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JULIANA MACHADO
SUELLEN DECOTTIGNIES

ANÁLISE CRÍTICA PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL

VILA VELHA

2020
Muito se discute sobre a definição de regras em análise do comportamento.
Analistas do comportamento divergem sobre a definição de regra. Para Glenn (1987
apud Malavazzi e Pereira, p. 01, 2016), regras são descrições de relações
funcionais, relacionando o termo apenas a topografia não sendo necessário dar
reconhecimento à função do antecedente verbal da regra. Porém, Catania (1989
apud Malavazzi e Pereira, 2016) discorda afirmando que a topografia de uma regra
não é fundamental para que se compreenda o modo como ela afeta a resposta
especificada pelo falante na descrição de contingência e afirma que a definição de
regra exige identificar a função dela no controle do comportamento humano.

Entende-se por regra os estímulos verbais antecedentes que descrevem uma


contingência, ou seja, a relação entre a resposta e os eventos ambientais
antecedentes e consequentes (Skinner 1963/1969, 1966/1969 apud Veiga e
Leonardi p. 171). Neste sentido, observa-se que por meio da regra é possível
modificar um repertório comportamental sem que haja contato direto com as
contingências. O comportamento determinado por antecedentes verbais é
denominado de comportamento governado por regras.

O comportamento governado por regras se difere do comportamento modelado


pelas consequências. Este refere-se aos comportamentos desenvolvidos por meio
de modelagem, onde os comportamentos serão reforçados até que se atinja o
comportamento desejado. Entretanto, vislumbra-se que a produção de uma nova
resposta por meio de uma descrição verbal é positiva uma vez que economiza
tempo na geração da resposta, evita possíveis danos da exposição direta às
contingências e instala ou mantém respostas cujas consequências são atrasadas ou
opostas às consequências imediatas (Veiga e Leonardi, p.172).

Por conseguinte, destaca-se que uma regra é completa quando descreve o estímulo
antecedente, resposta e consequência. Já a descrição da contingência é parcial
quando expõe somente a resposta, resposta e estimulo ou resposta e consequência.
Ainda que a contingência se apresente de modo imparcial há aquisição ou
modificação do comportamento. À luz de Veiga e Leonardi (p.173)

Uma pessoa pode olhar para os convidados de uma festa como resultado
da recomendação de seu clínico durante a sessão, enquanto outra pode
fazê-lo porque, em sua história, isso produziu reforçadores sociais e,
consequentemente, estabeleceu a condição antecedente “festa” como
estímulo discriminativo para a resposta de olhar.

Dessa forma, apesar da semelhança topográfica, as variáveis de controle em cada


caso não são as mesmas. Assim, os efeitos que uma regra produz não se
assemelha com os efeitos da exposição direta à contingência. Elucida-se então a
necessidade de um histórico de reforçamento pré-existente, uma vez que a regra por
si só não exerce controle somente por sua presença.

Destacam-se quatro variáveis que dissertam acerca do comportamento de seguir


regras: o histórico de correspondência entre a descrição da norma e os eventos do
ambiente a que ela se refere, as variáveis sociais acerca das contingências que
operam sobre o comportamento de seguir regras por meio da aquisição da
linguagem e do desenvolvimento do controle por reforçadores sociais, a que diz
respeito à ganhos e perdas envolvidos na emissão ou omissão do comportamento e
por fim o controle de regras também deve ser analisado com base em sua relação
com os eventos antecedentes.

Acerca da variável que diz respeito a relação com eventos antecedentes, ressalta-se
dois aspectos relevantes: a influência que o falante tem sobre o ouvinte quando a
regra é apresentada e a função de estímulo que a própria regra exerce.

Na influência do falante em relação ao ouvinte, se faz necessário o vínculo formado


entre ambos, caso contrário, não haverá influência entre o falante e o ouvinte e pode
ser que a regra não seja seguida.

Sobre o segundo aspecto, se observa um debate entre os estudiosos


comportamentais haja vista que se entende três funções para a regra: função
discriminativa, função alteradora da função de estímulos e função motivadora.

Entende-se que uma regra exerce a função discriminativa quando a descrição até
então desconhecida pelo ouvinte é composta por trechos da descrição em que o
responder do ouvinte já foi reforçado em outros momentos. Alega-se que
recombinações desse tipo possibilitam a emissão de “respostas novas” sob controle
de “regras novas”, processo designado como formação de classes discriminativas
generalizadas (Veiga e Leonardi, p. 174).
Por sua vez, a alteração ambiental descrita pela regra funciona como estímulos
discriminativos evocando respostas. Dessa forma, a contingência se apresenta da
seguinte maneira, conforme Veiga e Leonardi (p.175)

Sant (descrição da contingência), SD (estímulos descritos na regra que


evocam a resposta especificada) – R (resposta especificada na descrição) –
SR (alterações ambientais produzidas diretamente pela resposta
especificada na descrição ou pela reação do indivíduo que emitiu a regra).

Segundo Skinner (1963/1969, 1966/1969 apud Malavazzi e Pereira, p. 06, 2016)


uma regra pode ter uma função discriminativa em uma contingência, porém a
descrição feita pelo falante para o ouvinte pode não ter o mesmo efeito que as
contingência de reforçamento. Isso pode ocorrer por dois motivos, sendo eles: a
imprecisão das regras apresentadas pelo falante, ou pela limitação das regras
posteriormente formuladas pelo próprio ouvinte, chamadas de autorregras. A
formulação de auto-regras pode ser problemática quando as regras são
inadequadas ou quando elas causam sofrimento ao indivíduo, podendo ainda
impossibilitar que o sujeito esteja sensível a novas contingências favoráveis.

Já a função motivadora da regra é entendida como um evento do ambiente que


altera por um determinado momento a eficácia dos reforçadores ou punidores e a
frequência da classe de respostas. Sendo que para se considerar que a regra
motivadora atendeu seu fim, é preciso observar as mudanças comportamentais logo
após sua apresentação.

Por conseguinte, o comportamento segundo regras é chamado de verniz da


civilização, enquanto o comportamento modelado por contingências naturais vem
das profundezas da personalidade ou da mente (Skinner, 2006, p.110).

Neste contexto, Skinner (2006, p.112) entende que a razão é a força original da
mente que leva a descoberta da verdade. Dessa forma, as consequências descritas
em conselhos, avisos são as razões pelas quais uma pessoa atende a um conselho,
obedece a lei, segue instruções. A razão não se torna efetiva apenas porque o
indivíduo pensa nela antes de agir, os estímulos que desempenham um papel numa
longa história de condicionamento.
Na clínica comportamental é possível analisar comportamentos para se extrair
regras que se aplicam a uma classe de fatos. A análise das condições pode levar a
descrições que evocam o comportamento apropriado às contingências sem
exposição direta a elas. Dessa forma, uma pessoa é capaz de solucionar um
problema mudando o cenário em que ele aparece.

Tonar-se consciente acerca do comportamento é questão de analisar as razões do


comportamento ao passo que raciocinar sobre um problema trata-se de encarar as
contingências problemáticas, ao invés de alterá-lo por meio de procedimentos
estabelecidos para uma solução. À luz de Skinner (2016, p.114)

As pessoas não agem irracionalmente só porque não estão conscientes de


todas as variáveis em causa. Descobrir que, em parte, transmitimos más
noticias porque somos reforçados pela frustração de nossos amigos e que
mencionamos o nome de alguém porque há alguém no aposento que se
assemelha a ele, já é um passo à frente (...) Não podemos evidentemente
analisar contingências que não observamos, mas podemos observá-las sem
as analisar. Agir levando em conta as razões da ação e modificar o
comportamento de alguém nos termos dessa consideração é mais do que
estar consciente do que se faz.

Assim, em princípio, todo comportamento, efetivo ou não, é inconsciente, mas torna-


se consciente sem se tornar racional uma vez que as contingências responsáveis
por determinado comportamento não foram analisadas.

Observa-se então que ao contrário dos autores psicanalistas que entendem o


racional e o irracional com consciente e inconsciente, na perspectiva
comportamental de Skinner (2006, p.115) dizer que o irracional é um rico espectro
de personalidades humanas enriquecedoras da vida é apontar diretamente para os
reforços.

Neste contexto, muitas vezes, busca-se justificar o comportamento como certo ou


errado, entretanto, o comportamento é justificado quando o indivíduo se comporta de
acordo com as contingências determinantes deste comportamento. Sendo que o
comportamento é definido como bom ou mau de acordo com o estabelecimento de
regras da comunidade a qual o indivíduo está inserido. Skinner (2006, p.166) afirma
que
Uma pessoa que aprende essas regras e que se comporta obedecendo-lhes
explicitamente ainda não as interiorizou, mesmo quando aprende a
controlar- se e a ajustar-se assim mais eficazmente às contingências
mantidas pelo grupo.

Vislumbra-se então que uma pessoa quer seguir uma regra devido às
consequências organizadas por aqueles que ditam as regras e as mantêm em vigor.
Entretanto, o comportamento social não exige que as contingências que o geraram
sejam formuladas em regras.

Skinner (1984) destaca ainda que uma pessoa pode exercer o papel de ouvinte e
falante ao mesmo tempo, emitindo regras para si mesmo. Determinado
comportamento denomina-se como “autorregras”, ou seja, a pessoa passa a emitir
comportamentos controlados por regras estabelecidas por ela mesma.

À luz de Medeiros (2010 apud Silvia e Medeiros, 2019, p.161), uma das justificativas
para a preferência da emissão de autorregras é a maior probabilidade de
seguimento destas do que regras emitidas por outro falante.

Isto posto, muitos indivíduos não descrevem as variáveis que controlam os seus
comportamentos o que diminui a probabilidade de atuarem sobre o próprio
comportamento.

Para Matos (2001), a sociedade precisa das regras para se organizar. Normalmente
as pessoas mais velhas de um grupo são reforçadas quando instalam e mantém
regras que são seguidas e perpetuadas pelos mais jovens. Porém ela adverte que
alguém que não foi oportunizado com contingencias naturais, se relacionando
apenas com descrições das regras, pode vir a se tornar dependente de
contingências sociais, e dependente das correspondências descritas entre eventos
sociais e naturais e do comportamento verbal do falante tornando-se, assim,
insensível à contingências naturais.

Logo, diante o exposto é plausível elucidar o caráter multideterminado do controle


por regras, o qual deve ser observado durante todo o processo terapêutico.
REFERÊNCIAS

MALAVAZZI, D.M.; PEREIRA, M.E.M. Definição, Tipos e Funções de Regra: Uma


Interpretação da Obra de B. F. Skinner. Psicologia: Teoria e Pesquisa Jul-Set
2016, Vol. 32 n. 3, pp. 1-8. Disponível em:
<https://www.scielo.br/pdf/ptp/v32n3/1806-3446-ptp-32-03-e323223.pdf> acesso em
18 de set. 2020.
MATOS, M.A. Comportamento governado por regras. Rev. bras. ter. comport.
cogn., São Paulo, v. 3, n. 2, p. 51-66, dez. 2001. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
55452001000200007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 18 set. 2020.

Medeiros, C. A. (2010). Comportamento governado por regras na clínica


comportamental: algumas considerações. Em A. K. C. R. de-Farias (Org.),
Análise Comportamental Clínica: Aspectos teóricos e estudos de caso (pp. 95-111).
Porto Alegre: ArtMed.

SACRAMENTO, Luciana Brandão. A Clínica Analítico-Comportamental: Um


estudo de Caso Sobre Auto-Regras e Déficit de Habilidades
Sociais. Psicologado, [S.l.]. (2014). Disponível
em https://psicologado.com.br/abordagens/comportamental/a-clinica-analitico-
comportamental-um-estudo-de-caso-sobre-auto-regras-e-deficit-de-habilidades-
sociais . Acesso em 18 Set 2020.

SILVA, Antônio de Pádua Azevedo; MEDEIROS, Carlos Augusto de. Efeitos de


Regras e Autorregras nos relatos de mudança comportamental na Terapia
Analítica Comportamental. Revista Perspectivas. 2019 vol.10 n°01 pp. 157-174.
Disponível em: https://www.revistaperspectivas.org/perspectivas. Acesso em: 20 Set
2020.
SKINNER,B.F. Sobre o Behavorismo / B.F. Skinner; tradução de Maria da Penha
Villlalobos. 10 ed. São Paulo: Cultrix, 2006.

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