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para alguém e, neste alguém, colidirão com outro mundo de palavras explícitas e
implícitas, com as quais se unirão e formarão novos conceitos e mecanismos
linguísticos.
Pode-se traçar um paralelo com exemplos mais cotidianos: a relação ensino-
aprendizagem presente entre alunos e professores (espectadores e emissores) nunca se
constrói partindo de uma parte vazia.
“Não há linguagem no vazio, seu grande objetivo é a interação, a comunicação com um
outro, dentro de um espaço social, [...]” – Pág. 5
Não se trata, aqui, da educação básica, responsável pelos primórdios do
desenvolvimento cognitivo do indivíduo; trata-se do processo moralizador tornado
possível apenas depois do atingimento capacitativo alternativo, isto é, a capacidade de
escolher. É isto que posiciona o aluno em determinadas etapas instrutivas da vida: seu
grau de instrução o torna apto ou não a decidir por si mesmo mediante a circunstância
que envolve outros além dele. Cabe, aqui, dizer um dos motivos da educação existir
como “atriz” moralizante: esta competência ética decisiva só se concretiza perante a
colocação deste sujeito como sujeito. Ao reconhecer-se como tal, confirma sua
igualdade capacitativa; ele o é assim como todos são e isto é o viés para fazer suas
escolhas refletindo sobre as consequências, em maior ou menor escala, boas ou ruins,
para seus semelhantes.
“As condições e formas de comunicação refletem a realização social em símbolos que
ultrapassam as particularidades do sujeito, que passa a ser visto em interação com o
outro.
O caráter dialógico das linguagens impõe uma visão muito além do ato comunicativo
superficial e imediato. Os significados embutidos em cada particularidade devem ser
recuperados pelo estudo histórico, social e cultural dos símbolos que permeiam o
cotidiano.” (p. 6)
Não se faz sozinho, faz-se diante do outro e, na sala de aula, absorve o que é exposto.
Trataremos, em especial, da exposição das Linguagens ao aluno, pois conseguimos
verificar a essencialidade delas e das áreas nas quais se ramifica para com a
estruturação, edificação e afirmação dele como um ser social, comunicador de sua
condição existencialista.
A análise, a interpretação e o confronto das questões contextuais não apenas do círculo
“fechado” no qual se encontra e com o qual convive, mas também de outros com os
quais cruza e concorre são algumas exigências no processo de formação curricular dos
jovens. Expostos(as) a várias áreas do conhecimento, condizentes ou não com seus
gostos desenvolvidos durante os primórdios de sua aprendizagem, confunde-se e perde-
se, perde a si, pois encontra-se em lugar nenhum ou em todos. Isso nos remete à
transdisciplinaridade dos conteúdos.
Gradualmente, notam que as divisórias antes demarcadoras dos capítulos no material de
ensino são apenas técnicas referenciais para que consigam delimitar suas próprias
preferências e guiar suas escolhas. O que passa a importar são liames disciplinares com
a desconstrução das barreiras que confinam o estudante numa única disciplina. Ora, é
notório que o entendimento mais próximo, e ainda muito distante, de ser completo surte,
somente, através do envolvimento com outras matérias além daquela na qual tenta se
aprofundar. Este paralelo não exige a transformação em outra área do conhecimento,
ainda mais complexa e, de certa forma, com infinitude em seus conceitos, temáticas,
teorias etc., que reúna as duas disciplinas. Os PCNEM recomendam expressamente que
o processo de ensino e aprendizagem privilegie a interdisciplinaridade.
Aplicação no conteúdo
As escolhas individuais vão sendo guiadas com o esclarecimento de algumas
características dos poemas. Alguns entendimentos e relações com o mundo exterior
podem estar ocultas àqueles com conhecimentos de mundo e enciclopédico
menores. Muitas vezes, aliás, a força motora com carga informativa pode não ser
suficiente na leitura, pois existe na relação autora-leitora significados pré-
estabelecidos que estão além da cognição do aluno. O autor tem um estilo próprio e
quer dizer exatamente o que quis dizer quando escreveu.
Percebamos:
"[...]
Rezas sobre os desertos e as areias,
Sobre as florestas e a amplidão marinha;
E, ajoelhadas, rodeiam-te as aldeias,
Mudas servas aos pés de uma rainha." – BILAC, Olavo, A montanha em SOMOS
Sistemas de Ensino (1º ed.), Livro Texto de Língua Portuguesa do 2º ano do Ensino
Médio, p. 110.
O caráter natural do cenário é explícito e, ao ter de responder uma questão sobre as
características do poema, essa seria a resposta mais provável de ser a primeira. Mas,
ao atentarmos à escolha dos adjetivos, notamos que todos fazem menção à
superioridade/grandiosidade e inferioridade/pequenez: "amplidão", "ajoelhadas",
"mudas servas" e "rainha". Tais usos implica o outro caráter do soneto: "[...]
devoção à natureza", à sua grandeza que provoca um sentimento de rebaixamento.
A exaltação dos fenômenos é um recurso artístico impessoal, pois, apesar de nos
remeter ao ponto de vista do autor sobre algo, é observável, clara, lógica e evidente.
Se isso provoca reações emotivas no autor, não coube a ele, não cabe ao parnasiano,
demonstrar, se é que a devoção já não se revela como uma emoção.
Além disso, tratemos do que é ou pode ser implícito. A resposta é: tudo que fuja da
forma e caia no plano da significação, isso porque cada palavra combinada com
outra provoca reações diferentes dependendo de quem é o leitor: profundo
conhecedor da literatura brasileira? O aluno que perdeu a maioria das aulas ou
aquele cujas anotações nunca tardam?
Nenhuma interpretação é mais merecedora de atenção do que outra, não se fora
explorada ao máximo suas possibilidades interpretativas e esforçou-se para o maior
alcance reflexivo.
Por esses motivos, o incentivo ao confronto dos pontos de vista visando conhecer
mais os alunos e com o que cada um pode colaborar cria uma zona de intimidade e
conforto onde diferenças são bem-vindas. O material em questão peca nesse sentido
ou, pelo menos, deixa nas mãos do educando o papel de ir além das páginas, da
descrição técnica para chegar na discussão dos saberes.
A caixa abaixo do soneto é tão descritiva quanto o soneto que descreve como tal,
não expandindo-se ao exercício de ir além dele. O capítulo, posteriormente, não traz
algum exercício de fixação ou de análise para o desenvolvimento daquela liberdade
fundamentada. É sucinto, objetivo e impessoal e, assim, rompe com o tom
convidativo tão essencial no diálogo com o aluno para guiá-lo, ao ser falado em
sala, a escolhas individuais competentes.
● Analisar, interpretar e aplicar os recursos expressivos das linguagens,
relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função,
organização das manifestações, de acordo com as condições de produção e
recepção.
É claro que a apreensão não se completará com uma proposta isolada de fatores
externos à obra referida. O diálogo de um texto, de seus recursos expressivos, com
outros textos é como uma ponte que liga o leitor às atribuições de sentido mais
próximas da veracidade. Além disso, o gênero do texto quando escolhido pelo autor,
de acordo com a pretensão estética discursiva dele ao selecionar um conjunto de
características “relativamente estáveis”, já traduz parte de sua pretensão.
“Os gêneros estão sempre ligados a algum tema e a um estilo, com uma composição
própria, e com eles operamos de modo inevitável e incontornável, desde que
usemos a língua [...]”. - http://www.filologia.org.br/xcnlf/3/09.htm
Os gêneros discursivos não são criados, a cada vez, pelos falantes, porém são
transmitidos social e historicamente (MARCUSCHI, 2002a). Inclui-se aqui o texto
literário.
“Não obstante, os falantes contribuem, de forma dinâmica, tanto para sua
preservação como para sua permanente transformação e renovação.” -
http://www.filologia.org.br/xcnlf/3/09.htm.
Ao receber o texto, o aluno o analisará e relacionará, construindo a zona da
intertextualidade e, a partir dela, tornará-se capaz de construir a própria zona onde,
a partir de todo seu conhecimento, poderá recriar aquele texto trazendo-o para perto
da sua realidade histórico-social e adequando-o a ela.
Aplicação no conteúdo
A biografia possui um conjunto de características bem comuns independentemente
de onde apareça ou de quem fale. Ao relatar as experiências e feitos de alguém,
contextualiza o autor, caso o seja, e argumenta o conteúdo produzido, já que
apresenta quais elementos sociais o circulavam e, possivelmente, influenciaram-no;
trata-se da "colheita", da absorção de tudo que o meio em que vivia podia lhe dar. E,
por isso, o estudo ou a mera atenção da/à trajetória de Alberto de Oliveira seria tão
importante para a maior apreensão de suas obras.
De fato, provas de concursos, vestibulares não se empenham em cobrar informações
tão específicas sobre a escolaridade, a vida amorosa de autores no geral, e têm razão
ao deixar que esse descritivismo seja percebido na obra em si, depósito de
referências, inspirações, epifanias ou outras provocações emotivas que possam ter
abalado o autor. O material analisado não falha em caracterizar as produções
literárias de acordo com o contexto “Belle Époque”, marcado por ideologias
francesas e suas respectivas elegância e sofisticação, simultaneamente a “uma série
de reformas urbanas [...]” ocorridas no Brasil que desfavoreceram a inserção das
camadas da população, tornadas mais pobres devido à favelização (Pág. 106); não
falha em apresentar o termo “Parnaso” com suas origens antológicas e incentivar a
correlação histórica com a manifestação de “Le Parnasse Comtemporain” (O
Parnaso Comtemporâneo). A ligação “[...] ao sol, ao dia, às Artes, à Medicina, à
Razão e ao equilíbrio das formas [...]” já assimila um conjunto de regras e, por isso,
situa o aluno no tema e deixa-o pré-definido.
Entretanto, voltando à questão biográfica, a formação acadêmica do autor, por
exemplo, tanto não deve como não pode ser deixada de lado como fator estruturador
de seus conhecimentos, os quais se misturam nas obras, de uma área para outra.
Com "Vasos, taças, paisagens naturais, túmulos [...]" (Pág. 110) a caixa de diálogo
destinada à descrição do autor não traz informações biográficas; dá relevância
apenas ao que ele deposita em sua obra.
A necessidade de agilidade por se tratar de um material aparentemente revisor
justifica as várias informações não dadas, mas não compensa esta carência com uma
indicação de pesquisa. Mais uma vez, é provável que se espere do aluno esta ação
intuitiva, pois outrora a exigência por pesquisas fora do ambiente escolar deve ter
sido maior e, consequentemente, a prática fora supostamente automatizada.
Contudo, incentivos constantes reforçam outra necessidade: possibilitar quantas
vezes for possível o encontro entre duas condições - de quem produz e de quem
recebe; ao receber, sentidos se colidirão e deverão ser postos em seus lugares e
épocas para que se determine quais são autorizados, ou seja, quais se aproximam
mais ou condizem com o porquê de um muro espreitar "[...] a sombra, e vela /
Entre os beijos e lágrimas da lua." (OLIVEIRA, Alberto de, Poesias em SOMOS
Sistemas de Ensino (1º ed.), Livro Texto de Língua Portuguesa do 2º ano do Ensino
Médio, p. 110)
Aplicação no conteúdo
Aplicação no conteúdo
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