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Teogonia - Jaa Torrano

Cap.2

A marca da oralidade está presente na concepção de linguagem poética que Hesíodo expõe no
Hino às Musas. Nessa cultura oral, o aedo é um "cultor da Memória", e por isso Hesíodo se
coloca ao lado e as vezes até acima dos Reis.
“Nesta comunidade agrícola e pastoril anterior à constituição da pólis e à adpção do alfabeto,
o aedo representa o máximo poder da tecnologia de comunicação. Toda visão de mundo e
consciência de sua própria história é, para este grupo social, conservada e transmitida pelo canto
do poeta”. (16)

Cap.3

O canto se inicia com o nome das Musas, sem a invocação a elas não seria possível o canto
começar. As Musas são encarnadas no seu próprio nome, o nome é seu ser, e elas se pronunciam
quando seu nome é falado. As Musas dão encanto ao canto, a força e a presença da deusa é o que
assegura sentido, força, direção e presença ao canto, não são a voz, nem a habilidade humana do
aedo.
A Memória gerou as Musas para rememoração e também esquecimento. "As Musas tornam o
ser-nome presente ou impõem-lhe a ausência, manifestam o ser-mesmo como lúcida presença ou
o encobrem com o véu da similitude."(p.26)
“O cetro é a insígnia que, socialmente, mostra no poeta um senhor da Palavra eficaz e atuante.
(...) Ao recebe-lo das Musas, o poeta é por elas inspirado a cantar os Deuses, os heróis e os fatos
presentes, passados e futuros”. Com o cetro, as Musas conferem seu poder à Hesíodo.
Passado e futuro pertencem ao reino do Esquecimento, do qual só se libertam no momento em
que a Memória os traz para o presente através das vozes das Musas.

Cap.4

“As Musas têm e mantêm o domínio da revelação (ser) e do esquecimento (não-ser) e este
domínio é a raiz originante de todo poder e exercício de poder”. (31)
A quantidade de vezes em que Zeus se deitou com a Memória, resultou igualmente na
quantidade de filhas que a Memoria pariu. As características das Musas equivalem à sua
concepção, Eleutera foi o lugar das relações entre Zeus e a Memória, local onde ela era cultuada
provavelmente por cantores; o nascimento foi em Piéria, perto do monte Olimpo, que
possivelmente tornou-se o principal local de culto às deusas.
São bisnetas da Terra.
A arte das Musas é persuasão, sedução, beleza e apelo sensual. São acompanhadas pelas
Graças, Desejo e Eros, este último fazendo com que suas vozes sejam amáveis.
No proêmio da Teogonia, as Musas cantam o poder e façanhas do pai Crônida,
desempenhando a função herdada da Memória, e a função de assistência aos reis, legada por
Zeus.
“A voz [de Belavoz] é bela não porque seja agradável e requintada, é bela não por
características que consideraríamos formais, - mas por este poder, compartilhado por reis e
poetas, de configurar e assegurar a Ordem, por este poder de manutenção da Vida e de custódia
do Ser”. (37)

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