adquirida
através da experiência pessoal ou experiência
de l'authenticité
transmitida através do récit ou da escrita de outros.
A análise da percepção dos lugares permite-nos Cette approche permet, en outre, de rattacher la
compreender melhor a definição da autenticidade de um notion d'authenticité à celle de tradition qui, dans
território rural segundo as duas abordagens temporais e son sens premier, se rapporte aux contenus culturels
espaciais acima referidas, muitas vezes associadas ou qui traver- sent le temps, et dans son second sens,
complementares. renvoie à une transmission orale des héritages du
mentares, o primeiro facto é intervir nas noções passé (EncycIO-
de espaço-património e de espaço-identidade, a pédia niversalis). Soulignons, à titre anecdotique, que
segunda
baseando-se nas noções de espaço-verdade e de estenderam-se até ao final do século XIX.
espaço
naNrel.
!.2. I. È0LSÇLie -- äUthenticité -- rime avec
patrim0ine, culture et identité I0cales
Ao optar por abordar a análise de uma perspectiva
exclusivamente temporal, o objectivo é mostrar em que
medida os rituais do passado estão implicados na
definição da autenticidade de um território rural. Para
o efeito, comecemos por responder à seguinte questão:
qual é a autenticidade da Borgonha, terra de
passagem marcada por um certo número de marcos
históricos? Esta pergunta levanta já um primeiro
problema, porque o património da Borgonha não é
exclusivamente original da região. No entanto, ao
abstrairmo-nos desta observação, podemos, numa
segunda fase, considerar as questões seguintes: Será
que se deve remeter para a época gaulesa (como
em Alésia ou Bibracte), para a época romana (como
atesta o teatro de Autun); será que se deve
regressar às mesmas raízes na Borgonha, como
sugerem a igreja de Solutré ou ainda as grutas de Arcy-
sur-Cure? 0u mais recentemente, na época do românico,
que viu a construção de muitas igrejas na Borgonha
(Cluny, Vézelay, Pontigny, Fontenay...) ? Perguntas
sem resposta porque é difícil dar uma resposta
positiva.
Esta abordagem exige também uma outra reflexão,
porque os limites actuais da Borgonha não
correspondem aos da Borgonha do passado;
estamos portanto perante um problema delicado de
reconhecimento e de apropriação territorial. De
facto, se recuarmos à época borgonhesa, por
exemplo, as terras dos b o r g o n h e s e s
este imperativo de utilizados. mais. Sefte transmission se
comunicação oral (os traduzida pela perenidade de características locais de
Ao reproduzir todos os comentários e sugestões natureza diversa (actividades, práticas, traços de
escritos não são abordados no decurso desta abordagem, pode
reconhecidos) não carácter ou mesmo traços físicos) que estão
ser proposta uma definição prévia de "espaço presentes na paisagem e que contribuem para a
permite dar uma prova autêntico": explicação das diferenças e das especificidades
de autenticidade à territoriais reconhecidas.
tradição! Mas existe na Um espaço autêntico pode ser assimilado a
rables d'un espace à un autre.
realidade uma civilização um território-património carregado de valores
que não tenha deixado herdados do passado
escritos que contenham os con/r/êuanf â la définifion des traditions ef de l.2.2. "- L espace-vrai -' comme idéal spatial...
seus usos e costumes? l'ident- fifé locales. O espaço, frequentemente No livro Les M0ts de la ûe0graphie [4], encontramos a
Uma vez mais, constata-se considerado como o mais
O grande número de pessoas, quase seguinte definição: "authentique signifie produit par lui-
uma importante confusão mëme, aUt0- T0dUit, qui vient de s0i, de l'être et n0n
imutável nas suas formas paysagéres,
entre dois termos que são tornou-se o suporte da missão da cultura das do meio, d0nc ce qui est Original, et même "d'0ri-
frequentemente sociedades que viveram e que vivem ainda gine . 0e qui ne veut rien dire . les appellati0ns

HL.VUF f'FfJÜRAPHIOl JE DE I FAT TOME XXXVIII 3-1998 105

d'0figine garantissant le lieu de pr0venance. II ne
faut pas, en plus, c0nf0ndre I Origine dans le temps
avec I Origine dans l'espace. Un lieu authentique
ne res- semble pas aux autres, mais c'est par
definiti0n le cas de t0us les lieux! Ele é censurado, por
etyfft0l0gie, s'être fait "t0ut seul", p0rter t0ute la
différence qui existe entre I 6Ut0-0rganisati0n et
l'hetér0n0mie. 0eIa permet de magnifier le sp0ntané,
le sauvage, l'inculte, I impulsi0n
primitivo, lacs /Î t0ut ce qui semble relever de la civili-
localização. Lugares soberbos, selvagens e pouco
transformados por
as técnicas 0u não se assemelham a nenhuma outra. --
Ao aderir a esta definição, adopta-se uma visão que
opõe o que é visto como altamente organizado e
artificial (vie professionnelle) ao que é qualificado de
" vrai " et " d'intact " (la campagne) ; ce transfert de
valeurs suppose l'oubli momentané des réalités maté-
rielles au profit d'un environnement intact de toutes
transformations et déformations humaines. A
campagne é assim descoberta e ressentida como fonte
de bem-estar físico e mental, e é identificada pelo que ela
"é essencialmente, em oposição ao que se refere ao
acidente" (Adorno [1]). Par cette vision, la campagne
est assimilée à un espace vierge et sau- vage, non "
souillé " par la marque de l'homme ; ce dernier
jouant alors le rôle peu glorifiant de destructeur des
valeurs et de l'identité territoriales. En poussant le
raisonnement à son extrême, on pourrait même y voir
une condamnation de l'homme par l'homme.
No entanto, não se pode ignorar que esta visão é
errónea, pois quem aceitaria frenquentar os lugares
"perdidos ao abandono"? Que indivíduo visitaria um
campo "em fricção", não ocupado pelo homem e que, a
longo prazo, se tornaria um espaço fechado e,
portanto, inacessível? Poder-se-á imaginar um campo
sem sentimentos, sem pradarias? Bien sûr que non.
Além disso, para responder a esta abordagem de uma
forma coerente, é necessária uma readaptação e um
reajustamento de conceitos entre o que o público em
geral espera e o que a realidade propõe. Para este
fim, a campanha, que é então idealizada, é
frequentemente qualificada como um espaço "natural"
no sentido em que a acção humana é considerada
discreta, mesmo imperceptível.
Além disso, sublinhamos que esta abordagem explica que
o termo "autêntico" é mais frequentemente
associado aos espaços rurais, uma vez que estes são
mais susceptíveis de responder a estas necessidades
de diferença e de diversão. No entanto, não é necessário
excluir uma relação com os espaços urbanos porque
estes também podem ser qualificados como autênticos,
como, por exemplo, as "autênticas cidades norte-
americanas", amplamente mencionadas na literatura
de fora do Atlântico.
Em conclusão, podemos, portanto, propor uma segunda
definição de "espaço rural autêntico":
Uma zona rural pode ser qualificada como
autêntica se apresentar características
territoriais idênticas às descritas a seguir: um
espaço onde a actividade humana não é restringida.
jugée discrète, voire méme imperceptible : l'espace
authentique est un espace - naturel -, presque
immuable dans ses foro'es paysagères et territo-
riales; espace ron déformé par les actions
humaines (ca qui rejoint la caractéristique précé-
dente) : l'espace authentique est un espace - vrai -
e - intacto -, oposto à superfície da vida urbana e
profissional; espaço capaz de se autoproduzir (no
que respeita às práticas, às actividades): o espaço
O espaço autêntico é um - espaço-recurso -;
espaço com formas originais: o espaço autêntico
esf un - espaço-essencial -.
Um espaço qualificado como autêntico é, portanto,
uma forma de idealização espacial.
Até agora, as reflexões têm-se baseado em
considerações simples: apenas se falou de
autenticidade, no sentido estrito do termo. Mas o que
acontecerá quando isto se tornar uma atracção turística?
Oue se passe-t-il lorsque cette réalité ou cet idéal
territorial se retrouve immergé dans un mode de
fonctionnement qui ne lui était pas destiné initialement
?
1.3. Quando a autenticidade se torna
um objecto turístico
1.3.I. A utilização da autenticidade
pelos actores do turismo
Ao integrarmos o espaço rural autêntico nos
programas de desenvolvimento turístico, entramos num
novo sistema de funcionamento dominado
essencialmente por constrangimentos
económicos, tais como a necessidade de
investimento, estudos de mercado, estudos de
rentabilidade,...
Sabendo da necessidade de recursos, voltando a uma
"natureza intacta", os actores do turismo farão
então da autenticidade um produto a vender, a
comercializar, a conhecer, a valorizar, ou mesmo a
reabilitar, como sugere o estudo. A autenticidade fará
assim parte, na medida das nossas possibilidades, de
um plano de marketing cujo conteúdo se articula
geralmente em torno dos dois temas seguintes: résumé
mana- gérial, analyse de la situatioii marketing,
analyse attraits/atouts, objectifs, stratégie, plans
d'actions, comptes de résultat provisionnel et
système de contrôle ; le cas échéant, l'authenticité
apparaîtra furti- vement sur une page photocopiée
mise au point par quelques acteurs locaux du
tourisme dont les moyens restent excessivement
modestes et qui sera distribuée occasionnellement aux
touris de passage.
1 06 REVISTA GÉOGRAPHIQUE CE L'EST - TOME XXXVIII - 3-1998
Em termos mais gerais, as actividades turísticas
relacionadas com a autenticidade territorial são de
três tipos:
— a promoção turística directa (campanha publicitária
junto do grande público, elaboração de placas, mais
raramente, comunicação oral...) e indirecta
(participação em salões, feiras...);
— as contribuições financeiras sob a forma de
investimentos ou subsídios para a criação, manutenção
ou renovação de um bem territorial que se enquadre
na imagem local (monumentos, ofícios tradicionais, artes e
ofícios, património local, especialidades locais, casas
típicas, sinalização, etc.). .) ;
as acções de informação aos agentes do turismo
presentes no terreno e em contacto directo com os
turistas (redes de intercâmbio, formação...).
Com a aplicação destas medidas de
desenvolvimento e de apoio, a autenticidade
adquire, pois, uma nova dimensão, ainda que
esta constatação contenha algumas nuances.
A autenticidade de um território não é
forçosamente concreta e perceptível. Mesmo à
imagem das dificuldades encontradas aquando da
elaboração das suas definições, é muitas vezes difícil
de materializar pelo operador turístico.
Consequentemente, a imagem do produto é fraca, o
que pode levar, por exemplo, a uma certa fluidez do
conteúdo da informação turística (o estudo efectuado no
Auxois e no Morvan pode comprovar este facto).
L'authenticité est ici rattachée à l'espace rural. 0r, é
evidente que a rentabilidade dos equipamentos e das
actividades turísticas é muitas vezes difícil porque o
turismo no espaço rural sofre de um carácter difuso
associado a uma falta crónica de recursos financeiros;
os investidores privados são pouco numerosos em
relação à extensão das zonas rurais e nem sempre
dispõem dos meios adequados; esta situação é
agravada pela persistência de uma forma de
financiamento asistanat por parte do sector público
em relação aos actores locais. Dès Iors, le système
économique ne fonctionne ne manière aussi optimale
que ceux d'autres types d'espaces touristiques mieux
organisés comme les villes ou les stations
touristiques.
1.3.2 - A instalação de um sistema
de funcionamento e de exploração
de l'authenticité
Não vamos mencionar aqui as múltiplas vantagens da
racionalização e da modelização sistémicas. Muitos
trabalhos já responderam a esta questão; citamos,
por exemplo, o livro de J. de Rosnay [11], que
representa uma base fundamental para a
compreensão do funcionamento dos sistemas que nos
rodeiam. É importante referir que este
A abordagem é, antes de mais, um modo de
questionamento: procura-se, antes de mais,
compreender para melhor conhecer e analisar.
O princípio básico é o seguinte: devemos considerar o
que estamos a tentar compreender como um todo.
Em vez de dividir o objecto em diferentes partes, o
objecto deve ser analisado nas suas relações com o
seu ambiente. O sistema permite, portanto, trabalhar
e combinar diferentes níveis de escala.
Além disso, um sistema pode ser definido de
acordo com duas abordagens complementares: no
plano ontológico, ou seja, a essência do sistema. Isto
significa definir o seu aspecto estrutural e o seu
aspecto funcional. No aspecto estrutural, podem
distinguir-se os limites, os componentes, os
reservatórios (noção de stockagem) e uma rede de
comunicação. No aspecto funcional,
identificam-se os fluxos, os
"vannes" (controlando os fluxos), os délais (tempos
de resposta do sistema) e os efeitos de retroacção
(boucles de rétroaction positives ou négatives). Estes
indicadores exprimem as inter-relações entre os
elementos do sistema. A qualidade "positiva" indica uma
dinâmica de crescimento, e a qualidade "negativa"
indica uma dinâmica de manutenção. No plano
histórico, que faz intervir o tempo, identifica-se a
origem do sistema (de onde ele vem), a sua
evolução passada. Todo o sistema contém
elementos de direitos que continuam a actuar no tempo
presente. Ao contrário, este plano distingue a evolução
futura: até onde devemos tender o sistema?
Aplicando estes princípios a este estudo, podemos
afirmar que o sistema de funcionamento e de
exploração da autenticidade é composto por três
elementos principais.
Por um lado, trata-se dos turistas que constituem a
procura, por outro lado, trata-se dos actores locais que
podem ser assimilados a um ou vários centros de
decisão (em termos de acções de desenvolvimento
turístico) e, finalmente, trata-se do território turístico
rural, que representa a oferta "material", a
O "produto" a ser vendido (para os actores locais)
ou a ser explorado (para os turistas). O turismo é,
portanto, visto simultaneamente como um factor de
preservação e de valorização do património e como um
fenómeno económico com todas as consequências
que isso implica.
A atractividade do território rural depende, por seu
lado, de dois elementos fundamentais: as
necessidades da clientela turística e as acções de
desenvolvimento local acima apresentadas
(combinadas com as potencialidades inerentes e
adquiridas), que dependem dos actores locais
(volições individuais e colectivas).
Por último, as necessidades da clientela turística
são de natureza diversa e dependem muito do :- filtre
UFVIJL ÜEOGFtAPl SITUE DF I LOT TOME XXXVIII 3-199B 107
 T

Fig. 2 :
As interacções entre a oferta e a
procura turística no espaço rural: a
emergência de novos territórios...

de comportamento de um indivíduo para outro face a um espaço turístico rural.

cultural" ; Este é fortemente influenciado pelo estatuto
social (classes socioprofissionais que induzem um
certo poder de compra), pela herança cultural
(educação, referências sociais e culturais), pela
idade (as necessidades não são as mesmas aos 20 e
aos 60 anos), pelo desejo individual de descobrir e
aprender (a necessidade de conhecimento não é
a mesma aos 20 e aos 60 anos), pelo desejo de
conhecimento (a necessidade de conhecimento não é
a mesma aos 20 e aos 60 anos), pelo desejo de
conhecimento (a necessidade de conhecimento não é
a mesma aos 20 e aos 60 anos), a idade (as
necessidades não são as mesmas aos 20 e aos 60
anos), o desejo individual de aprender e de saber
(desejo de ser instruído) e, finalmente, o sexo (mas
em menor grau); a combinação de todos estes
elementos pode induzir variações de percepção e
 interacção, induzindo novos componentes, como
Todos estes indica a figura 2, de uma forma geral, e a figura 3, de
elementos uma forma mais detalhada.
em relação
definem um Representando um esquema largamente
sistema influenciado pelas restrições económicas das
global que sociedades menos desenvolvidas, a oferta, a
combina procura e a sua interdependência constituem a base
diferentes do raciocínio em que se organiza este modelo
tipos de sistémico. Este objectivo de rentabilização

108 REVUE GÉOGRAPHIOUE DE L'EST - TOME XXXVIII - 4-1998

lite économique places alors l'espace rural au ¢œur des
enjeux locaux de développement. De territoire " réel "
(figura 2), on passe alors d'une part, au territoire " ima-
giné -- par les ¢lientèles touristiques et modílisé par le
filtre de lecture socioculturel propre à chaque individu,
e d'autre part, au territoire " communiqué " par les
professionnels locaux du tourisme dont les orientations
relatives à la politique de développement sont soumises
à des choix en matière d'actions et de marketing.
A interactividade entre a oferta e a procura pressupõe
um conhecimento mútuo das necessidades turísticas
(por parte dos
" offreurs ") e des produits (par les " demandeurs ")
(figura 3), ce qui, soulignons-le, est parfoİS I0in d'être
systématique. A mensagem emitida com vista a
qualificar as zonas rurais como territórios autênticos
pressupõe, para uma boa receção tanto da oferta
como da procura, que a imagem do território rural
seja a melhor possível.
de part et d'autre concomitants, sinon cela signifie qu'iI
existe un décalage marketing qui se traduira alors par
une perte économique pour les acteurs locaux et une
insatisfaction dans la dícouverte du territoire rural pour
les clientèles.
A suite de l'étude va done consisted en une analyse
appliquée à l'Auxois et au Morvan {10] et relative à
différents aspects du modèle qui apparaissent
fondamen- taux. Trata-se, por um lado, da
apresentação e, sobretudo, da descriptografia de
mensagens de marketing que valorizam os direitos
de territórios rurais autênticos e, por outro lado, do
estudo de acções locais de desenvolvimento que
visam valorizar ou revalorizar a autenticidade. Uma
reflexão sobre a realidade da autenticidade será
mencionada de forma geral.
II - AVALIAÇÃO DO GRAU DE AUTENTICIDADE
DOS TERRITÓRIOS RURAIS DE L'AUXOIS
E DO MORVAN
2.1 - O que é que se passa actualmente?
l'authenticitź de l'Auxois et du Morvan ?
Segundo os actores do turismo local, a autenticidade
do Auxois e do Morvan deve ser pesquisada
prioritariamente em dois elementos essenciais do
território: os sítios de renome e os tipos de
paisagens (que incluem também as práticas e
tradições locais). Assim, en
Fig. 4 :
Os principais recursos de autenticidade em Aux0is-
Morvan.
A autenticidade maior: os sítios turísticos de renome.
Les paysages vecteurs d'images locales : l'authenticité
majeure mais plus ou moins dérivee car résultant d'une
reconversion paysagère plus ou m0ins importance.
Autenticidade e tradição: introdução à noção de teatro.
A criação de redes de sítios turísticos secundários e a
autenticidade da ligação.
L'authenticilë secondaire dérivée résultant d'actions visant
ż réintr0duire une spécificité locale qui, ñ un moment nu á
un autre. avait disparu.
A autenticidade conhecida: os sítios originais
explorados ou não pela actividade turística
Auxois, rźférence is faite à Fontenay ', célèbre pour Quadro 2: A linguagem da autenticidade.
son abbaye classée patrimoine mondial (119 000 visi-
teurs en 1996) 2,à AIise-Sainte-Reine, lieu-dit du Iígen-
daire site d'Alésia (50 000 visiteurs en 1996), aux
os castelos de Bussy-Rabutin (33 000 visitantes em
1996) e de Châteauneuf-en-Auxois (31 000
visitantes em 1996), ou ainda as paisagens típicas do
bocage aux larges mailles e do Canal de Bourgogne
(1 500 passageiros de barcos de recreio, em média,
durante sete ciclos em 1996), que se podem observar
ao longo das montanhas dos povos, no sopé das
quais existem numerosos percursos pedestres. A
tonelada é dada, o estereótipo está a ser feito.
Relativamente ao Morvan, retira-se princi- palmente
as paisagens doucement ondulés, parfois
escarpés, ponctués de lacs et couverts de forêts de
réslneux. Ouelque peu sausage et rude, l'atmosphère y
est mythique, empreint de Iégendes qui le rendent par-
fois un peu hostile. A isto junta-se um fenómeno de
abate de árvores cada vez mais acentuado, que implica
um sentimento de fermentação da paisagem e, por
conseguinte, um reforço da austérité naturelle de la
forêt. No que respeita aos sítios de prestígio, retira-se
Vézelay, surplombant
" la colline éternelle " avec sa célèbre basilique Sainte-
Madeleine (800 000 visiteurs estimés en 1996), Tableau 3 : Les messages sous-entendus de l'authenticité.
Bibracte (70 000 visiteurs sur site estimés en 1996) ou
nochore Château-Chinon, devenue célèbre depuis qu'un
ancien prísident de la République I'a utilisée
comme image symbolique et traditionnelle du monde
rural fran- çais sur une affiche électorale lors de la
campagne prísidentielle de 1981. Château-Chinon
est Revenue rnaintenant un lieu de pèlerinage de
touristes désireux de ° repasser sur les traces de F.
Mitterrand.
Viennent ensuite les sites secondaires, less connus,
mais qui, une fois regroupís, étiquetís et " labellisés -, elaboradas pelos actores locais e distribuídas ao
servent à la críation de circuits thématiques. Citons par grande público constituem um conjunto amplo e
exemple le circuit des - Églises de nos campagnes - completo de características às quais está associada
qui relie quarante-trois íglises de l'Auxois ríparties sur a noção de autenticidade. O fenómeno é tão importante
les cantons de Vénarey-Ies-Laumes, BIigny-sur- que merece uma análise pormenorizada.
0uche, PouiIIy-en-Auxois et Vitteaux, o circuito de - /a
T0urnée des ûrands Ducs " que percorre as mais belas A autenticidade cada vez mais integrada na
aldeias da Idade Média (como Semur-en-Auxois, mensagem de rriarketing
Châteauneuf-en-Auxois, Mont-Saint-Jean, FIavigny-
sur-0zerain....), ou ainda o circuito de - la R0ute Antes de fazer uma declaração sobre as campanhas
Buissonnière " que propõe a descoberta dos mais promocionais, não é descabido esclarecer
belos sítios dos envi- rões de Duarré-les-Tombes no rapidamente os objectivos gerais da comunicação
Morvan. turística escrita e visual. Três eixos principais podem
De um ponto de vista geral, a autenticidade actual do determinar as escolhas em matéria de comunicação.
Auxois e do Morvan é constituída por características Trata-se de sensibilizar o cliente potencial, colocando o
restritivas e redutoras, mas consideradas suficientes e acento tónico nos atractivos da campanha: o bom 1 - Pour les communes citées, voir ãgure 4.
significativas, e que se prendem com a ar, a qualidade de vida...). Para optimizar o impacto 2 - Fontes dos laux de lréquentation
especificidade, ou seja, com a "cultura" local, que faz da promoção, os profissionais da comunicação Comité 8égional du Tourisme de Bourgogne
com que cada país se identifique com a sua história devem, portanto, ter um bom conhecimento prévio do Comtés Dépanemena "i de Tourisme.
e com a sua organização espacial, duas fontes únicas produto.
e concretas de autenticidade.
Para além disso, as mensagens e as fotografias
que ilustram os vários guias e acessórios turísticos
110 REVUE GÉOGRAPHIOUE DE L'EST - TOME XXXVIII - 3-1998
 a) A linguagem é a autenticidade
No quadro 2, as mensagens publicitárias mais
características foram agrupadas. Cada uma delas é
emitida por um guia ou uma brochura destinada aos
clientes alojados em Auxois e/ou no Morvan.
Parallèlement à cette information très ciblée, on trouve
également des messages sous-entendus qui se réfèrent
indirectement à une certaine authenticité de l'Auxois et
du Morvan (tableau 3).

b) As imagens da autenticidade
Complemento indispensável da escrita, a fotografia
permite materializar o sonho. Como já foi referido, estas
imagens são extraídas de guias susceptíveis de serem
percorridos pelos turistas.

A desencriptação de mensagens
Quando examinamos o conteúdo das mensagens
escritas, apercebemo-nos de que a imagem de
autenticidade está ligada a cinco temas principais,
frequentemente associados entre si e apresentados
no quadro 4.
Globalmente, é de notar que o conteúdo das
mensagens não é muito surpreendente e dá mesmo
uma impressão de "já conhecido", transponível a o limite
para qualquer outro espaço rural. 0n pode, portanto,
deduzir que as especificidades territoriais de I'Auxois et du
Morvan são quase inexploradas, o que parece, no
entanto, muito pouco coerente, tendo em conta as
motivações dos turistas em busca de um pagamento. '-
Accueil authentique --, " produits authentiques ", " goûts
authen- tiques -, quoi de plus commun ? É que todos os
espaços rurais se assemelham? Além disso, "ce/ accueil
authentique -- ou ainda "cet authentique c0ntact avec
os Bourguignons - pode ser contestada, sobretudo
quando se sabe que certos actores locais
(proprietários de pousadas ou de casas rurais,
financiadores de associações turísticas, etc.) são
estrangeiros à região, ou mesmo à França.
Paradoxalmente, são muitas vezes estes
estrangeiros que conhecem melhor a região e que estão
mais familiarizados com ela.
destination
Trata-se de obter a aceitação do cliente e, por

conseguinte, de comprar o produto da "campanha";

por último, e este é um objectivo a longo prazo:
temos de fazer o cliente feliz.
Para atingir estes objectivos da melhor forma, devem ser
utilizadas várias ferramentas. Entre as mais actuais,
interessa particularmente o slogan, a comunicação
escrita que descreve a autenticidade. 0n remarquera
que l'information transmise est souvent brève, précise or
sous- entendue, but dans tous les cas. elle traduit le
désir d'influencer le touriste dans ses choix de
Entretient et on exploite donc une confusion dictée par les exigences commerciales et
économiques. Além disso, as frases são vagas, sem conteúdo real, entretendo o turista no
chão: o que é que um
-- ruralité authentique '- ? üu'est-ce que - la découverte de quelque chose d'authentique -- ? A que é
que se refere "o mundo da natureza e da autenticidade"? O turista está a ponto de exigir o que
vai encontrar quando chegar ao destino. É certo que se compreende que é necessário
descobrir, ser surpreendido, mas, no entanto, sabe-se que a precisão da informação turística é da
maior importância.

F ÜF I "I '? I TOME XXXVIII 3-1998 111

Quadro 5 : A descriptografia das mensagens sugeridas pelas fotografias da campanha.
mais e mais exigido e que o turista em espaço rural sabe
de mais e mais fácil descriptografar a mensagem
publicitária.
As fotografias associadas a estes textos suscitam
igualmente diversas críticas, na sua maioria
semelhantes às das mensagens escritas. De facto,
elas oferecem uma visão da campanha muito
estereotipada, mais uma vez embelezada e
idealizada, e que fornece uma visão muito
significativa da estrutura mental dos intervenientes
turísticos no que diz respeito às expectativas e
necessidades do turismo em relação a este espaço.
O quadro 5 propõe uma " décodage - des
photogra- phiques prísentíes auparavant.
Eis alguns bons exemplos de manipulação de jargões e
de imagens de autenticidade, a que B.H. Jacques,
especialista em marketing turístico, chama uma
"mélopée incantatoire" [7], que acaba por revelar
uma importante falta de dinamismo e de
originalidade em termos de comunicação e que criou
uma verdadeira situação de crise. No entanto,
devemos notar que esta tendência para uma certa
falta de autenticidade é observada por alguns
actores locais há já algum tempo. De facto, um
grande número de novos guias turísticos foi publicado
e distribuído por profissionais do turismo regional. 0não
se notou imediatamente uma mudança no estilo da
literatura e no conteúdo da informação. Por outro
lado, o termo "autenticidade" está praticamente
desaparecido; de
" la nature authentique et au charme bucolique du
Morvan - (Guide de la Bourgogne - 1990), on passe au
• grand bol d'air aux portes de Paris - ou ainda " à un
milieu rare et fragile qui d0it être préservé de toute
dégradation - (La Bourgogne, Loisirs Nature - 1997).
L'information est plus précise, plus complète, plus
diversifiée, même si parfois, elle montre encore
alguns sinais " mélodieux " : - com/re si a natureza
tinha de oferecer à rapariga um terreno com o seu
próprio jardim
extraordinário, sinónimo de vida e de beleza", - l'été,
o sol fez brilhar a campanha ". EIIe s'appuie de
surcroît sur de nombreux faits historiques et ofire des
renseignements pratiques : - parlours de golf â deux
minutes d'une gare TBA-, " escalate en M0rvan aussi
intéressant ąu'à Fontainebleau ". Globalmente, só se
pode observar as especificidades locais em termos
de práticas, paisagens, actividades, fauna e flora, o
que está muito mais de acordo com as expectativas
do turista.
Esta mudança de orientação está, no entanto, longe
de ser completa, pois a um nível mais alargado
(cantão, município), o conteúdo da informação é
ainda muito ingénuo, devido à falta de ideias e de
recursos (em homens e dinheiro) indispensáveis.
Globalmente, registou-se uma hierarquização
geográfica na qualidade da informação turística,
hierarquização essa que tende a reforçar-se com o
tempo. Seria provavelmente útil prever novos
procedimentos relativos à distribuição de papéis
em termos de comunicação de uma forma global
(do actor isolado para os actores regionais), a fim de
evitar um importante derrame humano e financeiro.
2.2 - Uma autenticidade actual parcial
causa remiseen?
Para além das críticas já formuladas em relação à
exploração da autenticidade pelos actores do
turismo, o que é considerado autêntico hoje pode ser
parcialmente rejeitado ou debatido? De facto, mesmo
que se aceite que estes critérios perecem e que são
favoráveis à manutenção das especificidades locais
(características locais, especialidades gastronómicas,
monumentos históricos) e, por conseguinte, das
diferenças entre as estâncias termais, não é
menos verdade que dois factos importantes
autorizam algumas reservas relativas
" l'authenticité de l'authenticité " representáveis nestes
112 REVUE GÉOGRAPHIQUE DE L'EST TOME XXXVIII - 3-1908
territórios de estudo. Trata-se da quase-existência
da imuabilité paysagére et territoriale, por mais que
seja indicada nas definições apresentadas no início
do estudo, e da reintrodução do passado através
das acções de desenvolvimento turístico, que
podem pressupor uma certa artificialização da
autenticidade.
Como o estudo demonstrará, o segundo ponto é,
em parte, uma consequência do primeiro.
2.2 I. - Des paysages et des pratiques qui ont
parfois fondamentalement évolué
A referência ao passado, quase sistemática no espírito
do grande público na procura de características
territoriais autênticas, é uma fonte de confusão e
conduz a perguntas quase sem resposta. De facto,
entre os elementos territoriais do Auxois e do Morvan
acima mencionados, quais são aqueles que se
podem verdadeiramente qualificar como autênticos?
Est-ce que le pay- sage du bocage de l'Auxois est
authentique ? Os sábios do Morvan são autênticos?
Se nos reportarmos aos escritos dos últimos séculos,
não podemos senão responder com a negação. Com
efeito, a paisagem alterou-se consideravelmente, o
que é um sinal de mudanças, ou mesmo de
inversões profundas, nas práticas locais e nas
condições socioeconómicas.
Assim, o Auxois foi qualificado, no século XIX, de
"fronteira borgonhesa" devido à sua importante
produção de cerâmica, que desapareceu entretanto
devido à modernização da agricultura e dos meios de
transporte. As paisagens de campo aberto foram,
portanto, em grande parte abandonadas e alternadas
ocasionalmente com paisagens de policultura, estas
últimas representadas principalmente pela produção de
navet (Saulieu), de cresson (Chaudenay-Ie-
Château) ou ainda de pruneaux (Viserny, Soussey).
La vigne se localisait également à Viserny et à
Soussey, mais la concurrence des vins de la Côte a
entraîné Ieur dispa- rition. A criação, actualmente
dominante, não foi muito bem sucedida e
correspondeu essencialmente à criação do cavalo,
típica do Auxois e criada pelos agricultores locais.
Constatamos também que este cavalo está
actualmente protegido; a sua reprodução é encorajada
e faz mesmo parte de um programa de
desenvolvimento agro-turístico (visitas a comparaison doit s'arrêter là ? Porque não regressar,
explorações tradicionais, reintrodução do cavalo,
descoberta de antigas práticas agrícolas...). Outras
actividades não agrícolas não foram totalmente
excluídas do salário actual. Citons entre autre, les mines
de fer d'AIise- Ste-Reine, de la Motte-Ternant, ou encore
de Thoste. A produção de mármore era também
importante, nomeadamente em Flavigny, Gissey-sur-
0uche e Lusigny-sur-0uche. Existia também uma
quantidade considerável de antracite em Sincey-les-
Rouvray, perto de Précy-sous-ThiI, que era explorada.
No que diz respeito ao Morvan, a evolução da
paisagem é talvez menos espectacular do que no
Auxois, mas está no entanto muito presente. As
florestas, que hoje em dia são compostas
principalmente por árvores Douglas de origem
canadiana (o que não tem nada em comum com as
características locais), eram até ao século XIX
constituídas por feuillus, que serviam
principalmente de lenha para os habitantes e para a
nobreza parisiense. C'est ainsi que naquit en 1550 le
flottage des bois des rivières du basin de la Seine :
l'Yonne, la Cure et Ieurs affluents. A flotagem era
efectuada, em primeiro lugar, em "bûches
perdues" até Clamecy, que era o principal porto de
triagem, onde, após a navegação marítima, se
formavam comboios de bûches para Bercy.
Parallèlement à cette pratique, l'agriculture représentait
la principale activité locale, même si les caractéris-
tiques géomorphologiques étaient plutôt défavorables.
O sol era, de facto, descrito como sendo pobre. Não
se podia extrair mais do que do seigle e não se
praticava mais do que uma aldeia extensa. As
paisagens eram também compostas por prados
rodeados de seixos épicos e de campos onde as
margens eram constituídas por grandes blocos
graníticos. Os che- mins eram os mais frequentemente
boueux, o clima era frio e húmido (o que é sempre o
caso actualmente!), as florestas apareciam sombrias e
austeras. As chau- mières eram baixas e cobertas, por
vezes, de paille. En dehors des pratiques agricoles, il
existait assez peu d'activités, dont la plupart se
rapportait à l'extraction de minerai de fer à Prabis, de
spath-fluor à Voltenne (La Grande Verrière) et à Maine
(près de Reclesne).
Em conclusão, é evidente que assistimos a uma
mudança global importante dos sistemas de produção
agrícola no último século, frequentemente causada
pela evolução das necessidades socioeconómicas e,
consequentemente, a uma reconversão rural
importante. Para além da constatação da quase-
existência da imuabilité paysagère, esta análise faz
uma segunda observação sobre a identificação da
autenticidade. En effet, cette étude s'est contentée de
confronter le plus souvent l'état de deux territoires à
deux siècles différents. Mas será que podemos afirmar
que as paisagens do século XIX podem servir de
referência única no tempo? Est-ce que la
por exemplo, ao século XVII, ao século XV ou mesmo
ao século X?
Assim, não é apenas a referência aos rituais do
passado para definir a autenticidade que é
imprudente, mas é também claramente insuficiente,
porque não se pode ter em conta apenas este
aspecto, que faz do espaço rural um território
carregado de valores de uma época doada; De facto, é
a acumulação, ou melhor, a combinação dos
elementos do passado que foram substituídos
no contexto do presente que determinará a autenticidade aos olhos dos actores do turismo. Parallèlement, et face à

REVUF EDF LJÜRAPH OUF NF L EST - TOME XXXVIII 3-1998 113

cette prise de conscience de l'évolution des choses, des
biens, des paysages, des comportements..., des
actions souvent ponctuelles visant à préserver, à recréer
un territoire authentique s'engagent de plus en plus, et
l'Auxois et le Morvan n'źchappent pas à cette tendance
généralisable à tout l'espace rural français.
2.2.2 - A autenticidade do registo
Duas tendências, de acordo com as orientações
conceptuais acima descritas, parecem estar a emergir
no que diz respeito à natureza das acções empreendidas
pelos profissionais de turismo; cf. nomeadamente :
- a reintrodução de actividades ou práticas
antigas que, num momento ou noutro,
desapareceram e que agora, de acordo com os
intervenientes do turismo, contribuem para a
valorização da imagem e da tradição locais. Os
exemplos são muito numerosos e, entre os mais
importantes, podemos citar
• O renascimento do vinhedo de Vézelay
Esta vinha existia desde a Antiguidade e foi explorada
durante vários séculos pelos viticultores que dela
faziam o seu vinho e obtinham alguns lucros. A vinha
II foi morrendo pouco a pouco e foi completamente
destruída no final do século XIX devido a uma epidemia
de filoxera. Foi no início dos anos 80 que se previu a
reconstituição da vinha, que conta actualmente com
mais de 70 hectares, 14 dos quais no único município
de Vézelay (fontes: Chambre d'Agriculture de
l'Yonne/Mairie de Vézelay). Esta superfícia pode
parecer pequena, mas parece que o seu
desenvolvimento não pára, como o demonstra a
evolução local, que é muito surpreendente, tanto mais
que a vinha recebeu a denominação de Borgonha em
1989. É certo que os interesses económicos, e mais
concretamente a procura de lucro, motivam os
produtores locais, mas é importante notar que esta
reconstrução se inscreve também num programa de
diversificação das actividades locais, diversificação
essa que vai a par da valorização da imagem turística
local.
• A exploração turística do viveiro de madeira
nos arredores de Clamecy
Como já foi referido, a flutuação da madeira nas
proximidades de Clamecy representou uma
actividade importante no Morvan desde meados do
século XVI. Actualmente, podemos constatar a
existência desta prática at'cienne, que desapareceu no
início do nosso século, não devido à remodelação
da flotagem, mas sim pela implementação de um
programa de desenvolvimento centrado na criação
de um circuito turístico (um sentier linéaire e 13
boucles de petite randonnée) reconhecido por uma
sinalética específica que orienta e oferece aos turistas
explicações relativas a esta antiga
actividade. A ideia em si é muito boa porque permite
redescobrir uma tradição local (muitas vezes até
esquecida pelos habitantes locais) e aumenta a
atractividade para os turistas. No entanto, há que
lamentar um certo excesso em matéria de
sinalética. Com efeito, certas autarquias exploram ao
máximo este filão turístico e estão ligadas a uma
actividade que nunca as preocupou. A zona geográfica
coberta pela fléchage ultrapassa assim largamente a
zona realmente afectada por esta antiga prática (no
total, o percurso linear estende-se por 372 km!). A
croire que l'authenticité acquires au fil temps un
certain pouvoir d'extension.
• A transmissão das histórias dos contos
e das lendas do Morvan
Pays réputé austère, le Morvan (and to a lesser extent
l'Auxois) se caractérise par la persistence de
nombreux contes et Iégendes, témoignages d'un certain
repli des paysans sur eux-mêmes en rapport direct
avec les traits de caractère locaux et les conditions de
vie rurale. Estes traços patrimoniais estão ainda muito
presentes e são agora frequentemente contestados
nos destinos turísticos. Citons, par exemple, la
remarable Iégende du " Poron Meurger -', colossal amas
de pierre plus ou moins aménagé en terraces, avec esca-
liers, chaises, cuvettes, rigoles et qui aurait été un lieu
de sacrifices orchestrés par des druides, ou encore de
la - Pierre qui fire -', immense bloc granitique de forme
ovòide posé sur un bloc de pierre et qui, d'après la
Iégende, tournait trois fois sur lui-même la nuit de Noël
quand minuit sonnait au clocher de Vaumarin.
Consequence de ce dernier récit, de nombreux touristes
viennent essayer de faire osciller ce rocher, et nom-
breux sont les acteurs locaux qui exploitent cette
Iégende en ajoutant quelques récits véhiculés au fil
des siècles par le " bouche à oreille ".
Outros lugares de crenças poderiam ser
acrescentados a esta lista, tais como o lago de
Cassin, que era um lugar muito importante, a água
da fonte de Sainte-Anne em Bierre, que tornava
inúteis as pessoas que se casavam, a floresta de
Montfort, que abrigava uma bacia branca, fantôme
d'une princesse cruellement assassinée, la source des
Douies qui serait habitée par des fées protectrices des
garçons et des filles désireux de se marier, ou encore
le vieux puits de Yitteaux qui abriterait une Wivre
fantastique (animal Iégendaire).
- O reordenamento das espécies e dos espaços
ditos - originais " em função das especificidades
locais.
• A nova essência dos parques e jardins
Outra forma de "espaços verdes" muito estudada
actualmente, os parques e jardins são objecto
de numerosas acções de manutenção e/ou de
revalorização do património, porque contribuem
(segundo
114 REVUE GÉOGRAPHIQUE DE L'EST - TOME XXXVIII - 3-1998
les dires des professionnels du tourisme) à l'image tou-
ristique locale.
Ainsi, dans le nouveau document -' Parcs et jardins de
Bourgogne ", édité par le Comité Régional du Tourisme,
on trouve les phrases suivantes (au sujet du parc du
château de Barbirey-sur-0uche): "Abandonado
desde há um século, o parque recupera, pouco a pouco,
a sua configuração
originale. IT-uvre humaine, ce parc est perçu comme un
élément du paysage qui façonne l'image de la
Bourgogne ". Pourtant, cette richesse est principale-.
o facto de se tratar de uma geração em grande parte
estrangeira
A região alberga as plantas primitivas dos
Himalaias, orquídeas exóticas e outras espécies
provenientes de outros continentes. Além disso,
embora se saiba que a aclimatação de espécies
exóticas ou raras sempre foi a ambição dos parques
e jardins, é gratificante ler no final do artigo que "-
este parque romântico tornou-se um conservatório de
plantas raras".
nal ".
A mesma observação pode ser feita em relação ao
parque da abadia de la Bussière-sur-0uche, pois
não é raro encontrar espécies de outros países
originárias deste parque: "mélèzes, pins Laricio, pins
noirs, épi- céas, noyers noirs d 'Amérique, tulipiers de
Virginie,
gingkos bilobas, séquoias, hêtres pourpres... "
Para concluir, notemos que este compromisso com os
jar- dins não é novo (mesmo que seja mais
importante hoje em dia), porque Buffon
empreendeu a transformação de toda a colina da
fortaleza an- cienne de Montbard em jardins com um
arboreto exótico no século XVIII.
A confusão é, pois, importante e a autenticidade está
longe de estar presente, ou então há que aceitar que
só a herança temporária é responsável pela perda
da origem espacial.
• A reintrodução das árvores do Morvan
Os caranguejos brancos e vermelhos, que são espécies
puramente locais, desapareceram no decurso do
século devido a uma epidemia importada dos
Estados Unidos pelos caranguejos americanos
introduzidos nas águas do Morvan e que eram
portadores de uma doença denominada "peste do
caranguejo". Actualmente, face a esta mortalidade, os
lagostins locais tornaram-se uma espécie protegida e a
sua reprodução e reprodução são incentivadas.
• A redescoberta da "Brune des Alpes".
As acções de incentivo visam favorecer a
reintrodução de uma raça bovina específica na região de
Châtillonnais e Auxois: a Brune des Alpes.
Contrariamente ao que o seu nome indica, trata-se de
uma raça
race locale, pourtant peu productive donc peu conforme
aux impératifs de productivité, but qui, selon des dires
des acteurs locaux, contribue au renforcement de
l'image traditionnelle. Na mesma Iigne de conduite,
destacamos as medidas tomadas para incentivar a
redução e a protecção do cavalo de Auxois.
Outros tipos de acções, mais específicas, poderiam
ser acrescentadas a esta lista; entre outras, a
reabilitação e/ou o encorajamento de certos ofícios que
estão fora de actividade ou em vias de desintegração,
como a sabotagem, a cozedura, a olaria.... Mas, para
além da apresentação destas acções para o
desenvolvimento do turismo, vale a pena colocar a
questão essencial: estas reintroduções promovem
uma maior autenticidade local ou, pelo contrário,
não nos atraem devido a uma artificialização
excessiva?
É necessário tomar posição e, para responder às
questões colocadas inicialmente na introdução, é
possível aceitar que não existe uma autenticidade, mas
tipos de autenticidade cujas características serão
determinadas na conclusão.
Para além disso, e abordando o problema sob um
outro ângulo, podemos observar que certos
monumentos históricos ricos, frequentemente muito
antigos, são ignorados pelos guias turísticos. É certo
que se conhece o carácter diferente do turismo em
meio rural, que obriga a fazer escolhas em termos de
promoção turística e de investimento financeiro, o que
explica que a maior parte destes monumentos não se
"paguem a si próprios" por falta de manutenção e de
decoração. Ainsi, qui connaît l'église de Vélogny
(en Auxois) avec son Adoration des Bergers et sa
piéta du XVI° siècle ? Celle de Beurizot qui abrite
une quinzaine de saints du XVIe siècle, ou encore,
celle de Saint-Thibault qui, selon les dires, est " la plus
extraordinaire de Bourgogne avec son chœur digne
d'une cathédrale " ? E explicando que, para além de
ser reconhecido como autêntico (segundo o sentido
dado pelos actores locais), o que é oferecido ao olhar
do turista deve ser estético e obedecer a certos
critérios (local, situação) capazes de gerar um plano
de conservação, manutenção, melhoria e promoção;
Esta situação coloca, portanto, a tónica na difícil
questão do desenvolvimento sustentável do
turismo no espaço rural.
CONCLUSÃO
Deste estudo aplicado ao Auxois e ao Morvan, é
importante salientar as seguintes constatações: se nos
cingirmos estritamente ao sentido etimológico do
termo, podemos afirmar sem grande risco que as
zonas rurais ditas "autênticas" já não existem ou não
existem de todo.
REVUL GEOGRAPHIOUE DE L EST - TOME XXXVIII - 3-1998 115
também de forma pontual, uma vez que os
espaços incultos e primitivos estão em vias de
desaparecimento.
No entanto, as conclusões não podem ser tão
negativas; elas apelam a uma grande simplicidade na
reflexão. Com efeito, os conceitos devem ter em conta
a evolução das representações mentais e a evolução
também das práticas e das características territoriais.
Assim, podemos afirmar que a autenticidade de um
território depende de um conjunto de factores
que devem ser investigados no passado e/ou no
presente. Cette distinction -' et/ou -' est importante car
elle permet d'en- visager que l'authenticité ne
correspond seulement au maintien du passé. D'où
l'idée de l'existence d'une authenticité dézï "ée qui
combine à la fois des élé- ments territoriaux
originaux et ceux introduits par l'homme et qui ont
apporté des retouches successives aux paysages,
Este último é o resultado de uma espacialização da
autenticidade tal como aparece no mapa dos
principais recursos de autenticidade em Auxois-
Morvan (Figura 4). Le passé est préservé, parfois
refabriqué, mais il évolue aussi en tenant compte
des conditions du présent. O território autenticamente
qualificado é, em última análise, o testemunho da
existência e da vitalidade de um mundo rural vivo e
em mutação.
Por fim, a investigação sobre o tema da autenticidade
é rica em ensinamentos porque as reflexões induzidas e
as respostas dadas ultrapassam largamente o âmbito e
os objectivos do estudo inicialmente colocado sob uma
visão puramente turística. De facto, somos obrigados
a olhar muito mais de perto, porque é inteiramente
a questão da existência, do reconhecimento e da
identidade dos territórios rurais que está em jogo.
BIBLIOGRAFIA
1 - ÂDORNO T. (1989). - Jargon de l'authenticité, Éditions
Fayot, Paris, 198 p.
2 - BACHELARD Ù . (1972). - La poétique de l'espace, Paris,
Éditions PUF, 7 édition, 215 p.
3 - BEROUTCHACHVILI (X.), RorlGERlE (Ù.) (1991). - 6éosystémes
et paysages, Édition Armand Colin, Paris, 302 p.
4 - BRUNET R., FERRAS R., THERY H. (1992). - Les Mots de la
Géographie, dictionnaire critique, Éditions Reclus/ La
documentation Française, Montpellier.
- BRUNET R. (1974). - Espace, perception et comporte-
ment, L'espace Géographique, n° 3, p. 189 à 204.
6 - BupiuER Â., SEAMON D. (1980). - The human experience of
space and place, Edition Croom Helm, Londres, 199 p.
7 - CIVAM (1994). - Tourisme de Pays : l'envol des initia-
tives, analyses, opinions, expériences, Editions
ADIR, Paris, 157 p.
8 - Caves P. (1984). - 6éographie humaine et écono-
mique, Editions PUF, Paris, 442 p.
9 - OLOMBET A. (1988). - La Bourgogne et le Morvan,
Éditions Arthaud, 187 p.
10 - DELIGNIÈRES V. (1996). - Structures, dynamiques et
fonctionnement du tourisme en espace rural. Approche
à deux échelles : France et Auxois-Morvan, Doctorat de
l'Université de Bourgogne, Dijon, 574 p. (anexos
incluídos).
11 - Dr. Rose y J. (1975). - Le macroscope, vers une vision
globale, Editions du Seuil, Paris, 346 p.
12 - DLTIENxr M. (1994). - Transcrire les mythologies,
tradition, écriture, historicité, Editions Albin Michel,
Paris, 273 p.
13 - FiSHER G.N., Morts A. (1981). - La psychosociologie de
l'espace, Editions PUF, 127 p.
14 - FREMONT A. (1976). - La région, espace vécu, Editions PUF,
Paris, 223 p.
15 - FuRET F. (1997). - Patrimoine. temps, espace, Editions
Fayard.
16 - GRATALOUP . (1996). - Lieux d'histoire, essai de gëohis- toire
systématique, Editions Reclus, Aubervilliers, 200 p.
17 - Lxxouæ R. (1985). - Sociologie du tourisme et des
voyages, Éditions PUF, Paris, 125 p.
18 - Miossrc J.M. (1977). - l'ïmage touristique comme
introduction à la géographie du tourisme, Annales de
Géographie, Paris, p. 55 a 70.
19 - MOLES A., ROHMER E. (1972). - Psychologie de l'es- pace,
Editions Castermann, Paris, 162 p.
20 - PINCHEMEL P. et G. (1994). - La face de la Terre, Editions Colin,
Paris, 517 p.
21 - POLTON J.C. (1994). - Tourisme et nature au XIV siécle,
Éditions du CTHS, Paris, 300 p.
22 - Rioux J .P., SIRINELLI J.F. - Pour une histoire culturelle,
Édition du Seuil, Paris, 455 p.
116 REVUE GÉOGRAPHIQUE DE L'EST - TOME XXXVIII - 3-1998