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^ tribais, em contato com o mundo capitalista
ocidental. Se o
Ztt£í- hi£&. progresso era realmente inevitável e
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ÇrM (X , A* Ã estava contido dentro
^DA^PARTE: A ?6 - IQG das forças sociais atuantes na pr ó pria natureza
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da
SEGUN humana, então por que nã o aceitar os desafios e socieda de
/ certos grupos a romper as amarras do atraso e do
ajudar a
primi-
> ANTROPOLOGIA E HISTóRIA tivismo ? Por que ent ã o n ão « civilizar » , e n ão «
cristiani
tal como já haviam realizado os gregos e os romanos zar » ,
\ * r & diante
dos « bá rbaros » ?
Desejo ainda observar que a id éia de progresso
est
fundamente relacionada à de determinismo e ambas se á pro-
zam numa dimensão temporal, numa história. reali-
nismo, temos a doutrina segundo a qual as No determi -
for ças que movem
2. História da Antropologia realmente a sociedade estão fora da consciência e do
do sistema enquanto tal. Tais for ças, assim controle
, atuam de modo
subjacente, como uma espécie
(' ) nismo, como uma doutrina surgida no cená . O determi
de mão oculta
rio social das
-
ci ências no século XlX , tem uma sé rie
de causas, mas creio
a ) O Evolucionismo n ão ser ocioso mencionar que este é um s
éculo
mam concepções mais modernas ( e mais cient onde se for
íficas ) de so-
-
ciedade. De fato, a noção de sociedade corrente
XIX ( e também no nosso século ) , até pelo menosno século
h
gência do pensamento sociológico
francês, com Durkheim e
a emer -
A terceira id éia mestra do evolucionismo é a de que as seus discí pulos, é a de sociedade como uma associa
‘1
seja, a velha id éia dos empiristas ingleses
çã o. Ou
sociedades se desenvolvem de modo linear, irreversivelmente, , de acordo com
com eventos podendo ser tomados como causas e outros como a qual a sociedade estava fundada num
consequ ê ncias. Junto com essa id éia de desenvolvimento li- v í duos na dire çã o da cria ção de uma
movimento de indi
mutualidade, de regras
-
near, temos a noção de progresso e a de determinação. Assim, íi» que os pudessem unir entre si, fazendo
os sistemas evolvem do mais simples para o mais complexo trégua sobre suas
diferen ças e, sobretudo, construindo uma ponte
e contratual
0$ do mais indiferente para o mais diferenciado, numa escala
;
sobre seus interesses divergentes. Visto deste
modo, o siste-
irreversível. De uma formação em que nem se podiam dis- ma se oferecia à análise não como uma totalidade, mas
tinguir os parentes dos afins ( caso da promiscuidade primi- uma realidade dada em parcelas. como
tiva de Morgan ) , para uma sociedade onde tudo estava di- Pois bem , foram as doutrinas evolucionistas
ferenciado e o indivíduo se contava como sendo o próprio meiro trataram de apresentar a sociedade
quem pn .
como uma totalida-
-
centro do sistema. Chamava aten ção dos evolucionistas o fato de, como universalidade. Tais doutrinas foram
de que, em sociedades tribais, o indivíduo obviamente não ambiente do sé culo XIX ( como sã o ainda hoje em
chocantes no
existia enquanto centro do sistema moral, político ou reli-
gioso. Daí a famosa expressã o vitoriana « custom is king !»
culos ) , porque conceituavam a sociedade como
feita
muitos cí r
de forças
-
que estavam aqu é m ou além dos indiv
para exprimir a razão social nestes universos. Por outro lado, í duos. Ou seja, demons-
travam com clareza que o sistema social é
a idéia de progresso e de determinação ajudavam a pro- realmente um
sistema, uma totalidade, tendo forças, motiva
mover o chamado processo civilizatório de muitas sociedades ordem que não podia ser explicada pela unidade
ções e uma
indiv í duo,
95
96
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realidades que constantemente atuam junto ao mundo da
consciê ncia e ali sã o socialmente (
= coletivamente ) elabo-
rados, ganhando por isso mesmo um peso e uma autonomia
ate£ ent ão tomado como centro e motivo do sistema . Noto
; -
específicas. Assim , dentro de um esquema evolucionista,
5%ue os primeiros determinismos a fazer sucesso no mundo
• de-
aqueles para as
voltados ca -
restriçõ es de terminista e abrangente, como explicar diferenças entre so-
ocidental foram
á tico ou geogr á fico. Aqui , todo o sistema ficava ciedades submetidas ao mesmo jogo de fatores climáticos e
ráter clim
ças exteriores , mas era obrigado a reagir geográficos ? Como singularizar sistemas formados pelas mes
submetido a for
mas «raças» ; ou submetidos aos mesmos ditames coloniais,
-
todo, a despeito de suas diferen ças individuais
f
como um
todos interessados apenas na exploração econ ómica da socie
internas. Em seguida, fez grande sucessoo, sobretudo por suas
determinismo ra-
-
capacidades de legitimações políticas, dade dominada ? Quando buscam exprimir e explicar defini
-
cista ( de tão grande sucesso no Brasil, como já vimos ante- tivamente as diferenças entre os homens, os determinismos
riormente) . No racismo, sobretudo em sua variante gen éticao, acabam criando uma unidade que aprisiona o espí rito.
unilinear e historicista, a unidade de estudo n ão é mais
indivíduo, mas a raça : indivíduo biol ógico, tomado como um s
ti
Chegamos, assim, ao nosso quarto e últiitio fator carac
terístico do evolucionismo na antropologia. Trata-se do modo-
tipo historicamente acabado ( como uma espécie no seu sen- il tí pico pelo qual essas doutrinas enquadram as diferen ças
tido tipol ógico) que tem dentro de si mesmo um dado po- entre os homens. Nós já vimos que, no evolucionismo e em
tencial cultural e social do qual n ão pode evadir-se. Final- toda a variedade de historicismo mais abrangente, as dife
mente temos o determinismo historicista de cunho econ ómi- renças são sempre reduzidas a momentos históricos especí
-
co, inaugurado pela assimilação de uma forma especial de ficos. Deste modo, a sociedade que não conheço, que per-
-
marxismo e também pelo mesmo modo de absorver a obra cebo como estranha a mim e aos meus que, no entanto, é
.
de Freud Nestes dois casos, as unidades anal í ticas sã o, res- minha contemporâ nea, fica reduzida nesta forma de pensa-
pectivamente, classes sociais ( definidas por seus antagonis-
mos e diferencia ções no meio do processo produtivo) e as ,! mento a uma etapa pela qual minha sociedade já passou .
forças inconscientes, sempre em conflito com as unidades
Ou seja : o modo típico de pensar as diferenças na posição
expressivas da ordem ( o superego) e o ego ( como que per- evolucionista é pela redu ção da diferen ça espacial, dada pela
dido e sem lugar num esquema de tend ê ncias claramente contemporaneidade de formas sociais diferenciadas, dentro de
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ir - is
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pensar e conceber o
pjodo, anulo todas as possibilidades de Ele postula que tal forma de casamento nada mais
« outro »
como um igual. pressa do que um tempo preté rito relacionado às origens -
ex
Num esquema, isso ficará ainda mais claro : da exogamia ( casar fora do grupo de parentesco ) porque
como de fato disse McLennan, a exogamia, obrigando o ca
-
sarnento com estranhos, conduziria ao rapto da noiva. E isso - j-j
«Outras » sociedades por sua vez, seria causado por um outro fator histórico'
igualmente postulado pelo teorista, o infanticídio primitivo
.
Como os homens matavam as meninas, a consequência deste
Sociedade do A fato era o casamento por captura, o nascimento da exogamia
Observador
-
e a poliginia ( um homem poder casar se com vá rias mu
lheres simultaneamente) . O modo de demonstrar o argumen-
-
Tempo Final X’
to era pela citação de vá rios costumes relativos ao casamen -
to, sem nenhuma preocupaçã o com o estudo destas formas
Y* matrimoniais em termos ido sistema do qual ele faz parte
( cf . McLennan , 1970 ) . Mas, eu devo continuar observando, a
72 forma do argumento sempre aproxima o costume primitivo
( isto é, original e antigo no tempo ) , com as formas conhe-
R’ cidas socialmente, até alcan çar o terreno familiar dos costu-
mes gregos e romanos, quando eles se dissolvem na familia-
ridade plenamente histórica do mundo cultural do pr óprio
Tempo Inicial S’ observador. O mesmo poderia ser dito relativamente à inter-
pretação de formas de fam ília e parentesco, quando o obser-
—
denada espacial
exprime o « outro» em sua realidade concreta presente,
isto é, em toda a sua plenitude e na força do seu estranha-
mento. Mas a coordenada vertical exprime um eixo tempo-
eixo do tempo, pois qualquer costume que eu não posso com
preender numa sociedade para mim desconhecida, digamos,
uma terminologia de parentesco, ou uma instituição educa-
-
ral postulado, eixo que se inicia num « tempo inicial » e ter- cional como um ritual de iniciaçã o, eu posso dizer que tal
mina na sociedade do observador. Essa disposição temporal costume é uma sobreviv ência de alguma forma social do pas-
permite efetuar o rebatimento das sociedades desconhecidas sado e, logo que eu falo em passado, eu torno tudo nova-
no plano temporal e assim transformar o estranhamento con- mente tranquilo, pois com essa concepção de um tempo abran-
_
ereto numa familiaridade postulada, situada no eixo de um gente e hierarquizado eu exorcizo a diferen ça que faz pensar
tempo dado como conhecido. Deste modo, se a sociedade «x » em alternativas e escolhas. E refletir sobre escolhas e alter-
tem um sistema de casamento onde o noivo é obrigado pelo nativas que grupos humanos podem realizar para sua pro
du ção e reprodu ção conduz inapelavelmente a uma relati-
-
costume a raptar a noiva, o observador n ão se permite
especular sobre esse fato como um dado presente, um traç o viza ção indesejá vel dos meus próprios valores. Deste modo,
daquela sociedade desconhecida explicá vel em termos das re- enquanto eu posso rebater a diferen ça social colocada pela
l &ções daquele sistema matrimonial com outras instituições.
> presen ça do « outro» num sistema histórico postulado do qual
99 100
Haiti.
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•M
^
b]) O Funcionalismo
Não sei o que o termo
mente do leitor e
«funcionalismo » pode despertar na
espero que, mesmo que ele evoque uma
traço qualquer, descobriremos algo importante na nossaoutro
ção de passado como um tempo associado a uma vida
no-
urbana
romântica, tranquila, idealizada , feita de um tempo vagaroso,
á rea negativa, possa ser paciente para acompanhar comigo ritmado pelas patas de um cavalo meigo e de um cocheiro
algumas apreciações relativas ao funcionalismo que julgo im- atencioso. Claro está que nada disso corresponde à verdade
portantes. Em primeiro lugar, é preciso dizer que a palavra do mundo do século XVIII ou XIX , um mundo urbano
asso-
«funcionalismo » tem um sentido básico, associado à obra de berbado pela pobreza desamparada e pelos milhares de ladrões
Malinowski e de Radcliffe-Brown, que pode ser entendido tão vivamente descritos por gente como Swift e Dickens.
como uma rea ção positiva às teorias evolucionistas, sobre- Escolhemos então a carruagem porque ela nos remete, por
tudo ao conceito abrangente de « sobreviv ê ncia ». Na orienta - contraste, a uma faceta do mundo urbano, onde a velocidade
Ção evolucionista , onde os costumes só fazem sentido quando
estão relacionados verticalmente num eixo temporal, existe 102
-. 10!
r
tornou -se perturbadora. Esse é, provavelmente, diria um fun -
-:f3
V' :- .
,
cionalista o significado social da carruagem no mundo mo- ?>•
derno. Um sentido bá sico do termo « funcionalismo» , pois tem ou institui çã o tem que ser compreendido nos termos do sis
a ver com funcionalidade no sentido de que nada num sis- tema do qual prov é m , é algo positivo e até mesmo revolu -- y
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