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Texto literário

Nossa discussão começa justamente com o conceito de texto literário. Para Samuel (2011:7), “o
literário consta de um certo texto que possui a literariedade, constituído pelas metáforas,
metonímias, sonoridades, ritmos, narratividade, descrição, personagens, símbolos,
ambiguidades e alegorias, os mitos e outras propriedades”. Com isso, acrescentamos que são
considerados textos literários, os textos movidos de uma construção que parte de uma realidade
para uma construção da realidade possível do seu criador.
De acordo com Paz (1997:129-130), o literário confunde-se com a literariedade 1, ou seja, “o
conjunto de características interactuantes do texto literário”. Como é óbvio, o conceito de
literariedade não foi o único criado pelas diversas correntes de pensamento. O new criticism
defende que todo o texto literário deve ser abordado como se fosse um pequeno drama em que
se destacam um falante, uma história e sua transmissão a um suposto ouvinte. Tais componentes
integram a situação ficcional de qualquer poema.
Esta corrente assegura que o texto literário seja ele lírico, satírico, Épico ou dramático comporta
sempre uma parcela de ficção, e como tal deve ser lido. Em especial, os textos líricos limitam-se
a explorar o estado de espírito do falante momentos depois de ele passar por uma crise amorosa
ou existencial, como se pode observar no seguinte poema:

Eu queria escrever-te uma carta


amor,
uma carta que dissesse
deste anseio
de te ver
deste receio
de te perder
deste mais bem querer que sinto
deste mal indefinido que me persegue
desta saudade a que vivo todo entregue...

[…]

Mas ah meu amor, eu não sei compreender


por que é, por que é, por que é, meu bem
que tu não sabes ler
e eu - Oh! Desespero! - não sei escrever também

António Jacinto in “Monangaba”

De acordo ao new criticism a análise do texto deve despir-se do preceito biográfico que permite
olhar a obra a partir da intenção do autor. Ao contrário, a correcta leitura deve fundar-se em
pressupostos objetivos, consagrados pelo sistema de uma teoria aplicável a qualquer texto e à
disposição de qualquer pessoa com um mínimo de condições técnicas para o exercício da
leitura.
A Nova Crítica trouxe ao de cima um conjunto de critérios a ter em conta na análise de um texto
literário; assim, a falácia da intenção, a falácia da emoção e a heresia da paráfrase
constituem, para esta corrente crítica, termos que vão conduzir a discussões profundas, para os
novos críticos, interpretação do texto não deve levar em conta as intenções do autor, da mesma
1
Formalismo russo, séc. XX
forma, não se deve atribuir valor interpretativo à ideia de que o significado do texto deve
coincidir com a decifração dos possíveis sentimentos que lhe deram origem. Compreender um
texto literário equivale a resolver as tensões, as ambiguidades, estabelecidas pela relação entre
as diversas unidades de significado do texto.
A falácia da emoção consiste na ideia de que a análise do poema se confunde com o exame da
emoção provocada por ele. A análise da emoção provocada pela arte pertence à psicologia; à
crítica compete a investigação formal do poema, procurando nele os elementos desencadeadores
da emoção. Nesse sentido, o poema é entendido como uma forma particular de conhecimento.
Heresia da paráfrase como se sabe, paráfrase é a tradução de um texto supostamente difícil em
termos simples e prosaicos. O senso comum costuma confundir análise literária com a
explicação literal do texto, confiante na ideia de que a decodificação do significado referencial
basta para conferir consistência à leitura, porém não é suficiente.
Em síntese, cada passo da leitura deve se integrar a um sistema coeso de cognição, encaixar-se
numa teoria. Assim como a paráfrase, evita-se também a leitura que encara a poesia como
mero instrumento de conteúdos ou sabedorias práticas. Pela perspectiva da nova crítica., a
sabedoria da arte decorre, não da apreensão das mensagens, mas do convívio desinteressado
com as formas que as engendra.

Referência
TEIXEIRA, Ivan. Fortuna Crítica pg. 39 /98 Rev. CULT - setembro/98

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