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SUPERINTENDÊNCIA DE PESSOAL DA AVIAÇÃO CIVIL - CURSO DE EXAMINADORES CREDENCIADOS - 2022

A ÉTICA NA FUNÇÃO PÚBLICA DE EXAMINADOR CREDENCIADO

A ÉTICA NA FUNÇÃO PÚBLICA DE EXAMINADOR CREDENCIADO1


Introdução
A ética e a moral estão presentes em todas as atitudes e decisões, e não devem ser
menosprezadas em sua importância. É imprescindível saber que na decisão tornar-se examinador
credenciado junto à ANAC está contida a adoção de um padrão ético com condutas, direitos,
deveres e vedações delineados para fazer o bem e evitar o mal em tão relevante função pública.
O objetivo do presente material didático é contribuir para a compreensão da dimensão da ética da
função pública de um examinador credenciado, de forma introdutória e não exaustiva.
Mas o que significa ética? O termo provém de “ethiké” da língua grega, existindo vários
conceitos possíveis. Ilustremos duas possibilidades. A primeira conceitua a ética como uma “parte
da filosofia que trata das questões e dos preceitos que se relacionam aos valores morais e à conduta
humana”. O segundo conceito informa que ética é “conjunto de princípios, normas e regras que
devem ser seguidos para que se estabeleça um comportamento moral exemplar”. E o que seria a
moral, citada nas duas possiblidades conceituais de ética? A seu turno, o termo provém do latim
“moralis” e significa um “conjunto de regras e princípios de decência que orientam a conduta
dos indivíduos de um grupo social ou sociedade” (CALDAS AULETE, 2022).
A distinção entre ética e moral pode ser exemplificada com uma analogia. A ética é a casa
e a moral é o conjunto mobiliário. A casa tem uma fundação sólida e estável, e os mobiliários
eventualmente são alterados em seu interior. Tais alterações são um reflexo dinâmico, dentro de
uma gama de parâmetros gerais conforme os costumes e normas da sociedade evoluem.
Um panorama das normas éticas aplicáveis aos examinadores credenciados
Observamos na introdução que o conceito de ética aporta em síntese um conjunto de
normas em prol de uma moral exemplar. No âmbito da administração pública existem diversas
normas que versam sobre a ética do servidor e dos agentes públicos, bem como traçam as condutas
esperadas. Dentre tais normas de conduta, importa destacarmos especialmente:

 Decreto nº1.171, de 22 de junho de 1994 - Aprova o Código de Ética Profissional do


Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal.
 Resolução nº 569, de 25 de junho de 2020 - Aprova o Código de Ética e Conduta dos
Agentes Públicos da ANAC.
O examinador credenciado realiza ações que constituem uma importante camada de
segurança operacional da aviação civil, com repercussões relevantes e duradouras. Imprescindível
que tais ações estejam pautadas em alto padrão ético. A representação deste alto padrão está
positivada no Código de Ética e Conduta dos Agentes Públicos da ANAC, que foi instituído pela
Resolução nº 569, de 25 de junho de 2020 pela Diretoria da agência. É cristalina a missão de tal
documento legal (BRASIL, 2020):
Art. 1º Este Código de Ética e Conduta estabelece os princípios e normas de conduta ética
aplicáveis a todos os agentes públicos que prestam serviços à ANAC, sem prejuízo da
observância dos demais deveres e proibições legais e regulamentares.

1Material elaborado para o Curso de Examinadores Credenciados por Mateus Vidal Alves Silva em julho de 2022.
Coordenação técnica de Roberto Vasconcellos Rocha Junior.

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A ÉTICA NA FUNÇÃO PÚBLICA DE EXAMINADOR CREDENCIADO

O examinador credenciado é um agente público submetido ao Código de Ética e Conduta


dos Agentes Públicos da ANAC, conforme estabelece o parágrafo único de seu primeiro artigo,
sendo agente que “por força de lei, contrato ou qualquer ato jurídico, preste serviços de natureza
permanente, temporária, excepcional ou eventual, ainda que sem retribuição financeira, à ANAC”
(BRASIL, 2020).
O Código de Ética e Conduta dos Agentes Públicos da ANAC apresenta uma lista de
princípios, valores, direitos, deveres, vedações e condutas específicas. A leitura integral de seu
conteúdo é imperativa para a compreensão de sua amplitude. Destacam-se, por ora, os princípios
e valores éticos – normas de valor mais abrangente que repercutem em todas as outras disposições
– que tem o condão de sintetizar a concepção de ética esperada dos examinadores credenciados:
Art. 3º São princípios e valores éticos que deverão nortear a conduta profissional dos
agentes públicos da ANAC:
I - a supremacia do interesse público sobre o privado;
II - a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência;
III - a honestidade, o decoro, o zelo, a probidade, a dedicação, a cortesia, a assiduidade e a
presteza;
IV - a dignidade da pessoa humana;
V - a independência, a objetividade, a imparcialidade, a acessibilidade e a credibilidade;
VI - a integridade e a transparência, assegurando a preservação da informação sigilosa;
VII - postura equilibrada e isenta, abstendo-se de participar de transações ou atividades que
possam comprometer a sua dignidade profissional ou desabonar a sua imagem pública;
VIII - a prática da agilidade, a qualidade, a urbanidade e o respeito no atendimento ao
público, fornecendo-lhe informações claras e confiáveis, devendo atuar de modo a
harmonizar as relações entre o cidadão e a ANAC;
IX - o compromisso, a cooperação, a tolerância, o respeito à hierarquia e a boa-fé; e
X - o respeito à diversidade racial, étnica, político-partidária, religiosa, ideológica, de
gênero e às pessoas com deficiência (PCD).

Considerando a atividade dos agentes públicos credenciados como examinadores, importa


ainda destacar duas normas que guardam relação direta e indireta com os aspectos das normas
éticas já referenciadas, que também demandam leitura atenta:

 Regulamento brasileiro da aviação civil nº183, emenda 01 – Credenciamento de pessoas


 Portaria nº 7.842/SPL, de 20 de abril de 2022 - Aprova diretrizes para a realização de
exames práticos de pilotos, bem como para a atuação e o credenciamento de
examinadores.
Exemplos de conduta ética, controles aplicáveis e consequências de condutas antiéticas
Diante das múltiplos direitos, deveres, vedações e condutas presentes no Código de Ética
e Conduta dos Agentes Públicos da ANAC, buscamos exemplos que possam ilustrar
circunstâncias recorrentes que demandam adequada postura ética dos agentes públicos.
Apresentam-se três situações comuns e observações respectivas fundamentadas em nosso código:

 O sigilo da informação: em sua prática profissional os examinadores credenciados


poderão obter acesso à informações protegidas por alguma forma de sigilo, como por
exemplo, os dados pessoais de determinadas pessoas.
o O respeito ao sigilo é uma obrigação ética estabelecida como conduta específica,
devidamente tratada nos incisos e parágrafos do artigo 13 do Código de Ética e
Conduta dos Agentes Públicos da ANAC, além de outras disposições legais
(BRASIL, 2020).

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 A conduta em redes sociais e mídias alternativas: as redes sociais constituem


verdadeira revolução na comunicação, e certamente fazem parte também das práticas
profissionais de um examinador credenciado em alguma medida.
o Os artigos 18 a 20 do Código de Ética e Conduta dos Agentes Públicos da ANAC
tratam especificamente das condutas esperadas conforme os altos padrões éticos
para um agente público. Destaque-se que a divulgação inadequada de fatos que
possam causar prejuízos à imagem institucional da ANAC ou de seus servidores
em redes sociais e mídias alternativas poderá ensejar responsabilização ética,
administrativa, civil e penal (BRASIL, 2020).
 O recebimento de presentes e outros benefícios: nas atividades típicas de examinador
credenciado é possível que em determinado momento um examinando pretenda
presentear ou conceder benefícios ao examinador.
o Subsistem regras e vedações expressas ao recebimento de presentes e benefícios
por agentes públicos, conforme disposições expressas nos artigos 29 a 32 do
Código de Ética e Conduta dos Agentes Públicos da ANAC (BRASIL, 2020).
Muitos outros exemplos seriam possíveis. Conhecer as prescrições do Código de Ética e
Conduta dos Agentes Públicos da ANAC é essencial na atuação segura como examinador
credenciado, evitando-se dissabores. Existem diversos controles relacionados à governança sobre
o credenciamento e a conduta ética dos agentes públicos. Dentre as instâncias de controle,
destacam-se as competências inerentes às ações de fiscalização e auditoria, o trabalho da
Ouvidoria, da Corregedoria e do Comitê de Ética.
Tais controles refletem a importância da função e também do respeito à ética. Na
eventualidade de constatar-se conduta antiética de um agente público, existem potenciais
consequências que podem extrapolar as competências do comitê de ética, repercutindo nos planos
da segurança operacional da aviação civil, no âmbito do direito administrativo e penal.
No plano da segurança operacional da aviação civil, se houver falta ética de um examinador
credenciado que comporte o patrocínio irregular de um requisito de certificação para um
examinando, teremos uma falha na cadeia de custódia que sustenta a segurança operacional. Tal
falha pode se tornar em algum momento um fator contribuinte para um sinistro aeronáutico –
circunstância indesejada para todos que laboram na aviação civil, e que por si só poderá ensejar
outras esferas de responsabilidade administrativas, cíveis e penais.
No campo administrativo, além de eventuais infrações e irregularidades puníveis conforme
as normas da autoridade de aviação civil diante de uma falta ética que se combine com uma
irregularidade administrativa, convém também recordar a natureza normativa dos
credenciamentos. Dispõe o item 183.1 (b) que o credenciamento é uma prerrogativa da ANAC e
não direito do requerente. Assim, o credenciamento é um ato administrativo submetido à
condições de validade e dotado de precariedade, sendo passível de revisão a qualquer momento
pela autoridade de aviação civil, como indicado no item 183.15 (b) (BRASIL, 2018):
183.15 Validade dos credenciamentos
(a) A menos que tenha sido cancelado, de acordo com o parágrafo (b) desta seção, a validade
de um credenciamento é aquela definida na autorização que o deferiu.
(b) Um credenciamento pode ser cancelado:
(1) mediante pedido escrito da pessoa física credenciada;
(2) mediante pedido escrito do empregador, nos casos em que sua recomendação tenha
sido exigida pela ANAC para o credenciamento;

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(3) em decorrência do término do vínculo empregatício da pessoa física credenciada, nos


casos em que a recomendação do empregador tenha sido exigida pela ANAC para o
credenciamento;
(4) por decisão motivada, quando a ANAC constatar que a pessoa física credenciada não
desempenhou adequadamente as atividades, conforme procedimentos e limitações
definidos pela ANAC, ou em violação a algum requisito deste regulamento;
(5) quando a ANAC constatar que as funções desta pessoa física credenciada não são
mais necessárias; ou
(6) por decisão motivada da ANAC, para preservar o interesse público.

Existem condutas antiéticas que podem coincidir com condutas criminosas. Se tal fato for
evidenciado na apuração de um processo administrativo, deverá obrigatoriamente ser comunicado
às autoridades de persecução penal, por disposição legal do Código Brasileiro de Aeronáutica.
Considerações finais
Este foi um rápido sobrevoo à ética aplicada aos agentes públicos, especialmente aos
examinadores credenciados atuando junto à ANAC no ecossistema da aviação civil. Observamos
conceitos de ética e moral, apresentando as normas existentes, princípios e valores éticos, além
de exemplos que exigem condutas éticas. Por fim, verificou-se a existência de governança
aplicável diante de condutas antiéticas, com uma série de consequências de tais eventualidades
nos planos da segurança operacional, do direito administrativo e do direito penal.
Deste modo, cumpre-se o objetivo de compreender a dimensão e a relevância da ética da
função pública de um examinador credenciado. Em máxima síntese, pode-se dizer que agir com
ética na função de agente púbico como examinador credenciado é adotar as condutas previstas de
acordo com o conjunto de normas ora referenciado. Portanto, recomenda-se expressamente a
leitura atenta do Código de Ética e Conduta dos Agentes Públicos da ANAC, além de eventual
consulta na ocorrência de dúvidas práticas para cada um dos documentos legais referenciados.
Referências
BRASIL. Decreto nº 1.171, de 22 de junho de 1994 - Aprova o Código de Ética Profissional do Servidor
Público Civil do Poder Executivo Federal. Brasília: 1994. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d1171.htm. Acesso em: 30 jul 2022.

______. Agência Nacional de Aviação Civil. Regulamento Brasileiro da Aviação Civil nº 183, emenda nº
01 – Credenciamento de pessoas. Brasília: 2018. Disponível em:
https://www.anac.gov.br/assuntos/legislacao/legislacao-1/rbha-e-rbac/rbac/rbac-183/@@display-
file/arquivo_norma/RBAC183_EMD01.pdf. Acesso em: 30 jul 2022.

______. Agência Nacional de Aviação Civil. Resolução nº 569, de 25 de junho de 2020 - Aprova o Código
de Ética e Conduta dos Agentes Públicos da ANAC. Brasília: 2020. Disponível em:
https://www.anac.gov.br/assuntos/legislacao/legislacao-1/resolucoes/2020/resolucao-no-569-25-06-2020.
Acesso em: 30 jul 2022.

______. Agência Nacional de Aviação Civil. Portaria nº 7.842/SPL, de 20 de abril de 2022 - Aprova
diretrizes para a realização de exames práticos de pilotos, bem como para a atuação e o credenciamento
de examinadores. Brasília: 2022. Disponível em: https://www.anac.gov.br/assuntos/legislacao/legislacao-
1/portarias/2022/portaria-7842. Acesso em: 30 jul 2022.

CALDAS AULETE. Dicionário da língua portuguesa online. Disponível em: https://www.aulete.com.br/.


Acesso em: 30 jul 2022.

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