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TOMOS PSICOLOGIA

FORMAÇÃO ESPECÍFICA
VERSÃO DO ALUNO

2018/1
UNIDADE 1

Fundamentos Epistemológicos, Históricos e


Teórico-Metodológicos

1
Questão 1
Questão 1¹
A relação entre estímulo-resposta-consequência, chamada de
contingência tríplice ou tríplice relação de contingência, é considerada a
unidade mínima de análise dos comportamentos operantes. Com base no
modelo de contingência tríplice, avalie as afirmações a seguir.
I. Não é suficiente identificar os estímulos ou as respostas isoladamente,
mas sim, a relação mútua entre esses eventos.
II. O comportamento operante de um organismo depende tanto dos
estímulos antecedentes quanto das consequências imediatas que produz. III.
Um estímulo antecedente sinaliza a ocasião em que dada resposta, se
emitida, poderá ter como consequência um estímulo reforçador.
IV. Um estímulo antecedente acarreta, automaticamente, uma resposta e
sua consequência, de tal modo que, em ocasiões futuras, essa resposta
precisará daquele estímulo antecedente para ser emitida.
V. Um estímulo consequente é chamado de aversivo quando diminui a
probabilidade de emissão futura da resposta que o produziu, o que gera
variabilidade comportamental.

É correto apenas o que se afirma em


A. I e IV.
B. III e V.
C. I, II e III.
D. I, II, IV e V.
E. II, III, IV e V.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


No enunciado da questão é possível identificar o seguinte: (1) a unidade
mínima de análise dos comportamentos operantes é a contingência tríplice ou
tríplice relação de contingência, composta por estímulo-resposta-
consequência;
(2) os hifens que unem os três elementos (estímulo-resposta- consequência)
_______________________________________

2
¹ Questão 24 – Enade 2012.
denotam que nenhum deles pode ser considerado isoladamente, pois os três
constituem uma única unidade ; (3) a relação estabelecida entre estímulo,
resposta e consequência não é uma relação qualquer: é uma relação de
contingência , ou seja, de probabilidade de ocorrência e (4) a contingência
entre os três elementos obedece a uma ordem cronológica, ou seja, dado um
estímulo é provável que ocorra determinada resposta e, por fim, é provável
que haja uma consequência.

2. Introdução Teórica
Fundamentos epistemológicos, teórico-metodológicos e históricos das
principais vertentes do pensamento em Psicologia

Behaviorismo radical, condicionamento operante, contingência tríplice e


controle aversivo
Comportamento operante é aquele que ao ser emitido produz
consequências no ambiente e é simultaneamente afetado por elas. É
denominado operante por “operar” no ambiente. Esse tipo de comportamento é
diferente do comportamento respondente ou reflexo, que consiste apenas em
uma resposta a dado estímulo.
B. F. Skinner foi quem inicialmente descreveu os comportamentos
operantes a partir da constatação de que o paradigma do comportamento
reflexo não era suficiente para explicar toda a complexidade de comportamento
dos organismos.
Na análise do comportamento operante é possível identificar diferentes
relações entre respostas e consequências. As consequências podem ser
reforçadoras ou punitivas (aversivas). Por definição, relações reforçadoras são
aquelas que no decorrer do processo comportamental contribuem para manter
ou aumentar a frequência do evento comportamental (resposta). Também por
definição, relações punitivas são aquelas que no decorrer do processo
comportamental contribuem para diminuir ou para eliminar a frequência do
evento comportamental (resposta).
É possível cessar eventos comportamentais ou respostas por meio do
processo de extinção de comportamento. Nesse caso, havendo quebra de uma

3
relação reforçadora, a consequência não mais ocorre, ou seja, o
comportamento entra em processo de extinção: retorna a níveis próximos dos
anteriores à situação de condicionamento. Durante o processo de extinção do
comportamento observa-se a ocorrência de um aumento inicial da frequência
da resposta, um aumento da variabilidade comportamental (variação nas
formas da resposta) e uma eliciação de respostas reflexas compatíveis com
raiva e frustração. Por fim, ocorre a redução de frequência até a extinção
completa da resposta.
Além de exercer controle por meio das consequências, reforçadoras ou
punitivas, o ambiente exerce controle também sobre comportamentos
operantes por meio dos estímulos antecedentes (discriminativos). Os estímulos
discriminativos sinalizam a oportunidade e a disponibilidade do reforço e o
organismo passa a responder de forma discriminada na presença de tais
estímulos. A relação de controle que os estímulos discriminativos exercem
sobre o comportamento deve-se ao fato de eles terem estado presentes por
ocasião do reforçamento ocorrido no passado.
Um mesmo estímulo antecedente pode exercer função reflexa e
discriminativa (operante): o sinal vermelho pode eliciar taquicardia em um
indivíduo que está com pressa e, simultaneamente, indicar a possibilidade de
multa caso ele avance o sinal vermelho.
Os estímulos discriminativos completam a unidade mínima de análise do
comportamento contingência tríplice que, conforme afirmado, compõe-se de
estímulo-resposta-consequência.
A denominação contingência expressa uma relação do tipo “se... então”:
se na presença do estímulo ocorrer determinada resposta, então haverá uma
certa consequência. Trata-se, pois, de uma relação de dependência entre
eventos ambientais e eventos comportamentais, dependência essa, expressa
em termos de probabilidade de ocorrência e não em termos deterministas
absolutos.

3. Referências e indicação de leituras


CATANIA, A. C. Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Porto
Alegre: Artmed, 1999.

4
HOLLAND, J. G.; SKINNER, B. F. A análise do comportamento. São Paulo:
EPU, 1975.
MOREIRA, M. B; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do
comportamento . Porto Alegre: Artmed, 2007.
SKINNER, B. F. Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins
Fontes, 2003.

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Questão 2

Questão 2²
O processo de consolidação da Psicologia como ciência autônoma no
Brasil já estava em pleno desenvolvimento na segunda metade do século XX.
Com a aprovação da Lei nº 4.119, de 27 de agosto de 1962, foi reconhecida
e regulamentada como profissão e área de conhecimento, o que possibilitou a
criação de cursos acadêmicos regulares. (ANTUNES, M. A. M. Psicologia no Brasil no
século XX. In: MASSIMI, M.; GUEDES, M. C.(Org.). História da Psicologia do Brasil: novos
estudos. São Paulo: Educ/Cortez, 2004 . Adaptado).

O período que antecede o marco histórico mencionado no texto caracterizou-se


por

I. intensa produção na área da Psicologia, ampliada e diversificada em suas


abordagens e seus campos de atuação.
II. farta produção de ideias nas áreas da Medicina e da
Educação, desencadeada pela busca de conhecimento desenvolvido em
outros países.
III. práticas psicológicas desenvolvidas por médicos,
sobretudo por psiquiatras, assim como por graduados em Filosofia e
Pedagogia, que se especializavam em cursos de extensão e de
pós-graduação na área da Psicologia.

É correto o que se afirma em


A. I, apenas.
B. III, apenas.
C. I e II, apenas.
D. II e III, apenas.
E. I, II e III.

____________________________________________

6
² Questão 9 – Enade 2012.
1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo

No Brasil, na segunda metade do século XX, a Psicologia encontrava-se


em processo de consolidação como ciência autônoma. No entanto, somente
em 27 de agosto de 1962, data de aprovação da Lei nº 4.119, ela veio a ser
reconhecida e regulamentada como profissão e como área de conhecimento.
Esse fato possibilitou a criação de cursos acadêmicos regulares.

2. Introdução teórica
Fundamentos epistemológicos, teórico-metodológicos e históricos das
principais vertentes do pensamento em Psicologia

A Psicologia como profissão e área de conhecimento no Brasil


A consolidação de uma ciência demanda reconhecimento acadêmico e
social, o que exige o desenvolvimento de pesquisas para gerar conhecimentos
e a verificação de sua aplicabilidade. A regulamentação de uma profissão, que
ocorre somente depois de estabelecido um novo campo de investigações e
práticas, estabelece quais as funções reservadas ao profissional dessa área e
quais conhecimentos, habilidades e competências são necessárias para um
bom desempenho.
Assim se deu também o processo de consolidação da Psicologia:
conhecimentos trazidos de países da Europa e dos Estados Unidos por
professores estrangeiros convidados a ministrar cursos no Brasil e por
brasileiros que realizavam seus estudos nesses países foi sendo utilizado
para criar estratégias de enfrentamento de problemas nas áreas da Educação,
do Trabalho e da Saúde.
Já reconhecida no Brasil como área de conhecimento e práticas, a
Psicologia consolidou-se como ciência ao ser aprovada a Lei nº 4.119, em 27
de agosto de 1962. Criada, assim, a profissão de psicólogo, foram definidos
padrões de organização dos cursos de formação em Psicologia. A aprovação
da Lei nº 4.119 foi o apogeu de um longo processo histórico, pois, nas
primeiras décadas do século XX, as transformações sociais ocorridas
no Brasil, entre as quais uma crescente urbanização e o início da
industrialização, particularmente na região sudeste do país,

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demandavam recursos para a compreensão e a solução de
problemas humanos.
Durante o período que antecedeu a aprovação da Lei nº 4.119
já havia intensa produção de conhecimento científico nas faculdades
de Medicina e de Educação de outros países. Na Medicina, estudos sobre
a fisiologia do cérebro, o tempo de reação a estímulos, o manejo de quadros
psicopatológicos e, nas faculdades de Educação, estudos sobre o
sistema de ensino brasileiro e a formação de uma sociedade culta, entre
outros. Parte desses conhecimentos viria a subsidiar os estudos e pesquisas
realizados no campo da Psicologia.

3. Referências e indicação de leituras


ANTUNES, M. A. M. A Psicologia no Brasil no século XX. In: MASSIMI,
M.; GUEDES, M. C. (Orgs.). História da Psicologia no Brasil. São Paulo:
Educ/Cortez, 2004.
JACÓ-VILELA, A. M. J. História da Psicologia no Brasil: uma narrativa por meio
de seu ensino. Psicol. cienc. prof. Brasília, v. 32, n. spe, 2012. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-989320120005
00004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 set. 2013.
LISBOA, F. S.; BARBOSA, A. J. G. Formação em Psicologia no Brasil: um perfil
dos cursos de graduação. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 29, n. 4, 2009.
Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
98932009000400006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 30 set. 2013.
SOARES, A. R. A Psicologia no Brasil. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 30, n.
spe, Dec. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
rttext&pid=S1414-98932010000500002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 18
set. 2013.

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Questão 3

Questão 3³
A segunda metade do século XIX foi caracterizada pela utilização de
métodos das ciências naturais em pesquisas de fenômenos mentais.
Técnicas foram elaboradas, livros foram escritos e aparelhagens,
desenvolvidas. Alguns filósofos enfatizavam a importância dos sentidos,
enquanto cientistas buscavam descrever seu funcionamento. Entretanto,
faltava quem propusesse unir, sintetizar essas duas posições e, assim,
constituir o marco do começo do reconhecimento da Psicologia como uma
ciência, à luz do paradigma científico do período. (SCHULTZ D.; SCHULTZ,
S. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cengage Learning, 2009.
Adaptado).
A partir da descrição acima, avalie as afirmações seguintes.
I. A Psicofísica, desenvolvida sobretudo por Fechner, foi responsável
por apresentar a síntese mencionada no texto e, assim, contribuiu para o
reconhecimento da Psicologia como ciência.
II. O estudo da experiência consciente realizado por Wilhelm Wundt no
laboratório de Leipzig atendeu ao Zeitgeist do período e marcou o efetivo
ingresso da Psicologia no campo das ciências.
III. As alterações efetuadas por Titchener no sistema teórico wundtiano
foram responsáveis pelo atendimento pleno das exigências acadêmicas e
culturais da época.

É correto o que se afirma em


A. I, apenas.
B. II, apenas.
C. I e III, apenas.
D. II e III, apenas.
E. I, II e III.

9
_______________________________________
³ Questão 10 – Enade 2012.

Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


No enunciado é descrito o ambiente cultural vigente na segunda metade
do século XIX, etapa de constituição da Psicologia como ciência independente.
Durante esse período destacou-se, por um lado, a ocorrência de atividade
científica voltada à formulação de explicações sobre os fenômenos mentais.
Em busca de conhecimento sobre os sentidos, os filósofos conjecturavam
sobre as possibilidades humanas de perceber o mundo e de produzir
conhecimento, enquanto os cientistas, servindo-se de métodos utilizados
pela Física e pela Biologia, desenvolviam experimentos, principalmente em
laboratórios. De acordo com o paradigma científico vigente naquele período,
a Psicologia poderia ser considerada uma ciência se reunisse essas duas
tendências.

2. Introdução teórica
Fundamentos epistemológicos, teórico-metodológicos e históricos das
principais vertentes do pensamento em Psicologia

O nascimento da Psicologia Científica


Uma longa pré-história antecede o reconhecimento de uma disciplina de
estudos e legitima a sua fundação como disciplina científica. Isso ocorreu
também com a Psicologia. Distintas hipóteses e conceitos relativos a eventos
de caráter psicológico foram construídos em contextos específicos e, para
compreendê-los, é preciso considerar o ambiente sociocultural - Zeitgeist
- que possibilitou seu surgimento. Ou seja, para compreender o que foi
produzido como conhecimento em cada período histórico e em cada lugar, é
indispensável saber quais eram as principais concepções filosóficas e
científicas vigentes e quais eram as forças ali atuantes – forças sociais,
econômicas e políticas.
Na segunda metade do século XIX, período em que a Psicologia foi
constituída como ciência independente, muitos cientistas desenvolviam
estudos que vieram a integrar o escopo da Psicologia. Destaque deve ser dado

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ao importante trabalho desenvolvido por Fechner (1801– 1887), cujas
pesquisas na área da Psicofísica favoreceram o estudo das relações
entre processos físicos, como por exemplo, a estimulação ambiental, e
processos psicológicos, como por exemplo, as sensações e a experiência
consciente. Apesar da importância de seu trabalho, Fechner não foi
reconhecido pelos historiadores como o fundador da Psicologia. Por
quê? Historiadores da Psicologia, entre os quais Schultz, afirmam que o
reconhecimento de uma área de estudos como independente das demais
demanda um processo de formalização.
Cabe inegavelmente a Wundt o mérito da instalação do primeiro
laboratório em Leipzig (Alemanha) e do lançamento da primeira revista
especializada. Era sua intenção deliberada “demarcar um novo
domínio da ciência”. (WUNDT, W. Principles of Physiological
Psychology (1873-1874) apud SCHULTZ e SCHULTZ, 2007, p. 78).
Para Wundt, compete à Psicologia o estudo da experiência imediata, isto
é, da experiência tal como ela se dá aos sujeitos, antes que eles
façam qualquer esforço para compreendê-la. Como o relato de uma
experiência somente pode ser realizado pelo sujeito, foi identificada a
necessidade de desenvolver um rigoroso método de auto-observação, que
permitisse ao cientista reunir dados sobre experiências. A partir da
constatação dessa necessidade Wundt adotou o método da introspecção.
Estabelecidos então o objeto (experiência imediata) e o método
(introspecção) da nova ciência, Wundt passou a realizar experimentos
com o objetivo de analisar como os diferentes elementos
constitutivos da experiência imediata se organizavam nos
processos conscientes. Diferentemente dos associacionistas, que
consideravam a percepção como resultante da soma de partes
elementares da experiência, Wundt defendeu a ideia de que a
mente humana é capaz de organizar os elementos da experiência por meio de
processos cognitivos superiores e de realizar uma síntese criativa. Wundt
denominou essa capacidade humana de apercepção .
O laboratório instalado em Leipzig atraiu pesquisadores de diversos
países. Titchener (1867– 1927) foi um deles. Inglês de nascimento, foi
responsável pela divulgação dos trabalhos de Wundt nos EUA. Porém, aos

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poucos os estudos de Titchener foram se distanciando da proposta
original de seu mestre e suas pesquisas passaram a ter por foco as
unidades elementares da consciência. Assim, o objeto de estudo de Titchener
deixou de ser a experiência imediata e sua abordagem da mente
humana aproximou-se gradativamente de uma psicologia puramente
fisiológica, sendo os sujeitos compreendidos como meros organismos e não
mais como integrantes de sociedades e de grupos culturais, como pretendia
Wundt. O sistema criado por Titchener, o Estruturalismo, teve pouca
repercussão no Zeitgeist americano, cada vez mais favorável ao
desenvolvimento de uma Psicologia aplicada à solução dos problemas
humanos.

3. Referências e indicação de leituras


ARAUJO, S. F. Wilhelm Wundt e o estudo da experiência imediata. In:
JACÓ- VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T.
(Orgs.). História da Psicologia : rumos e percursos. Rio de Janeiro: Nau,
2007.
FIGUEIREDO, L. C. M.; SANTI, P. L. R. Psicologia - uma nova introdução
: Uma visão histórica da Psicologia como ciência. 3 ed. São Paulo: Educ,
2008.
GOODWIN, C. J. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cultrix, 2005.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna.
São Paulo: Thomson Learning, 2007.

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Questão 4
Questão 44
Acerca da investigação e da compreensão das relações de apego
estabelecidas entre pais e bebê, verifica -se que
A. a perspectiva mais aceita até hoje, desde os estudos de John Bowlby
sobre o tema, prioriza o desenvolvimento unidirecional das relações de
apego e o papel central que as atitudes dos pais exercem nessas
relações.
B. a proximidade física e emocional entre a mãe e o bebê, conforme
proposto nos estudos de Bowlby, influenciados pela Etologia e
Psicanálise, tem como origem evolucionária a sobrevivência do bebê e
sua futura adaptação às demandas do ambiente.
C. o vínculo de apego estabelecido inicialmente entre o bebê e a figura
materna funciona, como propõe Bowlby e Ainstworth, de maneira singular,
pouco vinculada às relações sociais estabelecidas pela criança ao longo
de sua vida.
D. o “procedimento da situação estranha”, como ficou conhecido o
procedimento que muitos estudos empíricos sobre o apego utilizaram,
permitiu que os pesquisadores concluíssem que não há como identificar
padrões de apego que possam classificar as relações entre mãe e bebê.
E. os estudos empíricos, de acordo com perspectivas mais recentes na
investigação do apego, são pouco relevantes, e se enfatiza o
comportamento da mãe como primordial para favorecer o
desenvolvimento de um estilo de apego seguro do bebê.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


No enunciado desta questão é solicitado que os conhecimentos
advindos de investigações sobre as relações de apego estabelecidas entre pais
e bebê sejam utilizados para identificar, com precisão, a conclusão a que
chegou Bowlby ao estudar esse tema.

2. Introdução Teórica
_________________________________

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4 Questão 18 – Enade 2012.
Fundamentos epistemológicos, teórico-metodológicos e históricos das
principais vertentes do pensamento em Psicologia

Psicologia do Desenvolvimento e o recém-nascido: a etologia Humana de


Bowlby
Entre os anos 50 e 60 o psiquiatra e psicanalista John Bowlby observou
e investigou as interações entre mãe e bebê para conhecer como são
construídos os vínculos afetivos entre o bebê e seu cuidador. Bowlby ampliou o
método psicanalítico ao buscar recursos teórico-técnicos na Etologia que,
privilegiando a observação direta da experiência e com base no modelo
evolucionista, estuda comportamentos inatos nas diversas espécies em
ambiente natural.
A teoria do apego de Bowlby (1989, p. 38) postula como comportamento
de apego “Qualquer forma de comportamento que resulta em uma pessoa
alcançar e manter proximidade com algum outro indivíduo, considerado mais
apto para lidar com o mundo”. O comportamento de apego compreende um
conjunto de condutas inatas que favorecem o estabelecimento e a manutenção
do contato estabelecido com a principal figura dispensadora de cuidados,
usualmente a mãe. Esse conjunto de comportamentos inclui: choro, busca de
contato visual, agarrar-se, aconchegar-se e sorrir.
Nas situações desconfortáveis - susto, cansaço, fome, condições de
estresse - o bebê emite sinais que eliciam a resposta de aproximação do
cuidador e mobilizam seu impulso para cuidar, garantindo a satisfação de suas
necessidades e a sua sobrevivência. O comportamento de apego, que tem por
função a busca de segurança e conforto, propicia a construção de uma base
segura para a exploração do mundo (Bowlby, 1990).
Com base na teoria de Bowlby, Mary Ainstworth e Wittig (1969)
propuseram o Teste de Situação Estranha, procedimento para identificar a
qualidade do vínculo estabelecido entre o bebê e sua principal figura de
cuidado. Desse trabalho resultou uma tipologia que inclui como apegos
possíveis: (1) seguro (o bebê chora quando a mãe sai e se acalma quando ela
regressa); (2) evitante (o bebê fica indiferente quanto à partida e ao regresso
da mãe); (3) ambivalente/resistente (o bebê demonstra ansiedade e

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perturbação antes da mãe sair e hesita entre aproximar-se ou afastar-se dela
quando retorna) e (4) inseguro desorganizado/desorientado (o bebê se
comporta de modo inconsistente: oscila entre manifestações de alegria e de
temor, quando a mãe regressa).

3. Referências e indicação de leituras


BOWLBY, J. Abordagem etológica da pesquisa sobre desenvolvimento infantil.
In: BOWLBY, J. Formação e rompimento de laços afetivos . São Paulo: Martins
Fontes, 1982.
BOWLBY J. As origens do apego. In: BOWLBY, J. Uma base segura :
aplicações cl í nicas da teoria do apego. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989, p.
33 -47. BOWLBY J. Apego . São Paulo: Martins Fontes, 1990.
DALBEM, J. X.; DELL'AGLIO, D. D. Teoria do apego: bases conceituais e
desenvolvimento dos modelos internos de funcionamento. Arq. bras. psicol.
2005, vol.57, n.1, p. 12 -24.

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Questão 5
Questão 55
O movimento denominado Psicologia Positiva teve início em 1998,
quando o psicólogo Martin Seligman assumiu a presidência da American
Psychological Association (APA). Segundo ele, a Ciência Psicológica vinha
negligenciando o estudo dos aspectos virtuosos da natureza humana, o que
poderia ser confirmado por uma simples pesquisa no banco de dados da
PsycInfo. Ao se utilizar a palavra-chave “depressão”, são encontrados 110.382
artigos entre os anos de 1970 e 2006; ao passo que, na busca com a palavra-
chave “felicidade”, sã o encontrados apenas 4.711 artigos publicados no
mesmo período.
A negligência ao estudo dos aspectos positivos e virtuosos dos seres
humanos pela Ciência Psicológica, de acordo com Seligman (2002), baseou-
se, historicamente, no pensamento dominante na Psicologia, direcionado ao
estudo dos aspectos “anormais”. Parece que o fator mais intrigante no estudo
do comportamento humano não era representado pela média da população,
mas pelo improvável e pelo diferente. (PALUDO S. S.; KOELLER, S.H.
Psicologia Positiva: uma nova abordagem para antigas questões. Paideia, v.
17, n. 36, p. 9- 20, 2007. Adaptado).
Avalie as seguintes afirmações acerca da Psicologia Positiva,
movimento mencionado no texto acima.
I. O foco em aspectos positivos do desenvolvimento humano já era presente
nos trabalhos de teóricos humanistas, tais como Maslow e Rogers.
II. A ênfase em contribuir para o fortalecimento de dimensões saudáveis e
positivas das pessoas leva esse movimento da Psicologia a afastar-se de
métodos científicos rigorosos em suas investigações e teorizações.
III. Esse movimento buscou modificar o foco dos estudos da Psicologia, que
eixaria de atuar na reparação do que está errado ou ruim, para (re) construir
qualidades positivas, fortalecendo-se, assim, o que existe de mais saudável
nos indivíduos.
IV. Um dos desafios atuais da Psicologia Positiva é a operacionalização de
instrumentos para avaliar e classificar as virtudes e as forças pessoais.
_______________________________

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5 Questão 20 – Enade 2012.
V. A Psicologia Positiva reconhece que a ênfase atribuída, nos últimos 50
nos, às patologias ou àquilo que é desviante trouxe importantes contribuições
científicas para a Psicologia e para a capacidade de intervenção em tais
problemas.

É correto apenas o que se afirma em


A. I, II e III.
B. I, III e V.
C. I, IV e V.
D. II, III e IV.
E. II, IV e V.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


No enunciado da questão é possível identificar fatos e afirmações que
ajudam na busca de resposta: (1) O movimento Psicologia Positiva é recente
(1998) ; (2) constata- se que o número de publicações sobre “depressão” é
abundante, enquanto o de publicações sobre “felicidade” é insignificante; (3)
Martin Seligman, um dos presidentes da APA, referiu-se à Psicologia como
Ciência Psicológica, ou seja, reconheceu seu caráter científico e (4) Martin
Seligman considerou como “negligência” ou “descuido” o fato de os
pesquisadores haverem dedicado pouca atenção aos aspectos virtuosos da
natureza humana.

2. Introdução teórica
Fundamentos epistemológicos, teórico-metodológicos e históricos das
principais vertentes do pensamento em Psicologia

Teorias Psicológicas - Psicologia Positiva (Seligman, 1998)


O movimento da Psicologia Positiva é recente (1998) e, portanto, ainda
não construiu nem consolidou metodologias e instrumentos necessários à sua
operacionalização. Martin Seligman, o principal expoente da Psicologia
Positiva, deu início ao movimento em 1998. Juntamente com outros estudiosos
identificou que a Psicologia não produzira até então conhecimento suficiente

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sobre os aspectos positivos e virtuosos da natureza humana. Destacou a
necessidade de realização de pesquisas e, utilizando uma abordagem
científica, retomou o estudo desses aspectos, anteriormente abordados pelos
psicólogos humanistas Carl Rogers e Abraham Maslow.
Para Seligman, é preciso que a Psicologia identifique e fortaleça o que é
saudável. Seu objetivo não deve ser o de negar as patologias e o sofrimento
humano, mas, onde incentivar o emergir de forças associadas aos estados de
felicidade, ao altruísmo e à resiliência. Nesse sentido, busca ampliar o campo e
modificar o foco do s estudos psicológicos, valorizando aspectos até então
considerados secundários.
A Psicologia Positiva propõe-se a enfatizar os aspectos positivos do ser
humano já presentes na Psicologia Humanista, por meio de uma abordagem
científica que investe no desenvolvimento de conceitos teóricos, de
metodologias e de estudos empíricos imbricados em procedimentos como, por
exemplo, o da realização de inquéritos sistemáticos.
Os autores da Psicologia Positiva dedicaram-se à criação de
instrumentos de avaliação e classificação de virtudes e forças pessoais
(PALUDO e KOELLER, 2007). Exemplos de tais iniciativas são o sistema de
classificação values in action (valores em ação), que enfatiza a importância de
forças pessoais e do caráter.
Tais iniciativas redundaram em propostas terapêuticas, entre as quais a terapia
positiva, a psicoterapia positiva e a terapia de esperança.

3. Referências e indicação de leituras


CALVETTI, P. Ü.; MULLER, M. C.; NUNES, M. L. T. Psicologia da saúde e
psicologia positiva: perspectivas e desafios. Psicol. cienc. prof., Brasília, v.
27, n. 4, dez. 2007. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
98932007001200011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 0 8 out. 2013.
KAHHALE, E. M. P. ( Org. ) A diversidade da Psicologia: uma construção
teórica. São Paulo: Cortez, 2002.
HERNANDEZ, J. (2003). Psicologia positiva e psicologia humanista:
aproximações teóricas e conceituais. Revista de Psicologia da UnC, 1, 24 -30.
PALUDO, S. S.; KOLLER, S. H. Psicologia Positiva: uma nova abordagem para

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antigas questões. Paidéia (Ribeirão Preto), Ribeirão Preto, v. 17, n. 36, abr.
2007.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
863X2007000100002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 08 out. 2013.
SCHULTZ, D. P. & SCHULTZ, S. E. História da Psicologia Moderna. 8 ed.
São Paulo: Thomson Learning, 2007.
YUNES, M. A. M. Psicologia positiva e resiliência: o foco no indivíduo e na
família. Psicol. estud., Maringá, v. 8, n. spe, 2003. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
73722003000300010&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 08 out. 2013.

19
UNIDADE 2

Interfaces com Campos Afins

20
Questão 6
Questão 66

Considerando-se dados da literatura que mostram correlações positivas


entre obesidade infantil e aspectos psicológicos, tais como depressão,
ansiedade e déficits de competência social, é correto afirmar:
A. obesidade infantil em alto grau pode predizer elevados graus de
depressão ou ansiedade.
B. depressão, ansiedade e déficits de competência social são
aspectos psicológicos de natureza semelhante.
C. competência social desenvolve-se apenas após a infância, quando
passa a caracterizar o obeso adulto.
D. ansiedade é a causa da obesidade infantil porque a ingestão de
alimentos, nesse caso, deixa de ser determinada pela saciedade.
E. quadros depressivos acompanhados de falta de apetite diminuem
a obesidade infantil.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


Com base em dados fidedignos que afirmam haver correlações
positivas entre obesidade infantil e aspectos psicológicos (depressão,
ansiedade, déficits de competência social), é solicitada a avaliação de
afirmativas nas quais se estabelecem diversos modos de correlação
possível entre obesidade e
manifestações de cunho psicológico para que se possa, em seguida,
assinalar a afirmativa correta.

2. Introdução teórica
Fundamentos, métodos e técnicas de coleta e análise de
informações para investigações científicas e avaliação de fenômenos
psicológicos

______________________________
6 Questão 18 – Enade 2006.

21
Correlação entre variáveis
Correlação entre variáveis é a medida padronizada da relação entre
elas. Trata-se de um índice que identifica se duas variáveis estão relacionadas,
e em que medida. A correlação não permite afirmar se uma das variáveis
causa ou se causada pela outra, mas permite verificar se elas variam
juntas, ou seja, se há uma relação de interdependência entre elas.
Uma correlação positiva indica que as duas variáveis movem-se juntas e
no mesmo sentido, e uma correlação negativa indica que as duas variáveis
movem-se juntas, porém em sentidos opostos. Um coeficiente de correlação
igual a zero indica não haver correlação entre as variáveis: na ausência de
correlação fica claro que as variáveis consideradas não estabelecem entre
si nenhuma relação de dependência.

3. Referências e indicação de leituras


AGRA, D. A. Estatística Básica. Campinas: Líder, 2002.
ANDERSON, D. R.; SWEENEY, D. J. WILLIAMS, T. A. Estatística aplicada
à Administração e Economia. 2. ed. São Paulo: Pioneira; Thomson Learning,
2002.
MALAMAN, B. Estatística e Psicologia: Relações e Aplicações. São Paulo:
Caderno de Estudos e Pesquisas da UNIP, 1999.

22
Questão 7
Questão 77

A memória e as emoções são estudadas, tanto através de técnicas


psicológicas, quanto através de métodos das neurociências. A partir de estudos
realizados nos últimos anos e relatados em revistas científicas especializadas,
pode-se concluir que:
A. eventos desagradáveis são melhor lembrados do que eventos
agradáveis, pois representam traumas rememorados obsessivamente.
B. as lembranças de intensa emoção, agradáveis ou desagradáveis,
são melhor lembradas do que lembranças neutras.
C. a emoção e a memória não se relacionam, pois são controladas
por regiões diferentes do cérebro.
D. eventos desagradáveis levam à formação de falsas memórias.
E. a memória depende mais da repetição dos eventos, ou da
frequência de sua evocação, do que de seu conteúdo afetivo.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


Nesta questão é chamada atenção ao fato de serem utilizados métodos
da Psicologia e das Neurociências para estudo da memória e das emoções.
Solicita-se que, com base em estudos recentes relatados em revistas
científicas especializadas, seja escolhida a única afirmativa verdadeira entre
cinco afirmativas nas quais são feitas referências a relações entre emoções e
memória.

2. Introdução teórica
Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais,
processos básicos (cognição, motivação e aprendizagem), processos do
desenvolvimento, interações sociais, saúde psicológica e
psicopatológica, personalidade e inteligência.

_________________________________
7 Questão 19 – Enade 2006.

23
Memória
A memória, processo psicológico envolvido na maioria das atividades
humanas, ocorre em três etapas: codificação, armazenamento e recuperação.
A codificação envolve a transformação de um estímulo físico (como um som ou
uma imagem) em um código, que pode ser armazenado. O armazenamento
refere-se à retenção desse código por períodos curtos ou longos. A
recuperação diz respeito ao resgate e ao uso dessa informação. As etapas de
codificação, armazenamento e recuperação ocorrem pelas intermediações
bioquímicas, via neurotransmissores, e pela intermediação elétrica, via
neurônios.
Evidências empíricas e experimentais apontam para o fato de haver
relação entre as emoções e a memória. Toda memória é adquirida num certo
estado emocional. As emoções estimulam a liberação de certas substâncias
no cérebro, como a noradrenalina, a dopamina, a serotonina, a acetilcolina ou a
beta-endorfina, que agem como moduladores da atividade cerebral,
aumentando ou diminuindo a capacidade de resposta de certas ligações
nervosas (sinapses), inclusive das responsáveis pela memória.
Em que pese a diversidade de enfoques teóricos e metodológicos dos
inúmeros estudos clínicos e experimentais sobre a relação entre estados
emocionais e memória, com resultados ainda insatisfatórios em alguns
aspectos, de maneira geral é possível afirmar que a memória é mais
favorecida por certos níveis de emoção do que pela repetição dos eventos
e frequência de evocação.
Para o neurocientista Ivan Izquierdo (2004), armazenamos mais e
melhor as informações e temos mais facilidade para recuperar memórias de
alto conteúdo emocional.
Além disso, há um fenômeno denominado “dependência de estado”, em
função do qual a memória é melhor quando o contexto, no momento da
recuperação de dados, equivale ao contexto existente no momento da
codificação (BOWER, 1981). Em termos neuro-humorais essa relação pode ser
explicada pela repetição, no momento da evocação, do “ambiente” neuro-
humoral específico presente no momento da formação da memória.
Estudos recentes demonstram que o hipocampo é o principal elemento
do sistema nervoso envolvido nos processos da memória, tanto na etapa de

24
formação como na etapa de evocação. Como tendemos a relembrar situações
emocionalmente desagradáveis, poderíamos supor que a memória dessas
situações prevalece. No entanto, não é isso o que as pesquisas têm
demonstrado: situações emocionalmente carregadas, sejam agradáveis ou
desagradáveis, são igualmente lembradas e sua memória prevalece sobre a
de situações emocionalmente neutras. Pesquisas apontam para o fato de
que observam-se mais falsas memórias quando as situações lembradas são
desagradáveis, embora não haja uma relação causal entre a memória de
situações desagradáveis e a produção de falsas memórias.

3. Referências e indicação de leituras


BOWER, G. H. Mood and memory. American Psychologist. Washington, v. 36,
n. 2, p. 129-148, 1981.
CAGNIN, S. Algumas contribuições das neurociências para o estudo da
relação
entre o afeto e a cognição. Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 8,
n. 2, ago. 2008. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=
sci_arttext&pid=S1808-42812008000200023&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:
22 de out. 2010.
IZQUIERDO, I. A arte de esquecer. Rio de Janeiro: Vieira e Lent, 2004.
PERGHER, G. K., GRASSI-OLIVEIRA, R., ÁVILA, L. M.; STEIN, L. M.
Memória, humor e emoção. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul,
28 (1), 5-12, 2005.
SANTOS, R. F.; STEIN, L. M. A influência das emoções nas falsas memórias:
uma revisão crítica. Psicol. USP, São Paulo, v. 19, n. 3, set. 2008.
Disponível em:
<http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&
pid=S1678-51772008000300009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 19 de
nov. 2010.
STEIN, L. M., FEIX, L. F., & ROHENKOHL, G. (2006). Avanços
metodológicos no estudo das falsas memórias: Construção e normatização
do procedimento de palavras associadas à realidade brasileira. Psicologia:
Reflexão e Crítica, 19 (2), 196-205, 2006.

25
Questão 8
Questão 88

Estudos antropológicos indicaram que em alguns grupos culturais não


ocorre o período da adolescência. Isto significa que
A. também não ocorre a puberdade, que é necessariamente um
fenômeno cultural.
B. os indivíduos desse grupo estão em atraso em relação aos de
outros grupos culturais, já que a adolescência é um fenômeno universal.
C. os critérios de definição da adolescência podem variar em função do
grupo cultural, gerando distintas transições da infância para a vida adulta.
D. os diferentes hábitos culturais interferem na adolescência, mais do que
na puberdade.
E. nos grupos em que não ocorre o período da adolescência, os
indivíduos não ultrapassam a infância.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


A partir de estudos antropológicos que indicam a não ocorrência da
adolescência em alguns grupos culturais, nesta questão solicita-se que
seja escolhida a afirmativa correta entre cinco afirmativas relativas a esse
fenômeno.

2. Introdução teórica
Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais,
processos básicos (cognição, motivação e aprendizagem), processos do
desenvolvimento, interações sociais, saúde psicológica e psicopatológica,
personalidade e inteligência
Adolescência e Puberdade
Adolescência e puberdade são conceitos que, embora intimamente
relacionados, não são sinônimos. A puberdade é um fenômeno biológico e
universal, em grande parte independente de cultura. Trata-se de um período
no qual os seres humanos sofrem modificações físicas, resultantes
________________________
8 Questão 20 – Enade 2006.

26
de mudanças hormonais, como o desenvolvimento das mamas e o início
da menstruação nas meninas e o aumento do pênis e dos testículos nos
meninos. Tais modificações hormonais, geneticamente determinadas, definirão
as características físicas da pessoa adulta.
O conceito de adolescência, por sua vez, também identifica o processo
de transição entre a infância e a vida adulta, mas é uma produção social e
é historicamente construído. O que se denomina adolescência é um período
psicossocial determinado culturalmente; ela não é universal e, portanto, nem
toda as sociedades a reconhecem.

3. Referências e indicação de leituras


PALÁCIOS, J. O que é adolescência. In: COLL, C.; PALÁCIOS, J.;
MARCHESI, A.
(Orgs.). Desenvolvimento Psicológico e Educação: Psicologia Evolutiva.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

27
Questão 9
Questão 99

A busca de compreensão dos determinantes do comportamento instiga,


há anos, os psicólogos e alimenta um antigo debate em torno da questão
inato vs. aprendido (nature vs. nurture). Com relação a esse debate,
estudos que relacionam medidas de inteligência em gêmeos mostram que
os coeficientes de correlação entre gêmeos monozigóticos são claramente
mais elevados do que entre os gêmeos dizigóticos, sobretudo na vida
adulta. Esses resultados são coerentes com a afirmação:
A. o ambiente neutraliza o papel da hereditariedade na determinação
da inteligência.
B. as medidas de inteligência em gêmeos monozigóticos distanciam-se
na vida adulta.
C. a determinação genética desvincula-se da história de vida, ao
tratar de inteligência.
D. as medidas de inteligência em gêmeos dizigóticos mantêm-se
próximas na vida adulta.
E. a determinação genética exerce um evidente e mensurável papel
na inteligência.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


Nesta questão é abordado o debate em torno da questão inato
versus aprendido (nature vs. nurture), particularizando dados obtidos em
estudos da inteligência de gêmeos monozigóticos e dizigóticos. Solicita-se
que seja identificada, entre cinco afirmativas referentes a esse tema, a correta.

2. Introdução teórica
Interfaces com campos afins do conhecimento (Neurociências,
Sociologia, Antropologia, Filosofia)

_______________________________
9 Questão 31 – Enade 2006.

28
Fatores hereditários e ambientais da inteligência
Um dos debates tradicionais da Psicologia diz respeito aos
determinantes de características individuais. Historicamente, diferentes
autores têm defendido posições favoráveis à prevalência de variáveis
genéticas, ou de variáveis ambientais, na gênese e no desenvolvimento das
diversas capacidades humanas.
Um delineamento de pesquisa bastante utilizado nas investigações que
objetivam verificar o peso de variáveis genéticas nas habilidades
cognitivas é aquele que avalia essas habilidades em gêmeos monozigóticos.
Visto que os gêmeos monozigóticos possuem a mesma constituição
genética, resultante da divisão de um óvulo fecundado por um único
espermatozoide, espera-se que todas as características humanas
resultantes da herança genética devam se apresentar em níveis iguais
nos dois indivíduos.
Gêmeos dizigóticos ou fraternos, resultantes por sua vez, da fecundação de
óvulos diferentes por espermatozoides diferentes, são geneticamente tão
semelhantes (e tão distintos) entre si, quanto qualquer par de irmãos nascidos
de gestações independentes.
Muitos estudos que relacionam medidas de inteligência em gêmeos
buscam identificar se os coeficientes de correlação entre gêmeos
monozigóticos são claramente mais elevados do que entre os gêmeos
dizigóticos. Os índices de correlação positiva em gêmeos monozigóticos
indicariam a participação da hereditariedade no desenvolvimento da
inteligência, fato que seria corroborado pelos índices de correlação menores
em gêmeos dizigóticos.

3. Referências e indicação de leituras


CALEGARO, M. M. Psicologia e Genética: o que causa o comportamento?
Revista Cérebro & Mente, Campinas, dez. 2001. Disponível em: <http://
www.cerebromente.org.br/n14/mente/genetica-comportamental1.html>.
Acesso em: 18 de fev. 2011.
DAL-FARRA, R. A.; PRATES, E. J. A Psicologia face aos novos
progressos da genética humana. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 24 (1),
mar. 2004.

29
Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141
4-98932004000100011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 18 de fev. 2011.
MENDOZA, C. F. Introdução à psicologia das diferenças individuais. 2. ed.
Porto Alegre: Artmed, 2006.
MORAIS, P. Estatística para psicólogos (que não gostam de números). São
Paulo: ESETEC, 2008.
MOTTA, P. A. Genética Humana: aplicada à Psicologia e toda a área
biomédica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

30
Questão 10
Questão 10 10

Um profissional é contratado por uma organização para trabalhar


em sua área de formação, mas a gestão da mesma demite alguns
funcionários das mais variadas especialidades para redução de custos e não
faz substituições. Em várias situações, esse profissional se vê obrigado a
realizar atividades, muitas das quais extremamente específicas e que
requisitam competências técnicas muito particulares, para as quais não
está preparado. Embora discorde dessa situação, não reclama porque,
apesar de sofrer com a possibilidade de erros e falhas cruciais para o
funcionamento e para a produção organizacional, necessita do emprego e
vê valorizado o discurso da multifuncionalidade pela gestão organizacional.
Como podemos explicar a situação acima descrita?
A. A necessidade do aumento da produtividade nas organizações
gerou a flexibilização do trabalho, rompendo com as identidades e
papéis profissionais definidos.
B. Cada vez mais a sociedade exige uma formação profissional
generalista e uma construção identitária híbrida, reforçando a criatividade
humana.
C. A flexibilização do trabalho possibilitou uma evolução psicossocial
significativa ao romper com as identidades profissionais definidas
extremamente estruturantes para os indivíduos.
D. As fronteiras profissionais estão cada vez mais tênues, assim
como os países não têm mais identidade nacional própria, em
função do processo homogeneizante da globalização, o que é
desestruturante para os indivíduos.
E. A globalização produz processos de socialização geradores de
personalidades e identidades simultâneas múltiplas, que são uma
evolução psicossocial significativa.

_______________________
10 Questão 28 – Enade 2006.

31
1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo
Nesta questão é descrita a condição de um profissional contratado por
uma organização para trabalhar em sua área de formação. Nessa organização
há um discurso sobre multifuncionalidade da gestão organizacional, que o
obriga a realizar atividades para as quais não está preparado. Cria-se uma
situação de conflito porque o profissional discorda da condição que lhe é
imposta, mas não reclama. Se por um lado reconhece que poderá cometer
erros e falhas cruciais, por outro lado, necessita do emprego. Solicita-se que
seja assinalada a afirmativa que contém uma explicação adequada para essa
situação.

2. Introdução teórica
Interfaces com campos afins do conhecimento (Neurociências,
Sociologia, Antropologia, Filosofia)

Rompimento de identidade profissional


Atividades multifuncionais podem ser definidas como aquelas compostas por
diversas especialidades, tendo por base habilidades e competências
diversas ou “um conjunto de tarefas que incorpora outras especialidades
profissionais não pertencentes originalmente ao empregado, ambas exigindo
(re)qualificação para o novo trabalho.” (AGRA, 2000, p. 3-4).
De acordo com Agra (2000), o desenvolvimento da multifuncionalidade
acha-se relacionado à estruturação das organizações industriais e ao
fenômeno da reestruturação produtiva, cujo principal objetivo é de ordem
econômica: redução de custos operacionais e de mão de obra.
Todo processo de formação profissional implica na construção de
esquemas referenciais de leitura e manipulação da realidade. A concepção
de mundo – explícita ou implícita – que motiva as atitudes profissionais frente
a determinados fenômenos e uma escala de valores, que se reflete no
modo particular de agir, próprio de cada atividade, compõem a identidade
profissional, cujos contornos são bem definidos. Associa-se a essa definição
identitária a expectativa de complementaridade de papéis profissionais.

32
No entanto, o discurso vigente sobre multifuncionalidade - inserção do
trabalhador nos diversos segmentos que compõem a organização visando
à sua participação em todo o processo de controle da produção - rompe
com identidades e papéis profissionais definidos, produzindo desalojamentos e
gerando inseguranças. Processos de exclusão são favorecidos por uma dupla
demanda: ao mesmo tempo em que se exige uma capacitação específica
associada a uma formação generalista, exigem-se habilidades e competências
até então não desenvolvidas.

3. Referências e indicação de leituras


AGRA, C. C. Análise das ações mediadoras existentes em um processo
de reestruturação da produção na indústria petroquímica. Portal de
Periódicos
UNIFACS: Gestão e Planejamento, Salvador, v. 1, n. 2, 2000. Disponível
em: <http://www.revistas.unifacs.br/index.php/rgb/article/viewFile/141/ 143>
Acesso em: 21 de out. 2010.
CASTELHANO, L. M. O medo do desemprego e as novas organizações de
trabalho. Psicologia e Sociedade, abr. 2005, v. 17, n. 1, p. 14-20.
CB 25 – Comitê Brasileiro de Qualidade. Disponível em: <http://200.20.212.
34/cb25i/dados_estat.asp?Chamador=CB25&tipo=> Acesso em: 15 de dez.
2008.
MIRANDA, A. R. A. et al. Uma proposta teórico-reflexiva acerca dos
paradoxos presentes nos modelos de gestão da qualidade. Revista de
Administração da UNIMEP, Piracicaba, v. 8, n. 1, p. 62-83, fev.-abr.
2000. Disponível em:
http://www.raunimep.com.br/ojs/index.php/regen/article/viewFile
/118/418>. Acesso em: 21 de out. 2010.

33
Questão 11
Questão 1111

Um paciente é portador de rara doença autossômica recessiva


denominada Urbach-Wiethe. A amígdala dele encontra-se largamente
danificada em cada um dos hemisférios cerebrais, mas não há lesões
detectáveis no hipocampo ou no neocórtex temporal. Não demonstra
deficiência motora ou sensorial significativa, déficits de inteligência, memória
ou linguagem. No entanto, exposto à situação em que deve escolher uma
dentre uma série de fotografias de expressões faciais de emoção, é capaz de
identificar tristeza, desgosto e felicidade, mas não medo.
Com base nas informações acima, é correto afirmar que este caso
A. demonstra que o hipocampo, mas não a amígdala, exerce papel
relevante para a experiência do medo em humanos.
B. sugere o importante papel das emoções em funções complexas do
encéfalo, tais como reconhecimento, identificação e decisão.
C. torna claro que o sistema límbico é responsável pelas funções
cognitivas superiores que envolvem processos de escolha.
D. constitui a base para a classificação das emoções em níveis
que se correlacionam com diferentes mecanismos neurofisiológicos.
E. comprova que a emoção exerce grande influência sobre as
faculdades cognitivas ligadas à memória, mas não à linguagem.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


Nesta questão é descrito o quadro clínico de um portador da doença Urbach-
Wiethe: sua amígdala encontra-se bastante danificada em cada um dos
hemisférios cerebrais; não há lesões detectáveis no hipocampo ou no
neocórtex temporal; não demonstra deficiência motora ou sensorial
significativa, déficits de inteligência, memória ou linguagem; quando exposto
à situação em que deve escolher uma dentre uma série de fotografias de
expressões faciais de emoção, é capaz de identificar tristeza, desgosto e
felicidade, mas não de medo. Solicita-se que, com base nessas informações,
_______________________
11 Questão 30 – Enade 2006.

34
seja assinalada a afirmativa correta, entre cinco referentes a aspectos
neuropsicológicos da doença considerada.

2. Introdução teórica
Interfaces com campos afins do conhecimento (Neurociências,
Sociologia, Antropologia, Filosofia)

Bases neurais da emoção – doença de Urbach-Wiethe


A doença de Urbach-Wiethe, também denominada lipoproteinose, é uma rara
patologia, caracterizada por mineralização bilateral das amígdalas.
Hereditária, muito rara e de causa desconhecida, vem sendo melhor
estudada por dermatologistas, dado incluir sintomas dermatológicos. No
entanto, trata-se de uma doença de interesse também de outras especialidades
médicas, por apresentar correspondências no sistema nervoso central
(SNC) e envolver o trato respiratório e o gastrointestinal.
Pesquisadores dessa doença aportam evidências de que a amígdala
exerce papel importante nas memórias declarativa não-verbal e visoespacial
(ADOLPHS et al, 1999) relatam que a lesão bilateral da amígdala por U-W
determina alterações nas expressões de medo. Isso significa que, embora o
indivíduo afetado por essa doença seja capaz de reconhecer identidades das
pessoas ao observar suas faces, ele possui uma incapacidade específica: não
reconhece expressões faciais de medo. Ou seja, não percebe que uma pessoa
está sentindo medo apenas por meio da observação de sua face. Pesquisas
sugerem que as amígdalas talvez sejam requeridas também para a função de
conectar particulares representações visuais de expressões faciais com a
representação conceitual semântica de medo.
Sugerem ainda que as amígdalas talvez estejam relacionadas com
a capacidade de lembrar o que seja uma expressão facial de medo.

3. Referências e indicação de leituras


CAIXETA, L.; PÔRTO, W. G. Neuropsicologia e neuroanatomia das
emoções. In: CAIXETA, L. (Org.). Demências: abordagem multidisciplinar. 1
ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2006.

35
PINTO, J. A. et al. Manifestações otorrinolaringológicas na Síndrome de
Urbach-Wiethe (lipoproteinose). Brazilian Journal of Othorrinolaryngology
(BJORL), v. 54, p. 57-59, abr.-jun. 2011. Disponível em: <http://www.
bjorl.org/conteudo/acervo/acervo.asp?id=1627>. Acesso em: 23 de jan. de
2011.
PÔRTO, W. G. (Org.) et al. Emoção e Memória. São Paulo: Artes Médicas,
2006.
PÔRTO, W. G. et al. The paradox of age: an analysis of responses by
aging Brazilians to International Affective Pictures System (IAPS). Revista
Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, v. 33, p. 10-15, 2011.

36
Questão 12
Questão 1212

Leia o seguinte texto:


Evidências de pesquisas com neuroimagem identificam dois sistemas
neurais responsáveis pelas diferentes etapas da geração e controle de estados
afetivos.
O sistema ventral é composto por circuitos envolvendo amídala,
ínsula, corpo estriado ventral, regiões ventrais do cíngulo anterior e córtex
órbito-frontal. Tal sistema estaria relacionado às etapas de identificação do
significado emocional de estímulos e de produção dos estados afetivos
específicos.
O sistema dorsal é composto pelo hipocampo, regiões dorsais do
cíngulo anterior e pelo córtex pré-frontal. Tal sistema estaria relacionado à
regulação dos estados afetivos, eliciando respostas comportamentais
contextualmente apropriadas.
O sistema ventral recebe aferências de áreas sensoriais primárias e
de associação, e o dorsal está relacionado a mecanismos cognitivos,
como memória e atenção. (BUSATTO, G. et al, 2006. Adaptado).
Considerando-se a descrição desses mecanismos, é CORRETO afirmar que
A. a autonomia do processamento neural ocorre em cada nível, pois
as conexões sensoriais se dão a partir do sistema sensorial aferente.
B. a complexidade da rede de interconexões entre os sistemas
dorsal e ventral possibilita a modulação recíproca entre ativação
emocional e contextualização da resposta comportamental.
C. existe domínio dos aspectos cognitivos sobre os emocionais,
uma vez que o sistema ventral pode modular o sistema dorsal.
D. há independência entre os circuitos neurais da emoção e do
processamento cognitivo, já que as conexões aferentes ocorrem
primariamente no sistema ventral.

_____________________
12 Questão 30 – Enade 2009.

37
E. o sistema dorsal controla o comportamento por meio de suas
conexões com as aferências sensoriais, enquanto o sistema ventral
suporta sua atividade.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


Nesta questão é realizada uma descrição dos dois sistemas neurais
responsáveis pela geração e controle de estados afetivos. Solicita-se que seja
assinalada a afirmativa correta entre cinco afirmativas relativas a esse tema.

2. Introdução teórica
Interfaces com campos afins do conhecimento (Neurociências, Sociologia,
Antropologia, Filosofia).

Bases neurais das emoções


O desenvolvimento recente de técnicas de pesquisa em Neurofisiologia,
entre as quais a neuroimagem, tornou possível a realização de estudos mais
acurados de aspectos neurológicos das emoções. A partir dos resultados
dessas pesquisas foi possível verificar que há uma complexa interação entre
as áreas cerebrais envolvidas nos processos emocionais, cognitivos e
homeostáticos, estes últimos relacionados à manutenção de constância no
meio corporal interno.
Diferentes estímulos térmicos, táteis, visuais, auditivos, olfativos e de
natureza visceral (como as alterações da pressão arterial) partem de
receptores e atingem diferentes regiões do encéfalo, por vias neuronais
aferentes. Respostas adequadas a esses estímulos são por sua vez
disparadas de determinadas áreas corticais e seguem por vias eferentes para
diferentes partes do corpo, através de um refinado complexo funcional.
Os resultados dos estudos de neuroimagem funcional – isto é, de
imagens do cérebro durante a execução de determinadas tarefas – mostram
que as principais áreas envolvidas na regulação do humor e na geração
de emoções são o córtex pré-frontal dorsolateral e medial, o córtex
órbito-frontal, a amídala, o cíngulo anterior, o corpo estriado e o córtex
insular. Há evidências, inclusive, do fato de haver relação entre o
processamento de emoções específicas e a ativação de certas áreas cerebrais.

38
Assim, a porção subcalosa do giro do cíngulo parece estar relacionada à
tristeza e a amídala parece estar envolvida no processamento do medo.
Pesquisas recentes têm procurado detalhar os diferentes elementos do
processamento emocional, investigando as várias etapas desse processo: o
reconhecimento do significado emocional de um estímulo, a emergência
do estado afetivo propriamente dito, as alterações neurovegetativas
associadas a esse significado e, por fim, a modulação da resposta
comportamental apropriada. Os resultados apontam para a ocorrência de
conexões recíprocas entre dois sistemas – o ventral e o dorsal. O sistema
ventral, constituído por amídala, ínsula, corpo estriado ventral, regiões
ventrais do cíngulo anterior e córtex órbito-frontal, é responsável pela
identificação dos estímulos recebidos através das vias aferentes das áreas
sensoriais.
O sistema dorsal, constituído por hipocampo, regiões dorsais do cíngulo
anterior e córtex pré-frontal, regula os estados afetivos e gera respostas
comportamentais adequadas ao contexto. A significativa massa de
conhecimentos acumulados sobre o assunto mostra que uma intrincada rede
de sistemas neurais, ativada em processos de modulação mútua, gera
comportamentos, mecanismos cognitivos e emoções.

3. Referências e indicação de leituras


BUSATTO, G. et al. Correlatos anatômico-funcionais das emoções
mapeados com técnicas de neuroimagem funcional. Psicol. USP [online].
2006, v. 17, n. 4, p. 135-157.
CAGNIN, S. Algumas contribuições das neurociências para o estudo da relação
entre o afeto e a cognição. Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 8, n.
2, ago. 2008. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci
arttext&pid=S1808-42812008000200023&lng=pt&nrm=iso>.Acesso em: 22 de
out. 2010.
DAMÁSIO, A. R. O erro de Descartes: emoção, razão e cérebro humano.
São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
ESPERIDIAO-ANTONIO, V. et al. Neurobiologia das emoções. Rev.
psiquiatr. clín., São Paulo, v. 35, n. 2, 2008. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielophp?scrip

39
Questão 13
Questão 1313

Leia o trecho: Embora as estimativas variem, a taxa de concordância para


esquizofrenia em gêmeos idênticos é ao redor de 50% e, para gêmeos
dizigóticos, é da ordem de 12%, sendo significativamente maior que o 1%
de risco da população geral... BARBOSA DA SILVA, R. C. 2006 (adaptado).
Considerando-se esses dados da pesquisa sobre a etiologia genética da
esquizofrenia, é CORRETO afirmar que
A. a esquizofrenia se deve ao acaso, já que a chance de um irmão
monozigótico desenvolver o transtorno é de 50%, se o outro for portador.
B. o ambiente pode proteger o indivíduo do desenvolvimento desse
transtorno, uma vez que apenas 1% da população o desenvolve.
C. o componente genético existe, mas também ocorre a participação
do componente ambiental na esquizofrenia, pois 50% dos gêmeos
monozigóticos desenvolvem o transtorno, se o outro for portador.
D. o fato de 12% dos gêmeos dizigóticos desenvolverem igualmente o
transtorno demonstra o peso dos fatores psicológicos familiares no
transtorno.
E. os resultados, ao variar em 50% para gêmeos monozigóticos,
12% para gêmeos dizigóticos e apenas 1% para a população em
geral, demonstram a ausência de relação entre o ambiente e os fatores
genéticos.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


Nesta questão é abordado o tema etiologia genética da esquizofrenia. Dados
da pesquisa apresentada informam que, embora as estimativas variem, a taxa
de concordância para esquizofrenia em gêmeos idênticos (ao redor de 50%) e
em gêmeos dizigóticos (cerca de 12%) é significativamente maior que o
risco da população geral (1%). Solicita-se que sejam considerados esses
dados de pesquisa para eleger a afirmativa correta entre cinco afirmativas
relativas a essa temática.
_____________________
13 Questão 31 – Enade 2009.

40
2. Introdução teórica
Interfaces com campos afins do conhecimento (Neurociências, Sociologia,
Antropologia, Filosofia)
Esquizofrenia em gêmeos – hereditariedade X ambiente
Pesquisadores e estudiosos têm defendido posições favoráveis à
prevalência de variáveis ou genéticas ou ambientais na gênese e no
desenvolvimento das capacidades humanas e nos desvios da normalidade.
Pesquisas realizadas com gêmeos monozigóticos e dizigóticos têm se
mostrado úteis quando o objetivo é verificar o peso de variáveis genéticas e
ambientais na constituição de uma habilidade ou de um comportamento
desviante.
Visto que os gêmeos monozigóticos possuem a mesma constituição
genética, resultante da divisão de um óvulo fecundado por um único
espermatozoide, espera-se que todas as características humanas
resultantes da herança genética devam se apresentar em níveis iguais
nos dois indivíduos. Gêmeos dizigóticos ou fraternos, resultantes por sua
vez da fecundação de óvulos diferentes por espermatozoides diferentes,
são geneticamente tão semelhantes (e tão distintos) entre si quanto
qualquer par de irmãos nascidos de gestações independentes.
Muitos estudos que comparam gêmeos buscam identificar se os
coeficientes de correlação entre gêmeos monozigóticos são claramente mais
elevados do que entre os gêmeos dizigóticos. Os índices de correlação
positiva em gêmeos monozigóticos indicariam a participação da
hereditariedade no desenvolvimento da inteligência, fato que seria
corroborado pelos índices de correlação menores em gêmeos dizigóticos.
Como a esquizofrenia é considerada resultante de herança multifatorial,
ou seja, determinada simultaneamente por fatores genéticos e ambientais,
as pesquisas que possibilitam comparar taxas de concordância e de
correlação entre gêmeos monozigóticos e dizigóticos ajudam a determinar
a extensão da influência genética sobre esse quadro psicopatológico.

3. Referências e indicação de leituras


JORDE, L. B et al. Genética Médica. 3. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

41
UNIDADE 3

Procedimentos para a Investigação Científica e


Avaliação de Fenômenos Psicológicos

42
Questão 14

Questão 1414

O texto a seguir discute as implicações práticas provenientes de um


estudo de meta-análise da validade das variáveis do Rorschach.
O objetivo principal do nosso estudo foi avaliar se um método de
avaliação baseado em performance poderia complementar métodos
introspectivos (inventários) comumente usados na prática clínica. Nossos
achados apóiam essa hipótese, pois os dados sugerem que seus
escores mais válidos propiciam validade incremental sobre
métodos de autorrelato (...).
Discrepâncias intramétodos de avaliação devem ser mais preocupantes e
motivadoras de investigações subsequentes do que discrepâncias
entremétodos, já que estas últimas podem levar à ampliação do
entendimento das pessoas. Concordâncias intramétodos não
devem ser interpretadas como evidências de validade
convergente, mas, sim, como evidências de
fidedignidade/precisão (isto é, consistência de informações em
formas alternativas em um contexto de método único). Além disso, se a
confiança que um clínico tem em seus julgamentos é unicamente
baseada na congruência de informações obtidas pelo
mesmo método ou por métodos muito semelhantes
(por exemplo, autor relato, por meio de questionários e
entrevistas, ou duas respostas separadas do Rorschach), ele
corre risco de ter suas decisões baseadas em variância de
erro associada à especificidade do método. (MIHURA,
J. L.; MEYER, G. J.; DUMITRASCU, N.; BOMBEL, G. The Validity
of Individual Rorschach Variables: Systematic Reviews and Meta-
Analyses of the Comprehensive System. Psychological Bulletin.
Publicação on-line doi: 10.1037/a0029406, 27/8/2012. Adaptado).
_____________________________
14 Questão 11 – Enade 2012

43
O texto discute conceitos da psicometria e suas implicações na validade ao
serem usados diferentes tipos de métodos de avaliação (autor relato,
testes de performance/projetivos). Os autores argumentam que
A. correlações entre testes do mesmo tipo que medem construtos
relacionados deveriam ser interpretadas como evidências de validade
convergente e aconselham a inclusão de um método projetivo na bateria
de testes.
B. correlações entre testes de tipos diferentes que medem construtos
similares deveriam ser interpretadas como evidências de validade
convergente e aconselham o uso de, pelo menos, uma entrevista em qualquer
avaliação.
C. correlações baixas entre testes cujos métodos sejam
distintos são evidências negativas de validade, e correlações altas entre
testes de tipos similares são evidências de validade convergente.
D. correlações entre testes do mesmo tipo que medem
construtos semelhantes deveriam ser interpretadas como
evidências de precisão teste-reteste e aconselham o uso de testes
similares (do mesmo tipo de método), para serem obtidos índices de
congruência entre os resultados.
E. correlações entre testes do mesmo tipo que medem
construtos semelhantes deveriam ser interpretadas como
evidências de precisão, e não de validade, e desaconselham o
uso de um só tipo de método de avaliação, como, por exemplo, o
de entrevistas.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


No relato da pesquisa desenvolvida por Mihura et al (2012) constata-se
que a questão norteadora foi a seguinte: métodos introspectivos
(inventários) comumente utilizados na prática clínica podem ser
complementados por métodos de avaliação baseados em performances? Os
autores concluíram que os métodos introspectivos podem sim ser
complementados por métodos de avaliação baseados em
performances, pois, os dados obtidos sugerem que distintos
métodos de avaliação podem ser associados, sendo necessário, no entanto,

44
que se evite a utilização de métodos muito semelhantes: o uso de um único
método ou de métodos semelhantes pode conduzir a resultados incongruentes.
Quanto aos conceitos psicométricos utilizados, neste enunciado debate-
se o tema das discrepâncias intramétodos e entremétodos de
avaliação e são retomadas as noções de fidedignidade/precisão e
validade. Considerando as discrepâncias intramétodos mais
preocupantes do que as discrepâncias entremétodos, os autores
chamam atenção ao fato de que a concordância intramétodo, ou
seja, concordância interna no uso de determinado método, não implica que
haja validade convergente, embora esse fato evidencie haver
fidedignidade/precisão intramétodo. Ou seja, esse fato evidencia haver
consistência nas informações obtidas por distintos meios em um mesmo
contexto de método. A técnica teste-reteste, um dos procedimentos
experimentais utilizados para avaliar o grau de fidedignidade de um teste,
consiste na análise dos dados de duas aplicações de um único teste, em uma
mesma amostra, em duas oportunidades distintas.
Os autores referem-se, ainda, à possível indução a erros quando um
clínico confia apenas nas informações advindas de um único método
(duas respostas separadas do Rorschach, por exemplo) ou de métodos
muito semelhantes (autorrelato, questionários e entrevistas, por exemplo). Esse
clínico corre o risco de tomar decisões com base em variância de erro
associada à especificidade do(s) método(s) por ele utilizado(s).
Considerando que as informações reunidas nesse enunciado possibilitam
o reconhecimento de conceitos da psicometria que possuem implicações
para a validade, no caso de serem utilizados distintos métodos de avaliação
(autorrelato e testes de performance/projetivos, por exemplo) é solicitado o
reconhecimento da afirmação correta entre cinco alternativas possíveis.
Nessas alternativas são considerados os seguintes fatores: (1) tipo de
correlações estabelecidas entre testes (mesmo tipo ou tipos diferentes); (2) tipo
de construtos (relacionados ou semelhantes); (3) interpretação relativa à
validade e precisão e (4) recomendações para uso clínico.
Da combinação desses elementos resultam algumas possibilidades. A
tabela apresentada a seguir reúne as cinco combinações propostas nas

45
alternativas, sendo quatro incorretas e uma única correta, a ser identificada.

Afirmação Tipo de correlações Métodos dos Construtos Evidência Recomendação para


estabelecidas entre testes relativa à uso clínico
testes validade e
precisão
A De mesmo tipo - Relacionados Validade Incluir método projetivo
Convergente na bateria de testes
B De tipos diferentes - Similares Validade Utilizar pelo menos
Convergente uma entrevista em
qualquer avaliação
C Alta Similares Validade -
Convergente
Baixa Distinto - Negativa de -
validade
D De mesmo tipo - Semelhantes Precisão teste- Utilizar testes similares
reteste (para obter índices de
congruência entre os
resultados)
E De mesmo tipo - Semelhantes Precisão (não Não utilizar um único
validado) método de avaliação

1. Introdução teórica
Fundamentos, métodos e técnicas de coleta e análise de informações
para investigações científicas e avaliação de fenômenos psicológicos

Psicometria: fidedignidade, validade e métodos de avaliação


A avaliação psicológica vem sendo amplamente utilizada em diversas
áreas de atuação do psicólogo, com o objetivo de possibilitar melhor
compreensão de fenômenos e de processos psicológicos. Entre os métodos
utilizados incluem-se a entrevista, as observações sistemáticas, os inquéritos,
as escalas e os testes de caráter projetivo ou psicométrico. Atualmente,
observa-se uma tendência à integração no uso de métodos quantitativos e
qualitativos.
No âmbito da psicometria a fidedignidade, a validade e a
padronização/normatização são parâmetros de garantia da confiabilidade dos
testes. Por fidedignidade entende -se a precisão de um teste, ou seja, a
possibilidade de seus escores estarem livres de erros de mensuração. Assim,
um instrumento é considerado fidedigno quando conduz a resultados idênticos,
quer seja utilizado para medir os mesmos indivíduos em situações diferentes,

46
quer seja utilizado para medi-los com mais de um teste em uma mesma
ocasião. A fidedignidade é avaliada por meio de análise da consistência interna
dos itens que compõem o teste, da correlação entre as distribuições de dois
testes paralelos ou de duas formas de um mesmo teste, assim como pela
análise da correlação dos dados obtidos em momentos diferentes numa
mesma amostra.
O parâmetro validade , por sua vez, informa se o instrumento mede realmente
aquilo que se propõe medir. Um teste é válido quando há concordância entre o
que ele pretende avaliar e o que avalia de fato. Bunchaft (2002, p. 69) afirma
que “não se pode falar de uma validade em geral, mas de uma validade relativa
ao tipo de decisão e uso específico para o teste em questão”. Assim sendo, a
validade de um teste é determinada por vários processos relacionados à
especificidade de sua utilização. Um teste apresenta validade convergente
quando estabelece correlação alta com outro teste que mede o mesmo traço,
ou seja, a validade convergente refere-se à conformidade dos resultados entre
dois métodos distintos utilizados para medir construtos relacionados. Assim,
quando diante de uma concordância entre testes de mesmo tipo (intramétodo)
não podemos falar em validade convergente. Somente em evidência de
fidedignidade/precisão.
Os graus de precisão e de validade de um teste são tanto mais altos
quanto maiores forem os índices de correlação. A correlação, fator que
determina o grau de precisão (fidedignidade) e de validade de um teste,
expressa o nível de relação ou correspondência existente entre dois eventos. O
coeficiente de correlação varia entre menos um (-01) e mais um (+01),
conforme esquema abaixo.

-1 ___ -0,75___-0,5___-0,25____0____+0,25___+0,5___+0,75___+1
Perfeita Alta Média Baixa Ausente Baixa Média Alta Perfeita
Negativa Positiva

3. Referências e indicação de leituras


BUNCHAFT, G. Sob medida : um guia sobre a elaboração de medidas do
com portamento e suas aplicações. São Paulo: Vetor, 2002.
COELHO, L. M. S. ( O rg.). Rorschach Clínico : manual básico. São Paulo:
Terceira Margem, 2002.
MALKI, Y. Descortinando o teste psicológico. São Paulo: Annablume, 2008.
47
MIHURA, J. L. et al. The validity of individual Rorschach variables: Systematic
reviews and meta - analyses of the Comprehensive System. Psychological
Bulletin, 2012, n. 139 , p. 548 – 605.
PASQUALI, L. Validade dos testes psicológicos: será possível reencontrar o
caminho? Psic.: Teor. e Pesq, Brasília, 2007, Vol. 23 n. especial, p. 99 -107.
PASQUALI, L. Psicometria. Rev. Esc. Enferm. USP , São Paulo, v. 43, n.
spe, Dec. 2009. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-
62342009000500002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 18 abr. 2014.

48
Questão 15
Questão 15 15

Os pais e professores de Paulinho, que tem 6 anos e 3 meses de idade,


gostariam de saber mais sobre seu desenvolvimento cognitivo. A professora diz
que Paulinho parece ter dificuldade em se comunicar com as crianças de sua
classe. Ele foi avaliado por meio de uma bateria de testes cognitivos. Os
resultados dessa avaliação foram comparados aos do grupo normativo de
crianças da mesma faixa etária. Os resultados da avaliação de Paulinho são
apresentados na tabela a seguir.

Considerando os resultados apresentados acima, avalie as afirmações a


seguir.
I. Em parte dos testes que requerem habilidades visuais, verifica-se que
Paulinho tem desempenho acima do esperado para crianças de sua idade.
____________________________________________
15 Questão 12 – Enade 2012.

49
Por exemplo, em tarefas que envolvem processamento visual, ele chega a ter
desempenho classificado entre as 10% melhores notas obtidas por crianças da
mesma faixa etária.
II. Paulinho apresenta desempenhos muito baixos, em relação a
crianças de sua idade, em tarefas de processamento auditivo e conhecimento
de palavras. I sso poderá ajudar a compreender melhor as dificuldades de
comunicação relatadas. Esses resultados alertam para possíveis dificuldades
na aquisição de leitura e escrita.
III. Considerando a capacidade global (combinando -se todos os
subtestes), Paulinho tem desempenho superior à média, entre os 2% de notas
mais altas. Esse resultado elimina a hipótese de explicações cognitivas para as
dificuldades de comunicação relatadas pela professora.

É correto o que se afirma em


A. I, apenas.
B. III, apenas.
C. I e II, apenas.
D. II e III apenas.
E. I, II e III.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


No enunciado salienta -se que Paulinho parece ter dificuldades para
comunicar -se e que foi avaliado por meio de uma bateria de testes que inclui
uma série de subtestes destina dos a avaliar fatores cognitivos: “Vocabulário
pictórico” para avaliar inteligência cristalizada; “Memória de palavras” para
avaliar memória de curto prazo; “Raciocínio” para avaliar inteligência fluida;
“Relações espaciais” para avaliar processamento visual; “Consciência
fonológica” para avaliar processamento auditivo e “Cancelamento” para avaliar
velocidade de processamento.
Os resultados obtidos por Paulinho nesses testes foram comparados aos do
grupo normativo de crianças da mesma faixa etária, o que resultou em um
percentil para cada sub -teste e um percentil global. Todos esses dados foram
reunidos em uma tabela de 5 colunas: na primeira coluna estão enunciados os
subtestes; na segunda, os fatores cognitivos avaliados; na terceira, as tarefas

50
solicitadas; na quarta, os resultados padronizados e na quinta e última coluna
estão reunidos dados relativos aos percentis. Uma vez apresentados esses
dados é solicitada a avaliação de três afirmações sobre o desempenho de
Paulinho , duas das quais referem -se também à queixa apresentada por pais e
professores.
Ao sermos convidados a escolher a alternativa correta nos vemos diante da
necessidade de realizar uma leitura correta da tabela, interpretar seus dados à
luz de conhecimentos de psicometria e de estatística e analisá-los com
referência à queixa.

2. Introdução Teórica
Fundamentos, métodos e técnicas de coleta e análise de informações para
investigações científicas e avaliação de fenômenos psicológicos

Testes cognitivos – fundamentos para interpretar resultados


Para interpretar os resultados de um teste é preciso recorrer a padrões pré-
estabelecidos, que servem de referência. Tais padrões são definidos por meio
de um processo denominado normatização, ou seja, pela construção de uma
curva normal de distribuição de resultados obtidos por determinado grupo ou
por uma amostra significativa desse grupo.
A normatização possibilita uniformidade na interpretação de escores dos testes
(PASQUALI, 2009) e o que confere sentido aos escores é o tipo de referência
utilizado. Segundo Pasquali (2009) e Bunchaft (2002, os escores dos testes
psicológicos podem ser referenciados em termos de percentil (posto
percentílico ou ordem percentílica).
Percentil é a nota, ou o resultado bruto, abaixo do qual se encontra
determinada percentagem de resultados". (BUNCHAFT, 2002, p. 93). Ele indica
o percentual de sujeitos da amostra, ou seja, da população de referência, que
se encontra abaixo do escore do indivíduo que realizou o teste. Assim, se o
resultado do sujeito submetido ao teste for 27 e esse valor bruto corresponder
ao percentil 30, isto significa que 30% da população obteve escore inferior a 27
e 70% da mesma população obteve escore superior a 27, como observado na
figura abaixo :

51
3. Referências e indicação de leituras
BUNCHAFT, G.; CAVAS, C. S. T. Sob Medida: um guia sobre a elaboração de
medidas do comportamento e suas aplicações. São Paulo: Vetor, 2002.
ERTHAL, T. C. Manual de Psicometria. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
PASQUALI, L., Psicometria: teoria dos testes na Psicologia e na Educação.
São Paulo: Vozes, 2009.
URBINA, S. Fundamentos da Testagem Psicológica. Porto Alegre: Artmed,
2006.

52
Questão 16
Questão 1616

Há múltiplas tipologias utilizadas para diferenciar os tipos de pesquisa,


considerando a natureza dos problemas investigados e das relações entre os
fenômenos, as estratégias metodológicas utilizadas, a natureza dos dados
coletados e analisados, entre outras dimensões diferenciadoras. Uma das
tipologias usuais discrimina os estudos em: exploratórios, descritivos,
correlacionais e explicativos. Ao se diferenciarem tais tipos, não há uma
atribuição de valor nem uma hierarquia de qualidade das pesquisas. Cada tipo
considera os objetivos específicos da pesquisa, sua natureza e o acúmulo de
conhecimentos sobre o tema eleito. A seguir são descritos de forma bem
sintética quatro estudos sobre temáticas de interesse da Psicologia.
Estudo 1 - Buscando analisar os efeitos possíveis dos conteúdos
antissociais veiculados pela televisão no comportamento agressivo de crianças
entre 5 e 10 anos de idade, foram compostos dois grupos que assistiram a
programas com diferentes conteúdos (um antissocial e outro pró-social). Os
grupos foram compostos aleatoriamente, sendo equiparados quanto a gênero e
faixa etária. Antes e após assistirem aos programas, as crianças foram
observadas em seus ambientes naturais (escola e casa), tendo-se registrado a
frequência e os tipos de comportamentos agressivos. As comparações
permitidas pela pesquisa possibilitaram avaliar a influência da televisão, além
de outros fatores contextuais (família, escola) que também impactavam os
comportamentos agressivos.
Estudo 2 - Buscando-se identificar as diferenças entre homens e
mulheres na suscetibilidade a infecções por DSTs, verificou-se na comparação
entre os percentuais de homens infectados por mulheres e de mulheres
infectadas por homens, depois de uma única penetração, sem proteção, com
parceiro infectado, que mulheres apresentam risco muito maior que homens
em quatro das seis DSTs (clamídia, gonorreia, hepatite B e sífilis). Em se
tratando do papiloma genital e do herpes genital, a percentagem estimada de
infectados não se diferencia entre homens e mulheres.
___________________________
16 Questão 13 – Enade 2012.

53
Estudo 3 - Buscando analisar possíveis fatores associados ao
desempenho de estudantes universitários, um pesquisador aplicou um
questionário, que continha várias escalas validadas, a uma amostra ampla e
representativa de alunos de diferentes cursos de uma universidade de grande
porte. Foram avaliados, entre outros aspectos, a satisfação com a qualidade do
ensino, a integração social com os colegas, a satisfação com a escolha
profissional, o investimento relativo a horas dedicadas ao estudo
semanalmente, além de variáveis socioeconômicas e demográficas. Os
resultados permitiram identificar que maiores níveis de satisfação com a
escolha profissional associavam-se mais fortemente com maior investimento do
aluno no curso e com desempenhos superiores, relativos a notas obtidas nas
disciplinas cursadas.
Estudo 4 - Buscando compreender crenças e significados relacionados
a cuidados com a saúde de um grupo de habitantes de uma comunidade
bastante isolada geograficamente de centro urbano, pesquisadores fizeram
várias visitas ao local e, à medida que se aproximaram dos moradores,
puderam conversar sobre o cotidiano, ouvir histórias sobre o passado da
comunidade, observar interações, rotinas de trabalho, comemorações festivas
e práticas de cuidado com a saúde, tendo sido gerada quantidade razoável de
informações sobre padrões culturais dominantes no grupo. Tais informações
forneceram base para hipóteses iniciais de como as práticas de cuidado com a
saúde eram elementos constituintes de padrões culturais bem distintos dos que
se observam nas grandes cidades do país.

Na sequência em que foram apresentadas, as descrições correspondem aos


estudos
A. explicativo, correlacional, descritivo e exploratório.
B. exploratório, descritivo, explicativo e correlacional.
C. descritivo, correlacional, exploratório e explicativo.
D. explicativo, descritivo, correlacional e exploratório.
E. descritivo, exploratório, correlacional e explicativo.

54
1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo
No enunciado da questão são descritas quatro pesquisas da área de
Psicologia. Cada uma delas foi realizada em conformidade com um
determinado tipo de pesquisa. Uma delas é de tipo exploratório, outra, de tipo
descritivo, outra, de tipo correlacional e outra ainda, de tipo explicativo. Esses
tipos são definidos em função do objetivo específico do pesquisador, d a
natureza da questão em pauta e do conhecimento já acumulado sobre o tema.
As estratégias de coleta de dados e a avaliação das relações entre os
fenômenos implicados são específicas de cada tipo de investigação.
Ao aluno é solicitado que verifique como deve ser classificada cada uma das
quatro pesquisas descritas.

2. Introdução teórica
Fundamentos, métodos e técnicas de coleta e análise de informações
para investigações científicas e avaliação de fenômenos psicológicos

Tipos de pesquisa em Psicologia


A pesquisa em Psicologia dispõe de uma profusão de tipologias de
classificação, uma das quais agrupa as pesquisas em exploratórias,
descritivas, correlacionai s e explicativas.
As pesquisas exploratórias favorecem uma aproximação preliminar a um
determinado objeto de estudo, geralmente complexo, difuso e pouco explorado.
Utilizam, entre outras, técnicas de observação participante e entrevistas. Tais
pesquisas sã o fundamentais na constituição de hipóteses iniciais que servirão
de ponto de partida para futuras investigações.
Os estudos descritivos destinam-se a apresentar em detalhe as
características do objeto de estudo para, a partir disso, identificar possíveis
relações entre as variáveis envolvidas. Utilizam técnicas padronizadas de
coleta de dados, como escalas e questionários.
Os estudos correlacionais possibilitam verificar se há, ou não, correlação
entre duas variáveis. Tais estudos se destinam a examinar quão fortemente
duas variáveis estão relacionadas ou associadas entre si.
Os estudos explicativos possibilitam explicar a razão e o porquê das
coisas, ou seja, as relações de causa-efeito.

55
3. Referências e indicação de leituras
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. São Paulo: Atlas,
1999.
LEVIN, J. Estatística aplicada a ciências h umanas. 2. ed. São Paulo: Harbra,
1987.

56
Questão 17
Questão 1717
Kantowitz, Roediger III e Elmes (2006) afirmam que:
“Se uma teoria precisa de uma proposição distinta para cada resultado
que deve explicar, evidentemente ela não permitiu praticidade. As teorias
ganham solidez quando podem explicar muitos resultados com poucos
conceitos explicativos. Portanto, se duas teorias possuem o mesmo
número de conceitos, a que puder explicar mais resultados é uma teoria
melhor. Se duas teorias podem explicar o mesmo número de resultados,
a com menor n úmero de conceitos explicativos é a preferida”.
(KANTOWITZ, B. H.; ROEDIGER III, H. L.; ELMES, D. G. Psicologia experimental:
psicologia para compreender a pesquisa em Psicologia. (R. Galman, trad. ). São Paulo:

Thomson Learning, 2006, p. 14).

O critério explicativo descrito acima é denominado


A. pragmatismo.
B. testabilidade.
C. refutabilidade.
D. parcimônia.
E. precisão.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê -lo


A questão central abordada nesse enunciado diz respeito às condições para
que uma determinada teor ia científica tenha solidez, ou seja, possa explicar
muitos resultados obtidos em pesquisa utilizando poucos conceitos. É preciso
que as teorias visem praticidade e para que isso ocorra, seus conceitos devem
ser competentes para explicar uma grande diversidade de fenômenos ou
resultados. Com base nesse princípio, é solicitado que se escolha a alternativa
que nomeia corretamente o critério para obtenção de solidez teórica descrito no
enunciado.
2. Introdução teórica
Fundamentos, métodos e técnicas de coleta e análise de informações para
investigações científicas e avaliação de fenômenos psicológicos
___________________________
17 Questão 15 – Enade 2012.

57
Teorias científicas: critérios para obtenção de solidez teórica
Teorias científicas não são consideradas verdades absolutas nem
eternas. Os cientistas formulam e utilizam teorias como hipóteses, ou seja,
como tentativas de explicar ou representar fenômenos da natureza. Com certa
frequência os cientistas precisam decidir sobre qual é a teoria mais adequada a
sua investigação. Alguns critérios para a avaliação de teorias científicas são:
parcimônia, precisão, testabilidade, pragmatismo e refutabilidade.
As teorias científicas ganham solidez quando podem explicar diversos
resultados com poucos conceitos explanatórios. Aqui temos a parcimônia
como critério: quanto menos conceitos explicativos houver em uma teoria,
melhor ela será. Se uma teoria precisa de um novo conceito explicativo para
cada resultado ou fenômeno, ela não é econômica. Segundo o filósofo inglês
Ockam, do século XVII, parcimônia pode ser expressa da seguinte forma: se
existe mais de uma explicação para uma dada observação, devemos adotar a
mais simples.
Dizemos que houve precisão teórica quando foi possível “acertar o alvo”
ao realizar previsões sobre o fenômeno estudado.
Há teorias que possibilitam realizar diversos testes para comprovar sua
correção. Aqui temos a testabilidade como critério.
O pragmatismo estabelece que as questões que não fazem diferença
prática para nossa experiência são inúteis, sem sentido. Segundo esse critério,
é recomendável buscar compreender as nossas experiências. Não buscamos
verdades absolutas, mas sim, afirmações de caráter prático, que permitam
articular, organizar e compreender nossas experiências.
A refutabilidade acha-se bem expressa na seguinte oração: “é
verdadeiro até que se prove o contrário”. Critério proposto por Karl Popper na
década de 30, a refutabilidade acha-se diretamente relacionada ao caráter
transitório da validade de uma teoria científica: ela é válida até o momento em
que seja refutada.

3. Referências e indicação de leituras


ALVES, R. Filosofia da Ciência. São Paulo: Loyola, 2005.
BAUM, W. M. Compreender o behaviorismo: comportamento, cultura e
evolução. Porto Alegre: Artmed , 2006.

58
KANTOWITZ, B. H.; ROEDIGER III, H. L.; ELMES, D. G. Psicologia
experimental: psicologia para compreender a pesquisa em Psicologia. São
Paulo: Thomson Learning, 2006.
LAKATOS, E. M. & MARCONI, M. A. Fundamentos de Metodologia Científica .
São Paulo: Atlas, 2007.
SERIO, T. M. A. P. O behaviorismo radical e a psicologia como ciência. Rev.
Bras. Ter. Comport. Cogn., São Paulo, v. 7, n. 2, dez. 2005. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-
55452005000200009&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 13 set . 2013.

59
Unidade 4

Práticas Profissionais

60
Questão 18
Questão 1818
A saúde no Brasil é organizada em níveis de atenção primária,
secundária e terciária. O nível de atenção primária diz respeito à atenção
básica ou a unidades e programas de saúde que atendem à população em um
nível básico de complexidade tecnológica e de mão de obra. Estão
enquadrados na atenção primária os postos de saúde; o Programa de Saúde
da Família (PSF); os centros de referência que oferecem suporte à saúde da
mulher, da criança, do idoso, do adolescente; os programas antitabagismo e os
de apoio a pessoas com HIV, entre outros. O nível de atenção secundária diz
respeito à complexidade tecnológica e de mão de obra intermediária, como é o
caso dos hospitais gerais. O nível de atenção terciária diz respeito à alta
complexidade tecnológica e de recursos humanos, como é o caso dos hospitais
especializados, como o Instituto Nacional do Câncer (INCA) e a Rede SARAH.
O trabalho do psicólogo da área da saúde que atue no nível de atenção
primária deve estar focado na prevenção de doenças e na promoção de saúde,
o que exige que o psicólogo
A. colabore em equipe interdisciplinar formada para a avaliação e o
tratamento de pacientes com câncer hospitalizados e projete programas de
reabilitação psicológica de pacientes internados.
B. projete programas para ajudar as pessoas a parar de fumar e perder peso,
os quais minimizam outros fatores de risco à saúde, e promova
comportamentos saudáveis, tais como a prática de exercícios físicos e a
alimentação balanceada.
C. facilite o trabalho do médico no serviço de atendimento de emergências
dos hospitais, atuando no acolhimento dos pacientes, e identifique
dificuldades psicológicas que contribuam para a compreensão da doença no
atendimento de emergência hospitalar.
D. promova a educação ambiental, para que as pessoas desperdicem menos
e produzam menos lixo, e crie programas de treinamento e capacitação que
permitam aos médicos lidar melhor com as questões psicológicas dos
pacientes internados em estado grave em unidades de saúde.
______________________

61
18 Questão 31 – Enade 2012.
E. capacite outros profissionais da área de saúde, para que possam realizar
visitas domiciliares e avaliar as condições psicológicas de determinada
população, e promova reuniões de equipe para avaliar os pacientes em
tratamento e reabilitação neurológica em unidade hospitalar.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


Na área da saúde o psicólogo pode atuar em níveis de atenção primária,
secundária e terciária. Ao integrar equipes interdisciplinares de unidades e de
programas de saúde que não demandam complexidade tecnológica por
oferecerem atenção primária, o psicólogo prioriza a prevenção de doenças e a
promoção de saúde. Tais unidades e programas incluem postos de saúde,
Estratégia Saúde da Família (ESF), centros de referência que oferecem
suporte à saúde da mulher, da criança, do idoso, do adolescente, programas
antitabagismo e de apoio a pessoas com HIV. Ao integrar equipes
interdisciplinares de hospitais gerais e outras organizações de saúde de maior
complexidade tecnológica e exigência de mão de obra intermediária, o
psicólogo insere-se em nível de atenção secundária. Finalmente, ao integrar
equipes interdisciplinares de hospitais especializados, de alta complexidade
tecnológica, o psicólogo insere-se em nível de atenção terciária . É colocado
em questão o tipo de exigências feitas ao psicólogo que atua em nível de
atenção primária à saúde.

2. Introdução Teórica
Práticas profissionais nos principais domínios de atuação do psicólogo
priorizando as intervenções nos processos educativos, de gestão, de
promoção de saúde, clínicos e de avaliação

Ação do psicólogo na atenção à saúde


A atenção à saúde no Brasil é realizada em três níveis, de acordo com a
complexidade dos serviços oferecidos à população: o nível de atenção básica
ou atenção primária (prevenção e promoção da saúde), o de atenção
secundária (média complexidade) e o de atenção terciária (alta complexidade).
Incluem-se no primeiro nível os serviços de caráter ambulatorial; no segundo

62
nível, os consultórios especializados e pequenos hospitais (tecnologia
intermediária) e no terceiro nível, os grandes hospitais gerais e especializados
(alta tecnologia), que servem de referência aos demais serviços.
Os psicólogos ocupam um lugar relevante nessa conjuntura.
Primeiramente, por poderem participar do processo de mudança de
paradigmas em saúde, questionando o modelo biomédico, de caráter curativo e
histórico e propondo uma abordagem que privilegie o indivíduo em sua
dimensão biopsicossocial e cultural. Além disso, suas intervenções
profissionais permitem privilegiar o trabalho em grupo para abordagem de
questões da saúde, como o atendimento a hipertensos, diabéticos e gestantes,
entre outros. Podem contribuir, ainda, para a prevenção e promoção da saúde
mental de indivíduos e coletivos. Nos três níveis de atenção à saúde, o
psicólogo encontra inserção em equipes interdisciplinares, realizando, entre
outras ações, estudos de casos, inter consultas, supervisão continuada,
orientação e capacitação no acolhimento e no cuidado assistencial.

3. Referências e indicação de leituras


BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Atenção Primária e
Promoção da Saúde / Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília:
CONASS, 2007. Disponível em:
< http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/colec_progestores_livro8.pdf>.
Acesso em: 20 ago. 2013.
CAMARGO-BORES, C.; CARDOSO, C. L. A Psicologia e a estratégia saúde da
família: compondo saberes e fazeres. Psicologia e Sociedade, 2005, 17(2), p.
26-32.
SECRETARIA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE. ABC do SUS:
Doutrinas e Princípios. Brasília/DF: Ministério d a Saúde, 1990. Disponível em:
< http://www.ccs.ufsc.br/geosc/babcsus.pdf >. Acesso em: 20 ago. 2013.
STRAUB, R. O. Psicologia Da Saúde. Porto Alegre: Artmed , 2005.
VASCONCELOS, C. M.; PASCHE, D. F. O sistema único de saúde. In:
MINAYO, M. C. S; CAMPOS, G. W. S.; AKERMAN, M. (orgs.). Tratado de
Saúde Coletiva. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/Fiocruz, 2006.

63
Questão 19
Questão 1919

O Relatório do Desenvolvimento Humano de 2007, do Programa das


Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), apresenta dados referentes
ao ano de 2005, e nele o Brasil, pela primeira vez, consta entre as nações de
alto desenvolvimento humano. De acordo com o Relatório, o Brasil ocupa a 70ª
posição (em um conjunto de 177 nações avaliadas), com o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,800.
Embora seja alvissareiro que os índices estejam em uma trajetória
ascendente, o quadro social brasileiro não deixa muita margem para euforia. A
posição ocupada pelo Brasil está no limite inferior da escala, com uma
diferença de 0,002 da primeira nação de médio desenvolvimento humano.
Além disso, considerando especificamente o Índice de Pobreza Humana,
pesquisado pelo mesmo programa, o Brasil ocupa a 23ª posição, de um total
de 108 países em desenvolvimento.
_____________________
19 Questão 26 – Enade 2012.

64
Em um país marcado por profunda desigualdade social, a pobreza figura
como um dos traços mais pungentes. Apesar da significativa melhora do
quadro de pobreza nos últimos anos, 16% da população brasileira vive em
condições de extrema pobreza e 38% , em condições de pobreza. ( DANTAS, C.
M. B.; OLIVEIRA, I. F.; YAMAMOTO, O. H. Psicologia e pobreza no Brasil: produção de
conhecimento e atuação do psicólogo. Psicologia e Sociedade , n. 22(1), 2010, p. 104 - 111 .
Adaptado. Disponível em: <http://grafar.blogspot.com.br/2010/02/charge -joel - almeida.html>.
Acesso em: 26 ago. 2012).

Há relação entre o que é mostrado na charge e no texto?


1. Sim, pois tanto a charge quanto o texto abordam temáticas relativas
ao desenvolvimento humano e à miséria.
2. Sim, pois, apesar de ser considerado um país de alto desenvolvimento
humano, o Brasil não evidencia esse atributo na organização da
sociedade.
3. Sim, pois o desenvolvimento humano é processo que envolve os que
se consideram humanos, e os que não se consideram como tal estão na
linha da miséria.
4. Não, pois a charge refere -se ao Programa Nacional de Direitos
Humanos, ao passo que o texto trata de pobreza e desenvolvimento
humano.
5. Não, pois, segundo o texto, o Brasil está, pela primeira vez, entre os
países de alto desenvolvimento humano.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


O Relatório do Desenvolvimento Humano (2007), realizado pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), apresenta
dados referentes ao ano de 2005. Para elaboração desse Relatório f oram
avaliadas 177 nações, com base num Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) de 0,800 e o Brasil ocupou a 70ª posição. Por isso, pela primeira vez
nosso país foi incluído entre as nações de alto desenvolvimento humano. No
entanto, sua posição está no limite inferior da escala, bem próximo à primeira
nação de médio desenvolvimento humano.
O mesmo Programa verifica o Índice de Pobreza Humana e, avaliado
65
segundo esse índice, o Brasil ocupa a 23ª posição entre 108 países em
desenvolvimento. Nosso país é marcado por profunda desigualdade social e
muita pobreza, mesmo tendo havido significativa melhora no quadro de
pobreza nos últimos anos. Segundo indicadores oficiais, 16% dos brasileiros
são extremamente pobres e 38%, pobres, o que soma um total de 54% de
brasileiros pobres ou muito pobres. Mais da metade da população!
Com base nessas informações é solicitado que se verifique se há
relação entre as mensagens veiculadas por dois canais de comunicação –
um visual (charge) e outro exclusivamente verbal (texto).

2 . Introdução Teórica
Interfaces com campos afins do conhecimento (Neurociências, Sociologia,
Antropologia, Filosofia)

O Brasil no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento


O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento ( PNUD ),
vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), visa combater a pobreza
no mundo. Contando com a participação de quase 200 países, o PNUD busca
responder a desafios nas áreas do desenvolvimento e da sustentabilidade.
Tem por objetivo reduzir os altos índices de pobreza no mundo. Há cerca de
40 anos o Brasil participa desse projeto internacional e vem implantando
projetos para suprir necessidades básicas de brasileiros e de residentes no
país.
Para o PNUD, a abordagem de desenvolvimento humano deve enfatizar
o potencial de realização das pessoas e de oportunidades disponíveis. Em
outras palavras, esse conceito de desenvolvimento humano considera possível
ampliar as oportunidades de escolha para que as pessoas utilizem as próprias
capacidades e venham a ser o que almejam s er. A perspectiva do PNUD
não se restringe, pois, a aspectos do crescimento econômico relacionados aos
recursos ou à renda gerada pelos indivíduos: ele também valoriza as próprias
pessoas. A partir das iniciativas do PNUD o foco de interesse deslocou -se do
crescimento econômico (e renda), para o desenvolvimento das pessoas.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH ), por sua vez, é uma
medida, em longo prazo, do progresso alcançado em três dimensões básicas

66
do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. Criado com o objetivo
de oferecer contraponto a outro indicador muito utilizado , o Produto Interno
Bruto (PIB), que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento,
pretende -se que o IDH seja uma medida geral e sintética que amplia a
perspectiva de desenvolvimento humano, embora não abranja todos os seus
aspectos.
Tendo por premissa que as pessoas são a verdadeira riqueza das
nações, o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH ) é reconhecido pelas
Nações Unidas como um exercício intelectual independente e uma importante
ferramenta para aumentar a conscientização sobre o desenvolvimento humano
em todo o mundo. Os RDHs incluem o IDH e apresentam dados e análises
relevantes para organizar a agenda global. Também abordam questões e
políticas públicas que situam as pessoas no centro das estratégias de
enfrentamento de desafios do desenvolvimento.
O PNUD publica anualmente um RDH Global, com temas transversais e
de interesse internacional, bem como o cálculo do IDH de grande parte dos
países do mundo. Publica, também, periodicamente, centenas de RDHs
nacionais, incluindo os do Brasil. Até hoje, o PNUD Brasil já publicou três
Relatórios e dois Atlas de Desenvolvimento Humano nacionais, ferramentas
importantes tanto para os governos quanto para os cidadãos, pois, com mais
informação podemos estar mais conscientes e atuar mais e melhor,
cooperando para a solução dos problemas abordados nos relatórios.
Como vimos, os dados reunidos nesta questão e submetidos à crítica,
foram obtidos em 2005 e constam do RDH d e 2007.

3. Referências e indicação de leituras


DANTAS, C. M. B.; OLIVEIRA, I. F.; YAMAMOTO, O. H. Psicologia e pobreza
no Brasil: produção de conhecimento e atuação do psicólogo. Psicologia e
Sociedade, n. 22(1), 2010, p. 104 -111 (adaptado). Disponível em:
<http://grafar.blogspot.com.br/2010/02/charge-joel -almeida.html>. Acesso em:
22 mar. 2014.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO.
Desenvolvimento Humano e IDH. Disponível em: http://
www.pnud.org.br/IDH/DH. Acesso em: 22 mar. 2014.

67
QUESTÃO 20
Questão 2020
Os fenômenos organizacionais revelam-se complexos para aqueles que
querem investigar seus determinantes, tanto quanto para aqueles que buscam
intervir na solução de problemas comuns no dia a dia de qualquer organização,
independentemente de tamanho, setor ou segmento produtivo. É comum, na
literatura, a compreensão de que tais fenômenos devem ser considerados
como resultados da interação entre fatores que se estruturam em, pelo menos,
quatro níveis de ocorrência: individual, grupal, organizacional propriamente dito
e contextual ou ambiental.
Considerando essas informações, avalie as seguintes afirmações, que
relacionam os níveis de ocorrência dos fenômenos organizacionais com
possíveis explicações de alguns temas organizacionais clássicos.
I. Quando o absenteísmo é considerado o produto de fatores culturais e de
políticas de gestão de pessoas, trabalha-se no nível organizacional.
II. Quando a permanência do trabalhador na organização é explicada pela
intensidade do seu comprometimento organizacional, trabalha-se no nível
individual.
III. Quando a perda do emprego não mais é atribuída à falta de habilidade
do trabalhador, mas, sim, a mudanças tecnológicas que demandam novo
perfil de qualificação, trabalha-se no nível contextual.
IV. Quando a qualidade do desempenho no trabalho é explicada como
resultado de processos motivacionais ligados a valores e metas pessoais,
trabalha-se no nível grupal.
V. Quando o estresse é explicado pelos conflitos, pela falta de comunicação
e pelas relações entre gestores e seus subordinados, trabalha-se no nível
individual.

É correto apenas o que se afirma em


A. I, II e III.
B. I, III e V.
C. I, IV e V.
______________________
20 Questão 30 – Enade 2012.

68
D. II, III e IV.
E. II, IV e V.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreende-lo


Pesquisadores interessados por fenômenos organizacionais, bem como
profissionais atuantes em organizações enfrentam desafios, seja qual for o
porte dessas organizações e seja qual for seu segmento produtivo e seu setor.
Para compreender os fenômenos organizacionais é preciso identificar suas
causas e verificar em que nível ele ocorre - individual, grupal, organizacional e
contextual. Em cada afirmação é estabelecida uma relação entre (1) um
fenômeno, (2) suas possíveis causas e (3) seu nível de ocorrência. Os
fenômenos mencionados são os seguintes: absenteísmo (afirmação I),
permanência do trabalhador na organização (afirmação II), perda do emprego
(afirmação III), qualidade do desempenho no trabalho (afirmação IV) e estresse
(afirmação V). Entre as possíveis explicações para esses fenômenos incluem -
se as seguintes: fatores culturais e de políticas de gestão de pessoas,
intensidade do comprometimento organizacional, falta de habilidade do
trabalhador, mudanças tecnológicas que demandam novo perfil de qualificação,
processos motivacionais ligados a valores e metas pessoais, conflitos, falta de
comunicação, relações entre gestores e subordinados. Os fenômenos ocorrem
em distintos níveis - individual, grupal, organizacional ou contextual.
Nessa questão é solicitado que se verifique, em cada uma das
afirmações, se estão corretas ou incorretas as relações estabelecidas entre
determinado fenômeno, suas causas e seu nível de ocorrência.

2. Introdução teórica
Práticas profissionais nos principais domínios de atuação do psicólogo
priorizando as intervenções nos processos educativos, de gestão, de
promoção de saúde, clínicos e de avaliação

Fenômenos organizacionais, suas causas e níveis de ocorrência


A ocorrência dos fenômenos organizacionais se dá em nível individual, grupal,
organizacional ou contextual (ambiental), ou seja, no âmbito subjetivo, no

69
âmbito das dinâmicas grupais, no âmbito das organizações ou em contexto
social mais abrangente.
Em meio à multiplicidade de fenômenos passíveis de estudo e de
intervenção, pode-se recortar os relativos ao absenteísmo, à permanência do
trabalhador na organização, às mudanças tecnológicas, a processos
motivacionais, a desempenho profissional, a conflitos nas relações
interpessoais, à comunicação deficiente, às relações entre gestores e
subordinados, entre outros tantos.
O absenteísmo tem múltiplas causas possíveis. Pode ser produzido por
causas predominantemente pessoais ou predominantemente organizacionais.
Ou seja, a ausência do trabalhador pode estar sendo motivada por motivos
predominantemente pessoais, como por exemplo, estar tendo dificuldade de
relacionar-se com outras pessoas ou dificuldade de chegar ou permanecer na
empresa por razões familiares. Mas o absenteísmo pode derivar de outras
causas – pode decorrer, por exemplo, de fatores culturais ou de uma gestão
mal conduzida, o que extrapola o âmbito individual.
O comprometimento com o trabalho, segundo Bastos et al (2008), deve
-se a fatores afetivos, normativos e calculativos, todos próprios do nível
individual, porém sujeitos a influências externas ao indivíduo e também à
organização. Assim, grande parte do grau de comprometimento do trabalhador
com a organização deve -se a fatores psicológicos . Seja por razões afetivas ,
gostar de trabalhar onde trabalha, seja por compartilhar dos mesmos valores
da organização, seja pela necessidade de preservar seu salário.
A qualidade do desempenho no trabalho resulta de processos
motivacionais ligados a valores e metas pessoais. Tais processos, embora
sujeitos a determinações grupais, organizacionais e contextuais, ocorrem em
nível individual.
Para a tão temida perda do emprego há múltiplas causas possíveis:
alterações no panorama político e econômico do país, avanços tecnológicos,
políticas organizacionais e tantas outras variáveis às quais estão sujeitos os
organismos institucionais, por serem sistemas abertos. Pode ocorrer, por
exemplo, que o contexto geral obrigue uma organização a contratar
trabalhadores que exibam perfis de qualificação mais adequados à sua
necessidade, decorrendo disso demissões e contratações.

70
O estresse ocupacional, resposta do organismo às demandas da
organização e do trabalho, muito frequente na contemporaneidade, deve-se a
múltiplos fatores: políticas e práticas de recursos humanos, sobrecarga de
trabalho, cultura organizacional e qualidade das relações interpessoais, entre
outros. Além desses determinantes grupais, há outros, de caráter individual,
pois o trabalhador atribui sentidos às circunstâncias e à própria capacidade de
lidar com elas.
O quadro apresentado a seguir favorece a compreensão dos três
conjuntos de fatores relacionados.

3. Indicações de Leitura
BASTOS, A. V. B.; SIQUEIRA, M. M. M.; MEDEIROS, C. A. F.; MENEZES, I.
G. Comprometimento organizacional. In SIQUEIRA, M. M. M. e col. Medidas
do comportamento organizacional: ferramentas de diagnóstico e gestão. Porto
Alegre: Artmed, 2008.
LOIOLA, E.; BASTOS, J. V. B.; QUEIROZ, N.; SILVA, T. D. Dimensões básicas
de análise das organizações. In ZANELLI, J. C; BORGES -ANDRADE, J. E;
BASTOS, A.

71
V. B. (org.). Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre:
Artmed , 2004.
ROBBINS, S. Comportamento organizacional. Trad. Reynaldo Marcondes. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

72
QUESTÃO 21
Questão 2121
João e Francisca, casados há 13 anos, têm dois filhos: Marcos, com 9
anos de idade, e Antônio, com 6. Marcos frequenta o 4.º ano do ensino
fundamental de uma escola pública e, há algum tempo, vem manifestando
comportamento agressivo com os colegas e mostrando - se desinteressado
pelas atividades escolares, o que prejudicou seu desempenho escolar. A
professora relata que Marcos passou a agir dessa maneira depois de ter-se
envolvido em uma briga com alguns alunos mais velhos. O outro filho do casal,
Antônio, está matriculado no 1.º ano dessa mesma escola e, no início do ano
letivo, apresentou dificuldade de adaptação à escola e tem reclamado, com
frequência, que é excluído das brincadeiras por estar acima do peso.
Francisca dedica-se aos cuidados da família e da casa e, sempre que
pode, auxilia os filhos nas tarefas da escola. João trabalha em uma empresa
que foi comprada recentemente por um importante grupo empresarial e, devido
a mudanças na gestão da empresa e à redução na quantidade de
colaboradores, está dedicando mais tempo ao trabalho, para conseguir cumprir
as metas estabelecidas; mostra - se apreensivo e insatisfeito com a empresa,
assim como outros colegas de trabalho.
Tendo como base essas informações, escolha o contexto escolar ou o
organizacional e redija uma proposta de intervenção para uma das situações
relatadas, justificando o plano descrito com conceitos que fundamentam a
escolha realizada. (valor: 10,0 pontos)

________________________________
21 Questão Discursiva 3 – Enade 2012

73
1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo
Esta questão faz referência à necessidade de oferecer cuidados a duas
crianças – Marcos e Antônio. Antônio (6 anos), aluno do 1º ano, apresentou
dificuldade de adaptação à escola por ocasião de seu ingresso e, atualmente,
reclama que é excluído das brincadeiras por ser gordinho. Marcos (9 anos),
aluno do 4º ano, tem demonstrado desinteresse pelas atividades escolares e
está agressivo com os colegas desde que envolveu-se em uma briga com
colegas mais velhos. Os pais desses meninos - João e Francisca - estão
casados há 13 anos.
Enquanto Francisca cuida da casa, João sai para trabalhar. Francisca ajuda os
filhos nas tarefas da escola sempre que pode, mas João não tem tido tempo
para dar-lhes atenção, pois seu trabalho exige muitos esforços: há metas a
serem cumpridas em prazos exíguos e poucos trabalhadores. Isso o deixa
apreensivo e insatisfeito com a empresa e com os colegas.
Podem ser propostas a essa família intervenções psicológicas em distintos
contextos, por exemplo, no escolar ou no organizacional. Solicita-se que, uma
vez priorizado um desses contextos, seja elaborada uma proposta de
intervenção que esteja apoiada em conceitos da Psicologia.

2. Introdução teórica
Práticas profissionais nos principais domínios de atuação do psicólogo
priorizando as intervenções nos processos educativos, de gestão, de
promoção de saúde, clínicos e de avaliação.

74
Intervenção psicológica no contexto escolar e organizacional
1. Intervenção no contexto escolar
Muitos psicólogos atuantes no âmbito educacional atribuem as causas
das dificuldades escolares à própria criança ou, quando muito, a seus pais e/ou
professores, desconsiderando variáveis do sistema educacional e do sistema
sócio-político-econômico vigentes. No entanto, tem sido bastante difundidos
resultados de pesquisas que alertam para o fato de ser indispensável
considerar tais estruturas para um adequado entendimento da queixa escolar.
Quando Angelucci (2004) examina a produção de teses e dissertações
do Instituto de Psicologia e da Faculdade de Educação da USP, constata que
alguns estudos consideram a queixa escolar “resultante de problemas
psíquicos ou emocionais” dos alunos ou da “ineficiência dos professores para
ensinar”. A responsabilidade pelo fracasso migra do aprendiz, que não aprende
por alguma razão de ordem biopsicológica, que espelha muitas vezes uma
dinâmica familiar pouco sadia, para o professor, de formação considerada
deficiente. Segundo essa autora, explicações psicobiológicas do fracasso
escola continuam recebendo grande aceitação e soma-se a isso a ideia
amplamente aceita da falta de preparo dos professores.
Dificuldades escolares recebem atenção de distintos enfoques da
Psicologia, alguns dos quais privilegiam, ainda hoje, o psicodiagnóstico e a
psicoterapia individuais. Freller (2001) lembra que os processos e as práticas
escolares produzem e mantêm dificuldades apresentadas pelas crianças nas
escolas. Considera que tais dificuldades são geradas por uma “rede de
relações que inclui a escola, a família e a própria criança, em um contexto
socioeconômico que engendra uma política educacional específica”.
(FRELLER et al. 2001, p. 130)
Embora não haja um modelo padrão de atuação do psicólogo, ele deve
considerar sempre os diversos fatores interativos e propiciadores da situação
apresentada como problemática. Seu atendimento exige reflexão pessoal,
busca de contextualização e de encaminhamentos para a solução.
Indispensáveis ao procedimento psicológico devem ser as seguintes ações:
escutar todos os envolvidos; facilitar a comunicação entre eles; estimular
crianças, seus pais e agentes da educação escolar a refletirem; criar
oportunidades para que as crianças se expressem e atribuam significado à

75
dificuldade experimentada; apresentar ideias e implicar a escola na
problemática; participar da definição de recursos a serem utilizados pela
instituição em sua relação com a criança e da definição de mudanças a serem
introduzidas em âmbito familiar e escolar com o objetivo de melhorar a
dinâmica de relações e a qualidade de ensino.

2.Intervenção no contexto organizacional


Para enfrentar desafios próprios das organizações de trabalho,
independentemente do porte da organização e do segmento produtivo, é
preciso que os psicólogos identifiquem as causas dos fenômenos ali vigentes.
Tais causas, que inevitavelmente interagem, ocorrem em distintos níveis -
individual, grupal, organizacional e contextual.
Assim, o ponto de partida para qualquer intervenção deve ser esse:
avaliar o quadro geral de eventos, que exige o reconhecimento da dinâmica de
interações entre as diversas causas, bem como a de interação dessas causas
com possíveis efeitos.
Fatores socioculturais, políticas de gestão empresarial, compromisso
dos empregados com a organização, preparo/despreparo do trabalhador para o
exercício de funções, avanços tecnológicos, perfis de qualificação profissional,
processos motivacionais, metas e conflitos pessoais e dinâmicas da
comunicação interpessoal são alguns dos fatores a serem considerados.
Seja qual for o nível de ocorrência de dado fenômeno, ele somente
poderá ser compreendido em seu contexto abrangente e nenhuma intervenção
eficaz pode ser realizada sem o diagnóstico prévio da situação.

3. Indicação de Leituras
ANGELUCCI , C. B., & cols. O estado da arte da pesquisa sobre o fracasso
escolar (1991-2002): um estudo introdutório. Educação e Pesquisa USP, 30, 52
-72, 2004.
A NDRADA, E. G. C. Novos paradigmas na prática do psicólogo escolar.
Psicologia: Reflexão e Crítica, 18 (2), 196 -199, 2005.
BASTOS, A. V. B.; SIQUEIRA, M. M. M.; MEDEIROS, C. A. F.; MENEZES, I.
G. Comprometimento organizacional. In SIQUEIRA, M. M. M. e col. Medidas
do comportamento organizacional: ferramentas de diagnóstico e gestão. Porto

76
Alegre: Artmed, 2008.
FRELLER, C. C. et al. Orientação à queixa escolar. Psicologia em Estudo,
Maringá, v. 6, n. 2, p.129-135, 07 dez. 2001. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/pe/v6n2/v6n2a18.pdf>. Acesso em: 25 de ago. 2010.
LOIOLA, E.; BASTOS, J. V. B.; QUEIROZ, N.; SILVA, T. D. Dimensões básicas
de análise das organizações. In ZANELLI, J. C; BORGES -ANDRADE, J. E;
BASTOS, A. V. B. (org.). Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto
Alegre: Artmed, 2004.
MACHADO, A. M. Formas de pensar e agir nos acontecimentos escolares:
abrindo brechas com a psicologia. In FACCI, M.; MEIRA, M.; TULESKI, S.
(orgs.). A exclusão dos “incluídos”: uma crítica da psicologia da educação à
patologização e medicalização dos processos educativos. Santa Catarina:
Editora da Universidade de Maringá, 2011.
MACHADO, A. M. e SOUZA, M. P. R. S. Psicologia Escolar: em busca de
novos rumos. 4 . ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
ROBBINS, S. Comportamento organizacional. Trad. Reynaldo Marcondes. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
SOUZA, M. P. R. Prontuários revelando os bastidores do atendimento
psicológico à queixa escolar. Estilos da Clínica. São Paulo, v. 10, n.
18, jun2005. Disponível em:<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_art
text&pid=S1415-71282005000100008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 01 de
out. 2010.

77
QUESTÃO 22
Questão 2222
A Psicologia do Esporte, como área emergente de aplicação, faz parte
das Ciências do Esporte, juntamente com a Antropologia, Filosofia e Sociologia
do Esporte. No que se refere ao trabalho com atletas de esportes coletivos, a
caracterização do trabalho do psicólogo do esporte ainda está consolidando-se
e, cada vez mais, esse profissional é requisitado a
I. desenvolver programas de auxílio, como, por exemplo, por meio de
psicoterapia individual, a atletas que estejam vivenciando sobrecargas
emocionais devido às altas exigências que os esportes de competição
demandam.
II. identificar características de ansiedade-traço e ansiedade -estado,
direcionando atividades específicas que visem auxiliar os indivíduos a
manejar o estresse em situações de preparação para competições e
durante competições.
III. promover, junto a atletas, técnicos e treinadores, modos de manejo e
enfrentamento de estresse em competições, controle da concentração,
ampliação das habilidades de comunicação e de coesão de equipe,
padrões de resiliência diante de situações de derrota em competições,
desenvolvimento da noção de esporte como promoção de saúde e bem-
estar individual e coletivo.
É correto o que se afirma em
A. I, apenas.
B. III, apenas.
C. I e II, apenas.
D. II e III, apenas.
E. I, II e III.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


As Ciências do Esporte incluem a Antropologia, a Filosofia, a Sociologia
do Esporte e a Psicologia d o Esporte, esta ainda na condição de área
emergente de aplicação. Os psicólogos são solicitados a responder a diversas
_____________________________________
22 Questão 3 4 – Enade 2012.

78
demandas, entre as quais trabalhar junto a atletas de esportes coletivos.
Embora a caracterização do trabalho do psicólogo do esporte ainda esteja em
processo de consolidação, ele é cada vez mais requisitado.
Nesta questão pede-se que seja identificado, entre múltiplas alternativas,
que tipo de demanda é feita ao psicólogo do esporte: compete a esse
profissional desenvolver programas de auxílio a atletas que estejam
vivenciando sobrecargas (por meio de psicoterapia, por exemplo)? Cabe a ele
identificar características de ansiedade-traço e ansiedade-estado para propor
atividades que ajudem a manejar o estresse? Compete ao psicólogo promover
ações junto a atletas, técnicos e treinadores para auxiliá-los a alcançar vitórias
nas competições e a enfrentar possíveis derrotas?

2. Introdução Teórica
Práticas profissionais nos principais domínios de atuação do
psicólogo priorizando as intervenções nos processos educativos, de
gestão, de promoção de saúde, clínicos e de avaliação

Psicologia do Esporte – ação junto a atletas de esportes coletivos


Esportes de alta competitividade produzem estresse em atletas e
treinadores. Nas situações esportivas de resultados importantes, porém
incertos, são frequentes as ocorrências de sintomas físicos e psicológicos:
aumento do batimento cardíaco, sudorese, “frio na barriga”, dificuldade na
respiração, tensão muscular, boca seca, ansiedade, medo, excesso de
preocupação, dificuldade de concentração e de tomar decisões, perda de
controle, rapidez no falar e comportamentos repetitivos.
A ansiedade, fator relacionado ao desempenho esportivo, é
caracterizada como ansiedade-estado ou ansiedade-traço. No primeiro caso -
ansiedade-estado – há um estado emocional temporário e em constante
variação, e no segundo caso - ansiedade-traço – há um estado permanente,
ou seja, a ansiedade integra a constituição pessoal. Assim, atletas com as
mesmas habilidades físicas, colocados sob pressão idêntica, podem ter
reações de ansiedade-estado. No entanto, essas reações diferem devido ao
fato de alguns atletas apresentarem ansiedade-traço e outros não.

79
Resiliência, capacidade de resistir em meio a situações extremas e de
poder recuperar-se bem, é um fator importante no universo das competições
esportivas. Durante as disputas são frequentes as situações adversas -
esgotamento físico, intensa pressão, placar desfavorável, contextos pessoais e
afetivos desfavoráveis.
Atletas resilientes resiste m a tais fatores adversos e conseguem superá-
los. Segundo Brandão (2007), compete ao psicólogo do esporte contribuir para
o desenvolvimento de habilidades psicológicas básicas por meio de uma ação
educativa-preventiva; favorecer a comunicação e a coesão da equipe de
atletas; fomentar a compreensão do esporte como atividade promotora de
saúde e bem-estar individual e coletivo; preparar psicologicamente indivíduos e
equipes para que ampliem suas possibilidades de autocontrole emocional em
condições de estresse competitivo e em momentos difíceis do treinamento.
Também é de sua competência oferecer assessoria à comissão técnica.

3. Indicações de Leitura
BRANDÃO, M. R. F. Aspectos Biopsicológicos no Esporte. In: MOREIRA, W.
W.; SIMÕES, R. (org.). Fenômeno esportivo no início de um novo milênio.
Piracicaba: UNIMEP, 2000.
BRANDÃO, M. R. F.; VALDÉS CASAL, H. M. Modelos de prática profissional
na Psicologia do Esporte. Coleção Psicologia do Esporte e do Exercício, v. 1,
São Paulo: Atheneu, 2007.
GOULD, D., WEINBERG, R. S. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do
Exercício. 4 ed. Porto Alegre: ARTMED, 2008.
SAMULSKI, D. Psicologia do Esporte. São Paulo: Manole, 2002.

80
Questão 23
Questão 2323
A seguinte queixa foi encaminhada ao Conselho Regional de Psicologia:
Uma adolescente, atendida no setor de orientação vocacional, queixou-se de
que o psicólogo influenciava a paciente a participar de cultos, relacionando
acontecimentos à vontade de Deus; utilizava-se de mapa astral em suas
orientações e realizava atendimento a diferentes pessoas de uma mesma
família propiciando a troca de informações entre elas. Foi constatado o uso de
mapas astrológicos em sessões de orientação vocacional como ferramenta
complementar de análise. Verificou-se, ainda, que houve indução a convicções
morais e religiosas e que foi realizado atendimento individual a diversos
membros da família. Em sua defesa, o psicólogo negou ter abordado a questão
religiosa e devassado o sigilo, destacando ser relativa a inviolabilidade, já que
a atendida era menor de idade. Afirmou utilizar-se somente de instrumentos
científicos e, eventualmente, da técnica de mapa astral para melhor
compreender os pacientes e abreviar os processos psicoterápicos. ( Psi Jornal de
Psicologia CRP SP, n. 168, mar./abr./2011. Disponível em:
<http://www.crpsp.org.br/portal/comunicacao >. Acesso em: 06 jul de 2012. Adaptado).

Com base na situação apresentada e tendo como referência o Código de Ética


Profissional do Psicólogo, avalie as afirmações abaixo.
I. A astrologia não é prática complementar da Psicologia e tampouco
método científico; desse modo, não pode ser utilizada direta ou
indiretamente no decorrer de um processo ou tratamento psicológico.
II. O psicólogo tem o dever de respeitar o sigilo profissional, protegendo,
por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas; entretanto, na
situação apresentada, a pessoa atendida era menor de idade, o que
autoriza o psicólogo a repassar aos familiares as informações obtidas.
III. Ao psicólogo é vedado induzir a convicções políticas, filosóficas,
morais ou religiosas no exercício de suas funções profissionais; portanto,
no caso relatado, o psicólogo infringiu o Código de Ética Profissional.

_________________________________
23 Questão 35 – Enade 2012.

81
É correto o que se afirma em:
A. I, apenas.
B. II, apenas.
C. I e III, apenas.
D. II e III, apenas.
E. I, II e III.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


Os órgãos de classe profissional incluem entre seus objetivos receber
denúncias relativas à qualidade do serviço oferecido à população. Os 22
Conselhos Regionais de Psicologia, integrantes do Sistema Conselhos, são
órgãos responsáveis pela orientação e fiscalização da prática profissional de
psicólogos de regiões brasileiras. No caso aqui descrito, um desses conselhos
regionais recebeu denúncia relativa ao procedimento de um psicólogo durante
atendimentos por ele realizados em um setor de orientação vocacional. As
queixas dirigidas ao CRP foram as seguintes: ele estaria influenciando seus
pacientes a participarem de cultos, estaria relacionando acontecimentos à
vontade de Deus, estaria utilizando o mapa astral como instrumento para
realizar orientações e estaria atendendo várias pessoas de uma mesma família
e trocando informações entre elas. Ao intervir, a Comissão de Ética do CRP
constatou que o psicólogo de fato utilizava o mapa astral como recurso auxiliar
e apoiava sua intervenção em convicções morais e religiosas próprias. Em sua
defesa ele informou que utilizava somente instrumentos psicológicos validados
cientificamente e, quanto ao mapa astral, disse recorrer a esse recurso apenas
eventualmente, com a finalidade de agilizar processos psicoterápicos, mas sem
abordar questões de cunho religioso. Quanto à quebra de sigilo, justificou-se
dizendo haver sido necessário compartilhar informações com os responsáveis
pela adolescente, dado o fato de ela ser menor de idade.

2. Introdução teórica
Práticas profissionais nos principais domínios de atuação do psicólogo
priorizando as intervenções nos processos educativos, de gestão, de
promoção de saúde, clínicos e de avaliação

82
Psicologia: ética no exercício da profissão
Ao definir um corpo de práticas para o atendimento de demandas
sociais, o Código de Ética Profissional do Psicólogo busca garantir a adequada
relação de cada profissional com seus pares e com a sociedade em geral.
Em seu Artigo 1º estabelece os deveres fundamentais dos psicólogos, entre os
quais inclui-se o dever de utilizar somente princípios, conhecimentos e técnicas
reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na
legislação profissional.
Em seu Artigo 2º veda ao psicólogo em exercício de suas funções
profissionais, entre outros procedimentos, o de induzir a convicções filosóficas
e religiosas, bem como o de prestar serviços de atendimento psicológico cujos
procedimentos, técnicas e meios não estejam regulamentados ou reconhecidos
pela profissão.
O Artigo 9º desse Código aborda a questão do sigilo profissional,
estabelece como dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional para proteger
a intimidade das pessoas, grupos e organizações. Estabelece, ainda, que em
caso de ser preciso quebrar esse sigilo, o psicólogo deverá restringir-se a
prestar as informações estritamente necessárias.
O Artigo 13º estabelece que no atendimento à criança, ao adolescente
ou ao interdito, deve ser comunicado aos responsáveis o estritamente
essencial para que sejam promovidas medidas em seu benefício.
O Artigo 21º trata das transgressões dos preceitos desse Código: as
infrações disciplinares ficam sujeitas à aplicação de penalidades –
advertências, multas, censuras públicas, suspensão temporária do exercício
profissional e cassação do exercício profissional.

3. Referências e indicação de leituras


BOCK, A. M. et al. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. São
Paulo: Saraiva, 2003.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução n° 010, de 21 de julho de
2005. Aprova o Código de Ética Profissional do Psicólogo.
FIGUEIREDO, L. C. Matrizes do pensamento psicológico. Petrópolis: Vozes,
2002.

83
Questão 24
Questão 2424
As instituições de longa permanência para idosos (ILPI) apresentam
altas prevalências de internados em uso de psicofármacos para o controle de
distúrbios comportamentais. A associação deles com a polifarmácia e a
depressão é significativa, e os portadores de demência foram os que mais
fizeram uso dos neurolépticos. Fatores como idade e sexo, normalmente
relevantes em pacientes ambulatoriais, não apresentaram associação em
pacientes institucionalizados.
Foi realizado estudo transversal e retrospectivo por meio de análise de
prontuários de todos os idosos (60 anos de idade ou mais) internados em uma
ILPI, independentemente das doenças apresentadas. Aplicou-se a regressão
logística para verificar os fatores associados ao uso de psicofármacos na
instituição, obtendo -se os resultados a seguir.

A partir das informações acima, avalie as afirmações seguintes.


I. Os pacientes internados em ILPI merecem atenção especial quanto ao
consumo dos grupos medicamentosos apresentados na tabela, por causa
_______________________________
24 Questão 29 – Enade 2012.

84
de seu uso corriqueiro em quadros demenciais, depressões e distúrbios
comportamentais.
II. O uso de medicamentos psicoativos no contexto das IPLI deve ser
justificado pelas características clínicas dos pacientes, mas não
necessariamente pela etiologia em si, apresentando, em muitos casos,
um mau uso medicamentoso.
III. Apesar dos conhecidos riscos e efeitos colaterais que os
benzodiazepínicos provocam em idosos, torna-se, muitas vezes, difícil
sua retirada em quadros de ansiedade e distúrbios do sono — em razão
da própria institucionalização — , provocando seu consumo em
percentual significativo de asilados.
IV. O quadro depressivo é comum nas ILPI devido, geralmente, a fatores
como as limitações físicas e a dependência funcional, associados ao
isolamento e à negação, no intuito de diminuir a percepção de um
ambiente desconhecido.

É correto o que se afirma em:


A. I e II, apenas.
B. I e III, apenas.
C. III e IV, apenas.
D. II e IV, apenas.
E. I, II, III e IV.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


A questão coloca em evidência o alto consumo de psicofármacos em
instituições de longa permanência para idosos (ILPI). Por meio da análise
estatística de dados coletados em prontuários dos pacientes asilados no
Hospital Geriátrico e de Convalescentes Dom Pedro II, São Paulo (SP) foi
traçado o perfil de uso de psicofármacos em ILPIs e foram identificados fatores
associados a esse uso. O enunciado já antecipa alguns dados obtidos: "A
associação deles com a polifarmácia e a depressão é significativa, e os
portadores de demência foram os que mais fizeram uso dos neurolépticos”.
Isso quer dizer que houve uma associação entre depressão e polifarmácia (uso

85
permanente e simultâneo de cinco ou mais medicamentos) e uma associação
entre prescrição de neurolépticos e quadros demenciais.
Outro resultado de pesquisa é também fornecido no enunciado da
questão: “Fatores como idade e sexo, normalmente relevantes em pacientes
ambulatoriais, não apresentaram associação em pacientes institucionalizados”.
Este é um dado bastante relevante por apontar o fato de não haver
discriminação no uso de medicamentos nas ILPI.
Em seguida, é descrita a metodologia utilizada na pesquisa: “Foi
realizado estudo transversal e retrospectivo por meio de análise de prontuários
de todos os idosos (60 anos de idade ou mais) internados em uma ILPI,
independentemente das doenças apresentadas. Aplicou-se a regressão
logística para verificar os fatores associados ao uso de psicofármacos na
instituição (...).”
Por fim, são reunidos os resultados obtidos em uma tabela de dupla
entrada que cruza dados relativo s à porcentagem de uso das diferentes
classes de psicofármacos (benzodiazepínicos, antidepressivos, neurolépticos e
psicoativos) com dados relativos aos subgrupos portadores de distintos
quadros (demência, sequela de AVC/TCE, depressão, doenças psiquiátric as),
bem como de pacientes sem indicações óbvias do uso de psicofármacos. A
última linha de dados da tabela informa a porcentagem total de uso de
psicofármacos no hospital estudado.

2. Introdução teórica
Práticas profissionais nos principais domínios de atuação do psicólogo
priorizando as intervenções nos processos educativos, de gestão, de
promoção de saúde, clínicos e de avaliação

Uso de psicofármacos em instituição de longa permanência para idosos


(ILPI)
Uma questão recorrente relacionada às Instituições de Longa
Permanência para Idosos (ILPIs) tem sido o uso da polifarmácia. Estima-se que
esteja havendo uso indiscriminado de fármacos e, no que diz respeito aos
psicofármacos, que esse uso seja ainda mais frequente.

86
Nessas instituições é comum a ocorrência de casos de demência senil,
de acidente vascular cefálico (AVC, derrame cerebral), de traumatismo
cranioencefálico (TCE , produzido por agressão ao sistema nervoso advinda
de um trauma externo ), de depressão e de doenças psiquiátricas. A demência
senil é caracterizada pela perda progressiva e irreversível de funções
intelectuais (memória, raciocínio, linguagem) e pela perda da capacidade de
realizar movimentos e de reconhecer ou identificar objetos. O AVC e o TCE
produzem alterações cerebrais momentâneas ou permanentes, de natureza
cognitiva ou física. Ambos deixam sequelas. A depressão é um estado de
humor que determina a vivência intensa de sentimentos de tristeza e de
desesperança. As doenças psiquiátricas, bastante diversificadas e em grande
número afetam substancialmente a auto e a heteropercepção. Nas instituições
que reúnem idosos há, via de regra, pessoas portadoras de todos esses tipos
de distúrbio. Esse fato vem justificando o uso, por vezes abusivo, de
psicofármacos.
Psicofármacos são fármacos que agem sobre funções psíquicas
(atenção, orientação, consciência, afetos, pensamentos, vontades, percepção).
Os medicamentos utilizados no tratamento de transtornos psiquiátricos são
incluídos nas seguintes classes: psicoativos, neurolépticos, benzodiazepínicos
e antidepressivos. Os psicoativos agem principalmente no sistema nervoso
central , determinando alterações da função cerebral , da percepção, do
humor , do comportamento e da consciência. A s principais indicações
terapêuticas dos neurolépticos são as síndromes psicóticas - esquizofrenia,
transtorno delirante persistente, transtorno psicótico breve e transtorno
esquizoafetivo. As principais indicações terapêuticas dos benzodiazepínicos
são: insônia, transtornos de ansiedade, transtorno de ansiedade generalizada,
transtorno de pânico, fobia social, transtornos misto de ansiedade e depressão
e transtornos bipolares. Os antidepressivos são indicados em casos de
depressão, transtorno obsessivo compulsivo, transtorno de ansiedade
generalizada, transtornos de ansiedade, transtornos de alimentação.

3. Referências e indicação de leituras


GABBARD, O. Psiquiatria psicodinâmica. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
LUCCHETTI, G. et al. Fatores associados ao uso de psicofármacos em idosos

87
asilados. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul. v. 32(2), 2010, p. 38 -43
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rprs/v32n2/v32n2a03.pdf>. Acesso
em: 28 ago. 2013.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. CASA CIVIL. Lei 10.741, de 1° outubro de
2003.
Dispõe sobre o estatuto do idoso e dá providência. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm>. Acesso em: 28
ago. 2013.

88
Questão 25
Questão 2525
Avalie as afirmações abaixo, relativas a processos organizacionais e
gestão de pessoas, em especial com referência às características que definem
novas tendências de inserção ampliada do psicólogo em face dos problemas
organizacionais.
I. Tem havido crescente especialização em algumas atividades de RH
que requerem profundo conhecimento técnico e científico, de forma a
possibilitar a atuação do psicólogo como consultor interno.
II. O trabalho em equipes multiprofissionais diversificadas obriga o
psicólogo a lidar com linguagens e estratégias de solução de problemas
oriundas de diferentes domínios de conhecimento.
III. É crescente a participação do psicólogo em programas cujo objetivo é
preservar a saúde do trabalhador e garantir - lhe condições apropriadas
de trabalho.
IV. Cada vez mais, o psicólogo participa como elemento externo à
organização, quer como consultor, quer como mão de obra terceirizada.
É correto apenas o que se afirma em
A. I.
B. II.
C. III.
D. I e IV.
E. II, III e IV.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê -lo


No enunciado é proposta a tarefa de avaliação de quatro afirmações
relativas a processos organizacionais e gestão de pessoas. Tais afirmações
tratam, especificamente, de características próprias das novas tendências de
inserção

__________________________________
25 Questão 28 – Enade 2012.

89
ampliada do psicólogo, quando diante de problemas organizacionais. A
primeira afirmação diz respeito à atuação do psicólogo como consultor interno;
a segunda, refere -se à participação do psicólogo em equipes multiprofissionais
diversificadas; a terceira, à sua participação em programas criados para
beneficiar os trabalhadores e a quarta afirmação diz respeito à atuação do
psicólogo na condição de elemento externo à organização – consultor ou mão
de obra terceirizada.

2. Introdução Teórica
Práticas profissionais nos principais domínios de atuação do
psicólogo priorizando as intervenções nos processos educativos, de
gestão, de promoção de saúde, clínicos e de avaliação

Processos organizacionais e gestão de pessoas - novas tendências de


inserção do psicólogo
Para tratar do tema novas tendências de inserção ampliada do psicólogo
nos processos organizacionais e na gestão de pessoas é preciso reconhecer
que as relações de trabalho na contemporaneidade acham -se inseridas em
um intenso e ágil movimento de transformações, que inclui a transformação de
modelos de gestão e de organização da dinâmica produtiva. Em meio à
crescente competitividade, vigente em nível nacional e internacional, a
sobrevivência das empresas vê -se ameaçada. Para sobreviver, além de
permanecerem atentas aos movimentos do mercado internacional, as
organizações devem adotar novas estratégias, tais como descentralizar o
processo produtivo e implementar tecnologia s de ponta. A atual vivência de
aceleração do tempo acha -se presente também nas empresas – tudo deve
ser rápido, ou rapidíssimo: tanto a produção quanto o fluxo de informações e as
relações de trabalho.
Grassi, Jacques e Schossler (2007) referem-se ao fato de que um estilo
de gestão de resposta imediata ao mercado somente poderá ser
implementado se o processo de trabalho for profundamente alterado, seja por
meio de flexibilidade interna, seja por meio de flexibilidade externa. A
flexibilidade interna depende da presença de funcionários flexíveis e
polivalentes e a externa demanda descentralização das atividades, sendo

90
preciso, para isso, que empresas -satélites realizem tarefas acessórias do
processo de produção.
Nesse panorama geral, onde fica situado o psicólogo? As autoras
mencionadas afirmam que os psicólogos, ao oferecerem consultoria externa,
posicionam -se no contexto da crescente terceirização de serviços.
Oliveira (1999, p. 21) define consultoria empresarial como
(...) processo interativo de um agente de mudanças externo à
empresa, que assume a responsabilidade de auxiliar os executivos e
profissionais da referida empresa nas tomadas de decisão, não
tendo, entretanto, controle direto da situação.

O consultor não possui controle direto da situação e isso o diferencia


de um executivo da empresa - cliente. Quanto às funções tradicionalmente
exercidas pelo psicólogo que integra equipes multiprofissionais no âmbito
empresarial, cabe enfatizar que esse profissional tem sido estimulado a ampliar
fronteiras de interface com as demais disciplinas, em favor do bem estar dos
trabalhadores e, simultaneamente, dos interesses empresariais.

3. Referências e indicação de leituras


GRASSI, V.; JACQUES, M. G. C.; SCHOSSLER, T. A construção das práticas
de consultoria em psicologia organizacional e do trabalho . Rev. Psicol. Organ.
Trab. v.7 n.1 Florianópolis, jun. 2007.
MANCIA, L. T. S. Os desafios do modelo de consultoria interna: uma
experiência gaúcha. 1997. 214 f. Dissertação (Mestrado em Administração) .
Escola de Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre. 1997.
MARTINS, H. H. H. A formação do psicólogo organizacional que atua em
consultoria. Anais do XIV Salão de Iniciação Científica. Porto Alegre: UFRGS,
2002. p. 794.
OLIVEIRA, D. P. R. Manual de consultoria empresarial: conceitos, metodologia,
práticas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
SPINK, P. A organização como fenômeno psicossocial: notas para uma
redefinição da psicologia do trabalho. Psicologia & Sociedade, v. 8. n. 1, p.
174-202, 1996.

91
UNIDADE 5

Fenômenos, Processos e Construtos Psicológicos

92
Questão 26
Questão 2626
O modo como a Psicologia tenta dar conta das relações sociais
apresenta dupla característica. Uma consiste em focalizar as dimensões ideais
e simbólicas e os processos psicológicos e cognitivos que se articulam aos
fundamentos materiais dessas relações. A outra aborda essas dimensões e
esses processos considerando o espaço d e interação entre pessoas ou
grupos, no seio do qual elas se constroem e funcionam. (JODELET, D. Os
processos psicossociais da exclusão. In : SAWAIA, B. As artimanhas da exclusão: análise
psicossocial e ética da desigualdade social. 5 ed. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 54. Adaptado ).

Considerando o contexto acima, avalie as seguintes asserções e a relação


proposta entre elas:
I. A Psicologia Social, ao estudar fenômenos como preconceito,
estereótipo, crenças e valores, insere -se em perspectiva mais
sociologizante do que psicológica.
PORQUE
II. A Psicologia Social tenta compreender de que maneira as pessoas e
os grupos se constroem no interior de relações socioculturais mais
amplas, de acordo com as duas características apontadas por Jodelet.
A respeito dessas asserções s, assinale a opção correta.
A. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma
justificativa da I.
B. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma
justificativa da I.
C. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição
falsa.
D. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição
verdadeira.
E. As asserções I e II são proposições falsas.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


_________________________________

93
26 Questão 32 – Enade 2012.
Para tornar compreensível o enunciado desta questão, convém não
perder de vista o título do capítulo citado – Os processos psicossociais da
exclusão (JODELET, D.), bem como o título do livro em que se encontra esse
capítulo - As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da
desigualdade social (SAWAIA, B.). Esses títulos mostram que, no âmbito da
Psicologia Social, Jodelet prioriza o tema “exclusões socialmente produzidas”.
Segundo essa autora, as relações sociais incluem-se entre os objetos de
estudo da Psicologia. Ao abordar esse objeto de estudo, a Psicologia focaliza
as dimensões (ideais e simbólicas) e os processos psicológicos (entre os quais,
os cognitivos). Uma segunda característica dessa abordagem é a importância
atribuída ao espaço de interação interpessoal e intergrupal, dado o fato de que
pessoas e grupos são construídos nesse espaço e é nele que realizam suas
ações. Uma vez apresentada essa perspectiva teórica, é solicitada a avaliação
de duas asserções e pede-se que seja verificado o tipo de relação estabelecida
entre elas.
Em (I) é afirmado que ao estudar fenômenos como preconceito,
estereótipo, crenças e valores, a Psicologia Social adota uma perspectiva
prioritariamente sociologizante.
Em (II) é afirmado que a compreensão do modo pelo qual pessoas e
grupos constituem-se como tal, no interior de relações socioculturais mais
amplas, a Psicologia Social considera duas características: dimensões e
processos.

2. Introdução Teórica
Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais,
processos básicos (cognição, motivação e aprendizagem), processos
do desenvolvimento, interações sociais, saúde psicológica e
psicopatológica, personalidade e inteligência

Artimanhas da exclusão social: dimensões e processos


Entre os autores da obra As artimanhas da exclusão, organizada por
Bader Sawaya (2001), inclui-se Denise Jodelet, psicóloga social francesa que
reflete sobre os mecanismos que levam uma sociedade que valoriza princípios

94
democráticos a conviver com injustiças e discriminações. Jodelet debate o
tema da exclusão social a partir de categorias de análise da Psicologia Social,
entre os quais incluem-se os processos psicossociais da exclusão e o
enfraquecimento e ruptura de vínculos sociais, fatores fundamentais nos
processos de desqualificação social.
Segundo Jodelet, o estudo dos processos psicossociais da exclusão é
inspirado pela pergunta:
O que faz com que em sociedades que cultuam valores democráticos
e igualitários, as pessoas sejam levadas a aceitar a injustiça, a adotar
ou tolerar frente àqueles que não são seus pares ou como eles,
práticas de discriminação que os excluem? (p. 54).

No estudo das relações sociais busca-se compreender as dimensões


ideais e simbólicas e os processos psicológicos e cognitivos que se articulam
aos fundamentos materiais dessas relações. Para isso, é indispensável
considerar dois elementos - dimensões e processos, ou seja, espaços de
interação interpessoal e intergrupal e modos de construção e de ação das
pessoas.
Jodelet prioriza o tema “exclusões socialmente produzidas”. À Psicologia
Social cabe discorrer sobre o modo pelo qual pessoas e grupos tornados alvos
de discriminação são construídos como uma categoria à parte. Essa autora
participa, pois, da construção de modelos teóricos que favoreçam a
compreensão de fenômenos associados à exclusão: preconceito, estereótipo,
discriminação, identidade social – representações sociais e ideologia.
Recomenda que os processos psicológicos e sócio cognitivos atrelados às
relações intergrupais sejam analisados.
Considerando os preconceitos e estereótipos como mediadores da
exclusão, discorre sobre a tendência a imputar características, ações e
intenções comuns a determinados grupos de indivíduos, que passam a ser
rejeitados por sua condição de “diferentes”. Alerta para o fato de que
determinadas influências exercidas sobre a percepção e o comportamento dos
sujeitos conduz a situações de discriminação, da qual decorrem favores para
os semelhantes e rejeição dos diferentes.
Como a exclusão se instaura e se mantém a partir das representações
sociais que a comunicação social e mediática contribui para difundir, os

95
preconceitos e estereótipos são alimentados pelo discurso social e cumprem o
papel de forças reguladoras das relações entre grupos que se confrontam em
situações sociais e políticas concretas.

3. Referências e indicação de leituras


JODELET, D. Os Processos psicossociais da exclusão. In: SAWAIA, B. (Org.) .
As artimanhas da exclusão - Análise psicossocial e ética da desigualdade
social. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.
ROCHA, M. L. da. Resenha da obra SAWAIA, B. (Org.) . As artimanhas da
exclusão - Análise psicossocial e ética da desigualdade social. 3 ed.
Petrópolis: Vozes, 2001.
Disponível em: http://www.revispsi.uerj.br/v2n2/artigos/Resenha.pdf. Acesso
em: 30 mar. 2014.

96
Questão 27
Questão 2727
A figura abaixo sintetiza resultados de três estudos de neuroimagem, por
meio dos quais se busca investigar a relação entre a inteligência e a ativação
de regiões cerebrais específicas.

GRAY, J. R. & THOMPSON, P. M. Neurobiology of intelligence: science and ethics. Neuroscience, n. 5,


2004, p. 471 - 82. Adaptado.

A figura 1 mostra regiões em que o volume da substância cinzenta está


sob forte influência genética, tendo o volume dessas áreas correlação
moderada com a inteligência geral.
A figura 2 mostra áreas pré-frontais laterais que são recrutadas mais
intensamente para se responder a tarefas verbais e não verbais presentes em
testes de inteligência geral.
A figura 3 mostra as regiões ativadas em tarefas de memória de trabalho
— verbais e não verbais — , especialmente aquelas que envolvem
interferência de estímulos que requerem atenção controlada. O nível de
atividade nessas regiões, ao se responder a tarefas de memória, está
correlacionado com o desempenho em testes de inteligência fluida, mais
associados à inteligência geral.

Considerando os achados desses estudos, avalie as afirmações abaixo.


I. A inteligência geral está associada ao volume das áreas que contêm o
corpo celular dos neurônios.
II. Os resultados indicam que tarefas de inteligência fluida recrutam áreas
cerebrais distintas daquelas recrutadas por testes de memória de trabalho.
______________________
27 Questão 25 – Enade 2012.

97
III. Os resultados sugerem que os altos índices de herdabilidade da
inteligência geral podem, em parte, ser explicados por diferenças
neuroanatômicas estruturais.
IV. Os achados permitem visualizar-se que as áreas que contêm os axônios
são as que sofrem mais influência genética.

É correto apenas o que se afirma em


A. I.
B. II.
C. I e III.
D. II e IV.
E. III e IV.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


Nessa questão são apresentados três estudos sobre a relação entre
regiões cerebrais e inteligência, verificada por meio de exames de
neuroimagem durante a aplicação de testes de inteligência . O primeiro estudo
mencionado refere-se ao fato de que a inteligência geral acha-se
moderadamente correlacionada ao volume de substância cinzenta, região
cerebral sob forte influência genética. No segundo estudo é afirmado que ao
ser preciso realizar tarefas verbais e não verbais nos testes de inteligência
geral, as áreas cerebrais mais intensamente recrutadas são as pré -frontais
laterais. Os resultados de pesquisa obtidos no terceiro estudo acham -se
representados graficamente: estão assinaladas as regiões cerebrais
especialmente ativadas diante da exigência de realizar tarefas de memória de
trabalho — verbais e não verbais (especialmente tarefas que requerem
atenção controlada por haver interferência simultânea de estímulos). Esse
estudo permitiu concluir também que quando se trata de responder a tarefas
de memória, o nível de atividade nessas regiões está correlacionado com o
desempenho em testes de inteligência fluida (mais associados à inteligência
geral).

98
2. Introdução Teórica
Interfaces com campos afins do conhecimento (Neurociências,
Sociologia, Antropologia, Filosofia)

Bases neurológicas da inteligência


A inteligência, que pode ser definida como “habilidade de aprender a
partir da experiência, solucionar problemas e usar o conhecimento para se
adaptar a novas situações" (MYERS, 2006, p. 307), envolve diversas
capacidades, entre as quais o raciocínio, a capacidade de planejar, de resolver
problemas, de pensar de modo abstrato, de compreender ideias complexas, de
aprender rapidamente, de aprender com a experiência (GOTTFREDSON,
1997).
O conceito de inteligência geral, proposto por Spearman (1904), inclui a
noção de que diferentes tipos de desempenho cognitivo - atenção, memória,
funções executivas, raciocínio abstrato, habilidade de cálculo, linguagem etc. -
são positivamente correlacionados entre si (SILVA, 2005). Ou seja, o bom
desempenho em determinada área, como cálculo, por exemplo, se faz
acompanhar da tendência a um bom desempenho em outras áreas - atenção,
memória etc. A partir dessa constatação foi postulada a existência de um fator
geral de inteligência - fator “g”, que influencia todo e qualquer desempenho
cognitivo. Fatores específicos (“s ”), por sua vez, influenciam performances
específicas, como memória e capacidade de cálculo (SCHELINI, 2006; SILVA,
2005; PRIMI, 2003).
Por inteligência fluida entende-se a capacidade de resolver problemas
novos, relacionar ideias, induzir conceitos abstratos, compreender implicações,
extrapolar e reorganizar informações (PRIMI, 2003). Associada a componentes
não-verbais, a inteligência fluida depende pouco de conhecimentos prévios. Ela
depende, pois, de conhecimentos específicos da condição sócio -cultural dos
indivíduos (SCHELINI, 2006).
A inteligência sofre influência genética? Para responder a essa pergunta
foram realizados muitos estudos. Um estudo de gêmeos idênticos, por
exemplo, conduziu à conclusão de que a herdabilidade da inteligência varia
entre 60% e 80% (LUBINSKI, 2000 apud ATKINSON, 2002). Outros estudos
sugerem carga menor. De acordo com Silva (2005), uma análise dos dados

99
disponíveis possibilita concluir que as influências genéticas são responsáveis
por 50% das diferenças individuais observadas.
Quanto às correlações entre zonas cerebrais e inteligência, estudos
comprovam que embora a inteligência não esteja localizada em área específica
do cérebro, correlações são estabelecidas, havendo diferenças relativas às
áreas de substância branca, que contêm fibras nervosas mielínicas (axônios),
que lhe conferem aspecto esbranquiçado, e áreas de substância cinzenta, que
contêm corpos dos neurônios, fibras amielínicas e neuroglia, que lhe conferem
aspecto acinzentado. O córtex, camada fina da superfície do cérebro e do
cerebelo, também é composto por substância cinzenta (MACHADO, 2006).

3. Referências e indicação de leituras


ATKINSON, R. L. et al. Introdução à Psicologia . 13 ed. Porto Alegre: Artmed,
2002.
COLOM, R. et al . Human Intelligence and Brain Networks. Dialogues Clin
Neurosci, 12(4): 489 –501, 2010. Disponível em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3181994/#__ffn_sectitle . Acesso
em: 19 abr . 2014.
DEARY, I. J.; PENKE, L.; JOHNSON, W. The neuroscience of human
intelligence diferences. Nat Rev Neurosci, 11(3): 201 -11, 2010. Disponível
em: http://www.larspenke.eu/pdfs/Deary_Penke_Johnson_2010_ -
_Neuroscience_of_intelligence_review.pdf. Acesso em: 19 abr. 2014.
GRAY, J. R., THOMPSON, P. M. Neurobiology of Intelligence: Science and
Ethics. Rev Neurosci, 5(6): 471 -82, 2004. Acesso em: 19 abr. 2014.
GOTTFREDSON, L. Mainstream science on intelligence: an editorial with 52
signatories, history, and bibliography. Intelligence, 24: 13 -23. 1997. Disponível
em: http://www.udel.edu/educ/gottfredson/reprints/1997mainstream.pdf. Acesso
em: 19 abr . 2014.
MACHADO, A. Neuroanatomia Funcional. 2 ed. São Paulo: Atheneu, 2006.
MYERS, D. Psicologia. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
PRIMI, R. Inteligência: avanços nos modelos teóricos e nos instrumentos de
medida. Aval. psicol., Porto Alegre, v. 2, n. 1, 2003. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-
04712003000100008&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 19 abr . 2014.

100
SCHELINI, P. W. Teoria das inteligências fluida e cristalizada: início e evolução
Estud. psicol. Natal, v. 11, n. 3, 2006. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
294X2006000300010&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 19 abr . 2014.
SILVA, J. A. Inteligência: resultado da genética, do ambiente ou de ambos?
São Paulo: Lovise, 2005.
STERBERG, R. J. Intelligence. Dialogues in Clinical Neuroscience, 14(1):19 -
27, 2012.
Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3341646.
Acesso em: 9 abr . 2014.
URBINA, S. Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre: Artmed.
2007.

101
Questão 28
Questão 2828
Para a maioria dos grupos sociais, a brincadeira é consagrada como
atividade essencial ao desenvolvimento infantil. Com o advento de pesquisas
sobre o desenvolvimento humano, observou-se que o ato de brincar conquistou
mais espaço. No âmbito educacional, a brincadeira está colocada como uma
ação fundamental, defendida como um direito, uma forma particular de
expressão, pensamento, interação e comunicação entre as crianças. Assim, a
brincadeira é, cada vez mais, entendida como atividade que, além de promover
o desenvolvimento global das crianças, incentiva a interação entre os pares, a
resolução construtiva de conflitos, a formação de um cidadão crítico e reflexivo.
(QUEIROZ, N. L. N.; MACIEL, D. A.; BRANCO, A. U. Brincadeira e desenvolvimento infantil:
um olhar sociocultural construtivista. Paideia. Ribeirão Preto, v.16, n.34, mai/ago 2006, pp.169 -
179. Adaptado).

Com base nas informações do texto, faça o que se pede nos itens a seguir.
A. Identifique, no texto, um fenômeno psicológico. (valor: 1,0 ponto)
B. Elabore um problema de pesquisa relacionado com o fenômeno
psicológico identificado no item anterior. (valor: 3,0 pontos)
C. Descreva as etapas essenciais de uma pesquisa que investigue o
problema proposto anteriormente. (valor: 6,0 pontos)

102
1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo
O brincar inclui-se entre as principais atividades do desenvolvimento infantil.
Observa -se isso nas mais diversas sociedades. Incluído entre as pesquisas
sobre desenvolvimento humano, o ato de brincar é estudado em seus distintos
âmbitos de ocorrência. No âmbito educacional, a brincadeira é considerada
uma ação fundamental, sendo por isso defendida como um direito. Ela é
reconhecida como uma forma de expressão, de pensamento, de interação e de
comunicação entre crianças. Em outras palavras, a brincadeira é considerada
uma atividade promotora do desenvolvimento global das crianças, pois, além
de favorecer a resolução de conflitos e contribuir para a formação de cidadãos
críticos e reflexivos, também incentiva a interação interpessoal.

2. Introdução Teórica
Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais,
processos básicos (cognição, motivação e aprendizagem), processos do
desenvolvimento, interações sociais, saúde psicológica e psicopatológica,
personalidade e inteligência

Brincadeira e desenvolvimento infantil


Para responder à questão “Como e por que as crianças brincam e qual o
significado do brincar em diferentes culturas?” Queiroz, Maciel e Branco (2006)
analisaram o conceito de brincar adotado por diversos estudiosos do assunto,
buscando verificar qual é a relevância da brincadeira para a compreensão
científica do desenvolvimento infantil.
Esses autores constataram que a evolução do brincar se dá
principalmente nos seis primeiros anos de vida e que as experiências lúdicas
propiciam o aprendizado de recursos para estabelecer relação ativa com o
entorno. Ao propiciar oportunidades para a tomada de decisão em situações
lúdicas que exigem isso, a brincadeira favorece o desenvolvimento de
autonomia, criatividade e responsabilidade relativa às próprias ações. Por isso,
ela pode ser considerada como socialmente construída.
Além de tecerem considerações sobre a importância do faz-de-conta
como atividade promotora de representações e de meta-representações no
desenvolvimento infantil, esses autores particularizam a brincadeira no

103
contexto pedagógico de instituições de educação infantil e discorrem sobre o
papel do professor no desenvolvimento de crianças.

3. Referências e indicação de leituras


CORDAZZO, S. T. D. et al. Metodologia observacional para o estudo do brincar
na escola. Aval. psicol. v.7 n.3 Porto Alegre, dez. 2008. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-
04712008000300014. Acesso em: 16 mar. 2014.
QUEIROZ, N. L. N.; MACIEL, D. A.; BRANCO, A. U. Brincadeira e
desenvolvimento infantil: um olhar sociocultural construtivista. Paideia.
Ribeirão Preto, v.16, n.34, mai/ago 2006, pp.169-179.

104
Questão 29
Questão 2929
Em relação ao estudo das emoções, há vários modelos teóricos
conflitantes. Os modelos teóricos científicos se distanciam da forma como o
senso comum entende as relações entre eventos, as emoções e as reações
das pessoas. Observe as figuras abaixo, que sintetizam a ideia central de
quatro modelos explicativos da emoção.

Considerando os modelos explicativos da emoção apresentados acima, avalie


as afirmações a seguir.
I. A figura 1 corresponde à proposta de James -Lange, segundo a qual a
experiência consciente de emoção resulta da percepção que se tem da
estimulação autônoma, o que inverte a lógica cotidiana de que é o
sentimento que provoca a estimulação autônoma.
II. É congruente o modelo explicativo da figura 2 com a seguinte
proposição: Você treme diante de um animal ameaçador porque tem medo,
ou seja, o sentimento é a causa da estimulação autônoma.
III. A figura 3 representa o modelo teórico de Cannon-Bard, segundo o qual
a emoção ocorre quando o tálamo envia sinais, ao mesmo tempo, para o
__________________________________
29 Questão 9 – Enade 2017.

105
sistema nervoso autônomo e para o córtex cerebral, o que produz
simultaneamente a experiência da emoção e as alterações corporais.
IV. A figura 4 representa a teoria dos dois fatores de Shachter, segundo a
qual a experiência da emoção depende da estimulação autônoma e da
interpretação cognitiva dessa estimulação.
V. É coerente com a teoria expressa na figura 4 a seguinte proposição:
Sente-se medo porque as sugestões situacionais (animal ameaçador, por
exemplo) sugerem que seja essa a razão de alguém estar tremendo.

É correto apenas o que se afirma em


A. I, II e III.
B. I, II e IV.
C. I, IV e V.
D. II, III e V.
E. III, IV e V.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


Os eventos provocam emoções nas pessoas e elas reagem de um modo
ou outro. Para explicar o dinamismo estabelecido entre eventos, emoções e
reações humanas foram construídas diversas teorias psicológicas, algumas
conflitantes entre si e, muitas delas, distantes da compreensão de senso
comum. Uma vez apresentado um conjunto de figuras que sintetizam a ideia
central de quatro modelos teóricos explicativos do dinamismo das emoções, é
solicitada a avaliação de afirmações relativas a esses modelos.

2. Introdução teórica
Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais,
processos básicos (cognição, motivação e aprendizagem), processos do
desenvolvimento, interações sociais, saúde psicológica e
psicopatológica, personalidade e inteligência

Emoção - a contribuição teórica de James-Lange, Cannon-Bard e


Schachter

106
A emoção pode ser definida como uma condição que surge em resposta
a determinadas experiências que envolvem estados afetivos ou sentimentos
(ATKINSON et al., 2002). Funcionalmente, as emoções podem se r entendidas
como mecanismos adaptativos que regulam os objetivos de mais alto nível do
cérebro, mobilizando a mente e o corpo para enfrentar determinados desafios
(PINKER, 1998). Dessa forma, a emoção, como mecanismo orquestrador de
subprogramas de resolução de problemas, combinaria, no mínimo, três
componentes: ativação fisiológica, expressão de comportamento e
experiência consciente (MYERS, 2006).
Há diversos modelos teórico -metodológicos da Psicologia que explicam
o fenômeno emocional pela ativação e sequência dos componentes que o
envolvem. A seguir, são apresentados os modelos clássicos mais divulgados.
O senso comum, isto é, o conhecimento oriundo de experiências e
observações subjetivas, descreve a emoção como um estado intermediário,
associado ao sentimento, situado entre o estímulo que o eliciou e a reação
corporal. Sendo assim, um estímulo amedrontador, como um grande felino, por
exemplo, pode disparar a emoção de medo e, consequentemente, um tremor
(como ilustrado na Figura 1 do enunciado desta questão).
Contestando o senso comum, em 1890, William James defendeu que a
ordem desses dois últimos fatores estaria invertida. A mesma interpretação foi
defendida por Carl Lange, na mesma época, resultando em um modelo
conhecido como James -Lange. Esse modelo propõe que, após a estimulação,
a resposta fisiológica ou excitação corporal antecede o reconhecimento da
emoção, ou seja, a emoção é experienciada depois da resposta física, de
acordo com um processo causal e linear, conforme ilustra a Figura 2 do
enunciado desta questão.
Nas décadas de 20 e 30, Walter Cannon e Philip Bard desenvolveram
uma teoria defendendo que a estimulação da emoção e de seus
correspondentes corporais ocorre simultaneamente. Ou seja, enquanto o
modelo de James -Lange defende que a excitação fisiológica não causa a
emoção, o modelo Cannon-Bard defende que a estimulação ocorre em nível
subcortical do cérebro, acionando concomitantemente os processos fisiológicos
e a experiência consciente da emoção conforme ilustra a Figura 3 do enuncia
do desta questão.

107
Por fim, nas décadas de 60 e 70, Stanley Schachter propôs a teoria dos
dois fatores que, reconhecendo a importância de um componente cognitivo
fundamental no processo emocional, concilia os modelos de James -Lange e
de Cannon-Bard. Para Schachter, um estímulo pode disparar imediatamente
certas reações fisiológicas, mas o sentimento consciente da emoção ocorre
somente após a avaliação cognitiva dessa ativação corporal e da situação (ou
do ambiente) em si, conforme ilustra a Figura 4 do enunciado desta questão.

3. Referências e indicação de leituras


ATKINSON, R. L. et al . Introdução à Psicologia (de Hilgard). 13 Ed. Porto
Alegre: Artmed, 2002.
GLEITMAN, H.; REISBERG, H.; GROSS, J. Psicologia. 7 Ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009.
MYERS, D. Psicologia. 7 e d. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
PINKER, S. Como a mente funciona. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
WEITEN, W. Introdução à Psicologia: temas e variações. 4 e d. São Paulo:
Pioneira Thompson, 2002.

108
Questão 30
Questão 3030
Henry (19 anos de idade) terminou seu trabalho na cozinha e foi para o
convés. Havia u m velho marinheiro sentado em uma escotilha, trançando um
longo cabo. Cada um de seus dedos parecia uma inteligência ágil enquanto
trabalhava, pois seu dono não os olhava. Em vez de olhá-los, tinha os olhinhos
azuis fixos, ao estilo dos marinheiros, cravados além dos confins da costa.
— Então, queres conhecer o segredo das cordas? disse -lhe, sem
afastar o olhar do horizonte. — Pois só tens que prestar atenção. Faço há
tanto tempo que minha velha cabeça se esqueceu de como se faz; só meus
dedos se lembram. Se penso no que estou fazendo, me confundo. (STEIBECK, J.
A taça de ouro. In: POZO, J. I. Aprendizes e mestres. Porto Alegre: Artmed, 2002, p. 227.
Adaptado).

Considerando o texto acima, avalie as seguintes asserções e a relação


proposta entre elas.
I. Depreende -se da fala do velho marinheiro, apresentada no último
parágrafo
do texto, que a aprendizagem motora se diferencia do conhecimento verbal,
pois implica saber fazer algo, sem, necessariamente, saber dizer o que faz.
PORQUE
II. A memória estrutura-se em distintos sistemas: processual, episódico e
semântico.

A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.


A. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e II justifica I.
B. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas II não justifica I.
C. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
D. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
E. As asserções I e II são proposições falsas.

____________________________
30 Questão 14 – Enade 2012.

109
1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo
O texto inicial da questão descreve um encontro entre Henry, jovem de
19 anos que trabalha na cozinha de uma embarcação, e um velho marinheiro
que, sentado em uma escotilha, realiza uma atividade motora - trança um
longo cabo - sem prestar atenção no que faz (“Cada um de seus dedos
parecia uma inteligência ágil enquanto trabalhava, pois seu dono não os
olhava”). O marinheiro diz a Henry que se ele deseja conhecer o segredo (da
confecção) de cordas, deve observá-lo enquanto tece, pois sente-se incapaz
de descrever verbalmente esse processo artesanal.
Essa narrativa ilustra o fato de ser possível desempenhar uma ação
motora anteriormente aprendida, sem o exame consciente de estar realizando
isso (“minha velha cabeça se esqueceu de como se faz; só meus dedos se
lembram”). O marinheiro envelheceu, mas preserva em sua memória de longo
prazo procedimentos aprendidos durante sua juventude. A narrativa ilustra
também o fato de poder ocorrer uma possível (e indesejável) interferência da
deliberação consciente sobre conhecimentos implícitos, ou seja, sobre formas
de proceder (“Se penso no que estou fazendo, me confundo”).
A questão aqui proposta é a seguinte: pede -se a avaliação de duas
asserções e a verificação de uma possível relação entre ambas. Isto é, pede-se
que seja verificado se as afirmações são verdadeiras ou falsas e, em seguida,
se verifique se a primeira é causa da segunda.
A primeira afirmação propõe que “a aprendizagem motora se diferencia
do conhecimento verbal, pois implica saber fazer algo, sem, necessariamente,
saber dizer o que faz”, ou seja, é afirmado que uma habilidade manual
aprendida (saber fazer algo) pode ser realizada desvinculada da capacidade de
descrevê-la verbalmente (saber dizer o que faz).
A segunda afirmação defende a ideia de que há diferentes tipos de
memória. Estruturada em distintos sistemas, há a memória de “saber como”
(memória processual) e a memória de “saber que” (memória episódica e
memória semântica).

2. Introdução teórica
Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais,
processos básicos (cognição, motivação e aprendizagem), processos do

110
desenvolvimento, interações sociais, saúde psicológica e psicopatológica,
personalidade e inteligência.

Memória
A memória pode ser definida de diversas maneiras. Em sua acepção
topográfica ela pode ser considerada como uma instância da mente, na qual
são depositadas e mantidas as informações advindas de eventos vividos.
Enquanto um processo pode ser considerada como a capacidade de um
organismo de alterar seu comportamento devido a experiências prévias. Ou
também como uma série de atividades cognitivas que permitem que tais
acontecimentos passados possam ser resgatados em momentos futuros,
envolvendo, em sua concepção clássica, três estágios: codificação,
armazenamento e recuperação.
A primeira etapa refere-se à transformação da informação ambiental em
um código capaz de ser alocado e condicionado a uma determinada instância.
A segunda etapa, armazenamento, trata da retenção e manutenção
propriamente dita dessa informação. E a recuperação alude ao acesso a essa
informação armazenada e ao seu resgate (ATKINSON et al., 2002; MYERS,
2006). Metaforicamente, o funcionamento adequado das diferentes etapas de
memória garantiria a tradução da experiência em arquivo, em uma linguagem
passível de ser processada como dado de entrada no sistema mnemônico de
processamento de informações, assim como a capacidade de salvá-lo e
arquivá-lo e, posteriormente, carregá-lo e atualizá-lo como processo de saída.
Evidências experimentais e clínicas indicam que, subjacente ao
processo de armazenamento, a memória de longo prazo funciona de maneira
complexa e compartimentada. Isto é, diferente de um sistema unificado, o tipo
de longa duração parece possuir subsistemas paralelos específicos voltados
para determinadas qualidades de informações. Por exemplo, em casos de
amnésia por lesão cerebral devido ao abuso de bebida alcoólica, é possível
que um indivíduo não consiga recordar o nome de pessoas que acabou de
conhecer, mas possa aprender e realizar novas atividades (SACKS, 1997).
Acontecimentos como o descrito sugerem que a memória de longo prazo pode
ser subdividida em explícita (o indivíduo é capaz de declarar verbalmente seu
conteúdo, com recordação consciente ) e implícita ou processual, sem

111
recordação consciente. A primeira, declarativa, abarca conteúdos
autobiográficos de eventos específicos (subtipo episódico) e também de
aspectos mais gerais (subtipo semântico). Além disso, refere-se a
conhecimentos verbais, ou seja, eventos que podem ser descritos pela fala
(“saber que”). A segunda está envolvida, primordialmente, na aquisição e
retenção de processos de condicionamento clássico (também conhecido como
condicionamento respondente, pavloviano ou de aprendizagem associativa) e
atividades cognitivas e motoras simples, tal como trançar um cabo com as
mãos.

3. Referências e indicação de leituras


ATKINSON, R. L. et al . Introdução à Psicologia (de Hilgard). 13 ed. Porto
Alegre: Artmed, 2002.
KANDEL, E. R. Em busca da memória: o nascimento de uma nova ciência da
mente. São Paulo: Companhia das Letra s, 2009.
MYERS, D. Psicologia. 7 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
SACKS, O. O homem que confundiu sua mulher com um chapéu. 1 ed. São
Paulo: Companhia da Letras, 1997.
WEITEN, W. Introdução à Psicologia: temas e variações. 4 ed. São Paulo:
Pioneira Thompson, 2002.

112
Questão 31
Questão 3131
Esquecemos da maior parte das informações que chegam até nós, e
várias teorias já foram propostas para esclarecer por que isso acontece. Entre
elas, as mais conhecidas são a teoria da interferência e a teoria da
deterioração. A interferência ocorre quando informações concorrentes fazem
com que esqueçamos de algo, e a deterioração acontece quando a simples
passagem do tempo faz com que esqueçamos. (STERNBERG, R. J. Psicologia
Cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. Adaptado).

Tendo como base os processos de esquecimento e a teoria da interferência, é


correto concluir que:
A. a interferência retroativa decorre da passagem do tempo, que faz com que
nos esqueçamos de algo.
B. o efeito da recenticidade ocorre quando nos recordamos melhor de itens do
final de uma lista.
C. a interferência proativa ocorre quando nos recordamos melhor de itens do
início de uma lista.
D. o efeito da primazia ocorre após termos aprendido algo, mas antes que
tenhamos que recordá-lo.
E. o decaimento ocorre quando o material que interfere está antes e não
depois da aprendizagem do conteúdo a ser lembrado.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


Afirma -se, inicialmente, que boa parcela daquilo que é vivido não pode
ser lembrado (“Esquecemos da maior parte das informações que chegam até
nós”), o que circunscreve a questão no âmbito de estudos sobre a memória e
destaca o fenômeno do esquecimento. Em seguida expõe dois modelos
explicativos do esquecimento: a teoria da interferência e a teoria da
deterioração.
Segundo a teoria da interferência, ao ocorrer uma espécie de
competição ou de interposição de informações, uma delas pode ser esquecida
ao ser sobreposta por outra (“informações concorrentes fazem com que
_____________________
31 Questão 16 – Enade 2012.

113
esqueçamos de algo”). Segundo a teoria da deterioração, “a simples passagem
do tempo faz com que esqueçamos”, ou seja, as informações podem ser
perdidas em determinado período crítico de tempo.

2. Introdução teórica
Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais,
processos básicos (cognição, motivação e aprendizagem), processos
do desenvolvimento, interações sociais, saúde psicológica e
psicopatológica, personalidade e inteligência.

Memória e esquecimento
O esquecimento pode ser atribuído a diversas causas. Uma dessas
causas pode ser a ocorrência de uma falha em alguma etapa do processo de
memorização. De acordo com a concepção clássica, a memória é constituída
graças à sucessão organizada das seguintes etapas: codificação,
armazenamento e recuperação.
O esquecimento decorre de falha ocorrida em alguma dessas etapas:
por deficiente atenção às informações ambientais ou ausência de esforço
voluntário para retê-las; por transitoriedade da informação, o que, acarreta o
declínio do armazenamento de informações não utilizadas ou não
reprocessadas, favorece sua deterioração, seu decaimento.
As informações são passíveis de alteração e de descarte. Por exemplo,
memórias mais recentes são mais lembradas do que as mais antigas. Ou seja,
os últimos eventos são mais facilmente lembrados, o que caracteriza o efeito
de recenticidade. No entanto, de uma lista de informações, as primeiras podem
ser reprocessadas ou repetidas com maior frequência e essa diferença
caracterizará o efeito de primazia, também denominado efeito de preferência.
Isso explica porque os primeiros itens de uma série são potencialmente menos
esquecidos dos que outros, especialmente, os intermediários.
Nos casos de interferência , embora a experiência tenha sido codificada
e armazenada adequadamente, não pode ser acessada e recuperada. A
incapacidade de relembrar algo pode estar associada a um acúmulo de
informações, que chega a comprometer o resgate de um aprendizado
específico.

114
Falamos de interferência proativa quando informações anteriores interferem
sobre outras, adquiridas posteriormente e falamos de interferência retroativa
quando novas informações comprometem a recordação de algo memorizado
em momento anterior.

3. Referências e indicação de leituras


ATKINSON, R. L. et al . Introdução à Psicologia (de Hilgard). 13 ed. Porto
Alegre: Artmed, 2002.
GLEITMAN, H.; REISBERG, H.; GROSS, J. Psicologia. 7 ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009.
MYERS, D. Psicologia. 7 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
WEITEN, W. Introdução à Psicologia : temas e variações. 4 ed. São Paulo:
Pioneira Thompson, 2002.

115
Questão 32
Questão 3232
Em O preço da perfeição , Ellen (Crystal Bernard), corredora de longas
distâncias, descobre uma ótima maneira de comer à vontade e não engordar
nada: vomitar. Ótima, obviamente, se não considerarmos sua saúde física e
mental. Quando seu treinador sugere que ela perca quatro quilos para melhorar
seu desempenho, ela intensifica a prática de provocar o vômito após as
refeições, o que já fazia desde a infância. (LANDEIRA -FERNANDEZ, J.; CHENIAUX,
E. Cinema e loucura : conhecendo os transtornos mentais através dos filmes. Porto Alegre:
Artmed, 2010).

A respeito da situação descrita acima, avalie as afirmações a seguir.


I. Trata-se de um quadro de anorexia nervosa.
II. É considerado um transtorno, e não uma doença, pois sua etiopatogenia
ainda é desconhecida.
III. Após um episódio de hiperfagia, seria esperado que Ellen fosse acometida
por sentimentos de vergonha e culpa.
IV. Para o DSM-IV, a manutenção do peso normal representa um dos
aspectos
básicos da diferenciação entre os diagnósticos de anorexia nervosa e
bulimia nervosa.

É correto apenas o que se afirma em:


A. I e II.
B. I e IV.
C. II e III.
D. I, III e IV.
E. II, III e IV.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


A questão apresenta uma vinheta clínica elaborada a partir da observação do
comportamento de uma maratonista denominada Ellen. Seu comportamento é
___________________________________________
32 Questão 19 – Enade 2012.

116
descrito como a prática de comer à vontade sem engordar graças ao recurso
de induzir vômitos. Ellen é corredora de longas distâncias e frente à solicitação
de emagrecimento, vinda de seu treinador, ela retoma o hábito, já instituído
desde a infância, de vomitar depois das refeições.

2. Introdução teórica
Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais,
processos básicos (cognição, motivação e aprendizagem), processos
do desenvolvimento, interações sociais, saúde psicológica e
psicopatológica, personalidade e inteligência.

Comportamento Alimentar
Além de sua dimensão fisiológica (nutrir o organismo), o comportamento
alimentar compreende também uma dimensão psicodinâmica e uma dimensão
relacional. Do ponto de vista fisiológico, alimentar-se é satisfazer necessidades
nutricionais; do ponto de vista psicodinâmico, alimentar-se inclui a dimensão do
prazer e do desejo que ultrapassa e, por vezes, subverte tais necessidades.
No Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM -IV)
encontramos a inclusão de dois diagnósticos específicos e bem definidos com
relação ao comportamento alimentar: a anorexia nervosa e a bulimia nervosa.
Esse Manual, organizado pela Associação de Psiquiatria Americana (APA),
apresenta desde a sua terceira revisão (DSM-III) uma descrição empírica dos
transtornos mentais. O esforço metodológico de produzir uma descrição do
transtorno mental sem nenhum embasamento teórico levou à adoção do termo
“transtorno mental” ao invés de doença ou enfermidade. A conceituação de
transtorno mental não inclui a análise de causas prováveis, ou seja, não
discorre sobre sua etiopatogenia. Essa conceituação tem por único objetivo
orientar quanto a essa síndrome, clinicamente importante, que se associa a
sofrimentos, independentemente de quais sejam as suas causas.
A anorexia nervosa caracteriza-se por (1) perda de peso auto induzida;
(2) recusa de manter o peso corporal no intervalo da normalidade, ainda que
em seu limite inferior, por meio de abstenção de alimentos que engordam e (3)
adoção de comportamentos que favorecem o emagrecimento. Neste quadro
clínico os grandes motivadores são a busca implacável de magreza e o medo

117
intenso e mórbido de parecer ou ficar gordo(a). De um modo geral, durante a
anorexia nervosa o( a) paciente mantém o peso corporal 15% abaixo do
esperado. Do ponto de vista psicopatológico, o que caracteriza a anorexia
nervosa é a distorção da própria imagem corporal, pois a pessoa percebe a si
mesma como gorda, apesar de estar muito emagrecida. São reconhecidos dois
subtipos de anorexia nervosa: o restritivo, caracterizado por restrição alimentar
e o purgativo, no qual, além da restrição alimentar a pessoa adota
comportamentos ativos na perda de calorias - vômitos auto -induzidos, abusos
na atividade física, uso de laxantes (DALGALARRONDO, 2008).
A bulimia nervosa consiste em compulsão periódica para alimentar-se e
adoção de métodos compensatórios inadequados para evitar ganhos de peso.
Trata-se de um quadro caracterizado por uma preocupação persistente com a
ingestão d e alimentos e um desejo irresistível de comida, o que leva a pessoa
a repetir episódios de hiperfagia. Igualmente presente é a preocupação
excessiva com o peso corporal, que conduz à adoção de medidas
compensatórias (DALGALARRONDO, 2008). De modo geral, nos indivíduos
com bulimia nervosa há um forte sentimento de falta de controle, o que os leva
a sentirem vergonha e a ocultarem o sintoma.

3. Referências e indicação de leituras


AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION . DSM-IV -TR: Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 4 ed. rev. Porto Alegre:
Artmed 2002.
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais.
2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Classificação de transtornos mentais
e de comportamento da CID -10: descrições clínicas e diretrizes diagnósticas.
Porto Alegre: Artmed, 1993.

118
Questão 33
Questão 3333
Os teóricos da personalidade divergem sobre as questões básicas da
natureza humana: livre arbítrio versus determinismo, natureza versus criação,
importância do passado versus presente, peculiaridade versus universalidade,
equilíbrio versus crescimento e otimismo versus pessimismo. (SCHULTZ, D. P. &
SCHULTZ, S. E. Teorias da Personalidade. São Paulo: Pioneira Thompson, 2002, p. 36 )
Considerando as diferentes questões implícitas nas teorias da personalidade,
avalie as afirmações abaixo.
I. Diferenças culturais afetam o desenvolvimento da personalidade e, portanto,
a natureza humana.
II. As teorias da personalidade diferenciam-se porque partem de diferentes
concepções da natureza humana.
III. Personalidade, conceito que envolve as características pessoais, mais
permanentes e estáveis, pode variar de acordo com as circunstâncias de seu
desenvolvimento.
IV. Aspectos internos influenciam o comportamento das pessoas em diferentes
situações e definem sua personalidade.
É correto apenas o que se afirma em
A. I e III.
B. I e IV.
C. II e IV.
D. I, II e III.
E. II, III e IV.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê -lo


Sobre a personalidade foram desenvolvidas muitas teorias. Schultz e
Schultz (2002) chamam atenção ao fato de que as divergências teóricas
observadas devem-se ao fato de haver distintas concepções de ser humano.
Algumas questões básicas da natureza humana implícitas em seus
pressupostos podem ser situadas em contínuos cujos pólos constituem
binômios: livre arbítrio-determinismo; natureza-criação; importância do
________________
33 Questão 22 – Enade 2012.

119
passado-importância do presente; peculiaridade -universalidade; equilíbrio-
crescimento; otimismo-pessimismo. Pede-se que, uma vez considerados esses
binômios e com base em questões implícitas das teorias de personalidade,
sejam assinaladas as três afirmações corretas de um conjunto de quatro
afirmações .

2. Introdução teórica
Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais,
processos básicos (cognição, motivação e aprendizagem), processos do
desenvolvimento, interações sociais, saúde psicológica e psicopatológica,
personalidade e inteligência

Teorias da Personalidade: questões implícitas


Distintas concepções relativas ao que seja o homem e seu psiquismo
determinaram a elaboração de múltiplas teorias de personalidade, pois, sujeita
a um complexo jogo de forças, a personalidade pode ser definida de muitas
maneiras, dependendo do aspecto enfatizado. Segundo Schultz, D. P. &
Schultz, S. E., os aspectos enfatizados em cada teoria organizam -se em
contínuos estabelecidos entre dois pólos, sendo sempre considerada a
predominância de distintos fatores na determinação da personalidade, como
por exemplo, livre arbítrio/determinismo; peculiaridade/universalidade;
natureza/criação; equilíbrio/crescimento; otimismo/pessimismo; importância do
passado/importância do presente. O termo versus algumas vezes utilizado
nesses binômios sugere haver uma oposição radical entre os pólos. No
entanto, pode -se observar nas teorias de personalidade que nem sempre os
fatores são colocados em oposição: muitas vezes o que temos são diferentes
atribuições de relevância a este ou àquele fator.
Pode-se dizer que um indivíduo seja inteiramente livre? Em que medida
acha-se ele sujeito a determinações de ordem biológica e sócio -cultural?
Pode-se falar em ação do destino sobre as trajetórias humanas? Pode-se
considerar o homem como líder de seu caminho de vida? Estas são questões
relativas ao binômio livre arbítrio/determinismo. O homem representa a
culminância de um processo de evolução natural ou foi criado já em sua
condição humana? Esta questão é relativa ao binômio natureza/criação. Fatos

120
do passado devem ser enfatizados ao considerarmos questões da
personalidade ou sua relevância é equivalente à dos fatos do presente? Esta
questão é relativa ao binômio importância do passado/importância do presente.
A despeito de sua singularidade, as pessoas compartilham características que
definem seu pertencimento a coletivos humanos? Esta questão é relativa ao
binômio peculiaridade/universalidade.

3. Referências e indicação de leituras


AUGRAS, M. Psicologia e cultura. Rio de Janeiro : Nau, 1995.
BALLONE, G. J. ; MENEGUETTE, J. P. Teoria da Personalidade. Internet
PsiqWeb, 2008. Disponível em: www.psiqweb.med.br.
MATTOS, M. B. S. A concepção de espiritualidade na obra de Roberto
Assagioli: a abordagem emergente da Psicossíntese. 2012. 196 f. Dissertação
(Mestrado em Psicologia Clínica). PUC SP, São Paulo. 2012.
SILVA, F. G. Subjetividade, individualidade, personalidade e identidade:
concepções a partir da psicologia histórico - cultural. Psicol. educ., São Paulo,
n. 28, jun. 2009. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
69752009000100010&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 16 ago. 2013.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. Teorias da personalidade. São Paulo:
Pioneira Thompson, 2002.

121
Questão 34
Questão 3434
Considerando as associações das teorias da inteligência com seus
autores, avalie as afirmações abaixo.
I. No modelo de Guilford, a inteligência é representada por três dimensões:
operações, conteúdo e produtos.
II. Na teoria de Spearman, afirma-se que o fator g é o fator geral que
permeia o desempenho em todos os testes de capacidade mental.
III. Na teoria triárquica, Stern Berg considera que a inteligência possui três
aspectos: analítico, criativo e prático.
IV. O modelo de Gardner apresenta sete fatores referentes a capacidades
mentais primárias: compreensão verbal, fluência verbal, raciocínio indutivo,
visualização espacial, números, memória, velocidade perceptual.
V. A teoria de Cattell propõe o modelo de inteligências múltiplas: linguística,
lógico -matemática, espacial, musical, corporal cinestesia, interpessoal,
intrapessoal, naturalista.
Estão corretas apenas as associações feitas em
A. I e V.
B. I, II e III.
C. I, III e IV.
D. II, IV e V.
E. II, III, IV e V .

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


Nesta questão é solicitado que se verifique, entre as afirmações
apresentadas, qual(is) a(s) que associam corretamente autor e teoria. Para
responder a essa questão é necessário compreender que cada uma das
afirmações relaciona um pesquisador importante da história do conhecimento
sobre inteligência a um modelo teórico. Assim, para verificar se a
correspondência entre pesquisador e modelo foi correta ou incorretamente
estabelecida, é preciso, primeiramente, identificar quem são esses
pesquisadores e que teorias são essas.
_______________________________
34 Questão 23 – Enade 2012.

122
Somente depois dessa identificação será possível verificar se a correlação
estabelecida é correta ou não.

2. Introdução Teórica
Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais,
processos básicos (cognição, motivação e aprendizagem), processos do
desenvolvimento, interações sociais, saúde psicológica e psicopatológica,
personalidade e inteligência

Teorias da Inteligência
Entre os teóricos da inteligência, Guilford (1967, 1988) propôs o modelo
da Estrutura do Intelecto (EI), que considera três dimensões de traços
intelectuais: operações, conteúdos e produtos. A dimensão “operações” refere -
se ao processo cognitivo implicado na tarefa (aquilo que a pessoa faz); a
dimensão “conteúdo” refere -se ao processo cognitivo implicado no tipo de
informação veiculada (natureza dos materiais) e a dimensão “produto” refere-se
ao processo cognitivo implicado no resultado obtido pela atividade mental de
processamento da informação.
O psicólogo americano James McKeen Cattell, ao escrever em 1980 um
artigo sobre testes de inteligência, incluiu, entre outras competências a serem
medidas, as seguintes: força muscular, velocidade do movimento, sensibilidade
à dor, acuidade visual e auditiva, discriminação de peso, tempo de reação e
memória. (URBINA, 2000, p. 44).
O psicólogo britânico Charles Spearman (1904, 1907), cujo trabalho é
marcado por forte influência da Estatística, desenvolveu uma teoria da
organização dos traços, denominada teoria dos dois fatores ou modelo
bifatorial de Spearman. Segundo ele, todas as atividades intelectuais, além de
fatores que lhe são específicos, compartilham um fator geral ( g). Esse
componente geral (g) do modelo bifatorial de Spearman, presente nos escores
de todos os testes de capacidade mental, representa a gênese do pensamento
humano. (URBINA, 2000, p. 259 -260).
Stern Berg (1985), outro pesquisador importante, utilizou a expressão
"teoria triárquica da inteligência humana", por considerar a inteligência
constituída por três aspectos: o criativo, que possibilita solucionar problemas

123
novos; o analítico, que possibilita solucionar problemas já conhecidos e
favorece a tomada de decisões e o prático, que possibilita recorrer a teorias
para responder a demandas de ordem prática.
Os estudos de Gardner (1994) substituíram o paradigma unidimensional
da inteligência pelo multidimensional, a partir do reconhecimento de que a
inteligência é composta de diversas “inteligências” interdependentes
(GARDNER, 1995, p. 29). As primeiras inteligências mapeadas por ele foram
as seguintes: lógico-matemática, linguística, naturalista, interpessoal,
intrapessoal, espacial, corporal-cinestésica, musical e existencialista.

3. Referências e indicação de leituras


GARDNER, H. Inteligências Múltiplas: a teoria na prática . Porto Alegre: Artes
Médicas, 1997.
MIRANDA, M. J. A inteligência humana: contornos da pesquisa. Paidéia.
Ribeirão Preto, v. 12, n. 23, 2002.
PASQUALI, L., Psicometria: teoria dos testes na Psicologia e na Educação .
São Paulo: Vozes, 2009.
URBINA, S. Fundamentos da Testagem Psicológica. Porto Alegre: A rtmed ,
2006.

124
Questão 35
Questão 3535

Nessa tirinha, a personagem Mafalda, criada por Quino, expressa o conceito de


A identidade fluida na perspectiva de modernidade tal como proposta por
Bauman.
B institucionalização na perspectiva sociológica de Berger e Luckmann.
C desenvolvimento humano na perspectiva bioecológica de Bronfenbrenner.
D aquisição e desenvolvimento da linguagem na perspectiva soviética de
Luria.
E desenvolvimento da personalidade na perspectiva psicodinâmica de
Melanie Klein.

1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo


Nesta questão é apresentada uma tirinha do cartunista Quino, cuja
personagem mais famosa é Mafalda (1954-1983), questionadora de problemas
políticos e de gênero, entre outros.
Na tirinha aqui apresentada, Susanita pergunta para Mafalda por que
razão os adultos dizem e fazem coisas que as crianças não entendem. Mafalda
explica dizendo o seguinte: quando as crianças ingressam na sociedade, os
adultos já estão ali, já iniciaram suas histórias, e as crianças ainda não têm
condições suficientes para entender tudo o que eles dizem e fazem.
Segundo o autor dessa questão, à luz da Psicologia é possível entender
melhor o diálogo entre Mafalda e Susanita. Solicita que, a partir da análise de
cinco possibilidades teóricas de interpretação, seja escolhida a alternativa
adequada. A alternativa A refere-se a um conceito de identidade (Bauman);
_____________________________
35 Questão 27 – Enade 2012.

125
a alternativa B, a um conceito de institucionalização sob uma perspectiva
sociológica (Berger e Luckmann); a alternativa C, a um conceito de
desenvolvimento humano, sob a perspectiva bioecológica (Bronfenbrenner); a
alternativa D, a u m conceito de desenvolvimento da linguagem (Luria) e a
alternativa E, a um conceito de desenvolvimento da personalidade segundo a
perspectiva psicodinâmica (Melanie Klein).

2. Introdução teórica
Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais,
processos básicos (cognição, motivação e aprendizagem), processos
do desenvolvimento, interações sociais, saúde psicológica e
psicopatológica, personalidade e inteligência

Cinco teorias psicológicas


Nessa tirinha é abordado o tema relativo aos processos por meio dos
quais uma ordem social emerge, se mantém e se transmite ao longo das
gerações. As cinco perspectivas teóricas psicológicas mencionadas no
enunciado ilustram a grande diversidade existente no campo teórico da
Psicologia. Seus enfoques fundamentam-se em distintos pressupostos sobre a
natureza humana e foram construídos em diversos contextos e épocas.
Segundo Zygmunt Bauman, a identidade é construída em função de
escolhas realizadas em meio a muitas possibilidades. Inseridos em um mundo
de rápidas e constantes transformações, as identidades tornam-se fluidas, de
difícil delimitação: as concepções indenitárias definem-se como múltiplas e
multifacetadas nos indivíduos “marcados pela liquidez dos novos tempos”
(BAUMAN, 2001, p. 26). Peter Ludwig Berger , juntamente com Thomas
Luckmann, teorizaram sobre a construção social da realidade. Para eles, o
termo “institucionalização” designa o processo de tornar-se humano, durante as
sucessivas interações estabelecidas entre o organismo biológico e o meio
ambiente (natural e social).
O estudo da institucionalização possibilita entender como uma ordem
social emerge, se mantém e se transmite ao longo das gerações. Para
entender a integração de uma ordem institucional é preciso compreender o
conhecimento que seus membros têm dela. O universo simbólico, matriz de

126
todos os significados socialmente objetivados e subjetivamente reais, é
construído ao longo do tempo. Cada novo indivíduo, de cada nova geração,
deve necessariamente submeter-se ao lento e trabalhoso processo de
apreensão do universo simbólico em que se insere ao nascer.
Ao teorizar sobre o desenvolvimento humano, Urie Bronfenbrenner
enfatiza aspectos bioecológicos. Sua abordagem - ecológica - enfatiza a
importância do ambiente natural e busca apreender a realidade tal como é
vivenciada e percebida pelo indivíduo em seu contexto. Posteriormente,
associado a Morris (1998), Bronfenbrenner reformula sua teoria e passa a
atribuir maior ênfase às interações da pessoa com outras pessoas, objetos e
símbolos. O novo modelo – bioecológicos – reforça a importância das
características biopsicológicas.
Alexander Romanovich Luria teorizou sobre desenvolvimento da
linguagem escrita. Ele é um dos fundadores de psicologia cultural-histórica.
Reconhece que a produção coletiva de construção da escrita (sociogênese)
ocorre há milhares de anos e que, cada criança, ao adquirir essa capacidade,
reproduz o processo em âmbito individual.
Melanie Klein, que teorizou sobre desenvolvimento psíquico nas
primeiras etapas de vida, atribui enorme importância ao ambiente representado
pela mãe nessas etapas da vida para a sobrevivência psíquica e para o
posterior desenvolvimento da criança.

3. Referências e indicação de leituras


BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BAUMAN, Z. Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
BERGER, P.; LUCKMANN, T. A Construção Social da Realidade. 13 ed.
Petrópolis: Vozes, 1996.
BRONFENBRENNER, U. A ecologia o desenvolvimento humano: experimentos
naturais e planejados. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
GROSSKURTH, P. O mundo e a obra de Melanie Klein. Rio de Janeiro: Imago,
1992.
GUERRA, G. C. M.; ICHIKAWA, E. Y. A institucionalização de representações
sociais: uma proposta de integração teórica. REGE, São Paulo/SP, Brasil, v.
18, n. 3, p. 339-360, jul./set. 2011. Disponível em:

127
< http://www.regeusp.com.br/arquivos/942.pdf>. Acesso em 26 ago. 2013.
LERNER, R. M. (Orgs.). Handbook of child psychology, Vol. 1: Theoretical
models of human development. New York: John Wiley, 1998. p. 993 -1028.
LURIA, A. R. O desenvolvimento da escrita na criança. In: NEVES, F. J. L. A
psicanálise kleiniana. Reverso. Belo Horizonte, v. 29, n. 54, set. 2007.
Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
73952007000100004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 26 set. 2013.
MARTINS, E. S. A abordagem ecológica de Urie Bronfenbrenner em estudos
com famílias. Estudos e Pesquisas em Psicologia. Artigo 5. Disponível em:
http://www.revispsi.uerj.br/v4n1/artigos/Artigo%205%20-%20V4N1.htm. Acesso
em: 28 ago. 2013.
NÓBREGA, L. P. A Construção de identidades nas redes sociais. Fragmentos
de Cultura. Goiânia, v. 20, n. 1/2, p. 95 -102, jan./fev. 2010. 95. Disponível em:
<http://revistas.ucg.br/index.php/fragmentos/article/viewFile/1315/899>. Acesso
em: 24 ago. 2013.
PICCOLI, L. O desenvolvimento da linguagem escrita na criança: os estudos de
Luria. Disponível em:
< http://guaiba.ulbra.br/seminario/eventos/2008/artigos/pedagogia/373.pdf >.
Acesso em: 30 ago. 2013.
VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. Linguagem, desenvolvimento
e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 1988.

128
Questão 36
Questão 3636
A realidade dos movimentos sociais é bastante dinâmica e, nem
sempre, as teorizações têm acompanhado esse dinamismo. Com a
globalização e a informatização da sociedade, os movimentos sociais, em
muitos países, inclusive no Brasil e em outros países da América Latina,
tenderam a se diversificar e complexificar. Por isso, muitas explicações
paradigmáticas ou hegemônicas nos estudos da segunda metade do século XX
necessitam de revisões ou atualizações ante a emergência de novos sujeitos
sociais ou cenários políticos. (SCHERER-WARREN, I. Das mobilizações às redes de
movimentos sociais. Sociedade e Estado . Brasília, v. 21, n. 1, jan./abr., 2006, p. 109-130 )

Considerando a afirmação acima, avalie as seguintes asserções e a relação


proposta entre elas.
I. A Psicologia precisa dedicar-se a compreender os novos sujeitos sociais
em seus cenários políticos, a diversidade identitária, as diferentes demandas
por direitos e formas de ativismo, para construir um arcabouço teórico capaz
de dar respostas às demandas de fortalecimento de indivíduos e das redes
sociais.
PORQUE
II. A sociedade civil, embora configure um campo composto por forças
sociais heterogêneas, está relacionada à esfera da defesa da cidadania e
suas respectivas formas de organização em torno de interesses públicos e
de valores, não sendo isenta de relações e conflitos de poder, de disputas
por hegemonia e representações sociais e políticas diversas e antagônicas.
A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.
A. As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II justifica a I.
B. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas II não justifica I.
C. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
D. A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
E. As asserções I e II são proposições falsas.
________________________________
36 Questão 33 – Enade 2012.

129
1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo
A globalização e a informatização da sociedade determinaram uma
crescente complexidade dos movimentos sociais, que foram diversificando-se
cada vez mais. No Brasil e em outros países da América Latina também
ocorreu esse fenômeno. Tais transformações exigem que as teorias
construídas durante a segunda metade do século XX sejam revistas e
atualizada s, pois, novos sujeitos sociais e novos cenários políticos emergem
continuamente. Com base na constatação dessa realidade, é solicitada a
verificação de possíveis relações entre a Psicologia e as demandas da
sociedade civil por meio da análise de duas asserções. Em I é afirmado que à
Psicologia compete compreender os novos sujeitos sociais em seus cenários
políticos e, a partir disso, construir um arcabouço teórico que possibilite atender
às demandas de fortalecimento de indivíduos e redes sociais. Em II é afirmado
que a sociedade civil também é marcada por conflitos de poder e por disputas
internas, embora seu foco seja a defesa da cidadania e dos interesses
públicos, com base em valores de solidariedade.

2. Introdução Teórica
Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais,
processos básicos (cognição, motivação e aprendizagem), processos
do desenvolvimento, interações sociais, saúde psicológica e
psicopatológica, personalidade e inteligência

Psicologia e novas formas de organização da sociedade civil


Retomando um conceito clássico da sociologia política, Scherer-Warren
(2006) parte de uma noção genérica e contemporânea de sociedade civil e
debate o modelo de divisão tripartite da realidade - Estado, mercado e
sociedade civil.
Esta, também constituída como campo composto por forças sociais
heterogêneas, acha-se preferencialmente relacionada à esfera da defesa da
cidadania e suas respectivas formas de organização em torno de interesses
públicos e de valores, entre os quais, a gratuidade e o altruísmo. A adoção
desses valores e os objetivos de ação por ela estabelecidos são fatores que a
distinguem do Estado e do Mercado, ambos orientados, principalmente, pela

130
lógica do poder, da regulação e da economia. No entanto, a sociedade civil
também contém em si relações e conflitos de poder, disputas por hegemonia,
representações sociais e políticas diversificadas e antagônicas.
A sociedade civil inclui organizações do terceiro setor, mas sua ação
cidadã é mais abrangente, pois inclui também diversas outras formas de
organização de interesses e de valores da cidadania para encaminhamento de
ações em prol de políticas sociais e públicas, protestos sociais, manifestações
simbólicas e pressões políticas.
No texto que serve de base a este debate, a autora não faz referência a
uma possível ação de psicólogos para empoderamento de indivíduos e de
redes sociais. Mas, certamente, a Psicologia, reconhecendo os novos sujeitos
sociais, sua atuação em distintos cenários políticos, sua diversidade identitária,
suas demandas por direitos e seus estilos de ativismo, já dispõe de arcabouço
teórico suficiente para responder a demandas de fortalecimento individual e
coletivo. Os estudos psicológicos sobre representações sociais relativas ao
ativismo político, como os desenvolvidos por Guareschi, Hernandez e C
ardenas (2010), por exemplo, contribuem de modo expressivo para o debate
em questão. Esses autores realizam uma revisão da teoria das representações
sociais na contemporaneidade e tratam do paradoxo entre ciência e política.
Reconhecendo que os processos de ativismo político foram negligenciados
pela Psicologia Social, os retomam em sua dimensão teórica e prática. Com o
propósito de debater a importância do processo de representar na atual
conjuntura, caracterizada pela emergência de movimentos sociais, eles utilizam
o conhecimento científico e a 'voz' dos movimentos para compreender as
dinâmicas de conflito no campo político, as orientações culturais da época e os
processos psicossociais inerentes nestas relações.

3. Referências e indicação de leituras


GHON, M. G. Teorias dos Movimentos Sociais. Paradigmas clássicos e
contemporâneos. 6. e d. São Paulo: Loyola, 2007.
GUARESCHI, P. A.; HERNANDEZ, A.; CARDENAS , M. Representações
sociais em movimento : psicologia do ativismo político. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2010.

131
SCHERER-WARREN, I. Das mobilizações às redes de movimentos sociais.
Scielo Brasil, Dossiê: Movimentos Sociais Soc. Estado. vol. 21 n.1 Brasília
Jan./Apr. 2006.
Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?s cript=sci_arttext&pid=S0102 -
69922006000100007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt . Acesso em: 12 abr . 2014.
120

132
Questão 37
Questão 3737
Fabiana, 45 anos de idade, casada, 2 filhos, procura um psicólogo em
razão de sintomas que a acometem há cerca de 10 anos. No contato inicial,
descreve sua situação familiar atual como de muito sofrimento, pois ninguém a
entende nem a ajuda a resolver seus problemas, inclusive seu marido, que,
segundo ela, já não lhe dá muita atenção. Recusa-se a alimentar-se
normalmente “por não sentir fome” e revela que os familiares tentam motivá-la,
sem muito sucesso. Reporta a perda do pai precocemente, aos 12 anos de
idade, e da mãe, há dois anos, e o fato de ter sofrido tentativa de abuso sexual
na adolescência. Sempre foi tratada com muito mimo pela família nuclear (pai,
mãe e irmãos), pois era a única filha.
Culpa-se por não ter podido cuidar da mãe doente, já que também se
sentia enferma. Na juventude, era muito alegre, gostava de sair, de dançar e de
beber com os amigos. Após o nascimento do segundo filho, cuja gravidez,
inicialmente, não aceitou, tendo, inclusive, fantasias de aborto, começou a
sentir tonturas, que pioraram com o tempo. Passou, então, a apresentar
taquicardia, dores no peito, respiração ofegante, tremores, transpiração
excessiva e medo de morrer e de ficar louca. Começou a ficar mais em casa e
a não sair sozinha, com medo de ter alguma crise na rua. Descuidou-se dos
seus afazeres e distanciou-se das pessoas. É excessivamente apegada ao
segundo filho e não admite a hipótese de que ele, algum dia, fique longe dela.
Com base na situação descrita acima, elabore, a partir de uma abordagem
psicoterápica escolhida e justificada, um texto dissertativo, contemplando os
seguintes aspectos:
a) diagnóstico do caso apresentado; (valor: 3,0 pontos)
b) hipóteses sobre o desenvolvimento do transtorno; (valor: 3,0 pontos)
c) técnicas de intervenção. (valor: 4,0 pontos)

______________________________
37 Questão Discursiva 5 – Enade 2012

133
1. Reformulando o enunciado para melhor compreendê-lo
Trata-se do relato do caso de uma mulher adulta, que apresenta
sintomas de fobia, depressão e ansiedade, iniciados há 10 anos, e que,
agravados ultimamente, determinaram uma série de restrições em sua rotina
pessoal e em seu convívio familiar e social. É solicitado que, a partir de uma
perspectiva teórica de livre escolha, seja apresentado o modo pelo qual esse
quadro pode ser compreendido para, com base nisso, diagnosticá-lo, levantar
hipóteses e propor uma intervenção terapêutica, com base na abordagem
teórica escolhida.
Quanto ao diagnóstico do caso apresentado, cabe identificar e
descrever, com base na queixa apresentada, os principais sintomas, seu início
e duração, suas condições de ocorrência, as perdas ou consequências
nefastas na rotina individual, familiar e social da queixante. Para levantar,
conforme solicitado, hipóteses relativas ao surgimento e desenvolvimento do
transtorno é preciso identificar a forma de manifestação dos sintomas, a função
por eles desempenhada, como e quando se manifestam e o que revelam do
sofrimento emocional da pessoa.
Quanto aos recursos de intervenção terapêutica, solicita que sejam sugeridos
procedimentos que, em conformidade com a abordagem teórica escolhida,
contribuam para amenizar o quadro de sofrimento relatado.

134
2. Introdução teórica
Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais,
processos básicos (cognição, motivação e aprendizagem), processos do
desenvolvimento, interações sociais, saúde psicológica e psicopatológica,
personalidade e inteligência.

Transtorno de pânico - diagnóstico e terapia


Descrição - O Transtorno do Pânico (TP) caracteriza -se por crises de
medo e desconforto intensos, acompanhadas de quatro ou mais sintomas
desenvolvidos súbita e abruptamente: taquicardia, sudorese, tremores, falta de
ar, sensação de desmaio, náusea, tonturas, vertigem, desrealização ou
despersonalização, sensação de descontrole ou de enlouquecer, medo de
morrer ou de enlouquecer, anestesia ou sensações de formigamento, calafrios
ou ondas de calor (Associação Psiquiátrica Americana, APA, 2004)
Esses ataques, em geral inesperados, por vezes associados a alguma
situação estressante, podem estar integrando outros transtornos psiquiátricos -
ansiosos e afetivos. Para realizar um diagnóstico de Transtorno do Pânico
(TP), ou seja, ter certeza de tratar-se de um TP e não de outro quadro
qualquer, é preciso verificar se os ataques são frequentes e inesperados e se
são acompanhados da preocupação de ter novos ataques (APA, 1994).
De acordo com a revisão bibliográfica realizada por Demétrio et al
(1999, apud YANO; MEYER e TUNG, 2003), pode-se supor a existência de
subtipos de TP e, dependendo das peculiaridades de cada tipo, a resposta a
determinado tratamento é mais rápida ou mais lenta. Por exemplo, diante de
um diagnóstico de pânico tem sido recomendado, prioritariamente, o
tratamento medicamentoso e, nos casos em que o pânico acha-se associado à
depressão e à agorafobia, um tratamento combinado – medicamentoso e
psicoterápico. Certamente, podem ser adotados diversos modelos de
psicoterapia.
Evolução do TP e quadros a ele associados - Segundo esses autores,
a evolução do TP é crônica e flutuante, havendo períodos de melhoras e de
pioras. Os primeiros sintomas ocorrem, geralmente, no período da
adolescência, estendendo-se até os 35 anos. Telch e Lucas (1994, apud
YANO; MEYER e TUNG, 2003) afirmam que um familiar de primeiro grau de

135
um paciente com TP tem sete vezes mais chance de desenvolver o mesmo
quadro . Estudos com gêmeos monozigóticos mostraram uma influência
genética bastante consistente.
Frequentemente associa-se ao TP um quadro de agorafobia, definida no DSM-
IV (APA, 1994) como a ansiedade por estar em lugares ou situações onde a
fuga é difícil ou não haja ajuda disponível na eventualidade de ocorrer um
ataque de pânico ou de surgirem sintomas isolados. Esse quadro de ansiedade
conduz à evitação sistemática (agorafóbica) de situações como o ficar sozinho
fora de casa ou mesmo dentro de casa, permanecer em meio a grande número
de pessoas ou em lugares fechados, fazer compras em lojas e supermercados,
utilizar meios de transporte público, atravessar pontes e túneis, estar em
elevadores, ficar preso no trânsito. Sendo tais estímulos aversivos, o indivíduo
com agorafobia procura fugir ou esquivar-se deles.
Implicações do TP no cotidiano das pessoas afetadas por esse
transtorno - A esquiva agorafóbica pode levar a prejuízos profissionais e
domésticos, havendo muitas vezes a necessidade de um acompanhante
confiável para que o indivíduo afetado possa sentir segurança. Estudos
epidemiológicos americanos identificaram que entre as pessoas sujeitas ao TP
há altos índices de desemprego, ausência no trabalho e uso de serviços
médicos e de saúde da comunidade em uma frequência até sete vezes maior
do que a da população em geral (Rappaport & Cantor, 1997, apud YANO;
MEYER e TUNG, 2003).
Terapias recomendadas - Segundo a abordagem comportamental, isto
é, aquela que se reporta ao Behaviorismo Radical de Skinner, todo e qualquer
comportamento (inclusive os relacionados à linguagem, ao pensamento e à
cognição) deve ser compreendido a partir das relações funcionais que
estabelece com eventos ambientais. Segundo essa concepção teórica, o TP é
compreendido como um conjunto de respostas psicofisiológicas associadas a
certas condições ambientais. Como outros transtornos de ansiedade, o TP
envolve a relação entre eventos ambientais com funções de estímulo e
respostas organísmicas. Assim, diante de uma queixa de TP, o psicoterapeuta
comportamental realiza uma análise funcional do comportamento para
identificar as variáveis ambientais a serem manipuladas com o objetivo de

136
eliminar ou reduzir a frequência do comportamento alvo, no caso das crises de
pânico.
Yano; Meyer e Tung (2003) sugerem a adoção da terapia cognitivo-
comportamental (TCC) dada a evidência consistente de efetividade na
associação de duas modalidades de tratamento - farmacoterapia e TCC:
ambas propiciadoras de efeitos satisfatórios em curto prazo (BARLOW, et al.,
2000; UHLENHUTH, et al ., 1998, apud YANO; MEYER e TUNG, 2003). Foi
constatada uma pequena diferença na manutenção de ganhos em tratamentos
prolongados, nos casos de descontinuidade no tratamento medicamentoso
(WHITTAL et al. , 2001, apud YANO; MEYER e TUNG, 2003). Embora seja
preciso realizar mais pesquisas de seguimento (follow-up), nesses casos a
TCC parece haver favorecido a manutenção dos ganhos ao longo do tempo
(OTTO, POLLACK, & SABATINO, 1996, apud YANO; MEYER e TUNG, 2003).

3. Indicação de Leituras
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual
of Mental Disorders (4th ed.). Washington, DC: American Psychiatric Press,
1994.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Practice guideline for the
treatment of patients with panic disorder. American Journal of Psychiatry, 155,
1-34, 1998.
LOPES, E. J.; LOPES, R. F. F.; LOBATO, G. R. Algumas considerações sobre
o uso do diagnóstico classificatório nas abordagens comportamental, cognitiva
e sistêmica. Psicol. estud., Maringá, v. 11, n. 1, abr. 2006. Disponível em:
<http: //www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413 -
73722006000100006 &lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 22 de jun. 2011.
SIEBERT, G. Transtorno de pânico : investigação sobre alterações de relato
em terapia analítico comportamental. 2006. Dissertação (Mestrado). PUC-
CAMP, Campinas, SP, 2006.
YANO, Y.; MEYER, S. B.; TUNG, C. T. Modelos de tratamento para o
transtorno do pânico . Estud. psicol. Campinas Sept./Dec. 2003.
Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2003000300009. Acesso
em: 20 fev. de 2014.

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