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RODRIGO L . H. SILVA 1
Sobre mim
Para aqueles que estão conhecendo meu trabalho pela primeira
vez, é um prazer tê-los aqui! Meu nome é Rodrigo Luiz Huy da
Silva, tenho 28 anos e sou nascido e criado em Curitiba.
Desde pequeno sempre me vi envolvido nas práticas esportivas,
sendo aquela criança viciada na aula de educação física, sabe? Ao
longo da vida me envolvi em diversas modalidades esportivas na
infância, adolescência e vida adulta, passando pelas lutas, como
judô, capoeira e muay thai e pelo futebol. Já no fim da
adolescência conheci a musculação aos 16 anos. De lá para cá,
praticamente nunca parei, exceto por um mês no início porque
fiquei sem dinheiro para pagar a mensalidade da academia ( de
expressivos 50 reais), e que me obrigou a ficar um mês fora, mas
desde então foram praticamente 12 anos ininterruptos de ferro.
Logo que comecei a treinar já comecei meus estudos através de
fóruns no Orkut e descobrindo a minha paixão, tornando assim
fácil a escolha pela faculdade. Educação física e Nutrição foram
os cursos que escolhi como primeira e segunda opção
respectivamente.
Passei em educação física na PUCPR com uma bolsa de 100%
pelo Prouni e iniciei meus estudos no ano de 2012. Ao longo do
curso comecei também minhas aventuras nos palcos do
fisiculturismo e de lá para cá nunca mais parei. Alguns anos
depois, antes de terminar a faculdade e querendo me dedicar
mais ao fisiculturismo e ao trabalho, mudei para o Centro
Claretiano que estava sendo uma das pioneiras com a
modalidade EAD, terminando assim minha formação nela.
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Anos depois comecei minha formação em nutrição pela
Universidade Positivo e que está atualmente em vigor.
Se tratando de trabalho, comecei assim como todos, estagiando
na musculação em academias de 2012 até 2016 e dando algumas
consultorias já. No fim de 2016 eu pedi meu desligamento e
prometi a mim mesmo que nunca mais seria professor de sala,
decidindo pular do abismo e aprender a voar enquanto caía.
Consegui focar na consultoria e formado em 2017 comecei a
trabalhar com alguns alunos de treino presencial. De lá para cá,
muito estudo, inclusive passando pelo BOPE do professor Eder
Lima, e muito trabalho, mas nada que me alavancasse ao nível
que desejava, muito por culpa minha por ser inconsistente no
trabalho das redes sociais, mas conseguindo viver relativamente
bem. Competindo e trabalhando, consegui diversos títulos no
fisiculturismo, inclusive a nível nacional conseguindo 4 troféus
em 2019, desde vice campeão no estadual, no sul brasileiro, até
um top 3 no brasileiro.
Em 2020, a pandemia chegou para abalar a nossa sociedade e foi
o que considero o ponto de virada, pois me vi sem poder atender
meus alunos de personal que me traziam uma boa renda e com
o menor número de alunos que já tive na consultoria online por
estar me dedicando mais aos personais. Nesse momento a chave
virou, e ali caí de cabeça como nunca nos estudos e me dediquei
de coração ao trabalho no mundo digital com uma consistência
que nunca antes tive. Estava cansado de saber que era um
profissional acima da média, reconhecido por aqueles próximos
a mim, mas que era um anônimo ainda no mundo. Com muito
trabalho consegui mudar isso.
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Prefácio
Com o destaque que comecei a ter, as pessoas começaram a me
pedir cursos e material de estudo. Então com isso tive a ideia de
desenvolver esse ebook que vai ser um dos melhores guias para
você na hora da estruturação e prescrição do treino. A promessa
é trazer um material que mude completamente a forma como
você lida com o treinamento e que assim possa te elevar a outro
patamar dentro da academia.
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Capítulos
1) Adaptações ao treinamento.......................7
- Aspectos anatômicos e funcionais
- A fundo na hipertrofia
- Mecanismos da hipertrofia
- Relação força velocidade
- As microlesões.
2) As variáveis do treinamento.....................47
- Frequência
- Volume
- Intensidade
- Cadencia
- Descanso
- Ordem dos exercícios
- Intensidade de esforço
4) Periodização de treinamento...................97
- Por que periodizar? Qual o seu conceito?
- A periodização crescente de volume
- A periodização linear clássica
- A periodização linear reversa.
-A periodização ondulatória.
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5) Seleção de exercícios................................109
- Aspectos a considerar na seleção de exercícios.
- Aspectos musculo a musculo.
7) Referencias...............................................143
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CAPÍTULO 1 -
ADAPTAÇÕES AO TREINAMENTO
E MECANISMOS DA HIPERTROFIA
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1.1 ANATOMIA FUNCIONAL BÁSICA
Começando do começo, para entendermos melhor a hipertrofia,
precisamos antes conhecer melhor o que compõe
anatomicamente a grande estrutura funcional que são os
músculos.
Estrutura Muscular
A estrutura muscular é inicialmente composta por camadas de
tecido conjuntivo que a revestem, sendo a primeira delas, aquela
que envolve todo o músculo, o epimísio. Dentro desse epimísio
existem diversos feixes de fibras musculares conhecidos como
fascículo revestidos por outra camada de tecido conjuntivo
conhecido como perimísio, e dentro desse fascículo ficam as
fibras individuais que são cobertas pelo endomísio. As fibras
musculares são compostas de centenas a milhares de miofibrilas
e cada miofibrila é composta por sarcômeros e dentro desses
sarcômeros ficam os componentes responsáveis pela contração
muscular, a actina e a miosina que compõem 50% de toda
proteína dentro da célula muscular e que interagem para gerar o
movimento de contração, além de alguns outros componentes
como a titina, a nebulina, a troponina e a tropomiosina. O
número de fibras musculares varia que compõem um musculo
varia de centenas até milhões, dependendo do tamanho do
mesmo. Pelo fato do musculo esquelético ser composto de
diversos núcleos, ele consegue realizar síntese proteicas e com
isso crescer de tamanho.
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Unidades motoras
As unidades motoras são compostas pelos moto neurônios e são as
continuações do sistema nervoso central responsáveis por
conduzir o estímulo contrátil até a musculatura. As unidades
motoras variam em número de fibras e em tamanho de fibras ao
qual cada uma enerva. As unidades motoras de baixo limiar
enervam menos e menores fibras musculares, comumente
enervando mais fibras do tipo I, enquanto as unidades motoras
de alto limiar enervam mais e maiores fibras musculares,
predominantemente as fibras do tipo II. Ainda há diversos tipos
de unidades motoras intermediárias como as de médio limiar
que ficariam no meio termo entre as de baixo e de alto limiar.
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O recrutamento das unidades motoras segue o conhecido
princípio de tamanho de Henneman, aonde quanto maior for o
grau de esforço e necessidade de produzir força, maior será a
quantidade e o limiar de unidades motoras sendo acionadas.
Com isso, não se consegue acionar as unidades motoras de alto
limiar sem acionar as de baixo, enquanto o oposto é possível.
Assim sendo, unidades motoras de alto limiar não serão
acionadas para tarefas do dia a dia, ficando essa função a cargo
das unidades motoras de baixo limiar. Modalidades esportivas
de baixa intensidade também não são capazes de trazer o
acionamento das unidades motoras de alto limiar. Apenas duas
situações são capazes de acionar as unidades motoras de alto
limiar:
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as unidades motoras de alto limiar serão acionadas desde o
começo da série.
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Fibras musculares e seus tipos
Os músculos não são compostos de fibras musculares apenas de
um tipo, mas sim de vários, e ainda dentro disso cada indivíduo
irá ter uma predominância maior de fibras musculares em cada
musculo, podendo ter uma composição bem diferente em
músculos diferentes.
As fibras musculares são categorizadas principalmente de duas
formas: Fibras musculares do tipo I e Fibras musculares do tipo
II, ou fibras musculares de contração lenta e fibras musculares
de contração rápida, ou ainda fibras musculares vermelhas e
fibras musculares brancas.
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têm uma capacidade de produzir força muito maior do que as
do tipo I, porém dadas suas características, elas tendem a entrar
em fadiga rapidamente e assim não tem uma grande capacidade
de atuar em atividades que exijam resistência, além disso elas são
mais sensíveis ao dano muscular do que as fibras do tipo I.
Alguns especialistas apontam para que as fibras musculares do
tipo II sejam mais responsivas a hipertrofia do que as fibras do
tipo I, segundo estudo de Adam de 2012, a resposta hipertrófica
das fibras do tipo II é 50% maior do que as do tipo I.
Porém não se assume que isso seja de todo modo verdade hoje.
Segundo dois estudos de Bjornsen de 2019 e um de Jakobsgaard
de 2018, encontraram que o método de restrição do fluxo
sanguíneo tem uma hipertrofia maior das fibras do tipo I, e em
estudos que comparou esse método com o treino tradicional
(com foco nas fibras do tipo II), encontraram aumento similar
do volume muscular.
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É possível saber a composição de fibras em nosso corpo?
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Adaptações do corpo ao treinamento
Quando se iniciam os trabalhos com o treinamento resistido, o
corpo começa a passar por diversas adaptações que irão fornecer
um ambiente mais adequado para a produção de força, desde
aspectos musculares até aspectos neurais.
Dos neurais, podemos começar citando o direcionamento
neural. É bem comum ver iniciantes realizando movimentos
sem nenhuma sincronia e fora de ordem. Inicialmente o
estimulo motor não chega adequadamente como deveria ao
musculo, tanto que inúmeros estudos apontam que a ativação
muscular vai aumentando com o passar do tempo, sendo
reduzida nas primeiras sessões de treinamento. Outra adaptação
neural se dá pelo aumento da capacidade de ativação das
unidades motoras de alto limiar, assim potencializando o
aumento da força gerada pelo musculo.
Dentro das adaptações neurais, também se fala a respeito da
melhora da sincronização da ativação das unidades motoras, ou
seja, com o passar do tempo se tornará cada vez mais fácil para
que o disparo contrátil ocorra de forma sincronizada em um
grande número de unidades motoras, fazendo assim com que
mais fibras produzam força juntas.
Por último, citaremos aqui como adaptação neural a redução da
coativação dos músculos antagônicos. Se um musculo
antagônico se ativa em conjunto do agonista, ele tende a agir
como um freio na produção de força e velocidade de contração
do agonista. Embora seja normal que essa coativação ocorra,
com o tempo a ativação do musculo antagonista vai se tornando
cada vez menor e assim reduzindo a interferência na produção
de força do musculo agonista.
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1.2 A HIPERTROFIA
Talvez aqui começamos a entrar na parte mais esperada de todas.
Por vezes muitas vezes você sabe o que algo é, mas que quando
deve colocar em palavras, isso se torna uma tarefa extremamente
árdua. Justamente é o que ocorre com a hipertrofia! Muita gente
compreende o conceito e sabe o que ela significa, mas agora
explicar? Aí ficou difícil.
A hipertrofia é irmã do anabolismo e assim sendo oposta ao
catabolismo. Diariamente vivemos um processo de perda e de
ganho e no fim do dia é o saldo final que definirá se
anabolizamos e tivemos hipertrofia ou se catabolizamos e
perdemos massa muscular.
A hipertrofia como nós a conhecemos e buscamos é o aumento
do tamanho do volume muscular através do incremento de
proteínas em seus componentes. Esse aumento de proteínas
intracelulares faz com que a matriz extra celular também
aumente para dar suporte ao aumento de proteínas contráteis,
sendo sempre uma relação proporcional.
Quando ocorre uma sobrecarga que gere tensão na musculatura,
ocorrem perturbações na estrutura muscular que acabam por
gerar uma cascata de reações que irão sinalizar para que ocorra
a síntese proteica e assim aumente o conteúdo de proteínas
contráteis dentro desse musculo, processo esse conhecido como
mecanotransdução, que é quando estímulo mecânicos são
traduzidos em reações bioquímicas.
A hipertrofia ocorre por duas formas, podendo ser uma
hipertrofia em série ou então uma hipertrofia em paralelo.
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Quando a hipertrofia é em paralelo, significa que o musculo
cresceu ao longo de sua largura, sendo essa forma de hipertrofia
aquela que compõem a maior parte dos ganhos de massa
muscular na musculação tradicional e esta associada a quase
todos os estímulos contráteis quando ocorre um ciclo de
encurtamento e alongamento que gerem tensão na musculatura.
A hipertrofia em série é quando sarcômeros são adicionados no
comprimento de um musculo, porém, essa forma de hipertrofia
é mais limitada porque ela só terá espaço para crescer até a
junção miotendínea, que é onde as células musculares começam
a se mesclar com células tendinosas. Esse aumento do
comprimento muscular já foi encontrado em diversas formas de
trabalho diferentes. Comumente ele ocorre quando o musculo
precisa se adaptar a um novo comprimento de trabalho, sendo
normal vê-la acontecendo como consequência do trabalho de
alongamento, da tensão em longas amplitudes de movimento,
do treinamento excêntrico e da tensão com um musculo
alongado. A hipertrofia em série costuma acontecer também
quando um indivíduo destreinado começa a treinar de forma
adequada. Também existe um estudo que encontrou ganhos de
hipertrofia em série da panturrilha ao realizar a esteira com
inclinação.
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A hipertrofia não é um processo homogêneo
Antigamente, quando comecei a treinar, muitos acreditavam que
a hipertrofia das fibras de um musculo ocorria como um todo,
ou seja, se eu estou ativando aquela direção de fibras, elas vão
crescer de maneira igual da sua origem até a sua inserção. Porém
essa teoria vai de encontro a um corpo gigantesco de estudos
que mostram que a ativação muscular ocorre de forma diferente
possivelmente devido a uma compartimentalização dos
estímulos motores nas fibras musculares, ou seja, eu posso ter
uma maior ativação em regiões diferentes da musculatura
dependendo do gesto motor executado, além disso, também há
um grande corpo de evidencias surgindo mostrando diferente
hipertrofia ao longo do musculo dependendo do exercício e tipo
de ação executada, podendo se ter mais hipertrofia proximal,
medial e distal. Além disso, é possível ter hipertrofia de forma
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diferenciada nas diferentes porções/cabeças de um mesmo
musculo
A região mais ativada pela musculatura esta diretamente ligada
com a região que mais sofrerá hipertrofia, como mostrado em
um estudo de Wakahara de 2012, que encontrou que a região do
tríceps que mais hipertrofiou foi justamente a região que mais
teve ativação muscular. Outros estudos, como o de Escamilla
também apontam para essa direção, aonde se encontrou que o
reto femural tem uma ativação muito maior na cadeira extensora
do que no agachamento e consequentemente sua hipertrofia é
maior no primeiro do que no segundo, quando analisamos os
estudos de Kubo de 2019 que não encontrou hipertrofia de reto
femural no agachamento, e analisamos o estudo de Maeo de
2018 que encontrou hipertrofia maior no reto femural na cadeira
extensora do que dos demais músculos, conseguimos dar mais
suporte a esse apontamento. No caso citado do quadríceps, o
trabalho de reto femural está relacionado com sua característica
bi articular, sendo um musculo que atua tanto na região do
quadril fazendo a flexão do mesmo e no joelho fazendo a
extensão, sendo assim em exercícios como o agachamento
aonde temos extensão do quadril, alongando a porção proximal,
e extensão do joelho, encurtando a distal, a capacidade desse
musculo de produzir força nesses exercícios é reduzida pois o
seu comprimento total mal se altera.
Um caso parecido que podemos citar aqui é também do tríceps
braquial, aonde sua cabeça longa é bi articular enquanto as
demais são mono articulares, e em um estudo de Brandão de
2020 foi encontrado que a quando se realizava supino reto, a
porção longa do tríceps não sofria hipertrofia. Ela só
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demonstrou hipertrofia quando um exercício isolado (tríceps
testa) foi incorporado no treino.
Já em se tratando de hipertrofia proximal, medial e distal, a
maioria dos estudos com o treinamento excêntrico apontam
mais hipertrofia distal do que proximal como nos estudos de
Valamatos de 2018, Higbie de 1996 e Franchi de 2014 , porém
no treinamento tradicional ainda não se tem muito consenso
científico, com alguns estudos apontando resultados diferentes
como o de Ema R. 2013 que apontou maior hipertrofia distal,
enquanto os de Wakahara de 2013 e Hisaeda de 1996 que
apontam maior hipertrofia medial.
Pela divergência de resultados nos estudos sobre o treinamento
tradicional, podemos teorizar sobre diferentes aspectos que
influenciam a hipertrofia regional, como a cadeia cinética na qual
é executada, sobre o comprimento do musculo no pico de
torque, a ação ser mais proximal ou distal a articulação
envolvida.
Como exemplos podemos citar a diferença entre exercícios
como agachamento e elevação de quadril, aonde um tem o
torque máximo como o musculo alongado e o outro com o
musculo encurtado. Em outros grupamentos podemos citar o
supino reto e o voador na máquina que seguem o mesmo
preceito, aonde o supino terá um pico de torque em
alongamento e o voador terá um torque continuo, fornecendo
também bom torque com o musculo encurtado. Com isso se
especula que esses exercícios com torque em alongamento
trazem uma melhor hipertrofia para a porção distal enquanto o
torque em encurtamento enfoca a porção médio/proximal.
Quando se relaciona a articulação envolvida, vemos que em
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músculos bi articulares como os isquiotibiais, temos uma
ativação maior da porção proximal em exercícios como o stiff e
em exercícios como a mesa flexora a ativação maior é distal,
como mostrado em um estudo de Schoenfeld de 2015, e como
dito anteriormente, a ativação vai se correlacionar com a
hipertrofia local.
Em um estudo que tive acesso e que ainda não foi publicado que
mediu a hipertrofia regional do bíceps utilizando uma amplitude
máxima ou uma amplitude mais curta, a hipertrofia no geral foi
maior para a hipertrofia maior, porém a maior diferença foi na
porção distal que teve uma hipertrofia 5x maior (13,7% x 2,7%).
Fatores que podem causar a diferença na hipertrofia
Dos motivos que podem ser os causadores das diferenças na
hipertrofia regional, além da compartimentalização que muda a
ativação muscular ao longo das fibras, temos também diferenças
nas das adaptações da arquitetura das regiões dentro do
musculo, por exemplo, temos variados ângulos de penações
dentro da musculatura, algo que contribui com a vantagem
mecânica e potencial de gerar força dessas regiões, então com
isso as regiões que estiverem em menor desvantagem mecânica
serão aquelas que terão que fazer mais força para sustentar ou
produzir o movimento. Também podemos citar aqui que dentro
do musculo mesmo podemos ter regiões que estão com seus
sarcômeros mais encurtados e outras com seus sarcômeros mais
alongados dentro da mesma angulação articular, algo que
impacta diretamente a produção de força por mudar a posição
desse sarcômero dentro da curva comprimento tensão, e assim
também aumentando ou reduzindo a tensão passiva que o
mesmo experiencia, algo que pode contribuir para a hipertrofia
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pelo aumento da tensão mecânica total. Muitos desses fatores
que permeiam a hipertrofia regional são apontado de forma
brilhante em uma revisão sistemática de Zabaleta-Korta de 2020.
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Diferenças na hipertrofia do conteúdo muscular
Dentro das fibras musculares temos uma divisão funcional do
conteúdo em 2 componentes: O componente miofibrilar e o
componente sarcoplasmático. Cada um deles tem seu papel
específico e ambos aumentam de tamanho, ou seja, são
responsáveis pela hipertrofia geral da musculatura. A área do
treinamento por muito tempo especulou se era possível
selecionar a hipertrofia de um deles através de diferentes
técnicas de treinamento, se era possível ter uma hipertrofia
predominantemente do sarcoplasma ou uma hipertrofia
predominantemente das miofibrilas, porém até hoje a ciência
não conseguiu comprovar que ambos ocorram de forma
dissociada, mas sim que a hipertrofia sarcoplasmática ocorre em
proporção com a hipertrofia miofibrilar como forma de dar
sustentação a mesma.
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A hipertrofia miofibrilar
A hipertrofia miofibrilar é composta pelo aumento no numero
e tamanho das proteínas que são responsáveis por realizar a
contração muscular, a actina e a miosina, além das demais
proteínas do complexo contrátil como a troponina,
tropomiosina, proteínas da linha z, proteínas da linha m, titina,
nebulina e outras, sendo por isso também conhecida como
hipertrofia dos componentes contráteis. Essa hipertrofia é tida
como funcional, porque aumenta a capacidade do musculo de
gerar força. Inúmeros teóricos especulam que formas de
treinamento que usam maior sobrecarga, menos repetições e
maior tempo de descanso, causam um aumento predominante
desse conteúdo, embora até então não se tenha uma
comprovação científica desse tipo de abordagem para essa
predominância hipertrófica, faltam estudos que se aprofundem
muito no tema.
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energética, e além disso, o próprio aumento do volume muscular
possibilita um aumento da capacidade de estocar glicogênio. Se
teoriza que a hipertrofia predominantemente sarcoplasmática
não traz consigo aumento da capacidade de gerar força do
musculo, mas sim aumento da capacidade de permanecer
trabalhando por mais tempo devido ao maior estoque
energético. Também se hipotetiza que o treinamento com cargas
mais leves, mais repetições, menos descanso e mais estresse
metabólico acaba promovendo uma hipertrofia maior desse
componente, porém é apenas algo especulativo até então.
Segundo Roberts e Haun 2020, de uma perspectiva molecular,
75% do conteúdo muscular é feito por água, 10 a 15% por
proteínas miofibrilares e 5% proteínas sarcoplasmáticas.
Porém de um ponto de vista espacial, a maior parte da fibra
muscular é ocupada pelas proteínas miofibrilares, chegando a
85% do espaço intracelular, sendo o resto do espaço ocupado
por mitocôndrias (entre 5 e 6%) e sarcoplasma (9%).
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Hiperplasia e não hipertrofia
A hipertrofia não é o único processo pelo qual o musculo pode
aumentar de tamanho. Existe um processo conhecido como
hiperplasia e que também pode cooperar para o aumento do
volume muscular. A hipertrofia é quando aumentamos o volume
dentro da fibra muscular, já o processo de hiperplasia é quando
aumentamos o número de fibras musculares.
A base para a hipótese de hiperplasia em humanos deriva de
alguns estudos em animais, mais especificamente em pássaros,
como o de Alway de 1990, que testaram manter um peso de 10%
do peso corporal do pássaro amarrado em uma de suas asas por
5 a 7 dias, e o que se encontrou foi um aumento de 27% no
número de fibras quando comparada a asa sem peso. Já em outro
estudo, agora de Antonio J. de 1993, foi testado usar uma carga
de 35% do peso corporal do pássaro por um período de 28 dias,
com breves períodos sem peso nesse tempo, e ao fim foi
encontrado um aumento de 82% no total de fibras musculares
nessa asa.
Ao que parece, quando a fibra muscular atinge um tamanho
muito grande, para evitar que esse crescimento se torne
insustentável e crítico para sua funcionalidade, novas fibras são
criadas.
Porém quando testado em humanos, os resultados se tornam
inconsistentes como apontado até em meta análise de Kelley de
1996. Então quando se fala em hiperplasia em humanos, não
temos ainda uma certeza absoluta, pois por exemplo, em um
estudo de MacDougall de 1984 que comparou a quantidade de
fibras de pessoas destreinadas e bodybuilders, a quantidade de
fibras entre eles era bem parecida, então possivelmente se a
hiperplasia contribui para o aumento do volume muscular em
humanos, essa é uma contribuição pequena. Dificilmente
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humanos hipertrofiariam as fibras musculares de forma comum
com o treino ao ponto do volume se tornar critico para sua
funcionalidade, mas existe uma hipótese de que isso possa ser
possível com o uso de esteroides.
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1.3 AS VIAS HIPERTRÓFICAS
Agora que já entendemos melhor sobre as adaptações ao
treinamento e agora que entendemos melhor o que realmente é
a hipertrofia, está na hora de entendermos o que desencadeia o
processo de aumento da massa muscular. Ok, a musculação
causa hipertrofia, assim como possivelmente alongamentos e
outras modalidades esportivas. Mas como especificamente o
processo se desenrola? Quais são as vias pelas quais se resulta o
aumento do volume muscular?
Quando comecei a treinar, ouvia apenas falar sobre o dano
muscular, que o musculo acabava “rasgando” no treino e aí as
proteínas se depositavam nesse rasgo e assim o musculo
aumentava de tamanho... Mas será que é isso mesmo?
A ciência vive em constante atualização e busca cada vez mais
se aprofundar nas suas áreas de estudo e hoje acreditamos que a
hipertrofia é ativada por 3 mecanismos principais: A tensão
mecânica, o estresse metabólico e o dano muscular.
Todos esses mecanismos sempre ocorrem em conjunto! É
IMPOSSÍVEL dissociar totalmente um do outro e isolar os seus
efeitos sobre o ganho de massa muscular, porém ao que tudo
indica a tensão mecânica parece ser o principal motivador da
hipertrofia, enquanto o dano muscular é tido apenas como uma
possível consequência segundo algumas alas da pesquisa atual,
como bem apontado em Damas 2017.
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A tensão mecânica e a hipertrofia
A tensão mecânica é o que temos hoje como a principal via
hipertrófica, sendo descrita como a força primária da resposta
hipertrófica na musculação. E o que exatamente é a tensão
mecânica? Podemos defini-la como a força aplicada em uma
determinada área sobre a qual age.
Já sabemos que a tensão mecânica por si só é capaz de ativar a
via AKT/mTor, que é a principal via pelos quais os processos
hipertróficos ocorrem.
Nossos músculos tem estruturas proprioceptivas denominadas
de mecanoceptores, que são responsáveis por detectar a tensão
mecânica, e esses mecanoceptores são sensíveis a magnitude da
carga/força que está sendo aplicada no musculo e também são
sensíveis ao tempo sob tensão (TUT) pelo qual essa força é
aplicada, e é com base nisso que ocorrem muitas más
interpretações. O tempo sob tensão necessita de uma boa
magnitude de carga para gerar uma alta tensão mecânica, ou seja,
o que impacta a hipertrofia é o tempo sob máxima tensão, e
não só o tempo sob tensão. Se assim fosse, veríamos hipertrofia
significativa nos estudos que usam baixíssimas sobrecargas, algo
que não acontece.
Além disso, os mecanoceptores são sensíveis ao tipo de tensão
que é imposta, podendo ser ela uma tensão induzida por
alongamento que leva a hipertrofia em série pela adição de
sarcômeros de forma longitudinal, ou também sendo sensíveis a
contrações musculares dinâmicas, que levam a um aumento da
hipertrofia em paralelo pela adição de sarcômeros lado a lado.
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Figura 2 O estímulo mecânico
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Figura 3 As vias da hipertrofia
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movimento é feito lento de maneira voluntária, isso acaba por
sinalizar um baixo grau de esforço e consequente uma baixa
ativação de unidades motoras, ativando apenas as de baixo
limiar, com isso tenho poucas fibras musculares projetando sua
máxima força.
Porém quando o movimento é realizado de forma lenta aliado a
um alto grau de esforço, ou seja, o movimento é lento devido a
sobrecarga limitar a velocidade do movimento, aí sim temos a
solicitação das unidades motoras de alto limiar em conjunto da
máxima formação de pontes cruzadas, fazendo assim um
cenário ideal para a máxima tensão mecânica. Esse ambiente não
ocorre apenas em uma carga com sobrecarga alta, mas também
nas últimas repetições de uma série com carga moderada levada
até a falha ou próximo dela.
Lembrando do conceito da tensão mecânica, cada uma das fibras
musculares experimenta a tensão mecânica de forma individual,
assim quando eu consigo ter a máxima tensão na maioria das
fibras, a tensão mecânica no músculo inteiro é alta e isso resulta
no máximo sinal de mecanotransdução.
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O estresse metabólico e a hipertrofia
Sabe aquela sensação de queimação que sentimos no
treinamento e que muitos denominam erroneamente como o
ácido lático? Pois é, esse é basicamente o estresse metabólico
dando as caras, a nossa segunda via que desencadeia a hipertrofia
através do treinamento. Temos evidencias suficientes para
apontar para a contribuição do mesmo, além de diversos estudos
com Blood Flow Restriction, uma forma de treino que enfoca
totalmente o estresse metabólico, utilizando de uma baixa carga
e gerando um dano muscular bem baixo, e mesmo assim
promovendo respostas hipertróficas muito boas.
O estresse metabólico se dá pelo acumulo de subprodutos do
metabolismo energético da contração muscular sustentada por
períodos suficientes, sendo eles o lactato, fosfato inorgânico, o
hidrogênio, além de diversos outros (ao menos 4 mil). Ou seja,
quando um estímulo vai além da via atp-cp e entra na via
glicolítica, como por exemplo no treino com mais repetições,
técnicas avançadas ou no treino com baixo intervalo que não
permite a adequada ressíntese de atp, assim contribuindo
diretamente para a fadiga periférica.
Estudos que investigaram o aumento do lactato encontraram
que temos um aumento significativo em séries de 12 repetições
até a falha, que durem entre 30 e 40s, algo bem diferente do visto
em séries com intensidades acima de 90%RM que duram menos
do que 10s. Isso acontece justamente pelas diferenças
metabólicas, aonde a série com alta carga não chega a demandar
o uso do metabolismo glicolítico.
Outro ponto bem interessante de comentar é que séries mais
prolongadas acabam causando um ambiente de hipóxia e
subsequente maior acumulo metabólico devido a vasoconstrição
e isquemia que ocorre durante a contração muscular.
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Segundo alguns estudos em animais, o lactato parece ter alguma
ação direta na hipertrofia, porém estudos em humanos não
encontraram ainda os mesmos resultados, então ainda se é
inconclusivo afirmar sobre isso. O lactato demonstra inibir a
ativação de um regulador negativo do crescimento muscular
chamado de Histona deacetilase, sendo possivelmente esse um
dos mecanismos pelos quais ele contribui diretamente para a
hipertrofia.
Além do acumulo de metabólitos, diversos outros mecanismos
são supostos de contribuir para a hipertrofia através do estresse
metabólico além, dentre eles o aumento no recrutamento das
fibras muscular, o inchaço celular e a produção de miocinas.
RODRIGO L . H. SILVA 34
fazendo com que outras fibras sejam recrutadas para continuar
a ter o movimento.
Por muito tempo se observou que associado ao maior estresse
metabólico, também se tem uma resposta aguda aumentada a
liberação hormonal, porém esse aumento agudo não se
correlaciona diretamente com a hipertrofia. Basta observamos
também um pouquinho da prática... o uso isolado de GH não é
suficiente para promover ganhos de massa muscular.
O estresse metabólico parece promover alterações também das
miocinas, aumentando a expressão daquelas que promovem
hipertrofia e reduzindo daquelas que promovem o catabolismo,
porém os estudos a respeito do tema são bem conflitantes ainda.
Por último temos o nosso inchaço celular, o amado pump
muscular. Em estudo de 2014, Schoenfeld explorou muitos dos
mecanismos pelos quais o pump pode potencializar a
hipertrofia. O treinamento resistido promove alterações do
balanço hídrico intra e extra celular. Através das contrações
intensas, as veias que levam o sangue para fora do musculo são
comprimidas enquanto as artérias continuam entregando sangue
para o musculo, fazendo assim com que ocorra um aumento do
plasma sanguíneo intramuscular. Esse plasma intramuscular
força seu espaço pelo interstício, que aumenta a pressão intra
celular que faz com que flua novamente para o musculo e ali
fique pela falta de drenagem das veias. O máximo pump é obtido
no treinamento resistido com repetições moderadas a altas, pois
também os subprodutos metabólicos lactato e fosfato
inorgânico agem como moléculas osmolitas que ajudam a
aumentar o fluído intracelular. O pump muscular parece
contribuir para a hipertrofia por diferentes maneiras.
RODRIGO L . H. SILVA 35
A primeira é que o aumento da hidratação celular modula o
balanço proteico, aumentando a deposição e síntese proteica e
reduzindo a degradação proteica.
A segunda maneira que se hipotetiza é que o inchaço celular
estimula a hipertrofia como forma de preservação da célula, pois
o aumento da pressão intracelular aumenta a pressão exercida na
membrana celular, algo que pode ser percebido como uma certa
ameaça podendo levar ao rompimento dessa célula, que acaba
por desencadear um aumento da síntese proteica local visando
reforçar a ultraestrutura celular.
A terceira maneira é pelo aumento da ativação das células
satélite, porém essa hipótese ainda é especulativa, pois não se
consegue diferenciar o aumento da ativação das células satélite
provindo do pump ou do treinamento resistido por si só.
Além disso, esse aumento da perfusão sanguínea acaba por
aumentar o pool de aminoácidos dentro da célula,
potencialmente potencializando a hipertrofia.
RODRIGO L . H. SILVA 36
Dano muscular e a hipertrofia
Por anos se acreditou que o modelo teórico das microlesões era
o principal processo pelo qual a hipertrofia acontecia, algo que
foi colocado em debate na última década conforme os estudos
sobre a mecanotransdução e o estresse metabólico se
aprofundavam. Porém, antes de mais nada, temos que entender
o que é esse processo de dano muscular, como ele ocorre e quais
são as suas consequências.
O dano muscular ocorre por um processo conhecido como
Exercise induced muscle damage (EIMD), ou seja, dano
muscular induzido pelo exercício. Esse dano muscular é a
somatória de microlesões que podem ocorrer em uma pequena
ou em uma vasta área do tecido, que acometer pequenas
macromoléculas do tecido ou então afetar em larga escala
estruturas como o sarcolema, a lâmina basal, sarcômeros e
citoesqueleto. Sendo esse dano responsável por desencadear
diversos processos que levam a inflamação e com isso levando
ao conhecido processo de dor pós treino (delayed onset muscle
soreness ou DOMS) que tende a ser maior entre 24 e 48h após
a sessão. Associado também a esse dano muscular temos uma
redução na capacidade de gerar força, edema, rigidez muscular e
um estresse fisiológico elevado.
Diversos aspectos modulam o quão severo o dano muscular
será, como o tipo de treinamento, a intensidade, o volume, o
tipo de ação muscular. Em recentes estudos, se encontrou que
que contrações concêntricas e isométricas causam um dano
muscular bem pequeno quando comparado a contrações
excêntricas, muito provavelmente porque as contrações
excêntricas promovem uma tensão de alongamento muito
maior, levando assim aos pequenos “rasgos” estruturais. Outro
ponto interessante a se ressaltar, é que as miofibrilas dentro do
RODRIGO L . H. SILVA 37
musculo tem diferentes comprimentos, fazendo assim com que
algumas miofibrilas sejam excessivamente alongadas em
determinadas angulações de trabalho. Além da tensão
promovida pela sobrecarga, se hipotetiza que existam mais
mecanismos que acabem por causar o dano muscular, pois o
dano fosse apenas resultado da tensão, não encontraríamos dano
muscular altíssimo em praticantes de outras modalidades
esportivas que tem um trabalho em menores intensidades e que
não trabalhem com sobrecarga, como por exemplo o caso de
maratonistas, jogadores de futebol e outros atletas de
modalidades aeróbias que exibem um dano muscular até maior
do que de fisiculturistas. Com isso, se teoriza que o acumulo de
cálcio intracelular e neutrófilos inflamatórios causados por uma
repetida atividade contrátil acabe por ser outra forma de
agressão que ocorre no interior da fibra muscular. Com isso ao
que parece, o dano muscular é uma consequência da interação
da tensão mecânica em conjunto de alguns metabólitos
provenientes de contrações sustentadas.
Já foi observado que o dano muscular é maior na primeira vez
em que o musculo é o musculo é exposto a uma atividade nova,
como por exemplo a primeira vez que você entrou na academia
e ficou extremamente dolorido nos dias seguintes, ou então toda
vez que você troca de treino e sente novamente algum grau de
dor muscular, ou então mesmo sendo altamente treinado(a) e
você decide fazer 30 minutos de escadaria, algo que não fazia, e
fica extremamente dolorido nos próximos dias. Porém com a
exposição repetida a atividade, o dano muscular reduz bastante
devido a uma adaptação e fortalecimento do tecido conjuntivo
e remodelação celular. Esse processo é conhecido como
Repeated Bout Effect (Efeito de ataque repetido).
Em um estudo de Foley de 1999, foi encontrado que já na
segunda vez em que o treinamento acontece, o dano muscular é
RODRIGO L . H. SILVA 38
reduzido para 1/3, enquanto em um estudo de Chen de 2019, se
encontrou que mesmo com o espaço de 2 semanas entre uma
sessão de treino e outra, o dano muscular na segunda sessão já
seria bem reduzido.
Muito da base teórica que se dá por trás da associação das
microlesões com a hipertrofia, se dá pelo fato de que o dano
muscular causa um aumento da síntese proteica, e ainda por
cima se especulava que a inflamação e o turnover proteico que
ocorrem por causa do dano muscular são processos necessários
para que o musculo cresça, porém embora se tenha essa
associação, a mesma não indica causalidade. Casualidade e
causalidade não são a mesma coisa. A casualidade se dá quando
os dois eventos ocorrem em conjunto, enquanto a causalidade
se dá porque um evento é o motivador do outro, e isso até então
não foi demonstrado nos trabalhos que investigam o papel do
dano muscular.
Um exemplo dessa associação é que os estudos com o
treinamento excêntrico demonstram níveis mais altos de dano
muscular e hipertrofia do que o treino tradicional, e daí veio o
porquê no cenário da musculação a maioria das pessoas
estabeleceu que o dano muscular era a causa da maior
hipertrofia, porém é o efeito de casualidade e não causalidade.
Um estudo recente e que vem ganhando os holofotes é de um
brasileiro, Felipe Damas de 2016. Em seu estudo foi encontrado
que nas semanas iniciais, o dano muscular é alto assim como a
síntese proteica. Então ao decorrer das semanas o dano
muscular e a síntese proteica reduzem. A síntese proteica
aumentada no início do estudo não tem correlação com um
aumento da hipertrofia, mas sim com a reparação do tecido
muscular apenas, pois esses são processos distintos, sendo a
hipertrofia apresentada apenas nas semanas seguintes mesmo
RODRIGO L . H. SILVA 39
com a síntese proteica atenuada em comparação ao começo, e
isso se deve ao fato de que a síntese proteica que estava
acontecendo na Décima semana ocorria justamente para ser
usada na hipertrofia e não mais tanto direcionada a reparação
como na Primeira semana do estudo. Já em estudo anterior de
2015, Damas havia encontrado que a síntese proteica após a
sessão era muito maior em destreinados do que em treinados,
algo que embasa mais ainda o Repeated Bout Effect. Em outro
estudo ainda de Damas de 2015, foi encontrado que nas
primeiras 3 semanas o aumento do volume muscular está mais
associado ao edema causado pelo dano muscular do que
propriamente pela hipertrofia, só após esse tempo é que a
hipertrofia real começa a dar as caras.
Já em 2018, Damas apresentou um amarrado de todas as
informações coletadas e o gráfico abaixo basicamente resume
tudo que sabemos até então.
Figura 4 Damas 2017, relação entre hipertrofia, dano muscular e síntese proteica.
RODRIGO L . H. SILVA 40
com o passar das semanas a síntese proteica reduz um pouco,
porém a partição dessa síntese proteica do quanto é usado para
fazer a reparação muscular e o quanto é usado para a hipertrofia
começa a se inverter, tendo o início real dos resultados
hipertróficos a partir da terceira semana, resultado que na
décima semana a hipertrofia atinge o seu mais alto nível
enquanto o dano muscular atinge o seu mais baixo nível em
conjunto do quanto da síntese proteica era direcionada para a
reparação.
Não podemos falar que o dano muscular é inútil para a
hipertrofia, até porque ainda não temos todas as respostas, mas
a direção que estamos tendo é de que talvez ele não tenha
mesmo a importância que teve outrora. Outro ponto que vale a
pena lembrar, é que estudos com o Método de Oclusão Vascular
encontraram um dano muscular considerável, como apontado
em um estudo de Wernbom de 2020, mas não ofereceram
hipertrofia maior do que o treinamento tradicional. Quero
deixar um adendo de que alguns estudos apontam que essa
técnica pode ser interessante de ser usada em determinados
quadros com limitações que impeçam o uso de sobrecargas mais
altas, como articulares ou lesões musculo-tendinosas, e também
pode ser usada de maneira inteligente dentro de uma
periodização, porém o ponto a ser apontado agora é sobre o
dano muscular.
RODRIGO L . H. SILVA 41
CAPÍTULO 2 –
AS VARIÁVEIS DO TREINAMENTO.
RODRIGO L . H. SILVA 42
2.1 AS VARIÁVEIS DO TREINAMENTO.
O treino é composto por inúmeras variáveis, desde as quais
podemos contar a intensidade, a ordem dos exercícios, o
intervalo entre as séries, a cadência, a frequência, o número de
séries e o número de repetições.
Todas essas variáveis podem e devem ter uma adequada
manipulação com o decorrer do tempo, pois ficar engessado a
uma única maneira de se treinar irá gerar resultados limitados.
Nosso corpo precisa de uma progressão constante para se
adaptar e se isso não ocorre, a adaptação não vem, por isso o
estímulo pode e deve ser cada vez mais árduo com o passar do
tempo e existem diferentes maneiras de tornar esse estímulo
árduo. Se treino com muita sobrecarga e depois mudo para um
treino com mais repetições, terei um árduo tempo fazendo esse
treino novo até que ocorra a devida adaptação. Fora isso, por
mais que o treino seja “perfeito”, os músculos têm a tendência a
não se desenvolverem de forma linear, então precisamos alterar
o treino com o passar do tempo para garantir um
desenvolvimento mais harmonioso do físico.
RODRIGO L . H. SILVA 43
2.2 FREQUÊNCIA
A frequência de treino se refere a quantas vezes um determinado
musculo é treinado dentro de uma certa escala temporal,
podendo treinar um musculo todo dia, dia sim dia não, 3x na
semana, 1x na semana, 1x a cada 2 semanas... Existem diversas
formas de organizarmos o treinamento dentro de uma
determinada frequência. Podemos treinar um determinado
musculo também 2x em uma semana e 1x na outra e ir assim
alterando com o passar do tempo.
Sim, acredite no que eu falei ali no começo! É possível sim
treinar um musculo todo dia desde que se respeite e equalize o
volume de treino de uma forma condizente com o total semanal.
Se você determinou 30 séries para costas, você pode faze-las 1x
na semana, ou então dividir em 2x de 15 ou 3x10 ou ainda 6x5.
Alguns estudos recentes até nos forneceram provas de que é
possível dividir a sessão de treino de um determinado musculo
em 2x no dia com bons resultados. Então mais uma vez
reforçando, desde que se esteja utilizando um volume de treino
adequado por sessão, não há um limite na frequência.
Mas quanto a hipertrofia? Podemos dizer que existe uma
frequência ideal para os melhores ganhos?
Um estudo de Briggato 2019 analisou 2 grupos, um deles
treinando 16 séries 1x na semana e o outro 8 séries 2x na semana.
Os resultados mostraram hipertrofia estatisticamente igual, mas
a carga interna e volume load no grupo 2x na semana foi maior.
Já um estudo de Ochi 2018 analisou o uso de 6 séries 1x na
semana ou 2 séries 3x na semana e novamente a hipertrofia foi
RODRIGO L . H. SILVA 44
estatisticamente igual, embora o grupo com maior frequência
tenha tido um maior ganho de força.
Por fim, temos uma meta análise de Schoenfeld 2018 que
analisou muitos estudos a respeito do tema frequência. E
novamente temos algo que aponta que a hipertrofia é
semelhante desde que o volume de séries esteja equalizado. Vale
ressaltar que um estudo foi um ponto fora da curva, o estudo de
Zaroni 2018 que encontrou resultados bem superiores na
hipertrofia de braços e coxas quando se treinava 5x na semana
em uma rotina total body se comparado a uma rotina dividida
com braços 2x na semana e coxas 1x na semana.
Como podem ver, existem evidencias de sobra apontando para
o fato de que a frequência de treino, embora tenha alguma
importância na estruturação geral do treino, ela não é nem de
perto o fator principal.
E o que irá determinar a frequência de treino que usarei em um
musculo?
Existem alguns pontos a serem abordados, sendo os principais
o nível de treinamento e o princípio da prioridade.
O nível de treinamento é um fator extremamente importante
pelo fato de que indivíduos iniciantes não tem ainda uma boa
resistência ao dano muscular, então qualquer estimulo forte irá
trazer uma tonelada de dano muscular e subsequente dor. Então
pensando de um ponto de vista recuperativo, pode ser muito
mais interessante você diluir o volume ao longo da semana,
exigindo assim o mínimo possível da capacidade recuperativa
por estar gerando menos dano muscular a cada sessão.
RODRIGO L . H. SILVA 45
Agora quanto ao princípio da prioridade, esse se dá ao fato de
que devemos priorizar aqueles músculos que mais buscamos
desenvolver na prescrição de treino, com isso pode ser
interessante aumentar a frequência de treinamento naqueles
músculos carentes, pois o principal ponto da frequência é ser um
POTENCIALIZADOR DO VOLUME. Dentro da meta
análise do Schoenfeld, foi encontrado que quando se utiliza de
aumentos na frequência para aumentar o volume de
treinamento, os resultados hipertróficos seriam maiores.
Um ponto interessante sobre diluir o volume de treino em mais
sessões é que conseguimos ter um desempenho mais regular ao
longo da sessão de treino.
Como assim?
Quando você começa a treinar, seus estoques energéticos estão
altos e você a fadiga não começou a ser construída, então com
o passar das séries a fadiga central vai se acumulando e
consequentemente o desempenho começa a cair. O número de
repetições vai reduzindo, e a intensidade também, ou seja, se
você fizer um determinado exercício no início da sessão, seu
desempenho nele vai ser muito melhor do que se você fizer esse
mesmo exercício no fim da sessão. Já se diluirmos o treino em
mais sessões, a redução de desempenho nos últimos exercícios
do treino tende a ser menor.
Embora os estudos não apontem para que essa redução de
desempenho faça uma diferença nos resultados, ainda é algo que
deve ser analisado. Mas vale lembrar do seguinte: Com o passar
do tempo treinando com volumes altos em sessão única, a
tendencia é que devido a capacidade adaptativa consigamos
sustentar o desempenho por mais tempo na sessão.
RODRIGO L . H. SILVA 46
Vamos trazer isso para a prática agora?
Com meus alunos quando identifico pontos fracos, as
abordagens iniciais nas minhas prescrições são aumentar volume
e frequência de treinamento. Se o ponto fraco no caso forem os
braços, eu posso colocar algumas séries de bíceps no treino de
costas e algumas séries de tríceps no treino de peitoral, enquanto
tiro um dia específico na semana para treinar os braços em um
volume alto. Essa é basicamente uma estratégia que mescla um
estímulo forte e um estímulo mais fraco na semana visando
aumentar o volume. O mesmo pode ser feito com os deltoides,
treinando anterior e lateral com peitoral, e posterior com costas,
enquanto adiciono um dia exclusivo apenas para deltoides na
semana. Ainda para braços podemos utilizar uma divisão
parecida com a do Cbum, que os treina 3x na semana, fazendo
algumas séries de bíceps com costas, algumas séries de tríceps
com peitoral, algumas séries de bíceps e tríceps com deltoides e
ainda mais um dia exclusivo para braços.
Agora tratando de prescrições pensando nas meninas, é
interessante separar 3 dias na semana para membros inferiores,
aonde você vai compor os dias com os músculos que visa
priorizar. Podemos fazer 1 dia só para glúteos, 1 dia para glúteos
e quadríceps e 1 dia para glúteos e isquiotibiais. Também
podemos fazer 2 dias de quadríceps e glúteos na semana
enquanto fazemos 1 dia focado apenas em isquiotibiais ou vice-
versa. Tudo vai depender da análise individual de cada caso.
RODRIGO L . H. SILVA 47
Treino com foco em deltoides e braços.
Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5
Peito Costas Quadríceps Deltoides Tríceps
AeL
Deltoides Deltoide Posterior Deltoide Bíceps
AeL P P
Tríceps Glúteos Antebraço
RODRIGO L . H. SILVA 48
Treino com foco em glúteos
Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia 4 Dia 5
Glúteos Costas Posterior Deltoides Quadríceps
AeL
Quadríceps Deltoide Glúteos Peito leve Glúteos
leve P
Posterior
leve
Pantu Abs Pantu Abs Pantu
RODRIGO L . H. SILVA 49
2.3 O VOLUME DE TREINAMENTO
Quando se fala em volume de treinamento, existem algumas
correntes cientificas distintas.
Alguns estudos utilizam do famoso Volume load para
contabilizar o volume total do treinamento, aonde o mesmo é
dado através da multiplicação dos seguintes fatores:
Carga x Repetições x Séries
Essa formula resulta no que podemos chamar de tonelagem, ou
volume load, ou volume total.
Alguns estudos utilizam dessa forma de controle de carga para
medir o impacto hipertrófico em diferentes situações de
frequência, carga, intervalo.
Já outra maneira mais fácil de contabilizar o volume de treino se
dá através do número total de séries semanais levadas até
próximo da falha utilizando um limiar de 5 a 30 repetições.
Inclusive esse foi o tema de uma revisão sistemática de Baz Valle
2018 que encontrou resultados consistentes no uso dessa forma
de mensuração do volume como uma ferramenta adequada.
Nessa revisão sistemática eles analisaram diversos estudos que
comparavam diferentes intensidades de treino e seus efeitos na
hipertrofia, e encontraram que desde que o número total de
séries fosse o mesmo, a hipertrofia seria semelhante.
RODRIGO L . H. SILVA 50
O volume de treino é um tema que já foi assunto de diversas
discussões e debates científicos, e não só científicos como
também no meio da musculação aplicada, aonde algumas
referências da área como Arthur Jones, Mike Mentzer e Dorian
Yates defendiam uma vertente de treino que se utilizava de
baixos volumes e esforços sobre-humanos em um número baixo
de séries como a melhor forma de se promover hipertrofia.
Mas bem, sinceramente acredito que essa é uma abordagem que
só será excelente para indivíduos que tem um potencial genético
completamente fora da curva, como os citados anteriormente,
aonde qualquer metodologia de treino iria promover resultados
fora de série.
Do lado contrário, temos uma escola imensa de atletas que se
deram extremamente bem com altíssimos volumes de treino,
como Arnold e a maioria dos atletas da Golden age, Jay Cutler,
Phil Heath, Ramy, Coleman...
Eu mesmo só desenvolvi meus pontos fracos a partir do
momento em que usei volumes altíssimos que nunca usei antes
neles.
Uma máxima que posso lhes afirmar é: Se tratando de
hipertrofia, VOLUME É REI! Inclusive, em estudo de
Figueiredo e de Salles de 2017, é dito que o volume de
treinamento é a variável mais fácil de manipular visando
resultados positivos sobre a hipertrofia.
Mas fora isso, algo que é tema de muito debate na ciência é:
Existe um teto para o volume de treinamento?
RODRIGO L . H. SILVA 51
Em que momento os ganhos de massa muscular não irão mais
aumentar com o aumento no número de séries? Existe um
momento aonde o volume de treinamento começará a promover
um efeito deletério nos ganhos de massa muscular, podendo até
causar a perda da mesma?
Essa é a famosa Curva de “U” invertido.
Pois bem, até o presente momento a ciência não encontrou
aonde fica esse teto, mesmo tendo alguns estudos a respeito do
tema que testaram volumes altíssimos e única coisa que se
encontrou foi uma volume dependência para os ganhos, com
mais volume trazendo mais ganhos de massa muscular. Inclusive
Figueiredo e de Salles comentam em seu estudo de 2017, que
embora possa existir uma curva em “U” invertido, ela
provavelmente tem uma plasticidade muito maior do que antes
se especulava.
Claro, possivelmente existem aspectos individuais que vão
limitar o volume de treino atingível de cada um, mas isso é algo
que deve ser avaliado durante o acompanhamento com o passar
do tempo.
Em um estudo de Schoenfeld 2018, se foi testado volumes
baixos, médios e altos, sendo esse último grupo de até 30 series
para os músculos do braço e 45 séries para quadríceps. O
resultado? Ganhos de massa muscular cada vez maior com o
aumento do volume de treino.
Em outro estudo, agora de Radaelli 2015, se foram testados
volumes de até 30 séries para bíceps e 45 para tríceps,
novamente com resultados bem superiores aos demais grupos.
RODRIGO L . H. SILVA 52
Por último citarei dois estudos que trazem agora outra
informação importante, um de Oliveira-Júnior de 2020 e um de
Briggato de 2019, ambos testaram volumes baixos, médios e
altos, chegando a 32 séries em um estudo e 36 séries no outro,
encontrando novamente uma volume dependência para os
ganhos de massa muscular. Mas o que esse estudo te de diferente
dos demais? Eles têm a curva evolutiva individual, e se foi
encontrado que conforme o volume de treino subia, o número
de indivíduos non responders (aquele com péssima resposta
hipertrófica) diminuía, chegando a ser extinto no grupo de alto
volume.
Máximo volume recuperativo.
Com todas essas informações, acredito que vocês conseguiram
captar a importância de um volume de treinamento adequado
certo? Mas como mencionei anteriormente, existem fatores
individuais a serem levados em conta. Nem todos serão capazes
de suportar volumes elevadíssimos de treinamento. Alguns terão
um limiar de fadiga muito mais baixo e por isso devemos nos
ater a algo que chamamos de Máximo Volume Recuperativo.
E o que seria esse MVR? Seria a o máximo volume que o
indivíduo suporta e que mantenha a recuperação adequada entre
as sessões. E como medimos essa recuperação entre sessões? Se
ainda houver dor muscular e também queda de rendimento de
um treino para o outro, significa que o treino foi além do volume
possível de se recuperar naquele prazo, sendo assim necessário
aumentar o intervalo entre sessões ou reduzir o volume de cada
uma delas.
A queda de desempenho que nos referimos aqui pode ser
medida de duas diferentes formas, sendo o peso total erguido
RODRIGO L . H. SILVA 53
para um determinado número de repetições, ou o contrário, o
número de repetições realizadas para um determinado peso que
está sendo movido.
Por exemplo: Se em um treino você fez supino com 100kg para
10 repetições e no outro fez com 80kg para 10 repetições, ou
então em um treino fez com 100kg para 10 repetições e no outro
fez com 100kg para 5 repetições.
Esses dois exemplos podem ser indícios de um volume
excessivo. Mas temos que lembrar que oscilações de peso/reps
entre 5-10% entre sessões são comuns. O problema é se houver
uma queda de desempenho maior do que essa ou se essa queda
de desempenho ocorrer em diversas sessões seguidas. Se algo
assim estiver acontecendo, fique atento e reveja o treinamento!
RODRIGO L . H. SILVA 54
Quando falamos em volume de treinamento para iniciantes,
podemos trabalhar com algo como 4 a 6 séries por musculo
semanalmente, pois os mesmos terão uma sensibilidade
aumentada a hipertrofia e também terão uma alta suscetibilidade
ao dano muscular.
Quando falamos já em uma pessoa intermediária, podemos subir
esse volume de treino para 6 a 14 séries por grupo muscular,
pois os mesmos precisam de um estimulo mais forte do que os
iniciantes para terem uma ótima resposta ao treinamento.
Já chegando na parte de indivíduos avançados, temos aqueles
indivíduos que já tem uma base muito consolidada no
treinamento, que conseguem realizar os exercícios com uma
ótima forma e são mais resistentes ao estimulo de treino. Com
isso se tratando desses indivíduos recomendamos no mínimo 14
séries por grupo muscular, enquanto o máximo acaba por não
ter um teto estabelecido, pois embora a ciência nos de base para
usar pelo menos 45 séries semanais, ela não encontrou o limite
de volume, sendo assim até possível extrapolar esse número de
séries em indivíduos que tenham uma excelente recuperação e
resposta ao treinamento em altíssimo volume.
Na prática, considero extremamente comum trabalhar entre 22
e 35 séries para indivíduos avançados, tendo até alunas que
realizam 50 séries para glúteo máximo. Então aqui recomendo
que tenha prudência e feeling na avaliação do treinamento para
se manter gerando máximo resultado, sempre avaliando a
performance com o passar das semanas.
RODRIGO L . H. SILVA 55
Como contabilizar as séries
Pois é, eu sei que pode parecer algo extremamente simples, mas
que na prática não vai ser tão simples assim.
Mas o que teria de difícil em contar a série de um exercício?
Em um artigo de Schoenfeld de 2019, ele aponta diversos
aspectos que podem influenciar no nível de tensão e hipertrofia
que um determinado musculo irá experienciar em um
determinado exercício, e quando se trata de exercícios
multiarticulares, é preciso ter um olhar criterioso para avaliar o
quanto de volume de treino deve ser prescrito para cada musculo
envolvido, tanto que diversos aspectos irão influenciar nessa
contagem, como os aspectos cinesiológicos e biomecânicos. Por
exemplo, temos alguns estudos comparativos entre exercícios
compostos e multi articulares e seu efeito na hipertrofia.
Em um estudo de Ogasawra de 2012, mediram a hipertrofia de
tríceps e peitoral no supino reto. A hipertrofia do peitoral foi
mais do que o dobro da hipertrofia do tríceps.
Já em um estudo de Mannarino de 2019 aonde se comparou a
hipertrofia do bíceps no serrote x hipertrofia do bíceps na rosca
direta, a hipertrofia do bíceps no exercício isolado foi o dobro
daquela obtida no exercício multi articular.
Os mesmos resultados foram encontrados em um estudo de
Brandão 2020, que comparou a hipertrofia de tríceps usando
apenas supino, supino + tríceps testa e apenas tríceps testa. O
grupo que usou apenas o supino foi o único que não teve
hipertrofia significativa de tríceps.
RODRIGO L . H. SILVA 56
Bom, acredito que com todos esses apontamentos já podemos
calar a boca daqueles críticos aos exercícios isolados né? Se
tratando dos músculos do braço já temos a comprovação de que
eles são imprescindíveis para aqueles que buscam desenvolver
braços acima da média, e por que o mesmo não poderia se
aplicar a todos os demais músculos, não é mesmo? Pois é.
RODRIGO L . H. SILVA 57
de quadril em exercícios como stiff, extensão no banco,
levantamento terra. Em contrapartida em exercícios unilaterais
como agachamento búlgaro e agachamento unilateral, temos um
grande aumento da ativação glútea devido ao componente de
estabilização de quadril ser mais necessário, enquanto os únicos
exercícios que quase isolam o trabalho glúteo são aqueles como
elevação de quadril, Frog e ademais.
Com isso tudo de informação que foi apresentada sobre trabalho
muscular em exercícios específicos, você ainda consideraria
simples contar séries com maestria? Pois é... Aqui deve entrar a
expertise pessoal e análise exercício por exercício para mensurar
o volume de treino na sessão para um musculo.
Eu particularmente adoto um sistema próximo disso:
2:1 para braços em exercícios compostos em intermediários.
Não contabilizo o volume de compostos para braços em
avançados.
2:1 para glúteos em exercícios com dominância de quadríceps
como agachamento e Leg press.
1:1 para glúteos em exercícios unilaterais ou isolados.
2:1 ou 3:2 para glúteos em exercícios como stiff, extensão 45º.
Esse é o meu sistema atual de contagem de volume para
diferentes músculos. Em se tratando de deltoides, contabilizo
apenas o trabalho isolado e em desenvolvimentos conto
trabalho de anterior e lateral de deltoide.
RODRIGO L . H. SILVA 58
Exemplo de contagem do volume de treino 1
Exercício Séries
Agachamento 4
Agachamento búlgaro 4
Elevação de quadril 4
Cadeira extensora 4
Cadeira abdutora 4
No exemplo podemos contabilizar assim:
Quadríceps 12 séries
Glúteo máximo 10 séries
Glúteo médio 4 séries
RODRIGO L . H. SILVA 59
Exemplo de volume de um atleta focando costas. (40 séries
totais para esse grupamento)
Treino A Sets Treino D Sets
Remada curvada pronada 5 Puxada pronada 5
Remada apoiado neutra halt 5 Puxada c/triangulo 5
Serrote 5 Remada sentado triangulo 5
Remada sentado pronada 5 Pulldown c/corda 5
Facepull 4 Facepull 4
Voador inverso 4 Voador inverso 4
Rosca direta 4 Rosca alternada 4
Rosca scott ez 4 Rosca scott ez 4
RODRIGO L . H. SILVA 60
Treino de uma atleta focado em Glúteos chegando a 47
séries para o Gmáx. Esse é um musculo que facilmente
pode ficar com volumes altíssimos na contagem.
Treino A Sets Treino C Sets
Abdutora 45º 6 Leg press 45º 4
Elevação de quadril 5 Agachamento 4
Lev terra sumo 3 Agachamento bulgaro 4
Extensão banco 45º 3 Abdutora 45º 5
Agachamento bulgaro 3 Abdutora levant incl 6
Mesa flexora 3
Side band walk 3
Bracing tsd
Treino B Sets Treino D Sets
Supra solo + Prancha 5 Supra solo + Prancha 5
Remada curv pronada 3 Desenv barra em pé 4
Serrote 3 Elevação lateral 5
Puxada pronada 4 Desenv c/halteres 4
Puxada triangulo 4 Supino reto c/halt 3
Voador inverso 4 Elevação frontal neutra 3
Triceps testa c/halteres 3
RODRIGO L . H. SILVA 61
2.4 INTENSIDADE
Se você adquiriu esse ebook e me segue algum tempo, talvez já
deva saber, mas é sempre bom reforçar para que não entremos
em erros conceituais aqui!
O que é treinar em alta intensidade?
Treinar em alta intensidade em nada tem a ver com usar
descansos curtos, usar diversas técnicas avançadas, treinar para
sentir queimar e romper as barreiras da dor, em nada tem a ver
com ficar suado e se sentir cansado pelo treino não deixar seus
BPM abaixarem. Isso tudo na verdade é o OPOSTO de treinar
em alta intensidade.
Intensidade é CARGA, PESO, CHUMBO, FERRO! Ok?!
Intensidade não é se sentir cansado.
Se sentir cansado tem a ver com sua PSE, sua percepção
subjetiva de esforço, ou então com o que alguns chamam de
intensidade RELATIVA.
Quando você descansa pouco, e usa mil técnicas,
automaticamente a carga que você utiliza naquele determinado
exercício será muito menor do que se você descansasse mais e
realizasse o exercício de forma mais simples.
Vale lembrar que intensidade também pode ser confundida com
DENSIDADE. A densidade se refere a concentração do
volume load em uma escala temporal. Quanto mais denso o
treino, maior o volume load será em um menor tempo, mas
novamente repetindo, isso não é intensidade!
RODRIGO L . H. SILVA 62
A intensidade referida no treinamento pode ser feita de duas
formas: Podemos delimitar %1RM ou então utilizarmos faixas
fixas de Repetições Máximas.
E o que é o %1RM?
1RM é o peso máximo que você utiliza para fazer apenas uma
repetição, podendo ser tido como 100%RM.
Com isso, vários estudos se baseiam em faixas percentuais para
a prescrição do treino e mensuração da intensidade. Por
exemplo, fazendo o teste para aferir QUAL é o 100%RM e
então prescrever o treino em faixas como 40, 60, 80% do peso
utilizado nesse teste e realizar o máximo número de repetições
para essa faixa de peso. Em teoria existe uma faixa média de
repetições para cada % escolhido. Por exemplo, a faixa de
80%RM equivale a uma média de 8 repetições enquanto
60%RM equivale a 15 repetições.
O problema maior da prescrição através de %RM é que existem
inúmeros fatores individuais que podem mudar muito o número
de repetições executadas em uma faixa % de indivíduo para
indivíduo. Além disso, essa faixa também varia muito de
exercício para exercício como mostrado no estudo de Hoege de
1987. Embora nos básicos como agachamento e supino, ela
fique sempre em um limiar próximo de repetições, quando o
mesmo é testado em exercícios como leg press, a diferença acaba
sendo muito grande. Por exemplo, 80%RM no supino reto gera
em média 10 repetições, enquanto no leg press pode chegar a 15
repetições. Em um estudo de Schoenfeld de 2014, ao se utilizar
de 75%RM no leg press e realizar repetições até a falha, teve
indivíduos realizando 7 repetições enquanto outros conseguiram
realizar 24 repetições.
RODRIGO L . H. SILVA 63
Por esse problema e também pela baixa aplicabilidade de ficar
repetindo testes de 1RM, eu prefiro a segunda opção de
mensurar intensidade que é medir através de faixas de
Repetições Máximas (RM).
Quando utilizamos apenas as RM, usaremos sempre o maior
peso possível para um determinado número estabelecido de
repetições, como por exemplo, se optarmos por trabalhar numa
faixa de 6 a 8RM, vou usar um peso que não me permita realizar
mais do que 8 repetições e não me permita realizar menos do
que 6 repetições.
Por ser uma forma mais simples e aplicável de estabelecer a
intensidade do treino, é essa que recomendo usar nas
prescrições, e que também é muito utilizada em diversos
estudos.
Ao utilizar as faixas de RM, podemos classificar a intensidade da
seguinte forma:
1 a 4 RM – Altíssima intensidade
4 a 8RM – Alta intensidade
9 a 15RM – Moderada intensidade
15RM ou mais – Baixa intensidade.
RODRIGO L . H. SILVA 64
um estudo de Lasevicius 2018 que testou intensidades de 20%,
40%, 60% e 80% e encontrou que limiares de 20%RM são
insuficientes para promover uma boa hipertrofia, enquanto que
ao atingir intensidades de 40% ou mais, se tem uma hipertrofia
realmente significante e não diferente entre as variadas zonas
testadas. Nesse estudo de Lasevicius, o grupo 20% chegou a
realizar 67 repetições por série em média, enquanto o grupo 40%
realizou 28, o grupo 60% realizou 14 e o grupo 80% realizou 10.
Além desse estudo temos 2 meta análises de peso que testaram
o impacto de variadas intensidades na hipertrofia.
A primeira é a de Jozo Grgic de que testou reuniu estudos que
coletaram hipertrofia apenas dos quadríceps, usando
intensidades de maiores de 60%RM ou intensidades menores de
60%RM. Não se encontrou diferença estatística, embora tenha
uma certa tendencia favorecendo intensidades mais altas.
Já outra meta análise de peso de Lopez 2021, comparou os
resultados de intensidades altas (80% ou mais), moderadas (60%
a 80%) e intensidades baixas (60% ou menos), e novamente não
tivemos diferenças estatísticas significativas, embora possamos
observar no comparativo que intensidades mais altas tem uma
pequena tendencia melhor do que baixas e que intensidades
moderadas tem uma tendencia um pouco melhor do que altas.
Muitos pesquisadores e teóricos supõem que o uso de cargas
muito altas não é a melhor abordagem para promover
hipertrofia porque embora se tenha uma altíssima tensão
mecânica, o tempo de trabalho é muito curto. Já na via oposta,
quando se utiliza cargas baixas e o tempo de trabalho é bem
longo promovendo um alto acumulo metabólico, mesmo assim
não se é o suficiente porque baixas cargas não parecem
RODRIGO L . H. SILVA 65
promover o esforço necessário para recrutar as unidades
motoras de alto limiar.
Por isso o que se supõem como o melhor caminho é aquele que
equilibra a tensão mecânica com o tempo de trabalho. Um limiar
mais moderado de repetições nos permite ter um recrutamento
ótimo da maioria das fibras musculares pelo acionamento de
grande parte das unidades motoras enquanto fornecemos
trabalho por um bom tempo.
Ao que se sabe, as fibras musculares do tipo II começam a ser
recrutadas a partir de 15% da força isométrica máxima,
enquanto a ativação de todas as unidades motoras se dá a
aproximadamente 80% e essa máxima ativação das unidades
motoras já é predito no Princípio de tamanho de Henneman.
Segundo alguns estudos que testaram repetições na reserva, foi
encontrado que quando se utiliza de baixas intensidades, se é
necessário chegar até a falha para promover uma hipertrofia
adequada, enquanto quando se utiliza intensidades mais altas, é
possível utilizar 1-2 repetições na reserva e ter o mesmo
resultado hipertrófico do que indo até a falha.
O princípio de tamanho
O princípio de tamanho de Henneman nos aponta que o
trabalho em diferentes intensidades deve ser encarado de forma
diferenciada. Esse princípio aponta que o tamanho e o número
de unidades motoras que estão sendo recrutados está ligado
diretamente ao grau de esforço que é necessário naquele dado
momento, ou seja, quando temos um baixo grau de esforço,
apenas pequenas unidades motoras são recrutadas, enquanto
RODRIGO L . H. SILVA 66
graus de esforço maiores irão recrutar mais e maiores unidades
motoras, porque você não consegue recrutar as unidades
motoras de alto limiar de forma independente das de baixo
limiar, pois para recruta-las, você irá também recrutar todas as
outras.
Para chegar no recrutamento dessas unidades motoras,
podemos chegar através de 2 cenários:
O primeiro deles se dá quando empregamos máximos esforços
desde o começo, ou seja, em uma série com alta intensidade de
carga, eu estarei utilizando todas as fibras musculares desde a
primeira repetição devido a necessidade de produção de força.
O segundo cenário se dá no uso de cargas leves e moderadas,
aonde no começo temos o uso das unidades motoras de médio
e baixo limiar, então conforme as repetições são feitas e a fadiga
se constrói, as unidades motoras de baixo limiar não são mais
capazes de continuar gerando força para mover a carga, assim
obrigando as unidades motoras de alto limiar a entrarem em
cena. O interessante desse cenário é que as unidades motoras de
alto limiar precisam abaixar o seu limiar de ativação para
entrarem em jogo e continuarem o movimento, pois em uma
situação comum, elas só apareceriam para mover cargas altas, e
aqui devido a toda a situação que foi construída elas entraram
em jogo para mover cargas menores. Devido a todo esse cenário,
apenas as últimas repetições de uma série mais leve é que tem o
máximo potencial de sinalizar a hipertrofia.
RODRIGO L . H. SILVA 67
As diferenças entre as variadas intensidades e suas
aplicabilidades.
O treinamento em intensidades menores tem como
característica principal um grande estresse metabólico e uma
tensão mecânica reduzida e utiliza de 12 repetições para mais.
Também devido a suas características de recrutamento, essa
forma de treinar requer que as séries sejam levadas até a falha
para que se obtenha os melhores resultados possíveis. O que
vejo como o maior problema de se utilizar baixas intensidades é
justamente a alta acidose que vai se construindo ao decorrer da
série. A acidose por si só não é o problema, mas sim o
desconforto que a mesma gera, a dor. Existe uma variabilidade
de indivíduo para indivíduo quando se fala em tolerância a dor,
e com isso é possível que ao se utilizar baixas intensidades o
indivíduo pare a série porque não aguenta mais resistir a dor, e
não porque ele realmente atingiu a falha muscular, e isso é algo
que vai afetar negativamente os ganhos de massa muscular. Para
além disso, o treino em baixa intensidade é uma ótima opção
para quando se tem algum histórico de lesão ou dor articular,
sendo assim uma maneira mais segura de se trabalhar. Também
é interessante o seu uso na finalização de uma sessão de treino,
visando complementar com um estímulo que gera mais pump e
fadiga local. Vale lembrar que recomendo aqui o uso de até 20
repetições para fazer esse trabalho, devido ao fator que comentei
anteriormente da tolerância individual a dor, e que trabalhar
acima de 20 repetições vai lhe colocar em um ponto aonde a
tolerância a dor pode afetar negativamente o seu trabalho.
RODRIGO L . H. SILVA 68
Já o treinamento em alta intensidade pode ser feito na faixa de 4
a 8RM e não deve ser indicado no início de um trabalho e muito
menos para quadros aonde se tenha uma lesão pré existente ou
dor articular. Nesses casos recomendo uma progressão bem
prudente através de intensidades baixas, moderadas e por último
altas. O trabalho nessa faixa de repetições tem uma altíssima
tensão mecânica e também promove os maiores ganhos de força
possíveis. Tendo uma necessidade de descansos mais longos
para manutenção adequada do desempenho, tendo além disso
um baixo acumulo e estresse metabólico. Devido ao quão essas
intensidades exigem do sistema muscular, tendinoso e articular,
não recomendo o uso de altíssimos volumes nessa fase, pois eles
se tornam um tanto quanto insustentáveis. Fora isso, essa fase
não tem a mínima necessidade de chegar até a falha muscular, e
também isso é algo que não recomendo aqui.
O treinamento em intensidades moderadas ficaria na faixa de 8
a 12 repetições e é justamente o meio termo entre os 2 citados
anteriormente. Tem um bom equilíbrio entre tensão mecânica e
estresse metabólico, não exigindo tanto da tolerância a dor para
chegar a falha. Além disso a falha aqui é opcional, não é algo
obrigatório de se ter. Essa faixa de intensidade é o nosso Sweet
spot, aonde temos possivelmente os melhores ganhos de massa
muscular, aliados a um bom ganho de força e segurança no
treino. Além disso é uma faixa que nos permite trabalhar bem
em altos volumes de treinamento.
Vocês podem ter sentido falta aqui do treinamento em altíssima
intensidade que utiliza entre 1 a 4RM, mas bem, não falei dele
porque não o considero como uma abordagem essencial nos
RODRIGO L . H. SILVA 69
trabalhos visando hipertrofia. Embora seja a intensidade que
mais promove ganhos de força, ela também é a mais arriscada
de se trabalhar. Acredito fielmente que utilizar intensidades entre
4 e 8RM já são suficientes para promover os ganhos de força
necessários para potencializar ao máximo a hipertrofia.
RODRIGO L . H. SILVA 70
2.5 CADENCIA
A cadencia é talvez a mais superestimada variável do
treinamento.
A cadencia é expressa na velocidade média que cada repetição
dura e pode ser medida em tempos ou segundos. Costuma ser
referida em uma ordem de 2 a 4 números, como por exemplo
3:2 ou 3:0:2:0. Quando se tem tempos 0, não se costuma colocá-
lo na “fórmula”. Os números nada mais são do que a duração
que o musculo passará agindo em cada fase, sendo o primeiro
número referente a negativa/excêntrica, o segundo número
sendo o tempo que o musculo passa ao fim da fase excêntrica, o
terceiro numero a fase positiva/concêntrica e o quarto número,
o tempo referente a fase aonde o musculo fica em seu máximo
encurtamento. Um tempo de 3:1:2:0 significa que o musculo
passou 3s na excêntrica, 1s no seu alongamento máximo, 2s na
concêntrica e 0s no seu máximo encurtamento.
Muitos praticantes de musculação costumam manipular a
cadencia do exercício para mais como forma de aumentar a
percepção de esforço e técnicas como o Super Slow e o MTUT
costumam ser utilizadas nesse tipo de situação, acreditando
assim fornecer um estímulo melhor para a hipertrofia do que o
treinamento tradicional. Geralmente as repetições nessas
técnicas chegam a terem durações superiores a 10 segundos de
duração. A diferença do MTUT para o super slow é que o
MTUT costuma empregar uma velocidade lenta sempre após 3
repetições em uma série, realizando a quarta em uma baixa
velocidade. Já o super slow pode ser usado em todas as
repetições de uma série.
RODRIGO L . H. SILVA 71
Mas o que mais importa é: Qual o resultado de manipulações da
cadencia na hipertrofia? Talvez agora vocês lembrem um pouco
da sessão sobre a relação força velocidade, mas vamos lá!
Ao custo de se lentificar as repetições, é necessário reduzir
intensidade do exercício, e essa redução da intensidade pode
levar a redução do resultado hipertrófico. Como dito na relação
força velocidade, para se obter a máxima tensão possível no
musculo, é necessário que se tenha uma baixa velocidade de
contração em conjunto de um alto grau de esforço, sendo esse
alto grau de esforço ocorrendo pela alta sobrecarga utilizada.
Quando se lentifica o movimento de forma intencional o
esforço se torna submáximo e com isso não temos o
acionamento das unidades motoras de alto limiar, reduzindo
assim a tensão mecânica gerada no musculo.
Já temos estudos que mostram uma menor ativação do peitoral
quando se utiliza velocidades lentas de contração como o de
Keogh de 1999 e ainda por cima temos diversos estudos que
encontraram hipertrofia significativamente INFERIOR quando
se utilizou de velocidades muito lentas de contração, como
Schuenke de 2012 e Carlson de 2019.
Ao que parece, a cadencia ideal do movimento deve girar entre
0,5s a 6s para promover hipertrofia. Sendo viável utilizar de
concêntricas de 1 a 2s enquanto excêntricas entre 1 e 3s.
O que considero como ideal na velocidade de contração é
termos uma velocidade minimamente controlada
principalmente por questões de segurança, pois velocidades
muito rápidas acabam por ter uma ativação fusal e assim o
musculo não consegue se alongar adequadamente, transferindo
muita força para os componentes elásticos como os tendões.
RODRIGO L . H. SILVA 72
Excêntrica e Concêntrica. Há diferença entre elas?
Pois bem, muitos adeptos acreditam que existe superioridade no
efeito hipertrófico de uma fase em comparação a outra e a base
teórica para isso até que tem algum sentido.
Diversos estudos que testaram o treinamento excêntrico
encontraram nele um maior grau de hipertrofia do que no
treinamento tradicional. Logo por esse motivo a fase excêntrica
tem um maior potencial em promover hipertrofia do que a fase
concêntrica.
Mas será que é exatamente isso?
Pois bem, os estudos são reais! Mas as conclusões tiradas em
cima deles são um tanto quanto erradas e vamos agora aos
porquês.
O treinamento excêntrico costuma ser feito com uma carga
ATÉ 130% maior do que o treinamento tradicional, porque os
nossos músculos tem uma capacidade de RESISTIR ao
movimento maior do que a de produzir movimento. Com isso
o treinamento excêntrico costuma ter uma tensão mecânica
altíssima!
Mas se trouxermos essas afirmações para o contexto em que são
aplicadas, algumas coisas são bem diferentes. Por exemplo, a
sobrecarga usada no treino tradicional não é a mesma utilizada
no treino excêntrico. Logo uma carga que aguenta realizar a fase
positiva certamente é uma carga submáxima para a fase negativa.
Se existisse um aparelho aonde realizássemos a negativa mais
pesada do que a positiva, talvez a negativa realmente se tornasse
uma fase mais importante.
RODRIGO L . H. SILVA 73
Em um estudo de Diniz 2020, foi testado diferentes tempos de
execução para as fases negativa e positiva do movimento, aonde
foi investigado se priorizar uma ou outra, iria trazer melhor
hipertrofia. Nesse estudo um grupo realizou a positiva em 5s e
a negativa em 1s, enquanto o outro grupo realizou o contrário,
com 1s na positiva e 5s na negativa, e no fim o resultado foi de
que a hipertrofia em ambas situações foi extremamente parecida
Com isso tudo exposto podemos dizer que todas as fases do
movimento têm a sua importância e falar que uma é superior a
outra é um tanto quanto errôneo.
O principal é realizar o movimento de forma controlada e
segura, mas não extremamente lenta. Cadencias totais de 2 a 5s
estão de bom tamanho!
RODRIGO L . H. SILVA 74
2.6 INTERVALO
O intervalo entre as séries com toda certeza é uma das variáveis
mais importantes na hipertrofia e que são constantemente mal
utilizados.
Podemos classificar os intervalos de diferentes maneiras.
Intervalos muito curtos - Que vão utilizar 30 segundos ou
menos.
Intervalos curtos - Que irão durar até 60s.
Intervalos moderados - Que vão de 60s a 90s.
Intervalos longos – Que irã durar de 2 a 3 minutos
Intervalos muito longos – Que chegam a 5minutos ou mais.
RODRIGO L . H. SILVA 75
Além disso existe outro fator que afeta a performance que é a
chama de fadiga central, essa se dando pela incapacidade dos
motoneurônios em conduzirem o estímulo de contração para a
musculatura, sendo também necessário um bom tempo de
descanso para que essa fadiga se dissipe e que a atividade
contrátil muscular possa ser restaurada ao seu ponto ótimo.
Esses são os dois motivos pelos quais o desempenho entre séries
tende a cair de forma mais acentuada em intervalos curtos
quando comparados a intervalos longos. Se o intervalo não é
adequado, faltará energia e faltará contração.
Em um estudo de Ratamess de 2007, intervalos entre séries que
utilizavam apenas 30s de descanso, acabaram por reduzir o
volume de treinamento em até 50% ao decorrer de 5 séries no
supino reto. Já em um estudo de Medeiros de 2013, foi
encontrado que para a realização de 8RM a 12RM em séries que
envolvam 60s de descanso, é necessário reduzir a sobrecarga em
até 10% da carga usada na série em cada série subsequente. Ou
seja, se eu realizei a primeira série com 100kg, na quinta série eu
precisarei chegar a até 65kg para manter o número de repetições
Se tratando de ganhos de força, em uma Revisão Sistemática e
Meta Análise de Jozo Grgic de 2018, temos alguns
apontamentos interessantes. Tanto intervalos longos como
curtos, serão eficientes para promover ganhos de força e em
indivíduos destreinados, intervalos de 60 a 120s se mostram
adequados para isso, porém quando se trata de indivíduos
treinados a história muda, sendo necessário utilizar intervalos de
2 minutos ou mais para que se tenham ganhos de força
satisfatórios. Isso se deve a máxima: Quanto mais treinado,
menos treinável
RODRIGO L . H. SILVA 76
Se tratando de hipertrofia, alguns estudos já investigaram mais a
fundo o tema comparando diferentes durações de intervalo.
Em um estudo de Schoenfeld de 2016, foi testada a hipótese de
qual intervalo seria superior para hipertrofia, comparando o
intervalo curto com duração de 1 minuto e o intervalo longo
com 3 minutos. Ao final desse estudo foi constatado que
intervalos longos foram muito superiores tanto para o ganho de
massa muscular quanto para o ganho de força, também foi
constatado que o volume load do grupo com intervalo longo foi
superior ao volume load no grupo com intervalo curto, podendo
ser esse o fator principal fator pelo qual o intervalo longo foi
muito melhor em promover ganhos de massa magra. A
hipertrofia foi medida no bíceps, no tríceps e no quadríceps. O
grupo com intervalo longo teve quase o dobro da hipertrofia do
bíceps quando comparado ao intervalo curto (5,4% x 2,8%),
também teve um aumento de 7% na hipertrofia do tríceps
enquanto o intervalo curto não teve hipertrofia desse musculo
(0,5%), enquanto a hipertrofia do quadríceps no intervalo longo
também foi quase o dobro quando comparada ao intervalo curto
(13.3 % x 6,9%).
Em um estudo mais recente de Longo de 2020, se buscou
equalizar o volume load(VL) das séries para poder afirmar o que
realmente acaba por ocasionar a diferença dos resultados entre
os diferentes intervalos.
Tivemos 4 grupos:
Intervalo Longo x Intervalo curto com VL do intervalo longo.
Intervalo Curto x Intervalo longo com VL do intervalo curto.
RODRIGO L . H. SILVA 77
A hipertrofia entre os grupos com VL equalizado foi
factualmente a mesma e no geral os grupos Intervalo longo e
Intervalo curto com VL do intervalo longo tiveram os melhores
resultados na hipertrofia.
Quando falamos por vias hipertróficas, se acredita que intervalos
curtos consigam ter uma influência diferente na hipertrofia por
ter um acumulo de metabólitos maior, resultando assim em um
maior estresse metabólico.
Já se tratando de intervalos longos, por permitir uma maior
manutenção da sobrecarga, conseguimos sustentar uma maior
tensão mecânica a cada série. Agora o que se deve questionar é
o custo benefício de intervalos longos, o quão longo ele precisa
ser para que se possa manter uma ótima capacidade de trabalho.
Muitos estudos apontam que algo entre 2 e 3 minutos já permite
uma excelente manutenção da carga de treinamento.
RODRIGO L . H. SILVA 78
de esforço. Todos esses fatores irão afetar substancialmente a
necessidade de descanso entre séries.
Em um estudo de De Salles de 2016, uma alternativa para alguns
casos aonde se busque uma abordagem mais tempo eficiente é
o uso de intervalos auto sugeridos, sem o uso de um relógio. No
estudo apresentado por De Salles, quando comparados
intervalos controlados e intervalos auto sugeridos, o uso de
intervalos auto sugeridos reduziu a duração da sessão e não
causou perda significativa no numero de repetições.
Particularmente acredito que essa abordagem de intervalos auto
sugeridos é mais viável de ser utilizada para atletas extremamente
avançados com excelente nível proprioceptivo e que talvez seja
melhor adaptada de uma forma aonde se tenha um limiar
mínimo e máximo de descanso por exercício. Por exemplo, no
exercício 1 você poderá descansar de 90s a 120s, no exercício 2
você poderá descansar de 60 a 120s, e assim por diante.
Podemos ajustar uma prescrição com intervalos variados
seguindo os dois exemplos mostrados na página a seguir:
RODRIGO L . H. SILVA 79
Prescrição de treino PUSH
Supino reto c/halteres 2 a 3min
Supino reto máquina 90 a 120s
Voador 60 a 90s
Desenvolvimento 2 a 3min
Elevação lateral 90 a 120s
Tríceps testa 90 a 120s
Tríceps corda 60 a 90s
RODRIGO L . H. SILVA 80
2.7 ORDEM DOS EXERCÍCIOS
A ordem dos exercícios é um tema ainda um tanto quanto
controverso.
Por um ponto de vista de performance, as diretrizes atuais
recomendam o treinamento começar pela parte mais árdua e
pesada, que são os exercícios livres e multiarticulares e então
depois disso migrar para os exercícios em máquinas e isolados.
Pensando de um ponto de vista de performance geral, isso tem
seu sentido, mas pensando de um ponto de vista de hipertrofia,
as coisas não são bem assim!
Os estudos nos mostram que o desempenho tende a cair ao
longo da sessão, ou seja, os exercícios realizados no começo irão
conseguir ser realizados com mais sobrecarga para um número
maior de repetições, enquanto que os exercícios realizados ao
fim tendem a sofrer um déficit de performance por culpa da
fadiga que veio se instaurando ao longo do treino todo.
Esse impacto na performance pode afetar diretamente a
hipertrofia, pois afinal, ao se utilizar uma carga menor e realizar
menos repetições, a tensão mecânica sofrida pelos músculos
treinados ao fim da sessão será menor, e inclusive, isso foi algo
apontado em um estudo de Simão de 2010 que mediu a
hipertrofia de tríceps e bíceps em duas formas de treino:
Musculo grande e depois musculo pequeno Vs. Musculo
pequeno e depois musculo grande. O tríceps só mostrou
hipertrofia quando realizado antes na sessão.
O mesmo desenho de estudo foi feito por Spineti 2010 e o
resultado foi praticamente o mesmo, apontando maior
hipertrofia do tríceps quando feito antes na sessão de treino.
RODRIGO L . H. SILVA 81
Por último, um estudo de Brandão de 2020 que mediu
hipertrofia de peitoral e de tríceps ao se fazer Supino + Tríceps
testa ou Tríceps testa + Supino ou Supino ou Tríceps testa.
Nesse estudo a hipertrofia de peitoral foi maior quando o
mesmo foi feito antes do exercício de tríceps, mas em
contrapartida, nesse estudo a hipertrofia de tríceps não mudou
se o treinasse no começo ou no final da sessão.
Existem evidencias e uma base teórica muito forte que apontam
para a direção de que os músculos trabalhados mais cedo na
sessão serão aqueles que terão maior hipertrofia, com isso o
recomendado é se começar pelas partes deficientes.
Por exemplo, no treinamento de meninas que tem o glúteo
máximo ou médio fraco, recomendo começar por exercícios
específicos para essa região antes de partir para os demais
exercícios.
Alguns exemplos na página a seguir.
RODRIGO L . H. SILVA 82
Exemplo de sessão de treino com ênfase em glúteos.
Exercício Séries
Cadeira abdutora 3
Elevação de quadril 3
Levantamento terra 3
Extensão no banco romano 3
Agachamento 3
Extensora 3
RODRIGO L . H. SILVA 83
2.8 INTENSIDADE DE ESFORÇO
RODRIGO L . H. SILVA 84
a série quando se utiliza de uma alta intensidade, enquanto que
esse recrutamento só ocorre em intensidades baixas caso a série
seja levada até a falha.
É necessário compreender bem esse conceito quando vamos
nos aprofundar no treinamento até a falha e entender a sua
necessidade ou não.
Muitos anos atrás, a falha era algo unanime defendida por todo
e qualquer marombeiro. Algo que deveria ser obrigatório em
todas as séries e em todo treino. Se acreditava que era impossível
ter um ótimo desenvolvimento muscular sem usar a falha
muscular. Pois bem, devemos aprender algo com nossos amigos
powerlifters que tem rotinas de treino que EVITAM a falha
muscular ao máximo, pois descobriram que assim você
consegue potencializar os seus ganhos de força.
Mas e para hipertrofia? Jay Cutler, Phil Heath, Juliana Malacarne
já declararam abertamente que não treinavam até a falha
muscular.
Nos últimos anos surgiu um corpo de estudos muito grande
investigando a necessidade de se usar a falha muscular para se
ter os melhores resultados para a hipertrofia, e pelo que se está
sendo investigado, isso está longe de ser verdade.
Em um estudo de Lasevicius de 2019, se foi encontrado que o
quando o treinamento é feito em alta intensidade, não faz
diferença se atingir a falha muscular ou não, porém quando o
treino é feito em baixa intensidade, não chegar a falha pode
reduzir os resultados. Porém esse estudo vai de encontro a um
estudo de Nóbrega 2017 que não viu diferença na hipertrofia
RODRIGO L . H. SILVA 85
entre falhar ou não falhar em intensidade alta e falhar ou não
falhar em intensidade baixa.
Ainda por mais incrível que possa parecer para alguns, existem
estudos com os de Carrol 2018, Lacerda 2020 e Santanielo 2020
que apontam para um possível ganho de massa muscular maior
para o treinamento sem falha muscular.
Um dos problemas do treinamento até a falha é a sua possível
associação com o overtraining, quadro deletério para o
desempenho e massa muscular, que Kraemer já apontava em
1997.
Claro, depois de tudo que foi apresentado aqui, não queremos
fazer um case para criminalizar a falha muscular, pois ela ainda
pode ser utilizada e fornecer alguns benefícios. O treinamento
até a falha causa um estresse metabólico maior do que o
treinamento com repetições na reserva e quando combinado de
forma adequada dentro de uma sessão de treinamento, pode vir
a promover um papel positivo no ganho de massa muscular.
RODRIGO L . H. SILVA 86
A maneira ideal de utilizar a falha muscular
Pensando em colher algum benefício a mais que a falha muscular
possa trazer para a hipertrofia, o ideal é deixar para usa-la apenas
na última série do exercício, pois assim você evitará que o uso
precoce dela acabe levando a um aumento precoce da fadiga que
irá reduzir o desempenho ao decorrer do exercício. Além disso,
pode ser mais interessante explorar a falha nos exercícios finais
do treino e em exercícios isolados, evitando a falha em exercícios
multiarticulares.
RODRIGO L . H. SILVA 87
CAPÍTULO 3 –
AS TÉCNICAS AVANÇADAS
DE TREINAMENTO.
RODRIGO L . H. SILVA 88
3.1 TÉCNICAS AVANÇADAS DE TREINAMENTO
RODRIGO L . H. SILVA 89
3.2 O DROP SET
O drop set, parte do princípio de que após a falha concêntrica,
o musculo não está totalmente fadigado, pois está fadigado
apenas para aquela sobrecarga, pois pode conseguir continuar
trabalhando além dessa falha inicial caso haja uma redução da
sobrecarga, então o drop set consiste em realizar uma série até a
falha ou próximo dela, realizar uma redução da sobrecarga que
está sendo utilizada entre 20 a 30% e então realizar uma nova
série com o mínimo de descanso possível. Dentro dessa técnica
também pode-se realizar reduções sucessivas da sobrecarga,
como por exemplo: Série 1 até a falha, reduz 20%, Série 2 até a
falha, reduz 20%, Série 3 até a falha, descansa.
Quando se visa reduzir todo peso gradualmente até não haver
mais peso, costuma-se chamar de strip set, mas é basicamente a
mesma coisa.
O drop set é uma técnica interessante para se utilizar quando se
visa um aumento do estresse metabólico na série, porém se
utilizada muito cedo, pela alta fadiga gerada, pode ter um
impacto negativo no desempenho no decorrer da sessão de
treinamento.
Como falado anteriormente, as técnicas avançadas tem o intuito
principal de potencializar o volume de treinamento, e em um
estudo de Goto de 2004, testaram a seguinte hipótese: Após um
período 6 semanas de treinamento, parte do grupo foi assinalado
para fazer um treinamento tradicional e outra parte foi assinalada
para fazer o mesmo treino, só que com a adição de um drop set
ao final. O grupo que realizou o drop set ao final teve um
aumento da massa muscular enquanto o grupo que não realizou
não teve ganhos adicionais.
RODRIGO L . H. SILVA 90
Já nos estudos de Fisher de 2016, Angleri 2017 e Ozaki 2017 que
testaram a hipótese de treino tradicional x treino com drop set,
com volume equalizado, a hipertrofia acabou por ser a mesma
Em contrapartida, um estudo de Fink 2017, não encontrou
diferença estatística, mas apontou para uma superioridade ao
treinamento drop set mesmo com volume equalizado.
No geral, minha recomendação é de utilizar o drop set como
uma técnica a mais buscando incorporar mais volume na sessão
de trabalho, e sua contagem para o controle do volume pode ser
algo com 0,5 série a cada drop set realizado.
Também não é recomendado utilizar o drop muito cedo na
sessão, deixando para realizar apenas na última série do exercício
ou então nos últimos exercícios do treinamento.
RODRIGO L . H. SILVA 91
3.4 O REST PAUSE
O rest pause é sem dúvidas uma das melhores técnicas
avançadas que podem ser utilizadas na sessão de treinamento. A
sua vantagem quando comparado as demais, é que o rest pause
promove aumento do volume de treinamento sem sacrificar a
intensidade da série.
O rest pause é realizado da seguinte maneira: Após uma série até
a falha ou próximo dela, se dá um descanso de 10 a 30s e então
uma nova série é realizada até a falha. Assim como o drop set, o
rest pause também pode ser realizado consecutivamente na
série, podendo ser realizado 1, 2, 3 ou até mais vezes. Embora o
habitual seja de 1 a 2. Por exemplo: Série1 até a falha, descanso
de 15, série 2 até a falha, descanso de 15s, série 3 até a falha.
Por ter uma breve pausa no meio da série, o rest pause permite
que a fadiga se dissipe parcialmente e que ocorra uma ressíntese
parcial do atp, permitindo assim que mais repetições sejam
performadas sem necessidade de uma redução da sobrecarga,
mas claro, a cada rest pause feito, a tendencia é que menos
repetições sejam feitas. Se na primeira série até a falha, foram
feitas 10 repetições, após um rest pause podem sair 5 a 7
repetições, depois de mais um rest pause sair 3 a 6, e assim por
diante.
No único estudo até o presente momento que mediu a
hipertrofia ocasionada pelo drop set de forma regional com
ultrassom, Prestes de 2017, testou treinamento utilizando rest
pause X treinamento tradicional, com volume equalizado. Nesse
estudo, o treino tradicional realizou 3x6 com 80%RM e
RODRIGO L . H. SILVA 92
descanso de 2 a 3 minutos entre séries, enquanto o grupo Rest
Pause realizou 1 série até a falha com 80%RM, então realizou
mais quantas séries fossem necessárias com descansos de 20s até
completar 18 repetições. Os resultados acabaram por serem
favoráveis ao treinamento com rest pause.
RODRIGO L . H. SILVA 93
3.6 A SUPERSÉRIE.
A Super série consiste da combinação de 2 exercícios, e pode ser
feita de diversas formas diferentes. Temos a super série agonista-
antagonista, quando se faz 2 exercícios para músculos opostos
com o mínimo de descanso possível, como por exemplo, uma
rosca scott e um tríceps corda. Temos a super série agonista-
agonista, que é quando se realiza 2 exercícios em sequência para
o mesmo musculo, como por exemplo supino reto combinado
com flexão. E por último temos a super série alternada por
segmento, aonde trabalhamos com 2 exercícios combinados de
músculos que não tem ligação direta, como por exemplo um leg
press combinado com desenvolvimento para ombros.
O principal intuito da super série, assim como as demais
técnicas, é aumentar a densidade do treinamento. Alguns
estudos Paz de 2017, Robbins 2010 e outro de Robbins de 2010
apontam que a super série agonista-antagonista parece reduzir o
tempo do treinamento sem afetar negativamente o volume load.
Em contrapartida, um estudo de Santos 2010, aponta que o uso
de super série agonista-antagonista pode trazer um ganho de
força até 50% menor no segundo musculo treinado se
comparado a uma prescrição tradicional alternada por segmento.
Já em outro estudo, Wallace de 2019, que testou a super série
agonista-agonista para exercícios compostos, encontrou que
comparado ao treino tradicional o volume load é reduzido.
Dentro da super série agonista-agonista, existe ainda a técnica
que é conhecida como a Pré exaustão, que consiste realizar um
exercício isolado antes de um exercício composto visando
aumentar a ativação e enfoque desse musculo no exercício
composto. Por exemplo, uma elevação lateral combinada com
RODRIGO L . H. SILVA 94
um desenvolvimento ou então uma elevação de quadril
combinada com um agachamento.
O problema da super série é que comumente as pessoas contam
cada série dos exercícios como uma série no volume total, logo
se forem realizados supino reto + supino inclinado, teríamos 2
séries para peito. Essa abordagem é extremamente errada,
porque basicamente o que está acontecendo aqui é uma série
prolongada de alta repetição, algo parecido com um drop set,
pois o primeiro exercício será feito com uma sobrecarga
adequada enquanto o segundo exercício irá ser realizado com
uma sobrecarga reduzida. Se o supino inclinado fosse realizado
depois de maneira tradicional, a carga que seria utilizada no
mesmo seria muito mais alta. Dessa forma é mais adequado
considerar 1 série inteira para o primeiro exercício e 0,5 série
para o segundo exercício, pois provavelmente se fossem
realizados de formas distintas, o treino tradicional traria mais
resultados para a hipertrofia. A única maneira possível de se
contar 1 série completa para cada exercício usado na super série
agonista-agonista, é quando utilizamos exercícios que recrutam
feixes distintos de um mesmo musculo, como por exemplo uma
elevação frontal combinada com um crucifixo inverso. E como
vocês podem pensar, as combinações dentro dessa forma de
seleção serão bem reduzidas.
RODRIGO L . H. SILVA 95
Como contabilizar o volume das técnicas
RODRIGO L . H. SILVA 96
CAPÍTULO 4 –
A PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO.
RODRIGO L . H. SILVA 97
PERIODIZAÇÃO
RODRIGO L . H. SILVA 98
ocorreu porque o ganho de força da fase inicial impactou
diretamente na performance do treino bodybuilding style,
fazendo-o ser feito com uma carga maior e com isso trazendo
mais resultados.
Em outro estudo de De Souza de 2018, foi encontrado que nas
primeiras 6 semanas de treinamento, o grupo periodizado e o
grupo sem periodização tiveram os mesmos resultados, porém
nas 6 semanas subsequentes, apenas o grupo que tinha um treino
periodizado conseguiu evoluir significativamente.
Os achados que temos hoje reforçam que a periodização é um
grande diferencial no longo prazo quando se pensa em
hipertrofia e ganho de força. Além disso, outro foco da
periodização é reduzir o risco de lesões como falei
anteriormente, mas para isso precisamos entender os pilares que
vamos manipular visando esse objetivo.
4.2 Composição da periodização
A periodização é dividida em macrociclo, microciclo e
mesociclo, cada um tendo sua duração específica.
O macrociclo compreende todo o período de treinamento que
é composto por mesociclos e microciclos. Usualmente o
macrociclo compreende um período de 6 meses ou todo o
período de preparação geralmente, tendo dois macrociclos por
ano.
Os mesociclos costumam durar de 4 a 12 semanas, sendo
compostos por diversos microciclos. É aqui que fica o esqueleto
do treinamento
RODRIGO L . H. SILVA 99
Os microciclos compreendem os períodos de uma maneira
diária, semanal ou então bi semanal.
5.2 COSTAS
As costas são um dos grupamentos musculares mais complexos
de serem trabalhados, pois são compostas de muitos músculos,
sendo os principais o latíssimo do dorso, romboides, redondo
maior, trapézios e Paravertebrais. A maioria deles agindo em
5.3 PEITORAL
O peitoral é um musculo um pouco mais simples de ser
trabalhado, pois irá envolver basicamente o plano transversal.
Dependendo do direcionamento para onde se colocará o braço,
conseguiremos enfocar um pouco mais as fibras inferiores,
mediais ou superiores.
Ou seja, em exercícios como o supino reto e supino declinado
iremos ter uma excelente ativação das fibras mediais e inferiores,
enquanto exercícios com a inclinação entre 30 e 45º irão dar um
enfoque maior nas fibras clavicular e também mediais do
peitoral. Vale lembrar que em puxadas, o feixe esternal do
peitoral também participa do movimento até os 90º de flexão do
ombro.
Exercícios como supinos irão ser excelentes para o
desenvolvimento de força e maior tensão mecânica, enquanto
5.4 DELTÓIDES
Os deltoides também são músculos que respondem melhor a
uma abordagem multiplanar, pois o mesmo é um musculo
multipenado com fibras em diversas direções. Sendo assim, para
enfocar o feixe lateral do deltoide, precisamos trabalhar no plano
frontal com movimentos de abdução, enquanto para trabalhar
melhor o feixe posterior precisamos trabalhar no plano
horizontal com movimentos de abdução horizontal e para
trabalhar o feixe anterior precisamos trabalhar no plano sagital
com movimentos de flexão ou também no frontal associando
abdução com flexão.
Exercícios multiarticulares como o desenvolvimento trabalham
muito bem o deltoide anterior e o lateral, já a remada alta irá
trabalhar o deltoide anterior podendo estar associado a um
trabalho do deltoide posterior ou então do anterior, dependendo
da forma como é executada, por exemplo, se a remada alta é
realizada de forma livre com barra ou halter, teremos um
trabalho do deltoide lateral e do anterior por termos uma
abdução associada a uma flexão do ombro, porém se realizamos
5.5 BÍCEPS
O bíceps pode ser trabalhado de inúmeras maneiras, mas todos
os seus movimentos irão ocorrer no plano sagital. Aqui as
diferentes maneiras de trabalho ficarão a cargo do momento de
pico de torque e alterações na curva comprimento tensão através
do aumento ou redução da flexão do ombro.
Exercícios como rosca direta e rosca alternada, são excelentes
exercícios livres para o desenvolvimento de força e tem seu
torque máximo no meio do movimento, diferentemente da
rosca scott que embora tenha um grau de flexão do ombro, o
seu maior torque é com o bíceps alongado, jogando assim muita
tensão na parte distal do bíceps. A scott é diferente da rosca
spider, pois embora ambas compartilhem de um grau de flexão
de ombros, na spider essa flexão é maior e o torque máximo é
com o braço a graus de flexão do cotovelo, sendo um excelente
exercício para enfocar os braquiais devido a posição
5.6 TRÍCEPS
O tríceps é um musculo bi articular e assim com o bíceps é muito
bem trabalhado em exercícios no plano sagital. As principais
alterações nos exercícios de tríceps estão na curva comprimento
tensão, pois a cabeça longa do bíceps é bi articular e tem um
melhor posicionamento para gerar força em exercícios aonde o
ombro se encontre fletido, sendo o tríceps francês o tríceps testa
os melhores exercícios para essa porção do tríceps, e embora as
demais porções atuem em todo tipo de extensão do cotovelo,
elas acabam participando mais nos movimentos como tríceps
corda ou tríceps na polia com barra, pois o cotovelo estará ao
lado do corpo deixando a cabeça longa em posição mais
encurtada e participando menos do movimento, fazendo assim
com que as cabeças curtas dominem o mesmo.
5.7 GLÚTEOS
Esses que são tão negligenciados e simplificados, são na verdade
músculos extremamente complexos de serem bem trabalhados.
Os glúteos se assemelham aos deltoides e requerem uma
abordagem multiplanar, podendo serem trabalhados tanto no
plano frontal, quanto horizontal, quanto no sagital.
5.9 ISQUIOTIBIAIS
Os isquiotibiais são músculos bi articulares e estão envolvidos
tanto na flexão de joelhos quanto na extensão do quadril, porém
para que possam participar adequadamente da extensão do
quadril, é necessário que os joelhos se mantenham em relativa
5.10 PANTURRILHAS
A musculatura das panturrilhas é formada pelo gastrocnêmio e
pelo sóleo. No geral as panturrilhas participam sim dos
movimentos de agachamento, leg press, passada, levantamento
A – Peito e tríceps
B – Costas e bíceps
C – Inferiores
E – Braços
A – Peito e tríceps
B – Costas e bíceps
D – Deltoides
E – Braços
A – Peito e tríceps
C – Inferiores
E – Braços
Exercício Int Sets Reps Obs
Rosca direta 120s 5 X Ultimo set em
back off set
Rosca scott 90s 5 X Ultimo set em
back off set
Rosca inclina 90s 3 X Rest pause 1x
no último set
Rosca inversa 90s 4 X
Supino fechado 120s 5 X Ultimo set
em back off
set
Triceps testa 90s 5 X Ultimo set
cross em back off
set
Triceps testa 90s 3 X Rest pause 1x
c/halteres no último set
Triceps corda 90s 4 X
A – Peito e tríceps
B – Costas e bíceps
Exercício Int Sets Reps Obs
Remada curvada 120s 4 X
supinada
Remada sentado 120s 4 X
triangulo
Puxada frente 120s 4 X
Rosca direta 90s 4 8 a 12
cross
D – Deltoides
E – Braços
Divisão A B C D E
C – Quadríceps e glúteos
B – Costas e bíceps
Exercício Int Sets Reps Obs
Remada curvada 180s 4 X
supinada
Serrote 180s 4 X
Remada sentada 180s 4 X
triangulo
Puxada triangulo 180s 4 X
Voador inverso 90s 4 8 a 12
Rosca martelo 90s 3 8 a 12
E – Isquiotibiais e glúteos
Exercício Int Sets Reps Obs
Lev terra sumo 180s 4 X
Elevação de 180s 4 X
quadril
Stiff 180s 4 X
Extensão no 120s 4 X
banco 45
Cadeira flexora 90s 4 8 a 12
Cadeira abdutora 90s 4 8 a 12
C – Quadríceps e glúteos
E – Isquiotibiais e glúteos
B – Costas e bíceps
F – Isquiotibiais e glúteos
Capítulo 1
van Wessel, T, de Haan, A, van der Laarse, WJ, and Jaspers,
RT. The muscle fiber type-fiber size paradox: hypertrophy or
oxidative metabolism? Eur. J. Appl. Physiol. 110: 665-694,
2010.
Chen, TC, Yang, TJ, Huang, MJ, Wang, HS, Tseng, KW,
Chen, HL, and Nosaka, K. Damage and the repeated bout
effect of arm, leg, and trunk muscles induced by eccentric
resistance exercises. Scandinavian Journal of Medicine and
Science in Sports. 2019.
Capítulo 2
Mannarino P., Matta T., Lima J., Simão R., De Salles B.F.
Single-Joint Exercise Results in Higher Hypertrophy of Elbow
Flexors Than Multijoint Exercise. Journal of Strength
Condition Research 2019
Capítulo 5