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Língua Portuguesa 1

LÍNGUA
PORTUGUESA
Língua Portuguesa 2

Sumário

A língua portuguesa nas igrejas ............................................................ 3


Substantivo ............................................................................................ 4
Adjetivo.................................................................................................. 6
Artigo ..................................................................................................... 7
Pronome ................................................................................................ 8
Numeral ............................................................................................... 11
Verbo ................................................................................................... 12
Advérbio .............................................................................................. 13
Preposição .......................................................................................... 15
Conjunção ........................................................................................... 16
Interjeição ............................................................................................ 18
O novo acordo ortográfico: algumas regras ......................................... 18
A construção do texto: coesão e coerência textuais ............................ 21
Erros que devem ser evitados ............................................................. 23
Literatura ............................................................................................. 28
Referências ......................................................................................... 37
Língua Portuguesa 3

A língua portuguesa nas igrejas


Grande parte das pessoas pertencentes a um segmento religioso, seja ele tradicional
ou pentecostal, acaba acreditando que não é necessário aprimorar-se mais em sua língua. É
certo que, para ser salvo, não é necessário ser um poliglota. Sim, concordamos com isso.
Todavia, a sabedoria e todo o conhecimento adquirido são extremamente importantes, como
vemos no livro de Provérbios, capítulo 8 e versículo 1
Ser humilde não significa que não devemos buscar conhecimento e aprimorar as
nossas habilidades, pois quanto maior o nosso campo de conhecimento, maior será o agir de
Deus em nossas vidas. O conhecimento nos leva a reflexões e nos permite desenvolver uma
visão crítica das coisas, principalmente sobre aquilo que lemos, como é o caso da Bíblia; e
essa visão crítica faz com que tenhamos mais cuidado com o texto, valorizando-o.
No caso da língua portuguesa, a nossa língua materna, é o idioma por meio do qual
temos acesso a leituras e informações em geral. Para analisá-las e entendê-las, faz-se
necessário um domínio da norma culta da língua, também conhecida como norma padrão.
Vamos, então, analisar a atual situação da língua portuguesa nas igrejas
(A Origem das Línguas se deu na Construção da Torre de Babel - Gn.11)

A deficiência do português nas igrejas

Pessoas que ocupam uma posição da igreja são bastante visadas pelos membros.
Pastores, dirigentes do círculo de oração, líderes de mocidade, pregadores, enfim, todos falam
em público e para o público. Uma pessoa que não possui boa dicção e retórica, dificilmente
conseguirá organizar suas ideias de modo coerente. Essa deficiência provém da falta de leitura
atenta e organizada, em que são observados elementos como coesão, coerência e,
principalmente, a gramática da língua.
É comum vermos obreiros e pregadores cometendo erros do tipo “pra mim fazer...”,
“Jesus, a qual realizou milagres”... Além disso, não se dá a devida atenção aos nomes dos
livros bíblicos, o que é vergonhoso. É muito comum, por exemplo, que alguém diga: “Primeiro
aos Coríntios”, ou, então, “Primeira Reis”, esquecendo-se de que o numeral (primeiro) deve
concordar com a função do livro, ou seja, Paulo escreveu uma carta ao povo de Corinto,
portanto, o correto é dizer “Primeira (carta) aos Coríntios”. O mesmo ocorre com o livro de Reis,
cuja expressão correta é “Primeiro (livro dos) Reis.
Isso tudo parece ser bastante simples, mas se alguém que ocupa um cargo de
confiança não se esforçar para dominar as coisas simples, como ficarão, então, as coisas mais
complexas? Devemos nos lembrar de que servimos a um Deus grande e, por isso, não
podemos fazer a obra de qualquer maneira. E isso não inclui apenas a questão de
espiritualidade, mas todo um conjunto daquele que se apresenta diante da igreja.
Por isso, a ideia deste curso é levá-los a uma reflexão sobre a importância da língua,
permitindo uma melhor organização das ideias e, consequentemente, um melhor domínio e
expressão daquela. Cabe então a vocês, estudantes de teologia, a responsabilidade de fazer a
diferença diante de Deus e, também, diante da igreja.
Tenha certeza, meu querido irmão, minha querida irmã, que um maior conhecimento da
língua portuguesa lhe permitirá não só crescer em conhecimento, tornando-se alguém mais
respeitado, como também em graça, pois o perfeito entendimento da língua fará com que você
olhe os textos Bíblicos de outra maneira, com uma visão mais crítica, o que lhe permitirá um
maior aprofundamento na palavra de Deus, e nunca mais dirá a famosa frase: “Eu não leio a
Bíblia porque não entendo”. O conhecimento apresentado aqui, somado ao seu conhecimento
teológico, o prepararão melhor para a vida cristã.
Língua Portuguesa 4
Substantivo
Quadrilha
João amava Tereza que amava Raimundo que amava Maria que amava
Joaquim que amava Lili que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo
morreu de desastre, Maria ficou para tia, Joaquim suicidou-se e Lili
casou-se com J. Pinto Fernandes, que não tinha entrado na história.
Carlos Drummond de Andrade

É a classe de palavra que se caracteriza por significar o que convencionalmente


chamamos “objetos substantivos”, isto é, em primeiro lugar, substâncias (homem, casa, livro) e,
em segundo lugar, quaisquer outros objetos mentalmente apreendidos como substâncias,
como qualidades (bondade, brancura), estados (saúde, doença), processos (chegada, entrega,
aceitação), sentimentos (amor, ódio) etc. Resumindo, substantivos são palavras que
designam os seres.

Substantivos concretos e abstratos

Os substantivos concretos designam os seres de existência independente, ou seja, os


seres reais ou que a imaginação apresenta como tal. Por exemplo: mar, automóvel, filho, mãe,
fada, lobisomem, dragão etc.; já os substantivos abstratos são aqueles que designam os
seres cuja existência depende de pessoa ou coisa. Por exemplo: prazer, beijo, saudade, amor,
ironia, trabalho etc.
Os substantivos concretos dividem-se em duas classes: próprios e comuns. Os
substantivos próprios aplicam-se a um objeto ou a um conjunto de
objetos, mas sempre individualmente. Resumindo, são aqueles que
se aplicam a um ser em particular.
Por isso, cada “João”, cada “Isabel”, cada “Açores” é uma pessoa ou ilha considerada
como indivíduo para as demais pessoas. Os substantivos
próprios mais importantes são os antropônimos, que se É comum o emprego de
aplicam a pessoas que, em geral, têm prenome (nome substantivos abstratos como
próprio individual) e sobrenome ou apelido, ao passo que os comuns, quando aplicados a
topônimos aplicam-se a lugares e acidentes geográficos. nomes de coisas relacionadas
com o ato ou qualidade que
Os substantivos comuns aplicam-se a um ou mais
designam. Quando dizemos que
objetos particulares que reúnem características comuns e um país precisa de
inerentes a dada classe: homem, mesa, livro, cachorro, lua, “inteligências”, facilmente
sol, fevereiro, segunda-feira, pastor, menino, galo etc. percebemos que o substantivo
Substantivo simples e composto inteligências, que é abstrato,
Os substantivos simples são formados por apenas está sendo usado como se
um elemento. Por exemplo: moleque, flor, amor, pedra, fosse substantivo concreto, pois,
tempo, sol, mesa, livro etc.; já os substantivos compostos na verdade, o que se quer dizer
são formados por dois ou mais elementos. Por exemplo: é que o país precisa de
couve-flor, pé-de-moleque, passatempo, girassol, guarda- “pessoas inteligentes
chuva, controle-remoto etc.
Substantivos primitivos e derivados
Os substantivos primitivos são aqueles que não
derivam de nenhuma outra palavra dentro da própria língua. Por exemplo: piano, ferro, noite
etc.; já os substantivos derivados são aqueles que se originam de outras palavras. Por
exemplo: pianista, ferreiro, noitada etc.
Língua Portuguesa 5
Substantivos coletivos
Os substantivos coletivos são aqueles que, no singular, designam uma classe de
seres. Veja, a seguir, alguns substantivos coletivos:
Substantivo Correspondência Substantivo Correspondência
alcatéia de lobos armada de navios de guerra
arquipélogo de ilhas banca de examinadores
banda de músicos bando de aves, de
ciganos,
batalhão de soldados cancioneiro de canções
caravana de viajantes cardume de peixes
colmeia de abelhas constelação de estrelas
elenco de atores exército de soldados
matilha de cães de caça multidão de pessoas
plateia de espectadores ramalhete de flores
resma de folhas de papel tripulação de tripulantes

Os substantivos podem ser flexionados em:


a) Número: singular e plural;
b) Gênero: masculino e feminino;
c) Grau: aumentativo e diminutivo.

Quanto à função sintática, o substantivo exerce por excelência a função de sujeito da


oração:

“Eduardo anda muito pela manhã”


“O avô deu um brinquedo ao neto”
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Adjetivo

Sete anos de pastor Jacó servia


Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
Que a ela só por prêmio pretendia

Os dias na esperança de um só dia


Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe deu Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos


Assim lhe era negada a sua pastora
Como se a não tivera merecida;

Começou a servir outros sete anos,


Dizendo: Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida.
Luiz Vaz de Camões

Adjetivo pode ser definido como palavra variável, caracterizada por constituir a
“delimitação do substantivo”, ou seja, é o termo que, na frase, modifica o substantivo,
atribuindo-lhe qualidades, defeitos, características, aparência, estado dos seres etc.
Locução adjetiva
Trata-se de expressões formadas por preposição + substantivo ou equivalente, que
assume a função de adjetivo.
Exemplos:

Locução adjetiva Adjetivo


homem sem capacidade homem incapaz
material de escola material escolar
amor de filho amor filial
casa do pai casa paterna
amor sem limites amor ilimitado

Porém, é importante nos lembrarmos de que nem toda locução adjetiva pode ser
substituída por um adjetivo correspondente. Por exemplo:

livro de ana sala de televisão


aula de física parede de concreto
dia de jogo cama com lençol
Flexões do adjetivo
Número — o adjetivo acompanha o número do substantivo a que se refere: aluno
estudioso, alunos estudiosos. O adjetivo, portanto, conhece os dois números que vimos no
substantivo: o “singular” e o “plural”.
Gênero — Diferente do substantivo, o adjetivo não possui gênero. Concorda em gênero
com o substantivo a que se refere como simples repercussão da relação sintática de
concordância que se instaura entre o determinado (substantivo) e o determinante (adjetivo).
Por exemplo: tempo bom, vida boa.
Grau — nessa definição enquadram-se as seguintes classes:
a) Gradação do adjetivo: há três tipos de gradação na qualidade expressa pelo
adjetivo — positivo, comparativo e superlativo
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a. o positivo, que não constitui a rigor uma gradação, enuncia simplesmente
a qualidade. Por exemplo: O rapaz é “cuidadoso”.
b. o comparativo compara qualidades entre dois ou mais seres,
estabelecendo:
i. uma igualdade: o rapaz é “tão cuidadoso quanto” (ou como) os outros;
ii. uma superioridade: o rapaz é “mais cuidadoso que” (ou como) os outros;
iii. uma inferioridade: o rapaz é “menos cuidadoso que (ou do que) os
outros.

c. o superlativo ressalta, com vantagens ou desvantagens, a qualidade do


ser em relação a outros seres:

O rapaz é “o mais cuidadoso dos” (ou dentre os) pretendentes ao


emprego;
O rapaz é “o menos cuidadoso” dos pretendentes

Além de indicar que a qualidade do ser ultrapassa a noção comum que


temos dessa mesma qualidade. Por exemplo:
O rapaz é “muito cuidadoso”.
ou
O rapaz é “cuidadosíssimo”.

b) Adjetivos diminutivo: as formas diminutivas de adjetivos (precedidas ou não de


“muito”, “mais”, “tão”, “bem” adquirem valor superlativo:
Blusa amarelinha, garoto bonitinho etc.

Artigo

Porquinho da Índia
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-Índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos e limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

— O meu porquinho-da-Índia foi a minha primeira namorada


Manuel Bandeira

Artigo é a palavra que se antepõe ao substantivo para defini-lo ou indefini-lo.


Emprego:
Emprega-se geralmente o artigo definido quando o ser ou o objeto em questão é
conhecido ou já foi mencionado anteriormente. Emprega-se artigo indefinido quando o ser ou
o objeto em questão não é do conhecimento do falante nem do ouvinte.
Artigo definido
São artigos definidos: o, as, os, as.
Emprega-se geralmente o artigo definido:
a) Antes de nomes de países, regiões, continentes, montanhas, vulcões, lagos,
oceanos e rios:
Língua Portuguesa 8
A Inglaterra — o Brasil — o Pacífico — os Andes — o Amazonas — o Norte — a
Europa — o Nordeste.
b) Antes de nomes de pessoas, quando utilizadas no plural:
Os Almeidas — os Junqueiras — os Oliveiras
c) Depois das palavras ambos ou ambas:
“Ou então fazia ambas as coisas, e tocava falando, soltava a rédea dos dedos...”
d) Depois das palavras todos ou todas, quando estas vierem acompanhadas de
numeral seguido de substantivo:
“Todos os quatro representantes eram incompetentes”
e) Depois da palavra todo ou toda, se tiver o significado de inteiro ou inteira:
“Seu vasto coração abriga todo o colégio”

(O colégio inteiro)
Artigo indefinido
O artigo indefinido pode dar maior realce a um substantivo, fazendo com que este, no
singular, represente toda a espécie. Em suma, o artigo indefinido “generaliza” o termo que
posposto a ele. São artigos indefinidos: um, uns, uma, umas.
“não era um ser humano, era um bicho.”
“Este é, de fato, um cão de guarda.”
“Hoje à tarde vi um avião passando baixinho, baixinho.”
“Deus tem reservado para nós uma coroa de glória”

Pronome

Adormecida
Uma noite, e me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo,
E o pé descalço do tapete rente

‘Stava aberta a janela... Um cheiro agreste


Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, num pedaço de horizonte,
Via-se a noite plácida e divina
(...)
Castro Alves

Pronome é a palavra que substitui ou determina o nome.


Classificação dos pronomes
Os pronomes podem ser classificados em: pessoais, possessivos, demonstrativos,
indefinidos, interrogativos e relativos.
Pronomes pessoais
Substituem as pessoas do discurso: Veja a tabela a seguir:

Singular Plural
1ª pessoa — Eu 1ª pessoa — Nós
2ª pessoa — Tu 2ª pessoa — Vós
3ª pessoa — Ele/Ela 3ª pessoa — Eles/Elas

Os pronomes pessoais podem ser classificados em retos e oblíquos. Para melhor


entendê-los, veja a tabela a seguir:
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Oblíquo
reto
Átonos (sem prep.) Tônicos (com prep.)
Singular 1ª pessoa eu me mim, comigo
2ª pessoa tu te ti, contigo
3ª pessoa ele, ela se, lhe, o, a si, consigo, ele, ela
Plural 1ª pessoa nós nos nós, convosco
2ª pessoa vós vos vos, convosco
3ª pessoa se, lhes, os, as se, lhe, os, as si, consigo, eles, elas
Uso
Os pronomes retos funcionam geralmente como sujeito:
“Eu canto porque o instante existe...” (C. Meireles)
“Tu aprenderas meu nome. E eu já aprendera a te amar” (C. H. Cony)
Os pronomes oblíquos funcionam como objeto ou complemento:
“Esses infelizes não me inspiram simpatia.” (G. Ramos)
“Quero rever-te, pátria minha...” (V. de Morais)

Os pronomes oblíquos podem ser:


a) Átonos (empregados sem Os pronomes possessivos seu, sua, seus,
suas, podem referir-se não só à 3ª pessoa
preposição): gramatical, mas também à 2ª pessoa. Por isso, seu
“Desta vez julguei-me perdido” (L. emprego pode gerar ambiguidade.
Cardoso) “Eles disseram que sua casa é confortável...”
O pronome sua pode referir-se tanto ao ouvinte
(casa do ouvinte) quanto ao locutor (casa do
b) Tônicos sempre precedidos de locutor).
preposição: Para desfazer a ambiguidade, poder-se-ia
dizer:
“...quando caio em mim estou “Eles disseram que vossa casa é bonita”
mordendo os beiços a ponto de tirar
sangue.” (G. Ramos) ou
Pronomes possessivos
Referem-se às pessoas gramaticais, Eles disseram que a casa deles é bonita.
atribuindo-lhes posse de algo: Veja a tabela a
seguir

Singular Plural
1ª meu, minha, meus, minhas 1ª nosso, nossa, nossos,
pessoa pessoa nossas
2ª teu, tua, teus, tuas 2ª vosso, vossa, vossos, vossas
pessoa pessoa
3ª seu, sua, seus, suas 3ª seu, sua, seus, suas
pessoa pessoa

Exemplos do emprego dos pronomes possessivos


“O meu porquinho da Índia foi a minha primeira namorada.”

“Sua aparência não é das melhores, Joana. Você precisa se cuidar mais.”

“Nossos filhos são o orgulho da família.”

“Prometo que não mais incomodarei vosso sono.


Pronome de tratamento
A estes pronomes de tratamento pertencem as formas de reverência que consiste em
nos dirigirmos às pessoas pelos seus atributos ou posições que ocupam:

Pronome Abreviatura Tratamento para


Vossa Alteza V.A. Príncipes e duques
Vossa Eminência V.Em.ª Cardeais
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Vossa Excelência V.Ex.ª Altas patentes militares,
ministros, Presidente da
República, pessoas de alta
categoria, bispos e
arcebispos
Vossa Magnificência V.Mag.ª Reitores de universidades
Vossa Majestade V.M. Reis, imperadores
Vossa Mercê V.M. Pessoa de tratamento
cerimonioso
Vossa Onipotência Deus Não se usa
abreviadamente
Vossa Reverendíssima V.Rev.ma Sacerdotes
Vossa Santidade V.S. Papa
Vossa senhoria V.S.ª Oficiais até coronel,
funcionários graduados,
pessoas de cerimônia
Pronomes demonstrativos
São os que indicam a posição dos seres em relação às três pessoas do discurso: Essa
localização pode ser no “tempo”, no “espaço” ou “no discurso”.
Este — esta — isto: o ser está próximo ao falante.
Esse — essa — isso: O ser está próximo ao ouvinte.
Aquele — aquela — aquilo: o ser está afastado do ouvinte e do falante.
Pronomes indefinidos
São os que se aplicam à 3ª pessoa quando têm sentido vago ou exprimem quantidade
indeterminada: São exemplos de pronomes indeterminados:
Variáveis Invariáveis
algum, alguma, alguns, algumas alguém
nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas ninguém
todo, toda, todos, todas tudo
outro, outra, outro, outras outrem
muito, muita, muitos, muitas nada
pouco, pouca, poucos, poucas cada
certo, certa certos, certas algo
quanto, quanta, quantos, quantas quem
qualquer, quaisquer
Pronomes interrogativos
São os pronomes indefinidos quem, que, qual e quanto que se empregam nas
perguntas, diretas ou indiretas:
Quem veio aqui?
Que cabeça, senhora?
Que compraste? (Neste caso, pode-se, também, usar a forma enfática O que)
Qual autor desconhece?
Qual consideras melhor?
Quantos vieram?
Quantos anos tens?
Pronomes relativos
Referem-se a termos já expressos e, ao mesmo tempo, introduzem uma oração
dependente
“Esta é a pessoa que eu amo. Neste caso, o pronome “que” refere-se à palavra
“pessoa” e introduz uma oração dependente dessa palavra.
Língua Portuguesa 11
Também podem ser considerados
Numeral numerais:
a) Palav
ras que designam um conjunto exato
de seres, por xemplo: par, novena,
Pneumotórax dezena, década, dúzia, centena,
milheiro etc.
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos b) O
A vida inteira que podia ter sido e que não foi. “zero”. Por exemplo: “Comprei um
carro zero quilômetro.”
Tosse, tosse, tosse. c) As
Mandou chamar o medido: palavras ambas e ambos.
— Diga trinta e três “Ambos os bandidos foram presos.”
— Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
—Respire.
—O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito
infiltrado.
—Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
—Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Manuel Bandeira

É a palavra de função quantificadora que denota valor definido, ou seja,a é a palavra


que indica quantidade de seres ou lugar que os mesmos ocupam em uma série:
O numeral pode ser:
Cardinal: indica quantidade exata de seres. Por exemplo:“Cinco milhões de cartas.”
Ordinal: indica a ordem dos seres em uma determinada série. Por exemplo: “O Brasil
foi o segundo país do mundo a emitir um selo”
Multiplicativo: indica aumento proporcional da quantidade, podendo ter valor de
adjetivo ou de substantivo. Por exemplo: “Hoje o Brasil produz cinco vezes mais do que
produzia na década de 1970”
Fracionário: indica diminuição proporcional da quantidade. Por exemplo:
“Fabiano recebeu na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça parte dos cabritos.”
Flexão
Números cardinais — são invariáveis, com exceção de:
a) Um, dois as centenas a partir de duzentos, que variam
em gênero: uma, duas, duzentas, trezentas etc.
b) Milhão, bilhão etc., que variam em número: um milhão, dois milhões etc.
Numerais ordinais — variam em gênero e número: primeiro, primeira, primeiros, primeiras.
Numerais multiplicativos — são variáveis em gênero e número quando têm valor
adjetivo: doses duplas

são invariáveis quando têm valor de substantivo: o dobro etc.


Numerais fracionários — concordam com os cardinais que indicam números das partes: um
terço, dois quartos etc.

Quando o antecedente do pronome que for um substantivo, ele pode ser substituído por “o qual”,
“a qual”, “os quais”, “as quais”
O pronome quem é utilizado apenas para pessoa ou coisa personificada.
Cujo equivale a “do qual”, “de quem”, “de que”. Portanto, tem valor possessivo.
Quanto sempre tem por antecedentes os pronomes indefinidos “tudo”, “todas”, “todos”.
Onde é utilizado quando se faz referência a lugares. Pode, em alguns casos, aparecer precedido
de preposição, aglutinando-se com duas delas: a e de. No entanto, vale ressaltar que a forma aonde
só pode ser empregada mediante ao uso de verbos de movimento, como “ir”.
Língua Portuguesa 12

Verbo

“Duas forças, porém, além de uma terceira, compelia-me a tornar à vida


agitada de costume: Sabina e Quincas Borba. Minha irmã encaminhou a
candidatura conjugal de Nhã-loló de um modo verdadeiramente impetuoso.
Quando dei por mim estava com a moça quase nos braços. Quanto ao
Quincas Borba, expôs-me enfim o Humanitismo, sistema de filosofia
destinado a arruinar todos os demais sistemas.”
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

Verbo é a palavra variável que exprime ação, estado, mudança de estado e fenômeno,
situando-os no tempo. A classe dos verbos é, dentro da língua portuguesa, a que apresenta o
maior número de flexões.
Os tempos do verbo
Os tempos do verbo são:
Presente
Em referência a fatos que se passam ou se estendem ao momento em que falamos. Por
exemplo: (eu) canto.
Pretérito
Em referência a fatos anteriores ao momento em que falamos e subdividido em
imperfeito, perfeito e mais-que-perfeito. Por exemplo cantava (imperfeito), cantei (perfeito)
e cantara (mais-que-perfeito).
Futuro
Em referência a fatos ainda não realizados e subdivididos em futuro do presente e
futuro do pretérito. Por exemplo: cantarei (futuro do presente) e cantaria (futuro do pretériro).
Os modos do verbo
Indicativo
Em referência a fatos verossímeis ou tidos como tais: canto, cantei, cantava, cantarei.
Subjuntivo
Em referência a fatos incertos: talvez cante, se cantasse.
Imperativo
Quando o fato é enunciado como uma ordem, um conselho, um pedido: corra, faça,
beba etc.
As formas nominais do verbo
Infinitivo
São os verbos com terminações ar, er e ir. Por exemplo: andar, comer, sair etc.
Gerúndio
São os verbos com terminação ndo. Por exemplo: comendo, dançando, estudando etc.
Particípio
São os verbos dom terminação do. Por exemplo: pensado, tomada, cercado etc.
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Locução verbal
É formulada por um verbo auxiliar seguido de um verbo principal. O verbo auxiliar
aparece conjugado e o principal, em uma das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.
A locução verbal constitui um todo indivisível; os vários componentes constituem, na
realidade, um só elemento. Os verbos auxiliares indicam apenas as flexões de tempo, modo,
pessoa, número, voz e aspecto. Sem os verbos principais, os auxiliares não teriam sentido.
As locuções verbais mais empregadas em português são:
1) Ter de ou haver de + verbo principal no infinitivo:
“Temos de trabalhar...”
“Havemos de trabalhar...”
2) Ser + verbo principal no particípio:
“Fomos isolados.”
“Serão refeitos.”
3) Ter e haver + particípio:
“Tínhamos saído.”
“Havíamos comprado.”
4) Estar + gerúndio ou infinitivo:
“Estava falando.”

Advérbio

Profundamente
“Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam(...)
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dorminido
Profundamente”
Manuel Bandeira

Advérbio é a palavra que modifica um verbo, um adjetivo, outro advérbio ou uma


oração inteira.
1) Advérbio modificando um verbo:
“Ontem adormeci.”
“Hoje levantei bem cedo”
Língua Portuguesa 14
2) Advérbio modificando adjetivo ou outro advérbio:
“Noite muito escura”
“Dormindo muito profundamente”
3) Advérbio modificando oração inteira:
“Lamentavelmente todos estavam mortos.”

Locução adverbial
Muitas vezes aparece um conjunto de palavras que tem a função de advérbio. A esse
conjunto dá-se o nome de locução adverbial.
“Apenas de vez em quando”
Classificação
Tanto os advérbios como as locuções adverbiais classificam-se de acordo com a
circunstância que expressam.
Circunstância Advérbio Locução adverbial
1. Afirmação Sim, certamente, deveras, Com certeza, por certo, sem dúvida, de fato
realmente, incontestavelmente etc.
2. Dúvida Talvez, acaso, porventura,
provavelmente
3. Bastante, bem, demais, mais, De muito, de pouco, de todo, em demasia,
Intensidade menos, muito, pouco, assaz, em excesso, por completo etc.
quase, quanto, tanto, tão,
demasiado, meio, todo,
completamente, demasiadamente,
excessivamente, apenas etc.
4. Lugar Abaixo, acima, adiante, aí, aqui, À direita, à esquerda, à distância, ao lado, de
além, ali, aquém, cá, acolá, atrás, longe, de perto, para dentro, por aqui, em
através, dentro, fora, perto, longe, cima, por fora, para onde, por ali, por dentro
junto, onde, defronte, detrás etc. etc.
5. Modo Assim, bem, mal, depressa, Às cegas, às claras, à toa, à vontade, às
devagar, pior, melhor, como, pressas, a pé, ao léu, às escondidas, em
alerta, suavemente, lentamente, e geral, em vão, passo a passo, de cor, frente
quase todos os advérbios a frente, lado a lado etc.
terminados em
-mente
6. Negação Não De forma alguma, de jeito algum, de modo
algum, de jeito nenhum etc.
7. Tempo Hoje, ontem, amanhã, agora, À noite, à tarde, às vezes, de repente, de
depois, antes, já, anteontem, manhã, de vez em quando, de súbito, de
sempre, junca, tarde, jamais, quando em quando, em breve, de tempos
outrora, raramente, em tempos, vez por outra, hoje em dia etc.
sucessivamente etc.

Flexão
Os advérbios são invariáveis
Grau comparativo
O advérbio, tal qual o adjetivo, não é flexionado no grau comparativo. Para indicar esse
grau utilizam-se apenas as formas tão ... quanto, mais ... que, menos ... que etc.
1) de igualdade: “O homem vai tão devagar quando (como) o cachorro.”
2) de superioridade: “O cachorro vai mais devagar que o burro.”
3) De inferioridade: “O burro vai menos devagar que o cachorro.”
Língua Portuguesa 15
Preposição

Os Lusiadas (Canto I)
As armas e os barões assinalados
Qua da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
(...)
Luis Vaz de Camões

Preposição é a palavra invariável que relaciona dois termos. Nessa relação, um termo
completa ou explica o sentido do outro.
Veja outros exemplos:
“soprar sobre a cidade.” (a preposição “sobre” estabelece entre os dois termos uma relação de
lugar).
“aguardando com ansiedade.” (a preposição “com” estabelece entre os dois termos uma relação
de modo).
“aconteceu em julho.” (a preposição em estabelece entre os dois termos uma relação de tempo).
Podemos classificar as preposições em essenciais e acidentais.
Essenciais
São palavras que sempre foram preposições e só funcionam como tal; São elas: a, ante,
após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para (pra), perante, por, sem, sob, sobre, trás.
Acidentais
São as palavras que embora pertençam a outras classes gramaticais podem exercer o
papel de preposição. Exemplos: afora, como, confirme, consoante, durante, exceto, fora,
mediante, menos, salvo, segundo, visto.
Locução prepositiva
Ao grupo de duas ou mais palavras com valor de
preposição dá-se o nome de locução prepositiva. Exemplos:
abaixo de, acima de, a fim de, além de, apesar de, atrás de, Não confunda:
“Ele foi o segundo aluno a entrar na
através de, junto de, de acordo com, por causa de, por trás de, a
sala.” (numeral)
despeito de, devido a, em virtude de, a favor de, sob pena de
etc. “Ele agiu segundo suas convicções”
(preposição)

Ao se ler um texto, é
necessário uma avaliação criteriosa
das palavras para um perfeito
entendimento. Tome cuidado para
não cair em armadilhas como as
apresentadas anteriormente.
Língua Portuguesa 16

Conjunção

“Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de
vento sul e chuva, tanto lá como aqui. Quando vinha para casa de taxi,
encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei a ele que lá em
cima, além das nuvens, estava um luar lindo, de Lua cheia; e que as
nuvens feias que cobriam a cidade eram, vistas de cima, enluaradas,
colchões de sonho, alvas, uma paisagem irreal.
Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou um
sinal fechado para voltar-se para mim:
— O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa.
Mas, tem mesmo luar lá em cima?
Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe
havia uma outra — pura, perfeita e linda.
— Mas, que coisa...
Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado
de chuva. Depois continuou guiando mais lentamente. Não sei se sonhava
em ser aviador ou pensava em outra coisa.
—Ora, sim senhor...
E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um “boa noite” e um
“muito obrigado ao senhor” tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe
tivesse feito um presente de rei.” Rubem Braga

Conjunção é uma palavra invariável que liga duas orações ou termos semelhantes de
uma mesma oração. Porém, para classificar as conjunções, devemos levar em conta dois
processos básicos de construção de frases: a coordenação e a subordinação.
Coordenação
A coordenação é um tipo de construção em que os termos se ordenam em uma
sequencia (co + ordenação). Na coordenação, cada termo ou cada oração vale por si, não
dependendo, portanto, um do outro. O significado total consiste da soma dos termos ou das
orações. Vejamos:
“Chegou e ficou feliz.”
Como pode ser visto no exemplo apresentado anteriormente, as duas frases (chegou /
ficou feliz) são independentes, ou seja, há o ato de “chegar” e o de “ficar feliz”. No entanto, não
há uma relação de dependência entre eles. Vejamos outro exemplo.
“Juliano arrumou-se, mas ficou em casa”
Nesse caso também há duas frases: arrumou-se + ficou em casa. O fato de arrumar-se
não está propriamente vinculado ao fato de ficar em casa, e vice-versa.
Conjunções coordenativas
As conjunções aditivas ligam orações independentes e termos semelhantes de uma
mesma oração. Podem ser aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas.
Aditivas
Estabelecem uma relação de soma ou adição entre dois termos ou duas orações. São
conjunções aditivas: “e” (empregada em orações afirmativas) e “nem” (empregada em orações
negativas”
“Ela é bonita e inteligente.”
“Ele não fuma nem bebe””
Adversativas
Estabelecem uma relação de oposição entre dois termos ou duas orações. São
conjunções adversativas: “mas”, “porém”, “todavia”, “contudo”, “entretanto”, “senão” etc.
“Chamou-o mas ele não respondeu”
“Não demonstrava pressa, porém o seu rosto denunciava insegurança.”
Alternativas
Estabelecem uma relação de alternância entre dois termos ou duas orações, pois os dois
fatos não podem acontecer ao mesmo tempo. São conjunções alternativas: “ou”, “ora... ora”,
“quer... quer”, “seja... seja” etc.
Língua Portuguesa 17
“Há ainda um rádio com defeito que, ora vai no lombo da jumenta, ora vai na mão de Zenaide.”
“Guardo o dinheiro ou viajo.”
Conclusiva
Estabelecem uma relação de conclusão, consequência. São conjunções conclusivas:
“logo”, “portanto”, “pois” (posposto ao verbo), “assim etc.
“É um ser humano, logo merece todo nosso respeito.”
“É um ser humano, portanto merece todo nosso respeito.”
Explicativa
Estabelecem uma relação de explicação. A segunda oração explica ou justifica a ideia
expressa na primeira. São conjunções explicativas: “porque”, “que”, “pois” (anteposto ao verbo),
“porquanto etc.
“Não saiam, pois o professor já vem”
Conjunções subordinativas
Ligam orações dependentes, isto é, subordinam uma oração à outra.
Causais
Iniciam uma oração que indica circunstância de causa. São conjunções causais: “porque”,
“pois”, “como”, “que”, “portanto” etc.
“Eu não gostaria de chamar o humor de arma, porque sou uma pessoa extremamente pacifista.”
Comparativas
Iniciam uma oração que é o segundo elemento de uma comparação. São conjunções
comparativas; “como”, “qual”, “que”, “do que” (depois de “mais”, “menos”, “maior”, “melhor” e
“pior”.
“Sou quieta como a folha de outono.”
Condicionais
Iniciam uma oração que indica condição ou hipótese. Sã conjunções condicionais: “se”,
“caso” etc.
“Se não casarmos, meu amor, até sou capaz de morrer”
Conformativas
Iniciam um oração que indica circunstância de conformidade ou acordo. São conjunções
conformativas: “conforme”, “como”, “segundo”, “consoante” etc.
“Era capaz de viver conforme desejava.”
Consecutivas
Iniciam uma oração que indica ma consequência do fato expresso na oração anterior. São
orações consecutivas: “que” (precedido de “tal”, “tanto”, “tão” ou “tamanho”).
“Estava tão casado que mal conseguia respirar.”
Concessiva
Iniciam uma oração que indica contradição a outro fato. Essa contradição, no entanto, não
impede que o fato se realize. Conjunção: “embora”.
“Embora estivesse ferido, continuava lutando.”
Finais
Iniciam uma oração que indica circunstância de finalidade. São conjunções finais:
“porque”, “que”.
“Queria comprar uma moto porque precisava trabalhar.”
Proporcionais
Iniciam uma oração que indica um fato que foi realizado ao mesmo tempo que outro ou
que vai realizar-se ao mesmo tempo que outro. São conjunções proporcionais: “à medida que”, “à
proporção que”, “ao passo que”, “quanto mais... mais”, “quanto mais... menos” etc.
“Quanto mais os jovens se tratam com ternura, mais se tornam ativos...”
Temporais
Iniciam uma oração que indica circunstância de tempo. São conjunções temporais:
“quando”, “mal”, “apenas” etc.
“Mal o pai colocou o papel na máquina, o menino começou a empurrar a cadeira para a sala”
Integrantes
Iniciam uma oração que vai completar o sentido de outra. Enquanto as demais
conjunções introduzem orações que indicam circunstância, com as integrais isso não acontece.
São conjunções integrais: “que” (no caso de certeza), “se” (quando há incerteza, dúvida).
“Ninguém sabia ao certo se a Machona era viúva ou desquitada.”
Língua Portuguesa 18

Interjeição

(...)

Ah! Rostabal, Rostabal! Se Guanes, passando aqui sozinho, tivesse


achado este ouro, não divida conosco, Rostabal!

(...)
Oh! D. Rui, o avisado, era veneno! Porque Guanes, apenas chegara
a Retortilho, mesmo antes de comprar os alforjes, correra cantando a uma
viela, por detrás da catedral, a comprar ao velho droguista judeu o veneno
que, misturado ao vinho, o tornaria a ele, a ele somente, dono de todo o
tesouro...

Eça de Queirós

Interjeição é a palavra que expressa os estados emotivos e cumprem, basicamente, duas


funções:
a) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo alegria, tristeza, dor, animação etc.
b) Sintetizar uma frase apelativa.
As interjeições aparecem quase sempre seguidas de um ponto de exclamação (!), que pode
ser imediatamente depois delas ou no fim da frase:
“Ai!... que preguiça...”

O novo acordo ortográfico: algumas regras


O objetivo deste texto é expor ao leitor, de maneira objetiva, as alterações introduzidas na
ortografia da língua portuguesa pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em
Lisboa, em 16 de dezembro de 1990, por Portugal, Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e, posteriormente, por Timor Leste. No Brasil, o Acordo foi
aprovado pelo Decreto Legislativo n. 54, de 18 de abril de 1995.
Esse Acordo é meramente ortográfico; portanto, restringe-se à língua escrita, não
afetando nenhum aspecto da língua falada. Ele não elimina todas as diferenças ortográficas
observadas nos países que têm a língua portuguesa como idioma oficial, mas é um passo em
direção à pretendida unificação ortográfica desses países.
Como o documento oficial do Acordo não é claro em vários aspectos, elaboramos um roteiro
com o que foi possível estabelecer objetivamente sobre as novas regras. Esperamos que este
guia sirva de orientação básica para aqueles que desejam resolver rapidamente suas dúvidas
sobre as mudanças introduzidas na ortografia brasileira, sem preocupação com questões
teóricas.

Mudanças no alfabeto

O alfabeto passa a ter 26 letras. Foram reintroduzidas as letras k, w e y. O alfabeto


completo passa a ser:
ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ
Trema
Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve ser
pronunciada nos grupos gue, gui, que, qui.
Como era Como fica
agüentar aguentar
argüir arguir
Língua Portuguesa 19
bilíngüe bilíngue
cinqüenta cinquenta
eloqüente eloquente

Atenção
O trema permanece apenas nas palavras estrangeiras e em suas derivadas. Exemplos:
Müller, mülleriano.
Mudanças nas regras de acentuação
1) Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas
(palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba).
Como era Como fica
alcalóide alcaloide
alcatéia alcateia
andróide androide
apóia (verbo apoiar) apoia
apóio (verbo apoiar) apoio
asteróide asteroide
bóia boia
celulóide celuloide
clarabóia claraboia
colméia colmeia
Atenção
Essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a ser
acentuadas as palavras oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis. Exemplos: papéis, herói,
heróis, troféu, troféus.

2) Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem
depois de um ditongo.
Como era Como fica
baiúca baiuca
bocaiúva bocaiuva
cauíla cauila
feiúra feiura
Atenção
Se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final (ou seguidos de s), o
acento permanece. Exemplos: tuiuiú, tuiuiús, Piauí.

3. Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem e ôo(s).


Como era Como fica
abençôo abençoo
crêem creem
dêem deem
dôo doo

4. Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/para, péla(s)/ pela(s),
pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s).
Uso do hífen
Algumas regras do uso do hífen foram alteradas pelo novo Acordo. Mas, como se trata
ainda de matéria controvertida em muitos aspectos, para facilitar a compreensão dos leitores,
apresentamos um resumo das regras que orientam o uso do hífen com os prefixos mais comuns,
assim como as novas orientações estabelecidas pelo Acordo.
As observações a seguir referem-se ao uso do hífen em palavras formadas por prefixos
ou por elementos que podem funcionar como prefixos, como: aero, agro, além, ante, anti, aquém,
arqui, auto, circum, co, contra, eletro, entre, ex, extra, geo, hidro, hiper, infra, inter, intra, macro,
micro, mini, multi, neo, pan, pluri, proto, pós, pré, pró, pseudo, retro, semi, sobre, sub, super,
supra, tele, ultra, vice etc.
Língua Portuguesa 20

Emprego do hífen com prefixos: regra básica

Sempre se usa o hífen diante de h:


anti-higiênico, super-homem.
Outros casos
1. Prefixo terminado em vogal:
• Sem hífen diante de vogal diferente:
autoescola, antiaéreo.
• Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: anteprojeto, semicírculo.
• Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracismo, antissocial, ultrassom.
• Com hífen diante de mesma vogal:
contra-ataque, micro-ondas.

2. Prefixo terminado em consoante:


• Com hífen diante de mesma consoante:
inter-regional, sub-bibliotecário.
• Sem hífen diante de consoante diferente:
intermunicipal, supersônico.
• Sem hífen diante de vogal: interestadual,
superinteressante.

Observações
1. Com o prefi xo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r sub-região, sub-
raça etc. Palavras iniciadas por h perdem essa letra e juntam-se sem hífen: subumano,
subumanidade.

2. Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e vogal:
circum-navegação, pan-americano etc.

3. O prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por
o: coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação, cooptar, coocupante etc.

4. Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen:


vice-rei, vice-almirante etc.

5. Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição, como
girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista etc.

6. Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen:
ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar, recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-
europeu.

O que foi apresentado aqui é a penas um resumo de algumas regras do Novo Acordo
Ortográfico. Muitas lacunas foram deixadas no tratado, mas foram normatizadas pela comissão
de Lexicologia da Academia Brasileira de Letras, e estão disponíveis no VOLP –Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa – lançado no mês de março.
Língua Portuguesa 21
A construção do texto: coesão e coerência textuais
Para a construção de um texto é necessária a junção de vários fatores que dizem respeito
tanto aos aspectos formais, como as relações sintático-semânticas, quanto às relações entre o
texto e os elementos que o circundam: falante, ouvinte, situação etc.
Um texto bem construído e, naturalmente, bem interpretado, vai apresentar o que
chamamos de textualidade, ou seja, conjunto de características que o tornam um texto, e não
uma sequência de frases. Podemos apontar alguns aspectos que são responsáveis pela
construção de um bom texto:
Coerência
É o aspecto que assumem os conceitos e relações subtextuais, em um nível ideativo. A
coerência é responsável pelo “sentido do texto”, envolvendo fatores lógico-semânticos e
cognitivos, visto que a interpretabilidade do texto depende do conhecimento partilhado entre os
interlocutores. Um texto é coerente quando compatível como conhecimento de mundo do
receptor. Observar a coerência é interessante, porque permite perceber que um texto não existe
em si mesmo, mas é construído pela relação emissor-receptor-mundo.
Coesão
É a manifestação lingüística da coerência. Provém da forma como as relações lógico-
semânticas do texto são expressas na superfície textual. Assim, a coesão de um texto é
verificada por meio da análise de seus mecanismos lexicais e gramaticais de construção.
Intertextualidade
Concerne aos fatores que tornam a interpretação de um texto dependente da
interpretação de outros. Cada texto constrói-se, não isoladamente, mas em relação a outro já
dito, do qual abstrai alguns aspectos para dar-lhes outra feição. O contexto de um texto também
pode ser outros textos com os quais se relaciona.
A coerência textual
Coerência pode ser entendida como uma propriedade ideativa do texto, e enumera as
quatro regras que um texto coerente deve apresentar:
Repetição
Diz respeito à necessária retomada de elementos no decorrer do discurso. Um texto
coerente tem unidade, já que nele há a permanência de elementos constantes no seu
desenvolvimento. Um texto que trate a cada passo de assuntos diferentes sem um explícito
ponto comum não tem continuidade. Um texto coerente apresenta continuidade semântica na
retomada de conceitos, idéias. Isto fica evidente na utilização de recursos lingüísticos específicos
como pronomes, repetição de palavras, sinônimos, hipônimos, hiperônimos etc. Um elemento
coesivo sem referente expresso, ou com mais de um referente possível, torna o texto mal-
formado.
Progressão
O texto deve retomar seus elementos conceituais e formais, mas não deve limitar-se a
isso. Deve, sim, apresentar novas informações a propósito dos elementos mencionados. Os
acréscimos semânticos fazem o sentido do texto progredir. No plano da coerência, percebe-se a
progressão pela soma das idéias novas às que são já tratadas.
Não-contradição
Um texto precisa respeitar princípios lógicos elementares. Não pode afirmar “A” e o
contrário de “A”. Suas ocorrências não podem se contradizer, pelo contrário, devem ser
compatíveis entre si e com o mundo a que se referem, visto que o mundo textual deve ser
compatível com o mundo que representa. Essa não-contradição expressa-se nos elementos
linguísticos, no uso do vocabulário, por exemplo. Em redações escolares, costuma-se encontrar
significantes que não condizem com os significados pretendidos. Isso resulta do
desconhecimento, por parte do emissor, do vocabulário a que recorreu.
Relação
Um texto articulado coerentemente possui relações estabelecidas, firmemente, entre suas
informações, e essas têm a ver umas com as outras. A relação em um texto refere-se à forma
como seus conceitos se encadeiam, como se organizam, que papéis exercem uns em relação
aos outros. As relações entre os fatos têm de estar presentes e ser pertinentes.
A coesão textual
Um texto, seja oral ou escrito, está longe de ser um mero conjunto aleatório de elementos
isolados, antes, deve apresentar-se como uma totalidade semântica, em que os componentes
Língua Portuguesa 22
estabelecem, entre si, relações de significação. Contudo, ser uma unidade semântica não basta.
Essa unidade deve revestir-se de um valor intersubjetivo e pragmático, isto é, deve ser capaz de
representar uma ação entre interlocutores, dentro de um padrão particular de produção. A
capacidade de um texto possuir um valor intersubjetivo e pragmático está no nível argumentativo
das produções lingüísticas, mas a sua totalidade semântica decorre de valores internos à
estrutura de um texto e se chama coesão textual. Assim, estudar os elementos coesivos de um
texto nada mais é do que avaliar os componentes textuais cuja significação depende de outros
dentro do mesmo texto ou no mesmo contexto situacional.
Os processos de coesão textual são eminentemente semânticos, e ocorrem quando a
interpretação de um elemento no discurso depende da interpretação de outro. Embora seja uma
relação semântica, a coesão envolve todos os componentes do sistema léxico-gramatical.
Portanto, há formas de coesão realizadas por meio da gramática e, também, por meio d léxico.
Deve-se ter em mente que a coesão não é condição necessária nem suficiente para a existência
do texto. Podemos encontrar textualidade em textos que não apresentam recursos coesivos; em
contrapartida, a coesão não é suficiente para que um texto tenha textualidade. Veja, a seguir,
alguns elementos que contribuem para um texto coeso:
Elipse
A elipse consiste na omissão de um termo já citado na frase, e que é subentendido na
seguinte. Por exemplo:
“Paulo foi ao mercado, Juliana,(foi) ao cabeleireiro.”
Conjunção
Esse tipo de coesão permite estabelecer relações significativas entre elementos e
palavras do texto. Realiza-se por meio de conectores como “e”, “mas”, “depois” etc. Há
elementos meramente continuativos: “agora” (abre um novo estágio na comunicação, um novo
ponto de argumentação, ou atitude tomada ou considerada pelo falante).
Pronomes
O uso de pronomes na frase estabelece uma boa coesão, visto que retoma um termo já
expresso, porém, sem repeti-lo. Por exemplo:
“Carolina está usando um belo vestido, pois hoje vai ao baile de formatura. Percebe-se que ela
está bastante ansiosa.”
Coesão sequencial
Para se escrever um bom texto, é necessário relacionar todos os seus elementos.
Portanto, chamamos de coesão seqüencial o conjunto de procedimentos lingüísticos que
relacionam o que foi dito ao que vai ser dito, estabelecendo relações semânticas e/ou
pragmáticas à medida que faz o texto progredir. Vejamos alguns desses elementos:
a) implicação entre um antecedente e um conseqüente: “se” etc.
b) restrição, oposição, contraste: “ainda que”, “mas”, “no entanto”, “contudo”, “todavia”,
“entretanto” etc
c) soma de argumentos a favor de uma conclusão: “e”, “bem como”, “também” etc.
d) justificativa, explicação do ato de fala: “pois”, “isto é” etc.
e) introdução de exemplificação ou especificação: “seja...seja”, “como” etc.
f) alternativa: “ou”.
g) extensão, amplificação: aliás, também etc.
O uso desses elementos permite que o leitor seja guiado de maneira fluente pelo texto,
compreendendo o seu significado e sentido. Portanto, caro aluno, ao escrever um texto, tenha
sempre em mente que esses e outros elementos devem ser levados em conta para que suas
ideias possam ser expressas de modo coerente e coeso, visto que seu leitor não consegue
visualizar seu campo de reflexão, apenas o que foi expresso por você.
Porém, isso não vale apenas para quem escreve, mas também para quem lê. Ao se ler
um texto complexo e rebuscado, como é o caso da Bíblia, o domínio da coesão e coerência
textuais permite ao leitor uma melhor compreensão do que está escrito. Embora muitos pensem
que para se entender o texto sagrado é necessário apenas um elevado grau de espiritualidade,
nós sabemos que é preciso, além disso, considerar que ela está escrita; esse texto “escrito”
implica “leitura”, ou seja, um entendimento da sequencia de palavras que a compõe. Portanto,
apenas espiritualidade não traz entendimento, mas o entendimento e conhecimento aliado à
espiritualidade tornam o leitor uma pessoa extremamente cheia de autoridade. E é isso que faz a
diferença quando falamos de Deus!
Língua Portuguesa 23

Erros que devem ser evitados


Na língua portuguesa, bem como em qualquer outra língua, é muito comum haver
deslizes na hora de se falar e escrever. Agora, veremos alguns dos erros mais comuns e como
evitá-los.

1 — “Mal cheiro”, “mau-humorado”. Mal opõe-se a bem e mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom
cheiro), mal-humorado (bem-humorado). Igualmente: mau humor, mal-intencionado, mau jeito,
mal-estar.
2 — “Fazem” cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é impessoal: Faz cinco anos. / Fazia
dois séculos. / Fez 15 dias.
3 — “Houveram” muitos acidentes. Haver, no sentido de existir, também é invariável: Houve
muitos acidentes. / Havia muitas pessoas. / Deve haver muitos casos iguais.
4 — “Existe” muitas esperanças. Existir, bastar, faltar, restar e sobrar admitem normalmente o
plural: Existem muitas esperanças. / Bastariam dois dias. / Faltavam poucas peças. / Restaram
alguns objetos. / Sobravam idéias.
5 — Para “mim” fazer. Mim não faz, porque não pode ser sujeito. Assim: Para eu fazer, para eu
dizer, para eu trazer.
6 — Entre “eu” e você. Depois de preposição, usa-se mim ou ti: Entre mim e você. / Entre eles e
ti.
7 — “Há” dez anos “atrás”. Há e atrás indicam passado na frase. Use apenas há dez anos ou dez
anos atrás.

8 — “Entrar dentro”. O certo: entrar em. Veja outras redundâncias: Sair fora ou para fora, elo de
ligação, monopólio exclusivo, já não há mais, ganhar grátis, viúva do falecido.

9 — “Venda à prazo”. Não existe crase antes de palavra masculina, a menos que esteja
subentendida a palavra moda: Salto à (moda de) Luís

10 — “Porque” você foi? Sempre que estiver clara ou implícita a palavra razão, use por que
separado: Por que (razão)você foi? / Não sei por que (razão)ele faltou. / Explique por que razão
você se atrasou. Porque é usado nas respostas: Ele se atrasou porque o trânsito estava
congestionado.

11 — Vai assistir “o” jogo hoje. Assistir como presenciar exige a: Vai assistir ao jogo, à missa, à
sessão. Outros verbos com a: A medida não agradou (desagradou)à população. / Eles
obedeceram (desobedeceram) aos avisos. / Aspirava ao cargo de diretor. / Pagou ao amigo. /
Respondeu à carta. / Sucedeu ao pai. / Visava aos estudantes.

12 — Preferia ir “do que” ficar. Prefere-se sempre uma coisa a outra: Preferia ir a ficar. É
preferível segue a mesma norma: É preferível lutar a morrer sem glória.

13 — O resultado do jogo, não o abateu. Não se separa com vírgula o sujeito do predicado.
Assim: O resultado do jogo não o abateu. Outro erro: O prefeito prometeu, novas denúncias. Não
existe o sinal entre o predicado e o complemento: O prefeito prometeu novas denúncias.

14 — Não há regra sem “excessão”. O certo é exceção. Veja outras grafias erradas e, entre
parênteses, a forma correta: “paralizar”(paralisar), “beneficiente”(beneficente), “xuxu” (chuchu),
“previlégio”(privilégio), “vultuoso”(vultoso), “cincoenta” (cinqüenta), “zuar”(zoar), “frustado”
(frustrado), “calcáreo”(calcário), “advinhar”(adivinhar), “benvindo” (bem-vindo),
“ascenção”(ascensão), “pixar”(pichar), “impecilho”(empecilho), “envólucro”(invólucro).
Língua Portuguesa 24
15 — Quebrou “o” óculos. Concordância no plural: os óculos, meus óculos. Da mesma forma:
Meus parabéns, meus pêsames, seus ciúmes, nossas férias, felizes núpcias.

16 — Comprei “ele” para você. Eu, tu, ele, nós, vós e eles não podem ser objeto direto. Assim:
Comprei-o para você. Também: Deixe-os sair, mandou-nos entrar, viu-a, mandou-me.

17 — Nunca “lhe” vi. Lhe substitui a ele, a eles, a você e a vocês e por isso não pode ser usado
com objeto direto: Nunca o vi. / Não o convidei. / A mulher o deixou. / Ela o ama.

18 — “Aluga-se” casas. O verbo concorda com o sujeito: Alugam-secasas. / Fazem-se consertos.


/ É assim que se evitam acidentes. / Compramse terrenos. / Procuram-se empregados.

19 — Chegou “em” São Paulo. Verbos de movimento exigem a, e não em: Chegou a São Paulo. /
Vai amanhã ao cinema. / Levou os filhos ao circo.

20 — Atraso implicará “em” punição. Implicar é direto no sentido de acarretar, pressupor: Atraso
implicará punição. / Promoção implica responsabilidade.

21 — Vive “às custas” do pai. O certo: Vive à custa do pai. Use também em via de, e não “em
vias de”: Espécie em via de extinção. / Trabalho em via de conclusão.

22 — Todos somos “cidadões”. O plural de cidadão é cidadãos. Veja outros: caracteres (de
caráter), juniores, seniores, escrivães, tabeliães, gângsteres.

23 — O ingresso é “gratuíto”. A pronúncia correta é gratúito, assim como circúito, intúito e fortúito
(o acento não existe e só indica a letra tônica). Da mesma forma: flúido, condôr, recórde, aváro,
ibéro, pólipo.

24 — A última “seção” de cinema. Seção significa divisão, repartição, e sessão equivale a tempo
de uma reunião, função: Seção Eleitoral, Seção de Esportes, seção de brinquedos; sessão de
cinema, sessão de pancadas, sessão do Congresso.

25 — Vendeu “uma” grama de ouro. Grama, peso, é palavra masculina: um grama de ouro,
vitamina C de dois gramas. Femininas, por exemplo, são a agravante, a atenuante, a alface, a
cal, etc.

26 — “Porisso”. Duas palavras, por isso, como de repente e a partir de.

27 — Não viu “qualquer” risco. É nenhum, e não “qualquer”, que se emprega depois de
negativas: Não viu nenhum risco. / Ninguém lhe fez nenhum reparo. / Nunca promoveu nenhuma
confusão.

28 — Soube que os homens “feriram-se”. O que atrai o pronome: Soube que os homens se
feriram. / A festa que se realizou... O mesmo ocorre com as negativas, as conjunções
subordinativas e os advérbios: Não lhe diga nada. / Nenhum dos presentes se pronunciou. /
Quando se falava no assunto... / Como as pessoas lhe haviam dito... / Aqui se faz, aqui se paga.
/ Depois o procuro.

29 — O peixe tem muito “espinho”. Peixe tem espinha. Veja outras confusões desse tipo: O “fuzil”
(fusível) queimou. / Casa “germinada” (geminada), “ciclo” (círculo) vicioso, “cabeçário”
(cabeçalho).

30 — Não sabiam “aonde” ele estava. O certo: Não sabiam onde ele estava. Aonde se usa com
verbos de movimento, apenas: Não sei aonde ele quer chegar. / Aonde vamos?

31 — “Obrigado”, disse a moça. Obrigado concorda com a pessoa: “Obrigada”, disse a moça. /
Obrigado pela atenção. / Muito obrigados por tudo.
Língua Portuguesa 25
32 — O governo “interviu”. Intervir conjuga-se como vir. Assim: O governo interveio. Da mesma
forma: intervinha, intervim, interviemos, intervieram. Outros verbos derivados: entretinha,
mantivesse, reteve, pressupusesse, predisse, conviesse, perfizera, entrevimos, condisser, etc.

33 — Ela era “meia” louca. Meio, advérbio, não varia: meio louca, meio esperta, meio amiga.

34 — A questão não tem nada “haver” com você. A questão, na verdade, não tem nada a ver ou
nada que ver. Da mesma forma: Tem tudo a ver com você.

35 — A corrida custa 5 “real”. A moeda tem plural, e regular: A corrida custa 5 reais.

36 — Vou “emprestar” dele. Emprestar é ceder, e não tomar por empréstimo: Vou pegar o livro
emprestado. Ou: Vou emprestar o livro (ceder) ao meu irmão. Repare nesta concordância: Pediu
emprestadas duas malas.

37 — Foi “taxado” de ladrão. Tachar é que significa acusar de: Foi tachado de ladrão. / Foi
tachado de leviano.

38 — Ele foi um dos que “chegou” antes. Um dos que faz a concordância no plural: Ele foi um
dos que chegaram antes (dos que chegaram antes, ele foi um). / Era um dos que sempre
vibravam com a vitória.

39 — Tinha “chego” atrasado. “Chego” não existe. O certo: Tinha chegado atrasado.

40 — Queria namorar “com” o colega. O com não existe: Queria namorar o colega.

41 — As pessoas “esperavam-o”. Quando o verbo termina em m, ão ou õe, os pronomes o, a, os


e as tomam a forma no, na, nos e nas: As pessoas esperavam-no. / Dão-nos, convidamna, põe-
nos, impõem-nos.

42 — Chegou “a” duas horas e partirá daqui “há” cinco minutos. Há indica passado e equivale a
faz, enquanto a exprime distância ou tempo futuro (não pode ser substituído por faz): Chegou há
(faz) duas horas e partirá daqui a (tempo futuro) cinco minutos. / O atirador estava a (distância)
pouco menos de 12 metros. / Ele partiu há (faz) pouco menos de dez dias.

43 — A artista “deu à luz a” gêmeos. A expressão é dar à luz, apenas: A artista deu à luz
quíntuplos. Também é errado dizer: Deu “a luz a” gêmeos.

44 — Estávamos “em” quatro à mesa. O em não existe: Estávamos quatro à mesa. / Éramos
seis. / Ficamos cinco na sala.

45 — Sentou “na” mesa para comer. Sentar-se (ou sentar) em é sentar-se em cima de. Veja o
certo: Sentou-se à mesa para comer. / Sentou ao piano, à máquina, ao computador.

46 — Ficou contente “por causa que” ninguém se feriu. Embora popular, a locução não existe.
Use porque: Ficou contente porque ninguém se feriu.

47 — O time empatou “em” 2 a 2. A preposição é por: O time empatou por 2 a 2. Repare que ele
ganha por e perde por. Da mesma forma: empate por.

48 — À medida “em” que a epidemia se espalhava... O certo é: À medida que a epidemia se


espalhava... Existe ainda na medida em que (tendo em vista que): É preciso cumprir as leis, na
medida em que elas existem.

49 — Eles “tem” razão. No plural, têm é assim, com acento. Tem é a forma do singular. O mesmo
ocorre com vem e vêm e põe e põem: Ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm; ele põe, eles põem.
Língua Portuguesa 26
50 — Acordos “políticos-partidários”. Nos adjetivos compostos, só o último elemento varia:
acordos político-partidários. Outros exemplos: Bandeiras verde-amarelas, medidas econômico-
financeiras, partidos social-democratas.

51 — Andou por “todo” país. Todo o (ou a) é que significa inteiro: Andou por todo o país (pelo
país inteiro). / Toda a tripulação (a tripulação inteira) foi demitida. Sem o, todo quer dizer cada,
qualquer: Todo homem (cada homem) é mortal. / Toda nação (qualquer nação) tem inimigos.

52 — “Todos” amigos o elogiavam. No plural, todos exige os: Todos os amigos o elogiavam. / Era
difícil apontar todas as contradições do texto.

53 — Favoreceu “ao” time da casa. Favorecer, nesse sentido, rejeita a: Favoreceu o time da
casa. / A decisão favoreceu os jogadores.

54 — Ela “mesmo” arrumou a sala. Mesmo, quanto equivale a próprio, é variável: Ela mesma
(própria) arrumou a sala. / As vítimas mesmas recorreram à polícia.

55 — Chamei-o e “o mesmo” não atendeu. Não se pode empregar o mesmo no lugar de


pronome ou substantivo: Chamei-o e ele não atendeu. / Os funcionários públicos reuniram-se
hoje: amanhã o país conhecerá a decisão dos servidores (e não “dos mesmos”).

56 — Vou sair “essa” noite. É este que designa o tempo no qual se está ou objeto próximo: Esta
noite, esta semana (a semana em que se está), este dia, este jornal (o jornal que estou lendo),
este século (o século 20).

57 — A temperatura chegou a 0 “graus”. Zero indica singular sempre: Zero grau, zero-quilômetro,
zero hora.

58 — A promoção veio “de encontro aos” seus desejos. Ao encontro de é que expressa uma
situação favorável: A promoção veio ao encontro dos seus desejos. De encontro a significa
condição contrária: A queda do nível dos salários foi de encontro às (foi contra) expectativas da
categoria.

59 — Comeu frango “ao invés de” peixe. Em vez de indica substituição: Comeu frango em vez de
peixe. Ao invés de significa apenas ao contrário: Ao invés de entrar, saiu.

60 — Ele “intermedia” a negociação. Mediar e intermediar conjugam-se como odiar: Ele


intermedeia (ou medeia) a negociação. Remediar, ansiar e incendiar também seguem essa
norma: Remedeiam, que eles anseiem, incendeio.

61 — Evite que a bomba “expluda”. Explodir só tem as pessoas em que depois do d vêm e e i:
Explode, explodiram, etc. Portanto, não escreva nem fale “exploda” ou “expluda”, substituindo
essas formas por rebente, por exemplo. Precaver-se também não se conjuga em todas as
pessoas. Assim, não existem as formas “precavejo”, “precavês”, “precavém”, “precavenho”,
“precavenha”, “precaveja”, etc.

62 — A tese “onde”... Onde só pode ser usado para lugar: A casa onde ele mora. / Veja o jardim
onde as crianças brincam. Nos demais casos, use em que: A tese em que ele defende essa
idéia. / O livro em que... / A faixa em que ele canta... / Na entrevista em que...

63 — Já “foi comunicado” da decisão. Uma decisão é comunicada, mas ninguém “é comunicado”


de alguma coisa. Assim: Já foi informado (cientificado, avisado) da decisão. Outra forma errada:
A diretoria “comunicou” os empregados da decisão. Opções corretas: A diretoria comunicou a
decisão aos empregados. / A decisão foi comunicada aos empregados.

64 — Venha “por” a roupa. Pôr, verbo, tem acento diferencial: Venha pôr a roupa. O mesmo
ocorre com pôde (passado): Não pôde vir. Veja outros: fôrma, pêlo e pêlos (cabelo, cabelos),
Língua Portuguesa 27
pára (verbo parar), péla (bola ou verbo pelar), pélo (verbo pelar), pólo e pólos. Perderam o sinal,
no en-tanto: Ele, toda, ovo, selo, almoço, etc.

65 — “Inflingiu” o regulamento. Infringir é que significa transgredir: Infringiu o regulamento. Infligir


(e não “inflingir”) significa impor: Infligiu séria punição ao réu.

66 — A modelo “pousou” o dia todo. Modelo posa (de pose). Quem pousa é ave, avião, viajante,
etc. Não confunda também iminente (prestes a acontecer) com eminente (ilustre). Nem tráfico
(contrabando) com tráfego (trânsito).

67 — Comprou uma TV “a cores”. Veja o correto: Comprou uma TV em cores (não se diz TV “a”
preto e branco). Da mesma forma: Transmissão em cores, desenho em cores.

68 — O fato passou “desapercebido”. Na verdade, o fato passou despercebido, não foi notado.
Desapercebido significa desprevenido.

69 — “Haja visto” seu empenho... A expressão é haja vista e não varia: Haja vista seu empenho.
/ Haja vista seus esforços. / Haja vista suas críticas.

70 — A moça “que ele gosta”. Como se gosta de, o certo é: A moça de que ele gosta.
Igualmente: O dinheiro de que dispõe, o filme a que assistiu (e não que assistiu), a prova de que
participou, o amigo a que se referiu, etc.

71 — É hora “dele” chegar. Não se deve fazer a contração da preposição com artigo ou pronome,
nos casos seguidos de infinitivo: É hora de ele chegar. / Apesar de o amigo tê-lo convidado... /
Depois de esses fatos terem ocorrido...

72 — Vou “consigo”. Consigo só tem valor reflexivo (pensou consigo mesmo) e não pode
substituir com você, com o senhor. Portanto: Vou com você, vou com o senhor. Igualmente: Isto
é para o senhor (e não “para si”).

73 — Já “é” 8 horas. Horas e as demais palavras que definem tempo variam: Já são 8 horas. / Já
é (e não “são”) 1 hora, já é meio-dia, já é meia-noite.

74 — A festa começa às 8 “hrs.”. As abreviaturas do sistema métrico decimal não têm plural nem
ponto. Assim: 8 h, 2 km (e não “kms.”), 5 m, 10 kg.

75 — “Dado” os índices das pesquisas... A concordância é normal: Dados os índices das


pesquisas... / Dado o resultado... / Dadas as suas idéias...

76 — Ficou “sobre” a mira do assaltante. Sob é que significa debaixo de: Ficou sob a mira do
assaltante. / Escondeu-se sob a cama. Sobre equivale a em cima de ou a respeito de:

77 — “Ao meu ver”. Não existe artigo nessas expressões: A meu ver, a seu ver, a nosso ver.

E os dez mais graves


Alguns erros revelam maior desconhecimento da língua que outros. Os dez abaixo estão
nessa situação.

1 — Quando “estiver” voltado da Europa. Nunca confunda tiver e tivesse com estiver e estivesse.
Assim: Quando tiver voltado da Europa. / Quando estiver satisfeito. / Se tivesse saído mais cedo.
/ Se estivesse em condições.

2 — Que “seje” feliz. O subjuntivo de ser e estar é seja e esteja: Que seja feliz. / Que esteja (e
nunca “esteje”)alerta.
Língua Portuguesa 28
3 — Ele é “de menor”. O de não existe: Ele é menor.

4 — A gente “fomos” embora. Concordância normal: A gente foi embora. E também: O pessoal
chegou (e nunca “chegaram”). / A turma falou.

5 — De “formas” que. Locuções desse tipo não têm s: De forma que, de maneira que, de modo
que, etc.

6 — Fiquei fora de “si”. Os pronomes combinam entre si: Fiquei fora de mim. / Ele ficou fora de si.
/ Ficamos fora de nós. / Ficaram fora de si.

7 — Acredito “de” que. Não use o de antes de qualquer que: Acredito que, penso que, julgo que,
disse que, revelou que, creio que, espero que, etc.

8 — Fale alto porque ele “houve” mal. A confusão está-se tornando muito comum. O certo é: Fale
alto porque ele ouve mal. Houve é forma de haver: Houve muita chuva esta semana.

9 — Ela veio, “mais” você, não. É mas, conjunção, que indica ressalva, restrição: Ela veio, mas
você, não.

10 — Fale sem “exitar”. Escreva certo: hesitar. Veja outros erros de grafia e entre parênteses a
forma correta: “areoporto”(aeroporto), “metereologia”(meteorologia), “deiche” (deixe),
“enchergar”(enxergar), “exiga”(exija). E nunca troque menos por “menas”, verdadeiro absurdo
lingüístico.

Literatura
Embora a mídia veicule textos de diversos tipos, é na literatura que encontramos os textos
mais bem elaborados. Estamos falando aqui de literatura de boa qualidade, não só dos grandes
autores, como Machado de Assis e Manuel Bandeira no Brasil, Camões e Fernando Pessoa em
Portugal, nomes já consagrados pelos maiores críticos, mas também dos contemporâneos, como
Ruben Fonseca e José Saramago.
Falar em literatura é, com certeza, falar de texto bem construído, em que são explorados
recursos psicológicos, linguísticos, semânticos, sonoros... enfim, na literatura tudo é possível
para que o objetivo final seja alcançado: produzir um bom texto.
Convido-os, então, para viajarmos juntos por alguns textos de nossa literatura, explorando
os aspectos anteriormente citados.

Carlos Drummond de Andrade


Nascido em 31 de outubro de 1902, o menino Carlos frequentava durante quatro anos o
Grupo Escolar Dr. Carvalho Brito. Mas são o solar da rua Municipal, transfigurado pela presença
invisível de seus antepassados, o velho agente de correio, Fernando Terceiro, a desfilar
diariamente por aquela rua, o movimento inusitado dos dias de júri, a caça aos passarinhos , ou
os banhos de bica na praia do Rosário. Drummond é valorizado pela crítica por sua temática,
facilidade de lidar com as palavras e expor pensamentos, críticas, amores, (des)ilusões. É um
poeta que trabalha com as palavras e, criando-as ou recriando-as, enriquece seu texto com um
estilo próprio e pessoal.
Algumas obras
Alguma poesia (1934)
José (1942)
A Rosa do povo (1945)
Claro enigma (1951)
Boitempo (1968)
Língua Portuguesa 29
Esquecer para lembrar (1979)
A paixão medida (1980)
Amar se aprende mando (1985)
Amor natural (1988)
Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus
Tempo de absoluta depuração
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios.
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
preferiram (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e eu agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não fome,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou
e agora, José?
Língua Portuguesa 30

E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José?
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
não distribuirei entorpecentes ou cartas suicida,
Língua Portuguesa 31
não fugirei para as ilhas nem serei raptada por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes.

Manuel Bandeira
Manuel Bandeira, juntamente com Oswald e Mário de Andrade, formam a tríade maior da
primeira fase modernista, responsável pela divulgação e pela solidificação do movimento em
nosso país.
O poeta nasceu em Recife, fez os estudos secundários no Rio de Janeiro e iniciou o curso
de Arquitetura em São Paulo, mas foi obrigado a abandoná-lo em virtude de uma crise de
tuberculose, que nele se manifestava em 1904. Tratou-se em várias cidades do país e, inclusive,
na Suíça, entre 1913 e 1914, onde conheceu o jovem e mais tarde famoso escritor dadaísta e
surrealista francês Paul Éluard, internado na mesma clínica.
Éluard colocou Bandeira a par das inovações artísticas que vinham ocorrendo na Europa,
entre as quais o emprego do verso livre na poesia. Esse aspecto técnico já fazia parte das
preocupações de Bandeira, que hoje é considerado o mestre do verso livre no Brasil

Algumas obras
A cinza das horas (1917)
Carnaval (1919)
Estrela da manhã (1936)
Obra poética (1956)
Estrela da tarde (1963)
Estrela da vida inteira (1966)
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:

— Diga trinta e três.


— Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
— Respire
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não e possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar o tango argentino.
Teresa
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo


Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.

Profundamente
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
Língua Portuguesa 32
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente
Trem de ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isto maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Língua Portuguesa 33
Muita força
Muita força
Ôo...
Foge bicho,
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Ôo...
Quando me predero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Ôo...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matá minha sede
Ôo...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Ôo...
Vou depressa
Vou ceorrendo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
Andorinha
Andorinha lá fora está dizendo:
— “Passei o dia à toa, à toa!”
Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!
Passei a vida à toa, à toa...
Desencanto
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Língua Portuguesa 34
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre
Deixando um acre sabor na boca.
Eu faço versos como quem morre.
Eça de queirós
José Maria Eça de Queirós nasceu em Póvoa de Varsin, em 1845. Em Coimbra, estudo
Direito e liga-se a uma ruidosa geração acadêmica, entusiasmada com as ideias de Proudhon e
de Comte.
Reunindo condições pessoais e históricas propiciadoras do trabalho intelectual, Eça de
Queirós tornou-se um dos maiores prosadores em Língua Portuguesa, alcançando uma espécie
de divisor de águas linguístico entre a tradição e a modernidade e exerce considerável influência
em Portugal e no Brasil até os dias atuais.
Algumas obras
O crime do Padre Amaro (1875)
O Primo Basílio (1878)
A Relíquia (1887)
Os Maias (1888)
A ilustre casa de Ramires (1900)
A cidade e as serras (1901)

O tesouro
I
Os três irmãos de Medranhos, Rui, Guanes e Rostabal, eram então, em todo o Reino das
Astúrias, os fidalgos mais famintos e mais remendados.
Nos Paços de Medranhos, a que o vento da serra levava vidraça e telha, passavam eles
as tardes desse Inverno, engelhados nos seus pelotes de camelão, batendo as solas rotas sobre
as lajes da cozinha, diante da vasta lareira negra, onde desde muito não estalava lume, nem
fervia a panela de ferro. Ao escurecer devoraram um côdea de pão negro, esfregada com alho.
Depois, sem candeia, através do pátio, fendendo a neve, iam dormir à estrebaria, para
aproveitar o calor das três éguas lazarentas que, esfaimadas como eles, roíam as traves da
manjedoura. E a miséria tornara estes senhores mais bravios que lobos.
Ora, na Primavera, por uma silenciosa manhã de domingo, andando todos os três na
mata de Roquelanes a espiar pegadas de caça e a apanhar tortulhos entre os robles, enquanto
as três éguas pastavam a relva nova de Abril — os irmãos de Medranhos encontraram, por trás
de um moita de espinheiros, numa cova de rocha, um velho cofre de ferio. Como se o
resguardasse uma torre segura, conservava as suas três chaves nas suas três fechaduras.
Sobre a tampa, mal decifrável através da ferrugem, corria um dístico em letras árabes. E dentro,
até às bordas, estava cheio de dobrões de ouro.
No terror e esplendor da emoção, os três senhores ficaram mais lívidos que círios.
Depois, mergulhando furiosamente as mãos o couro, estalaram a ria, num riso de tão larga
rajada que as folhas tenras dos olmos, em roda, tremiam... E de novo recuaram, bruscamente se
encararam, com os olhos a flamejar, numa desconfiança tão desabrida que Guanes e Rostabal
apalpavam nos cintos os cabos das grandes facas. Então Rui, que era gordo e ruivo, e o mais
avisado, ergueu os braços como u árbitro, e começou por decidir que o tesouro, ou viesse de
Deus ou do Demônio, pertencia aos três, e entre eles se repartiria, rigidamente, pesando-se o
ouro em balanças. Mas como poderiam carregar para Medranhos, para os cimos da serra,
aquele cofre tão cheio? Nem convinha que saíssem da mata com o seu bem, antes de cerrar a
escuridão. Por isso ele entendia que o mano Guanes, como mais leve, devia trotr para a vila
vizinha de Retortilho, levando já ouro na bolsilha, a comprar três alforjes de couro, três maquias
de cevada, três empadões de carne e três botelhas de vinho. Vinho e carne eram para eles, que
não comiam desde a véspera: a cevada era para as éguas. E assim refeitos, senhores e
Língua Portuguesa 35
cavalgaduras, ensacariam o ouro nos alforjes e subiriam para Medranhos, sob a segurnça da
noite sem lua.
— Bem tramado! — gritou Rostabal, homem mais alto que um pinheiro, de longa
guedelha, e com uma barba que lhe caía desde os olhos raiados de sangue até a fivela do
cinturão.
Mas Guanes não se arredava do cofre, enrugado, desconfiado, puxando entre os dedos a
pele negra do seu pescoço de grou. Por fim, brutalmente:
— Manos! O cofre tem três chaves... Eu quero fechar a minha fechadura e levar a minha
chave!
— Rambém eu quero a minha, mil raios! — rugiu logo Rostabal.
Rui sorriu. Decerto, decerto! A cada dono do ouro cabia uma das chaves que o
guardavam. E cada um em silêncio, agachando ante o cofre, cerrou a fechadura com força.
Imediatamente Guanes, desanuviado, saltou na égua, meteu pela verede de olmos, a caminho
de Retortilho, atirado aos ramos a sua cantiga costumada e dolente:
Olé! Olé!
Sale La cruz de La iglesa,
Vestida de negro luto..
II
Na clareira, em frente à moita que encobria o tesouro (e que os três tinham desbastado a
cutiladas) um fio de água, brotando entre as rochas: caía sobre uma vasta laje escavada, onde
fazia como um tanque, claro e quieto, antes de se escoar para as relvas altas. E ao lado, na
sombra de uma faia, jazia um velho pilar e granito, tombado e musgoso. Ali vieram sentar-se Rui
e Rostabal, com os seus tremendos espadões entre os joelhos. As duas éguas retouçavam a boa
erva pintalgada de papoulas e botões-de-ouro. Pela ramaria andava um melro a assobiar. Um
cheiro errante de violetas adoçava o ar luminoso. E Rostabal, olhando o sol, bocejava com fome.
Então Rui, que tirara o sombreiro e lhe confiava as velhas plumas roxas, começou a
considerar, na sua fala avisada e mansa, que Guanes, nessa manhã, não quisera descer com
eles à mata de Roquelanes. E assim era a sorte ruim! Pois que se Guanes tivesse quedado em
Medranhos, só eles dois teriam descoberto o cofre, e só entre eles dois se dividiria o ouro!
Grande pena! Tanto mais que a parte de Guanes seria em breve dissipada, com rufiões, aos
dados, pelas tavernas.
— Ah! Rostabal, Rostabal! Se Guanes, passando aqui sozinho, tivesse achado este ouro,
não dividiria conosco, Rostabal.
O outro rosnou surdamente e com furor, dando um puxão às barbas negras:
— Não, mil raios! Guanes é sôfrego... Quando o ano passado, se te lembras, ganhou os
cem ducados ao espadeiro de Fresno, nem me quis emprestar três para eu comprar um gibão
novo!
— Vês tu? — gritou Rui, resplandecendo
Ambos se tinham erguido do pilar de granito, como levados pela mesma idéia, que os
deslumbrava. E, através das suas largas passadas, as ervas altas silvavam.
— E para quê — prosseguia Rui — Para que lhe serve todo o ouro que nos leva? Tu não
o ouves, de noite, como tosse? Ao redor da palha em que dorme, todo o chão está negro do
sangue que escarra! Não dura te as outras neves, Rostabal! Mas até lá terá dissipado os bons
dobrões que deviam ser nossos, para levantarmos a nossa casa, e para tu teres ginetes, e
armas, e trajes nobres, e o teu terço de solarengos, como compete a quem é, como tu, o mais
velho dos Medranhos.
— Pois que morra, e morra hoje — bradou Rostabal.
— Queres?
Vivamente, Rui agarrara o braço do irmão e apontava a vereda dos olmos, por onde
Guanes partira cantando:
— Logo adiante, ao fim do trilho, há um sítio bom, nos silvados. E hás-de ser tu. Rostabal,
que é o mais forte e o mais destro. Um golpe de ponta pelas costas. E é justiça de Deus que
sejas tu, que muitas vezes, nas tavernas, sem pudor, Guanes te tratava de “cerdo” e de “torpe”,
por não saberes a letra nem os números.
— Malvado!
— Vem!
Língua Portuguesa 36
Foram. Amos se emboscaram por trás de um silvado que dominava o atalho, estreito e
pedregoso como um leito de torrente. Rostabal, assolado na vala, tinha já a espada nua. Um
vento leve arrepiou na encosta as folhas dos álamos — e sentiram o repique leve dos sinos de
Retortilho. Rui, coçando a barba, calculava as horas pelo Sol, que já se inclinava para as serras.
Um bando de corvos assou sobe eles, grasnando. E Rostabal, que lhes seguira o rôo,
recomeçou a bocejar, com fome, pensando nos empadões e no vinho que o outro trazia nos
alforjes.
Enfim! Alerta! Era, na vereda, a cantiga dolente e rouca, atirada aos remos:
Olé! Olé!
Sale La cruz de La iglesia,
Vestida de negro...
Rui murmurou: — Na ilharga! Mal que passe! — O chouto da égua bateu o cascalho, uma
pluma num sombrero vermelhejou por sobre a ponta das silva.
Rostabal rompeu de entre a saca por uma brecha, atirou o braço, a longa espada— e
toda a lâmina se embebeu molemente na ilharga de Guanes, quando ao rumor, bruscamente ele
se virara na sela. Com o surdo arranco, tombou de lado, sobre as pedras. Já Rui se arremessava
aos freios da égua — Rostabal, caindo sobre Guanes, que arquejava, de novo lhe mergulhou a
espada, agarrada pela folha como um punhal, no peito e na garganta.
— A chave! — gritou Rui.
E arrancada a chave do cofre ao seio do morto, ambos largaram pela vereda — Rostabal
adiante, fugindo, com a pluma do sombrero quebrada e torta, a espada ainda nua entalada sob o
braço, todo encolhido, arrepiado com o sabor do sangue que lhe espirrara para a boca: Rui,
atrás, puxada desesperadamente os freios da égua, que, de patas fincadas no chão pedregoso,
arreganhando a longa dentuça amarela, não queria deixar o seu amo assim estirado,
abandonado, ao comprido das sebes.
Teve de lhe espicaçar as ancas lazarentas com a ponta da espada — e foi correndo sobre
ela, de lâmina alta, com se perseguisse um mouro, que desembocou na clareira onde o sol já
não dourava as folhas. Rostabal arremessara para a relva o sombrero e a espada; e debruçado
sobre a laje escavada em tanque, de mangas arregaçadas, lavava, ruidosamente, a face as
barbas.
A égua, quieta, recomeçou a pastar, carregada com os alforjes novos que Guanes
comprara em Retortilho. Do mais largo, abarrotado, surgiam dois gargalos de garrafas. Então Rui
tirou, lendamente, do cinto, a sua larga navalha. Sem um rumor na relva espessa, deslizou até
Rostabal, que resfolegava, com as longas barbas pingando. E serenamente, como se pregasse
uma estaca num canteiro, enterrou a folha toda no largo dorso dobrado, certeira sobre o coração.
Rostabal caiu sobre o tanque, sem um gemido, com a face na água, os longos cabelos
flutuando na água. A sua velha escarcela de couro ficara entalada sob a coxa. Para tirar de
dentro a terceira chave do cofre, Rui solevou o corpo — e o sangue mais grosso jorrou, escorreu
pela borda do tanque, fumegando.

III
Agora eram dele, só dele, as três chaves do cofre!. E Rui, alargando os braços, respirou
deliciosamente. Mal a noite descesse, com o ouro metido nos alforjes, guiando a fila das éguas
pelos trilhos da serra, subiria a Medranhos e enterraria na adega o seu tesouro! E quando ali na
fonte, e além rente aos silvados, só restassem, sob as neves de Dezembro, alguns ossos sem
nome, ele seria o magnífico senhor de Medranhos, e na capela nova do solar renascido mandaria
dizer missas ricas pelos seus dois irmãos mortos... Mortos como? Como devem morrer os de
Medranhos — a pelejar contra o Turco!
Abriu as três fechaduras, apanhou um punhado de dobrões, que fez retinir sobre as
pedras. Que puro ouro, de fino quilate! E era o seu ouro! Depois foi examinar a capacidade de os
alforjes — e encontrando as duas garrafas de vinho, e um gordo capão assado, sentiu uma
imensa fome. Desde a véspera só comera uma lasca de peixe seco. E há quanto tempo não
provava capão!
Com que delícia se sentou na relva, com as pernas abertas, e entre elas a ave loura, que
recendia, e o vinho cor de âmbar! Ah! Guanes fora bom mordomo — nem esquecera azeitonas.
Mas por que trouxera ele, para três convivas, só duas garrafas? Rasgou uma asa do capão:
devorava a grandes dentadas. A tarde descia, pensativa e doce, como nuvenzinhas cor-de-rosa.
Língua Portuguesa 37
Para além, na vereda, um bando de corvos grasnava. As éguas fartas dormitavam, com o
focinho pendido. E a fonte cantava, lavando o morto.
Rui erguei à luz a garrafa de vinho. Com aquela cor velha e quente, não teria custado
menos de três maravedis. E pondo o gargalo à boca, bebeu em sorvos lentos, que lhe faziam
ondular o pescoço peludo. OH!, vinho bendito, que tão prontamente aquecia o sangue! Atirou a
garrafa vazia — destapou a outra. Mas, como era avisado, não bebeu, porque a jornada para a
serra, com o tesouro, requeria firmeza e acerto. Estendido sobre o cotovelo, descansado,
pensava em Medranhos coberto de telha nova, nas altas chamas da lareira por noites de neve, e
o seu leito com brocados, onde teria sempre mulheres.
De repente, tomado de uma ansiedade, teve pressa de carregar os alforjes. Já entre os
troncos a sombra se adensava. Puxou uma das éguas para junto do cofre, ergueu a tapa, tomou
um punhado de ouro... Mas oscilou, largando os dobrões, que retilintaram no chão, e levou as
duas mãos aflitas ao peito. Que é, D. Rui? Raios de Deus! Era um lume, um lume vivo, que se
lhe acendera dentro, lhe subia até às goelas. Já rasgara o gibão, atirava os passos incertos, e, a
arquejar, com a língua pendente, limpava as grossas bagas de um suor horrendo que o regelava
como neve. Oh Virgem Mãe! Outra vez o lume, mais forte, que se alastrava, o roia! Gritou:
— Socorro! Alguém! Guanes! Rostabal!
Os seus braços torcidos batiam o ar desesperadamente. E a chama dentro galgava —
sentia os ossos a estalarem como as traves de uma casa em fogo.
Cambaleou até a fonte para apanhar aquela labareda, tropeçou sobre Rostabal; e foi com
o joelho fincado no morto, arranhando a rocha, que ele, entre uivos, procurava o fio de água, que
recebia sobre os olhos, pelos cabelos. Mas a água mais o queimava, como se fosse um metal
derretido. Recuou, caiu para cima da relva, que arrancava aos punhados, e que o mordia,
mordendo os dedos, para lhe sugar a frescura. Ainda se ergueu, co ua baba densa a escorrer-lhe
nas barbas: e de repente, esbugalhando pavorosamente os olhos, berrou, como se
compreendesse enfim a traição, todo o horror:
— E veneno!
Oh D. Rui, o avisado, era veneno! Porque Guanes, apenas chegara a Retortilho, mesmo
antes de comprar os alforjes, correra cantando a uma viela, por detrás da catedral, a comprar ao
velho droguista judeu o veneno que, misturado ao vinho, o tornaria a ele, a ele somente, dono de
todo o tesouro.
Anoiteceu. Dois corvos, de entre o bando que grasnava além nos silvados, já tinham
pousado sobre o corpo de Guanes. A fonte, cantando, lavava o outro morto. Meio enterrado na
erva negra, toda a face de Rui se tornara negra. Uma estrelinha tremeluzia no céu.
O tesouro ainda está lá, na mata de Roquelanes

Referências

 BANDEIRA, Manuel. Libertinagem e estrela da manhã. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2000.
 BECHARA, Evanildo. Gramática escolar da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2004.
 CARDOSO, Elis de Almeida. “O criador de palavras”. In: Revista Língua Portuguesa, ano II, n. 23, set. 2007.
 CEGALA, Domingos Paschoal. Nova minigramática da Língua Portuguesa. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 2004.
 CIVITA, Richard (ed.). Literatura comentada: Carlos Drummond de Andrade. São Paulo. Nova Cultural, 1981.
 JÚNIOR, Luis Costa Pereira. “Bandeira de uma vida inteira”. In: Revista Língua Portuguesa, ano III, n. 35, set.
2008.
 MARTINS, Eduardo. Manual de Redação e Estilo, 3. ed. São Paulo: O Estado de São Paulo, 1997.
 MEIRELES, Cecília. Poesia completa, volume único. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994.
 MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 1960.
Língua Portuguesa 38
Professor.................................................................................

Prova de Português

Aluno (a):......................................................................................................data............/............../................
(Marque C para Correta - E para Errada)

1. Línguas: A Origem das Línguas se deu na Construção da Torre de Babel - Gn.11


 Certo
 Errado

2. Pronome é a palavra que substitui ou determina o nome.


 Certo
 Errado

3. Verbo é a palavra variável que exprime ação, estado, mudança de estado e fenômeno,
situando-os no tempo. A classe dos verbos é, dentro da língua portuguesa, a que apresenta o
maior número de flexões.
 Certo
 Errado

4. Advérbio é a palavra que modifica um verbo, um adjetivo, outro advérbio ou uma oração inteira.
 Certo
 Errado

5. Preposição é a palavra que dá nomes a seres


 Certo
 Errado

6. Conjunção é uma palavra que conjuga os verbos


 Certo
 Errado

7. Interjeição é a palavra que expressa os estados emotivos e cumprem, basicamente, duas funções:
 Certo
 Errado

8.O alfabeto passa a ter 26 letras. Foram reintroduzidas as letras k, w e y. O alfabeto completo
passa a ser: A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z
 Certo
 Errado

9. Erros que devem ser evitados: “Mal cheiro”, “mau-humorado”. Mal opõe-se a bem e mau, a bom.
Assim: mau cheiro (bom cheiro), mal-humorado (bem-humorado). Igualmente: mau humor, mal-
intencionado, mau jeito, mal-estar.
 Certo
 Errado

10. Erros que devem ser evitados: “Fazem” cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é
impessoal: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. / Fez 15 dias.
 Certo
 Errado

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