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Métodos de Exame e Análise Avançados (2016-2017)

Amostragem e amostra
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Amostragem

Amostragem Amostra

 Processo pelo qual é seleccionada uma fracção de algo maior que se pretende  Estatística
estudar, precisamente, através dessa fracção  Conjunto de elementos seleccionados de uma população

 A amostragem pode resultar de:  Exemplo: conjunto de obras seleccionadas para estudo ou análise

 Impossibilidade de estudo da população ou universo (a totalidade daquilo que se quer  Química analítica
estudar)
 Porção de material seleccionado de uma porção maior
 Racionalização do trabalho (diminuição dos recursos dispendidos)
 Exemplo: fragmentos analisados de uma obra
 A fracção seleccionada é a amostra

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Aspectos a ter em conta a respeito da amostragem Tipos gerais de amostragem, segundo o processo de selecção

 Os resultados obtidos com as amostras são extrapolados para a população ou para  Amostragem não intencional
a totalidade do material  Amostragem feita pela história e pelas circunstâncias, sem que tenha havido qualquer
 A correcção da amostragem condiciona a utilidade das análises selecção efectuada no contexto do estudo
 Selecção feita sem intenção
 A amostra deve ser representativa
 Exemplos:
 A composição da amostra deve ser semelhante à composição média do material a analisar • Obras ou objectos que chegaram ao presente
• Fragmento que acidentalmente se destaca de uma obra e é aproveitado para análise
 A amostragem é uma fonte de erros muito importante
 Amostragem informal
 Amostragem realizada com base em critérios de diferente natureza aplicados de forma
empírica, onde se contam factores de natureza pessoal, sem o suporte de tratamento
estatístico rigoroso
A arqueologia é a disciplina que dispõe da teoria e da prática que permitem  Selecção feita com intenção, mas de forma subjectiva
recuperar os padrões de comportamento humanos não observáveis, a partir
 Exemplo:
de marcas indirectas em más amostras.
• Conjunto de obras de um autor seleccionadas para estudo com base em critérios pessoais
David Clarke

Amostragem estratificada

 Amostragem formal  Amostragem feita em dois passos


 Amostragem realizada de acordo com os procedimentos estatísticos de amostragem
 1.º passo
 Selecção feita com intenção e utilizando critérios objectivos
 A população é dividida em classes ou categorias (estratos)
 É possível calcular a incerteza associada aos resultados
• Os estratos são escolhidos pela sua relevância
 Processos de selecção de amostragem formal: • Assegura a representatividade desses estratos

• Amostragem aleatória  2.º passo


• As amostras são recolhidas ao acaso
 É feita a amostragem dentro de cada estrato
• Minimiza os erros relacionados com a representatividade

• Amostragem sistemática
 Em qualquer um dos passos pode ser utilizado qualquer processo de selecção
• As amostras são recolhidas de uma forma regular e sistemática

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Escalas de amostragem num estudo laboratorial

 Exemplos de estratificação:  Escala do conjunto ou escala do universo


 A obra de um pintor pode ser dividida segundo:  Selecção das obras ou objectos a estudar (tendo em consideração a colecção, a autoria, a
• as fases estilísticas época, a proveniência, etc.)
• os temas ou motivos  Não envolve remoção de fragmento
• o tipo de obra (esboço, estudo, obra não assinada, obra assinada)
• as dimensões
• o tipo de suporte  Escala local ou escala do objecto
 Uma pintura é dividida em zonas de diferentes cores  Selecção das zonas a estudar de cada obra ou objecto (tendo em consideração os motivos,
 Num fragmento retirado de uma pintura são analisados separadamente cada uma das a cor, o estado de conservação, a visibilidade, etc.)
camadas  Não envolve remoção de fragmento
 A cerâmica de uma estação arqueológica é dividida segundo:
• a cor
• a qualidade  Escala microscópica ou escala da análise
• a função  Selecção, dentro de cada zona, dos pontos a analisar e, se for necessário, recolha dos
• as dimensões fragmentos a usar na análise
• a decoração
 Pode ou não envolver remoção de fragmento

Selecção das obras

 A selecção das obras coloca-se sempre que é indispensável o estudo de conjuntos  Disponibilidade das obras depende de:
de obras:  Localização das obras (bem imóvel / em exposição / em reserva)
 Caracterização de autor, de estilo, época, cultura, etc.  Tamanho das obras
 Datação através de métodos indirectos  Valor das obras
 Estudos relacionados com a autenticidade  Estado de conservação

 A necessidade da selecção das obras resulta do número limitado de obras que é  Realização de intervenção de conservação
possível estudar
 Tempo e custos associados ao estudo
 (In)disponibilidade das obras 

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Selecção das zonas a estudar de cada obra

 Tipo de amostragem das obras:  A selecção é indispensável no caso de obras materialmente heterogéneas

 Geralmente, a amostragem é informal devido a:


• Diferente disponibilidade das várias obras  Frequentemente envolve amostragem estratificada
• Eventual vantagem do estudo de obras mais representativas ou importantes do ponto de vista
 Exemplo: identificação dos pigmentos em zonas de diferentes cores
histórico ou artístico
• Eventual vantagem de limitar o estudo a obras com determinadas características (temas,
tamanho, técnica, etc.)

 Se a amostragem é informal é fundamental a colaboração das outras disciplinas envolvidas

 Nalguns casos, a amostragem é estratificada


• Por exemplo, a obra de um pintor pode ser dividida em várias fases
• Neste caso, também é fundamental a colaboração das outras disciplinas envolvidas

Selecção dos locais a analisar com recolha de material

 É preciso ter em conta o efeito na


obra

 Frequentemente, tenta-se usar:


 Número limitado de amostras
 Amostras de dimensões muito
pequenas
 Amostras recolhidas em zonas
danificadas ou alteradas
 Amostras recolhidas em zonas não
visíveis

 Esta atitude pode originar graves


problemas de representatividade

Claude Monet
Water Lilies, c. 1920

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 A quantidade do material recolhido (“amostra”) depende de:
 Incerteza pretendida
 Heterogeneidade
 Tamanho das partículas que estão na origem da heterogeneidade
 Métodos de análise a usar

 Por vezes, a quantidade necessária do ponto de vista analítico não é admissível do


ponto de vista da conservação

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Selecção dos locais a analisar sem recolha de material Uso do material recolhido (amostra bruta)

 Selecção do local que pode ser mais representativo  Idealmente, quando a análise química implica a destruição da porção analisada, a
análise é realizada numa pequena fracção (sub-amostra) do material recolhido
 Locais sem problemas de alteração ou de (amostra bruta)
intervenção
 Se a amostra bruta for heterogénea e não interessar ter resolução espacial, em
 Locais que evitem influência de diversos materiais primeiro lugar deve ser triturada e homogeneizada
 Sempre que possível, mesmo em obras heterogéneas,
os materiais devem ser analisados separadamente  Para que a sub-amostra usada numa análise seja representativa da amostra bruta
recolhida, devem ser seguidos determinados procedimentos
 A selecção pode ser feita num fragmento recolhido  A selecção deve ser feita de acordo com uma das técnicas de amostragem estabelecidas
da obra (amostragem formal)

 Na análise de obras de arte, devido ao reduzido tamanho das amostras,


frequentemente é usado todo o material numa só análise

 O uso de sub-amostras ocorre com alguma frequência no caso do património imóvel

Caso 1
Os problemas da amostragem – A autoria de uma pintura

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 Dúvida acerca da autoria de uma pintura
supostamente de José Campas
(1888-1971)

Caso 2
Os problemas da amostragem – A datação do Sudário de Turim

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 P. E. Damon et al.,
"Radiocarbon dating of the
Shroud of Turin", Nature,
337(6208), 1989, pp. 611-
615.

1989

 D. A. Kouznetsov, A. A. Ivanov, P. R.
Veletsky, "Effects of fires and
biofractionation of carbon isotopes on
results of radiocarbon dating of old
textiles: The Shroud of Turin", Journal
of Archaeological Science, 23(1),
1996, pp. 109-121

 D. A. Kouznetsov, A. A. Ivanov, P. R.
Veletsky, "A Re-evaluation of the
Radiocarbon Date of the Shroud of
Turin Based on Biofractionation of
Carbon Isotopes and a Fire-Simulating
 The results of radiocarbon measurements at Arizona, Oxford and Zurich yield a Model", in M. V. Orna (ed.),
calibrated calendar age range with at least 95% confidence for the linen of the Archaeological Chemistry. Organic,
Shroud of Turin of AD 1260 - 1390 (rounded down/up to nearest 10 yr). These Inorganic, and Biochemical Analysis,
results therefore provide conclusive evidence that the linen of the Shroud of Turin is Washington, American Chemical
mediaeval. Society, 1996, pp. 229-247

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 Raymond N. Rogers, "Studies
on the radiocarbon sample
from the shroud of Turin",
Thermochimica Acta, 425(1-2),
2005, pp. 189-194

Métodos destrutivos e análises invasivas

Método destrutivo / não destrutivo

 Método de análise destrutivo  Método de análise não destrutivo


 O material analisado é consumido ou alterado durante a análise  O material analisado não é consumido ou
alterado durante a análise, mesmo que
 Depois da análise, o material não pode ser usado noutras análises
seja necessário retirar uma amostra do
 Exemplos: objecto a analisar
• Testes microquímicos  Depois da análise o material pode ser
• Espectrometria de absorção atómica usado noutras análises
• Cromatografia gasosa
 Exemplos:
• Espectrometria de fluorescência de
raios X
• Difractometria de raios X

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Análise invasiva / não invasiva

 Análise invasiva  Análise não invasiva


 A análise danifica o objecto  O objecto não sofre qualquer dano em resultado da análise
• Necessidade de recolha de fragmento  Implica o uso de métodos não destrutivos
• Uso de método destrutivo
 As análises não invasivas podem ou não ser realizadas in situ
 Os danos podem ser mais ou menos visíveis

 A realização de análises não invasivas nem sempre é adequada devido a:


 Limitações dos métodos
 Estrutura complexa das obras
 Alteração superficial dos materiais

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