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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FICHAMENTO DO CAPÍTULO IV “QUANDO O MITO SE TORNA


HISTÓRIA” DO LIVRO “MITO E SIGNIGICADO” DE LEVI STRAUSS.
PROFESSOR: RICARDO CAVALCANTI-SCHIEL
ALUNO: SALOMÃO NICILOVITZ

No capítulo IV do livro “Mito e Signficado”, intitulado “Quando o mito se torna


História”, o antropólogo Levi Strauss questiona algumas bases da historiografia
disciplinada tradicional. Enquanto usualmente a História é tomada como uma
disciplina que tem maior relação com verdade - em virtude do seu método -, Strauss
parece colocá-la em uma posição de objeto, questionando o fato como verdade
empírica. Nesse sentido, estabelece uma conexão entre a Mitologia e a História,
questionando os limites entre uma e outra.
Como subsídio a sua argumentação, o autor levanta os casos do Chefe
Walter Wright e do Chefe Harris, ambos chefes tsimshian da região do curso médio
do rio Skeena, que contam a história da suas famílias e do seu clã; o relato de
Wright foi coligido por um investigador branco, enquanto o de Harris foi escrito e
publicado pelo próprio. Enquanto no primeiro visualizamos o relato de uma queda,
uma história que conduz a um final desastroso, percebemos o segundo como
orientado no sentido de explicar a origem da ordem social vigente. O mais
chamativo, no entanto, é que ambos, apesar de tomarem rumos distintos, narram a
respeito de um tempo mítico primevo, da existência da cidade de Tenlaham que foi
destruída e deu origem à peregrinação ao longo do Skeena. Não seria, por acaso,
essa descrição algo como um fato histórico, com divergências narrativas geradas
pelos diferentes interesses, percepções e recortes dos narradores? Nesse sentido,
o autor questiona se a história científica não portaria justamente dessa
característica, a de possibilitar que diferentes historiadores, com os mesmos
materiais - fontes, documentos, relatos - cheguem a conclusões e relatos diferentes.
Por fim, Strauss, sempre em tom sugestivo, aponta a continuidade entre a
Mitologia e a História, dado que a segunda teria substituído a primeira nas
sociedades ocidentais. Então questiona:
Quando tentamos fazer História científica, fazemos porventura algo
científico ou adotamos também a nossa própria mitologia nessa
tentativa de fazer História pura?(62)

Nesse sentido, olhar para a história de outros povos e sociedades,


estabelecendo conexões entre a sua estrutura narrativa do passado e a nossa, pode
contribuir para que cheguemos uma maior compreensão da nossa ciência histórica,
enxergando-a não somente como um rompimento com a Mitologia, mas como uma
continuação da mesma.

Bibliografia

LÉVI-STRAUSS, Claude. 1987 [1978]. “Quando o mito se torna história” In: ———
Mito e significado: 53-64. Lisboa: Edições 70.

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