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Universidade Eduardo Mondlane

Faculdade de Letras e Ciências Sociais


Cadeira de Morfologia – 10 Teste/ Setembro 2017/ Pós-laboral

1. a) Como deve saber, a Morfologia interage com outras áreas de análise gramatical.
Usando exemplos pessoais, demonstre um caso de interface entre a Morfologia e
Sintaxe1. (25)
b) Apresente os limites da distinção entre radical e palavra tendo em conta o critério
morfológico. (30)

2. a) Considere os processos de formação das palavras “infiel” e “formação ”. Descreva,


usando o formalismo adequado, os efeitos da afixação sobre a semântica das bases. (25)

b) Faça a distinção entre a prefixação e a sufixação tendo em conta os seus efeitos sobre a
categoria sintáctica das bases. Demonstre a legitimidade da sua distinção tendo como base
exemplos da língua portuguesa. (25)

3. a) Represente, em árvore e indicando as devidas etiquetas, a estrutura da palavra


“impenatrabilidade”. (25)

b) Demonstre, detalhadamente, que a sua representação em (a) é compatível com a


Hipótese de Ordenamento de Afixos. (20)

4. a) Depois da descrição formal de cada caso, formule a regra geral que permite dar conta
da formação de “organização” e “programação”, mas não de “choração” nem
“pensação’’. (30)

b) Indique e explique o tipo de restrição que impede a formação de “choração” e


“pensação”. (20)

1
Em todos os casos em que usar exemplos de uma língua diferente do Português, faça a respectiva tradução literal.
Universidade Eduardo Mondlane
Faculdade de Letras e Ciências Sociais
Departamento de Linguística e Literatura
Guião de correcção de Morfologia

1)a. Interface Morfologia e Sintaxe


(i) [SN meninas feias] são simpáticas.(05)
[+PL] [+PL]

(ii)* [SN meninas feia] são simpáticas.(05)


[+PL] [- PL]

A frase (a) é gramatical porque há concordância entre o núcleo nominal “meninas” e o seu
complemento “feias”. Mas, a frase (b) é agramatical porque o complemento “feia” não concorda
com o núcleo nominal “meninas”. Em português, quando co-ocorrem nomes e adjectivos, os
adjectivos devem copiar os traços morfológicos do nome. Os exemplos acima mostram um caso
de interface entre morfologia e sintaxe. A sintaxe contribui com a identificação da posição de
ocorrência do constituinte de acordo com a função sintáctica que desempenha e a morfologia
com as categorias flexionais. (15)

Tendo em conta o critério morfológico, radicais são unidades lexicais sem estrutura interna, e
palavras são unidades lexicais com estrutura interna. Contudo, os conceitos apresentam
limitações, isto é, não dão conta de todos casos. (10)

b. Os exemplos “[ram] RN”, “[plan]RN”, “[habit]RV” são compatíveis com o conceito de radical
apresentado acima mas, não acontecendo o mesmo com as estruturas “[[ram]RN ific]RV” e
“[[plan]RN ific]NR” pois são ambos radicais são analisáveis em constituintes. Ora vejamos os
exemplos: “[[port]RV eiro]N” e “[[[canal]N iza]TV dor]N”. Os exemplos justificam o conceito de
palavra de acordo com o critério aplicado poi dizer por que justificam, mas os exemplos:
“[feliz]N”, “[café]N” e “[caracol]N”, não têm estrutura interna, negando assim o pressuposto sobre
a definição de palavra. Essa situação mostra a limitação do conceito de palavra à luz do critério
aplicado. Estes são aspectos que distinguem radicais de palavras de acordo com o critério
morfológico. (15)
2a) Tanto os prefixos, quanto os sufixos alteram a interpretação semântica das bases. (05)

(i) [fiel] ADJ → [in [fiel] ADJ] ADJ (05)


(ii) “X” → o contrário de “X”
(iii) [formar] V → [ [ forma]TV ção ]N (05)
(iv) “X” → processo de “X”

O exemplo (i) mostra que o prefixo in- alterou a interpretação da base fiel. Ora vejamos, na
entrada temos um significado e no output, o contrário do significado da base. No exemplo (ii) na
entrada temos um verbo com um significado e no output depois da aplicação do sufixo -ção
temos o processo do significado da base, mostrando a alteração do significado inicial. (10)

2b)

(i) [construir] V →[re [construir]V]V (075)


(ii) [jornal]N → [[jornal]N ista]N (075)
(iii) [fixar]V → [[fixa]TV ção]N (075 )

O exemplo (i) mostra que os prefixos não alteram a categoria sintáctica das bases. Ora vejamos,
na entrada temos um verbo e no output mantém-se a mesma categoria sintáctica. No exemplo
(ii), no input temos um nome e no output o sufixo não alterou a categoria da base. No exemplo
(iii) na entrada temos um verbo e no output depois da aplicação da sufixação a categoria
sintáctica da palavra passou para nome. Estes dois exemplos mostram que os sufixos podem
alterar a categoria sintáctica das bases. (175)

3.a) impenetrabilidade (25)


N
[+FEM;+SG]
N
[+FEM;+SG]
RADJ
TV
RV VT N
Im penetr a bil idade
Estrutura (10)
Etiquetas (10)
Traços (05)
b) (20)

De acordo com a hipótese de ordenação de afixos que defende: quando co-ocorrem prefixos e
sufixos dá-se primazia aos sufixos. Neste sentido, a nossa estrutura dá conta da hipótese porque
na formação da palavra “impenetrabilidade” primeiro identificamos o radical verbal “penetr” em
seguida concatenamos a vogal temática “a” para formar o tema verbal “penetra” depois o sufixo
“idade” junta-se ao tema verbal para formar o adjectivo “dobrável” e por fim, agregamos o
prefixo “im” para formar o nome “impenetrabilidade”.

A ordem apresentada mostra que a nossa representação em (3) a. É compatível com a HOA

4.a) [organizar] V → [ [organiza]TV ção ]N (05)

[+TRANS] [+TRANS] [-Masc]

[programar ]V → [[programa]TV ção ]N(05)

[+TRANS] [+TRANS] [-Masc]

* [chorar]V → [[chora]TV ção ]? (05)


[-TRANS] [-TRANS]

*[pensar]V → [[pensa]TV ção ]? (05)


[-TRANS] [-TRANS]

[Base]V → [ [ Base]TV ção ]N


[+TRANS] [+TRANS] [-Masc]

O sufixo - ção associa-se a bases verbais com o traço


[+TRANS] para formar nomes. (05)
b) A restrição que se observa na regra do número 4.a) é de natureza sintáctica, no caso a
transitividade. As unidades choração e pensação não são possíveis de se formar porque as suas
bases ostentam o traço[ –TRANS]. (15)

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