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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FICHAMENTO DO TEXTO “MEMORIA E HISTORIA” DE NATHAN


WACHTEL.
PROFESSOR: RICARDO CAVALCANTI-SCHIEL
ALUNO: SALOMÃO NICILOVITZ

Nathan Wachtel apresenta eu seu texto “Memória e História” um recorrido


histórico temporal das relações entre a história acadêmica e a memória, chamando
atenção aos cruzamentos de ambas com a história oral. A justificativa para tal
análise se dá pela crescente onda de interesse pela história oral, tendo em vista que
esta possibilitaria um retorno ao sujeito ativo em contraste às histórias hegemônicas
nacionais. Tal movimento tem como resultado uma inversão nos papéis da memória
e da história nos estudos acadêmicos bem como do seu papel na sociedade.
Wachtel argumenta que hoje em dia os historiadores estão, majoritariamente,
conscientes da impossibilidade de construir uma única história da memória coletiva
de grandes grupos ou nações; acreditar nessa possibilidade requereria conceber o
tempo como vazio e homogêneo, através de uma perspectiva positivista, na qual
seria possível alocar as lembranças dos indivíduos em uma memória unívoca.
Desde a Escola dos Anales, esse entendimento do tempo passa a ser questionado
dentro da historiografia, quando o prisma da “história narrativa” foi deslocado para o
da “história problema” e, como consequência, a temporalidade linear para a
temporalidade plural. Nesta então nova história, as amplas variações de
perspectivas dos sujeitos foram colocadas de forma complementares, por mais que
diferentes. É nessa história plural que o papel do historiador passa a ser
questionado e a memória e a história oral passam a ter atribuições diferentes.
Na historiografia tradicional, a história oral servia como um complemento
documental às fontes escritas. Mesmo quando se buscava ir além das histórias
hegemônicas dos grandes homens, dando lugar aos dominados e subalternos,
ainda assim a oralidade se configurava dentro do espectro de uma história
positivista, cujo objetivo dos relatos era o de formar arquivos orais que servissem
como suplemento às clássicas fontes escritas; a finalidade, então, era a de coroar a
busca por um passado objetivo. No entanto, conforme a memória passou a ter mais
relevância dada a sua utilidade em preencher esses vazios da documentação,
novas questões quanto a sua natureza foram trazidas.
Wachtel apresenta, nesse sentido, um longo debate teórico a respeito da
memória individual e coletiva, passando de Thompson a Halbwachs, Bergson e
Bastide. Já em Bastide, o autor chama atenção às redes de memória formadas
pelos grupos que, a partir de memórias individuais interrelacionadas, configuram
marcos que garantem a contínua formação dessas lembranças. Tais formações,
todavia, estão sempre inscritas
en la lógica de un sistema, pero al mismo tiempo dependen de las
relaciones de poder entre los grupos que las poseen: las memorias
se enfrentan entre sí, se mezclan, usan o se borran unas a otras, de
acuerdo con el destino de las sociedades cuyas identidades ayudan
a definir.(1999, p. 84)

Tendo em vista o contexto de questionamento do método historiográfico,


esse debate a respeito da memória contribuiu na fundamentação de uma nova
perspectiva da história acadêmica. Dadas as limitações da objetividade
historiográfica e as ações das memórias, a relação história e memória teria
passado, então, por uma inversão: agora seria a memória a inspiradora dos
interesses e objetos de estudo dos historiadores, e não o inverso. Wachtel inclusive
questiona: “No es acaso la historia por definicion memoria, puesto que preserva el
pasado? Pero falta ver cuál pasado.”(1999, p.84) Nesse caminho, o autor reconhece
que, dada a coexistência e o diálogo constante entre diversas memórias em meio a
relações de poder, a tarefa do historiador hoje em dia consistiria em “analizar las
formas, mecanismos y fundación de estos recuerdos en la vida de los grupos
sociales, así como sus interacciones e conflictos”. (1999, p.87)

Bibliografia:
WACHTEL, N. Memoria e Historia. Revista Colombiana de Antropología, Bogotá,
v. 35, enero-diciembre 2017, pp.70-90.

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