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Escola de Design - UEMG: Graduação em Design Gráfico (2° período Manhã)

Design e Metodologia
Manuela Regis Orrico Ferretti Martins
18/10

RESENHA CRÍTICA
Luiz Antonio Luzio Coelho é graduado em Direito pela Universidade Cândido Mendes
e também em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, área na qual
fez mestrado e doutorado. Foi docente no curso de graduação em Comunicação e Cinema da
Universidade Federal Fluminense e é professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro desde 1986, onde exerceu por um período a direção do Departamento de Artes e
Design. Comprometido com a produção do saber nesse campo, Luiz Antonio é autor de vários
artigos científicos e organizador do livro Design Método, publicado em 2006.
Em seu texto “Percebendo o método”, o autor busca relatar sua experiência enquanto
professor de duas disciplinas de metodologia distintas: uma chamada “Questão
Metodológica”, na PUC-Rio, e outra chamada “Teoria e Método de Pesquisa”, na UFF.
Compartilhando as diferenças que observou nas abordagens e práticas de cada uma delas,
Coelho deixa claro que seu objetivo primeiro é contribuir para o aperfeiçoamento do processo
de ensino nessa área..
A primeira diferença que constatou reside na própria significação da nomenclatura.
Mesmo que ambas contenham a palavra “método”, indicando que estamos diante de um
mesmo conteúdo, a palavra “questão” sugere que o tema é abordado de forma mais
abrangente na primeira disciplina, enquanto a palavra “pesquisa” denota a natureza mais
investigatória da segunda. Já a segunda diferença consiste na polarização que o autor faz entre
os termos “método projetual” e “metodologia de pesquisa”. O primeiro é utilizado por ele
para se referir à abordagem utilizada pelas disciplinas metodológicas que privilegiam o
desenvolvimento de produtos, ou seja, as práticas projetuais (como é o caso das que são
ministradas na maioria dos cursos de Design); enquanto o segundo refere-se à aproximação de
outras disciplinas com a chamada “metodologia científica”, voltando-se para o
desenvolvimento da pesquisa clássica, “pura” (mais comuns em outros cursos universitários).
Por fim, Coelho trata da terceira diferença, que diz respeito ao trabalho final de curso.
Segundo ele, nos programas de design, o método projetual não só é desenvolvido durante toda
a formação, como também é uma possibilidade para o projeto conclusivo, enquanto outros
programas seguem outra direção: partem da chamada pesquisa básica para a pesquisa
aplicada, que resulta nas monografias tradicionais.
Dadas todas essas diferenças, o autor prossegue a partir de uma pergunta que
considera surgir naturalmente: “o desenvolvimento de produto representa pesquisa conforme
entendida naturalmente pela academia?”. Sua primeira conclusão é a de que o método
projetual não é sinônimo de pesquisa clássica e não tem como objetivo básico a pesquisa
acadêmica. No entanto, isso não quer dizer que ele não possa compreender a investigação
científica: a metodologia entra como meio de reduzir os riscos do processo.
A segunda conclusão é dada pensando em outro contexto, o qual Coelho introduz
numa nova seção do artigo denominada “A percepção do método”. Nela, ele pretende analisar
o impacto do design na percepção dos alunos e profissionais da área. Para tal, menciona a
Hipótese Whorf-Sapir, a qual diz que tendemos a perceber aquilo que sabemos nomear e que
nossa visão/interpretação está diretamente relacionada com o meio que usamos para abordar a
realidade. Nesse sentido, o autor considera que o método projetual representa uma linguagem,
um sistema de significação da realidade. No entanto, quando é imposto como modelo único,
restringe a percepção do aluno e limita suas maneiras de trabalhar, dificultando a
compreensão do que é a pesquisa em si e impossibilitando-o de executá-la.
Por fim, o autor aponta uma terceira conclusão, que inaugura o seguinte
questionamento: a que nos referimos quando falamos de método projetual? Segundo ele,
nesse caso, estamos, na verdade, tratando de um modelo misto, que traz imbricadas três coisas
distintas: processo, documento e método. Dessa forma, buscando evidenciar que as etapas de
um processo são algo distinto das partes de um relatório e dos procedimentos metodológicos,
Coelho consultou os modelos de alguns teóricos do Design e reproduziu de maneira
simplificada os de Gui Bonsiepe, Bruce Archer, Christopher Jones, Morris Asimow, Bernhard
E. Burdek e Siegfried Maser.
Em seguida, o autor analisou dois modelos que ilustram como o chamado método
projetual é passado nas disciplinas metodológicas da PUC-Rio. Ao constatar que o segundo
deles mistura etapas de processo com o que seria partes de relatório, Coelho deduz também
que essa confusão é transmitida aos alunos, e evidencia que há uma necessidade de que essas
distinções sejam esclarecidas - tarefa essa a qual se dedica na próxima parte do texto,
intitulada “Processo, método e técnica”.
Nela, ele aborda, essencialmente, “o perigo da receita”. Em outras palavras, ele afirma
que as etapas de um processo podem sim vir a coincidir com os procedimentos metodológicos
e inclusive se transformarem num método. Contudo, se isso é tido como uma verdade
absoluta, um modelo único a ser sempre repetido, o método projetual passa a ser visto como o
método em si, o qual indevidamente se torna uma receita. O método, pelo contrário, se
desenvolve pela criatividade e deve, portanto, se adaptar a cada projeto. Segundo o autor, ele
consiste nos procedimentos a serem adotados em cada uma das etapas de um processo e se
expressa através da técnica.
Por fim, Coelho trata de como tal natureza plural do design passou a ser ainda mais
evidente no cenário pós-industrial, em que os novos consumidores prezam pela diversidade e,
assim, qualquer modelo hegemônico de processo metodológico perde força. Dessa maneira,
ele conclui que, na pós-modernidade, a tarefa do design projeta-se para além do objeto à
medida em que pressupõe interface com as mais diversas áreas de atividade humana.
Ao fazer uma análise crítica do texto de Luiz Antônio Luzio Coelho, é possível
concluir, portanto, que o autor utilizou de seu amplo conhecimento na área do Design e da
Comunicação para dissertar com bastante clareza e objetividade sobre o que propõe: uma
análise sobre o ensino metodológico e a defesa da necessidade de reconhecimento do Design
em seu sentido plural. Nesse sentido, é importante destacar, ainda, que Coelho demonstra uma
preocupação em embasar todas as suas premissas. Ele o faz sempre a partir de uma
contextualização precisa, por diversas vezes deixando claro que consultou outros autores com
propriedade no assunto e afirmando que eles dariam validação externa para suas conclusões,
mas também ocasionalmente a partir da previsão de possíveis contrapontos, de forma a
fortalecer sua argumentação. Além disso, o autor esclarece desde o começo o objetivo de seu
texto e constantemente propõe questionamentos na forma de perguntas, o que instiga o leitor a
refletir sobre o tema e o mantém engajado no texto.

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