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FONSECA
DIRETORIA DE ENSINO
CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO DE TURISMO
DISICPLINA: TECNOLOGIAS DE PLANEJAMENTO
PROFESSOR: AMBROZIO QUEIROZ E NATÁLIA MELO
Caro(a) aluno(a),
Nesta aula você aprenderá sobre o Planejamento Estratégico Situacional – PES. Esta
técnica de planejamento, desenvolvida pelo chileno Carlos Matus, se apresenta como instigante
desafio para aqueles que visam empregar um modelo que leva em consideração as
contingências da realidade que vivemos, cada vez mais dinâmica e voraz.
CARLOS MATUS (1993) afirma que planejar é tentar submeter o curso dos
acontecimentos à vontade humana:
MATUS entende que planejar é tornar uma variante em opção. Assim, considera que o
planejamento permite-nos lidar com as surpresas, reagindo com velocidade ante o imprevisto,
não de forma improvisada, mas com capacidade de corrigir o cálculo sobre o futuro. É por isto
que ao não existindo a capacidade de planejar, passamos a improvisar.
O planejamento e a ação devem ser inseparáveis. Pois o plano é o calculo que precede e
preside a ação. Se não a preceder, o plano é inútil porque chega tarde. E se chega a tempo, mas
não a presidir, o plano é supérfluo. Por sua vez, a ação sem cálculo que a preceda e presida é
mera improvisação.
Nos termos em que o PES o formula, o planejamento moderno não se propõe a adivinhar
ou predizer o futuro, que é e sempre será desconhecido para nós; como a ação dos jogadores da
seleção inglesa. O planejamento visa à preparação para que se tente criar o futuro, a partir das
possibilidades que sejam capazes de imaginar e descobrir. À medida que se age com convicção
e eficácia, cria-se algo do futuro e, além disso, torna-se capaz de fazer melhores previsões
acerca das suas possibilidades.
Segundo MATUS, entende-se situação “como um espaço de produção social onde o ator-
eixo da explicação situacional desempenha um papel, assim como os outros atores (incluindo os
seus oponentes) e, onde tudo o que ocorre em termos de produção social depende do ator-eixo
e dos outros atores, em interação com o cenário que os envolve a todos”.
Na visão proposta por MATUS, a realidade não é a mesma, e, portanto não pode ter a
mesma explicação por parte dos diferentes atores sociais que ocupam situações diferentes no
dado sistema explicado. É necessário nesse caso o ator-eixo deve estar atento as seguintes
variáveis:
Cada momento do plano e o plano em seu conjunto são desenvolvidos por esses
momentos (Figura 1):
Cada momento, quando dominante, contém todos os outros, nos quais apóia seu
cálculo;
Eles se repetem constantemente, mas com distintos conteúdos, propósitos, datas,
ênfases e contextos situacionais;
Para cada momento existem instrumentos metodológicos que lhe são mais
pertinentes, embora nenhum instrumento destine-se ao uso exclusivo de um
momento específico.
I - O Momento Explicativo
Os problemas são inicialmente organizados pelo autor diretor, responsável pelo plano.
Tais problemas devem ser selecionados para serem enfrentados segundo três critérios:
I. O valor dos problemas para a cúpula diretiva da organização, para as forças sindicais que
o apóiam e para a população que ele representa;
II. A eficiência, e sobretudo a eficácia ou efetividade com que ele pode enfrentá-los; e,
III. A possibilidade e oportunidade de enfrentá-los com êxito, que dependem também do
valor permanente e conjuntural que esses problemas têm para seus oponentes,
ponderados pelo peso ou força desses oponentes.
“Não existe o ator único e onipotente que manipula o sistema-objeto até alcançar
seus objetivos. Não existem agentes econômicos que têm somente
comportamentos decifráveis. Pelo contrário, vários atores sociais enfrentam-se,
com objetivos conflitantes, e todos eles têm criatividade para surpreenderem-se
mutuamente com seus planos.” (ibidem)
O nível mais alto de valoração (3) pode ser expresso pela declaração “sim, ou nada”, que
deve ser interpretada como “sim, este é um problema, ou então nada é um problema”. É a
declaração valorativa mais forte.
O segundo nível de maior valoração (2) pode ser expresso por “sim, sem dúvida”, que
indica que não se tem dúvidas sobre a importância do problema.
O terceiro nível (1) pode ser expresso simplesmente como “sim”, sem mais qualificação. É
a declaração afirmativa mais fraca.
Com os três últimos níveis de valoração afirmativa defini-se o espaço direcional do ator,
Mas esse espaço direcional tem uma fronteira difusa: o nível 0, que existe mediante a declaração
de dúvida “diria que não”. Evidentemente, esse nível valorativo é um espaço de negociação com
outros, pois sob certas condições essa valoração poderia significar “diria que sim”.
O nível (-1) configura-se simplesmente como uma declaração negativa “não” (não é um
problema para mim).
Por último, o nível (-2) se expressa pela declaração “não, por motivo algum”, que
demonstra o alto valor que o ator atribui ao não-reconhecimento de uma realidade com
problema.
Outra ferramenta importante capaz de produzir uma visão sintética do conjunto de temas
problemáticos é a Matriz atores-problemas (Tabela 1), que agrega em um só arquivo os
problemas selecionados por todos os atores sociais relevantes e os valores que lhe atribuem e
dever tomado como objeto de debate e valoração pelas distintas forças sociais
Ator 1 +3 -1 +2 - 0
Ator 2 -2 0 1 - 1
Ator 3 -1 -2 1 - +3
- - - - - -
Ator j +1 +2 0 - +3
Fonte: MATUS (1993)
Após a identificação dos atores e problemas, e o valor que cada ator atribui a dito
problema, se faz necessário desenvolver a explicação situacional.
A explicação situacional de um problema é a reconstrução simplificada dos processos
que geram os problemas destacados pelo ator, de tal forma que os elementos constituintes
desses processos aparecem sistematicamente interconectados na geração desses problemas e
de suas características particulares.
Outro fator importante a ser destacado é que fator condicionante externo. A qualidade
econômica e organizacional do país de origem da equipe vermelha (8) influencia o nó (6). Esse
fator é externo, porém exerce influencia no VDP do problema do baixo rendimento da equipe
azul no jogo contra a equipe branca.
II - O momento normativo
O programa estabelece um compromisso do dirigente com a base social que ele tenta
representar ou com a organização que ele propõe dirigir. A principal função que o programa deve
cumprir é definir um marco de direção viável, capaz de orientar posteriormente o processo de
planejamento, entendendo-se este como método de condução para alcançar os objetivos
propostos. O programa teria a seguinte estrutura:
O plano propõe uma direção que se expressa no arco direcional Si So indicado pelo
dirigente. Sua convocação marca uma direção. “Não é um caminho que se descubra, é um
caminho que se tem de fazer” (Ibidem)
A direção reflete a orientação do arco direcional para uma ou outra situação objetivo.
Definir uma situação-objetivo implica optar entre alternativas de direção e alcance.
Entende-se a situação inicial como Si, os problemas selecionados por Pr, a situação-
objetivo por So e por Pj os projetos de ação selecionados para atuar no arco Si So, o programa
direcional por ser representado conforme Figura 8.
Esta suposto na Figura 8 que, a situação resultante (Sr) devido ao impacto do conjunto
(Pjk) de projetos de ação, é aproximadamente igual à situação – objetivo (So).
Na relação Pjk |Si significa que Pjk é aplicado sobre a situação inicial Si ou alguma das
situações intermediárias implícitas no arco Si So, e o signo indica implicância causal,
indicando que a conseqüência provável de Pjk Si é So.
O PES adota a mesma definição de estratégia proposta por Clausewitz, mas a generaliza
no âmbito mais amplo do jogo social: “tática é o uso dos recursos escassos na produção de uma
mudança situacional, e estratégia é o uso da mudança situacional para alcançar a situação-
objetivo.” (Ibidem)
HUERTAS (Ibidem) em seu livro O Método Pés – entrevista com Carlos Matus,
objetivando entender o momento estratégico e diferenciá-lo dos métodos tradicionais de
planejamento pergunta a MATUS: “[...] como tornar viável o plano necessário?”
Segundo MATUS, esse é o momento mais complexo do PES, por que aponta para o
problema político de analisar e construir a viabilidade de um plano. Direcionalidade (momento
normativo) e viabilidade são duas provas distintas e independentes pelas quais o plano deve
passar.
As três perguntas referem-se às incapacidades internas que podem afetar um ator social
(Figura 11). As outras seis perguntas referem-se às incapacidades econômicas e organizacionais
para abordar projetos políticos, incapacidades políticas e organizacionais para abordar projetos
econômicos e incapacidades políticas e econômicas para abordar projetos organizacionais.
Essas perguntas sugerem impossibilidades. A análise da viabilidade perpassa pela vias
possíveis às restrições impostas ao plano. Frente às restrições que a situação impõe aos atores
sociais cabem três posições: aceitar as restrições e limitar-se ao que hoje é viável; superar as
restrições aumentando os recursos escassos; ou ignorá-las, agindo como se elas não
existissem.
Cada ator social se mostra capaz de assumir uma posição de acordo com as operações
propostas no momento estratégico. Essas posições podem ser de apoio, rejeição, indiferença
pura, indiferença tática, indiferença por ignorância e assim, pode-se descobrir quais são as
operações de consenso e quais são as de conflito. Pode-se observar a importância ou o valor
que cada ator atribui a cada operação. A conjunção de interesses e valores produz a motivação
de cada ator em cada operação. O poder que cada ator tem sobre dada situação pode ser
expressa através da pressão que o mesmo poderá fazer sobre tida operação (Figura 12).
Figura 12 – Características do posicionamento do ator social
Fonte: MATUS - adaptado pelo autor
A conclusão simplificada que se pode chegar ao analisar tal exemplo é que: a operação
OP1 será politicamente viável se a pressão de apoio for suficiente maior que a pressão de
rejeição.
Como visto nos momentos anteriores, o PES está centrado na resolução dos problemas
observados na situação inicial; as propostas de resolução parte do plano de ações; as ações são
tomadas de acordo com sua viabilidade política, econômica, institucional-organizacional e
técnica. Ou seja, só serão realizadas os projetos que foram viáveis no hoje.
A ação concreta faz-se no presente e tem impacto sobre o futuro. Mesmo que orientado
pelo futuro desejado, o centro do planejamento é o cálculo que precede e preside a ação gerada
por um arco de conjuntura. O futuro pesa no plano com uma pré-alimentação com diferentes
alcances de vista – um mês, um ano, um qüinqüênio, uma década, etc. Trazida ao presente,
essa pré-alimentação permite encadear direcionalmente o que deve e pode se fazer hoje para
alcançar os objetivos traçados. O presente permite o fazer, e o futuro indica o deve ser (Figura
16).
Algo parecido ocorre com a retroalimentação. O cálculo que foi feito anteriormente com o
plano hoje é confirmado ou refutado pela realidade. A aprendizagem da relação plano
realidade é o que permite ao planejador melhorar a capacidade de cálculo, num processo
incessante e permanente de retroalimentação com a história recente.
Após a concretização da ação decidida, muitos outros fatores, alem da ação em si, irão
influir na construção de uma nova realidade. Essa nova situação será distinta da esperada,
devendo-se, a partir dessa nova realidade, recomeçar o processo com uma nova explicação
situacional e novas articulações de pré-alimentação e retro-alimentação.
Para se colocar em prática as ações propostas pelo plano, se faz necessário que o
sistema de condução da ação deva contemplar tratamentos diferenciados para os diferentes
tipos de problemas e operações: o ritmo, o tempo e o tipo de problema e operações.
Para definição dos tipos de problemas, MATUS apresenta o tema a partir da perspectiva
de KEEN e MORTON:
Pode-se observar uma síntese dos diferentes processos a serem caracterizados para o
estudo do momento tático-operacional através da matriz de relacionamento Tempo – Tipos de
problema. (Tabela 3)
O plano como cálculo prévio está sempre incompleto, até que chegue o momento da
ação. Assim, a mediação entre o conhecimento e a ação resolve-se, em última instância, no
próprio momento da prática. Essa resolução é, segundo MATUS (1993), predominantemente, um
cálculo prévio, já realizado pelo plano, mas também se trata uma improvisação de um momento,
direcionada e condicionada pelo plano.
MATUS (apud HUERTAS, 1996) afirma que a execução do plano não deve ser concebida
com uma máquina sincronizada, governada por um interruptor que a coloca em funcionamento
conforme nossa vontade. Em todo sistema social criativo onde interagem o “eu” e o “outro”, num
contexto de forças históricas que condicionam o movimento e as tendências situacionais, o plano
é, em parte, ação e movimento, e em parte espera da oportunidade da ação, fazendo parte de
todo o processo do planejamento estratégico situacional.