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1. INTRODUÇAO
70 Rev. de Psicologia, Fortaleza, 3 (I) : 67-81, jan/jun. 1985 Rev. de Psicologia, Fortaleza, 3 (1) : 67-81, jan/jun, 1985 71
Um resumo da análise dos sujeitos sobre o desempenho daquele que soli- - S "Em muitas lojas ... as mulheres casadas trabalham e mostram um
citava o empreg02 aparece ilustrada abaixo: bom serviço. Eu preciso trabalhar e gostaria de trabalhar aqui na
S4 : "Achei que quando o gerente falou que precisar precisava, ela loja".
poderia insistir". O treino dessa habilidade foi realizado ainda muitas vezes com outros e
Terapeuta (T): "E ela falou 'não dá mesmo'? Que tipo de resposta o com o mesmo sujeito, porém envolveu variações no arranjo da situação de role
gerente poderia ter dado?" playing.
S7: "Só o que ele falou né?"
S4: "Ela deveria falar firme com ele".
T : "Diga para ela o que é que você está querendo dizer com falar 3. RESULTADOS
firme".
Os sujeitos identificaram alternativas como argumentar e questionar o Os dados das entrevistas inicial e final e dos registros de gravação e obser-
gerente, mas o solicitante, embora julgasse as sugestões como desejáveis, afirmou vação foram organizados em grupos de dados precedentes e subseqüentes ao
sua dificuldade em ernití-las. O terapeuta recolocou a situação de role playing, treinamento de cada habilidade. Em relação à natureza das habilidades treinadas,
avisou que iria desempenhar o papel de solicitante de emprego e convidou outro foram obtidos dois conjuntos de resultados: o primeiro refere-se a déficits de
sujeito para o papel de gerente, solicitando ao sujeito em treinamento que comportamentos específicos, relacionados às queixas apresentadas pelos sujeitos
observasse o seu desempenho. Segue resumo desse desempenho: ou às observações do terapeuta; o segundo não está relacionado a déficits espe-
cíficos de comportamentos, mas a relatos de dificuldades existentes na vida dos
G " ... e temos vagas para vendedora ... " sujeitos, algumas identificadas pelos sujeitos no decorrer do treinamento.
T "Eu gostaria de trabalhar como vendedora. Acho que aprenderei
rapidamente" .
G : "A senhora é casada?". DE5CRIÇÃO DE MUDANÇA5 COMPORTAMENTAI5 RELACIONADA5 A
T : "Sou". DIOFICIT5 E5PECfFIC05
G : "Olha, nós não damos emprego a mulher casada ... " Resumo das queixas da primeira entrevista e Resumo de relato de mudanças: entre-
T : "Por quê?" registro de gravação e obs. vista final e registro de gravoe obs.
G : "Porque acaba ficando grávida".
1. Problemas de relacionamento com os pais Melhora no relacionamento com os
T "Algumas firmas não fazem essas restrições e estão satisfeitas com pais
o trabalho das mulheres casadas ... No momento não pretendo ter a) déficits de comportamentos de expres- a) aumento na freqüência de compor-
filho". sar sentimentos positivos (57' 512,52), tamentos de expressar sentimentos
- G : "Bem ... " positivos (57.512.52).
- T : "A firma está precisando. E uma época de muitas vendas". b) déficits de comportamentos de discutir b) emissão de comportamentos de dis-
com os pais sobre a própria habilidade cutir com os pais a própria habili-
Nova interrupção e o sujeito foi solicitado a descrever os comportamentos
de tomar decisão (52,56). dade de tomar decisão (52.56).
verbais e não verbais do terapeuta. Após essa descrição, uma no lia seqüência foi
emissão de comportamento de
reiniciada, com o terapeuta permanecendo próximo ao sujeito, em condições de
elogiar retirada de restrições pelos
emitir comportamentos de aprovação contingentes a seu desempenho de solicitar pais.
emprego. Um outro sujeito participou co~o gerente.
G : "A senhora é casada?"
2. Relacionamento com irmãos Melhora no relacionamento com
S : "Sou".
irmãos
G : "Então ... não damos emprego a mulher casada".
a) déficit de emissão de comportamentos a) aumento na freqüência de emissão
S : "Por quê?"
reforçadores (5 t- 56' 57' 59' 511), de comportamentos reforçadores
G : (. .. )
(51.56.57.59.511)'
aumento na freqüência de estimula-
2. O problema do desernpreqo e as restrições feitas às mulheres foram discutidas em outros ção reforçadora recebida (5 i- 56
procedimentos. 57.59.511).
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b) déficits de comportamentos de contra- b) aumento na freqüência de compor- 8CH-PERIOD ICOe.
controle à estimulação aversiva rece- tamentos de co-rtracontrole à esti-
bida (56.511.512)' mulação aversiva recebida (56.511• 6. Dificuldade de fazer amizade Ampliação do crrculo de amizades •...
512), a) déficits de comportamentos de iniciar e a) aumento na freqüência de compor-
c) excesso de comportamento de chorar c) diminuição na freqüência do com- manter conversação (52.53.54.56, tamentos de iniciar e manter con-
ante estimulação aversiva recebida (56 portamento de chorar ante estimu- 58.511). versação (52.53.54.56.511).
51Ó' 511.512), lação aversiva (56' 511, 512), bl déficits de comportamentos de con- b) aumento na freqüência de compor-
diminuição na freqüência de esti- versar assuntos de interesse do interlo- tamentos de conversar assuntos de
mutação aversiva recebida (56. cutor (52.53.54.58.59)' interesse do interlocutor (52' 53'
511). 54.58.59).
d) déficitsde emissão de alternativas do dl aumento na freqüência de ermssao c) excesso de comportamento de relatar c) diminuição na freqüência de com-
comportamento (51' 56' 57.59.510, de alternativas de comportamento problemas pessoais(54.59). portamento de relatar problemas
5 ). .
(51.56.57.59, 511)~ pessoais(54' Sg).
11
3. Relacionamento conjugal Melhora no relacionamento conjungal 7. Dificuldade em falar com pessoas inves- Emissão de comportamento de solicitar
tidas de autoridade informações. atendimento médico etc.
a) déficit na troca de comportamentos a) aumento na freqüência de troca de
reforçadores (57). comportamentos reforçadores (57)' a) déficit de comportamento de descrever a) aumento na freqüência de compor-
objetivos (53' 56' 57' 59' 511.512) tamento de descrever objetivos (53'
b) excesso na troca de comportamentos b) diminuição na freqüência de troca-
aversivos (57). 56.57.59.511.512)'
de comportamentos aversivos (57)'
b) déficit de comportamento de fazer b) aumento na freqüência de compor-
pergunta (51.53.56.511). tamento de fazer pergunta (51.53,
4. Relacionamento com namorado Melhora no relacionamento com namo- 5 .511).
rado 6
a) déficit na troca de comportamentos a) aumento na freqüência de troca de c) déficit de comportamento de discordar c) aumento na freqüência de compor-
reforçadores (11. 512), comportamentos reforçadores (511, (51.53.56.57.59.511.512)' tamento de discordar (51' 53' 56'
5 ). 57.59.511.512).
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b) déficit de comportamento de contra- b) aumento na freqüência de compor- d] expectativa de conseqüência desfavorá- d] expectativa controlada pelo desem-
controle à estimulação aversiva rece- tamento de contracontrole a esti- vel para o comportamento iniciar con- penho(53·57·59).
bida (511.512). mulação aversiva recebida (511, versação (.53 5 .5 ).
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512).
expectativa controlada por índrclos
no comportamento do interlocutor
5. Dificuldade em falar em grupo Aumento de participação em grupo de (53.57.59).
lazer e estudo
a) déficits de comportamentos de fazer a) aumento na freqüência de compor-
e responder perguntas em grupos de tamentos de fazer e responder per-
estudo (51.56.511). 8. Dificuldade de recusar pedido irrazoável Emissão de comportamento de recusar
guntas em grupos de estudo (51'
56·511!. pedido irrazoável
b) ansiedade condicionada (tequícardía, b) diminuição de ansiedade condicio- a) déficit de comportamento de recusar a) aumento na freqüência de compor-
sudorese nas mãos) (53.58.59)' nada na situação de grupo (53' 59!. (56.59.511). tamento de recusar (56.59.511).
c) expectativa de conseqüência desfavo- c) expectativa controlada pelo próprio bl excesso de comportamento de justifi- b) diminuição na freqüência do com-
rável para emissãode comportamentos desempenho (53.59), car recusa (56' 511!. portamento-de justificar (56.511),
de perguntar e responder perguntas
(53.59), 9. Dificuldade em perseverar nos objetivos Aumento na perseverançaem objetivos
d) déficit de emissão de alternativas de d) aumento na freqüência de emissão a) déficit de insistir nos comportamentos a) aumento na freqüência de insistir
comportamentos (52' 56' 58. 511), de alternativas de comportamentos que podem levar à consecução de obje- nos comportamentos que podem
(52.56.58.511 ). tivos (53' 55' 56!. levar à consecução de objetivos
(53' 55' 56!.
b) excesso de comportamento de justifi- b) diminuição na frequência de com_o
car as desistências diante dos primeiros portarnento de justificar desistência
* Não há relato de mudança para 510, pois deixou o treinamento após ter obtido emprego. / obstáculos (53.55.56). (53' 55' 56)'
aumento na freqüência de auto-re-
74 Rev. de Psicologia, Fortaleza, 3 (1) : 67-81, jan/jun. 1985 forçamento (53' 55' 56).
76 Rev. de Psicologia, Fortaleza, 3 (I) : 67·81, jan/jun. 1985 Rev. de Psicologia, Fortaleza, 3 (1) : 67-81, jan/jun. 1985 77
mentos, os sujeitos desenvolveram habilidades de promover a participação de "O homem é mais inteligente". As explicações justificavam, para os sujeitos, a
todos do grupo na análise de problemas ("gostei da maneira corno a senhora situação de desigualdade da mulher e também as próprias condições pessoais em
falou sobre as doenças que o lixo traz"), solicitar alternativas ("além de falar que viviam.
com o prefeito o que pode ser feito?"). de selecionar um problema de cada vez As observações no treinamento mostraram mudanças, inicialmente na
explicar direitos e distribuir tarefas (" ... direito é uma coisa que todos devem identificação da atribuição de papéis diferenciados ao homem e mulher e nos
à
ter:'; "a senhora fica responsável por chamar o pessoal de outra rua".). controles que o homem exerce sobre a mulher através de códigos sociais: "O
homem é educado para fazer coisas diferentes da mulher"; "O homem faz as
4. Desigualdade social. Os sujeitos explicavam a desigualdade social em leis"; "As leis feitas pelo homem beneficia a ele mesmo". Outras verbalizações
~,erm.os de, sorte, dete~minação divina, indolência do pobre e esforço do ~ico: indicaram mudanças nas explicações: "O homem não é mais inteligente do que a
o rI~O vai em frente, já o pobre não luta"; Umas pessoas têm sorte outras não" mulher"; "A inteligência depende do que a pessoa aprende na ~da".
:'Deu~ .quer assim". Esse tema foi discutido durante o treinamento e os suieitos Alguns sujeitos relataram, na entrevista final, emissão de comportamentos
Identlflcara~ que essas explicações dificultavam mudanças na situação, favore- instrumentais para mudar a situação familiar de restrição como função da
cendo ~ ~eslg~al~ade em beneUcio de grupos privilegiados. As exptícacões finais "compreensão" da desigualdade social da mulher: "Eu disse a minha mãe, pode
dos s~jeltos indicam mudanças em direção a uma maior realidade: "O rico deixar que eu decido. Ela falou, 'é, você está mudada"'; "Antes mainha escolhia
aprov.elta o trabalho do pobre"; "O trabalhador deixa no serviço um pouco de tudo para mim, até vestido que eu fosse usar, agora não, eu estou decidindo
sua vida e leva em troca o salário mínimo"; "Se a gente achar que Deus fez bastante coisa"; "Meu irmão não manda mais em mim".
assim, a gente acaba não fazendo nada para mudar".