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INTERVENÇÃO NO

COMPORTAMENTO DESVIANTE
AVALIAÇÃO
Em seguida, será apresentado um
caso prático que deve ler
atentamente, de modo a
responder às questões.1
O Francisco tem 17 anos e está
actualmente detido num Estabelecimento
Prisional em
medida de prisão preventiva; acusado de
ter abusado sexualmente de dois
meninos de oito e
nove anos de idade. (risco)
Antes de ser detido estaria a residir
numa instituição há cerca de um ano,
tendo sido
retirado à família de origem por se
encontrar numa situação considerada de
risco. (risco)
Do seu agregado, para além do próprio,
faziam parte a sua mãe, o padrasto e
duas
irmãs.
A mãe de Francisco, Carla, conta que
viveu com o pai de Francisco até este ter
cerca de
9 anos de idade. Caracteriza o ex-
cônjuge como uma pessoa violenta, que
a agredia.
fisicamente de forma recorrente,
especialmente quando se encontrava
sob o efeito do álcool:
“ele ameaçava-me com facas,
empurrava-me...”. Afirma que o filho
assistiu a muitos episódios
de agressão entre os progenitores mas
que o pai nunca lhe bateu. Carla acabou
por separar-se
do pai de Francisco, tendo este
abandonado a residência. Entretanto
estabeleceu novo
relacionamento com o actual
companheiro, com o qual teve duas
filhas.
Francisco não voltou a ter contacto com
o pai biológico. Apenas sabe que se
encontra a
residir no estrangeiro.
O novo companheiro da mãe, após ter
ficado desempregado, acabou por
também
desenvolver uma problemática de abuso
de álcool e começou a tornar-se
agressivo com os
filhos.
A mãe de Francisco, empregada de
limpezas, dadas as dificuldades
financeiras que se
começavam a sentir no agregado
(Francisco relata que muitas vezes não
jantavam ou só
comiam pão ou sopa), começou a
ostentar sintomatologia depressiva. –
mãe. Deixou de cozinhar, dar
banho e vestir as filhas mais novas e de
tratar da casa (limpezas e roupa).
Chorava com
frequência e isolava-se no quarto ou ia
para o café com a vizinha, e fumava
muito, segundo
relata Francisco.
1 Baseado num caso real; os nomes foram
alterados com vista à proteção da identidade
dos visados.

Francisco relata que a sua relação com o


padrasto “não era muito má no início mas
depois dele ficar desempregado piorou
muito (...) ele passava o dia em casa
sentado no sofá a
beber cerveja (...) e a minha mãe ia
trabalhar (...) discutiam muito e as
minhas irmãs choravam
e eu queixava-me muito (...) um dia ele
bateu na minha mãe e eu fui contra ele...
foi a primeira
vez que aconteceu (...) empurrou-me
com força e eu bati com as costas na
mesa e caí no chão”.
Francisco refere que, a partir de então,
começou a odiar o padrasto. A relação
entre ambos
terá piorado bastante.
Francisco refere que só havia gritos em
casa. As irmãs choravam muito e
escondiam-se
no quarto. “Ele gastava o dinheiro todo
na bebida e depois não tínhamos
comida... e depois
descarregava na minha mãe e eu não
deixava e ele batia-me (...) nunca bateu
nas minhas
irmãs”.
Na escola, Francisco começou a faltar às
aulas e a baixar as notas. Relata que um
dia
recusou-se a participar nos exercícios da
aula de educação física porque estava
magoado. Em
diálogo com o professor, mostrou
algumas lesões que teria no corpo e
contou que tinha sido o
padrasto, referindo que havia violência
em casa e que estavam a passar
necessidades.
O professor terá falado com a diretora de
turma, que por sua vez, terá falado com
a
direção da escola, no sentido de sinalizar
a situação à equipa local da CPCJ.
Após a devida avaliação inicial, os
menores foram retirados do agregado e
entregues
temporariamente aos cuidados de uma
instituição.
Francisco, com então 15 anos, refere
que a partir daí a sua vida passou a ser
um
pesadelo: “mais valia ter ficado em casa,
ao menos com o meu padrasto eu
conseguia lidar”.
Relata que na instituição residiam muitas
crianças e jovens com muitos problemas.
Relata
situações de violência quase diárias e de
abusos sexuais frequentes: “era uma
coisa normal lá,
os mais velhos terem relações com os
mais novos”. Nesse contexto, Francisco
também sofria de
agressões com frequência, envolvia-se
em brigas e seria vítima de abusos
sexuais por parte dos
colegas institucionalizados (rapazes).
Relata que uma das irmãs também teria
sido abusada.
Acrescenta que, também nesse contexto,
começou a fumar haxixe.
Actualmente, no estabelecimento
prisional, ostenta sintomatologia
depressiva e
ansiosa, com ideação suicida: “agora sei
que o que fiz foi errado... lá era normal,
toda a gente
fazia”. Manifesta sentimentos de culpa,
desesperança, sentimentos auto-
depreciativos. Não
integra qualquer actividade organizada
no estabelecimento prisional. Refere falta
de apetite e
insónia inicial e intermédia. Refere:
“Tentei pendurar-me com uma toalha à
volta do pescoço
mas não aguentou com o meu peso (...)
não encontro razões para viver.”
Ainda mantém o contacto telefónico com
a mãe e com a avó paterna (que não terá
condições para o receber).
Usufrui de acompanhamento psiquiátrico
e psicológico no estabelecimento
prisional.
*

1. Os menores foram retirados do


agregado familiar residente por ter sido
detectado
risco. Que situações de risco identifica?
Como classificaria o grau de risco?
2. Que elementos do agregado familiar
deveriam ser alvo de intervenção?
Justifique.
3. Se fosse o/a técnico/a responsável por
intervir, que modelo/s e modalidade/s de
intervenção utilizaria para cada
elemento? Justifique.
4. Que factores explicativos encontra
para a compreensão do estado
psicológico actual
do Francisco?
5. Considerando o estado actual do
Francisco, que factores de risco e de
protecção
identifica?
6. Como classificaria o nível de risco de
comportamentos suicidários do
Francisco?
Justifique.
7. Quais são as áreas e os objectivos
que estabeleceria no âmbito da
intervenção
individual com o Francisco?
8. Após os conhecimentos adquiridos ao
longo deste módulo, comente (de forma
crítica) este caso e a forma como o
processo foi conduzido (pode dar
sugestões e/ou
alternativas de actuação).

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