Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Distrincao Entre Reforçamento Positivo e Negativo
A Distrincao Entre Reforçamento Positivo e Negativo
org
ISSN 2177-3548
[1] [2] Universidade Federal do Pará - UFPA | Título abreviado: Distinção entre Reforçamentos Positivo e Negativo | Endereço para correspondência: Email:
Edson L. N. dos Santos (edsonsantos_87@hotmail.com); Felipe L. Leite (felipeleite82@gmail.com)
Uma característica inerente a toda modalidade Catania (1998/1999) concorda que o critério
científica é o desenvolvimento de conceitos des- de apresentação e de remoção de estímulos não
critivos/explicativos que permitam a análise do deveria ser tão importante na distinção entre re-
seu objeto de estudo. Quanto mais esses conceitos forçamentos positivo e negativo. Pode-se ilustrar o
forem coerentes e interligados, maior será a quali- problema da ambiguidade com o experimento de
dade das análises que os empreguem. No âmbito Weiss e Laties (1961), conforme citado por Catania
da análise do comportamento, conceitos básicos (1998/1999, p. 120). Nesse experimento, foi utili-
extensamente utilizados, como os conceitos de re- zada uma câmara fria, na qual as pressões à barra
forçamento positivo e reforçamento negativo, apre- por um rato eram consequenciadas com a operação
sentam problemas que permitem aos analistas do de um aquecedor. Dessa forma, as pressões à barra
comportamento questionar a necessidade de tal eram reforçadas positivamente com a apresentação
distinção (Michael, 1975). de energia ao ambiente. No entanto, também seria
O reforçamento positivo é geralmente definido convincente a observação de que as pressões à bar-
como o fortalecimento de uma resposta devido à ra removem o frio do ambiente, o que exemplifica-
apresentação de determinado estímulo a ela con- ria um caso de reforçamento negativo.
tingente; já o reforçamento negativo consiste no Esse problema também pode ser encontrado
aumento na frequência de uma resposta por causa em diversos exemplos experimentais e da vida co-
da remoção contingente de um estímulo (Skinner, tidiana que explicitam a ambiguidade de definir tais
1953/2007). Michael (1975) revisou esses conceitos, conceitos com base na apresentação ou na remoção
posicionando-se a favor do abandono de tal distin- de um estímulo: a apresentação de uma pelota de
ção. Além de alertar para o fato de que estímulos alimento para um animal privado pode ser inter-
reforçadores negativos (aqueles que fortalecem res- pretada como um caso de reforçamento positivo,
postas que os eliminam) podem ser confundidos mas também elimina a condição de privação; o re-
com estímulos aversivos (aqueles que suprimem cebimento de salário contingente ao mês trabalha-
respostas que os produzem), o que poderia induzir do pode ter função de reforçador positivo quando
a uma identificação entre reforçamento negativo e o trabalhador chega ao fim do mês com sua con-
punição, Michael identificou uma segunda questão ta bancária em saldo positivo, ou pode ter função
problemática no uso de tais conceitos: a ambigui- de reforçador negativo quando o trabalhar chega
dade inerente a essa distinção. ao fim do mês com sua conta em saldo negativo.
Considerando o primeiro problema, uma vez Assim, a distinção entre reforçamentos positivo e
que a análise do comportamento adota um para- negativo com base em apresentação e em remoção
digma explicativo relacional, seus conceitos devem de estímulos pode ser considerada ambígua, vis-
ser definidos também de forma relacional. Assim, to que é possível identificar eventos adicionados e
o problema em identificar reforçadores negativos subtraídos do ambiente em ambos os casos.
com estímulos aversivos poderia levar à conclusão Michael (1975) descreveu três possíveis razões
de que um reforçador negativo apresenta efeitos para a existência dessa distinção, apesar de rejeitá-
supressores quando produzido por uma resposta, -las. A primeira razão diz respeito ao fato de que
quando na verdade o termo reforçamento impli- o efeito fortalecedor no reforçamento positivo
ca fortalecimento, não supressão (Michael, 1975). difere, de algum modo, do efeito fortalecedor no
Segundo Catania (1998/1999), os estímulos não reforçamento negativo. Pode haver diferenças nas
possuem propriedades fortalecedoras ou supresso- propriedades temporais, nas relações com outras
ras por si sós, mas adquirem tais funções na rela- variáveis independentes ou no papel que exercem
ção entre o responder do organismo e seus efeitos no desenvolvimento de discriminações. Michael
no ambiente. Quando um estímulo previamente (1975) reconhece que as propriedades únicas dos
identificado como reforçador negativo em uma reforçadores são similares entre reforçamento po-
dada relação demonstra propriedades supressoras sitivo e reforçamento negativo (ver Hineline, 1984).
em outra, seu rótulo deve ser modificado (no caso, A magnitude do reforçador e a manipulação do
pode-se descrevê-lo como punidor). tempo entre a emissão da resposta e a produção do
reforçador, por exemplo, têm influências parecidas negativo, os relatos são mais próximos de alívio ou
sobre o responder positiva e negativamente reforça- redução da dor e da ansiedade.
dos. Isso não significa que não existam diferenças. No caso do reforçamento positivo, os senti-
Baron e Galizio (2005) levantaram a hipótese de mentos são correlacionados às situações nas quais
que a rapidez do fortalecimento é um fator diferen- o estímulo reforçador está ausente; no caso do re-
te em ambas as formas de reforçamento – talvez a forçamento negativo, aos próprios reforçadores ne-
mudança de estímulo seja mais abrupta em casos gativos. Por exemplo, na produção de comida como
de reforçamento negativo, justificando sua maior reforçador, os sentimentos são evocados pela con-
velocidade em fortalecer operantes. Essa inter- dição prévia de ausência de comida; já no caso da
pretação ainda carece de validação empírica, mas eliminação de choques, os sentimentos são evocados
é possível que, mesmo confirmada, não promova pelo próprio choque. Para Baron e Galizio (2005), os
uma alteração no modo como é compreendido o sentimentos dificilmente são úteis na distinção entre
processo de reforçamento. reforçamentos positivo e negativo. No estudo com
A segunda razão indicada por Michael (1975) humanos, o conhecimento da condição sentida de-
seria a existência de diferenças nas estruturas ou penderá em grande medida dos relatos verbais dos
nos processos fisiológicos subjacentes aos refor- próprios indivíduos, os quais ocasionalmente são
çamentos positivo e negativo. A manutenção da imprecisos. Um exemplo é a estimulação corporal
distinção favoreceria ligações entre pesquisas com- de alta intensidade sentida como dor por uns indiví-
portamentais e fisiológicas, mas as pesquisas neu- duos, mas como prazer por aqueles rotulados como
robiológicas e farmacológicas não têm produzido masoquistas. Já nos estudos com animais não huma-
resultados úteis nesse sentido (Baron & Galizio, nos, essa informação ainda não está disponível.
2005). Uma segunda razão apresentada por Baron e
A terceira razão sugerida por Michael (1975) Galizio (2005) é o papel das respostas competitivas.
afirma que, por manter a distinção, seria mais fá- Ao abordar essa questão, conforme já menciona-
cil advertir sobre os efeitos indesejáveis do refor- do, Catania (1998/1999) utilizou como exemplo o
çamento negativo. Todavia, há efeitos que também experimento conduzido por Weiss e Laties (1961).
poderiam ser considerados indesejáveis em casos Na fuga do frio, pode-se argumentar que o reforço
de reforçamento positivo, como quando altos graus envolve tanto apresentação quanto remoção de um
de privação são necessários para o estudo de de- estímulo. Antes de pressionar a barra, o sujeito en-
terminado padrão de respostas (Baron & Galizio, colhia-se e tremia. Essas respostas competiam (i.e.,
2005). Além disso, se a própria distinção é confusa, reduziam a probabilidade) com a resposta de pres-
não há como garantir a efetividade de avisos sobre sionar a barra. Quando o aquecedor era ligado, as
efeitos indesejáveis. respostas competitivas tornavam-se menos prová-
As três possíveis razões para a manutenção des- veis. Se as respostas competitivas ocorressem antes
sa distinção, consideradas por Michael (1975), não do reforço, o processo seria considerado reforça-
esgotaram as possibilidades. Baron e Galizio (2005) mento negativo. Se as respostas competitivas ocor-
identificaram outras três possíveis razões e teceram ressem após o reforço, o processo seria de reforça-
comentários sobre elas. A primeira delas refere- mento positivo. No entanto, Catania (1998/1999)
-se aos sentimentos associados ao reforço. Skinner e Baron e Galizio (2005) argumentam que esse
(1974/2006) sugeriu que diversos sentimentos são critério não resolve a ambiguidade. Considerando
característicos de esquemas de reforço específicos. um sujeito privado de alimento, a própria privação
Poder-se-ia utilizar os sentimentos associados ao evoca respostas competitivas, como lamber ou ins-
reforço como elemento-chave na distinção entre pecionar o comedouro. Além disso, há exemplos
reforçamentos positivo e negativo, supondo que de comportamentos de esquiva na ausência de res-
sejam sentimentos diferentes em cada situação. postas competitivas (e.g., programar o despertador
Geralmente, indivíduos expostos a esquemas de para acordar em determinado horário).
reforçamento positivo relatam sentir prazer ou sa- O terceiro motivo analisado por Baron e
tisfação. Por sua vez, em esquemas de reforçamento Galizio (2005) envolve as operações estabelecedo-
ras e seu papel no controle do comportamento. A com o autor, o título do livro, o capítulo do livro e a
intensidade da operação estabelecedora exerce um definição dos conceitos de reforçamento positivo e
papel central na diferença entre reforçamentos po- reforçamento negativo (ver Apêndice).
sitivo e negativo. No caso do reforçamento positi-
vo, um elevado grau de privação intensificaria os
sentimentos associados ao reforço e a efetividade Resultados e Discussão
do reforçador. No caso do reforçamento negativo, Os dados coletados nos livros de ensino apontam
por sua vez, a força do reforçador tem relação dire- que existe concordância entre as descrições dos
ta com a intensidade e com a duração do estímulo conceitos reforçamento positivo e reforçamento
eliminado. Contudo, ainda não existe um modo negativo. Todos os livros utilizam os termos posi-
claro de fazer uma escala de diferentes operações tivo e negativo como sinônimos, respectivamente,
estabelecedoras. de apresentação e remoção. Dessa forma, a ambi-
Michael (2006) sugere que livros de ensino de guidade faz-se presente nos livros analisados. As
análise do comportamento abordem a distinção en- citações que incluem as descrições dos conceitos
tre reforçamentos positivo e negativo da maneira de reforçamento positivo e negativo podem ser en-
tradicional, mas que posteriormente comentem a contradas no Apêndice deste artigo.
ambiguidade dos conceitos, dando lugar a uma dis- A apresentação dos resultados será dividida em tex-
tinção mais clara entre processos de reforçamento tos publicados antes do artigo de Michael (1975) e
e de punição, sem mencionar se ocorrem por apre- textos publicados depois desse trabalho. A Tabela 1
sentação ou por remoção. apresenta as publicações analisadas e aponta aque-
Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi las que mostram a distinção tradicional entre re-
analisar a distinção entre reforçamentos positivo e forçamentos positivo e negativo, bem como aquelas
negativo encontrada em livros de ensino de análi- que consideram as críticas de Michael (1975) em
se do comportamento. Esta análise se justifica pela suas definições.
predominância da distinção tradicional sem que
seja abordada a problemática envolvida no uso dos Tabela 1
termos. Além disso, a literatura carece de uma re- Publicações Analisadas quanto à Consideração ou
Não das Críticas de Michael (1975)
visão sistemática que investigue como os conceitos
estão sendo ensinados. Publicação Apresenta a vi- Considera
são tradicional a crítica de
Michael (1975)
Skinner (1953/2007) X
Procedimento
Reese (1966/1973) X
Foram utilizados 13 livros de ensino de análise do
Deese e Hulse X
comportamento comumente adotados em cursos
(1967/1975)
de graduação e de pós-graduação, em uma revi-
Millenson (1967/1975) X
são bibliográfica com enfoque nos conceitos de
Holland e Skinner X
reforçamento positivo e reforçamento negativo. (1969/1975)
A busca pelos capítulos mais relevantes dos livros Lundin (1969/1972) X
foi feita por meio da sondagem de seus respectivos
Whaley e Malott (1981) X
Sumários, e os capítulos selecionados foram aque-
Sidman (1989/1995) X
les que abordavam o tema reforçamento positivo e
Baum (1994/1999) X
reforçamento negativo.
Pierce e Epling (1995) X X
Publicações Antes de Michael (1975) ção e apresentam dados que demonstraram que a
Entre as publicações, foram encontrados os traba- punição possui efeitos supressores distintos, con-
lhos de Keller e Schoenfeld (1950/1974), Skinner siderando-a um processo comportamental único.
(1953/2007), Reese (1966/1973), Deese e Hulse Desse modo, Skinner evita possíveis confusões en-
(1967/1975), Millenson (1967/1975), Lundin tre processos de reforçamento negativo e punição,
(1969/1972) e Holland e Skinner (1969/1975). ao não qualificar este segundo como um processo
Todos os autores definem reforçamento positivo e comportamental básico.
reforçamento negativo pela distinção tradicional, Embora distinga entre os dois processos com
sem nenhuma crítica ao modelo e com descrições base na apresentação e na remoção de estímulos,
mais ou menos próximas. No entanto, alguns au- Lundin (1969/1972) utiliza o experimento reali-
tores merecem considerações adicionais. Keller e zado por Olds e Milner (1954), citado pelo pró-
Schoenfeld (1950/1974) definem reforço negativo prio Lundin, no qual se investigou a produção de
tanto pelo efeito fortalecedor de sua remoção quan- choques direcionados a diferentes áreas do cére-
to pelo efeito enfraquecedor de sua apresentação. bro, contingentes ao comportamento de pressão à
Como já mencionado, essa conceituação é proble- barra. Os autores verificaram que, dependendo da
mática devido ao fato de que o termo reforçador é área afetada, o comportamento de pressão à barra
sinônimo de fortalecimento, e não de enfraqueci- variava de 2000 até 5000 pressões por hora. Sendo
mento (Michael, 1975). Dessa forma, é feita uma assim, concluíram que existem áreas do cérebro re-
confusão entre os conceitos de punição e reforço lacionadas ao reforço positivo e ao reforço negativo.
negativo, conforme explicitada pela citação abaixo: Adicionalmente, deve-se destacar que o trecho en-
contrado na obra de Lundin (1969/1972) para de-
Uma outra maneira, e talvez melhor, de tratar finir os conceitos é uma citação retirada de Keller e
o assunto é a de definir reforços positivos como Schoenfeld (1950/1974).
aqueles estímulos que intensificam as respos- Conforme esperado, pode ser observado que
tas quando presentes (por exemplo, alimento nenhuma das fontes pesquisadas publicadas antes
intensifica o pressionar a barra ou o compor- do trabalho de Michael (1975) critica as distinções
tamento de puxar um cordão), e reforços ne- tradicionais entre os conceitos de reforçamento po-
gativos como aqueles que intensificam [as res- sitivo e negativo.
postas] quando removidos. . . . Temos, então,
duas maneiras de definir reforços negativos: a Publicações Posteriores a Michael (1975)
primeira é em termos do efeito de enfraqueci- Nas publicações posteriores à crítica de Michael
mento que têm quando apresentados; a segunda (1975), foram encontrados trabalhos que tan-
é em termos do efeito de reforçamento, pela sua to usam apenas as definições tradicionais quanto
remoção. O efeito se faz sentir sobre o compor- abordam sua crítica ao apresentar a distinção en-
tamento operante; um operante é enfraqueci- tre reforçamentos positivo e negativo. No primei-
do num caso e reforçado no outro. No entanto, ro grupo, foram alocados os trabalhos de Baum
deve-se notar que o mesmo operante não deve (1994/1999), Sidman (1989/1995) e Whaley
sofrer as duas modificações simultaneamente. e Malott (1981). Desses, a descrição de Baum
(Keller & Schoenfeld, 1950/1974, pp. 75-76) (1994/1999) merece comentários especiais. O au-
tor parte da definição tradicional e distingue refor-
Skinner (1953/2007) também trabalha com a ços positivo e negativo utilizando expressões como
distinção tradicional entre reforçamentos positi- “mais provável” e “menos provável” em substitui-
vo e negativo, sendo que seu modelo de controle ção, respectivamente, à apresentação e à remoção.
aversivo deriva do argumento de que a punição não No entanto, Baum não menciona a problemática na
é considerada um processo comportamental, mas distinção entre os conceitos. Além disso, sua pró-
um procedimento derivado do processo de refor- pria definição, embora com outros termos, também
çamento. Alguns estudiosos do controle aversivo, revela ambiguidade. Afirmar que a apresentação de
como Azrin e Holz (1966), discordam dessa posi- dinheiro torna-se mais provável quando contin-
remoção de estímulos. Michael (2006) comenta Michael (1975), ampliados e revisados por outros
Baron e Galizio (2005) e conclui afirmando que se- autores, deveriam ser levados em consideração no
ria interessante conhecer essa distinção, mas não ensino da análise do comportamento.
incentivar seu uso. Como dito anteriormente, ele
também sugere que livros didáticos podem iniciar
descrevendo a distinção em seu sentido tradicional, Referências
mas deveriam optar por utilizar apenas a distinção Azrin, N. H. & Holz, W. C. (1966). Punishment. Em
entre reforçamento e punição no restante do livro. W. K. Honig (Org.), Operant behavior: Areas of
Um complemento a esta revisão inicial seria research and application (pp. 380-447). New
investigar como artigos conceituais, experimentais York: Appleton-Century-Crofts.
e aplicados abordam os conceitos de reforçamento Baron, A. & Galizio, M. (2005). Positive and nega-
positivo e negativo. Talvez existam diferenças na tive reinforcement: Should the distinction be
utilização dos conceitos pelas áreas experimental preserved? The Behavior Analyst, 28, 85-98.
e aplicada. Duas possibilidades de trabalhos ave- Baum, W. M. (1999). Compreender o behavioris-
riguando os impactos das críticas aos conceitos mo: Ciência, comportamento e cultura (M. T.
podem ser: (a) uma tentativa de avaliar o impacto A. Silva, M. A. Matos, G. Y. Tomanari & E. Z.
da publicação do artigo de Michael (1975) em pu- Tourinho, Trads.). Porto Alegre, RS: Artes
blicações antes e depois do ano de 1975 e (b) uma Médicas. (Trabalho original publicado em 1994)
tentativa de avaliar o impacto da publicação do ar- Cameschi, C. E. & Abreu-Rodrigues, J. (2005).
tigo de Baron e Galizio (2005) em publicações antes Contingências aversivas e comportamento
e depois do ano de 2005. emocional. Em J. Abreu-Rodrigues & M. R.
Embora o presente estudo demonstre que algu- Ribeiro (Orgs.), Análise do comportamento:
mas publicações posteriores ao trabalho de Michael Teoria, pesquisa e aplicação (pp. 113-137). Porto
(1975) levam sua crítica em consideração, boa parte Alegre, RS: Artmed.
dos livros de ensino de análise do comportamen- Catania, A. C. (1999). Aprendizagem:
to mantém a distinção tradicional. Reconhece-se, Comportamento, linguagem e cognição (4a ed.;
assim, uma importância para essa distinção, mas D. G. Souza, Trad.). (Porto Alegre, RS: Artmed.
é imprescindível que seja levantado o debate dos (Trabalho original publicado em 1998)
motivos pelos quais a crítica de Michael (1975) Chase, P. N. (2006). Teaching the distinction be-
tem sido pouco considerada. Estudos posteriores tween positive and negative reinforcement. The
poderiam trabalhar na direção de buscar entender a Behavior Analyst, 29, 113-115.
manutenção da definição tradicional como padrão Deese, J. & Hulse, S. H. (1975). A psicologia da
no ensino de análise do comportamento. Estudos aprendizagem (D. M. Leite, Trad.). São Paulo,
de revisão das literaturas experimental e aplicada SP: Pioneira. (Trabalho original publicado em
poderiam discutir se a crítica apontada por Michael 1967).
(1975) tem direcionado de fato investigações bási- Hineline, P. N. (1984). Aversive control: A separate
cas, aplicadas e intervenções. Tal discussão pode- domain? Journal of the Experimental Analysis of
ria justificar possíveis motivos para manutenção Behavior, 42, 495-509.
da distinção tradicional. Pesquisas de história e/ Holland, J. G. & Skinner, B. F. (1975). A análi-
ou sociologia da ciência no âmbito da análise do se do Comportamento (R. Azzi & C. M. Bori,
comportamento poderiam ainda apontar motivos Trads.). São Paulo, SP: Editora Pedagógica e
relacionados a ligações entre grupos de pesquisa Universitária. (Trabalho original publicado em
e indivíduos da comunidade analítico-comporta- 1969).
mental que possibilitem um maior entendimento Iwata, B. A. (2006). On the distinction between po-
da relutância de nossa comunidade ao uso da crí- sitive and negative reinforcement. The Behavior
tica de Michael (1975). Desse modo, até que uma Analyst, 29, 121-123.
distinção mais parcimoniosa e coerente seja pro- Keller, F. S. & Schoenfeld, W. N. (1974). Princípios
posta, defendemos que os argumentos expostos por de psicologia (C. M. Bori & R. Azzi, Trads.). São
Paulo, SP: Editora Pedagógica e Universitária. Reese, E. P. (1973). Análise do comportamento hu-
(Trabalho original publicado em 1950). mano (G. P. Witter, Trad.). Rio de Janeiro, RJ:
Lundin, R. W. (1972). Personalidade: Uma aná- Livraria José Olympio. (Trabalho original pu-
lise do comportamento (R. L. Rodrigues & L. blicado em 1966)
O. S. Queiroz, Trads.). São Paulo, SP: Herder. Sidman, M. (1995). Coerção e suas implicações (M.
(Trabalho original publicado em 1969) A. Andery & T. M. Sério, Trads.). Campinas,
Michael, J. (1975). Positive and negative reinfor- SP: Psy. (Trabalho original publicado em 1989)
cement: A distinction that is no longer neces- Skinner, B. F. (2006). Sobre o behaviorismo. São
sary; or a better way to talk about bad things. Paulo, SP: Cultrix. (Trabalho original publica-
Behaviorism, 3, 33-44. do em 1974)
Michael, J. (2006). Comment on Baron and Galizio Skinner, B. F. (2007). Ciência e comportamento hu-
(2005). The Behavior Analyst, 29, 117-119. mano (J. C. Todorov & R. Azzi, Trads.). São
Millenson, J. R. (1975). Princípios de análise do com- Paulo, SP: Martins Fontes. (Trabalho original
portamento (A. A. Rosa & D. Resende, Trads.). publicado em 1953).
Brasília, DF: Editora de Brasília. (Trabalho ori- Whaley, D. L. & Malott, R. W. (1981). Princípios
ginal publicado em 1967) elementares do comportamento (M. A. Matos,
Pierce, W. D. & Epling, W. F. (1995). Behavior M. L. F. & C. F. Santoro, Trads.). São Paulo, SP:
analysis and learning. Englewood Cliffs, NJ: Editora Pedagógica e Universitária.
Prentice-Hall. Weiss, B. & Laties, V. G. (1961) Behavioral
Thermoregulation. Science, 133, 1338-1344.
Apêndice
Tabela 2
Apresentação dos conceitos de reforçamento positivo e negativo segundo seus respectivos autores.
Deese e Hulse Reforço e aprendiza- “O conceito de reforço positivo fica suficientemente claro a partir da discussão
(1967/1975) gem - princípios básicos anterior e da definição geral de reforço que acabamos de dar. Em termos comuns,
(capítulo 2) um reforço positivo é um prêmio - que damos ao organismo depois de ter feito
alguma coisa que desejamos que aprenda a fazer. Mas o que dizer de reforços ne-
gativos? [...] Os reforços negativos são os estímulos que fortalecem uma resposta
quando são afastados se a resposta ocorrer.”
Millenson Contingências aversivas “Como a operação que define esses eventos como reforçadores (sua remoção) é
(1967/1975) (capítulo 17) oposta, em caráter, àquela dos reforçadores positivos (definidos por sua apresen-
tação), eles são conhecidos como reforçadores negativos. Em geral, reforçadores
negativos constituem-se daqueles eventos cujo término (ou redução na intensida-
de) fortalecerá e manterá operantes.” (p. 383)
Holland e Condicionamento operan- “Desligar a televisão durante um anúncio é reforçado pela supressão de um refor-
Skinner te: conceitos elementares ço positivo; ligar a televisão para um programa muito interessante é reforçado pela
(1969/1975) (capítulo 2) apresentação de um reforço negativo” (p. 52)
Lundin Condicionamento e extin- “Reforçamento consiste aqui simplesmente na apresentação de algum estímulo
(1969/1972) ção (capítulo 3) quando a resposta é emitida. Se, como resultado, observamos que a frequência
aumenta, designamos o estímulo como reforçador positivo.” (Keller & Schoenfeld,
1950 citado por Lundin, 1969/1972)
Whaley e Fuga e esquiva “A frequência de uma resposta específica será aumentada se esta resposta for
Malott (1981) (capítulo 20) regularmente seguida pela cessação da estimulação ou término da perda de refor-
çadores positivos. Tal procedimento é chamado de reforçamento negativo. [...] Os
dois procedimentos diferem pelo fato de o reforçamento positivo envolver a apre-
sentação de um evento ou privilégio, enquanto o reforçamento negativo envolve a
remoção de eventos classificados usualmente como ‘aversivos’”. (p.188)
Sidman Nem todo controle é “No reforçamento positivo, a ação de uma pessoa é seguida pela adição, pro-
(1989/1995) coerção (capítulo 2) dução ou aparecimento de algo novo, algo que não estava lá antes do ato. No
reforçamento negativo, uma ação subtrai, remove ou elimina algo, fazendo com
que alguma condição ou coisa que estava lá antes do ato desaparecesse.” (p. 55)
Baum Teoria da evolução e “A dependência entre trabalho e alimento é um exemplo de reforço positivo: re-
(1994/1999) reforço (capítulo 4) forço porque a relação tende a fortalecer ou a manter a ação (trabalhar) e positivo
porque a ação torna provável o reforçador (alimento). A ação entre escovar os
dentes e desenvolver cáries é um exemplo de reforço negativo: reforço porque a
relação tende a manter a escovação dos dentes (a ação), e negativo porque esco-
var torna a cárie (o punidor) menos provável” (p. 77)
Pierce e Epling Reforçamento e extinção “Quando uma resposta resulta na apresentação de um estímulo reforçador, a
(1995) do comportamento operan- contingência é chamada reforçamento positivo. [...] Quando uma resposta resulta
te (capítulo 4) e Regulação na remoção de um evento aversivo, a contingência é chamada reforçamento
aversiva do comportamen- negativo.” (pp. 92-94) [...] “Na vida diária, a distinção entre reforçamento positivo
to (capítulo 9) e negativo é ocasionalmente incerta (Michael, 1975).” (p. 244)
Catania As consequências do res- “Quando uma resposta termina ou evita um estímulo aversivo e, assim, torna-se
(1998/1999) ponder: controle aversivo mais provável, o estímulo é chamado de reforço negativo. A distinção entre reforço
(capítulo 6) positivo e reforço negativo depende se uma resposta produz ou remove um
estímulo. Mais tarde encontraremos alguns problemas na terminologia do reforço
positivo e negativo”. (p. 117)
Cameschi Contingências aversivas e “Michael (1975) questionou a utilidade da distinção entre reforçamento positivo e
e Abreu- comportamento emocio- negativo” [...] “A análise funcional estabelece que o termo positivo descreve uma
Rodrigues nal (capítulo 7) relação de dependência ou contingência entre uma resposta e a produção de
(2005) estímulos, e negativo refere-se à contingência entre uma resposta e a remoção de
estímulos (p. 120)
Informações do Artigo
Histórico do artigo:
Submetido em: 24/09/2013
Primeira decisão editorial: 16/05/2014
Aceito em: 05/08/2014