Você está na página 1de 110

Veronica Fernandes de Carvalho

Rafael Marques Garcia


Wilder Kleber Fernandes de Santana

(Orgs)

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR:


NOÇÕES BÁSICAS PARA AS SÉRIES INICIAIS

Pedro & João Editores


www.pedroejoaoeditores.com.br
13568-878 - São Carlos – SP
2021
Veronica Fernandes de Carvalho
Rafael Marques Garcia
Wilder Kleber Fernandes de Santana

(Orgs)

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR:


NOÇÕES BÁSICAS PARA AS SÉRIES INICIAIS

Pedro & João Editores


www.pedroejoaoeditores.com.br
13568-878 - São Carlos – SP
2021
Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida, transmitida
ou arquivada desde que levados em conta os direitos das autoras e dos autores.

Verônica Fernandes de Carvalho; Rafael Marques Garcia; Wilder Kleber Fernandes


de Santana (Orgs.)

Educação Física Escolar: noções básicas para as séries iniciais. São Carlos: Pedro & João
Editores. 2021.

ISBN 978-65-5896-139-6

1. Educação Física 2. Ciências humanas. 3. Trabalho na escola. 4. autores. I.


Título.
CDD – 370

Capa: Argila Design Editorial


Editores: Pedro Amaro de M. Brito e João Rodrigo de M. Brito
Design interno: Wdson Fernandes

Conselho Editorial da Pedro & João Editores:


Augusto Ponzio (Bari/Itália); João Wanderley Geraldi (Unicamp/ Brasil); Hélio Márcio
Pajeú (UFPE/Brasil); Maria Isabel de Moura (UFSCar/Brasil); Maria da Piedade Resende
da Costa (UFSCar/Brasil); Valdemir Miotello (UFSCar/Brasil); Ana Cláudia Bortolozzi Maia
(UNESP/Bauru/Brasil); Mariangela Lima de Almeida (UFES/Brasil); José Kuiava
(UNIOESTE/Brasil); Marisol Barenco de Melo (UFF/Brasil); Camila Caracelli Scherma
(UFFS/Brasil).

Pedro & João Editores


www.pedroejoaoeditores.com.br
13568-878 - São Carlos – SP
2021
OS ORGANIZADORES

Verônica Fernandes de Carvalho é Mestranda em Ciências da


Educação pelo Instituto de Educação Superior do CECAP – ISCECAP.
Especialista em Psicopedagogia pela Fundação Universidade Vale do Acaraú.
Licenciada em Educação Física pelo Centro Universitário de João Pessoa –
UNIPÊ e Licenciada (em regime Especial) em Pedagogia pela Fundação
Universidade Vale do Acaraú. Foi Auxiliar Técnica da Seleção Brasileira Juvenil
Feminina de Handebol Beach em 2016 e 2017 e, dentre destaques de vitórias,
foi Vice-Campeã Pan-americana de Handebol com a Seleção Brasileira e BI
campeã do Campeonato Brasileiro de Clubes de Beach Handebol em Niterói –
Juvenil Feminino. Atualmente trabalha como docente de Educação Física no
Colégio Marista – PIO X.
OS ORGANIZADORES

Rafael Marques Garcia é Doutorando em Educação Física pelo


Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ). Possui Licenciatura, Bacharelado e Mestrado em
Educação Física pela mesma instituição (UFRJ). Atualmente é professor
substituto de Educação Física na Universidade Estadual do Maranhão/UEMA
e professor de Educação Física da Prefeitura Municipal de Volta Redonda/RJ.
Membro do GECOS - Grupo de Estudos em Corpo, Esporte e Sociedade e do
Laboratório de Estudos Corpo, Esporte e Sociedade, o LAbCOESO, e vice-
presidente do Lendários Esporte Clube, associação poliesportiva LGBTI+ da
cidade do Rio de Janeiro. Interesse e afinidade estão voltados para as
seguintes áreas: Corpo, Relações de Gênero, Sexualidades, Esporte e
Sociedade.
OS ORGANIZADORES

Wilder Kleber Fernandes de Santana é Doutorando em Linguística


pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal da
Paraíba (Proling- UFPB). Mestre em Linguística pela mesma instituição
(Proling- UFPB). Mestre em Teologia pela Faculdade Teológica Nacional
(FTN). Atua como parecerista ad hoc em mais de vinte revistas qualificadas no
âmbito da Linguagem, Educação e Ensino. Atualmente integra, como
Representante Discente do Doutorado, o Colegiado do Proling/UFPB
(2019/2020) e a Comissão de autoavaliação do Programa Proling/UFPB
(2019/2020). Bolsista Capes. Membro do GPLEI – Grupo de Pesquisa em
Linguagem, Enunciação e Interação (CNPq). Sua linha de pesquisa e
publicações está direcionada para as áreas de Teologia, Linguagem, Discurso
e Sociedade.
SUMÁRIO

PREFÁCIO 8
(Des)territorializando conceitos em Educação Física 8

A ESCOLA, O PROFESSOR E BRINCADEIRAS NO ESPAÇO


ESCOLAR 12

A INTERAÇÃO COMO FATOR INFLUENCIADOR DA MOTIVAÇÃO


22

ENTRE SABERES E PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA: TEORIA DA


MOTIVAÇÃO 28

CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL E


SABERES DOCENTES 37

PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA


NOS ANOS INICIAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA 49

A INCLUSÃO COMO DISPOSITIVO POTENCIAL NA EDUCAÇÃO


FÍSICA ESCOLAR 57
A PSICOMOTRICIDADE E A EDUCAÇÃO FÍSICA: POSSÍVEIS
(DES)ENCONTROS 63

JOGOS EDUCATIVOS, BRINCADEIRAS E O DESENVOLVIMENTO


COGNITIVO DA CRIANÇA 73

A EDUCAÇÃO FÍSICA E O (PRÉ) ESPORTE NA ESCOLA:


DEMARCANDO VOZES 82

O QUE ALGUNS PROFESSORES COMPREENDEM SOBRE A


EDUCAÇÃO FÍSICA 90

REFLEXÕES ANALÍTICAS SOBRE A APRENDIZAGEM DISCENTE


98

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: DA REFLEXÃO À


CONSTITUTIVIDADE 104
8

PREFÁCIO

(Des)territorializando conceitos em Educação Física

Veronica Fernandes De Carvalho


Rafael Marques Garcia
Wilder Kleber Fernandes De Santana

Este trabalho representa mais que palavras escritas, consiste


em argumentações que encontram dinamismo na prática docente.
Com a propositura dessa obra, não pretendemos apenas repetir
informações que já foram tanto debatidas desde a década de 1990 no
cenário brasileiro, mas reverberar propostas teórico-analíticas que
contribuam para professores nas séries iniciais de escolas em campo
vernáculo.
Refletir sobre a prática dos acontecimentos é um convite ao
amadurecimento: como eu posso melhorar? De que forma eu posso
inovar naquilo que já é meu cotidiano profissional? É nessa esteira que
surge nossa proposta de (des)territorializar espaços em que ocorre a
Educação Física escolar, ou seja, contribuir em termos de
posicionamentos em salas de aula, como lidar com as crianças das
séries iniciais, como conduzi-las a um aprendizado prazeroso e eficaz.
O escopo de nosso material aborda assuntos que envolvem
brincadeiras no espaço escolar, interação e motivação, a relação entre
teoria e prática, ludicidade, o contexto histórico da Educação Física,
bem como da psicomotricidade e a importância do pré-esporte.
9

Em relação ao objetivo assumido – realizar um estudo que se


debruça sobre a esfera da Educação Física escolar no âmbito das séries
iniciais, sobretudo em função da maneira como os professores podem
construir estratégias ao difundirem suas práticas – concluímos que, de
modo geral, repensar faz parte de um ritual para inovação. Esperamos
poder contribuir para que novos horizontes sejam aguçados, e que
diversos profissionais possam se sentir estimulados não apenas a
reinscrever suas práticas, mas a atuarem como agentes em fronteiras
dialógicas que inovam, elevando a Educação Física para além de uma
disciplina mecânica, mas renovadora e humanizadora.
11

UNIDADE I
COMPREENSÕES TEÓRICAS
12

A ESCOLA, O PROFESSOR E BRINCADEIRAS NO


ESPAÇO ESCOLAR

Veronica Fernandes De Carvalho


Rafael Marques Garcia
Wilder Kleber Fernandes De Santana

Introdução

Não é novidade afirmar que a escola exerce papel fundamental por


disponibilizar os recursos necessários para realização da prática de ensino,
pois tais discussões vêm sendo tecidas em território brasileiro – com ênfase –
desde a década de 1980 (FERNANDES, 2009; ARROYO, 2010). Com relação ao
papel de entreter/brincar/recrear, parece que tal atribuição não consegue
ultrapassar a condição unicamente lúdica que leva a disciplina de Educação
Física a se diferenciar do momento do recreio, pois este papel é pautado no
brincar, considerando a brincadeira com um fim apenas em si mesma
(KUHLMANN JR, 1998; ANDRADE, 2012).
Nesse cenário, o professor contribui para melhorar o processo de
ensino e aprendizagem utilizando o lúdico como estratégia de ensino em sala
de aula, pois a criança brinca porque necessita desse momento de
descontração na sua vida diária, de modo que está associada com a diversão.
O professor de Educação Física tem grande responsabilidade no
sentido de promover um ambiente propício e adequado para que sejam
realizadas as atividades lúdicas na educação infantil, cujas brincadeiras são
realizadas com recursos educativos e que obtenham o objetivo de aplicar essa
ludicidade no processo de ensino e aprendizagem (ANTUNES, 2005).
A prática pedagógica aplicada pelo professor no processo de ensino
deve ser um método que envolva a aprendizagem como meta principal, cujas
brincadeiras, jogos e brinquedos contenham um formato educativo, a fim de
se tornar um instrumento de ensino para esses alunos e não só um momento
de recreação sem fugir do roteiro elaborado para aula (SAYÃO, 2004).
Diante desses aspectos, o professor é o principal responsável pela
elaboração e planejamento da aula exposta no processo de aprendizagem.
Para isso, é de suma relevância que as práticas integradoras da ludicidade
possam ser esclarecidas aos alunos já no início da aula, para que os mesmos
13

não pensem que esse momento lúdico se trata só de uma simples brincadeira.
Torna-se mister, portanto, o aclaramento de que todas as brincadeiras e
atividades físicas1 fazem parte de uma aprendizagem usada para atribuir e
adquirir formas de conhecimentos no desenvolvimento escolar do aluno
(KISHIMOTO, 2011).
Diante de tais considerações, nosso objetivo consiste em realizar um
estudo descritivo-analítico sobre ludicidade, brincadeiras e jogos na
especificidade do espaço escolar, bem como revisitar a importância das
práticas pedagógicas como dispositivo essencial para o processo de
aprendizagem.

Ludicidade, brincadeiras e jogos

A elaboração do planejamento de aulas lúdicas deve ser realizada


unicamente para fim pedagógico, como também no decorrer da aula. Deve-
se acompanhar o desenvolvimento cognitivo da criança, ou seja, o
conhecimento e o procedimento dos jogos específicos necessitam estar
adequados ao nível escolar e à faixa etária do alunado. Para Vygotsky (1998),
o educador pode fazer o uso de jogos, brincadeiras, histórias e de outros
meios apropriados para que de forma lúdica a criança seja desafiada a pensar
e resolver situações problemáticas para que possa imitir e recriar regras
utilizadas pelo adulto.
Na perspectiva de Lima (2013), o lúdico pode ser utilizado como uma
estratégia de ensino-aprendizagem, onde esse ato de brincar na escola está
relacionado ao professor que deve apropriar-se de subsídios teóricos que
consigam convencê-lo e sensibilizá-lo sobre a importância dessa atividade
para aprendizagem e para o desenvolvimento da criança. Acrescenta-se a isso
a perspectiva conceitual de Oliveira, para quem a

Aprendizagem é o processo pelo qual o indivíduo adquire informações,


habilidades, atitudes, valores, etc. a partir de seu contato com a realidade, o
meio ambiente, as outras pessoas. É um processo que se diferencia dos fatores
inatos (a capacidade de digestão, por exemplo, que já nasce com o indivíduo) e
dos processos de maturação do organismo, independentes da informação do
ambiente (a maturação sexual, por exemplo). Em Vygotsky, justamente por sua

1A atividade física é definida como qualquer movimento corporal realizado por um indivíduo.
Contudo, essa atividade realizada com crianças e adolescentes de forma sistematizada e
objetivando um fim em si mesma produz o que entendemos por exercício físico, que é muito
comum como conteúdo da Educação Física escolar.
14

ênfase nos processos sócio históricos, a ideia de aprendizado inclui a


interdependência dos indivíduos envolvidos no processo. (...) o conceito em
Vygotsky tem um significado mais abrangente, sempre envolvendo interação
social (OLIVEIRA, 1997, p. 57).

Compreender a importância do brincar poderá possibilitar aos


professores intervir, de maneira apropriada, no decorrer da brincadeira, não
interferindo e descaracterizando o prazer que o lúdico proporciona. A junção
de brincadeiras, jogos e brinquedos na prática pedagógica poderá, sem
dúvida, desenvolver diferentes atividades que irão contribuir para inúmeras
aprendizagens e para a ampliação da rede de significados construtivos para
as crianças (SAYÃO, 2004).
Portanto, o professor deve sempre estar atento para as
especificidades da ludicidade – sua maturação – no decorrer do ensino. Para
isso, a melhor maneira de se construir essa proposta lúdica encontra-se nos
recursos didáticos trabalhados. A ludicidade não deve ser proposta como
unicamente um passatempo, por meio do qual a criança se diverte, mas sim
ser aplicada com diversos objetivos pedagógicos de acordo com a faixa etária
e conteúdos usados nessa aprendizagem.
As brincadeiras e jogos são processos que abrangem muito mais do
que se pensa, ou seja, a criança se envolve num momento de descontração e
ao mesmo tempo brinca aprendendo que para os mesmos torna-se uma
maneira de interagir com outros coleguinhas de turma. Dessa forma, o ato de
brincar representa para criança novas descobertas, ou seja, através dessa
prática que envolve a ludicidade, a criança consegue conhecer, aprender e se
constituir como ser pertencente ao grupo (SCAGLIA, 2020).
O ato de brincar é considerado uma ação de grande importância para
o ser humano. A criança que apresenta um comportamento impulsivo pode
ser facilmente controlada através de momentos de diversão em sala de aula.
Cordazzo e Vieira (2008) asseguram que existe sempre aquele aluno que
apresenta certa dificuldade no processo de aprendizagem, no decorrer do
dia-dia escolar a própria criança é identificada como aquela que não consegue
acompanhar as informações na mesma proporção dos outros alunos.
Para que a criança adquira conhecimentos e habilidades, o professor
de Educação Física deve considerar o conhecimento de mundo que a criança
traz ao chegar à sala de aula e a partir disso organizar suas aplicações, pois,
todas as crianças têm a capacidade de aprender quando se observa alguma
atitude, informação entre outros. Como afirmam Kohl et. al (2002),
15

São consideradas algumas técnicas e procedimentos, com ênfase na ideia de


que o educador deve investir na compensação para libertar a criança das
impressões perceptuais concretas, desafiando seu nível de capacidade, atuando
para conduzi-la ao pensamento de alta generalidade, para as funções
psicológicas superiores. O educador precisa privilegiar suas potencialidades e
talentos, recusando a suposição de limites para o que pode ser alcançado.
Mesmo nas limitações intelectuais muito graves, é possível manter uma
concepção prospectiva e a diretriz de mobilização de forças compensatórias,
partindo de atuações em que o outro faz pela criança o que ela não pode fazer
(KOHL et al., 2002, p. 102-103).

As brincadeiras e jogos podem ser aplicados para alunos nas séries


iniciais com abordagens lúdicas, e esse recurso integrado ao no processo de
ensino é desenvolvido como o auxílio pedagógico, cujo direcionamento se dá
em teor divertido por ser uma forma interativa e agradável para as crianças
onde elas aprendem brincando.

Ilustração 01: brincadeiras e jogos para Crianças

Fonte: Andrade (2012).

A ilustração acima diz respeito às brincadeiras e jogos para crianças,


sendo fundamental para o desenvolvimento corporal desde a sua saúde física
até a saúde mental. Esse hábito, no entanto, deve ser incentivado desde cedo,
a fim de que a criança desenvolva as habilidades motoras necessárias
(ANDRADE, 2012).
Estas, por sua vez, não constituem propriamente uma prática
esportiva conhecida como pular cordas, por ser uma atividade desenvolvida
16

com formato de brincadeiras com poucas regras, a fim de fazer com que os
alunos se interessem pela cultura do movimento humano.
Abramovich (2001) entende que, para determinadas práticas sejam
trabalhadas nas séries iniciais, o professor de Educação Física deve realizar um
planejamento por meio do qual possam ser elaboradas quaisquer histórias
infantis de forma clara, também deve ser detalhada para que todas as crianças
possam acompanhar as brincadeiras e jogos, compreendendo cada expressão
e características empregada no exercício trabalhado. O professor de
Educação Física necessita observar se toda turma está acompanhando as
brincadeiras e jogos para que ambos possam acrescentar novos
conhecimentos através dos exercícios. O docente deve ter o cuidado de
quando avaliar as limitações pessoais de cada aluno e, para isso, deve se
preparar para essa aula considerando que a turma se trata da educação
infantil, portanto o modo de participar das atividades deve ser apresentado
de forma adequada e clara (PALMA et al., 2018).
Nesse sentido, a atividade de construção do conhecimento é
mediada no decorrer do ensino da escolarização da criança, a partir das
práticas pedagógicas desenvolvidas no processo de conhecimento, na qual
podemos destacar a importância de se trabalhar com estratégicas nos
conteúdos ligados a diferentes áreas de conhecimento em sala de aula.
Por se tratar de uma temática voltada para Educação Física, as
brincadeiras e jogos devem ser organizados e planejados pelo professor para
criar um ambiente prazeroso, para isso, as atividades devem ser elaboradas
de forma sequencial, para que possam desempenhar uma aula organizada
que favoreça um maior nível de aprendizado para os alunos das séries iniciais,
que deve ser estimulador da participação e expressão de todos e motivador
de novas aprendizagens (PALMA et al., 2018). Isso se complementa no
discorrer das práticas pedagógicas, como veremos a seguir.

Práticas pedagógicas como fenômeno estratégico

No processo pedagógico da aquisição do ensino das séries iniciais é


necessário que o professor possa planejar sua prática de ensino visando o
desempenho da aprendizagem na qual precisa ser estimulado sob o prisma
de projetos referentes à vivência das crianças. Tal estratégia torna-se
importante pelo fato de a criança identificar brincadeiras e jogos como
17

práticas essenciais ao desenvolvimento físico e cognitivo, a partir de objetos


por elas conhecidos cotidianamente.
Nesse processo de elaboração dessas práticas pedagógicas, o
professor busca seguir o caminho traçado através do planejamento escolar a
fim de desempenhar uma aprendizagem acessível ao nível cognitivo do
alunado, e este processo se desenvolve a partir de uma dinâmica que deve ser
produzida e vivenciada durante todo percurso escolar. Freire (1996) contribui
com essa proposição, afirmando que

O bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a


intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e
não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque
acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas,
suas dúvidas, suas incertezas (FREIRE, 1996, p. 96).

Diante das várias funções exercidas pelos educadores em sala de


aula, deve-se considerar a princípio o nível de aprendizagem de acordo com
as dificuldades de desenvolver um raciocínio através do pensamento e a
linguagem de seus alunos, bem como seus conhecimentos prévios e interesse
naquele assunto.
As atividades e conteúdos aplicados nas séries iniciais do ensino
fundamental devem ser desenvolvidos com recursos pedagógicos voltados
para ludicidade, isso possibilita a relação entre em trabalho pedagógico e a
interação entre professor e aluno. Este é, sem dúvida, um componente
essencial do processo de brincar e aprender adotado nas séries iniciais, pois,
desde muito cedo, a criança aprende a se relacionar com o mundo, com seus
semelhantes e com seu próprio eu a partir de novas descobertas que
permitem aprimorar o conhecimento de mundo já existente no dia-dia dessa
criança.
Ivic e Coelho (2010), citando Vygotsky, argumentam que as novas
descobertas dessas crianças em sala de aula tornam-se necessárias devido às
inteirações que contribuem com o desenvolvimento natural da criança. Essa
gerência é demostrada através de momentos de suma importância através do
acesso a ludicidade que proporciona momentos de interatividade juntamente
associado ao ato de brincar. O ato de brincar é uma ação necessária na
construção do conhecimento infantil, além de ser considerado como uma
terapia ocupacional no sentido de entretenimento social dessa criança que se
torna imprescindível para que ela se desenvolva de maneira sadia em
18

diferentes setores e fases da vida. Desse modo, tanto as brincadeiras quanto


o momento de brincar, como práticas diárias em sala de aula, podem
responder aos anseios de melhoria da condição de vida escolar dos alunos,
pois estes poderão participar decisivamente dos caminhos da aprendizagem
de forma prazerosa (JUNIOR; BIER, 2008).
Já para Zamberlan e Biasoli-alves (1996), as brincadeiras
desenvolvidas nos atos das aulas para a criança são necessárias, uma vez que
isto contribui para seu desenvolvimento bem como para sua capacidade de
aprender e de pensar.

Métodos de ensino da Educação Física: breves reflexões

Na Educação Física pode-se utilizar um método de ensino


simplificado (principalmente naqueles que apresentam maiores dificuldades
na aprendizagem) direcionado em um método que facilite as informações
recebidas, a fim de organizar e compreender as diversas situações de
aprendizagem, nas quais novas experiências possam ser vivenciadas no dia-
dia escolar nas séries iniciais através de brincadeiras e jogos, os quais
apresentam extrema relevância social (BIANCHI; PIRES, 2010).
Na Educação Física, brincadeiras e jogos devem ser consideradas a
partir da faixa etária e fazer parte da rotina do planejamento do educador,
pois a escolha dos recursos pedagógicos pode ser considerada fundamental
para aprimorar o processo de ensino e aprendizagem. Além de tornar a aula
atraente, ainda ajuda as crianças a desenvolverem hábitos saudáveis desde
pequenas. As atividades utilizadas nas aulas de Educação Física tendo como
pano de fundo brincadeiras e jogos instigam vários tipos de aspectos através
da imaginação desses alunos a exemplo de valores como respeito, lealdade
entre outros (BIANCHI; PIRES, 2010).
Na Educação Física também são trabalhadas aulas teóricas e
expositivas, onde se propõem momentos de interação e trocas de
experiências por serem exploradas as narrativas com o uso direto da
imaginação, contudo, torna-se necessário que o professor envolva as
crianças, permitindo que seja conhecido cada ação que atribua significados
importantes para acrescentar novos conhecimentos (ENGELMANN, 2010).
Os jogos educativos propõem um método de ensino cuja atribuição
uma representa uma maior dimensão sobre a imaginação do aluno, ou seja,
quando a criança quando entra em contato com os jogos de regras possibilita
19

ser ativados em sua memória algumas informações já conhecidas pelas


próprias crianças. Outra questão bastante importante são as escolhas das
brincadeiras, assim cada criança identifica a sequência de cada jogo, nesse
sentido, a criança faz sua escolha baseado no jogo que mais consegue
simpatizar, tornando possível sentir motivados para manipular os objetos
propostos no jogo educativo (ENGELMANN, 2010).
Deve ser considerado que quanto mais claro e simples forem os
exercícios aplicados na aula, mais fácil será para o aluno ao identificar os
pontos positivos que acrescenta a importância de brincadeiras e jogos. O
próprio professor pode promover um momento em que as crianças possam
realizar perguntas, tirar dúvida e interagir entre a turma de alunos para que
haja uma troca de informação tornando a aula mais interativa e agradável
(ENGELMANN, 2010).
Portanto, os professores podem trabalhar vários tipos de recursos
pedagógicos na aula de Educação Física, tornando possível que crianças se
envolvam nas atividades e proporcionando inúmeros benefícios cognitivos no
estímulo de cada uma delas no processo de aprendizagem.

Em Síntese

Diante da multiplicidade de reflexões existente entre jogos,


brincadeiras e o mundo lúdico, o professor de Educação Física deve buscar
uma maneira apropriada para desenvolver a aula por meio do rompimento ao
tradicional. Para isso, torna-se necessário que esse profissional possa saber
como integrar o aluno para uma melhor participação e estar familiarizado com
ela, para que sejam tiradas as dúvidas das crianças a respeito das informações
impostas no próprio corpo.
É natural que no decorrer da aula possam surgir expressões que
envolvam vergonha de interagir com outros colegas, entretanto, para que
haja um bom resultado no final da atividade, deve-se ter o apoio da equipe
pedagógica para auxiliar com os instrumentos usados na aula, assim como
criar um ambiente que possa transmitir segurança quando se estiver
trabalhando em sala de aula.
20

Referências

ABRAMOVICH, F. Literatura Infantil: Gostosuras e bobices. São Paulo:


Scipione, 2001.

ANDRADE, S. S. O lúdico na vida e na escola: desafios metodológicos. Curitiba:


Appris, 2012.

ARROYO, M. G. Experiências de inovação educativa: o currículo na prática da


escola. 12ª ed. In: MOREIRA, A. F. B. (org.) Currículo: políticas e práticas.
Campinas, SP: Papirus, 2010. p. 131-164.

BIANCHI, P.; PIRES, G. L. Possibilidades para o ensino-aprendizagem com TICs


na Educação Física escolar: uma experiência com blogs. Cadernos de
formação RBCE, Campinas, SP, v. 01, n. 02. mar. 2010.

ENGELMANN, E. A motivação de alunos dos cursos de artes de uma


universidade pública do norte do Paraná. 2010.

FERNANDES, A. A proposta pedagógica para a Educação Física escolar nas


séries iniciais da rede estadual paulista: a manifestações dos professores.
2009. 136 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Educação - PUC-SP, 2009.

FREIRE, P. Educação “bancária” e educação libertadora. Introdução à


psicologia escolar, v. 3, p. 61-78, 1996.

KOHL, M. F.; DAVIS, K.; CATALDO, R. O livro dos arteiros: arte grande e suja!
mas fácil de limpar. 2002.

KUHLMANN JR. Infância e Educação Infantil. Porto Alegre: Mediação, 1998.

IVIC, I; COELHO, E. P. Lev Semionovich Vygotsky. Fundação Joaquim Nabuco,


2010.

LIMA, A. C. M. Motivação nas aulas de Educação Física. Monografia


(Licenciatura em Educação Física). Faculdade de Ciências da Educação e
Saúde – FACES, 2013.

PALMA, Â. P. T. V; OLIVEIRA, A. A. B.; PALMA, J. A. V. Educação Física e a


organização curricular: educação infantil, ensino fundamental e Ensino
Médio. SciELO-EDUEL, 2018.
21

SCAGLIA, A. J. O futebol e as brincadeiras de bola: a família dos jogos de bola


com os pés. São Paulo: Phorte Editora, 2020.

SAYÃO, D. T. Educação Física na Educação infantil: Riscos conflitos e


controvérsias. Motrivivência, n. 13, p. 221-236, 1999.

VYGOTSKY, L. S. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo:


Ícone, 1988.
22

A INTERAÇÃO COMO FATOR INFLUENCIADOR DA


MOTIVAÇÃO

Veronica Fernandes De Carvalho


Rafael Marques Garcia
Wilder Kleber Fernandes De Santana

Introdução

Um dos principais mecanismos para trabalhar com alunos das séries


iniciais é através da recreação, e essa proposta lúdica, desenvolvida no
processo de ensino-aprendizagem nas aulas de Educação Física, pode ser
usada de várias formas. Entretanto, a elaboração do ensino deve ser proposta
por meio da Interação e socialização com todos os envolvidos.
Vygotsky (1988) reconhece que o desempenho da aula deve estar
relacionado ao convívio com todos os envolvidos. É nesse sentido que a
interação gera motivação para a participação, resultando na troca de
conhecimento, experiências e entrosamento entre outros envolvidos. Assim,
este capítulo objetiva discutir sobre a motivação, esta concebida na esfera
ético-cognitivo humana, na esteira da interação.

Da Interação à motivação: um breve apanhado

A interação, desde o período helênico, foi instituída como objeto de


estudo na prática de ensino, isso desde as crianças até a fase adulta, por
integrar o escopo cultural greco-romano (PRADEAU, 2012). Na fase infantil,
essa motivação cria um estímulo para a criança, a qual possibilita o alcance de
patamares estipulados na aprendizagem. Nessas instâncias, com intuito de
melhor participação nas atividades, a aula de Educação Física cria condições
do aluno potencializar suas competências, capacitando-os para lidar com
atividades em grupos ou de forma individual.
Nessas condições interpretativas, a interação consiste em uma
categoria de base sociointeracionista argumentada pelo Psicólogo Lev
Vygotsky (1896-1934). Na sua concepção, o autor defende a relação social
como um meio atrelado à interação. Essa perspectiva, advinda da psicologia,
23

possibilita que haja uma comunicação entre os envolvidos na aula, uma vez
que Vygotsky também embasa seus estudos sobre a esfera comportamental,
criando novas possibilidades de instituição da aprendizagem. Como
asseverado por Bergamini,

Quando se fala em motivação humana, parece inapropriado que uma simples


regra geral seja considerada como recurso suficiente do qual se lança mão
quando o objetivo é a busca de uma explicação ao mesmo tempo mais
abrangente e mais precisa sobre as possíveis razões que levam as pessoas a agir.
Existem muitas razões que explicam uma simples ação (BERGAMINI, 2006,
p.34).

Isso significa que, enquanto docentes ou analistas, não podemos dar


continuidade a um sistema mecânico ou tradicional que generaliza regras.
Para Cherques (1991, p.26), “A motivação é o que influencia nos bons
resultados da produtividade, ou seja, professores que ainda não perceberam
que o sucesso de seus alunos depende da motivação vivenciam teorias
ultrapassadas”. A motivação, assim como a interação, deve conduzir os
mecanismos influenciadores da aprendizagem. Cabe ao professor elaborar
atividades que desempenhem essas ações e isso deve ser executado de forma
situada, ao considerar que o comportamento pode decorrer de problemas
afetivos e/ou emocionais. A escola, por sua vez, deve buscar propor as ações
coletivas de mudanças para estabelecer um ensino de qualidade (CHERQUES,
1991).
O item lexical motivação tem suas raízes no verbo em latim
“movere”, bem como no substantivo “motivum” (SARAIVA, 2017). A partir do
seu sentido etimológico, a motivação pode ser definida como “[...] aquilo que
move uma pessoa ou que a põe em ação ou a faz mudar o curso” (SARAIVA,
2017, p. 442). Também definida como “um conjunto de processos que dão ao
comportamento uma intensidade, uma direção determinada e uma forma de
desenvolvimento próprias da atividade individual” (HOUAISS; VILLAR;
FRANCO, 2004, p.1968).
A partir das conceituações supracitadas, pode-se compreender a
motivação como sendo aquilo que impulsiona uma pessoa a ter determinado
comportamento ou atitude e, ainda, o que leva o ser humano a empreender
uma ação diante de determinada situação ou circunstância. Wagner e
Hollenbeck (2012) argumentam os estudos propostos sobre o psicólogo
24

clínico Abrahm Maslow2, que foi pioneiro no desenvolvimento das teorias das
necessidades aplicando pesquisas científicas nessa área. A teoria da
motivação apresenta ações psicológicas que, relacionadas às práticas de
ensino, impulsionam o desejo de participação do aluno nas aulas de Educação
Física. Na percepção de Chiavenato

[...] as necessidades humanas estão arranjadas em uma pirâmide de importância


no comportamento humano. Na base da pirâmide estão as necessidades mais
baixas e recorrentes – as chamadas necessidades primárias -, enquanto no topo
estão as mais sofisticadas e intelectualizadas – as necessidades secundárias[...]
(CHIAVENATO, 2009, p.52).

Segundo Bowditch e Buono (2014), a teoria da motivação de Maslow


propôs que as necessidades humanas estão alicerçadas em cinco grupos
diferentes, sendo as motivações fisiológicas, no âmbito de segurança, as
sociais, a estima e, por fim, a autorrealização.

Motivação, docência e ensino: aspectos interrelacionados

Vygotsky estuda o desenvolvimento humano meditando os aspectos


social e cultural dos sujeitos e apresenta estudos sobre o papel psicológico do
jogo para o desenvolvimento da criança; na concepção teórica de Vygotsky a
palavra jogo é interpretada como brincadeira, distinguindo o brincar da
criança como imaginação em ação, um dos mecanismos essenciais para
determinar a inteiração (VYGOTSKY, 1999).
Quanto ao ensino com crianças das séries iniciais, é importante
compreender as necessidades, as motivações e as tendências que os alunos
demostram para participar e como se dá a satisfação na execução dos jogos
e dos recursos utilizados para o desenvolvimento da aula. Os recursos
pedagógicos, nesses casos os jogos educativos, recreação, atividades pré-
esportivas, entre outros podem ser usados como uma proposta de ensino
adequada para crianças (VASCONCELOS et al., 2003).
Com isso, fica claro que, nas aulas de Educação Física, devem ser
priorizados momentos de interações sucessivas entre as crianças e os demais

2 Abraham Maslow, psicólogo humanista, propôs uma classificação diferente das necessidades.
Para ele há cinco tipos de necessidades: necessidades fisiológicas, necessidades de segurança
íntima (física e psíquica), necessidades de amor e relacionamentos (participação), as
necessidades de estima (autoconfiança) e necessidades de autorrealização.
25

participantes, a partir de uma relação dada no processo de ensino que


possibilita diálogos efetivos. Em tais circunstâncias o aluno consegue adquirir
novas configurações e comportamentos na forma de pensar e agir e de
adquirir novos conhecimentos. A recreação, os jogos e o brinquedo também
permitem uma regra pertinente com o que está sendo ensinado, segundo a
teoria sociointeracionista. Quando, por exemplo, a criança brinca de médico,
a mesma procura agir conforme a compreensão sobre o entendimento que
tem sobre essa esfera, tal qual ela imagina que sejam os médicos do contexto
real (VASCONCELOS et al., 2003).
Portanto, o aluno consegue interagir quando há estímulo e
motivação para participação, mesmo que nessa atividade não haja fins
competitivos. Ao se sentir motivada, a criança se submete às regras do jogo,
torna-se apta a representar diferentes papéis, não se importando com o
ganhar ou perder. Em se tratando de crianças das séries iniciais, essa
participação gera uma brincadeira, esse estímulo desempenha as ações no
manuseio do ato que já lhe adapta as atividades consideradas prazerosas
(VYGOTSKY, 1996).
A motivação promove um maior rendimento no sentido de realização
das atividades. Todavia, essa força e determinação interna está associada à
certificação de superar os desafios propostos no decorrer do processo de
execução de uma meta ou objetivo pretendido fortalecendo o desejo de
realização da atividade (GUIMARÃES, 2003). O professor de Educação Física
por sua vez, deve mediar um ensino que leve a criança a obter uma iniciativa
quando necessário, podendo influenciar no comprometimento e a ação
imediata na tomada de decisão de participar da aula, ainda cria oportunidades
de a criança interagir com ousadia visando participar e compartilhar do
momento de recreação na aula de Educação Física (GUIMARÃES, 2003).
Através da motivação existente no ambiente escolar, a criança pode
ser impulsionada a participar conforme a dinâmica da aula, esse resultado se
dá por meio de uma aula criativa e atraente, mesmo sendo usado recursos
diferenciados na aula. As motivações internas apresentam-se de forma
pessoal através da aplicação nas próprias habilidades, aptidões, valores, entre
outros (TAMAYO; PASCHOAL, 2003).
Sendo assim, uma criança motivada a participar da aula age com
estímulo e entusiasmo visando impulsionar seu desejo de participação, e o
docente pode oferecer condições para que aquela possa superar seus limites
e dificuldades para se entrosar nas atividades físicas. Há que se considerar que
26

a ação do aluno sofre influência de variáveis situacionais, contextuais ou


externas e de fatores individuais (TAMAYO; PASCHOAL, 2003).
Nesse âmbito discursivo, a motivação promove maior rendimento no
sentido de realização das atividades, cuja força e determinação interna está
associada ao lugar psicológico (GUIMARÃES, 2003). O professor de Educação
Física por sua vez, deve mediar um ensino que leve a criança a obter uma
iniciativa, quando necessário, podendo influenciar no comprometimento e a
ação imediata na tomada de decisão de participar da aula. Além disso, este
ato responsivo docente ainda cria oportunidades de a criança interagir com
ousadia do momento de recreação na aula de Educação Física (GUIMARÃES,
2003).

Em síntese

Por meio desse capítulo, verificamos que a aprendizagem, nas séries


iniciais, acontece por meio das interações entre alunos. A criança consegue
realizar ações sem o intermédio incessante do professor, e torna-se capaz de
aprender e refazer-se em observação das outras. Assim, tudo o que a criança
pode adquirir em termos intelectuais, quando lhe é apresentado o devido
suporte educacional, passa pelo processo de interação social.
Vygotsky particulariza os processos de ensino e aprendizagem ao
afirmar que tanto quem aprende quanto quem ensina são constitutivos em
relação interligada, ou seja, a mediação como um pressuposto da relação eu-
outro social. Essa relação não se dá necessariamente através da interação
entre duas ou mais pessoas, mas também pela possibilidade de interação com
signos, símbolos, culturas e objetos. O ser humano constitui-se enquanto
sujeito na relação com o outro, tornando-se a alteridade a principal causa para
o devido desenvolvimento do ser.

Referências

BERGAMINI, C. W. Psicologia aplicada à administração de empresas:


psicologia do comportamento organizacional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

CHIAVENATO, I. Recursos humanos. O capital humano das organizações. 9.


Ed. Rio de janeiro; Elsevier, 2009.
27

BORUCHOVITCH, E.; BZUNECK, J. A. A Motivação do Aluno: Contribuições da


Psicologia Contemporânea. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

CHERQUES, H. R. T. A produtividade e poder nas organizações. RAE, Revista


de Administração de Empresas, São Paulo, Fundação Getúlio Vargas. vol.31,
nº 3, jul/set, 1991.

GUIMARÃES, S. E. R. Avaliação do estilo motivacional do professor:


adaptação e validação de um instrumento. Tese de Doutorado. Universidade
de Campinas. Campinas, 2003.

HOUAISS, A, VILLAR, M. S. FRANCO, F.M.M. Dicionário da língua portuguesa.


Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia, 2004.

PRADEAU, J. F. (Org). História da Filosofia. Tradução de James Bastos Arêas


e Noéli Correia de Melo Sobrinho. 2ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

SARAIVA, F. R. S. Novíssimo Dicionário Latino-Português. 12ª edição. Belo


Horizonte, Livraria Garnier, 2017.

TAMAYO, A.; PASCHOAL, T. A relação da motivação para o trabalho com as


metas do trabalhador. Revista de Administração Contemporânea, v. 7, n. 4,
p. 33-54, 2003.

VASCONCELOS, C., PRAIA, J. F., ALMEIDA, L. S. Teorias de aprendizagem e o


ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem. Psicologia
escolar e educacional, v. 7, n. 1, p. 11-19, 2003.

VYGOTSKY, L. S. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo:


Ícone, 1988.

WAGNER, J. A.; HOLLENBECK, J. R. Comportamento organizacional: criando


vantagem competitiva. Tradução Silvio Floreal Antunha. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012.
28

ENTRE SABERES E PRÁTICAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA:


TEORIA DA MOTIVAÇÃO

Veronica Fernandes de Carvalho


Rafael Marques Garcia
Wilder Kleber Fernandes de Santana

Introdução

Nesse capítulo engendra-se uma discussão sobre a teoria da


motivação enquanto variável determinante para a ocorrência da
aprendizagem. O fato é que se trata de um grande desafio conseguir o
envolvimento do alunado nesse processo. Não resta dúvida de que o
comportamento motivado do aluno contribui para resultados positivos,
refletindo diretamente na eficácia do ensino-aprendizagem (BZUNECK, 2002).
A motivação do aluno é apontada pelos professores como um fator
imprescindível para se atingir bons resultados. Em sala de aula, o professor
busca meios externos para motivar os alunos, levando-os a uma construção
gradativa da aprendizagem, no entanto, se não houver a motivação intrínseca
por parte dos alunos, o resultado nem sempre corresponderá ao esperado
(CHICATI, 2010).
Por sua vez, a escola desenvolve ações visando promover o sucesso
da comunidade escolar, busca estimular o envolvimento de todos os
segmentos para um único fim: a efetivação da aprendizagem dos estudantes.
Tudo gira em torno do crescimento integral do aluno, a disciplina de Educação
Física lida com múltiplas situações externas alheias a sua vontade, algumas
positivas outras negativas que facilitam ou dificultam a sua atuação, dentro
desse contexto, o professor deve analisar a existência da motivação
intrínseca do aluno na participação das atividades físicas (JUNIOR, 2000).
Nesse sentido, a motivação é o carro chefe que contribui para que o
aluno consiga criar ou modificar as condições que envolve o desejo de
participação da aula e promove interação através das circunstanciais
externas, tornando-as favoráveis à melhoria dos resultados educacionais
(KOBAL, 2006).
29

Faremos também algumas observações relativas à motivação


extrínseca, entendemos que a intrínseca e a extrínsecas são formas pelas
quais a motivação se manifesta no aluno, além disso, o estudo descreve
algumas concepções acerca da motivação. A teoria como será explicitada
logo adiante, preocupa-se com o apoio de tendências naturais ou intrínsecas
que direcionam a um comportamento eficaz e saudável do aluno (KOBAL,
2006).

Teoria da Motivação

A Teoria de Maslow está visivelmente relacionada com as reações


comportamentais que se observa em sala de aula, de maneira especial na
Educação Física escolar. Não se pode nem se deve ignorar que o aluno muitas
vezes não consegue interagir durante as atividades, a motivação encontra-se
influenciada e pressionada pelo ambiente prazeroso (PISANDELLI, 2014).
Fontes (1998) reconhece que a falta de motivação da criança durante
a aula dentro da concepção de Maslow é compreendida como um reflexo do
que acontece em seu entorno, ou seja, a criança para ser motivada deve haver
uma influência sobre um ambiente divertido e atividades dinâmicas.

Toda a instituição escolar deve participar ativamente do processo educacional,


cada componente deve refletir sobre seu papel, conhecer cientificamente como
as crianças e os jovens aprendem para planejar e agir em conformidade. A
instituição deve proporcionar mecanismos de planejamento e trabalho
cooperativo entre os educadores, visando uma formação do aluno regida pela
complexidade dos conhecimentos, do mundo e da vida em sociedade. Levar o
educando a querer aprender é o desafio primeiro da didática, do qual dependem
todas as demais iniciativas. A interação grupal fortalece a autoestima do aluno,
a convivência solidária e a visão de mundo que ele constrói. Nestes termos, as
relações professor/aluno, aluno/aluno, família/aluno, professor/aluno/família e
demais participantes do processo educativo devem ser próximas, intensas,
abertas o suficiente para permitirem as trocas efetivas favoráveis ao melhor
termo do processo ensino-aprendizagem (RAASCH; 2014, p. 14).

Partindo-se do pressuposto de que uma criança motivada se


encontra envolvido no processo de ensino-aprendizagem, lançando mão de
todos os esforços para corresponder positivamente aos desafios propostos,
pode-se ampliar esse entendimento para o contexto inserido nas aulas de
Educação Física (BZUNECK, 2002).
30

Na posição de que o aluno se encontra na condição de aprendente, o


entusiasmo na execução de suas atividades físicas é de muita importância no
processo de ensino, bem como o professor que busca acompanhar as ações
durante as aulas podem influenciar os resultados positivamente no sentido
de promover atividades de recreação e que possa gerar motivação e estímulo
para o aluno (BZUNECK, 2002).
Com base na teoria da hierarquia de necessidades de Maslow,
também conhecida como pirâmide de Maslow, as necessidades são
apresentadas obedecendo a uma hierarquia, devendo as necessidades
consideradas de nível mais baixo ou básicas serem satisfeitas antes das
necessidades de nível mais alto. E segundo o autor, a autorrealização da
criança em relação as atividades escolares dependem ser compreendidas a
partir do entendimento das necessidades apresentadas por cada criança,
Wagner e Hollenbeck (2012) definiu cinco necessidades: fisiológicas (básicas),
de segurança, necessidades de estima, necessidades de autorrealização

Ilustração 02: Hierarquia das necessidades humanas segundo Maslow

Fonte: Wagner e Hollenbeck (2012).


31

Conforme a ilustração, as crianças, assim como qualquer outro


indivíduo de faixa-etária diferente, apresentam as mesmas necessidades nas
realizações pessoais, autoestima que impulsiona o desejo de realização das
atividades, a sociabilidade que influencia as relações advindas do meio social,
a segurança e os aspectos fisiológicos. Todos esses fatores são considerados
de ordem interna como o interesse, a curiosidade, e outros tantos valores que
são capazes de promover a motivação dos alunos para gerar maior
participação para as atividades escolares.
Crianças das séries iniciais são estimuladas as realizações de
atividades quando a aula demostra ser dinâmica e atraente, para isso, a
motivação é uma ação que deve ser considerados fatores importantes para
que haja melhor integração nas atividades realizadas, e mesmo quando não
forem recompensadas externamente podem desenvolver estímulo para a
criança. Defendem Tapia e Fita que

A motivação escolar é algo complexo, processual e contextual, mas alguma


coisa pode fazer para que os alunos recuperem ou mantenham seu interesse em
aprender. A sociedade, aos órgãos públicos e a outras instituições cabe
encontrar soluções. Aos professores e equipe docentes cabe a reflexão (TAPIA;
FITA, 2009, p. 9).

O professor precisa descobrir as melhores estratégias e adequar a


prática de ensino, auxiliados com recursos pedagógicos que possa promover
uma motivação para a participação do aluno visando o desejo para que a
mesma queira aprender, também é importante que haja estímulos para que o
aluno se sinta motivado a aprender.
Portanto, ao estimular o aluno sobre a participação é necessário que
a criança possa ser desafiada pelo educador sempre que possível. Para a
criança essa aprendizagem mesmo sendo configurada como uma recreação e
com desenvolvimento lúdico também deve priorizar a motivação, onde os
motivos provocam o interesse para aquilo que vai ser aprendido.

Motivações Intrínseca e Extrínseca

Segundo Guimarães (2004), a competência, a autodeterminação e a


autonomia têm relação direta com a motivação intrínseca; por sua vez, a
32

motivação extrínseca relaciona-se com uma recompensa fornecida por um


agente externo.
Para Vergara (2014, p. 41) “[...]. A motivação não é um produto
inacabado; antes, um processo que se configura a cada momento, no fluxo
permanente da vida”. Nesse sentido, segundo o pensamento de Vergara, a
motivação intrínseca é uma ação individual, na qual ninguém motiva ninguém,
é a criança que se automotiva para participar das atividades escolares. Trata
se de um fazer pelo simples prazer em executar determinada atividade, pela
mera satisfação pessoal, sendo significante para o mesmo está em constante
interação e ser participante das atividades individuais ou grupais.
O conceito de motivação intrínseca está relacionado à tendência
natural para buscar novidades e desafios. Diante disso, nas aulas de Educação
Física, por serem desenvolvidas tendências de ensino baseadas na recreação
e ludicidade nas séries iniciais, as crianças necessitam de motivos para que
possam participar das atividades. A motivação intrínseca é o fenômeno que
representa o potencial positivo para essa participação, sendo essencial para
o desenvolvimento cognitivo e inserção social do aluno com o restante da
turma (SCHNEKENBERG; ZANLORENÇO, 2008).
A motivação intrínseca torna-se dinâmica quando o aluno realiza uma
determinada atividade simplesmente pelo prazer em realizá-la, de forma
desapegada, independente de fatores externos e circunstanciais que possa
obrigá-los a participar. As crianças intrinsecamente motivadas fazem uma
atividade porque estão interessadas apenas em usufruir da própria atividade,
pelo simples prazer em fazê-las. Nesse sentido, Guimarães & Boruchovitch
(2004) ressaltam que a motivação intrínseca se refere à escolha e realização
de determinada atividade por sua própria causa, por esta ser interessante,
atraente ou, de alguma forma, geradora de satisfação (GUIMARÃES;
BORUCHOVITCH 2004).
Em suma, alunos motivados intrinsecamente realizam as atividades
escolares pela simples satisfação da realização, estão sempre inovando e
apresentam um grau elevado de curiosidade. Sendo assim, a motivação
intrínseca pode ser explicada como uma disposição natural e espontânea, que
impulsiona a pessoa a buscar novidades e desafios. Uma observação
importante neste aspecto é que essas crianças podem se manifestar como
intrinsecamente motivadas para certas atividades enquanto para outras não.
Além disso, nem toda criança é motivada intrinsecamente para qualquer
33

tarefa específica, significando assim que o professor deve elaborar atividades


que possa estabelecer uma relação com a atividade em si (RYAN; DECI, 2000).
Por sua vez, muito se tem estudado sobre as condições
socioambientais e sua influência para que haja o envolvimento intrínseco.
Afirma-se que a motivação intrínseca se relaciona com o conceito de “fluxo”
proposto por Csikszentmihalyi (1992).
Esse autor estudou profissionais de diversas áreas para identificar
como se sentiam quando se envolviam profundamente em alguma atividade,
concluiu que o “fluxo” é “aquele estado no qual as pessoas estão de tal
maneira mergulhadas em uma atividade que nada mais parece ter
importância”. Logo, a partir desse estudo, chegou-se à conclusão de que a
atividade física pode ser realizada com recursos lúdicos que desenvolva uma
recreação por se tratar de crianças em fase de desenvolvimento, esse
mecanismo pode provocar um enorme grau de gratificação e estímulo, uma
sensação de “fluxo”. Assim, o estado de “fluxo” poderia ser considerado
como uma fonte para a motivação intrínseca (CSIKSZENTMIHALYI, 1992).
Esse fenômeno tem grande importância para a reflexão sobre a
motivação intrínseca no contexto educacional, uma vez que contribui de
forma determinante para a aprendizagem dos alunos, na medida em que
estes se envolvem naturalmente nas atividades (RYAN; DECI, 2000).
Deci e Ryan (2000) elaboraram a teoria da autodeterminação, no que
tange à motivação intrínseca, apresentando outros determinantes que
podem contribuir para a promoção desse tipo de envolvimento, como por
exemplo, a satisfação das três necessidades psicológicas básicas que são a
competência, a autonomia e o pertencimento. De acordo com a Teoria da
Autodeterminação, a satisfação dessas três necessidades é fundamental para
o desenvolvimento de orientações motivacionais autodeterminadas, que
estão diretamente relacionadas com a motivação intrínseca.
Em síntese, a autonomia decorre da ideia de que o comportamento é
de ordem interna, o agir depende da vontade própria, não necessariamente
de situações externas. A necessidade de participar de determinada atividade
está associada à capacidade de interação com o meio e a necessidade de
pertencimento é a percepção de que existem vínculos interpessoais que
podem ser estáveis e duradouros. Nesta perspectiva, as crianças são
impulsionadas naturalmente para a realização de atividades que desafiem as
suas habilidades ou que representem alternativas de exercícios das referidas
34

habilidades. A espontaneidade é por assim dizer, um traço característico da


motivação intrínseca (SILVA; GONZÁLEZ, 2010).
Quanto à motivação extrínseca, pode-se dizer que ocorre por meio
de estímulos de recompensa e de incentivo. Não raro, as organizações
estabelecem internamente sistemas de compensação pelo aumento da
produtividade dos seus empregados. Nas aulas de Educação Física, as
atividades atribuídas criam uma melhor participação, apesar de não se tratar
de jogos e exercícios competitivos, mesmo tendo fins recreativos, os alunos
tendem a gerar bem-estar, essa sensação ocorre através da motivação para o
alcance dos objetivos estratégicos e maior comprometimento com as
atividades realizadas na aula (SILVA; GONZÁLEZ, 2010). A motivação
extrínseca

tem sido definida como a motivação para trabalhar em resposta a algo externo
à tarefa ou atividade, como para obtenção de recompensas materiais ou sociais,
de reconhecimento, objetivando atender aos comandos ou pressões de outras
pessoas ou para demonstrar competências e habilidades (GUIMARÃES; 2003, p.
46).

Nesse guia de interpretações, Gonçalves et al. (2015) mencionam que,


as escolas empregam na proposta de ensino gera um compromisso, na qual o
aluno pode participar do uso de diversos recursos pedagógicos realizados em
diferentes ambientes da escola, isso torna a aula mais atraente e de certa
forma, cria motivação e estímulo com todos envolvidos.
Nesta perspectiva, a disciplina de Educação Física tem voltado suas
atenções para o desenvolvimento de incentivo aos seus alunos, possibilitando
motivá-los. As aulas tornam-se mais dinâmica, os recursos são
disponibilizados para todos e empregados em decorrência do cumprimento
de metas são altamente benéficas. Os estímulos podem ser na forma de
desafios, competições, incentivos monetários sem fins lucrativos ou de
avaliação de desempenho individual (CHICATI, 2002).
Paralelo a isso, os incentivos utilizados para influenciar as crianças no
processo de ensino podem ser de natureza negativa ou positiva. Os negativos
são refletidos com a falta de participação que resultam na diminuição da
satisfação ou anseio pessoal. Em contrapartida, os incentivos positivos ou
prêmios são frutos de acontecimentos que resultam em maior satisfação
pessoal voltadas para uma aprendizagem de qualidade (BIDUTTE, 2001).
35

Em síntese

Em palavras findas, existem várias maneiras de incentivar as crianças


para uma maior participação, dentre elas, por exemplo, o treinamento com
os jogos educativos. Essas recompensas atuam sobre o fator psicológico,
podendo ser de um simples elogio até uma lembrancinha como um lápis,
ações que promovem a interação e participação das crianças nas atividades,
aumentando sua produtividade potencializando suas habilidades nas aulas de
Educação Física (BIDUTTE, 2001).
Portanto, sendo a motivação imprescindível para o êxito de qualquer
atividade, o aluno exerce um papel fundamental no ambiente escolar, tendo
em vista que este deve procurar estimular a motivação através de atividades
dinâmicas, que possa contribuir para que o ambiente seja favorável a
automotivação, bem como pode utilizar se de estímulos externos.

Referências

BIDUTTE, L. C. Motivação nas aulas de Educação Física em uma escola


particular. Psicologia escolar e educacional, v. 5, n. 2, p. 49-58, 2001.

BZUNECK, J. A. A motivação do aluno: aspectos introdutórios. In:


BORUCHOVITCH, E.; BZUNECK, J. A. (Orgs) Motivação do aluno. Petrópolis:
Vozes, 2002, p. 34-44.

CHICATI, K. C. Motivação nas aulas de Educação Física no Ensino Médio.


Journal of Physical Education, v. 11, n. 1, p. 97-105, 2000.

CSIKSZENTMIHALYI, M. A psicologia da felicidade. Saraiva; 1ª edição, 1992.

GONÇALVES, G. H. T. et al. Motivos à prática regular de futebol e futsal. Saúde


e Desenvolvimento Humano, v. 3, n. 2, p. 07-20, 2015.

GUIMARAES, S. E. R.; BORUCHOVITCH, E. O estilo motivacional do professor


e a motivação intrínseca dos estudantes: uma perspectiva da Teoria da
Autodeterminação. Psicologia Reflexão Crítica, v. 17, n. 2, p. 143-150, 2004.
36

GUIMARÃES, S. E. R. Avaliação do estilo motivacional do professor:


adaptação e validação de um instrumento. Tese de Doutorado. Universidade
de Campinas. Campinas, 2003.

JUNIOR, J. M. O professor de Educação Física e a Educação Física escolar:


como motivar o aluno? Journal of physical education, v. 11, n. 1, p. 107-117,
2000.

KOBAL, M. C. et al. Motivação intrínseca e extrínseca nas aulas de Educação


Física. 2006.

RYAN, R. M., DECI, E. L. Self-determination theory and the facilitation of


intrinsic motivation, social development and well-being. American
Psychologist, v. 55, p. 68-78, 2000.

SCHNEKENBERG, M.; ZANLORENÇO, M. K. Liderança e motivação na gestão


escolar: O trabalho articulador dos diretores das escolas municipais. 2008.

SILVA, L. M. F.; GONZALEZ, R. H. A capoeira e a Teoria da Autodeterminação.


EF Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 150, Noviembre de 2010.

VERGARA, S. C. Gestão de pessoas. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2014.

WAGNER, J. A.; HOLLENBECK, J. R. Comportamento organizacional: criando


vantagem competitiva. Tradução Silvio Floreal Antunha. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012.
37

CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO


BRASIL E SABERES DOCENTES

Veronica Fernandes de Carvalho


Rafael Marques Garcia
Wilder Kleber Fernandes de Santana

Para começar...

Iniciamos o contexto histórico sobre a origem e o período do início


da Educação Física no país compreendendo a transição do período imperial
para o início do período republicano, que se deu nas últimas décadas do
século XIX. Diante disso, a primeira exterioridade foi relacionada aos
acontecimentos na qual prevalecia o preconceito em relação às atividades
físicas, devido ao fato de que estas estavam alistadas ao trabalho escravo
(PAIVA, 2004).
Nessa época, as primeiras propostas das ginásticas europeias eram
direcionadas à camada mais nobre da sociedade, baseadas em exercícios com
fins higienistas e terapêuticos. Havia uma diferença entre sua aplicabilidade
entre homens e mulheres, pois, para a parte conservadora da sociedade, o
aproveitamento dos princípios ginásticos para as mulheres era considerado
imoral ao requerer exercícios físicos considerados impróprios na época. Como
consequência, as participantes eram repreendidas e obrigadas a deixar de
praticar exercícios extenuantes (MORAES, 2007).
Passados os tempos, inicia-se uma transição que possibilitou
reconhecer a prática das atividades físicas no final do período imperial e o
início do período republicano, acentuando-se no Brasil a concepção de que o
país necessitava adequar-se ao modelo de organização social provindo dos
ideais europeus, ou seja, o modelo urbano, industrial e comercial (SOARES,
1994).
No mesmo período, a sociedade inicia o progresso industrial e o novo
ideal de organização social, passando a evoluir sua forma de pensar sobre as
atividades físicas. Neste sentido, deu-se abertura à constituição histórica da
Educação Física no Brasil, importante marco na educação básica de ensino,
nas quais as gerações vindouras puderam participar das atividades físicas
38

voltadas para a recreação e o desenvolvimento da agilidade, da disciplina, da


competitividade, do patriotismo e da obediência (GOELLNER, 2005).
No início do século XX, a Educação Física passa a ser discutida não só
como uma forma de prevenção da saúde pública, mas também como uma
maneira de melhorar o ensino de alunos que necessitavam participar de
alguma atividade esportiva. A Educação Física ao longo de sua história
desenvolveu um ensino priorizado baseado em eventos esportivos, gincanas
e programações que destacavam a extensão quase que exclusivamente
procedimental, o saber fazer e não o saber sobre a cultura corporal dos alunos
envolvidos no processo de aprendizagem (DAOLIO, 2003).
A Educação Física se destacou como uma das medidas a serem
aplicadas à população considerada sedentária, pois muitos estudantes não
tinham condições financeiras de custear algumas modalidades esportivas. Em
contrapartida, a escola passa a disponibilizar para todos os alunos diversos
esportes que são considerados de extrema importância para o
desenvolvimento físico e cognitivo (DARIDO, 2003).
Deste modo, é importante refletir sobre os caminhos por onde a
Educação Física trilha seus passos para consolidar-se enquanto área científico-
acadêmica no cenário nacional, e de que forma (re)trata e vem retratando o
corpo em meio a esses processos de conhecimento, simbólicos e
sistematizados. Nesta esfera, é importante apontar que o fenômeno social do
Esporte caminhou e ainda caminha de mãos dadas com a Educação Física,
sendo uma de suas vertentes de estudos mais reconhecidas e trabalhadas
pela área (CASTELLANI FILHO, 2002).
Ainda, é necessário apontar como o Esporte, historicamente, foi
ganhando força e reconhecimento multidisciplinar enquanto prática social
ampla e complexa, transpassando-se para além do campo da Educação Física
e legitimando-se em várias áreas do conhecimento, tais como História,
Antropologia, Filosofia, Sociologia, Medicina, entre outros (MELO, 2006).
De todo modo, podemos perceber perspectivas que apontam para
uma educação corporal através de uma tradição racionalista ocidental que se
subdividiria em três categorias de intervenção: educação intelectual;
Educação Física ou corporal e; a educação moral (BRACHT, 1999).

Essas educações teriam alvos, objetos bem distintos: o espiritual ou mental (o


intelecto), por um lado, e o corpóreo ou físico, por outro, resultando da soma a
educação integral (educação intelectual, moral e física). É claro, o alvo era ou é
o comportamento humano, mas influenciá-lo ou conformá-lo pode ser
39

alcançado pela ação sobre o intelecto e sobre o corpo. Também na melhor


tradição ocidental, a educação “corporal” vai pautar-se pela ideia,
culturalmente cristalizada, da superioridade da esfera mental ou intelectual – a
razão como identificadora da dimensão essencial e definidora do ser humano. O
corpo deve servir. O sujeito é sempre razão, ele (o corpo) é sempre objeto; a
emancipação é identificada com a racionalidade da qual o corpo estava, por
definição, excluído (BRACHT, 1999, p. 70).

Tal idealização depreende-se e contorna-se nos pilares da Educação


Física brasileira, que se encontram primordialmente sustentados por duas
fases históricas: a primeira, Brasil República, compreendida entre os anos de
1889 a 1946, subdivide-se em dois períodos, sendo o primeiro de 1889 até a
Revolução de 1930, que empossou à presidência Getúlio Vargas, e o segundo,
que perdurou até 1946 e; a segunda fase, o Brasil Contemporâneo, iniciada
pós 2ª Guerra Mundial, de 1946 a 1980, adentrando o regime de ditadura
militar brasileira (MELO, 2006).
Durante o primeiro período, os estados e federações brasileiras
passam por grandes reformas educacionais e passam a incluir os conteúdos
ginásticos na escola, conferindo um caráter nacionalista e patriota da
Educação Física escolar. O interesse do governo Vargas em explicitar a
obrigatoriedade da referida disciplina e seus conteúdos gimnásticos em todo
regime básico nacional de ensino encontravam guarida no potencial político
do Esporte de mobilizar a população, o que motivou maiores investimentos
em especializações voltadas à área, inclusive a criação de políticas públicas às
Ciências do Esporte (BETTI, 1991).
A inclusão da Educação Física no artigo 131 da Constituição Federal de
1937, fato até então inédito, demonstrou a potencialidade que militares e
intelectuais atrelados ao governo Vargas vislumbravam na disciplina
enquanto potência desenvolvedora do país, o que, segundo Melo (1996), era
apenas uma questão de tempo dada às conjunturas da época.
Neste período, a sistematização dos conteúdos ginásticos na
Educação Física brasileira encontra-se ancorada nas escolas sueca, alemã e
francesa, que conferiam à área perspectivas eugênicas de higienismo e
militarismo, isto é, o exercício físico era utilizado com o intuito de manter a
higiene física e moral para preparar os sujeitos fisicamente para combates
militares, sujeitando-os às orientações de ordem anátomo-fisiológica para
obedecer, ser submisso e acrítico às realidades sociais brasileiras (DARIDO;
RANGEL, 2011).
40

Destaca-se que o crescimento esportivo em cenário global, e


consequentemente em terras verde e amarelas, esteve interligado à prática
das ginásticas físicas, inicialmente idealizada para melhorar a aptidão física,
mas posteriormente utilizada em treinamento militar de exércitos nacionais,
o que justifica a forte ascendência das corporações militares com o
desenvolvimento do Esporte e da Educação Física no Brasil. Ainda, como
resultado das Ciências do Esporte, surgem os conhecimentos científicos da
Educação Física, fortemente marcada pela instituição militar e pelos saberes
biomédicos sobre o corpo dos séculos XVIII e XIX, distinguindo-se em dois
campos, os teóricos, oriundos de pesquisas no interior das faculdades de
medicina e teorizações tecidas por médicos, e os práticos, conduzidos pelos
militares que se apropriavam dos saberes até então disseminados para
sistematizar sessões de treinamento (MELO, 1996; BRACHT, 1999).
Ainda, Betti (1991) acrescenta o processo de democratização das
práticas esportivas através das conquistas trabalhistas, principalmente a
Consolidação das Leis do Trabalho, ocorrida em 1943, que ao diminuir a
jornada de trabalhado, possibilitou o aumento do tempo para lazer e acesso
da classe média e trabalhadora a essas atividades, ao mesmo passo que
ocorreu uma maciça proliferação de clubes esportivos e organizações
regionais (BETTI, 1991).
Este cenário da Educação Física, muito íntimo do Esporte, possibilitou
a compreensão da área enquanto ferramenta eficaz de introduzir nos jovens
valores morais e cívicos proclamados pela Nação. Nesta conjuntura, adotou-
se fortemente o método francês da Educação Física, implementado no ensino
secundário desde 1931 e posteriormente expandido para os demais graus em
1937, com a instauração do regime político de Estado Novo, perdurando até
1946 (BETTI, 1991).
O interesse voltado para o método francês era devido ao seu caráter
anátomo-fisiológico com base nas ciências biológicas, cultuando o esforço
individual através da adoção de disciplinas corporais, formação e
incorporação de hábitos e obediência às ordens e comandos vigentes de
preparação ao trabalho, visando não apenas o aperfeiçoamento físico, mas
também o aprimoramento moral e incorporação disciplinar através dos
conteúdos de jogos e modalidades esportivas (MELO, 2006; DARIDO;
RANGEL, 2011).
Neste período, ocorre, também, como resultado das políticas de
investimento esportivo, a criação de diversas escolas de Educação Física com
41

o objetivo principal de subsidiar a formação militar. Uma delas, e que


desempenhou papel primordial ao servir como modelo para as demais, foi a
criação da Escola Nacional de Educação Física e Desporto – ENEFD, através do
Decreto-Lei n.º 1.212, de 17/04/1939. Hoje integrada à Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), serviu de base passa criação do primeiro currículo de
formação universitária e profissional nos campos da Educação Física e Esporte
(MELO, 1996).
Destaca-se a dicotomia entre o quadro docente da ENEFD, onde as
disciplinas teóricas eram ocupadas por médicos militares e as práticas, por
militares, demonstrando a diferença hierárquica estabelecida entre os
aspectos presentes da Educação Física e do Esporte. De todo modo, percebe-
se que, embora fosse uma escola civil, sofria forte intervenção tutelo-militar,
contendo em seu corpo social grande número de militares e policiais,
responsáveis pela condução de uma Educação Física civil a serviço dos
interesses do Estado de proteção da nação (MELO, 1996).
Em suma, percebe-se que neste período a Educação Física trilha um
caminho especificamente íntimo com o Esporte e voltado às necessidades da
Nação, adotando modelos de produção a partir de corpos educados,
sobretudo normatizados, à serviço exclusivo do Estado. Sob forte influência
militar, a área começa a ganhar destaque em relação aos outros campos do
conhecimento, principalmente devido às políticas desenvolvidas por Getúlio
Vargas durante o Estado Novo (MELO, 1996).
No entanto, é a partir do segundo período, denominado Brasil
Contemporâneo, que se cria o Ministério da Educação e Saúde, onde a
Educação Física passa de fato a se alinhar e se destacar com os objetivos
governamentais3. Iniciado em 1946 após o término da 2ª Guerra Mundial,
perdura até 1980 e é marcado pela forte militarização das práticas esportivas
e da Educação Física escolar, principalmente após 1964 e o início da ditadura
militar brasileira. Até o presente ano, o caráter da Educação Física ainda se
manteve alinhado aos modelos ginásticos e calistênicos do Brasil República
(DARIDO; RANGEL, 2011).

3 A Educação Física tornou-se prática educativa, ao passo que se torna uma disciplina escolar que
colaborava para que as pessoas passassem a aceitar as normas de convívio social. Em seu período
competitivista, compreendido entre os anos de 1964 e 1985, que abrangeu a ditadura militar
brasileira, todo e qualquer assunto que contradizia os interesses político-dominantes da época
eram silenciados e/ou censurados. Todos os políticos, críticos, poetas, escritores, artísticas,
intelectuais e/ou músicos eram constantemente vigiados, perseguidos, exilados e até mesmo,
assassinados em nome da ordem social na Nação.
42

A partir da tomada de poder pelos militares, o governo favorece o


crescimento do sistema educacional, utilizando escolas públicas e privadas
como fonte de programas do regime militarista. O investimento esportivo
passa por um aumento considerável, objetivando tornar a Educação Física
uma subsistência ideológica conferida pelo êxito em competições esportivas,
maquiando problemas sociais e suavizando críticas internas de gestão,
transparecendo assim um clima de prosperidade e desenvolvimento. Desta
forma, o caráter esportivista da Educação Física é acentuado e atrelado aos
aspectos de rendimento e vitória, buscando-se pelo mais forte, habilidoso e
engajado com as propostas militares (DARIDO; RANGEL, 2011).
Com a criação do Decreto de Lei nº 705/1969, a Educação Física torna-
se obrigatória no 3º Grau, objetivando favorecer o regime militar e coibir
mobilizações de movimentos estudantis contrários ao regime militar, haja
vista que as universidades eram uma das principais instituições que conferiam
resistência e mostravam-se contrárias a este regime político (CASTELLANI
FILHO, 2002). No entanto, para além de tais observâncias, cabe ressaltar o
caráter de distração que o Esporte desempenhava à realidade da época,
principalmente no 3º Grau, onde sua prática consistia-se em atividades
mecanicistas voltadas para a produção de trabalho dos subsídios sociais
necessários (DARIDO; RANGEL, 2011).
Embora se propusesse à distração neste contexto, o modelo
esportivista, também conhecido por mecanicista, tradicional ou tecnicista,
passou a ser amplamente criticado, principalmente nos primeiros anos da
década de 1980, onde pode-se indicar um terceiro pilar de composição da área
da Educação Física.
Como visto, nos séculos XIX e XX até o início dos anos de 1980, a
matriz que determinava e sobretudo conferia reconhecimento à área da
Educação Física era predominantemente esportivista e voltada ao
aprimoramento das valências físicas, além de prezar pelo desenvolvimento e
investimento às modalidades esportivas. Suas primordiais sustentações
teórico-práticas advinham das instituições militares e de dados de cunho
biomédico das ciências naturais, priorizando hierarquias fisiológicas de
desempenho, produção e seus semelhantes, o que de certa forma silenciava
discussões sobre modelos pedagógicos alternativos a estes imputados
(BRACHT, 1999).
43

A partir da necessidade de ampliar a especialização do corpo docente


de Educação Física das universidades brasileiras, muitos docentes lançam-se
em programas de pós-graduação da área de Educação, onde

[...] com base nessa influência, o campo da EF passa a incorporar as discussões


pedagógicas nas décadas de 1970 e 1980, muito influenciadas pelas ciências
humanas, principalmente a sociologia e a filosofia da educação de orientação
marxista. O eixo central da crítica que se fez ao paradigma da aptidão física e
esportiva foi dado pela análise da função social da educação, e da EF em
particular, como elementos constituintes de uma sociedade capitalista marcada
pela dominação e pelas diferenças (injustas) de classe (BRACHT, 1999, p. 78).

Com a entrada mais incisiva das discussões oriundas do campo das


Ciências Sociais e Humanas, a Educação Física passa por um processo de
problematizações de seus saberes, até então orientados apenas por discursos
biologicamente determinados. Estes discursos induziam a crer que as
características fisiológicas e/ou biológicas de um sujeito seriam derivações
herdadas e inatas, pré-determinadas e que poderiam ser melhoradas através
de exercícios repetidos e constantes. Ainda, determinariam traços de caráter,
comportamento, funções sociais, espaços de pertencimento e
movimentações adequadas, conferindo legitimidade para uma perspectiva
teórica denominada de determinismo biológico.
Esse processo de problematizações metodológicas surgiu com o
intuito de auxiliar uma formação integral do sujeito através da conjunção de
fatores biopsicossociais, contrapondo-se assim aos padrões clássicos que
recaíam somente ao aprimoramento da aptidão física. Deflagrava-se, assim, o
Movimento Renovador da Educação Física brasileira (COLETIVO DE AUTORES,
1992).
Ainda, é possível notar no final do século XX, um aumento
considerável no número de estudos históricos que versam sobre modalidades
esportivas e as práticas corporais intercruzadas, o que demarca uma
expansão na quantidade de discussões relacionadas aos desdobramentos
historiográficos da Educação Física, muito em função do crescimento de
cursos de pós-graduação no país relacionados à área em questão, que
inflamou as discussões em tela (MELO, 2006).
Nota-se que, embora a proposta agregasse conteúdos sociais e
culturais mais amplos para repensar a cultura corporal do movimento,
instaurou-se uma forte resistência à aceitação e ao reconhecimento desses
novos moldes pedagógicas no campo da Educação Física, pelo pensamento
44

de que essas novas reflexões causariam um descentramento, ou ainda


descaracterização da área em questão, por realocar a importância dos traços
biológicos em diálogo com aspectos socioculturais. Em contrapartida, nos
anos que se seguiram pós década de 80, novos modelos pedagógicos de
intervenção e atuação foram se consolidando e inserindo-se no repertório de
técnicas pedagógicas, o que ampliou a quantidade de modelos de intervenção
para questionar os saberes relacionados à área, tais como metodologia do
ensino aberto, crítico superadora, desenvolvimentista, construtivista, crítico
emancipatória, entre outras (BRACHT, 1999).
A área então passou a ser um campo de disputa política de
competências e reconhecimento. As novas reformulações que daí emergiram,
além de possibilitar o aumento das técnicas pedagógicas, trouxe à tona novas
formas culturais que passaram a circunscrever-se no movimento humano.
Desta forma, tornou-se possível questionar e subverter certificações
hierárquicas que priorizavam as Ciências Biológicas, sem o intuito de criar uma
nova hierarquização, mas reconhecer que tanto os dados da Biociência
quanto os das Ciências Sociais e Humanas são importantes e necessários para
a área (BRACHT, 1999).
Desta forma, a Educação Física ampliou-se enquanto campo
científico, trazendo para suas discussões, também, aspectos socioculturais
que se intercruzam aos processos biodinâmicos do movimento humano,
estimulando debates e ponderações acerca da emancipação dos
entendimentos da área, que propicia, por sua vez, uma formação reflexiva
mais crítica e politizada dos sujeitos (COLETIVO DE AUTORES, 1992; BRACHT,
1999).
Portanto, houve cerrada resistência à concepção biológica da
Educação Física, tendo como saber predominante a recreação e os jogos
educativos que possibilitariam desenvolver o cognitivo do aluno. Nas séries
iniciais seu principal objetivo foi promover estratégias de ensino que tratasse
sobre temas referentes a saúde, esporte e participação, levando as crianças a
brincar e aprender ao mesmo tempo, como forma particular de expressão,
pensamento, interação e comunicação infantil de forma natural e espontânea
(DARIDO; RANGEL, 2011).
Segundo os PCNs, em consequência do contexto da década de 70,
todos os ideais eram voltados para modificar e elencar o país em uma
potência olímpica, onde foram mobilizados todos os recursos necessários
para trabalhar as diferentes modalidades esportivas nas escolas, clubes entre
45

outros mecanismos para que pudessem envolver esses participantes a


destacar-se nas atividades de Educação Física (BRASIL, 1997).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) asseguram que, a partir
da década de 1980, ampliaram-se os debates sobre as novas tendências da
Educação Física no Brasil, devido à criação dos primeiros cursos de pós-
graduação, além do marco histórico na educação que propôs o retorno de
professores que fizeram doutoramento fora do país e aumento significativo
de congressos e publicações de livros e revistas (BRASIL, 1997).
Conforme a Constituição Federal de 1988, o esporte e lazer tornaram-
se um Direito Fundamental assegurado para toda população. Diante disso, o
esporte em qualquer modalidade passou a ter um caráter mais accessível por
ser um direito social atribuído a todos (BRASIL, 1988).
Todos esses matizes conferiram adornos à Educação Física e
configuraram-na através de periculosidades que a transformaram no que hoje
reconhecemos. Mesmo após todos esses anos, persistem discussões acerca
da legitimidade de cada subárea do campo, destacando-se ainda uma
prevalência pelo modelo tradicional (DARIDO; RANGEL, 2011). Destaca-se aqui
a importância de apontar como as variadas instâncias e dispositivos sociais
(retro)alimentam-se na Educação Física e Esporte e culminam-se em
processos constitutivos e permissíveis do corpo, sendo estes produtos de um
esforço social, cultural, histórico, político e individual.

Saberes docentes para a Educação Física

Esse texto descreveu alguns dados e informações acerca das


mudanças que marcaram a educação, seus contextos e propostas sobre os
saberes profissionais, deste modo, as conquistas profissionais no campo da
docência buscaram aprimorar a prática de ensino da Educação Física.
A disciplina de Educação Física foi se aperfeiçoando ao longo das
décadas e em meios as mudanças sociais e educacionais foi ganhando
destaque através da legislação no país. No decorrer do tempo, o esporte foi
ganhando espaço nas escolas públicas de ensino e crianças das séries iniciais
passaram a conhecer várias modalidades esportivas de forma cada vez mais
crítica, que buscavam promover compreensões sobre a inclusão de todos os
alunos através das aulas desenvolvidas na escola (DARIDO, 2003).
46

As práticas pedagógicas com o foco nos direitos da aprendizagem


das crianças nas séries iniciais são argumentadas conforme a Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), que reconhece essa fase de ensino como uma
etapa essencial a estabelecer direitos de aprendizagem para todos.
Para contemplá-los, o professor precisa sempre tê-los em mente para
garantir que as experiências propostas estejam de acordo com os aspectos
considerados fundamentais no processo. O tal documento também inova ao
reconhecimento da essa etapa da Educação Básica como fundamental para a
construção da identidade e da subjetividade dos pequenos assim
sucessivamente.
O professor de Educação Física é o profissional preparado para
atender as necessidades educacionais de crianças em diferentes contextos
que possam brincar e interagir através das atividades físicas. Algumas
atividades recreativas são de extrema importância para garantir um bem-
estar devido os movimentos corporais ou desenvolvimento cognitivo,
também importantes para que as crianças convivam em uma situação em que
precisam respeitar regras (BRACHT, 2011).
O ensino das regras permite que as elas participem da organização
da convivência de trabalho em grupo, como por exemplo: jogos. Então, ao
envolvê-las nas tarefas, estimula-se a organização no/do ambiente a partir da
acomodação de brinquedos em outras atividades através da convivência, em
uma educação que pensa no outro (BRACHT, 2011).
O professor de Educação Física, assim como qualquer outra disciplina
também planeja como vai realizar as atividades, separa os materiais e pede
ajuda de familiares para montá-las. Quando os materiais são confeccionados
na escola com ajuda dos alunos, há uma melhor possibilidade de
envolvimento e interação, onde o professor deve observar quais as atividades
que eles mais gostam e/ou quais lhes fazem mais sentido de acordo com sua
realidade sociocultural. Permitir que eles participem das decisões que lhes
dizem respeito e que organizem seu cotidiano coletivo é fundamental.
A escola, como um espaço de encontros, deve repensar a sua rotina,
propiciando um planejamento que contemple as múltiplas linguagens
expressivas da criança, preservando momentos de aprendizagens individuais
e coletivas, de socialização de decisões, de descobertas, de discussão de
opiniões divergentes e enfrentamento de conflitos, assumindo-se, portanto,
como um espaço de construção de identidade de sujeitos-aprendizes durante
as atividades físicas (ALMEIDA, 2003).
47

Em síntese

A Educação Física, como qualquer outra disciplina, tem como


propósito criar uma rotina escolar que gere responsabilidade quanto a
necessidade de a criança realizar atividades físicas, além de consolidar o
processo de formação e desenvolvimento de valores e atitudes em relação ao
estilo de vida saudável.
Sabendo da predominância da herança biologicista e tecnicista do
corpo na prática pedagógica de professores de Educação Física, fronteiriço a
indícios menores de ordem sociocultural sobre o corpo, o que indica novas
dimensões e possibilidades de reflexão no campo acadêmico da Educação
Física, é importante compreender o passado de edificação da área para poder
ampliar a prática docente e assim propiciar uma melhor aprendizagem para
os alunos de acordo com suas realidades.
Implementar atividades que levem a criança a desenvolver as
habilidades motoras, físicas e cognitivas associadas como parte de seus
conteúdos de ensino irrompe como finalidade de ajudar a comunidade escolar
a edificar sua própria personalidade integrando-se ao bem estar e qualidade
de vida.

REFERÊNCIAS

BETTI, M. Educação Física e Sociedade: a Educação Física na escola brasileira


de primeiro e segundo graus. São Paulo: Movimento, 1991.
BRACHT, V. A constituição das teorias pedagógicas da Educação Física.
Cadernos Cedes, v. 19, n. 48, p. 69-88, 1999.
BRACHT, V. Sociologia crítica do esporte: uma introdução. 3ª ed. – Ijuí: Editora
Unijuí, 2011.
CASTELLANI FILHO, L. Política educacional e Educação Física. 2 ed. Campinas:
Autores Associados, 2002.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da Educação Física. São
Paulo: Cortez, 1992.
DAOLIO, J. A ordem e a (des)ordem na Educação Física brasileira. Revista
Brasileira das Ciências do Esporte, Campinas, v. 25, n.1, p. 115-127, set. 2003.
48

DARIDO, S. C. Educação Física na escola: questões e reflexões. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2003.
DARIDO, S. C. RANGEL, I. C. A. Educação Física na escola: implicações para a
prática pedagógica. 2 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2011.
GOELLNER, S. V. Da criança de hoje depende o Brasil de amanhã: raça e
gênero na Educação Física brasileira do início do século XX. In: MIGUEL, Maria
Elisabeth Blanck; CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira (orgs.). A educação escolar em
perspectiva histórica. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.
MELO, V. A. Escola Nacional de Educação Física e Desportos – uma possível
história. Dissertação de mestrado – Campinas, SP: Universidade Estadual de
Campinas, Faculdade de Educação Física, 1996. 199f.
MELO, V. A. História da Educação Física e do Esporte no Brasil: panorama e
perspectivas. 3ed. São Paulo: Ibrasa, 2006.
MORAES, E. V. O higienismo e a Educação Física brasileira. Encontro de
História do Esporte, Lazer e Educação Física, 5, Alagoas. Coletânea... Rio
Grande do Sul, Ed. da UNIJUÍ, 2007, p. 234-242.
PAIVA, F. S. L. Notas para pensar a Educação Física a partir do conceito de
campo. Perspectiva, Florianópolis, v. 22, n. especial, p. 51-82, jul. /dez. 2004.
SOARES, C. L. Educação Física: raízes europeias e Brasil. Campinas, SP:
Autores e Associados, 1994.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado
Federal, 1988.
BRASIL, PCNs. Parâmetros Curriculares Nacionais: introdução aos
parâmetros curriculares nacionais. Brasília: SEF/MEC, 126p, 1997.
ALMEIDA, P. N. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. 11. ed. São
Paulo: Loyola, 2003.
49

PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO


FÍSICA NOS ANOS INICIAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Veronica Fernandes de Carvalho


Rafael Marques Garcia
Wilder Kleber Fernandes de Santana

Princípio de discussão

A Educação Física nos anos iniciais trabalha com atividades de


recreação, brincadeiras e momentos voltados à ludicidade. As séries iniciais
requerem uma aprendizagem determinante no processo de desenvolvimento
geral da criança, princípio que chega a balizar algumas concepções
importantes da Educação Física para este momento, tais como a
desenvolvimentista e a psicomotricista, por exemplo (DARIDO, 2012).
As escolas brasileiras nas últimas décadas vêm implementando novos
meios de se estabelecer um ensino de qualidade, apesar dos desafios
enfrentados pelos alunos como problemas de aprendizagem, dificuldades de
interagir e falta de estímulo para participar das atividades. Nesse contexto, o
professor de Educação Física aparece como um importante profissional para
elaborar aulas de forma dinâmica e que visam desenvolver a interação entre
os envolvidos (REZER; NASCIMENTO, 2007).
Neste interim, a Educação Física exerce seu papel socializador no
desencadeamento da aula através da própria realização de atividades, seja
por meio dos exercícios ou brincadeiras: sempre haverá um momento de
recreação por se tratar de alunos das séries iniciais. A disciplina, assim, propõe
uma elaboração voltada para ludicidade, onde a escola cumpre seu objetivo
de disponibilizar os recursos pedagógicos necessários para desenvolver o
processo de ensino-aprendizagem (FURTADO; SANTIAGO, 2005).
Os jogos e brincadeiras possibilitam criar um ambiente socializador
entre os envolvidos, devendo o professor elaborar uma aula dinâmica que
possa criar um estímulo para a participação (DARIDO, 2012). Nesse sentido, os
saberes docentes do professor de Educação Física incluem desde técnicas,
experiência prática e conhecimento teórico até mesmo questões que versam
sobre as Ciências Sociais e Humanas que, se bem trabalhadas, promovem a
50

inclusão e a participação integralizadas; sob uma ótica socializadora das


práticas pedagógicas, promovem o desenvolvimento e aprimoramento das
esferas cognitivas e motoras, facilitando a participação e comunicação do
aluno durante as atividades (FURTADO; SANTIAGO, 2005).
Dentre as diferentes atividades aplicadas nas aulas de Educação
Física, a ludicidade deve ser a base dessa aprendizagem nesse momento
devido à configuração da turma e dinâmica da aula. O professor então cria e
recria brincadeiras de grupos, ginásticas, danças, jogos, entre outras
atividades, sempre atentando para fins cooperativos e socializadores (REZER;
NASCIMENTO, 2007). Inúmeras atividades e exercícios podem ser usadas
como proposta de ensino, entretanto a falta da ludicidade pode criar entraves
ao processo de ensino aprendizagem e consequentemente, aos resultados
obtidos pelas escolas. Por se tratar de atividades físicas e o saber pelo
movimento, a motivação do aluno foi destaque nas argumentações de
teóricos que embasaram seus estudos a partir do psicólogo Abraham Maslow
sobre a motivação, tais como: Wagner e Hollenbeck (2012), Daolio (2002) e
Florindo (2015).
A interação também é considerada uma ação motivadora que
influencia a participação do aluno. O interesse do professor em elaborar
atividades nas séries iniciais são destacados pela escolha de proposta de
ensino voltados para gerar os aspectos motivacionais sobre a participação do
aluno. Mesmo se tratando de atividades lúdicas e recreativas, o aluno deve
ser estimulado e motivado de modo que desenvolva o desejo de participar
das atividades. A escola é parte integradora dessas atividades, devendo o
ambiente escolar ser um espaço que destaque o compartilhamento com
todos os envolvidos, onde a motivação pode surtir efeito positivo na
aprendizagem lúdica e no desempenho do aluno de modo grupal ou individual
(DARIDO, 2012).
A Educação Física é, portanto, uma disciplina que exerce importante
papel na rotina educacional dos alunos, pois possibilita o trabalho em equipe
e de forma individual cabendo uma diversidade de experiências e situações
que podem ser desenvolvidas por meio de vivências no contexto escolar.
Diante disso, investigamos se interação e a motivação podem influenciar a
inclusão dos alunos nas práticas recreativas na aula de Educação infantil.
A seguir, destacaremos a Educação Física como uma possível
disciplina que desperta a motivação para participação do aluno. Para tanto,
analisamos a importância do conhecimento sobre a teoria da motivação como
51

um mecanismo de interação na aula de Educação Física, bem como a


importância do professor como motivador para as atividades lúdicas.

A importância da Educação Física nas séries iniciais

No dia-dia escolar, a criança consegue acompanhar as atividades e o


ensino da Educação Física com o uso da ludicidade, onde o professor
desenvolve a aula sobre os aspectos construídos no planejamento escolar,
sendo amplamente observado em escolas que atuam com alunos da
educação básica, séries iniciais. As atividades devem ser desenvolvidas para
estimular a participação e a aprendizagem de modo atraente e divertida, para
isso, o educador deve explorar da melhor maneira esse momento, criando
espaços, disponibilizando materiais, fazendo assim a mediação do
conhecimento (SOUZA JÚNIOR; GALVÃO, 2005).
Almeida (2003) reconhece que nessa fase, séries iniciais, a Educação
Física exerce importe ação sobre a aprendizagem, onde o professor deve
promover uma aula lúdica voltada para momentos de criatividade, buscando
interagir com todos de igual modo, podendo desenvolver uma aula com
recursos apropriados que possam ser utilizados para criar um ambiente
participativo. O olhar pedagogista assim se destaca:

[...] a concepção que vai reclamar da sociedade a necessidade de encarar a


Educação Física não somente como uma prática capaz de promover saúde ou
de disciplinar a juventude, mas de encarar a Educação Física como uma prática
eminentemente educativa (GHIRALDELLI JUNIOR, 1991, p. 19).

O desenvolvimento da criança nas atividades físicas tem seu ponto


forte através do movimento, da ação, da experiência e da criatividade,
permitindo a formação da consciência de si própria; da sua realidade corporal
que expressa sentimentos, pensamentos; movimenta-se no/pelo espaço,
encontra-se com os mecanismos que de forma progressista marca suas
formas; e que se conscientiza das relações de si mesma com o espaço e o
tempo, internalizando, assim, a realidade (DARIDO, 2012; MORAES,2007).
Outra proposta bastante usada nos anos iniciais encontra-se na
confecção dos próprios recursos usados nas atividades, podendo também
oportunizar a participação os próprios alunos a interagir entre si, a exemplo
de trazerem cordas, bolas, brinquedos e desenvolver um momento de
52

compartilhar as brincadeiras e os objetos com todos da turma (MORAES,


2007).

A integração é um processo dinâmico e paulatino que se inicia na/pela família.


Constitui-se pela internalização de valores socioculturais mediados pelos
indivíduos. Valores esses condicionantes para a participação das pessoas em
maior ou menor grau nos diferentes níveis sociais (família, escola, trabalho,
comunidade, etc.) de forma a usufruir dos mesmos direitos e deveres de cidadão
(CHACON, 1995, p. 118).

O papel do movimento como instrumento de expressão nas


atividades físicas contribui de forma relevante para o movimento corporal,
imaginação e participação do aluno, cujo funcionamento mental é projetivo
conforme o desempenho e interação. Ao escrever sobre o movimento,
Wallon destaca o deslocamento do corpo no espaço físico, mas também
retrata a sua presença nos gestos, nas expressões faciais, nas manifestações
posturais e na conduta da criança (ALMEIDA; MAHONEY, 2004).
Antunes (2007), citando Wallon, argumenta que o lúdico deve
sempre embasar as atividades físicas, entretanto, esse mecanismo não se
encontra só na prática da brincadeira e dos jogos educativos; os métodos de
ensino são ações indispensáveis ao intelecto da criança e esses aspectos
envolvem maneiras de desempenhar atividades que sejam revertidas também
para saúde física, emocional, como também intelectual de qualquer criança
(DARIDO, 2012). Nesse contexto, essas atividades escolares fazem parte da
metodologia utilizada na prática pedagógica nas aulas de Educação Física.

Ilustração 03: Recreação Escolar

Fonte: Almeida (2003).


53

A ilustração acima exemplifica as atividades físicas realizadas através


das brincadeiras com toda turma. Diante disso, o professor pode solicitar
materiais recicláveis para que os alunos possam trazer de casa objetos que
possa ser elaborado de forma manual os elementos usados para realização
dessa aula (ALMEIDA,2003).
Nesse sentido, a ludicidade desenvolvida na fase infantil pode ser
praticada como atividade recreativa, entretanto, no ambiente escolar cabe ao
professor que essa recreação venha ser desenvolvido como uma proposta
pedagógica que possa ser utilizada de forma significativa propondo uma
aprendizagem eficiente para tais alunos (DALLABONA, 2004).
Da mesma maneira Noffs (2000, p. 162) reconhece que o lúdico é
parte importante nas atividades físicas por fazer parte da infância ao afirmar
que: “A partir do brincar e do brinquedo, os usuários lidam com a
possibilidade de se aprender, permitindo a aquisição/ressignificação de
conhecimentos, que se movimentam em direção ao saber”. Darido (2012)
ratifica ao expor que mesmo brincando, a criança também está aprendendo,
ao encarar a atividade com seriedade e ao mesmo tempo com diversão.
Andrade (2012) distingue uma realidade existente nas escolas
públicas, na qual o professor nem sempre tem disponibilizado recursos
pedagógicos para realizar uma aula dinâmica. Nas séries iniciais a ludicidade
se torna um método de aprendizagem na qual a criança se apropria das
primeiras informações de forma lúdica, ainda devendo ser considerado a
interação do aluno com os envolvidos para que juntos possam participar do
momento de recreação e das atividades físicas.

Em síntese

O trabalho da Educação Física nas séries iniciais deve se pautar em


jogos e brincadeiras, devendo o professor se atentar para a realidade que o
cerca e estimular em seu alunado uma participação motivadora e inclusiva.
Mesmo sendo um momento de diversão, a aprendizagem se dá através dos
movimentos e gestos, destacando assim o caráter fundamental e
importantíssimo da ludicidade nos anos iniciais da educação básica.
54

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, L. R.; MAHONEY, A. A. Constituição da pessoa na proposta de Henri


Wallon. Edições Loyola, 2004.
ALMEIDA, P. N. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. 11. ed. São
Paulo: Loyola, 2003.
ANDRADE, S. S. O lúdico na vida e na escola: desafios metodológicos. Curitiba:
Appris, 2012.
ANTUNES, R. Dimensões da precarização estrutural do trabalho. A perda da
razão social do trabalho: terceirização e precarização. São Paulo: Boitempo,
p. 13-22, 2007.
CHACON, M. C. M. A integração social do deficiente mental: um processo que
se inicia na/pela família. 1995. 130 p. Dissertação (Mestrado em Educação) -
Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, SP.
DALLABONA, S. R. O lúdico na educação infantil: jogar, brincar, uma forma de
educar. Revista de Divulgação Técnico-Científica do ICPG, v. 1, n. 4, jan-
mar/2004.
DAOLIO, J. Cultura, Educação Física e Futebol. Educação Física Escolar: uma
abordagem cultural, Campinas: Unicamp, 2002.
DARIDO, S. C. Diferentes concepções sobre o papel da Educação Física na
escola. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Prograd. Caderno de
formação: formação de professores didática geral. São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2012. p. 34-50, v. 16.
GHIRALDELLI JUNIOR, P. Educação Física Progressista: A Pedagogia Crítica-
Social dos Conteúdos e a Educação Física Brasileira. São Paulo: Loyola, 1991.
FURTADO, R. P.; SANTIAGO, L. P. Educação Física e trabalho: considerações a
respeito dos egressos do curso de Educação Física da FEF-UFG. Revista
Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 29, n. 2, 2015.
MORAES, E. V. O higienismo e a Educação Física brasileira. Encontro de
História do Esporte, Lazer e Educação Física, 5, Alagoas. Coletânea... Rio
Grande do Sul, Ed. da UNIJUÍ, 2007, p. 234-242.
NOFFS, N. A. A brinquedoteca na visão psicopedagógica. In: OLIVEIRA, V. B.
de (Org.). O brincar e a criança do nascimento aos seis anos. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2000.
55

REZER, R; NASCIMENTO, J. As novas diretrizes curriculares a regulamentação


e o processo de formação–apontamentos para o campo da Educação Física
Brasileira. In: Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte. 2007. p. 1-10.
SOUZA JÚNIOR, M.; GALVÃO, A. M. O. História das disciplinas escolares e
história da educação: algumas reflexões. Educação e Pesquisa, v. 31, n. 3, p.
391-408, 2005.
WAGNER, J. A.; HOLLENBECK, J. R. Comportamento organizacional: criando
vantagem competitiva. Tradução Silvio Floreal Antunha. 3. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012.
56

UNIDADE II
CONTEÚDOS E APLICAÇÕES
57

A INCLUSÃO COMO DISPOSITIVO POTENCIAL NA


EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Veronica Fernandes De Carvalho


Rafael Marques Garcia
Wilder Kleber Fernandes De Santana

Introdução

A inclusão, neste capítulo, não se restringe apenas às pessoas com


deficiência, mas antes se atenta para a forma mais comum de integrar o aluno
na comunidade escolar, acolhendo e propondo-lhe o direito de participação
de todo processo de ensino-aprendizagem em sua totalidade e em todas as
atividades. Darido (2003, p.27) afirma que: “[...] nenhuma atividade pode
excluir qualquer aluno das aulas de Educação Física.”
A inclusão nas aulas de Educação Física requer que o aluno seja
incluído como sujeito que participa de forma ativa, mesmo quando esse aluno
tem dificuldades de interagir ou apresenta falta de estímulo. A prática da
Educação Física de forma inclusiva colabora para a vida pessoal e ajuda a
conviver independentemente das diferenças individuais, amenizando os
efeitos prejudiciais da exclusão
A escola exerce um importante papel na disciplina de Educação
Física, pois a equipe pedagógica deve elaborar programações que possa levar
o aluno a ser incluído em todas as etapas, oferecendo variedades de
atividades físicas, dando oportunidade ao aluno de escolher atividades
segundo o valor que elas realmente têm.
Para as séries iniciais, o professor pode criar uma diversidade de
atividades, entretanto, deve embasá-las em propostas de ensino que levem o
aluno a interagir por meio das recreações, pois existe uma infinita variedade
de exercícios e brincadeiras lúdicas que podem ser aproveitadas nas aulas de
Educação Física.
O lúdico auxilia a criança na descoberta de novas habilidades e
aumenta o funcionamento cognitivo-funcional, o que leva o aluno a participar
da brincadeira e ao mesmo tempo que movimenta as partes motoras, ativar
58

a imaginação e interpretação através dos objetos manuseados durante as


atividades (ALMEIDA, 2003).
Diante dessa realidade, o brinquedo é utilizado como um
instrumento educativo no processo ensino-aprendizagem, cuja prática
também atribui inúmeros benefícios psicomotores à criança. Dallabona
(2004) aponta que o ambiente escolar pode ser aproveitado para dinamizar
as atividades físicas, isso ocorre quando o aluno se sente incluído no seu meio
e a participação passa a ser desenvolvida de forma espontânea, podendo criar
um ambiente alegre e divertido e vir a ser um diferencial devido à
aprendizagem prazerosa destacado no ato de brincar.
O lúdico, por fazer parte do desenvolvimento da criança de forma
natural, não precisa que o professor ensine a criança como brincar: a criança
quando se sente acolhida juntamente com os demais alunos envolvidos pode
interagir com maior facilidade (ALMEIDA, 2003) e, assim, a inclusão inicia-se
através das brincadeiras, de forma espontânea e prazerosa, sempre mediada
pelo professor entre o ato de brincar e aprender durante as atividades
(NUNES; RÚBIO, 2008).

Educação Física e as concepções e práticas pedagógicas

A Educação Física é uma disciplina que propõe forte participação nos


currículos escolares. As práticas pedagógicas são ações que incluem o
planejamento, conhecimentos teórico e científico e habilidades profissionais
para realizar as atividades físicas para crianças das séries iniciais de escola
pública (MARTINS, 2014).
O trabalho docente encontra-se relacionado ao conhecimento
pedagógico específico sobre a Educação Física, onde o professor, por sua vez,
deve desenvolver essa prática de ensino através de um compromisso ético e
moral, sabendo que o ensino com crianças das séries iniciais deve levar em
conta atividades voltadas para ludicidade e recreação (IMBERNOM, 2000).
Na prática docente se adquirem habilidades para trabalhar com
diversos grupos de alunos através do conhecimento discutido durante a
formação de professores. O educador é, portanto, uma das ferramentas
primordiais para otimizar esse processo. Para Duarte (1996), o professor
precisa manter uma relação consciente como educador ao atuar na formação
do aluno que, diante de si, possui implicações desse trabalho educativo na
59

produção e reprodução da vida social. Logo, não basta apenas formar


indivíduos, é preciso saber para que meio social o educador está formando-
os. Somando a esta perspectiva, Paulo Freire (1982) diz que existe uma trilha
de dois caminhos a se seguir: ou sair da rotina e buscar inovar a prática
pedagógica diante da inclusão, ou ficar discutindo que a mesma não é viável,
e apenas responsabilizando o sistema de ensino, o governo, a família e demais
setores da sociedade.
A formação continuada, na qual o professor adquire saberes para a
tomada de consciência sobre as reais importâncias da disciplina na escola e na
vida dos alunos, é fundamental. Nesse sentido, as práticas pedagógicas
podem utilizar recursos que promovam novas oportunidades de implantar
culturas de inclusão a partir de três concepções principais, a exemplo do
entrosamento do que é cultura de inclusão: 1- possibilita incluir crianças de
diferentes classes sociais entre a comunidade escolar; 2- estimula a inclusão
geral de todos, desde pessoas com deficiências às demais que apresentem
diferenças entre raça, cor ou situação financeira; 3- visualiza todos com o
mesmo direito de receber um ensino de qualidade independentemente da
situação do aluno (MARTINS, 2014).
O professor de Educação Física deve então estimular as crianças das
séries iniciais a participar das aulas, buscando propor atividades voltadas para
programações que promova o próprio estímulo de participação de maneira
adaptada:

[...] em um programa de aulas que imponha, por exemplo, que o basquetebol


deva ser ensinado a partir da 5a série, no segundo bimestre do ano, seguindo a
mesma estrutura pedagógica tida como universal e única, estará, no mínimo,
desconsiderando as especificidades locais, ainda mais quando esta organização
vem de outra realidade. Não estará respeitando a tradição histórica e a dinâmica
cultural do grupo (DAOLIO, 2002, p. 18).

Gorgatti (2008) reconhece que é preciso que o professor possa


promover atividades físicas com qualidade e segurança, que conheça algumas
características fundamentais sobre cada recurso pedagógico, especialmente,
que alcance as potencialidades diferenciadas nas crianças através das práticas
pedagógicas.
As práticas corporais nas séries iniciais das escolas regulares são
desenvolvidas de modo dinâmico. Nas articulações que envolvem as aulas de
Educação Física, podem ser usados jogos didáticos para introduzir noções de
60

regras e raciocínio lógico, treinos motores como pular cordas, baleados, mini-
futebol, mini-vôlei, mini-basquete, entre outras propostas que podem
dinamizar o componente curricular (HAYCOCK; SMITH, 2011).
Haycock e Smith (2011) asseveram que o professor de Educação
Física deve relacionar o método de ensino com destaque nas atividades
coletivas e competitivas, porém essa expressão dada a competitividade deve
ser revertida sobre o desempenho e a excelência das realizações de cada
aluno conforme seu desempenho pessoal. Nesse sentido, deve-se valorizar o
processo do fazer, e não apenas o produto final (DARIDO, 2003).
O professor de Educação Física exerce uma função única dentro da
escola. Ele é o profissional que desempenha a prática pedagógica com uma
dinâmica diferenciada, podendo criar meios de realizar atividades voltadas
para uma alimentação saudável, hábitos que levem a criança a realizar
atividades físicas adotadas ainda na infância, e ainda ser o responsável por
criar uma relação que inclua não só o aluno, mas toda comunidade escolar a
participar da aprendizagem fazendo uma ligação entre a escola, a sociedade,
o conhecimento e o aprendiz (DUNN, 2008).
Para Galvão (2002) a prática pedagógica na aula de Educação Física
pode criar uma intervenção positiva principalmente nos alunos que não
conseguem participar da aula de maneira espontânea; também com aqueles
que apresentam dificuldades de aprendizagem e falta de interação, trazendo
oportunidades de inclusão escolar, buscando alcançar uma condição que
proponha o alcance e a igualdade de oportunidades entre todos os alunos.
O professor de Educação Física é um profissional de ensino,
licenciado e habilitado para desenvolver estratégias bem planejadas. Ao
elaborar o desenvolvimento da atividade, o docente prioriza as principais
necessidades educacionais do aluno, também considerando o ambiente da
escola, pois o espaço físico deve ser um local adequado para realização de
atividades físicas e de forma especial é necessário avaliar e excluir
comportamentos inadequados que possam atrapalhar o desempenho das
crianças (FREITAS, 2008).
As aulas de Educação Física antigamente eram restritas aos
ensinamentos dos conhecimentos mínimos necessários voltados ao ensino de
técnicas, táticas e regras, entretanto, atualmente muitas escolas públicas tem
desenvolvido um ensino esportivo para além do que apenas as abordagens
sobre saúde ou esportivismo (MARTINS, 2014). Conforme destaca Daolio
61

(2002), a preocupação agora se ampliou sobre o eixo cultural, que é de suma


importância para um maior engajamento de todos os alunos nas atividades.
Inovar no processo de ensino da Educação Física é levar as crianças a
conhecerem novos recursos por meio de tecnologias relacionadas às diversas
práticas corporais, a exemplo das danças, lutas, ginásticas e jogos e
brincadeiras, onde deve-se atentar-se para a ludicidade nos diferentes
contextos citados, como defende Arroyo:

Inovar é, antes de tudo, redefinir os critérios de seleção e de organização dos


saberes escolares, mudar concepções, desenvolver nos professores consciência
crítica, para que possam questionar o conhecimento tido como oficialmente
válido e recriar criticamente os conteúdos que transmitem (ARROYO; 2010, p.
143).

Para Fernandes (2009), a Educação Física não é uma disciplina


isolada, antes faz parte da grade curricular das séries iniciais e das demais,
sendo um importante campo de conhecimento e de prática escolar que passa
por todas as etapas de processo como qualquer disciplina.

Em síntese

Na busca de levar as crianças a uma realização de aula mais


dinamizada, surge a proposta onde ela deva descobrir seu potencial físico e
cognitivo, e com isso possa proporcionar o autoconhecimento corporal a
partir de combinação entre o saber fazer e o como fazer (MARTINS, 2014).
Atentos ao ensino inovador, a pedagogia da alteridade irrompe como
estratégia primordial, norteando as práticas docentes e trazendo reflexões
para a melhoria do ensino não apenas na Educação Física, mas também na
escola como um todo.

Referências

ALMEIDA, P. N. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. 11. ed. São


Paulo: Loyola, 2003.
ARROYO, M. G. Experiências de inovação educativa: o currículo na prática da
escola. 12ª ed. In: MOREIRA, A. F. B. (org.) Currículo: políticas e práticas.
Campinas, SP: Papirus, 2010. p. 131-164.
62

DALLABONA, S. R. O lúdico na educação infantil: jogar, brincar, uma forma de


educar. Revista de Divulgação Técnico-Científica do ICPG, v. 1, n. 4, jan-
mar/2004.
DAOLIO, J. Cultura, Educação Física e Futebol. Educação Física Escolar: uma
abordagem cultural, Campinas: Unicamp, 2002.
DARIDO, S. C. Educação Física na escola questões e reflexões. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2003.
DUARTE, N. Educação Escolar, Teoria do Cotidiano e a Escola de Vygotsky.
Campinas-SP: Autores Associados, 1996.
DUNN, J. Special physical education. Adapted Physical Activity Quarterly,
Champaign, v. 25, n. 2, p. 174-176, 2 Apr. 2008.
FERNANDES, A. A proposta pedagógica para a Educação Física escolar nas
séries iniciais da rede estadual paulista: a manifestações dos professores.
2009. 136 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Educação - PUC-SP, 2009.
FREIRE, P. Educação: o sonho possível. In: BRANDÃO, C. (org.). O Educador:
vida e morte. Rio de Janeiro: Graal, 1982.
FREITAS, N. K. Social and educational inclusion: the process and the students'
evaluation. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, Rio de
Janeiro, v. 16, n. 60, July/Sept. 2008.
GALVÃO, Z. Educação Física escolar: a prática do bom professor. Mackenzie
de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 65-72. 2002.
GORGATTI, M. G. Atividades Físicas e esportivas para crianças e adolescentes
com deficiência. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
HAYCOCK, D.; SMITH, A. Still ‘more of the same for the more able?’Including
young disabled people and pupils with special educational needs in extra-
curricular physical education. Sport, Education and Society, London, v. 16, n.
4, p. 507-526, July 2011.
IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e
a incerteza. São Paulo: Cortez, 2000.
MARTINS, C. L. R. Educação Física Inclusiva: Atitudes dos Docentes.
Movimento, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 637-656, abr./jun. 2014.
NUNES, M. L. F.; RÚBIO, K. O. currículo (s) da Educação Física e a constituição
da identidade de seus sujeitos. Currículo sem fronteiras, v. 8, n. 2, p. 55-77,
2008.

.
63

A PSICOMOTRICIDADE E A EDUCAÇÃO FÍSICA:


POSSÍVEIS (DES)ENCONTROS

Veronica Fernandes De Carvalho


Rafael Marques Garcia
Wilder Kleber Fernandes De Santana

Introdução

Neste capítulo são tecidas argumentações sobre a psicomotricidade,


para isso é importante compreender que esse termo é empregado para uma
concepção de movimento organizado e integrado, em função das
experiências vividas pela criança durante as atividades físicas, cuja ação é
resultante de sua individualidade, linguagem e socialização no ambiente
escolar.
As representações construídas na escola sobre a Educação Física
possibilitam criar atividades que possam levar a criança a participar de forma
ativa. Nesse sentido, a compreensão pedagógica sobre a psicomotricidade é
de extrema importância para elaboração da aula, porque busca incentivar a
prática do movimento em todas as etapas da vida, além de valorizar o
desenvolvimento humano mediante a rotina de atividades associadas à
prática física. Como afirmam Betti e Zuliani:

A Educação Física deve assumir a responsabilidade de formar um cidadão capaz


de posicionar-se criticamente diante das novas formas da cultura corporal de
movimento... A Educação Física enquanto componente curricular da Educação
Básica deve assumir então uma outra tarefa: introduzir e integrar o aluno na
cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la,
reproduzi-la e transformá-la (BETTI; ZULIANI, 2002, p. 75).

Crianças nas séries iniciais desenvolvem movimentos corporais de


forma natural, brincando, exercitando e interagindo com outras crianças. As
atividades físicas, por serem realizados de forma lúdica, criam uma sensação
de prazer e valorizam o conhecimento de ordem psicológica, onde a criança
necessita ser constantemente estimulada a participar das atividades para que
64

sejam trabalhados os mecanismos de forma corporal e a coordenação motora


(DARIDO; RANGEL, 2011).
Para Costa (2002), a psicomotricidade é baseada na compreensão
das atividades desenvolvidas, isso inclui as interações cognitivas, sensório
motoras e psíquicas. Essas ações são essenciais para estabelecer a capacidade
de movimentação corporal. Por ser definida como uma ação pedagógica que
entende o movimento interligado com as interações sociais, psíquicas e
cognitivas das crianças, quando há uma participação ativa nas atividades o
aluno consegue expressar-se, a partir do movimento, em um contexto
psicossocial.
Diante disso, por ser representada por um conjunto de
conhecimentos psicológicos, fisiológicos, antropológicos e relacionais que
possibilita o aluno a pensar, raciocinar e interagir com as regras envolvidas, o
professor pode mediar uma aprendizagem voltada para ludicidade.

A história do saber da Psicomotricidade representa já um século de esforço de


ação e de pensamento. A sua cientificidade na era da cibernética e da
informática vai nos permitir certamente ir mais longe da descrição das relações
mútuas e recíprocas da convivência do corpo com o psíquico. Essa intimidade
filogenética e ontogenética representa o triunfo evolutivo da espécie humana,
um longo passado de vários milhões de anos de conquistas psicomotoras
(FONSECA, 1988, p. 99).

O trabalho pedagógico acomoda as aulas de Educação Física com


outras disciplinas resultando em um ensino interdisciplinar, onde se
promovem atividades que possibilitam a participação de forma lúdica e
recreativa, e ao mesmo tempo desenvolvem as personalidades e habilidades
das próprias crianças no intuito de aprimorar o movimento motor do
participante (FERNANDES, 2015).
A psicomotricidade pode estimular o desenvolvimento da criança,
como os movimentos psicomotores que definem e relacionam-se entre
criança e facilidade/dificuldade físico/mental/cognitiva. Destaca-se no plano
físico o esquema corporal, que é a esfera do conhecimento pré-consciente do
aluno sobre o seu próprio corpo (FERNANDES, 2015).

A Psicomotricidade auxilia e capacita melhor o aluno para uma melhor


assimilação das aprendizagens escolares, por isso procura trazer os seus
recursos para dentro da sala de aula, tanto no âmbito da educação quanto da
reeducação psicomotora. Um bom desenvolvimento psicomotor proporciona
ao aluno algumas capacidades básicas a um bom desempenho escolar, dando-
65

lhe recursos para que se saia bem na escola, aumentando seu potencial motor.
A Psicomotricidade, pois, se caracteriza por uma educação que se utiliza do
movimento para atingir outras aquisições mais elaboradas, como as intelectuais
(OLIVEIRA, 1999, p. 9).

Em relação às crianças que não conseguem interagir, o professor


deve empregar atividades que estimulem sua participação, proporcionando
investigações psicomotoras que gerem prazer para aumentar o desejo da
criança de envolver-se nas atividades (NICOLA, 2004).

Ilustração 04: Psicomotricidade e Educação Física

Fonte: Fernandes (2015).

A ilustração acima demostra como o professor pode trabalhar a


psicomotricidade com alunos das séries iniciais. Essa prática pedagógica
busca desempenhar e estimular a criança a participar das atividades de forma
prazerosa. A capacidade em determinar e executar mentalmente os
movimentos corporais durante as aulas de Educação Física é de extrema
importância, pois o professor pode usar diferentes ambientes da escola, a
exemplo do pátio ou um outro local que seja propício para criar uma interação
na qual a criança possa sentir-se estimulada a interagir com as atividades.

A psicomotricidade caracteriza-se como uma ciência nova, cujo objeto de estudo


é o homem nas suas relações com o corpo em movimento, na sua unidade como
pessoa, encontrando então na intervenção psicomotora uma tentativa de
66

modificar toda a atitude em relação ao seu corpo como lugar de sensação,


expressão e criação (MONTEIRO, 2015, p. 19).

Outro campo psicomotor é a imagem corporal, que trata com o perfil


da criança em relação ao crescimento, seus pares, seu corpo, etc. A imagem
corporal é construída e modificada por toda vida (COSTA, 2002).
Portanto, como nesse estágio a criança pode compreender como
funciona a parte esquelética do corpo, as diferentes atividades a serem
aplicadas de acordo com a psicomotricidade instigam o cognitivo através dos
jogos educativos, facilmente criando socializações entre todos os envolvidos
e despertando respostas nos movimentos motores, aspectos físicos e
cognitivos do aluno.

A música e a dança como mecanismos da psicomotricidade

A dança sempre esteve introduzida de alguma forma na vivência


humana, inclusive na fase infantil. Antes de argumentar sobre a dança, é
importante argumentar sobre o início da infância que se encontra interligada
em diferentes fases da vida da criança: geralmente a criança tem seus
primeiros contatos com as letras de músicas infantis, algo que se inicia desde
cedo como uma cantiga de ninar a criança, por exemplo (KLEINUBING et al.,
2013).
Diante disso, a música é utilizada como um instrumento pedagógico
e como meio de estabelecer uma melhor comunicação, além de possibilitar a
exercitar a audição e compreensão. A música também facilita a interpretação
da letra e proporciona meios de criar novos conhecimentos aplicados na
melodia musical infantil (KLEINUBING et al., 2013).
Conforme o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil,
a música, na fase infantil, é considerada um recurso estratégico para busca de
novos conhecimentos. Assim, na literatura infantil desenvolvem-se vários
tipos de estratégias lúdicas que podem ser aplicadas na Educação Física, onde
o professor promove a recreação com maior interação social, equilíbrio
emocional, autoestima, autoconhecimento, entre outros aspectos
trabalhados através dança e na música (BRASIL, 1998).

A música movimenta, mobiliza, e por isso contribui para a transformação para o


desenvolvimento. Segundo Willems, cada um dos aspectos ou elementos da
música corresponde a um aspecto humano específico, ao qual mobiliza com
67

exclusividade ou mais intensamente: o ritmo musical induz ao movimento


corporal, a melodia estimula a afetividade; a ordem ou a estrutura musical (na
harmonia ou na forma musical) contribui ativamente para a afirmação ou para a
restauração da ordem mental no homem. Essa qualidade – o poder mobilizador
da música – constitui a base da terapia musical ou musicoterapia (GAINZA, 1988,
p. 36-37).

Nas séries iniciais do ensino fundamental, a disciplina de Educação


Física usa mecanismos eletrônicos para criar uma interação através da música
e da dança. Vale ressaltar que, para essa estratégia de aprendizagem ser
desenvolvida de forma eficiente, deve-se valorizar os momentos de
integração social promovidas pelas músicas infantis (NOGUEIRA; PALMA,
2003). Quanto a música é necessária para que sejam selecionados os ritmos,
são trabalhadas as danças, a linguagem das letras e as demais expressões
adequadas para essa faixa etária (NOGUEIRA; PALMA, 2003). A
psicomotricidade, aqui, foca à criança mecanismos da mente e corpo de
forma interrelacional.
Uma das formas mais significativas de adaptação do corpo ao mundo
externo é o movimento, e a criança quando envolvida na dança consegue
movimentar-se e interagir-se socialmente com outros envolvidos. Alves
(2008, p.15) assegura que: [...] é possível entender que a Psicomotricidade
envolve toda uma ação realizada pelo indivíduo, que represente suas
necessidades e permitem sua relação com os demais.

[...] A psicomotricidade é a relação entre os aspectos psicológicos emocionais,


a cognição e a ação motora frente às fases do desenvolvimento do ser humano
desde a fecundação até o fim de sua vida. É a relação entre o QUERER FAZER
(Psicológico – vontade); SABER FAZER (Cognição – mental) e PODER FAZER
(capacidade motora de realização) (LOURO, 2006, p.54).

Nesse sentido, a dança permite que sejam construídas diferentes


possibilidades de envolver novos conhecimentos através da letra e do ritmo
da música o professor pode trabalhar de forma interdisciplinar no
desenvolvimento da criança, uma vez que a musicalidade se faz presente em
vários momentos vivenciados pelas próprias crianças, sejam em reuniões
familiares (aniversários, momentos de descontrações com caraoquê, filmes
infantis entre outros), ou até mesmo nas brincadeiras infantis, quando essas
crianças utilizam da música como meio de expressão ou recreação, alegria e
aprendizagem (SURDI et al., 2016).
68

As atividades físicas são desenvolvidas para que a criança por


apresentar um comportamento espontâneo. As ações devem corresponder
às interações lúdicas de forma natural. Almeida (2013) reconhece que o
desenvolvimento dado no processo dessa brincadeira pode ser aplicado
dentro desse universo contido na ludicidade, ou seja, a Educação Física
possibiliza a criança brincar e realizar atividades físicas e motoras de forma
prazerosa, assim acontece com a dança, na qual o educador pode
desempenhar vários ritmos e culturas brasileiras como proposta de ensino.
Bréscia (2003) enfatiza que a dança, dependendo do ritmo da música,
está presente em quase todas as manifestações sociais e pessoais do sujeito
desde a fase de recém-nascido até o final da vida. Durante o processo de
crescimento e desenvolvimento infantil, a dança pode ser destaque no ritmo
dando condições de compreender a cultura musical e regional imposta nas
letras. Entretanto, o professor deve ter cuidado ao trabalhar danças sensuais,
por mais que sejam totalmente trabalhadas de forma lúdica; a letra da música
infantil deve ser uma forma de criar momentos de diversão e também de
interação com os conhecimentos obtido através da linguagem na letra da
música, sempre de acordo com a faixa etária (CARVALHO, 2012).
Le Boulch (1982, p. 182) afirma que: “A associação do canto e do
movimento permite a criança sentir a identidade rítmica, ligando os
movimentos do corpo e os sons musicais. Esta atividade representa um
estágio prévio ao ajustamento e um suporte musical imposto à criança”.
A dança também pode trabalhar uma linguagem infantil
desempenhada nos repertórios musicais. Quando se adapta uma letra infantil,
transforma-a em um recurso didático na medida em que é chamada para
responder perguntas adequadas aos objetivos propostos. Um deles mais
centralmente deve promover o desenvolvimento dos conteúdos
programáticos a partir do processo de transformação durante o
desenvolvimento humano (MILLER, 2012).

É preciso dar a educação musical um caráter progressivo, que deve acompanhar


a criança ao longo de seu processo de desenvolvimento escolar. Momentos
devem ser adaptados às suas capacidades e interesses específicos. É preciso ter
consciência e clareza para introduzir o aluno no domínio do conhecimento
musical. Isso significa que é fundamental o papel da escola no estudo da cultura
musical, pois nela, como terreno de mediação, poderão ocorrer as trocas de
experiências pessoais, intuitivas e diferenciadas. Daí a necessidade de não
perdermos de vista as práticas musicais que respondem a movimentos sociais e
69

culturais que vão além dos muros da escola, mas refletem mais cedo ou mais
tarde, no interior da sala de aula (LOUREIRO; 2003, p. 49).

No âmbito escolar, a dança está relacionada à ludicidade e, por se


tratar de alunos nas séries iniciais, são aplicadas etapas de atividades em que
a música é utilizada como recurso didático. Ao se identificar com o assunto,
pode-se transformar seus conceitos espontâneos em uma brincadeira que
seja múltipla, como assevera Silveira (2008):

É fundamental manter um ambiente de alegria e de ludicidade na classe. Sem


humor, o educador não experiência o encontro existencial com o educando e
bloqueia o próprio processo de ensino-aprendizagem. A educação tradicional
colocou as virtudes: atenção, dedicação e responsabilidade como incompatíveis
com a alegria e descontração (SILVEIRA, 2008, p. 28-31).

A dança e a música fazem parte dos mecanismos aplicados na


ludicidade nessa prática metodológica, criando maior interação entre os
próprios alunos, cujas crianças trocam experiências formando um
entendimento adaptável à sua imaginação e desenvolvendo a percepção
cognitiva. Diante disso, a relação entre ensinar, brincar e aprender no
contexto da aula proporciona na criança uma oportunidade de descobrir
novos significados associados a essa aprendizagem na disciplina de Educação
Física (RODRIGUES, 2015).
Desse modo, o uso da dança é uma ferramenta indispensável para
fase infantil, como também valoriza o trabalho em equipe, onde as crianças
conseguem interagir entre si com maior facilidade, desde aquelas que são
mais tímidas. Para que uma dança venha obter um método didático e tenha
sucesso entre o grupo de alunos, torna-se necessário que todos os envolvidos
na sala de aula possam participar harmoniosamente com um único objetivo,
a participação, seja em ensaios, cantos, ritmos e etc. (LOURO, 2006).
A dança atende várias expectativas e propósitos, como formação de
hábitos, onde as atitudes e comportamentos podem ser transformados de
modo a melhorar a conduta da criança no sentido de torná-la mais cuidadosa
para consigo (PONSO, 2008).
Wajskop (2009) comenta que o professor deve criar estratégia de
ensino com uso da dança e da música para crianças das séries iniciais. O lúdico
conduz o aluno a um desenvolvimento cognitivo dado as interpretações
pessoais mais sentida naquilo que está sendo estudado.
70

Nisso, para a criança conseguir envolver-se nas aulas de Educação


Física é necessário criar um ambiente onde prevaleça a recreação associada
no mesmo ambiente com o recuso da música. A ludicidade envolverá a
aprendizagem por ser uma ação divertida de se aprender, ocasionando vários
fatores que atribuem novas perspectivas de desenvolver seu cognitivo de
forma mais eficiente (WAJSKOP, 2009).

Em síntese

A psicomotricidade possui uma estreita relação com o psiquismo em


todas as fases do desenvolvimento de um ser humano, na infância gera um
bom desenvolvimento motor que possibilita um bem estar físico devido as
atividades físicas.
A dança, assim como qualquer outra arte, acompanha
historicamente o desenvolvimento das pessoas no decorrer do seu
desenvolvimento como pessoa, possibilitando ao aluno realizar uma
movimentação corporal ampla.
Nesse sentido, utilizar a dança e a música nas aulas de Educação Física
à luz da psicomotricidade é fundamental, por estimular nas crianças a
aprendizagem motora, sensorial e cognitiva que irá ser fundamental para a
sua maneira de se relacionar não apenas consigo, mas também com as outras
pessoas e demais esferas de uma sociedade democrática onde o corpo é o
principal meio pelo qual interagimos na atualidade.

Referências

ALMEIDA, F. S. Que dança é essa?: uma proposta para a educação infantil.


2013.
ALVES, F. Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção. Rio de Janeiro: WAK,
2008.
BETTI, M.; ZULIANI, L. R. Educação física escolar: uma proposta de diretrizes
pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 1, n. 1, p. 73-
81, 2002.
71

BRÉSCIA, V. L. P. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São


Paulo: Átomo, p. 18-9, 2003.
CARVALHO, M. C. A importância da dança nas aulas de Educação Física–
Revisão Sistemática. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 11, n.
2, 2012.
COSTA, A. C. Psicopedagogia e psicomotricidade: Pontos de intersecção nas
dificuldades de aprendizagem. Rio de Janeiro: Vozes, 2002.
DARIDO, S. C. RANGEL, I. C. A. Educação Física na escola: implicações para a
prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2011.
FERNANDES, D. G. D. Psicomotricidade: conceito e história. Conexão
Eletrônica, Três Lagoas, v. 12, nº 1, 2015.
FONSECA, V. Psicomotricidade: perspectivas multidisciplinares. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
GAINZA, V. H. Estudos de Psicopedagogia Musical. 3. ed. São Paulo: Summus,
1988.
KLEINUBING, N. D.; DO CARMO SARAIVA, M; FRANCISCHI, V. G. A dança no
Ensino Médio: reflexões sobre estereótipos de gênero e movimento. Journal
of Physical Education, v. 24, n. 1, p. 71-82, 2013.
LE BOULCH, J. O Desenvolvimento Psicomotor: do nascimento aos 6 anos.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.
LOUREIRO, A. M. A. O ensino da música na escola fundamental. São Paulo:
Papirus, 2003.
LOURO, V. S. Educação musical e deficiência: propostas pedagógicas. São
José dos Campos, SP: Ed. Do Autor, 2006.
MILLER, J. Qual é o corpo que dança: dança e educação somática para adultos
e crianças. Summus Editorial, 2012.
MONTEIRO, C. S. N. A importância da psicomotricidade na educação pré-
escolar. 2015. Tese de Doutorado.
NOGUEIRA, L.; PALMA, A. Reflexões acerca das políticas de promoção de
atividade física e saúde: uma questão histórica. Revista Brasileira de ciências
do Esporte, v. 24, n. 3, 2003.
OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque
pedagógico. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
PONSO, C. C. Música em diálogo: ações interdisciplinares na educação infantil.
Sulina, 2008.
72

RODRIGUES, R. M. Conhecendo o mundo na escola: uma intervenção com a


dança na educação infantil. Cadernos de Formação RBCE, v. 6, n. 1, 2015.
SILVEIRA, E. F.; SILVA, M. C. Conhecimento sobre atividade física dos
estudantes de uma cidade do sul do Brasil. Motriz: Revista de Educação Física,
v. 17, n. 3, p. 456-467, 2011.
SURDI, A. C.; MELO, J. P.; KUNZ, E. O brincar e o se-movimentar nas aulas de
Educação Física Infantil: realidades e possibilidades. Movimento, v. 22, n. 2, p.
459-470, 2016.
WAJSKOP, G. A formação e a iniciação profissional e as implicações sobre a
qualidade do ensino. 2009.
73

JOGOS EDUCATIVOS, BRINCADEIRAS E O


DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA

Veronica Fernandes De Carvalho


Rafael Marques Garcia
Wilder Kleber Fernandes De Santana

Introdução

Os jogos educativos são conceituados como propostas de ensino que


possibilitam criar um desenvolvimento dos aspectos emotivo-cognitivos na
criança, ampliando os horizontes de seu pensar e do interagir, além de
assegurar a participação ativa na aula de Educação Física. os jogos e
brincadeiras faz parte da história e vida das pessoas.
Nas séries iniciais as crianças são estimuladas através do brincar,
afinal, o brincar se configura como atividade essencial que o indivíduo
reproduz, não se concretizando apenas por meio de uma prática grupal
(CORSARO, 2011; FREITAS, 2015). Os jogos educativos de memória, por
exemplo, contribuem para uma aprendizagem significativa, os alunos podem
ser estimulados a pensar e desenvolver a memória, principalmente nos jogos
de regras, é um suporte de apoio para o aluno aprender de forma prazerosa
e motivadora, onde o brincar passa a ter significado, objetivo e planejamento.
Conforme especifica afirma Fialho

A exploração do aspecto lúdico, pode se tornar uma técnica facilitadora na


elaboração de conceitos, no reforço de conteúdo, na sociabilidade entre os
alunos, na criatividade e no espírito de competição e cooperação, tornando esse
processo transparente, ao ponto que o domínio sobre os objetivos propostos
na obra seja assegurado (FIALHO, 2007, p. 16).

Ferramentas norteadoras em âmbito metodológico podem ajudar a


criança em seu processo de constituição, e quando aliadas ao ensino de
Educação Física, promovem a compreensão significativa de conteúdos e
competências, desenvolvidas através dos jogos e brincadeiras, é uma
ferramenta que pode ser utilizada pelo professor, como estratégias e prática
de ensino (FREITAS, 2015).
74

Negrine (2000) afirma que a capacidade lúdica de participação dos


alunos pode ser uma estratégia para criar uma atividade na qual a criança
aprende, brinca e participa ao mesmo tempo. Nesses vértices de
compreensão, quando o docente elabora estratégias de ensino para
desenvolver as potencialidades das crianças, é imprescindível
comprometimento e responsabilidade para que o aluno se sinta inserido,
minimizando suas dificuldades se apropriando de novos conhecimentos.
Nessas trilhas discursivas, objetivamos, com esse capítulo, discutir
sobre recursos pedagógicos que potencializam as atividades desenvolvidas
no horizonte de aplicação da Educação Física escolar.

Recursos pedagógicos e sua função no âmbito da Educação Física

Os recursos pedagógicos que atrelam a teoria à prática constituem


mecanismos propostos para melhorar a interação nas aulas de Educação
Física. Em um contexto de problematização em que a escrita pode conduzir a
reflexões sobre aprendizagens corporais e exercícios físicos, recorremos a
Ferreiro e Teberosky (2008, p. 183), as quais atestam que "todas as escritas se
assemelham muito entre si, o que não impede que a criança as considere
como diferentes, visto que a intenção que presidiu a sua realização era
diferente".
Assim, o espaço pedagógico cria um ambiente no qual as crianças
conseguem interagir e participar com recursos que chamam a atenção, com
isso, as cores e decoração podem promover um estímulo na realização dessas
atividades. Na ótica de Santos

A ludicidade é uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode


ser vista apenas como diversão”. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita
a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural [...], facilita os
processos de socialização, comunicação, expressão e construção do
conhecimento (SANTOS; 2011, p.12).

Por ser um modo diferenciado de mudar a rotina das atividades, a


ludicidade representa um estímulo à criança, possibilitando um meio do
brincar e aprender ao mesmo tempo. Nesse sentido, Friedmann (2006)
assegura que a criança consegue participar, de forma ativa, quando há
mudança de rotina, e muitas vezes torna-se necessário encontrar, na escola,
75

um ambiente adequado, aconchegante e decorado. Tais ações promovem


uma oportunidade de se aprender brincando, uma vez que “A ação que a
criança desempenha ao concretizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação
lúdica, relaciona-se diretamente com a maturação e não se confundem com o
jogo” (KISHIMOTO; 2011, p.26).
Através do lúdico, o professor de Educação Física tem a oportunidade
de desenvolver sua prática pedagógica inovadora, pois além de ampliar o
estímulo dos alunos nas atividades de maneira mais divertida, o professor
pode acomodar a rotina de ensino com interação entre os alunos,
aperfeiçoando o tratamento entre o grupo de estudante.
O professor deve procurar elaborar uma sequência de atividades
motivadoras, de acordo com o nível de desenvolvimento cognitivo do aluno,
com intuito de desafiá-lo, estimulando-os para um melhor interesse pelo que
está sendo ensinado em sala de aula (FREITAS, 2015). O uso de jogos e
brincadeiras permite que professores executem a práxis de ensino tornando-
as suas aulas mais dinâmicas, colaborando para que a aprendizagem se dê
facilmente, empregando o jogo adequadamente, o professor poderá
preparar várias estratégias auxiliando o planejamento com uso da ludicidade
nas aulas (CORSARO, 2011; FREITAS, 2015).
O jogo4 tem relação direta com a diversão, onde os recursos
pedagógicos podem tornar o processo de ensino e aprendizagem em um
momento divertido e prazeroso, a exemplo do alfabeto móvel, que exerce um
papel diferente no contexto de ensino com crianças com deficiência
intelectual. Para que essa atividade exerça um objetivo pedagógico e consinta
as expectativas de aprendizagem, faz-se necessário que o professor note
alguns aspectos envolvidos no ensino. Todo jogo é por princípio educativo,
mas aqui essa peculiaridade precisa ser destrinchada.
Como defende Goés,

[...] a atividade lúdica, o jogo, o brinquedo, a brincadeira, precisam ser


melhorados, compreendidos e encontrar maiores espaço para ser entendido
como educação. Na medida em que os professores compreenderem toda sua
capacidade potencial de contribuir no desenvolvimento infantil, grandes

4 O jogo de memória das emoções tem como objetivo ativar a memória, atenção, socialização e
reconhecimento das emoções apresentadas de maneira divertida. O jogo de memória das
emoções consegue trabalhar no comportamento e nas fases das emoções apresentados nesse
jogo, pode ser jogado individual e em grupo, dependendo da temática a ser conduzido, esse jogo
possuem peças a serem montadas imagens ou palavras.
76

mudanças irão acontecer na educação e nos sujeitos que estão inseridos nesse
processo (GOÉS; 2008, p. 37).

As emoções e o comportamento de crianças com necessidades


especiais são reconhecidos pelo jogo das emoções, além de ativar a memória
pela qual os símbolos são utilizados é parte essencial para promover uma
interação com o ambiente. Diante disso, devemos compreender que o
símbolo dado em cada peça do jogo propõe ser percebido pelos sentidos das
próprias crianças. Ele pode ser escrito, falado, visto ou ouvido, o importante
que cada imagem seja trabalhada de modo pedagógico, visando uma
aprendizagem de qualidade (AGGIO et al., 2014).

Os jogos educativos

Os jogos educativos ou didáticos são considerados uma estratégia


louvável na construção e formação do conhecimento, os quais promovem a
aprendizagem dos conteúdos, desenvolvendo o pensamento e levando a uma
participação ativa, diminuindo a ansiedade aumentando a autoestima
(BROUGÈRE, 1998).
Moratori (2003) reconhece que o professor de Educação Física deve
elaborar atividades que possam gerar a motivação no aluno para participar de
forma ativa, em que os jogos pedagógicos podem ser realizados por meio de
uma mediação direta com cada aluno. Só a partir desse momento estas
atividades podem ser trabalhadas em grupo, como forma de conhecer o
desenvolvimento cognitivo apresentado individualmente, possibilitando a
promoção da aprendizagem de forma específica, pois o jogo educativo
estimula a compreensão e a participação das atividades. Ainda segundo o
autor

O jogo se apresenta como uma atividade dinâmica que vem satisfazer uma
necessidade da criança, propiciando um ambiente favorável e que leve seu
interesse pelo desafio das regras impostas por uma situação imaginária, que
pode ser considerada como um meio para o desenvolvimento do pensamento
abstrato (MORATORI, 2003, p. 9).

Além disso, os jogos educativos estimulam o desenvolvimento


cognitivo, iniciando a criança em novos conhecimentos, favorecendo o
desenvolvimento das funções mentais e a aquisição dos conhecimentos
escolares como calcular, ler e escrever.
77

Por meios dos jogos, o aluno assimila o conhecimento pela


observação e pela manipulação, fazendo-se necessário que o professor
perceba a singularidade, as especificidades, as dificuldades e o ritmo de cada
um para poder atender as suas necessidades, devendo planejar os objetivos,
selecionando os materiais ou objetos que pretende usar, conduzindo,
orientando e informando, pois os jogos não trazem um saber pronto e
acabado. Conforme inferem Gomes e Almeida,

[...] Pensar na atividade lúdica enquanto meio educacional significa pensar


menos no jogo pelo jogo e mais no jogo como instrumento de trabalho, como
meio para atingir objetivos pré-estabelecidos. Através do jogo a criança fornece
informações, e isto pode ser útil para estimular o desenvolvimento integral da e
criança para trabalhar conteúdos curriculares (GOMES; ALMEIDA, 2001, p. 21).

É preciso atentar para os alunos com deficiência intelectual, que


precisam de um suporte de relevância significativa que favoreça o seu
desenvolvimento em níveis cognitivo, motor, afetivo e social, permitindo a
esses alunos reconstruir sua autonomia e independência.
Nos jogos simbólicos, acontece a identificação dos aspectos
apresentados pela criança, podendo apresentar uma compreensão do objeto
trabalhado, seja de forma real ou imaginário, o que ele retribui, através de
uma representação figurativa. Os jogos simbólicos, por constituírem uma
atividade lúdica, impulsionam a criança a adquirir diferentes conhecimentos,
possibilitando a compreensão da visão de mundo. Nessas instâncias,
recorremos a Macedo, para quem

Graças ao faz-de-conta, a criança pode imaginar, imitar, criar ou jogar


simbolicamente e, assim, pouco a pouco, vai reconstruindo em esquemas
verbais ou simbólicos tudo aquilo que desenvolveu em seu primeiro ano de vida.
Com isso, pode ampliar seu mundo, estendendo ou aprofundando seus
conhecimentos para além de seu próprio corpo; pode encurtar tempos, alargar
espaços, substituir objetos, criar acontecimentos. Além disso, pode entrar no
universo de sua cultura ou sociedade aprendendo costumes, regras e limites.
(MACEDO, 2004, p. 10).

O jogo, em seu aspecto pedagógico, apresenta-se produtivo ao


professor que busca nele sua própria exterioridade lúdica, podendo ser
realizado com atividades facilitadoras propostas no método de
aprendizagem. Nesse percurso argumentativo, há que se ter cuidado com o
processo de aprendizagem, pois crianças com deficiência intelectual podem
78

apresentar, em muitos casos, difícil assimilação, devido à sua competência de


pensar, dificultados por ações que impedem refletir, analisar, compreender,
levantar hipóteses, testá-las e avaliá-las com autonomia e cooperação
(FREIRE, 2003; FREITAS, 2015).

Jogos como instrumentos motivadores nas aulas de Educação Física

Quando falamos dos jogos educativos como instrumentos


motivadores para a aprendizagem, logo pensamos na interação desenvolvida
com a turma de alunos. Na disciplina de Educação Física, assim como em
qualquer outro campo de conhecimento, procuramos por meio da
interdisciplinaridade contribuir para que se compreendam os componentes
dos processos de ensino e aprendizagem desse horizonte de saber.
Atualmente, professores de Educação Física procuram incorporar
uma dinâmica contextualizada para criar uma motivação para participação
ativa da turma, procurando inovações pedagógicas. Nesse escopo
dimensional, além dos jogos educativos, é também disponibilizado, na escola,
o acesso tecnológico para aumentar o estímulo e levar a mudança de postura
do aluno em sala de aula (MARTINS; FENSTERSEIFER, 2009).
O jogo, assim como qualquer recurso pré-esportivo aplicado nas
aulas de Educação Física, está dentro dessa inovação, possibilitando uma
relação mais afetiva entre o professor, o aluno e o conhecimento, podendo
gerar maior impulso para que toda turma possa participar dos momentos
lúdicos durante a aula. Tal geratriz desperta a criatividade para novas
descobertas e torna os alunos valorizados, estimulados e motivados
(MARTINS; FENSTERSEIFER, 2009).
Percebemos que diante dessa nova realidade o professor de
Educação Física busca possibilitar novos conhecimentos teóricos e técnicos
promovendo autonomia ao aluno para realizar essas atividades, percebendo
que através dos jogos educativos, didáticos ou pedagógicos, sempre pode
haver um importante instrumento de ensino e aprendizagem em qualquer
fase da educação (MARTINS; FENSTERSEIFER, 2009).
Para aplicação de jogos pedagógicos está condicionado o estímulo e
a motivação para participação ativa. Diante disso, o professor deve elaborar
sua aula para promover a capacidade de constituir a autoestima do aluno,
desencadear condições psicológicas favoráveis para interação e participação
empregadas nas condições ambientais existentes na escola. Se não houver
79

essa interação entre professor, aluno e os demais participantes, a aula pode


parecer sem estímulo para que possam participar das atividades (BARACHO,
2012).
São vários os fatores que influenciam a motivação do aluno na aula
de Educação Física, dentre os quais o ambiente acolhedor é uma proposta
bastante pertinente. A utilização do jogo didático em grupos de alunos,
elaborado para o trabalho pedagógico na escola, promove o
desenvolvimento mecanismos interativos elaborados pelo planejamento.
Pequenos deslizes impossibilitarão a efetividade da práxis do conhecimento
(BARACHO, 2012).
Podemos afirmar, assim, que o lúdico deve ser utilizado em disciplinas
plurais, desde que seja bem trabalhado, na base da alteridade, para que
futuramente os alunos não apresentem grandes dificuldades pela falta de
desenvolvimento do pensamento lógico e abstrato.
A importância da motivação do aluno no uso de jogos está ligada ao
desenvolvimento de atitudes de convívio social, pois, a criança das séries
iniciais ao se relacionar e interagir em equipe ele supera pelo menos em parte
sua dificuldade de relacionar-se socialmente com os colegas de turmas.
Respaldados em Paro (1997), compreendemos que o professor de Educação
Física não pode subjugar sua metodologia de ensino a algum tipo de material,
isolando-o. Em contrapartida, é importante que o recurso usado para aula seja
accessível para todos de forma transdisciplinar. Desse modo, antes de
trabalhar com jogos em sala de aula, é preciso realizar diagnósticos e testes,
analisando e refletindo sobre os possíveis erros, bem como as potencialidades
de cada um (FREIRE, 2003; FREITAS, 2015).

Em síntese

Este capítulo buscou reacentuar o teor das atividades de Educação


Física, uma vez que precisa estar de acordo com o grau de desenvolvimento
de cada aluno. Por se tratar das séries iniciais, cada atividade deve priorizar a
motivação do aluno para participar e com isso ser incluído no meio social
escolar.
Portanto, as crianças devem participar das atividades na sala de aulas
e serem inseridas em uma metodologia lúdica, atreladas através de jogos e
brincadeiras, essa recreação possibilita a criança a aprender de forma
80

diferenciada por meio de novas práticas pedagógicas de forma segura e


atualizada.

Referências

AGGIO, N. M., DE ALMEIDA, J. H., CORTEZ, M. D., & DE ROSE, J. C. O papel das
emoções na aprendizagem do comportamento simbólico. Perspectivas Em
Análise Do Comportamento, v. 5, n. 1, p. 27-39, 2017.

BARACHO, A. F. O.; GRIPP, F. J.; LIMA, M. R. Os exergames e a Educação Física


escolar na cultura digital. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 34, n. 1,
p. 111-126, 2012.

BROUGÈRE, G. Jogo e educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

CORSARO, W. A. Faz de Conta, aprendizagem e infância viva. Revista Pátio:


educação infantil, ano IX, n. 27, p. 12-15, abr./jun. 2011.

FERREIRO, E. TEBEROSKY, A. Psicogênese da Língua Escrita. Trad. Diana


Myrian Lichtenstein et al. Ed. Artmed, Porto Alegre, 1999. Reimpressão 2008.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática
educativa. 28. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.

FREITAS, M. D. A importância do brincar na educação infantil. Monografia


(Licenciatura em Pedagogia) – Faculdade de Pará de Minas, Minas Gerais,
2015.

FRIEDMANN, A. O brincar no cotidiano da criança. São Paulo, SP: Moderna,


2006.

LIMA, A. C. M. Motivação nas aulas de Educação Física. Monografia


(Licenciatura em Educação Física). Faculdade de Ciências da Educação e
Saúde – FACES, 2013.

MACEDO, L. Faz-de-conta na escola: a importância do brincar. Revista Pátio,


Porto Alegre, p. 10, dez. 2003/ mar. 2004.

MARTINS, F. D; FENSTERSEIFER, P. E. Educação Física Escolar como


componente curricular: intenções e impasses. EF Deportes.com Revista
Digital, 2009.
81

MORATORI, P. B. Por Que Utilizar Jogos Educativos No Processo De Ensino


Aprendizagem? Trabalho da disciplina de Introdução à informática na
educação. Mestrado em Informática aplicada à Educação. Rio de janeiro:
Universidade Federal Do Rio De Janeiro (UFRJ), 2003.

PARO, V. H. Qualidade do ensino: saberes necessários à prática educativa. 10ª


Edição. Rio de Janeiro. Paz e terra, 1997.

SANTOS, M. O. S. Exercício físico e música: uma relação expressiva. Lecturas:


Educación física y deportes, n. 122, p. 11, 2008.
82

A EDUCAÇÃO FÍSICA E O (PRÉ) ESPORTE NA ESCOLA:


DEMARCANDO VOZES

Veronica Fernandes De Carvalho


Rafael Marques Garcia
Wilder Kleber Fernandes De Santana

Introdução

O ensino das habilidades motoras básicas, através de minijogos ou


jogos pré-desportivos, assume um papel extremamente significativo na fase
dos anos iniciais, pois pode criar uma rotina em que são priorizadas as regras
comportamentais, respeito e compreensão física e cognitiva. O pré-esporte
possibilita que as crianças adquiram conhecimentos de forma lúdica e
prazerosa, por ser relacionado no ambiente onde a recreação e as
brincadeiras possibilitam ser trabalhados os movimentos corporais, ainda
consegue explorar o cognitivo fazendo com que a mente possa interagir com
outros alunos envolvidos nessas atividades
Nesse sentido, a interação com outros envolvidos pode ajudar a
auxiliar o desenvolvimento do crescimento cognitivo e motor. Para Gallahue,
(2005) devem ser empregadas atividades lúdicas sem fins competitivos que
possam criar experiências e que essas ações sejam incorporadas a toda rotina
escolar. O pré-esporte é uma proposta pedagógica que influencia o aluno a
participar e estabelecer uma relação amigável com todos os praticantes.
A importância da prática pré-desportiva no contexto escolar é
explorada além dos benefícios na saúde física da criança, também pode
integrar o aluno no ambiente social, auxiliar alunos com problemas de
comportamentos por ser atividades conhecidas no desenvolvimento das
relações socioafetivas, cria meios de estabelecer uma comunicação com
todos os envolvidos, estabelecendo socialmente esse a criança a uma rotina
diferenciada (BURITI, 2001).
O professor é peça fundamental em qualquer prática pré-esportiva,
por se tratar de uma prática que envolve crianças é importante que seja
mediado para uma recreação e não voltada para a competição. Qualquer jogo
pré-esportivo tem o designo de criar um ambiente lúdico, a aula de Educação
83

Física em alguns casos, a exemplo de crianças que não obedecem às boas


regras de convivência consegue alcançar uma socialização com os demais
integrantes que se encontram interligados aos jogos trabalhados
Aqui, portanto, objetiva-se discutir sobre a sociabilidade em conexão
com a troca de vivências na escola, e como este processo mútuo enriquece a
aprendizagem da criança, contribuindo para a interação com todos os
envolvidos. Nesse sentido, a prática pré-desportiva encontra-se fortemente
presente na vida dos alunos desde a infância e durante estas atividades pode
gerar uma influência positiva no comportamento e na formação do próprio
sujeito humano. Discorreremos especificamente sobre a capoeira e o futsal,
não limitando nossas reflexões a apenas essas formas do movimento.

A Capoeira

A capoeira tem sua origem na cultura africana e esta modalidade


inclui a dança5, a música e o movimento corporal, os quais levam a criança a
descobrir novos movimentos baseados em multifacetadas representações
nas lutas (RODRIGUES, 2015).
O ritmo da musicalidade da capoeira conta com instrumentos que
cria uma harmonia musical com os movimentos com a própria sonoridade.
Quanto a melodia é composta por uma sucessão rítmica e bem ordenada de
sons, já a harmonia é a combinação simultânea e harmoniosa de sons,
enquanto o ritmo é a combinação dos valores no discurso musical, regulados
pela maior ou menor duração (RODRIGUES, 2015).
A capoeira passou por várias fases até ser reconhecida como
patrimônio brasileiro e mundial, e atualmente é considerada uma das
conquistas dessa arte, tendo alcançado lugar de destaque nas práticas físicas
escolares. Desse modo, pode ser trabalhada pelos professores de Educação
Física para interagir com a turma6, bem como facilitar a compreensão do
aluno sobre valores e respeito.

5A dança, por ser um dos conteúdos trabalhados nas escolas, é rica em movimentos e também
pode ser desenvolvida na escola por meio de parcerias no caso de escolas públicas, a qual cria
expectativas diferenciadas para as crianças, quando ensinada por um profissional que
desempenhe sua concretização de forma lúdica e divertida, sem competições (LE BOULCH, 1982).
A dança sempre está relacionada com a música essa relação estabelece meios de os alunos
conhecerem diferentes práticas voltadas ao esporte e à recreação (SOARES, 2014).
6 A dinâmica estabelecida com o público infantil é de extrema importância para todos os

envolvidos, e o educador pode usar o ambiente na escola, espaço no qual pode desempenhar
84

A capoeira é um esporte que envolve dança e ritmo de raízes


africanas, e o professor que proporciona o treino de capoeira na escola,
consegue mesclar a arte marcial, o esporte, a dança e a música, ainda
considerado um dos maiores símbolos culturais do Brasil. A capoeira nasceu
como forma de resistência dos africanos trazidos como escravos a partir do
século XVI. Então, nada mais justo do que valorizar a sua história na aula de
Educação Física (GONÇALVES JUNIOR, 2009).

Ilustração 05: Roda de Capoeira

Fonte: Gonçalves Junior (2009).

A imagem anteposta se trata de uma rodada de capoeira bastante


conhecida pela mídia e nos últimos anos empregadas nas aulas de Educação
Física como parte diversificada na fase escolar.
Nesse sentido, qualquer prática pré-esportiva que tenha o aspecto de
recreação gera mudanças de hábitos saudáveis ao cotidiano infantil.
Gonçalves Junior (2009) assegura que a capoeira pode ser uma proposta que
possibilita o aluno a desenvolver as habilidades motoras e corporais, por ser
um mecanismo que opera de forma positiva nas atividades físicas. Quando

alguns tipos de movimento que trabalham o sistema motor, trazendo a brincadeira associada a
atividades divertidas. Essa prática pedagógica requer um breve planejamento visando aplicar as
dinâmicas corretas para desempenhar o resultado esperado na aprendizagem (PIERI, 2011).
85

desenvolvidas para crianças, a capoeira contém suas particularidades, suas


possibilidades e linguagens.

O Futsal

No que diz respeito ao futsal, é um jogo esportivo coletivo que


promove meios de inclusão social e socialização, e pode ser desenvolvido já
na infância, a exemplo dos inúmeros projetos esportivos destinados a
crianças e adolescentes, principalmente para a comunidade carente
socioeconômica. A prática do futsal inicia-se durante as brincadeiras de rua,
no simples jogo de futebol amador, vôlei, corridas amadoras, entre outros
tipos de diversões esportivas onde crianças se divertem sem fim competitivo.
O futsal consegue atribuir novos olhares aos sujeitos que o praticam,
além de influenciar na socialização com outras pessoas que não fazem parte
do seu convívio diário, possibilitando a observação da noção de cultura
corporal do movimento (DARIDO, 2004). Nos últimos quinze anos se
destacou como modalidade potencial para o coletivo, visando uma melhor
interação em várias situações que envolvem modo de lidar com assuntos
referentes a modalidade feminino e masculino, assim como as diferentes
situações de classes sociais (BRACHT, 2005).
Para Betti e Zuliani (2002), o futsal7 é considerado uma modalidade
socializadora que impulsiona crianças e adolescentes em conflitos com a lei a
serem inseridos na sociedade. Diante disso, o pré-esporte resgata esses
jovens de situações que podem levar a uma conduta violenta e possibilita que
os participantes dialoguem e interajam com outras pessoas, além de
respeitar, obedecer às regras e atender decisões entre outras questões
(VIANNA; LUVISOLO, 2011).
O futsal permite que crianças e adolescentes melhorem a
compreensão de seu desempenho cognitivo-motor, permitindo que a partir
dos momentos práticos se obtenham um excelente domínio ético espaço-

7 O pré-esporte e, futuramente, o esporte, são considerados práticas indispensáveis na fase de


desenvolvimento, pois contribuem para saúde física e mental do praticante. Além de oferecer um
maior convívio social, o lazer é uma forma de diversão considerada principalmente para crianças
e adolescentes em situação de conflitos. Portanto, aos projetos esportivos são atribuídos vários
fatores que a auxiliam no desenvolvimento das crianças e adolescentes, atribuindo aos
participantes uma melhor educação além de possibilitar um aumento na autoestima dos mesmos,
ainda podendo permitir uma melhor qualidade de vida ao promover novos vínculos interacionais.
86

temporal. Adquire-se, assim, outras benesses, como rápida aceleração e


mudança de direção, em espaços reduzidos e compartilhados por adversários
e companheiros de equipe (RÉ; BARBANTI, 2006).
Nesse sentido, o futsal possibilita a interação dos múltiplos fatores
que compõem o desempenho do praticante, enquanto se pode promover
resultados positivos em relação à competitividade, podendo resultar em
melhor comunicação, liderança, disciplinaridade, emancipação; enfim, que
venha apresentar resultados positivos dentro de uma sociedade moderna
(ANTONIO; ALMEIDA, 2013).
Betti e Zuliani (2002) e posteriormente Batista (2014) acrescentam
que a práxis do futsal8 permite maior desempenho no raciocínio,
aprimoramento da agilidade corporal, bem como ações voltadas para
locomoção e movimentos bruscos, além de aumentar a autoestima, ainda
propõe uma interação social tanto com a família e também com a sociedade.
A proximidade dos adversários faz com que as ações tenham que
ocorrer de forma rápida e muitas vezes inesperada, motivo pelo qual os
movimentos automatizados e inflexíveis limitam as possibilidades de
desempenho (RÉ; BARBANTI, 2006). Quanto aos jogadores, devem possuir
uma abrangente capacidade de velocidade, além de uma dinâmica agilidade
de movimentos, contudo não se pode se esquecer do importante e excelente
domínio espaçotemporal que permite, assim, uma rápida aceleração e
mudança de direção, em espaços reduzidos e compartilhados por adversários
e companheiros de equipe (RÉ; BARBANTI, 2006).

Em síntese

Por meio deste manuscrito foi possível constatar que cada


modalidade esportiva convoca estratégias à necessidade do jogo, bem como

8A fase de mudança da criança para a adolescência pode ser um período difícil para os mesmos,
por ser uma fase complexa de várias mudanças e descobertas podem ser significativa no sentido
de novos conhecimentos, amizades, outros; da mesma forma pode ocorrer situações conflitantes
principalmente pelas várias transformações biológicas, psicológicas e sociais dos mesmos
(HORTA; SENA, 2010). Nesse sentido, o futsal é uma atividade esportiva que deve ser praticada
com o auxílio de profissionais como professores, técnicos e treinadores. Diante disso, a criança e
o adolescente praticantes dessa modalidade precisam se dedicar nas aulas de forma segura, cuja
faixa etária por estarem na fase de desenvolvimento corporal deve ser aplicados métodos que
priorize suas limitações físicas associadas às metas inclusas no futsal (MUTTI, 2003).
87

gera consequências positivas às crianças que o pratica. Em meio a isso, a


prática esportiva exige um forte empenho cognitivo durante a efetivação dos
fundamentos, e seu aperfeiçoamento se dá com o tempo, por meio de
esforço, perseverança e situações favoráveis (AZEVEDO, GOMES FILHO, 2011;
BATISTA, 2014).
Todos esses pontos devem ser vistos como atos específicos
promotores da interação entre os participantes em condições e situações
referentes ao jogo e, principalmente, na formação de sujeitos críticos.

Referências

ANTONIO, B. A.; ALMEIDA, M. A. B. Reflexão: a importância do esporte na


vida de crianças carentes. EFDeportes.com Rev. Digital, v. 17, n. 177, 2013.

AZEVEDO, M. A; GOMES FILHO, A. Competitividade e inclusão social por meio


do esporte. Revista Brasileira Ciências do Esporte, v. 33, n. 3, p. 589-603, 2011.

BATISTA, R. A atividade física tem grande influência positiva no tratamento


de crianças autistas. Maio 2015. Disponivel em:
http://www.gazetasetelagoana.com.br/maisnoticias/artigo-atividade-fisica-
tem-influencia-positiva-no-tratamento-de-criancas-autistas/ Acesso em: 05
jan. 2021

BETTI, M.; ZULIANI, L. R. Educação física escolar: uma proposta de diretrizes


pedagógicas. Rev. Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 1, n. 1, p. 73-81,
2002.

BRACHT, V. Sociologia crítica do esporte: uma introdução. 3ª ed. – Ijuí: ditora


Unijuí, 2005.

BURITI, M. S. L. Variáveis que influenciam o comportamento agressivo de


adolescentes nos esportes. In: BURITI, M. A. (Org.). Psicologia do Esporte.
Campinas: Editora Alínea, 2ª ed. 2001, p. 33-42.

CHIAVENATO, I. Recursos humanos. O capital humano das organizações. 9.


Ed. Rio de janeiro; Elsevier, 2009.

DARIDO, S. C. A educação física na escola e o processo de formação dos não


praticantes de atividade física. Revista Brasileira de Educação Física e
Esporte, v. 18, n. 1, p. 61-80, 2004.
88

GALLAHUE, D. Conceitos para maximizar o desenvolvimento da habilidade de


movimento especializado. Journal of Physical Education, v. 16, n. 2, 2005.

GONÇALVES JUNIOR, L. Dialogando sobre a capoeira: possibilidades de


intervenção a partir da motricidade humana. Motriz, p. 700-707, 2009.

HORTA, N. C.; SENA, R. R. Abordagem ao adolescente e ao jovem nas Políticas


Públicas de saúde no Brasil: um estudo de revisão. Physis Revista de Saúde
Coletiva, v. 20, n. 2, p. 475-495, 2010.

MUTTI, D. Futsal da iniciação ao alto nível. São Paulo: 2º Ed. Phorte, 2003.

RÉ, A. H. N.; BARBANTI, V. J. Uma visão macroscópica da influência das


capacidades motoras no desempenho esportivo. In: SILVA, L. R.
R. Desempenho esportivo: Treinamento com crianças e adolescentes. São
Paulo: Phorte, 2006.

RODRIGUES, R. M. Conhecendo o mundo na escola: uma intervenção com a


dança na educação infantil. Cadernos de Formação RBCE, v. 6, n. 1, 2015.

SOARES I. S. et al. fatores motivacionais para prática da capoeira. Revista


Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo Edição
Suplementar 1, v.8, n.46, p.369, 2014.

VIANNA, J. A. LOVISOLO, H. R. A inclusão social através do esporte: a


percepção dos educadores. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte
(Impr.) v. 25, v. 2, p. 285-295, 2011.
89

UNIDADE III
ESPELHOS DA APRENDIZAGEM
90

O QUE ALGUNS PROFESSORES COMPREENDEM


SOBRE A EDUCAÇÃO FÍSICA

Veronica Fernandes de Carvalho


Rafael Marques Garcia
Wilder Kleber Fernandes de Santana

Introdução

Neste capítulo, propomos trazer dados de 34 professores que atuam


nas redes pública e privada na disciplina de Educação Física no estado da
Paraíba, e essa discussão possibilitou adquirir maior compreensão da
ludicidade no processo de interação social de alunos de escola pública com
deficiência intelectual. É importante que possamos visualizar as
características dos professores para compreender melhor o que aplicam, sua
densidade metodológica e dentro de nossas particularidades, o que podemos
aproveitar como ensinamento para incorporação e implementação.
Nesse sentido, o presente manuscrito traz dados sobre questões
relevantes acerca dos sujeitos da pesquisa. São apresentados: a) o nível de
escolaridade dos professores; b) percentual de quantos docentes atuam em
escolas públicas e a na rede privada; c) Indicativo da modalidade de ensino,
ou seja, quantos atuam no Ensino Médio e quanto se presentificam no
fundamental; d) Quantos já atuam como docentes em escolas; e como um
adendo a questões qualitativo-interpretativas (DUARTE, 2002), que
conteúdos são, principalmente, abordados nas aulas de Educação Física.
A concretização desse capítulo ganha peculiar importância e
relevância quando entendemos os porquês e as especificidades da atuação
do professor de Educação Física (IMBERNÓN, 2000). Constitui-se como
valiosa a atribuição pedagógica que possibilita inserir o aluno nas práticas
esportivas a partir da necessidade de mudança. Nesse prisma, o professor é o
profissional que está em constante movimento (IMBERNÓN, 2000), e
entendemos que seja imprescindível que este especialize-se em alguma área
de conhecimento voltada para adesão de novas práticas educacionais, assim
como para a inovação em várias modalidades de pré-esportes desenvolvidos
de maneira lúdica, divertida e atraente (ROCHA, 2009).
91

Dados que dialogam: a importância dos sujeitos da pesquisa

O gráfico a seguir refere-se ao nível de escolaridade dos professores


entrevistados:

Gráfico 01: Nível de Escolaridade

Sobre o nível de escolaridade, dezoito (52,2%) dos professores


participantes possuem especialização em uma área do conhecimento.
Como demonstrado no gráfico anteposto, a maior parte dos
professores entrevistados são especialistas em algum campo de
conhecimento da educação, com novas qualificações para exercer a prática
de ensino, inscritas novas habilidades e diferentes competências. Para o
professor de Educação Física, observou-se a necessidade de o profissional
desenvolver uma aula dinâmica, o que corrobora a assertiva de Salles et al.
(2015) os quais apontam que, atualmente, o professor vem demarcando
presença em cursos de especializações, formação continuada, cursos de
aperfeiçoamento, entre outros.
O conhecimento do professor de Educação Física vai além da teoria e
a prática, como sabemos, se tratando de atividades esportivas todo professor
precisa ter um planejamento de suas aulas (IMBERNÓN, 2000), apesar de as
séries iniciais exigirem um método de ensino voltado para ludicidade e a
recreação, o que não diminui a qualidade da aprendizagem da criança, antes
está relacionando os conteúdos trabalhados nas aulas de Educação Física.
92

Pizani et al. (2016) defendem a importância da competência


profissional nas aulas de Educação Física desempenhadas nas escolas públicas
e privadas, apesar de serem dois ambientes diferenciados, na qual as escolas
públicas ofertam ensino voltado para inclusão do aluno através da Educação
Física, nesse sentido, as séries iniciais requerem um conhecimento específico
(MARTINS, 2014), assim como uma aula voltada a recreação e ludicidade.
A importância do nível de escolaridade do profissional torna-se
necessário para atuar na área de ensino, o que convoca a imprescindibilidade
de que habilidades e competências sejam constitutivas para compreender o
processo de ensino a crianças com diferentes especificidades educacionais
(REZER; NASCIMENTO, 2007). O pré-esporte/esporte devem estar
regulamentados por constantes mo(vi)mentos de inclusão, principalmente
para alunos que não conseguem interagir, nem apresentam estímulo e
motivação para participar das aulas de modo grupal ou até mesmo
individualmente.
A seguir, discutimos sobre o percentual de quantos docentes atuam
em escolas públicas e a na rede privada.

Gráfico 02: Atua em

Na questão especificação docente, dos 34 participantes, 17 (50%)


atuam em escolas públicas e a mesma proporção na privada.
O professor de Educação Física que atua em escolas públicas nem
sempre disponibiliza de recursos específicos para trabalhar com crianças nas
séries iniciais, contudo esse profissional deve usar de habilidade para elaborar
uma aula que consiga despertar a motivação e interação para o esporte. Para
93

isso, o professor precisa de habilidade para lidar com questões que possam
envolver um ensino dinâmico e criativo, cujas propostas de ensino
interdisciplinarizem a práxis pedagógica, sendo trabalhados, por exemplo, a
cultura musical de diferentes regiões e jogos educativos com atividades que
despertem o senso crítico da inclusão (FREITAS, 2008).
Tais ações promovem a criação de um ambiente de participação e
interação com todos envolvidos na aula de forma dinâmica e renovadora. A
seguir, é disposto um gráfico que explana o indicativo da modalidade de
ensino, ou seja, quantos atuam no Ensino Médio e quanto se presentificam no
fundamental.

Gráfico 03: Modalidade de Ensino

Quando perguntados sobre a modalidade de ensino, seis (17,6%) dos


professores ensinam na modalidade nos Anos Iniciais.
Sendo assim, Darido (2003), em estudos desenvolvidos através de
um projeto educacional para alunos das séries iniciais que apresentam
problemas comportamentais, reconhece que o professor de Educação Física
é um profissional competente para elaborar uma aula dinâmica e conseguir
levar os alunos a apresentar estímulo e autodeterminação para interagir com
outros envolvidos.
Diante disso, corroborando essa propositura, Aguiar e Duarte (2005)
asseguram que o esporte tem o papel socializador na disciplina de Educação
Física. Às séries iniciais, deve-se ser regulamentado e desenvolvido por meio
de atividades que consigam integrar o aluno na sociedade, de forma que as
94

brincadeiras em grupos promovam interação responsiva entre todos os


envolvidos na aula.
A Educação Física faz parte do núcleo comum das matérias a serem
desenvolvidas na educação básica. Entendemos, então, que no decorrer
deste estudo, o contexto escolar é constitutivo dos recursos pedagógicos
usados na elaboração e no desenvolvimento da aula, haja vista que a gestão
escolar tem, por uma de suas funções, de promover uma motivação nas
crianças para que estejam realizando atividades promotoras (PIZANI et al.,
2016).
Brito et al. (2012) respaldado nos postulados vygotskyanos,
argumenta que a interação é um forte mecanismo de convencimento para
criar uma participação ativa com outras crianças. Diante disso, a disciplina de
Educação Física torna-se um elemento amplo e complexo, que impulsiona o
professor de Educação Física para agir por meio de atos concretos e
responsáveis. É necessário, desse modo, empenho para elaborar e
desenvolver atividades que apresentem uma performance plurissêmica e
dialógica (REZER; NASCIMENTO, 2007; MARTINS, 2014).

Gráfico 04: Professor de Educação Física?

Sobre os participantes, trinta e um (91,2%) são professores de


Educação Física. O processo de ensino e aprendizagem na Educação Física nas
séries iniciais é compreendido por Mattos (2011) como um horizonte povoado
por sujeitos interagentes, os quais conseguem levar a criança a participar das
atividades que ampliam seu horizonte de visão cultural.
95

Algumas habilidades psicofisiológicas são potencializadas durante a


recreação, devido ao fato de que são trabalhados movimentos corporais, e
nesses momentos também pode ser destacados aspectos motores e
cognitivos da criança. Observa-se, nessa cadência gradativa de inteligências
que são adquiridas pelas crianças, que a postura do professor de Educação
Física está excedendo conhecimentos puramente teóricos (DARIDO, 2003;
MARTINS, 2014).
A prática por sua vez consegue condensar a realidade perceptiva no
ambiente educacional. As crianças edificam-se por meio de metodologias
apuradas e responsivas, segundo Tardif (2002), pois este argumenta que o
professor, mesmo possuindo vasta experiência, deve procurar especializar-se
em áreas específicas para atender às necessidades educacionais dos alunos.
Assim, os aspectos que mais podem influenciar a participação do aluno nas
aulas de Educação Física escolar nas séries iniciais são consagrados em uma
práxis inovadora e dinâmica.
Eis, a seguir, o gráfico 5, o qual discute sobre conteúdos dispostos em
sala de aula.

Gráfico 05: Aplica quais os conteúdos abordados nas aulas de Educação Física?

Quando perguntados sobre os conteúdos abordados nas aulas de


Educação Física, doze (35,3%) dos professores participantes afirmaram que
usam frequentemente aulas voltadas ao esporte, dança, ginástica e jogos
educativos.
Para Junior (2000), na aula de Educação Física os professores podem
improvisar uma modalidade de esporte realizada com a divisão de equipes,
96

levando as crianças a interagirem umas com as outras. Entretanto, seja qual


for a prática esportiva, não pode ter fins competitivos, pois, por se tratar das
séries iniciais, a o esporte deve ser unicamente para recreação e de modo
lúdico (o pré-esporte). Já Rocha (2009) recomenda que as aulas de Educação
Física nas séries iniciais não sejam desenvolvidas por meio de estudos
teóricos, antes esse professor deve levar os alunos para interagir por meio de
jogos, esporte, brincadeiras, entre outras questões que busque estimular a
sua participação ativa. Nesse ponto de vista, o professor de Educação Física
pode usar diferentes ambientes e mecanismos pedagógicos para o
desenvolvimento da sua aula, sendo pertinente que os alunos sejam
participantes ativos das atividades.
Quanto ao esporte na escola, ressalte-se que este campo ideológico
tem impulsionado a aula de Educação Física, uma vez que crianças das séries
iniciais são motivadas a participar das atividades esportivas por ser um
momento alegre que, se bem trabalhado, gera satisfação (ZAGO; GALANTE,
2008).

Em síntese

Torna-se notório, por meio dessa pesquisa, que para decorrência


concreta da Educação Física, o professor deve usar o espaço da escola para
promover ou favorecer meios de inclusão com todos envolvidos através das
atividades realizadas durante as brincadeiras. Além disso, torna-se
imprescindível que sempre esteja em busca de processos de qualificação e
aperfeiçoamento para poder desenvolver mecanismos tecnológicos em seu
rito docente, resultando em processos de integração com o alunado.

Referências

AGUIAR, J. S.; DUARTE, É. Educação inclusiva: um estudo na área da Educação


Física. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 11, n. 2, p. 223-240, 2005.

BRITO, A. K. A.; SILVA, F. I. C.; FRANÇA, Nanci Maria de. Programas de


intervenção nas escolas brasileiras: uma contribuição da escola para a
educação em saúde. Saúde em Debate, v. 36, p. 624-632, 2012.
97

DARIDO, S. C. Educação Física na escola questões e reflexões. Rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2003.
DUARTE, R. Pesquisa qualitativa: reflexões sobre o trabalho de campo.
Cadernos de pesquisa, n. 115, p. 139-154, 2002.

FREITAS, N. K. Social and educational inclusion: the process and the students'
evaluation. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação, Rio de
Janeiro, v. 16, n. 60, July/Sept. 2008.

IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e


a incerteza. São Paulo: Cortez, 2000.

MARTINS, C. L. R. Educação Física Inclusiva: Atitudes dos Docentes.


Movimento, Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 637-656, abr./jun. 2014.

PIZANI, J. et al. (Des) motivação na Educação Física escolar: uma análise a


partir da teoria da autodeterminação. Revista brasileira de ciências do
esporte, v. 38, n. 3, p. 259-266, 2016.

REZER, R; NASCIMENTO, J. As novas diretrizes curriculares a regulamentação


e o processo de formação–apontamentos para o campo da Educação Física
Brasileira. In: Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte. 2007. p. 1-10.

ROCHA, C. C. M. A motivação de adolescentes do ensino fundamental para a


prática de Educação Física escolar. Tese (Doutorado em Educação Física).
2009.

ZAGO, N; GALANTE, R. C. Educação Física no Ensino Médio: concepções e


reflexões. In: II Seminário de Estudos em Educação Física Escolar, 2008, São
Carlos. Anais. São Carlos: CEEFE/UFSCar, 2008, p.375- 392.
98

REFLEXÕES ANALÍTICAS SOBRE A APRENDIZAGEM


DISCENTE

Veronica Fernandes De Carvalho


Rafael Marques Garcia
Wilder Kleber Fernandes De Santana

Introdução

A Educação Física gera uma interação motivada pelo desejo de


participar da brincadeira (FRIEDMANN, 2006), e a recreação também
ocasiona mecanismos para trabalhar com diferentes atividades lúdicas,
criando um ambiente de cumplicidade entre aluno e professor, tornando um
ato de educar e aprender, capaz de motivar o desejo de participação trazendo
uma aprendizagem voltado para o compromisso e o respeito, de ambos
envolvidos. Aqui, portanto, nosso objetivo consiste em debater sobre a
aprendizagem discente, no sentido de analisar a percepção dos docentes
sobre a ocorrência e aquisição do conhecimento.

Educação Física e a aquisição da aprendizagem

Exponha-se o gráfico 1:
Gráfico 01: Você acredita que a Educação Física influencia a motivação na
aprendizagem dos alunos?
99

Analisando-se os resultados do gráfico 01, quando perguntados


sobre a influência da Educação Física na motivação e na aprendizagem dos
alunos, vinte e seis (76,5%) docentes responderam que o processo de ensino
emprega valores, disciplina e respeito ao próximo. De maneira congruente,
também indicaram que esse campo de conhecimento corrobora o
desenvolvimento de companheirismo, sociabilidade e aceitação, ajuda a
desenvolver a movimentação corporal envolvendo várias áreas educacionais
(FREIRE, 1991).
Os professores interrogados concordam que o corpo docente
precisa ser dinâmico, ativo e voltado para a compreensão do universo dos
alunos; a metodologia utilizada deve envolver o aluno no processo, tornando-
o participante. A Educação Física acontece no ativismo responsivo dos
sujeitos, e se os alunos permanecem apenas como observadores, não
adentram às experiências proporcionadas pelo tato corporal (SILVA; ROSA,
2008; LIMA, 2013).
Por outro lado, cabe refletir que uma das variáveis que induz à evasão
é a prática de professores que tornam os alunos inativos, estáticos,
observadores distantes. Nesse sentido, o professor deve entender que em
cada atividade relacionada ao uso dos jogos, torna-se necessária uma
intervenção para que a criança possa adquirir uma aprendizagem significativa
(FERNÁNDEZ, 2001; LIMA, 2013). Quanto a elementos essenciais ao trabalho
com Educação Física, exponha-se o gráfico 2:

Gráfico 02: Em sua opinião, a motivação, interação e autodeterminação são


mecanismo essenciais para o professor trabalhar a Educação Física nos anos
iniciais?
100

A partir dos dados averiguados, constatou se que a motivação,


interação e autodeterminação são mecanismos essenciais nas atividades de
Educação Física, podendo impulsionar a participação das atividades físicas
relacionadas os alunos e professores (ENGELMANN, 2010). A grande maioria
respondeu que sim por compreenderem que tais aspectos podem e devem
ser trabalhados em sala de aula, e que estão permeados por fatores
psicológicos.
Alunos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem e que
assumem a postura de protagonistas contribuem para um alto índice de
aprovação; de modo semelhante, professores que atuam de forma dinâmica,
buscando uma metodologia inovadora, favorecem a atuação do aluno pela
busca por melhores resultados. É nessa arena semântica que as séries iniciais
do ensino fundamental podem ser potencializadas em todos os parâmetros
ético-estéticos de ensino para provimento das atividades. Passemos, agora ao
desempenho dos alunos nas aulas de EF.

Gráfico 03: Como você avaliar a motivação no desempenho de seus alunos


nas atividades nas atividades de Educação Física?

Considerando-se os resultados por meio dos quais os quatorze


(41,2%) participantes reconhecem que o bom desempenho esportivo dos
alunos nas atividades de Educação Física deve ser priorizado, entendemos
que, para que o aluno desenvolva um bom desempenho, torna-se mister que
o docente também estabeleça relações amigáveis com seu alunado
(ENGELMANN, 2010).
101

Os critérios da responsabilidade e da racionalidade servem como


auxílio às práticas pedagógicas e não podem de maneira alguma ser
ignorados pelos docentes quanto às diferenças existentes entre os alunos. O
papel do professor no tocante à alteridade é muito importante, como afirma
Bzuneck (2001), que argumenta sobre o aspecto psicoeducacional, por meio
do qual se torna possível desenvolver interação continuada e manter a
motivação direcionada à participação.
A responsivização promove associação ao desenvolvimento das
características psicológicas típicas do aluno (VYGOTSKY, 2010), e esta
encontra-se relacionada às atitudes racionais, informações, valores,
habilidades e outras questões que possam resultar na participação ativa do
aluno. Tais fatores promovem a interação e o compartilhar nas atividades
escolares, em que a disciplina passa a ser enformada como uma virtude,
construída nos processos sociocorporais que se dão para além dos muros da
escola (BZUNECK, 2001).

Educação Física e os entremeios: para além da subjetividade

Para promover a motivação e a participação do aluno, é necessário


que o professor compreenda a importância da motivação no processo de
aprendizagem, além de possibilitar a inclusão do aluno no esporte e nas
práticas pedagógicas.
Apesar de a disciplina de Educação Física ter o esporte como
atividade mais difundida, nas séries iniciais se requer uma sequência de
atividades promovidas com o uso de recreação e ludicidade. Nesse sentido, a
escola deve disponibilizar de um espaço público adequado para tais
atividades, ela abrange seu quadro de atividades através da dança, como
exemplo da capoeira e aos jogos pedagógicos visando motivar e estimular o
aluno para participar das atividades (LUCK, 2008).
Assim como o espaço físico pode proporcionar uma aula fácil e
acessível que promova a participação do aluno, o professor deve apresentar
habilidades e conhecimentos para desenvolver atividades de modo que essa
aprendizagem seja reconhecida como uma ação atraente de participar. Os
cursos de capacitação e formação continuada dão embasamento para que
sejam elaboradas aulas dinâmicas e motivadoras (MATOS, 2005).
Uma proposta bastante utilizada na escola pública é a utilização da
quadra, podendo também ser usado o pátio, a sala de aula, as praças, entre
102

outras opções que podem levar o aluno a sentir-se motivados, quanto as


também atividades corporais podem ser usado a dança, pois a disciplina de
Educação Física não se restringe apenas a quadra de esportes, os jogos
pedagógicos e as brincadeiras também é capaz de possibilitar ao educando
formas de expressão da sua cultura e de suas vivências sociais, afetivas e
motoras, sejam estes espaços, quadras esportivas, salas, pátios, entre outros
(MATOS, 2005).

Em síntese

As diversas atividades podem ser sugeridas na aula de Educação


Física, como exemplo jogar, brincar ao ar livre, em grupo, individual, entre
outras formas que podem ser adequadas as necessidades educacionais da
criança, os professores precisam de um lugar onde possam conversar e
trabalhar em equipe, um espaço para guardar seu material e realizar as
atividades associadas ao ensino. Nesses diferentes espaços da escola,
realizam as diversas tarefas que lhes compete9 (ALMEIDA, 2013).
Em termos não findos, importa mencionar que adotar uma aula
embasada na criatividade requer do professor competência e habilidade
profissional. Essa capacidade de criar e/ou recriar deve partir de um processo
responsável que deve reunir condições para desenvolver uma aula eficiente
em que possa estimular a motivação, interação e participação do aluno na
constituição do evento-aula-acontecimento.

Referências

ALMEIDA, P. N. Educação lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. 11. ed. São


Paulo: Loyola, 2013.

9 Nesse sentido, observa-se a importância da organização do espaço escolar e seus


desenvolvimentos para o ensino da Educação Física. Esse ato responsivo ainda é uma questão de
suma importância que influencia diretamente na dinâmica das aulas. Sobre a percepção político-
pedagógica, cabe à equipe gestora e à administração da escola tentar solucionar problemas
estruturais no ambiente escolar. A educação implica em políticas públicas mais amplas e
substanciais em termos de investimentos financeiros (SOUZA; LIMA, 1998).
103

FERNÁNDEZ, A. Os idiomas do aprendente: Análise das modalidades


ensinantes com família, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre:
Artmed Editora, 2001.

FREIRE, J. B. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e Prática da Educação


Física. São Paulo: Scipione, 1991.

LIMA, A. C. M. Motivação nas aulas de Educação Física. Monografia


(Licenciatura em Educação Física). Faculdade de Ciências da Educação e
Saúde – FACES, 2013.

LUCK, H. Dimensões da gestão escolar e suas competências. PR, Curitiba: Ed.


Positivo, 2009.

MATOS, M. C. A Organização espacial escolar e as aulas de Educação Física.


Rio de Janeiro, 2005. Universidade Federal do Rio de Janeiro.

ENGELMANN, E. A motivação de alunos dos cursos de Artes de uma


universidade pública do norte do Paraná. Dissertação (Mestrado em
Educação). Universidade Estadual de Londrina, Centro de Educação
Comunicação e Artes, Programa de Pós-Graduação em Educação. Londrina,
2010.

SILVA, Q.; ROSA, M. V. Análise de estratégias metodológicas das aulas de


dança improvisação na Educação Física infantil. Motrivivência, v. 20, n. 31, p.
66-78, 2008.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2010.


104

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: DA REFLEXÃO À


CONSTITUTIVIDADE

Veronica Fernandes De Carvalho


Rafael Marques Garcia
Wilder Kleber Fernandes De Santana

Introdução

Refletir sobre os posicionamentos assumidos por profissionais


brasileiros nos reporta à postura representada por docentes de Educação
Física nos anos iniciais da educação básica. A partir do empenho em dinamizar
estudos, jogos e brincadeiras na Educação Física, reconhece-se a
imprescindibilidade do fator comunhão para desenvolver uma aula dinâmica
e eficiente.
Nesse sentido, aqui são tecidas considerações sobre a
constitutividade da Educação Física escolar por meio de metodologias
docentes eficazes. Torna-se bastante propício para profissionais da Educação
conhecer a importância do professor como motivador nas atividades lúdica,
bem como os conhecimentos de professores da rede pública ou privada, os
quais reconhecem a exotopia corporal da Educação Física.

Interação e constitutividade na Educação Física

A importância do conhecimento sobre a teoria de Maslow, por


exemplo, propõe um embasamento sobre a motivação do aluno (BIDUTE,
2001; BORUCHOVITCH; BZUNECK, 2004) como um mecanismo de interação
na aula de Educação Física. De modo congruente, Vygotsky (2004) afere que
a interação é balizada como importante base para a instauração de
mecanismos nas atividades, importantes para nortear a prática docente.
Diante disso, visando compreender as questões que possibilitam uma
reflexão amplificada sobre o processo de ensino nas aulas de Educação Física,
são bastante significativas as contribuições dos jogos educativos usados
como recursos pedagógicos, bem como o saber tecnológico, o qual trouxe
novos prismas de interação social e da participação das atividades realizadas
105

– esportivas – como ferramentas de aprendizagem, mesmo sendo entendidas


como parte de processos como recreação e ludicidade (BERGAMINI, 2006).
Observa-se que o professor de Educação Física é o sujeito
responsável por intervir no processo de aprendizagem do aluno que se
encontra desmotivado, sem desejo de participar do desenvolvimento da aula,
como um mediador entre o aluno e o ensino proposto. Nesse esteio
argumentativo, as atividades devem ser elaboradas para que possa promover
estímulo e motivação para a criança (BZUNECK, 2002).
A escola disponibiliza dos recursos necessários para ser elaborada
uma aula eficiente, entretanto, o professor de Educação Física deve
compreender seu papel no processo de ensino, sabendo que motivar o desejo
da criança para participar da aula ainda é um grande desafio, mesmo a escola
possuir um espaço adequado e os mecanismos para realizar uma aula eficaz,
ainda é necessário que haja o desejo para participar da dinâmica da aula.
Nesse sentido, o conhecimento científico e as experiencias práticas são
elementos essenciais para desempenhar suas atribuições profissionais, a
experiência pedagógica com crianças é importante para o docente, pois por
meio do seu trabalho cotidiano na escola consegue compreender o
comportamento do aluno e as situações que desencadeiam o desejo de
participar da aula.
O exercício docente é importante conhecer o comportamento dos
alunos de forma mais aprofundada, dando condições os diferentes aspectos
apresentados no comportamento e como a motivação e a interação é
importante nesse processo.
Ressaltamos a importância da ludicidade como prática de ensino na
aula de Educação Física, e como é importante que a escola e os profissionais
envolvidos na educação desses alunos possam criar parcerias com a família,
comunidade e com outras áreas de atuação, como o exemplo do
psicopedagogo, no campo da saúde, entre outros.

O fator consciência: a alma que fala

A Educação Física deve desenvolver, por meio da consciência, a


importância do movimento motor, assim a aula deve promover a interação
por ser, aquela, considerada um horizonte de práticas inclusivas que
possibilita valorizar a importância no desenvolvimento dos sujeitos
envolvidos. A interação e a motivação podem influenciar a inclusão dos alunos
106

nas práticas recreativas na aula nos anos iniciais e nossas ações são de
extrema importância para que o aluno possa sentir-se estimulado a participar
da aula (AGUIAR; DUARTE, 2005).
Os professores de Educação Física conseguem articular e
desenvolver atividades mediadas por recursos voltados para ludicidade,
demostrando a importância da contribuição conjunta, dialogal (ARROYO,
2010). Ainda cabe destacar que na escola pode ser usada diferentes espaços,
sala de aula, quadra, pátio, entre outras localidades, a equipe pedagógica
pode auxiliar nas programações de brincadeiras, jogos e esportes, sendo
necessário haver uma elaboração de um planejamento curricular baseado na
ludicidade para que possa contemplar suas dificuldades cognitivas,
comunicacionais e sociais dialogal (ARROYO, 2010).
O diálogo estabelecido entre disciplinas e campos teóricos visa à
necessidade de maior capacitação e participação do aluno nas séries iniciais.
Nessa direcionalidade, o professor de Educação Física precisa elaborar os
objetivos propostos na aula para direcionar a melhor forma de desenvolver o
conteúdo programado, para que sejam estabelecidos os saberes com o rigor
do raciocínio necessário de forma específica (LIMA, 2013).
Quando o aluno já tem o conhecimento de certo recurso pedagógico,
torna-se capaz de representar as primeiras relações com os objetos que o
representam, bem como habilita-se a distinguir que signos são desenvolvidos
por fatos e não mantém semelhanças representativas com os objetos. Nesse
intercaminho, o professor de Educação Física, como mediador do
conhecimento, tem a missão de estimular o pensamento espontâneo da
criança. Segundo Piaget, em uma das suas afirmações diz que a finalidade da
educação deverá ser a de desenvolver a autonomia da criança, que é
indissociavelmente social, moral e intelectual (LIMA, 2013).
Portanto, o professor de Educação Física é um profissional que
apresenta habilidades teóricas e práticas para desempenhar um ensino de
qualidade, torna-se necessário dialogar com o aluno e desenvolver atividades
que possam estimular o interesse do aluno. Por serem alunos dos anos iniciais,
é necessário mudar sempre a rotina no modo de ensinar as atividades além
de elaborar um método de ensino com práticas pedagógicas inclusivas que
possa inserir o aluno a uma rotina saudável criando meios pedagógicos
facilitadores e prazerosos para que seja possível uma aprendizagem de
qualidade (DALLABONA, 2004; DARIDO; RANGEL, 2011).
107

A criança, quando passa a compartilhar atividades em grupos,


também começa a interagir de forma livre e espontânea, tornando mais fácil
a repetição de exercícios, no caso da dança os movimentos corporais, que
trazem vários benefícios ao desenvolvimento psicomotor de toda e qualquer
pessoa.

Na educação infantil, a prioridade deve ser ajudar a criança a ter uma percepção
adequada de si mesma, compreendendo suas possibilidades e limitações reais e
ao mesmo tempo, auxiliá-la a se expressar corporalmente com maior liberdade,
conquistando e aperfeiçoando novas competências motoras” (ALVES, 2008, p.
131).

Que professores possam compreender a importância da motivação e


interação na aula de Educação Física, corroborando as questões embasada
nessa pesquisa. As lentes dos estudos críticos contemporâneos explanam que
a criança tem como característica principal o desejo de participação na aula, e
seu comportamento apresenta diferentes especificidades do campo do
conhecimento da Educação Física desde a infância (GALVÃO, 2002). Para isso,
torna-se importante o professor trabalhar os aspectos cognitivos, sociais,
afetivos e motores da criança (ARROYO, 2010).

Considerações finais

A inclusão do aluno nas atividades escolares representa um papel


importante na convivência escolar, e gradativamente são gestadas situações
que oportunizam esse processo, se aproximando e gerenciando um diálogo
de modo que possa levar o aluno a participar com outros envolvidos.
Professores que lecionam na Educação Física devem especializar-se
em áreas específicas para desenvolver novas habilidades e para lidar com
alunos das séries iniciais. Apesar das dificuldades existentes, o processo de
inclusão da criança no esporte requer o empenho e envolvimento no
processo de aprendizagem, com isso, é possível desenvolver uma prática
pedagógica, que possa estimular a participação na aula (AGUIAR; DUARTE,
2005).
108

Referências

AGUIAR, J. S.; DUARTE, É. Educação inclusiva: um estudo na área da Educação


Física. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 11, n. 2, p. 223-240, 2005.

ARROYO, M. G. Experiências de inovação educativa: o currículo na prática da


escola. 12ª ed. In: MOREIRA, A. F. B. (org.) Currículo: políticas e práticas.
Campinas, SP: Papirus, 2010. p. 131-164.

BERGAMINI, C. W. Motivação nas Organizações. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2006.

BIDUTTE, L. C. Motivação nas aulas de Educação Física em uma escola


particular. Psicologia escolar e educacional, v. 5, n. 2, p. 49-58, 2001.

BORUCHOVITCH, E.; BZUNECK, J. A. A Motivação do Aluno: Contribuições da


Psicologia Contemporânea. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

BZUNECK, J. A. A motivação do aluno: aspectos introdutórios. In:


BORUCHOVITCH, E.; BZUNECK, J. A. (Orgs). Motivação do aluno. Petrópolis:
Vozes, 2002.

DALLABONA, S. R. O lúdico na educação infantil: jogar, brincar, uma forma de


educar. Revista de Divulgação Técnico-Científica do ICPG, v. 1, n. 4, jan-
mar/2004.

DARIDO, S. C. RANGEL, I. C. A. Educação Física na escola: implicações para a


prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

GALVÃO, Z. Educação Física escolar: a prática do bom professor. Mackenzie


de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 65-72. 2002.

LIMA, A. C. M. Motivação nas aulas de Educação Física. Monografia


(Licenciatura em Educação Física). Faculdade de Ciências da Educação e
Saúde – FACES, 2013.

Você também pode gostar