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Saúde e segurança no ambiente rural: uma análise das condições de trabalho

em um setor de ordenha

Ana Julia R. Souza* Antonio Henrique C. S. Filho* Estefany Barreto* Hercules R.


Feitoza* José Tairan de C. Lima* Thalles Roberto*
*Estudantes de Eng. Agronômica do IF Sertão CPZR

INTRODUÇÃO

É de conhecimento popular e técnico que cadeia produtiva do leite e de seus


derivados é um setor de extrema importância econômica, social, e política ( levando
em conta os cenários de exportação), no qual nos últimos dois anos a produção
nacional apresentou crescimento inexpressivo, sendo que as importações
cresceram e as exportações diminuíram. O Brasil é o terceiro maior produtor
mundial de leite, com mais de 34 bilhões de litros por ano, com produção em 98%
dos municípios brasileiros, tendo a predominância de pequenas e médias
propriedades, empregando perto de 4 milhões de pessoas. O país conta com mais
de 1 milhão de propriedades produtoras de leite e as projeções do agronegócio da
Secretaria de Política Agrícola, estimam que, para 2030, irão permanecer os
produtores mais eficientes, que se adaptarem à nova realidade de adoção de
tecnologia, melhorias na gestão e maior eficiência técnica e econômica, pensando
em toda uma expansão do mercado é necessário também pensar em como torná-lo
mais atrativos, seguro, e em como agregar valor ao produto final. Segurança do
Trabalho pode ser entendida como um conjunto de medidas adotadas para
minimizar os acidentes de trabalho e as doenças ocupacionais, bem como proteger
a integridade e a capacidade do colaborador.
Em 1978 foram criadas as Normas Regulamentadoras, hoje composta de 36
normas . São as principais diretrizes para a sociedade no que se refere a segurança
e saúde do colaborador, pois qualquer estabelecimento que contrate colaboradores
sobre a égide da CLT, deve cumprir o que está estabelecido nas NRs.
Mas o investimento em segurança do trabalho não deve ser visto apenas
como um mero gasto de adequação à legislação. De fato, a segurança tem
influência direta sobre a produtividade, que é um dos fatores mais importantes para
o sucesso de um negócio, principalmente nos casos de indústrias alimentícias, pois
isso preserva tanto a segurança do colaborador como a segurança do produto final
que chegará até a mesa do cliente. Algumas técnicas são adotadas para tornar o
meio rural e principalmente de produção leiteira e derivados do leite são adotadas
como meio de segurança no meio corporativo e manejo. Algumas delas são;
Fornecer treinamentos e capacitações onde funcionários conscientes dos
riscos e boas práticas são mais aptos a adotarem medidas preventivas e menos
suscetíveis a acidentes e lesões. Fazer periodicamente, manutenções preventivas e
corretivas de máquinas e equipamentos, evitando a interrupção de atividades,
vazamentos e/ou possíveis lesões. Descartar materiais e ferramentas inutilizados
e/ou ociosos, sabendo que eles aumentam os riscos de acidentes, além de diminuir
o tempo de resposta dos funcionários durante a execução de tarefas. Utilizar
equipamento de segurança Equipamentos de proteção individual (EPI):
Os uniformes devem ser compostos por gorro, macacão ou jaleco e calça
(brancos para ordenha, azuis para os demais); botas de PVC antiderrapantes
(brancas para a ordenha e pretas para os demais); luvas de PCV impermeável,
protetores auditivos e protetor solar. Salientando que para a manipulação de
produtos químicos, é necessário ter avental impermeável, luvas nitrílicas 3/4, óculos
de ampla visão transparentes e respirador semifacial, além da higienização pessoal
após a manipulação. E fazendo o uso de equipamentos de proteção coletiva (EPC):
Sinalização de riscos associados a cada atividade e de uso dos EPIs. Ter sempre
chuveiros de emergência no recinto para os casos acidentais de infecção,
contaminação, ou caso o colaborador tenha contato com produtos corrosivos.
Adotando tais medidas a qualidade de produção da fábrica e ou fazenda está
propícia a aumentar em 100%, trazendo mais credibilidade a empresa, perante ao
mercado.
DESENVOLVIMENTO

Os materiais e metodologias adotadas tiveram características qualitativas e


exploratórias já que é um estudo de caso que visa mostrar a situação observada em
cada setor, comparando-o com as normas vigentes. Por ser baseada em opiniões
de pessoas relacionadas com o trabalho executado, sem considerar os dados
estatísticos, escolheram uma abordagem com características qualitativas. A coleta
de dados foi realizada de duas maneiras, principalmente por meio de sondagem,
arquivos de banco de dados exploratórios e, após, por meio de sondagens
realizadas no próprio setor. Em meio aos vários tipos de ferramentas de coleta de
dados atuais, foram utilizadas para esta pesquisa, a entrevista não estruturada, a
aplicação de questionário e acompanhamento in loco. A entrevista não estruturada
cabe aos entrevistados decidir a melhor maneira para construção de sua resposta.
Sendo escolhida pois muitos problemas e acontecimentos nas relações do objeto de
estudo fogem do pesquisador quando expresso em números e estatísticas
(MATTOS, 2005). No que diz respeito às técnicas de observação, foram realizadas
observações in loco, reproduzindo tudo que foi visto durante a visita ao espaço de
trabalho. De modo geral, as investigações comprovam os resultados de outras
técnicas, e através da comparação destas informações, que mostraram os pontos
críticos’ do setor (NEUENFELD et al., 2006).
A avaliação foi feita com entrevistas informais e observação sistemática, com o
objetivo de identificar as condições das instalações, dos maquinários e atividades
desenvolvidas pelo trabalhador. Foi aplicado um formulário, desenvolvido pelos
pesquisadores, com 15 questões, baseadas nas normas regulamentadoras
6,9,17,24 e 31. o questionário abrangeu questões ligadas à ergonomia, aspectos
higiênico-sanitários e uso de EPI´s.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Através dos resultados obtidos por meio de análises, riscos


ergonômicos,mecânicos e biológicos foram identificados nos sub-setores como
bezerreiro, curral e sala de ordenha.A necessidade de permanecer em pé durante a
jornada de trabalho pode causar, dentre outros problemas, dores e varizes por ser
uma tarefa exige operações frequentes em vários locais de trabalho, fisicamente
separados.
O trabalho no setor exige esforço físico moderado com levantamento e
transporte manual de pesos, tornando o trabalho um processo mecanicamente
estressante e envolvendo um alto custo energético, devido à tensão mecânica
contínua exercida sobre os músculos dos braços e das costas durante o transporte
dos pesos. Por exemplo, em etapas como a imobilização das patas traseiras,
levantamento dos galões com leite, aproximação entre a vaca e a cria foram
observadas inclinações errôneas do tronco e movimentos moderados e repetitivos
dos braços. Estas situações podem provocar fadiga, dores corporais, dentre outros,
os quais podem acarretar afastamento do trabalho por doenças ocupacionais, como
a lombalgia, que é uma das principais causas de absenteísmo .

Riscos biológicos
Como já descrito anteriormente, o processo de ordenha é feito de forma
mecânica, com a mínima interação entre o operador e o produto, por isso não foram
encontrados problemas graves no setor avaliado, apenas alguns descuidos.
Primeiramente, na área de ordenha, foi observada remoção indevida do lixo,
ocasionando a presença de vetores como moscas, besouros e sapos, contradizendo
o que preconiza a Instrução Normativa 51 do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, que declara que todo local de ordenha deve ser mantido sob
rigorosas condições de higiene.

Risco de acidente
De acordo com a IN 51 , todos os funcionários ocupados com operações nas
dependências de ordenha devem usar uniformes brancos completos . Para os
demais, devem ser uniformes azuis e botas pretas. Por isso, a Norma
Regulamentadora 31 indica que, em todas as etapas dos processos de trabalhos
com animais, devem ser disponibilizadas aos trabalhadores informações sobre
formas corretas e locais adequados de aproximação, contato e imobilização . A
Norma Regulamentadora 31 estabelece que, nas escadas, rampas, corredores e
outras áreas destinadas à circulação de trabalhadores e à movimentação de
materiais, que ofereçam risco de escorregamento, devem ser empregados materiais
ou processos antiderrapantes e dispor de proteção contra o risco de queda, logo, as
observações supracitadas contrastam com o preconizado na legislação vigente .

Primeiramente, o local de ordenha deve dispor de bancos para que os


funcionários possam, quando possível, alternar as atividades entre as posições em
pé e sentado. Ou, de acordo com a orientação do subitem 17.3.5., da Norma
Regulamentadora 17, devem ser colocados assentos para descanso em locais em
que possam ser utilizados por todos os trabalhadores durante as pausas. Quanto às
precauções com relação à higienização e riscos de acidentes, tem-se a aquisição de
uniformes brancos completos para todos os funcionários ocupados com operações
nas dependências de ordenha e uniformes azuis e botas pretas para os demais
funcionários, conforme a IN 51. Complementarmente, ações que visem a uma
melhor drenagem da água na sala de ordenha devem ser tomadas, como, por
exemplo, a reposição de algumas peças cerâmicas e instalação de um corrimão na
escada, mitigando assim o risco iminente de acidente devido às quedas e
escorregões.

Por fim, sugere-se que seja feito com os funcionários um treinamento de


conscientização e capacitação em saúde e segurança no trabalho, o que irá orientá-
los sobre como exercer suas funções de maneira que preservem sua saúde,
formando, assim, pessoas mais conscientes e criando um ambiente de trabalho
mais seguro e saudável, conforme o recomendado na Norma Regulamentadora 31.

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos mostram a necessidade de mudanças no setor de


ordenha, de forma a melhorar a relação homem x trabalho. Isso reforça a ideia de
que os ambientes de trabalho devem ser projetados pensando não só nas
características técnicas relativas à construção, mas também na atividade a ser
realizada, no tempo de permanência no posto de trabalho e, principalmente, nas
características do trabalhador. Logo, apresenta-se como necessidade a avaliação
dos riscos biomecânicos, com o intuito de estudar os movimentos corporais e as
forças relacionadas ao trabalho, por serem pontos fundamentais das interações
físicas do trabalhador, com o seu posto de trabalho, ferramentas e materiais. Ante
aos resultados apresentados, tornou-se perceptível que tão importante quanto a
segurança do produto, deveria ser a qualidade das condições dos ambientes de
trabalho em que estes são produzidos, tendo em vista que o trabalhador é o
principal ator desse processo.

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