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AUTOMAÇÃO

Juliano Matias

Como controlar, por exemplo, a velocidade de um motor para que em regime de operação
ele forneça sempre uma determinada rotação, independentemente da carga a ele acoplado?
Ou, como podemos garantir que em um processo a temperatura de um material esteja inde-
pendente de fatores externos a 250ºC ? Vamos abordar, neste artigo, um tema amplamente
utilizado em todas as áreas onde precisamos de um controle realmente preciso de uma deter-
minada grandeza física, o controle PID.

Existem basicamente dois tipos de natureza de reservatório está baixo a bóia não está acionada, fa-
controle: os auto-operados e os operados por alguma zendo com isso que o fluxo de água passe pela tubu-
energia externa. lação. Então, o nível de água vai subindo até que
Entre os auto-operados podemos citar o mais co- esta aciona a bóia cortando o fluxo de água. Eis uma
nhecido entre eles, o controle de nível por bóia, esse forma clássica de controle de nível empregada des-
que existe em qualquer de a antigüidade até os dias de hoje.
caixa d’ água de nossas Já os controladores baseados em energia exter-
residências (figura 1). na podem ser dos tipos:
Seu princípio de funcio- • Controlador pneumático;
namento é muito sim- • Controlador hidráulico;
ples: quando o nível do • Controlador elétrico ou eletrônico.

Figura 1 - Controle de nível por bóia.

Resumindo o funcionamento deles, temos que


uma grandeza precisa ser controlada (temperatura,
nível, pressão, vazão, pH, velocidade, posição,...).
Para manter essa grandeza sob controle precisamos
de algumas informações:

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o valor de correção na saída


do controlador para que o va-
lor do processo (PV) se apro-
xime do valor desejado (SP),
conforme ilustra a figura 2.
Existem alguns algorit-
mos de controle que veremos
com maiores detalhes, os
quais podem operar individu-
almente ou trabalhar em con-
junto, conforme a precisão
Figura 2 - Comparação entre o SP (valor desejado) e o PV (valor do processo).
esperada do controle e tam-
bém conforme o processo:
• Controle ON-OFF;
• Controle com ação pro-
porcional (P);
• Controle com ação inte-
gral (I);
• Controle com ação deri-
vativa (D).

CONTROLE ON-OFF

É também conhecido com


o o controle de “duas posi-
ções”, ou controle “liga e des-
liga”. O sinal de saída tem
Figura 3 - Controlador ON-OFF.
apenas duas posições que
vão de um extremo ao outro,
podendo ser: válvula aberta
ou válvula fechada, resistên-
cia ligada ou resistência desli-
gada, compressor ligado ou
compressor desligado. Anali-
semos pela figura 3 um
controlador ON-OFF. Neste
exemplo temos um ambiente
com temperatura controlada:
o valor desejado de tempera-
tura é dado pelo SP, o valor
atual de temperatura (PV) é
medido por um sensor de tem-
peratura (por exemplo, um
termopar), a função do contro-
lador é a de chavear a resis-
tência tendo como parâmetro
o valor de temperatura forne-
Figura 4 - Detalhamento do chaveamento de R pelo controlador ON-OFF.
cido pelo sensor de modo que
mantenha a temperatura no
• Valor desejado – Set-Point (SP); valor determinado pelo SP dentro do ambiente. Veja-
• Valor real ou valor do processo (PV); mos agora, na figura 4, que no instante 1 a tempera-
• Algoritmo de controle. tura tende a ficar abaixo do SP, nesse instante a re-
Com base nessas informações, o controlador com- sistência R é ligada através do relé K1 com a função
para o valor desejado (SP) com o valor do processo de elevar a temperatura até o valor do SP, porém,
(PV) e determina, com base no algoritmo de controle, devido à característica do processo a temperatura

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continua em queda durante


algum tempo, antes de mani-
festar tendência ascendente.
O uso do controle ON-
OFF é ideal em aplicações
onde a variável a ser contro-
lada possui um tempo de res-
posta lento. Alguns exemplos
de controle ON-OFF:
• Estufas;
• Ar-condicionado;
• Ferro de passar roupa;
• Refrigeração de motores
a combustão, entre outros.

CONTROLE Figura 5 - Ação de um controle proporcional.


PROPORCIONAL (P)

Em processos que reque-


rem um controle mais suave
que aquele fornecido pelo
controlador ON-OFF, pode ser
empregado o controle propor-
cional (P).
O controle proporcional
fornece uma relação linear
fixa entre o valor da variável
controlada e o valor que o
atuador de controle pode for-
necer. Para ilustrar a ação de
Figura 6 - Diagrama eletrônico de um controle proporcional.
um controle proporcional, ve-
rifiquemos a figura 5. Este é
um processo em que a temperatura de operação pode Com isso temos que a faixa de valores é de 300ºC,
variar de 50ºC a 550ºC. O elemento controlador tem porém, esse número expressa uma porcentagem da
um raio de ação que fornece ao processo uma faixa faixa total de excursão da temperatura, que é de 500ºC
de temperatura que vai de (50ºC até 550ºC), portanto temos
150ºC a 450ºC. O ponto cen- que a faixa proporcional expressa
tral é 300ºC com uma faixa 300ºC/500ºC, ou 60% de todo o
de controle de ±150ºC. Quan- alcance da escala.
do a temperatura está em Outra maneira de explicarmos
150ºC ou menos, o elemento o comportamento desse contro-
controlador é todo aber to. lador é através do seu Ganho, que
Quando a temperatura está é a relação entre a porcentagem
entre 150ºC e 450ºC, o ele- de variação do elemento
mento controlador movimen- controlador pela variação propor-
ta-se para uma posição que cional da grandeza. Assim temos:
é proporcional ao valor da
grandeza controlada. A 225ºC Ganho = (% de variação do ele-
o elemento controlador está mento controlador) / (% de varia-
75% aberto, a 300ºC está ção da grandeza controlada)
50% aberto, a 375ºC está
25% aber to e a 450ºC ou No nosso exemplo, o ganho
mais o elemento controlador seria de: (100% no elemento
está 0% aberto, isto é, com- controlador) / (60% de variação na
Figura 7 - Ilustração do off-set.
pletamente fechado. grandeza) = 1,66.

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cuito tente corrigir esse dis-


túrbio alterando a tensão de
saída que está acionando o
motor;
• A alteração é propor-
cional ao erro e dada pelo
ganho do circuito amplifica-
dor (R 1/R2).
Porém, quando o circui-
to se estabiliza ele não se es-
tabiliza no set-point (SP), e
sim em um valor fora dele que
é chamado de off-set (figura
7). Esse erro é uma caracte-
rística do circuito proporcio-
nal e é maior quanto menor
for o ganho do circuito, tornan-
do-se menor à medida que au-
mentamos o ganho. Em
contrapartida, quando aumen-
tamos o ganho aumenta-se
também a possibilidade de os-
cilações na variável do proces-
so, portanto, esse é um pa-
râmetro que deve ser muito
bem otimizado no controlador.
Para a correção desse off-
set existem em alguns con-
troladores industriais um rea-
Figura 8 - Gráfico de um controle proporcional-integral (PI).
juste manual que soma ou
subtrai do valor de saída um
Podemos dizer então, que: valor correspondente à eli-
minação do off-set (no nos-
Faixa proporcional = (100/Ganho) so exemplo da figura 6 o
ajuste manual soma ou sub-
Pensando eletronicamente, pode- trai tensão).
mos visualizar um Controle Propor-
cional na figura 6, onde temos um CONTROLE INTEGRAL (I)
circuito subtrator com Amplificado-
res Operacionais, no qual, calcula- Quando se tem um siste-
mos primeiramente o erro entre o SP ma onde utilizamos um
e o PV, e depois vem um amplifica- controlador proporcional, nas
dor onde amplificamos o erro para alterações da carga o reajuste
corrigir o valor PV alterado pelo pro- do off-set deve ser feito de for-
Figura 9 - Circuito integrador.
cesso. Nessa mesma figura pode- ma automática, e não manual-
mos imaginar a seguinte situação: te- mente como citado acima.
mos que controlar a velocidade de um motor e partire- Integrando-se o valor do erro no tempo obtemos
mos do princípio de que o motor está rodando na ve- esse reajuste; na prática o controle integral é utiliza-
locidade determinada pelo SP. do em conjunto com o controle proporcional forman-
• Uma alteração na carga do motor implicará em do o controle proporcional - integral, o PI, conforme
uma variação da rotação e, conseqüentemente, em mostram os gráficos da figura 8.
uma variação do valor do PV que, por exemplo, está Podemos entender mais claramente visualizando
sendo gerado por um tacogerador; um circuito eletrônico onde foi implementada uma
• Essa variação implicará em uma alteração de ação proporcional com a ação integral. Observe as
tensão na saída do subtrator, fazendo com que o cir- figuras 9 e 10.

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CONTROLE DERIVATIVO (D) eles são muito complicados, nem sempre estão dis-
poníveis, e demandam um tempo muito grande de
O ajuste derivativo aplica ao sistema uma cor- análise e, portanto, não são utilizados na prática.
reção proporcional à velocidade com que o desvio Existem métodos mais simples de regulagem de
aumenta. um controlador, principalmente utilizando gráficos de
A ação derivativa associada com a ação proporci- resposta de variáveis do processo.
onal (PD) resulta em uma cor-
reção antecipada a um des-
vio que ainda não aconteceu,
podemos chamar também de
supercorreção, conforme ilus-
tram os gráficos da figura 11.
Após a grande correção
inicial, o controlador começa
a diminuir os seus efeitos dei-
xando que as respostas pro-
porcionais (com ou sem ação
integral em conjunto) posicio-
nem o elemento de controle
final. Podemos verificar nas
figuras 12 e 13 uma combi-
nação das ações proporcio-
nal e derivativa utilizando am-
plificadores operacionais. Figura 10 - Circuito eletrônico de um controle PI.

CONTROLE PROPORCIO-
NAL INTEGRAL E
DERIVATIVO (PID)

Processos onde o tempo


morto é elevado (da ordem de
2 minutos) e/ou retardos de
processo são difíceis de con-
trolar utilizando controles pro-
porcionais com ação integral
ou proporcionais com ação
derivativa. Processos que te-
nham a faixa proporcional a
ser posicionada extremamen-
te ampla e onde o tempo de
reajuste é bastante grande a
fim de se evitar oscilações. O
controle PID resolve esse pro-
blema. Podemos verificar um
controle PID em sua forma ele-
trônica na figura 14.

OTIMIZAÇÃO DE
CONTROLADORES PID

As condições de controle
de um sistema PID podem
ser estudadas utilizando
algoritmos de controle inte-
Figura 11 - Gráfico de um controle derivativo (D).
grais e diferenciais, porém,

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dependam de qual está sendo regulado. (Ex: do ní- Ao fim do dia, Demétrio toma conta do serviço.
vel de água depende a pressão na rede de distri- Demétrio é o mais sofisticado dos três irmãos. Não
buição). se preocupa somente com o valor do desvio, mas
Assim, no começo do dia, Isidoro, o filho mais ve- também com a velocidade com a qual este se altera.
lho, encontra-se no lugar do pai. É um rapaz simples, Caso a água desça rapidamente 10 cm abaixo do
mas metódico. Quando nota que o nível d’água está nível desejado, Demétrio dá de uma só vez 10 voltas
10 cm abaixo do nível desejado, pensa que o consu- no volante da válvula em sentido de abertura. Vendo
mo aumentará. Por isso começa a abrir a válvula len- depois que a água sobe devagar, fecha também de-
tamente de maneira contínua, constatando ao mes- vagar a válvula, e mais devagar quanto menor for a
mo tempo que, pouco a pouco, o nível abaixa mais velocidade de aumento de nível, até chegar progres-
devagar, depois se estabiliza e, enfim, começa a su- sivamente à abertura inicial. Caso a água ultrapasse
bir. No entanto, Isidoro abre a válvula ainda mais até o nível desejado por 5 cm, Demétrio executa a mes-
que alcance o nível anterior. Pouco depois, Isidoro ma manobra de antes, porém em sentido contrário e,
percebe que a água continua a subir, estando já aci- além disso, 50% menos acentuado.
ma do nível desejado. Por isso, só com a metade da Demétrio é a própria imagem da ação diferencial,
velocidade Isidoro começa a fechar a válvula, resta- cujo valor é diretamente proporcional ao grau do des-
belecendo pouco a pouco o nível exato. Mas, a água vio e inversamente proporcional à duração deste, po-
continua baixando. Assim, Isidoro vê-se forçado a re- dendo ser representada pela fórmula:
petir a sua manobra ainda algumas vezes sem que a
água se mantenha no nível desejado.
Isidoro é a própria imagem integral de controle, cuja
velocidade de ação é proporcional ao desvio. Isidoro
acionará a válvula enquanto este existir, sem nunca O prefeito encontrou-se diante uma decisão difí-
alcançar estabilidade por ter a zona de regulagem tam- cil. A qual dos candidatos deveria dar o emprego
bém comportamento integral. definitivo?
Em termos matemáticos pode-se dizer que para Isidoro, a imagem do comportamento integral, de-
um desvio “X” do valor regulado, a ação integral é uma morou bastante tempo para restituir o nível desejado
manobra do órgão de controle, que pode ser repre- na caixa d’água. Verdade é que ele acertou todas as
sentada pela fórmula: vezes o nível exato. Seu método, porém, resultou
numa instabilidade absoluta, porque, devido à sua
= ∫ atividade contínua, diversas vezes o nível oscilou
fortemente. Seu único recurso contra esse inconve-
Ao meio dia, Pedro substitui seu irmão Isidoro. niente foi acionar a válvula lentamente. Mas, na pro-
Pedro possui o costume de calcular tudo que faz. Ele porção que a manobra era lentamente executada, au-
percebe logo que, quando o nível d’água se encontra mentou-se o tempo que a população deveria esperar
10 cm abaixo do nível desejado, deve dar 5 voltas ao até receber água mesmo nos bairros mais elevados.
volante da válvula no sentido de abertura para elimi- Pedro, a imagem do comportamento proporcional
nar o desvio. Por outro lado, Pedro não se preocupa obteve um resultado diametralmente oposto. Seu mé-
muito em voltar ao nível original, contentando-se em todo não resultou em oscilações do nível nem em
estabilizar o mesmo. Pensa consigo que este voltará desvios consideráveis. Mas também não foi capaz
à marca certa assim que diminuir o consumo na al- de assegurar o nível exato.
deia. Pedro descansa até constatar que o nível efeti- Demétrio, a imagem do comportamento diferenci-
vo encontra-se 5 cm acima do desejado. Conforme al, trabalhou com energia exagerada demais. Abrindo
seu cálculo, Pedro aciona o volante da válvula 2,5 ou fechando abruptamente a válvula, deu praticamen-
voltas em sentido de fechamento, estabilizando as- te uma chicotada na vazão. Por causa dessa atitude
sim o nível novamente. brusca, provocava fortes variações de pressão na rede,
Sua manobra é segura e rápida. Mas, quanto à não conseguindo também estabelecer o nível exato.
exatidão, Pedro diz que somente é preciso conservar Assim, apesar de todos seus esforços, os habitantes
“aproximadamente” a pressão d’água para satisfazer da cidade acharam o seu serviço o menos satisfatório.
as necessidades da sua cidade. Diante desses resultados o prefeito decidiu com-
Pedro é a própria imagem da ação de controle pro- binar o trabalho dos três candidatos para verificar o
porcional, que pode ser representada pela fórmula: efeito. Para esse fim mandou colocar dois tubos de
ligação a mais entre o rio e a caixa d’água.
= Demétrio, porém, encontrava-se impedido, assim
que Pedro e Isidoro trabalharam em conjunto, mano-

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