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Prevalence of depression in institutionalized older adults [Prevalência de


depressão em idosos institucionalizados]

Article · April 2011

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5 authors, including:

Lígia Carreira Maricy Morbin


Universidade Estadual de Maringá Universidade Estadual de Maringá
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Depressão em idosos institucionalizados Artigo de Pesquisa
Original Research
Artículo de Investigación

PREVALÊNCIA DE DEPRESSÃO EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS


PREVALENCE OF DEPRESSION IN INSTITUTIONALIZED OLDER ADULTS
PREVALENCIA DE DEPRESSIÓN EN ANCIANOS INSTITUCIONALIZADOS

Lígia CarreiraI
Marina Raduy BotelhoII
Paula Cristina Barros de MatosIII
Maricy Morbin Torres1V
Maria Aparecida SalciV

RESUMO: O objetivo deste estudo foi investigar a prevalência de depressão em idosos institucionalizados, utilizan-
do a Escala de Depressão Geriátrica Yesavage. Trata-se de um estudo descritivo-exploratório, de abordagem quan-
titativa, realizado com 60 idosos residentes em uma instituição asilar, no município de Maringá-PR, no período de
outubro de 2008 a março de 2009, através de visitas semanais ao asilo, para aplicação do instrumento aos participan-
tes. De acordo com os resultados, a maioria dos idosos (61,6%) apresenta quadro depressivo; 33,3% eram mulheres;
51,7% tinham entre 60 a 79 anos; a grande maioria era analfabeta; com predomínio dos estados civis de solteiros e
viúvos; 36,6% estavam institucionalizados há menos de um ano; 31,6% faziam uso de medicamentos antidepressivos.
Os dados apontam a importância dos profissionais de saúde estarem aptos para estabelecer um diagnóstico precoce
e o planejamento de uma intervenção no tratamento da depressão a essa população.
Palavras-chave: Depressão; instituição de longa permanência para idosos; assistência a idosos; escalas de gradu-
ação psiquiátrica.

ABSTRACT
ABSTRACT:: This study used the Yesavage Geriatric Depression Scale to investigate the prevalence of depression among
institutionalized older adults. This exploratory, quantitative, descriptive study of 60 elderly residents in a nursing home in
the town of Maringa, Paraná, was carried out from October 2008 to March 2009. During weekly visits to the nursing home
a questionnaire was applied to the participants. According to the results, most (61.6%) suffered from depression; 33.3% were
women; 51.7% were between 60 to 79 years old; most were illiterate; single and widowed people predominated; 36.6%
had been admitted to the nursing home less than one year earlier; and 31.6% used antidepressants. The findings show the
importance of health personnel’s being able to establish an early diagnosis and to plan intervention to treat depression in this
population.
Keywords: Depression; long-term residential homes for the elderly; care for the elderly; psychiatric status rating scales.

RESUMEN: Este estudio investigó la prevalencia de la depresión en ancianos institucionalizados, mediante la


Escala de Depresión Geriátrica de Yesavage. Es un estudio exploratorio-descriptivo, con enfoque cuantitativo,
realizado con 60 ancianos residentes en una institución geriátrica en la ciudad de Maringá, PR - Brasil. El estudio fue
realizado de octubre de 2008 a marzo de 2009, a través de visitas semanales a los participantes, cuando ellos han
respondido al cuestionario. Los resultados muestran que la mayoría de los ancianos (61,6%) manifestaron cuadro
depresivo; 33,3% eran mujeres; 51,7% tenían entre 60 y 79 años; la mayoría era analfabeta, con prevalencia de
solteros y viudos; 36.6% estaban institucionalizados hacia menos de un año; 31,6% estaban usando antidepresivos. Estos
resultados demuestran la importancia de los profesionales de la salud en establecer un diagnóstico precoz y en
planificar una intervención en el tratamiento de la depresión de esa población.
Palabras clave: Depresión; hogares para ancianos; asistencia a ancianos; escalas de valoración psiquiátrica.

INTRODUÇÃO
No século XX, principalmente após a década de to passa a ser foco de atenção, gerando ações sociais e
50, ocorreu uma mudança na pirâmide etária mundi- governamentais, além de exigir profissionais qualifi-
al, em decorrência disto, o estudo do envelhecimen- cados que atuem nesta área. Tanto os países desen-

I
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá. Maringá, Paraná, Brasil. e-mail:
ligiacarreira@hotmail.com.
II
Enfermeira. Discente do Programa de Mestrado do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá. Maringá, Paraná, Brasil. e-mail:
raduybotelho@gmail.com.
III
Enfermeira. Discente do Programa de Mestrado do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá. Maringá, Paraná, Brasil. e-mail:
paulinhacristina_@hotmail.com.
IV
Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá. Maringá, Paraná, Brasil. e-mail:
maricymorbin@uol.com.br.
V
Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá. Maringá Paraná, Brasil. e-mail:
cidinhasalci@hotmail.com.

p.268 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2011 abr/jun; 19(2):268-73. Recebido
Recebidoem:
em:09/02/2010
02.12.2010––Aprovado
Aprovado em:
em: 27/08/2010
20.02.2011
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volvidos como aqueles em desenvolvimento vêm deprimido e a perda de interesse ou prazer em quase
apresentando de forma rápida o processo de enve- todas as atividades, e, em idosos, ela se apresenta de
lhecimento1, o qual constitui uma importante con- forma heterogênea, tanto em relação à sua etiologia
quista do presente século. Devido ao declínio das ta- quanto aos aspectos relacionados à sua apresentação
xas de fecundidade e com a melhora na qualidade de e ao seu tratamento. Nesse sentido, o objetivo deste
vida da população, os brasileiros vêm envelhecendo trabalho é investigar a prevalência de depressão em
em ritmo acelerado nas ultimas três décadas, sendo idosos institucionalizados, utilizando a escala de de-
importante garantir longevidade, qualidade de vida e pressão geriátrica Yesavage7.
satisfação pessoal.
Como parte do ciclo da vida, o envelhecer leva o METODOLOGIA
indivíduo a um processo contínuo e irreversível de
desestruturação orgânica através de um conjunto de Este estudo é parte de um projeto de pesquisa
alterações morfofuncionais2. Esta é uma fase do curso institucional intitulado Condição de vida e saúde dos
da vida marcada por mudanças físicas, psicológicas e idosos de uma instituição asilar de Maringá-PR, o qual
sociais que acometem todos os indivíduos. Este tam- tem a finalidade de descrever as condições de vida e
bém se caracteriza como um momento de reflexão, em saúde de idosos residentes, numa tentativa de identi-
que o idoso percebe que alcançou muitos objetivos, ficar agravos evitáveis a essa população.
mas também sofreu muitas perdas, das quais a saúde Trata-se de um estudo descritivo e exploratório,
destaca-se como um dos aspectos mais afetados3. de abordagem quantitativa, realizado com 60 idosos
residentes em uma instituição asilar do município de
REFERENCIAL TEÓRICO Maringá-PR. A instituição existe desde 1984, é
mantida com recursos da aposentadoria dos idosos,
Diante das mudanças demográficas e com a ne- igreja católica e ainda recebe suporte da comunidade
cessidade de proporcionar suporte social ao idoso, as com doações e a prefeitura municipal disponibiliza
instituições asilares emergem como uma alternati- recursos humanos, atendendo 92 idosos residentes,
va3, provendo cuidados à saúde. Porém, estas muitas sendo 52 homens e 40 mulheres com idade que varia
vezes não oferecem assistência adequada, pois uma de 60 a 101 anos.
das condições limitantes para suprir todas as necessi- Do total de moradores da instituição, 60 idosos
dades é a restrição da convivência social, através do aceitaram participar do estudo, sendo a maioria in-
estabelecimento de normas por se caracterizarem ins- dependente nas atividades da vida diária, 18 se recu-
tituições fechadas4. saram a participar e 14 foram excluídos da pesquisa
Diversas são as causas da inserção de idosos em por apresentarem patologias que limitavam a aplica-
asilos, entre elas nota-se condições precárias de saú- ção do instrumento, como quadros de demência ou
de, distúrbios de comportamento, necessidade de re- estados confusionais diagnosticados através de exa-
abilitação, falta de recursos financeiros e abandono mes clínicos anteriores.
da família, observando, muitas vezes, que a vontade A coleta de dados foi realizada no período de
do idoso não é mais respeitada, passando então a per- outubro de 2008 a março de 2009, através de visitas
der sua autonomia e independência5. semanais ao asilo. Todos os idosos incluídos na pes-
Esse contexto em que o idoso vivencia perdas em quisa foram avaliados com a versão original da Escala
vários aspectos da vida se torna um momento de mai- de Depressão Geriátrica 30 (EDG-30)7, que é um dos
or vulnerabilidade para que ele desencadeie um qua- instrumentos mais frequentemente utilizados para o
dro depressivo. São vários os fatores que podem con- rastreamento de depressão em idosos, no qual vários
tribuir para uma desordem psiquiátrica, como, por estudos reforçam que este oferece medidas válidas e
exemplo, o isolamento, dificuldades nas relações pes- confiáveis8,9. Esta escala original tem 30 perguntas
soais, problemas de comunicação, pobreza, viuvez e fechadas e foi desenvolvida especialmente para a
internação em serviços de longa permanência. Tais detecção dos transtornos de humor em idosos, com
transtornos são responsáveis pela perda da autonomia perguntas apresentando respostas do tipo sim e não,
e pelo agravamento de quadros patológicos preexis- que evitam a esfera das queixas somáticas.
tentes. Ressalta-se que a depressão é a patologia mais Para a interpretação dos resultados, a EDG-30
frequente em idosos e está associada ao maior risco de sugere depressão quando o escore atinge mais de 10
morbidade e mortalidade6. pontos, indicando depressão moderada de 11 a 20 e
A depressão caracteriza-se como um distúrbio grave acima de 20 pontos. Vale ressaltar que esta es-
de natureza multifatorial da área afetiva ou do hu- cala dá maior ênfase aos aspectos emocionais e
mor, que exerce forte impacto funcional envolvendo cognitivos do que aos aspectos somáticos de depres-
inúmeros aspectos de ordem biológica, psicológica e são. Para a análise dos dados, adotou-se estatística
social. Entre os principais sintomas estão o humor descritiva, utilizando o programa Microsoft Office Excel

Recebido em: 09/02/2010 – Aprovado em: 27/08/2010 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2011 abr/jun; 19(2):268-73. • p.269
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2003 (Microsoft Corp.,Estados Unidos), através do qual senta, pois há evidências de que os sintomas da doen-
foram elaboradas tabelas de frequência das variáveis. ça são mais frequentes em idosos mais velhos e com
O desenvolvimento do estudo ocorreu em con- morbidades que desencadeiam algum grau de depen-
formidade com o preconizado pela Resolução 196/96 dência11. Além dos sinais mais comuns que são os do
do Ministério da Saúde, tendo o projeto sido aprovado estado de humor (desânimo, tristeza, irritabilidade),
pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa da Uni- a depressão também pode vir acompanhada por si-
versidade Estadual de Maringá (Parecer no 131/2008). nais neurovegetativos (inapetência, emagrecimento,
distúrbio do sono), cognitivos (dificuldades de con-
centração e memória, lentificação do raciocínio) e
RESULTADOS E DISCUSSÃO psicóticos (ideias paranoides, delírios de ruína, delí-
rios de morte, alucinações de suicídio)12. No entanto,
De acordo com os resultados encontrados, ob- constatamos grande proporção dos idosos com sin-
servou-se que 23(38,4%) dos idosos não foram carac- tomas depressivos já no início da velhice, o que dá
terizados como depressivos, tendo em vista que seu indícios da apresentação precoce da patologia entre
escore variou entre zero e dez pontos. Entre os os institucionalizados.
depressivos, 37(61,6%) alcançaram mais de 10 pon-
tos na EDG-30 utilizada. Deles, 35(58,3%) foram clas- É importante destacar ainda que as doenças men-
sificados como portadores de depressão leve ou mo- tais, embora não apresentem taxas elevadas de morta-
derada, uma vez que apresentaram um escore de 11 a lidade, representam um grande peso de incapacidade e
20 pontos e apenas 2(3,3%) idosos revelaram depres- duração longa10, porém, pessoas com idades avançadas
são grave, com escore acima de 20 pontos, sendo deprimidas e não tratadas têm mais incapacidade, maior
visualizados na Tabela 1. uso dos serviços de saúde e morte prematura13.
As teorias da etiologia da depressão no idoso Entre os pesquisados com sintomas depressivos,
ainda são insatisfatórias, levando ao estabelecimen- 22(36,6%) estavam institucionalizados há menos de
to das multicausalidades, além dos estressores psico- um ano. Isso pode ocorrer em virtude da saída do lar
lógicos e sociais que atingem com maior intensidade e/ou da família para uma instituição asilar, situação
essa faixa etária, tais como o empobrecimento finan- esta que acarreta muitas mudanças, podendo gerar
ceiro, declínio social, perda de papéis produtivos, so- poucas expectativas em sua vida.
lidão e perda de pessoas queridas10. Os 3(5%) que residem no asilo há dois, três e
Uma parte significativa dos idosos com escore su- oito anos, respectivamente, demonstraram o mesmo
gestivo para depressão estava na faixa etária entre 60 e tipo de depressão – leve. Os 2(3,3%) asilados resi-
64 anos, sendo que os índices mais altos foram encon- dentes há quatro e sete anos, respectivamente, tam-
trados na população com até 79 anos, representando bém revelaram depressão leve. Ainda, os 2(1,7%) in-
31(51,7%), já naqueles indivíduos acima de 79 anos, ternos que estão num período respectivo de 13 e 25
apenas 6(10,1%) revelaram sintomatologia depressiva anos neste lar, há mais tempo, foram identificados
leve ou moderada e nenhum deles apresentou depres- com o mesmo tipo de depressão - leve.
são grave, conforme os dados mostrados na Tabela 1. A partir desses resultados, pôde-se observar que
De acordo com a literatura é importante aten- a depressão não apresenta uma ligação com o aumento
tar para a idade em que um quadro depressivo se apre- do tempo de permanência do idoso na instituição asi-

TABELA 1: Distribuição de idosos institucionalizados, segundo sexo, idade e escore da EDG-30. Maringá-PR, 2009. (N=60)

Escore 0-10 Escore 11-20


11-20 Escore 21-30 . Total
Total
Variáveis f % f % f % f %
Sexo (f = 60)
Feminino 4 6,7 18 30,0 2 3,3 24 40,0
Masculino 19 31,7 17 28,3 - - 36 60,0
Idade (f = 60)
60 a 64 - - 17 28,3 1 1,7 18 30,0
65 a 69 1 1,7 4 6,7 - - 5 8,3
70 a 74 7 11,7 5 8,3 - - 12 20,0
75 a 79 4 6,7 3 5,0 1 1,7 8 13,3
80 a 84 4 6,7 4 6,7 - - 8 13,3
85 a 89 3 5,0 1 1,7 - - 4 6,7
90 a 94 2 1,7 - - - - 1 1,7
95 a 99 3 5,0 - - - - 3 5,0
100 a 104 - - 1 1,7 - - 1 1,7

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lar, sendo ela mais frequente em idosos recém chega- mulheres, mas também a dispersão de valores tradi-
dos. Esse dado pode estar correlacionado ao fato deste cionais, segundo os quais a responsabilidade dos cui-
primeiro ano ser de mudanças e adaptações à vida no dados para com os pais e filhos recai primordialmen-
asilo, a qual, apesar de ter algumas atividades flexíveis, te sobre a mulher19. Essa condição da mulher pode
ao mesmo tempo apresenta uma organização rígida demonstrar maior fragilidade no que se refere à
quanto aos horários das refeições, comida oferecida, vivência de uma institucionalização, podendo desen-
planejamento de passeios fora do espaço físico da ins- cadear, nestes casos, transtornos depressivos.
tituição, entre outras atividades, que restringem a Entre outros fatores associados aos sintomas
maleabilidade da vida das pessoas que ali habitam. depressivos destacam-se com grande frequência as
Uma pesquisa tratou da sintomatologia depres- variáveis: religião, escolaridade e estado civil. No pre-
siva e sua relação com a prática de atividades sociais sente estudo verificou-se que, no grupo de gerontes
em dois grupos de idosos, através da aplicação da com sintomas depressivos, todos fizeram referência a
EDG-30, sendo o primeiro integrado por indivíduos alguma crença religiosa, sendo o catolicismo a reli-
participantes de atividades para a terceira idade e o gião mais referida, por 44(73,3%) idosos entrevista-
segundo não. O Grupo II apresentou maior pontua- dos, seguido por 15(25%) evangélicos e 1(1,7%)
ção na EDG-30 e mais fatores de risco para a depres- adventista. Nessa fase da vida, a fé torna-se muito
são do que o Grupo I, destacando, assim, que, a partir importante, muitas vezes por não terem a quem re-
do desengajamento do idoso nas atividades sociais, correr a não ser para um Ser Superior, fazendo com que
ocorre a perda de papéis e status, colaborando para a tenham hábitos religiosos frequentes, como visitas à
ocorrência de dependência, sendo esse comportamen- capela e participação nas missas semanais.
to decisivo para o desencadeamento de sintomas re- Em relação à escolaridade verificou-se que a falta
lacionados aos transtornos do humor, em especial a de instrução foi predominante em 27(45%) dos ido-
depressão14. sos, que eram analfabetos. Dos demais, 20(33,3%) não
Em outro estudo, a aplicação da EDG-30 em haviam concluído o ensino fundamental, 9(15%)
1320 idosos, avaliando sintomatologia depressiva, possuíam ensino fundamental completo, 3(5%) en-
estilo e qualidade de vida, identificou que a partici- sino médio incompleto e apenas 1(1,7%) haviam con-
pação em atividades sociais e o número de amigos cluído ensino médio.
que os idosos relataram ter correlacionavam-se ne- Esses dados podem pontuar a dificuldade de aces-
gativamente com os sintomas de depressão15. so à educação que existia em décadas anteriores, na
Antes da inclusão do idoso nas instituições fe- qual crianças abandonavam os bancos escolares e
chadas, existe uma expectativa de que essa é uma al- outras nem chegavam a frequentá-los, em virtude da
ternativa capaz de possibilitar sua independência e o necessidade da família. No entanto, assim como para
resgate de uma multiplicidade de papéis sociais, de outras doenças de caráter crônico, a maior escolari-
uma vida social intensa, no entanto, a impossibilida- dade se mostra como um fator protetor para a ocor-
de desse resgate torna a experiência no asilo decep- rência de sintomas depressivos20, além de que o nível
cionante e dá a ela uma dinâmica própria16. de escolaridade influência diretamente a permanên-
Os idosos asilados deparam-se com situações a que cia do idoso no mercado de trabalho, postergando
não estavam acostumados anteriormente, pois, além de sua autonomia21.
estarem separados do ambiente familiar, eles passam a Quanto ao estado civil, 28(46,7%) idosos com
conviver com pessoas desconhecidas, tornando-se de- quadro depressivo eram solteiros, 22(36,6%) viúvos e
pendentes e com a sensação de inutilidade17. Existe ain- 10(16,7%) divorciados. As situações de viuvez ou ainda
da uma esperança de que a família assumirá seu cuidado divorciado são esperadas de se encontrar entre os resi-
quando for chegada a hora de recebê-lo, principalmente dentes das instituições de longa permanência, pois,
para aqueles que tiveram filhos18. Tais fatos podem ex- muitas vezes, são encaminhados para tal instituição por
plicar o motivo do início da depressão logo nos primei- não terem condições de continuar sozinhos após a mor-
ros meses da residência em instituição asilar. te ou separação do companheiro. Já a condição de sol-
Quanto ao sexo, houve predominância da doença teiros também os direcionam à institucionalização,
em mulheres, com 20(33,3%) casos, seguindo-se quando não mais apresentam condições de residirem
17(28,3%) homens. Nota-se que o fator sexo não per- sozinhos e não têm filhos para auxiliar nos cuidados,
mitiu fazer uma correlação com a predisposição à de- acabam por recorrerem às instituições asilares17.
pressão em idosos asilados, uma vez que ocorreu uma Em população idosa no sul do Brasil, a presença
diferença pouco significativa entre homens e mulheres. de sintomas depressivos foi alta, com evidência nas
Geralmente, são as mulheres que fornecem mai- mulheres com idade mais elevada, menor escolarida-
or apoio à família, seja na condição de mãe idosa para de, sem trabalho remunerado, tabagistas e que tive-
filhos e netos ou na de filha ajudando pais idosos. Isso ram morte de familiares ou pessoa importante no úl-
reflete não só uma afetividade maior por parte das timo ano20.

Recebido em: 09/02/2010 – Aprovado em: 27/08/2010 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2011 abr/jun; 19(2):268-73. • p.271
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Entre os idosos considerados depressivos, de Dessa forma, a prevalência de depressão em ido-


acordo com a EDG-30, ou seja, com escore a partir de sos é uma questão relevante na prática clínica dos
11, 30(51,3%) fazem uso de medicação antide- profissionais de saúde que assistem essa população,
pressiva. Destaca-se que 7(18,9%) dos pacientes para que possam intervir adequadamente e, assim,
depressivos não faziam uso de nenhum tipo de medi- prevenir fatores de riscos associados à doença.
cação específica para a patologia. Subentende-se que
tal fato pode ocorrer pela dificuldade em fazer o diag- CONCLUSÃO
nóstico de transtornos depressivos em idosos e, conse-
quentemente, ausência de tratamento da doença. O A maioria dos participantes do estudo apresen-
diagnóstico também pode ser dificultado por proble- tou um quadro sugestivo de depressão leve ou mode-
mas físicos coexistentes e pela falta de um olhar mais rada segundo a EDG-30, sendo que o primeiro ano de
aguçado do quadro depressivo desses idosos por parte permanência do idoso na instituição asilar é uma fase
da equipe multiprofissional da instituição10. importante de atuação da equipe profissional para o
Estudo com idosos em tratamento para depres- desenvolvimento inicial de ações protetoras da saú-
são destaca que a doença nessa população é na maio- de mental, envolvendo, principalmente, os sexage-
ria das vezes subdiagnosticada e subtratada, sendo que nários nessas intervenções.
a principal dificuldade para se estabelecer o diagnós- Embora o contexto asilar atenda parcialmente
tico está pautada nos problemas físicos coexistentes, às necessidades básicas dos idosos, por outro lado,
o que leva os profissionais médicos a encararem os nem sempre estimula a atividade deles, os quais ten-
sintomas depressivos como manifestações normais dem a se tornar mais introspectivos e isolados do con-
do envelhecimento e acabam por não conduzir o caso vívio social, sendo as relações interpessoais funda-
como esperado para a patologia22. mentais para a qualidade de vida e a preservação da
Em casos bem acompanhados e controlados, a saúde mental.
resposta obtida aos medicamentos se dá através de Outro aspecto relevante é o fato de parte ex-
uma redução significativa dos sintomas observados pressiva da clientela ter apresentado depressão, re-
através de escalas de avaliação de depressão6. Para sa- sultados acima de 10 na EDG-30, e não ter feito uso
nar todos os sintomas faz-se necessária a utilização de de nenhuma medicação indicada para esse quadro
outros métodos de tratamento associados ao medi- clínico, o que pode indicar dificuldade dos profissio-
camentoso. Como sugestão a outros métodos de tra- nais na identificação precoce de sintomas depressivos,
tamento para depressão a atividade física é uma prá- desencadeando assim um atraso no diagnóstico e tra-
tica vantajosa no tratamento dessa patologia, especi- tamento da patologia.
almente por não apresentar efeitos colaterais e ad- Nesse sentido, faz-se necessária a criação de pro-
versos comuns da farmacoterapia, por ter um custo gramas para os idosos asilados, com a finalidade de pro-
baixo e proporcionar uma série de outros benefícios à mover participações em movimentos assistenciais e
saúde da pessoa idosa, principalmente pela sua carac- sociais e envolvimento com atividades culturais,
terística de prevenir o declínio físico e funcional10. desportivas e de lazer, objetivando alcançar a diminui-
No entanto, os profissionais de saúde devem ção da sintomatologia depressiva neste grupo etário.
dispensar uma atenção especial aos idosos em trata- O elevado índice de sintomas depressivos entre
mento medicamentoso, pois geralmente eles são mais os idosos estudados reflete a importância do diagnós-
sensíveis aos efeitos colaterais dos antidepressivos e tico e do tratamento desse distúrbio que, muitas ve-
apresentam com frequência outras doenças associa- zes, passa despercebida pelos profissionais de saúde.
das, necessitando fazer uso de diversas medicações, o Por essa razão, estes devem ser capacitados a reco-
que aumenta o risco de ocorrer complicações clínicas nhecer as formas mais comuns de apresentação das
e interações medicamentosas10. síndromes depressivas, dando mais ênfase às investi-
gações, permitindo intervenções precoces e eficazes.
A depressão é uma doença caracterizada como
um problema de saúde comum e tratável, sendo ob-
servado em estudo que entre 80 a 90% dos pacientes REFERÊNCIAS
que sofrem desse transtorno podem ser efetivamente
tratados e quase todos que recebem tratamento apre- 1. Benedetti TRB, Borges LJ, Petroski EL, Gonçalves LHT.
sentam algum tipo de benefício23. Atividade física e estado de saúde mental de idosos.
Rev Saude Publica. 2008; 42:302-7.
Além disso, há privação interpessoal naqueles 2. Maciel ACC, Guerra RO. Influência dos fatores
que preferem se isolarem em decorrência da depres- biopsicossociais sobre a capacidade funcional de idosos
são e naqueles que encurtam suas expectativas de vida, residentes no nordeste do Brasil. Rev Bras Epidem. 2007;
seja por suicídio ou por doenças somáticas relaciona- 10:178-89.
das a esse transtorno22. 3. Pestana LC, Santos FHE. As engrenagens da saúde na

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terceira idade: um estudo com idosos asilados. Rev esc relação entre sintomatologia depressiva e prática de
enferm USP. 2008; 42:268-75. atividades sociais em idosos. Avaliação Psicológica.
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Recebido em: 09/02/2010 – Aprovado em: 27/08/2010 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2011 abr/jun; 19(2):268-73. • p.273

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