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Numa perspectiva de fé, essa decisão, perpassa por uma experiência de Deus.
Ela insere-se num contexto de chamado divino e de uma escuta atenta para
dar uma resposta concreta. Nesse sentido, falar de vocação no universo das
Sagradas Escrituras é enveredar pelas sendas da vida de homens e mulheres
que, a seu modo e no seu tempo, sentiram esse apelo de Deus e deram uma
reposta concreta a esse chamado.
Ele é chamado, juntamente com sua mulher Sarai, a uma missão especifica.
Neles e a partir deles todos os povos são Benditos (Gn 12,3). Na certeza da
benção e proteção divina, eles partem rumo a terra prometida por Deus (Gn
12,4ss). Depois de passar pelo Egito e desentender-se com seu Sobrinho Lot
(Gn 13,7ss). Abraão instala-se em Carvalho de Mambré(Gn 13,18).
Em seguida sendo Moisés já um homem formado (os Atos dos apóstolos dizem
que ele tinha quarenta anos, At 7,23) sai pelas ruas de sua cidade e vê um
egípcio mutilando um dos seus irmãos(Ex 2,11). Nesse contexto julgo que
Moisés tem um primeiro despertar para sua vocação. Ele deixa-se interpelar
pela realidade e age. Age, contudo, sozinho, ainda não se trata de um
chamado de Deus. Ele apenas se condói com o sofrimento que afligia seus
irmãos e toma uma atitude extrema, mata o Egípcio (Ex 2,12). No dia seguinte,
o crime é jogado diante dele ( Ex 2,14). Moisés teme por sua vida e foge para
Madiã (Ex 2, 15.). Todavia, o texto deixa transparecer que Moisés tem
consciência de que os seus irmãos sofrem e que ele precisa tomar alguma
atitude para salvar o seu povo – povo de Deus. Contudo, não pode agir
sozinho. Esse fato porque, como dissemos acima, uma das características do
chamado vocacional é ter uma intima comunhão com Deus e ser enviado por
Ele para servir ao povo.
Uma nota salutar neste ponto é que todas as vezes que Deus lhe envia o que
une o povo é o fato de terem a mesma fé no mesmo Deus: “O Deus de Abraão,
Isaac e Jacó(Ex 3,15b.16b).Aquela mesma fé desencadeada em Abraão.
Moisés, por fim, aceita a missão de Deus e liberta o Povo de Israel(Ex 12,37-
41),passa pelo Mar vermelho a pé enxuto(Ex 14,15ss) levando-os até as portas
da Terra prometida – Moab, onde morre (Dt 34,5ss).Isso tudo aconteceu não
sem passar por muitos percalços no serviço que prestava a Deus(Ex 16, 1-3;
17, 2; 32,1-6;).
Samuel, a bem da verdade, foi o último grande juiz de Israel, segundo a leitura
narrativa da Bíblia. Sua missão, no entanto, transcendeu a esfera da profecia e
da judiciatura. Ele foi responsável por dá a Israel um rei, a pedido do próprio
povo(1Sm 8,6-8). Ele unge,assim, Saul(1Sm 10,1-2 ) e mais tarde,pela
intransigência deste(1Sm 15,10), unge um novo Rei, Davi(1Sm 16,13).
O novo rei tem uma missão particular e especifica. Ele é chamado pelo sinal
que lhe foi dado com a unção, a defender o povo de Deus das mãos dos
inimigos que estão a espreitá-los(1Sm 10,1c). Saul atende prontamente esse
chamado de Javé, combateu, entre outros, conta os amonitas e os filisteus.
Saul, contudo, inicia um processo no qual passa a desagradar a Deus(1Sm
15,11.23) o que, mais tarde, gerará seu declínio no Reinado sobre os Israelitas
e a eleição de um novo Rei, Davi(1Sm 16,12-13)
No capitulo primeiro de livro que leva o nome do profeta ele diz: “ A palavra do
Senhor foi-me dirigida nestes termos...”(vv.4). Importante notar que o chamado
de Jeremias, assim, como o e Samuel é fruto da Palavra do Senhor. Em
seguida o profeta fala que Deus o havia chamado deste da terna infância,
desde o ventre materno o tinha escolhido e consagrado (vv 5). Nesta
passagem não há um relato histórico-biográfico, antes há um descrição de uma
experiência de Deus. Para Jeremias ter experimentado Deus é um realidade
ontológica , faz parte do seu ser, da sua constituição. Desde sempre e para
sempre Deus lhe chamou para a missão de profeta. Assim, a vocação de
Jeremias é algo visceral que ele descobre mais tarde revisitando a sua própria
história e narrando-a.
Jeremias, tal qual grande parte dos profetas do AT, tende naturalmente a
apresentar obstáculos para assumir seu chamado, sua vocação. O argumento
que ele usa para não aceitar o chamado é de que é uma criança(Jr 1,6-7), que
é indefeso, que não saberá o que falar. Deus, contudo, dirime essa fraqueza.
Ele assegura a Jeremias que não há motivo ,nem é momento para temer, pois
Deus está ao seu lado(Jr 1, 8).
Mitigada essa aporia, Jeremias é capacitado para seu trabalho. Ele recebe do
próprio Deus, sua palavra (Jr.1,9) e tem como missão “Arrancar e destruir;
exterminar e demolir; construir e plantar”(Jr 1,10 ). Em termos políticos
Jeremias tem a missão de alertar o povo de Israel que sua frágil aliança com os
Assírios não lhe garantirá sucesso e que eles serão dominados pelos
Babilônios com a queda dos Assírios. Em termos religiosos, a destruição de
Israel ocorrerá porque eles estavam adorando falsos deuses(Jr 1, 15-16; 2,26-
28).
Jeremias é alertado para o desafio do anúncio que têm que fazer em nome de
Deus. Ele tem, diz a sagrada escritura, que dirigir-se ao povo de Judá
anunciado que esse reino – do Sul - está eminentemente ameaçado pelo norte
de onde está vindo os babilônicos(Jr 1, 11-16). Essa é a missão clara que Deus
lhe confia. Todavia, o Senhor não apenas garante que estará com o
profeta,antes o capacita. Deus cinge o seu rim(Jr 1,17a), portanto o prepara, o
coloca na atitude de seguir, de caminhar. De igual modo, Deus é que lhe fará
profetizar(Jr. 1, 17b). Ele não falará por si mesmo, mas pela força da palavra
Divina[14]. Sua missão de “Arrancar e destruir; exterminar e demolir; construir e
plantar”(Jr 1,10 ) é missão de Deus. Ele é quem vai julgar o infiel reino de
Judá(Jr 1,16). Por isso serve-se da mediação de Jeremias, faz dele uma cidade
forte, uma muralha de bronze diante dos grandes da terra(cf. Jr. 1,18). Em
poucas palavras, a vocação de Jeremias consiste em ser um interprete
“profético” da Palavra de Deus.
Os relatos que podem ser entendidos como de cunho vocacional sobre são
João foram resguardados, sobretudo, pela Escola de Lucas no seu primeiro
escrito, isto é, no Evangelho(Lc 1,5-22. 57-80; 3,1-19). Talvez não sejam
relatos puramente vocacionais, pois não há a dimensão de chamado, de
convite – exceto em um(3,1-19).Antes, há menções ao seu nascimento e a
suas origens. Contudo, ao menos em germe, podemos entrever o chamado do
Senhor ao futuro grande profeta (1,1-2).
Diz o texto que João Batista é filho de descendentes de uma tribo Sacerdotal,
eram da tribo de Aarão(Lc 1,6). Assim, ele genealogicamente era sacerdote.
Seu pai Zacarias era um piedoso Sacerdote(Lc 1,5) e junto com Isabel
formavam um casal de idosos(Lc 1, 7.18b) justo aos olhos de Deus(Lc 1,6).
Esse anjo saúda Maria com uma saudação que soa estranha aos ouvidos da
virgem de Nazaré. Ele diz a ela que alegre-se pois é cheia de Graça(Lc
1,28).Fabris e Maggioni[19], refletindo sobre essa afirmação dizem que é um
convite a uma alegria messiânica, não apenas uma simples saudação. Nesta
frase, está contido o principio da vocação, do projeto que Maria iria realizar. Em
seguida (Lc 1, 30- 33), desponta o chamado propriamente dito. Maria é
agraciada diante do Senhor. Ela é chamada a ser mãe do Salvador esperado
pelo povo de Israel e preanunciado pelos profetas Antigos(Is 7,14; 9,6).
Naturalmente, Maria, como todos os outros vocacionados objeta a esse
chamado que lhe soa humanamente impossível (Lc 1,34). A essa interpelação
o anjo afirma que será por meio da graça do Altíssimo que ela conceberá (Lc
1,35). Com essa resposta, fica delimitado que Maria é chamada a ser mãe do
Filho de Deus , lugar santo consagrado para o Senhor - De igual modo é claro
que a origem de Jesus é divina. Face a essa condições, A virgem de Nazaré
não reluta mais e entrega-se ao senhor(Lc 1,38) contribuindo para a Salvação
do Povo de Deus.
Em poucas palavras Maria é chamada pelo próprio Deus a ser mãe do Seu
filho. De igual modo ela é o viés sob o qual será instaurado uma nova época
para o povo de Israel. Ela é a porta da qual brotou a nova seiva do Povo de
Israel, Jesus de Nazaré.
Desde os primeiros momentos de sua vida pública, Jesus, sempre contou com
a ajuda de homens e mulheres( Mc 1, 16-20; 2,13-14; 3,13-19; MT 4, 18-22;
9,9; 10,2-5). Algumas Figuras emblemáticas e controversas que, mais tarde,
terão a incrível missão de anunciar, com sinais, a presença do Senhor, a
chegada do tempo messiânico.(Mc 6, 7-12; Mt 10,7-8.). Cada um a seu modo e
no seu tempo foi agregando-se ao grupo de Jesus. Diversas formas Jesus
usou até constituir seu corpo de discípulos. Alguns viram ele passar e o
seguiram, como é o caso de André(Jo 1,40). Outros, como Pedro , Mateus
Tiago, João, Filipe, Natanael(Mc 1,16-20; Lc 5,1-11 Jo 1,40ss ) foram
chamados de seu trabalho e convidados a deixar tudo para seguir Jesus.
Um pouco mais simbólico e digno de uma reflexão mais ampla é instituição dos
doze. Ela aparece nos Evangelhos sinóticos (MT 10, 1-4; Mc3,13-19; Lc 6,12-
16). Nos três relatos aprecem a mesma imagem, isto é, que sob condições
limites do povo, Deus quer ser presença perene entre eles através de homens
e mulheres que ele escolheu para si. Na esfera desta pesquisa nos serviremos
do texto mais antigo dos Evangelhos: Marcos (não sem fazer, quando
necessário, um paralelo com os outros relatos)
O Texto de Mc sobre a instituição dos doze não pode ser compreendido sem o
relato que lhe precede(Mc 3, 7-12). Nesse texto diz que uma “grande multidão”
acompanhava Jesus(Mc 3, 7b.8b.). Essa multidão não é um conglomerado de
pessoas comuns, são homens e mulheres que haviam sido curados ou
estavam em busca de um cura(Mc 3,9-11). Trata-se de pessoas vindo de
quase todo o Israel em busca de Jesus.
Alguns dados sobre Pedro podem ser mencionados. Sabe-se que ele é ou, ao
menos, trabalhava numa cidade às margens do lago de Genesaré, Betsaida
(Mt 4,18, Jo 1,44). Sua profissão é Pescador (Mc 1,16-17); É irmão de André e
discípulo de João ( Jo 1, 40.42; 21,15-17)Ele, talvez, foi casado, pois Jesus
curou sua Sogra(Mt 8,14-14; Mc 1,29-31; Lc 4,38-39) bem como o texto de
Primeira Corintos (1Cor 9,5) denota que alguns discípulos – inclusive Cefas –
tem uma “esposa Cristã”. Para Paulo, Pedro era uma das colunas da Igreja(Gl
2,9). O local de sua morte, contudo embora não tenha registros bíblicos, a
tradição alocou na cidade Eterna, Roma.
Para ter uma reflexão um pouco mais sistematizada sobre a vocação de Pedro,
elegemos um dos textos evangélicos para esse fim, isto é, o de Lucas (Lc 5,1-
1) , pois ele parece rico em detalhes e dirige grande parte do seu foco ao
“Pescador de Genesaré”.
Seu segmento radical e fiel a Cristo fez com que ela estivesse junto dele em
momentos cruciais. Esteve presente na cruz(Mt 27,56; Mc 15,40; Jo 19, 25); No
momento do sepultamento(Mt 27,61; Mc 15,40; Jo 19, 25); foi testemunha
ocular do sepulcro de Cristo vazio(Mt 28,1-10; Mc 16, 1-8; Lc 24, 10). De igual
modo sua fidelidade e perseverança no discipulado ao filho de Deus fez com
que ela visse o Cristo ressuscitado( Jo 20,1-18.).
Numa cidade prospera da Cilicia chamada Tarso, no seio de uma família judia
que gozava, entre outros benefícios, de cidadania Romana – cosmopolita, para
época - havia um jovem chamado Shaul(Saulo, Shaulo). Esse nome era
importante porque evocava o Primeiro Rei bíblico de Israel, da tribo de
Benjamin(1Sm 9, 15-16; 10,1). Essa identidade contudo , como afirma Dodd,
era apenas um nome caseiro, para os seu concidadãos ele era Paulo.
[23] Justamente sobre esse jovem que queremos refletir. Ele foi um fiel judeu(Fl
3, 3-6) que perseguiu vorazmente os seguidores do Caminho(At 9. 1-2), todavia
sua conversão mudou completamente seu jeito de ser e viver a ponto de seguir
e anunciar a Jesus sem temer risco algum para sua vida, por que para ele
“viver era Cristo, morrer era lucro”(cf.Fl 1,21).
Tal como nos informam os Atos dos Apóstolos (At 9,1-3), Paulo conseguiu uma
autorização dos Sumos Sacerdotes para perseguir as pessoas do
“Caminho”.Ele dirige-se a Damasco. O’Connor, propõe que diferentemente do
que costumou-se afirmar, Paulo estava próximo a Damasco, não para
perseguir Judeus-cristãos, mas estava indo visitar sua cidade natal,
Tarso[27] De qualquer modo, é nas proximidades de Tarso que Paulo tem uma
experiência que muda sua vida, nela que julgamos acontecer a sua vocação.
Em vários trechos de suas cartas Paulo faz alusão a essa experiência, todavia
não a descreve com minúcias. Ele expõe que viu o Senhor(1Cor 9,1. 15, 8;); foi
alcançado por Deus(Fl 3,12) e separado desde o ventre Materno( Gl 1, 15 -17).
Contudo na Primeira cartas aos Corintos Paulo, diz que “viu” o Senhor.Trata-se
de um verbo da ressurreição, tal qual Maria de Magdala( Jo 20,14.). Paulo
coloca-se, portanto, em pé de Igualdade com todos os outros que viveram e
conviveram com Jesus. Ele de modo especial foi digno de Ver o Senhor
ressuscitado.(1Cor 15,3-7). A vocação do Apóstolo dos Gentios é fruto do
chamado de Cristo ressuscitado.
Sobre Paulo, por fim, podemos dizer que ele é um judeu convicto. Que ele,
uma vez ouviu o chamado do Senhor ressuscitado, deixou tudo e guiou-se por
essa experiência mística. Fez tudo para com todos visando ganhar todos para
Cristo.
Uma caminho, que julgo colossal, foi percorrido para chegar até este ponto.
Enveredando pelas sendas do Antigo e do Novo Testamento pudemos
perceber como o povo da Bíblia registrou a experiência de homens e mulheres
no serviço a Deus.
B - Peculiar em cada chamado é que eles não são designados para uma
missão própria. Eles não são chamados a legislar em causa própria. Antes são
convocados a colocarem-se a serviço de Deus e executar a missão que lhe é
confiada.
C - O fato de ser chamado por uma voz, uma pessoa, uma luz, um anjo são
metáforas que os relatores dos Textos Sagrados encontraram para dizer que,
ao longo da história e ainda hoje, Deus suscita homens e mulheres com
disposição para testemunharem no mundo o seu amor.
Por fim, fica o perene apelo para que cada homem e mulher, inspirado pela
Sagrada Escritura, busque ouvir o seu apelo e corporifique nas realidades
difíceis da vida, nas situações limites, a presença do Senhor,
REFERÊNCIAS
CENTRO BIBLICO VERBO. Deus viu que tudo era muito bom: Entendendo o livro do
Genesis 1-11.São Paulo: Paulus. 2007.
[5] E Evito aqui as naturais questões sobre a passagem ou não pelo Mar vermelho.Tal
como já afirmei o cunho deste estudo é narrativo, embora reconheçamos toda
discussão histórico-critica sobre este assunto.
[9] Após o nascimento de Davi Ana entoa um belo canto de louvor a Deus pelas
maravilhas que Deus fez por ela (1Sm 2, 1-10). Muitos Biblistas fazem um paralelo
entre o canto de Ana e o Canto de Maria: KODEL, Jerome. Evangelho de Lucas:
BERGANT, Diane e KARRIS, Robert J.(ORG) Comentário Bíblico.v.III. São Paulo:
Loyola.1999.p.77
[13]Cf.: CENTRO BIBLICO VERBO. Deus viu que tudo era muito bom: Entendendo o
livro do Genesis 1-11.São Paulo: Paulus. 2007p. 13