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Previdência
Tenho uma proposta irrecusável para quem acredita nos argumentos acima.
Primeiro, cobramos cada centavo devido pelas empresas. Depois, acabamos com a DRU. Em
seguida, acabamos com as megaaposentadorias de políticos, juízes e do Ministério Público às
do INSS, igualando-as às regras do INSS. Aí, somamos todas as receitas e verificamos o total da
arrecadação. Por fim, já que supostamente a Previdência teria um superávit e que as
contribuições seriam compatíveis com os benefícios, redefinimos o benefício de cada um,
dividindo o total arrecadado proporcionalmente pelo que cada um contribuiu. Assim, haveria
justiça - cada um receberia de acordo com quanto contribuiu - os benefícios supostamente
cresceriam - pois o tal superávit da Previdência seria transformado em aumento de benefícios
- e as contas da Previdência estariam absolutamente equilibradas.
Topa? Se você realmente acredita nos 4 argumentos acima, não há como não topar. Só haveria
ganhos... Caso contrário, você tem de reconhecer que os 4 argumentos são falsos.
Para quem topou esta reforma e ficou curioso com o que realmente aconteceria com os
benefícios, vamos aos números. O primeiro regime de Previdência no Brasil data de 1.888, mas
o Regulamento Geral da Previdência Social só foi aprovado em 1960. Nos 57 anos de lá para
cá, foi acumulada uma dívida total de empresas com a Previdência, incluindo multas, correção
monetária e juros de R$433 bilhões. Se toda esta dívida tivesse sido paga ao longo dos últimos
57 anos, a arrecadação anual teria aumentado em R$7,5 bilhões por ano. Na prática, não há a
menor chance de que esta dívida seja integralmente honrada porque R$251 bilhões referem-
se a dívidas de empresas falidas, mas se supuséssemos que a dívida será integralmente paga
ao longo do mesmo período em que foi contraída, a arrecadação anual do INSS daqui para
frente seria R$7,5 bilhões maior.
A DRU, por sua vez, não só não retirou recursos da Previdência, mas redirecionou R$167
bilhões do Orçamento Federal para a Previdência. Alguns exemplos de cortes de investimentos
que aconteceram em 2017 para cobrir os benefícios previdenciários maiores do que as
contribuições: menos R$11 bilhões para infraestrutura, menos R$6 bilhões para Saúde, menos
R$5 bilhões para Educação e menos R$6 bilhões para Transportes. Sem a DRU, estes recursos
deixariam de ir para a Previdência e voltariam para de onde vieram. A partir daí, a Previdência
só poderia efetivamente pagar o que arrecada. O déficit teria de ser eliminado através de
redução imediata dos benefícios de quem já está aposentado e de todos que se aposentarem
de agora em diante, já que não haveria recursos para bancá-los.
No caso do INSS, a arrecadação neste ano será de R$372 bilhões. Somando–se o aumento de
arrecadação com o pagamento da dívida das empresas, ela chegaria a R$ 380 bilhões. Os
gastos projetados são de R$561 bilhões. Para reduzi-los a R$380 bilhões, os benefícios do INSS
teriam de cair em média 32%.
No caso dos servidores, a queda de benefícios seria muito maior. No caso dos servidores
federais civis, a arrecadação neste ano será de R$36 bilhões e os gastos de R$71 bilhões. Sem
os recursos da DRU, os benefícios teriam de ser cortados pela metade. Dos R$35 bilhões de
déficit, R$3,6 bilhões vêm do Legislativo, R$8,6 bilhões do Judiciário, R$ 0,6 bilhão do
Ministério Público e mais de R$22 bilhões dos demais funcionários públicos. Portanto, adequar
as regras de aposentadoria de políticos, juízes e do MP é fundamental, mas não vai poupar os
demais funcionários públicos de terem suas regras também adequadas à realidade das
receitas.
No caso dos militares, a arrecadação é de R$2 bilhões e os gastos de R$40 bilhões. Sem a DRU,
os benefícios cairiam 95%.
A assistência social – aqueles que recebem sem nunca ter contribuído – gera um gasto anual
de R$53 bilhões, mas sem os recursos da DRU, teria de ser extinta, pois ela não tem nenhuma
fonte de recursos próprios.
Em todos os casos, sem mudanças de regras de tempo ou valor das contribuições, os valores
dos benefícios cairiam ano a ano porque, por razões demográficas – crescimento da
expectativa de vida e queda da taxa de natalidade - o número de aposentados cresce muito
mais rapidamente do que o de trabalhadores contribuindo para a Previdência. Portanto, o
crescimento da receita da Previdência será menor do que o do número de beneficiários,
causando uma persistente redução dos benefícios da Previdência.
Em resumo, você pode ser contra reformar a Previdência - aumentando prazos de contribuição
e reduzindo um pouco as distorções das regras de contribuição e benefícios - mas aí você tem
de admitir que acha justo tirar mais de R$400 bilhões por ano de Saúde, Educação,
Infraestrutura, Segurança etc para bancar aposentadorias e pensões acima do que os recursos
da própria Previdência conseguem bancar.