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Pais devem 'economizar' e dizer 'não' apenas quando for importante

Rosely Sayão

Como dizer não ao filho? Tem sido muito difícil para um grande número de pais dizer "não" a
uma criança ou a um adolescente. E, na mesma medida, tem sido extremamente difícil para os
mais novos conviverem com tantos "nãos" que a família lhes impõe e –o mais importante–
saber diferenciar os "nãos" que são temporários –a maioria– daqueles que são para sempre –
poucos, mas vitais.

Sabe aquela história de que "criança precisa de limite"? Pois é, isso acabou produzindo tantos
"nãos" na vida das crianças que essa palavra passou a ser vazia de sentido. "Não" significa
absolutamente nada para eles. A questão que fica é: "É possível recuperar essa situação?". E a
resposta é simples: "É possível, sim".

Vamos iniciar com a criança pequena, que passa a ouvir os pais dizerem muitos "nãos"
desnecessários: "Não jogue isso no chão", "Não brinque com a comida", "Não estrague seu
brinquedo", "Não suba no sofá com sapato", "Não espalhe água no banho" etc. Uau!

Com criança pequena em casa, quem mais tem limites são os pais, e não os filhos. São eles que
devem, por um período, renunciar a alguns prazeres –como o de ter uma casa cheia de
enfeites, vasos e móveis sofisticados; são eles que devem acompanhar as investigações da
criança, e não vetá-las; são eles que precisam entender que água, comida na roupa e no chão,
e sujeira, por exemplo, são fundamentais para a criança em seu desenvolvimento.

Agora, vamos pensar na criança que já deixou a primeira infância. Por que gastar tantos
"nãos", em vez de valorizar apenas os mais importantes para a família? Pense, caro leitor,
quantas vezes você pode economizar a palavra "não" com uma atitude. É bem mais eficiente e,
de quebra, faz com que a criança, ao ouvir um "não', seja capaz de respeitá-lo um pouco mais.
Por exemplo: em vez de dizer "não vai falar ao celular agora", melhor guardar o celular por
esse período. Em geral, por comodidade, os pais preferem dizer "não" a agir!

Quanto aos adolescentes, eles deveriam receber "não" dos pais apenas para aquilo que for,
realmente, danoso a eles: não vai tomar bebida alcoólica, por exemplo. E, quando houver
transgressão a algum "não" familiar que eles conhecem, devem ser aplicadas as sanções
previamente estabelecidas e conhecidas dos jovens e fazer com que façam a autocrítica de seu
ato e, quando possível, a reparação.

O que é reparação? Poucos pais conhecem e usam esse conceito. Um adolescente humilhou
um irmão, colega ou adulto? Nada melhor do que levar o filho que fez isso a colaborar com
essa pessoa, de alguma maneira. Muita gente viu a notícia sobre a mãe de uma adolescente
que a fez limpar uma pichação que havia feito no muro da escola. Isso é reparação, não
castigo!

Dar limites a uma criança nada mais é do que ensinar a ela como é o mundo, não apenas com
discursos e castigos, mas acompanhando-a no que ela faz; é permitir que ela também aprenda
errando e que descubra alguns limites pessoais por si mesma, quando não for perigoso de fato
a ela.

Criança malcriada, que não sabe como se comportar em ambientes públicos, que não sabe
conviver, não é uma criança sem limites, que deixou de receber "nãos" dos pais ou na escola. É
uma criança abandonada por adultos em casa, na vida escolar, em sociedade

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