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HARTOG, François.

Memória de Ulisses

Introdução
A história grega é repleta de homens (reais ou personagens) que viajaram para
além da fronteira grega e relataram civilizações magníficas e aterrorizantes, povos
peculiares e paraísos terrestres. As narrativas sobre os outros lugares e povos são marcas
da alteridade formada pelos gregos: os gregos e os outros.
Heródoto salienta que em Esparta qualquer indivíduo que não nascesse
espartano era estrangeiro, grego ou não grego, seria tratado como xenos.
O que define o outro para os gregos? Como os estrangeiros são classificados?
Podemos falar que os gregos eram grandes turistas, mas não era comum deles o
interesse pela língua ou em absorver a cultura dos outros. Apesar de viajaram muito,
permaneciam unicamente gregos. “Se, apesar de tudo, houve diálogo entre os gregos, os
romanos e os judeus, isso se deve aos romanos e aos judeus – não, em princípio, aos
gregos” p.24.
Capítulo III
Segundo Tucídides, no mundo antigo não havia a clara separação entre gregos e
bárbaros. Os gregos ainda não haviam se classificado como gregos e excluído os outros
povos de sua cultura. As barreiras entre gregos e bárbaros eram mais tênues. Os gregos
eram bárbaros que em seguida, começando por Atenas, evoluíram e tornaram-se gregos,
enquanto os bárbaros continuaram sendo bárbaros.
Institui-se então a polaridade: os gregos e os não gregos, os gregos e todos os
outros. As Guerras Médicas foram um importante componente na fixação da alteridade
na visão dos gregos. Mas nas Guerras Médicas o bárbaro é, antes de tudo, persa.
Também é atribuída uma localização aos bárbaros: a Ásia, formando outra dualidade,
Europa e Ásia.
Em Heródoto os bárbaros recebem um rosto, o dos persas, mas sua classificação
tem um cunho político. Os bárbaros não necessariamente fazem barbáries (crueldades e
excessos), mas vivem fora do sistema político grego: a pólis. Diferente dos gregos que
são livres, os bárbaros vivem sob o comando de um rei, submissos a um senhor.
Mas e nas pólis governadas por reis, como Esparta, qual a diferenciação entre
bárbaros e gregos? Talvez seja porque a lei ainda é superior ao rei. O rei que transgrida
a lei, é acusado e até punido. Heródoto critica tiranos, que nada mais são que reis e
consequentemente são bárbaros. Cita o caso de 2 reis gregos que cometeram atos
bárbaros e passaram momentaneamente para o lado “mau”.
Para evocar sua identidade, os gregos não se referem ao território que habitam,
mas aos costumes em comum, os traços culturais que os identificam como gregos:
mesmo sangue, mesma língua, com santuários e sacrifícios em comum.
Heródoto acentua a dualidade entre Ásia e Europa para além da política.
Também utiliza o clima e a distância em relação ao centro da Europa, fatores
determinantes para descrever a superioridade de um povo (o grego) sobre outro (os
bárbaros).

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