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TRABALHOS ESCOLARES

Karl Marx

Grande parte do pensamento de Marx foi desenvolvido a partir da


leitura de Hegel e da crítica ao seu idealismo. Seus primeiros traba-
lhos publicados foram artigos jornalisticos em que ele mais criticou
seus oponentes do que expôs suas ideias. A elaboração de um pen-
samento sóciopolítico começou quando ele teve que escrever sobre
a aplicação da lei aos crimes e delitos em Berlim e percebeu que, na
base das leis, estavam os interesses dos poderosos.
Para desenvolver suas próprias ideias ele leu muito sobre política,
história e sobre a Revolução Francesa. Questionou os ideais elevados
que motivaram essa revolução e a sua incapacidade de destribuir a
riqueza com igualdade. Marx leu também Ludwig Feuerbach grande
critico da religião, segundo o qual não é Deus quem cria os homens,
Karl Heinrich Marx nasceu em mas os homens que criam Deus. Mais uma vez serviu-se desse pensa-
Tréveris no ano de 1818 e faleceu
mento para críticar o idealismo de Hegel.
em Londres em 1883. Foi um pen-
sador que exercitou seu raciocinio Criticou, também a concepção filosófica política de Hegel, conforme
em muitas disciplinas e conseguiu à qual o Estado era o nível de organização social mais elevado e o único
ligá-las entre si. Esse pensamento
capaz de unir os direitos particulares e a razão universal. Dessa forma,
abrangente pode ser relacionado à
sua história pessoal: era judeu, pas- Hegel colocava o Estado como única fonte da liberdade humana.
sou pelos movimentos idealistas de Para Marx, a solução dos problemas humanos não estava nem na reli-
oposição da Alemanha, pelo socia
gião, nem no Estado, mas no próprio homem, que deveria se unir para
lismo de Paris até chegar à
Inglaterra vitoriana. Inspirou-se na se libertar da humilhação, da escravidão, do abandono e do desprezo
filosofia da antiguidade Clássica, no em que se encontrava. Essa libertação seria obra de uma classe social
ideal aristocrático da pólis grega.
que não refletisse as classes existentes nem a ordem existente, mas que,
Interessava-se tanto por economia
quanto pelos escritores latinos. unida pela mesma experiência de injustiça, buscasse a libertação não de
um homem isolado, mas dos homens enquanto classe. Essa nova classe
seria o proletariado, e estaria destinada a ser o meio pelo qual se daria
a revolução.
O desenvolvimento dessas ideias políticas foi ampliado quando Marx leu
um artigo de Friedrich Engels críticando a economia política. Engels culpa-
va a propriedade privada e o espírito de competição pelos baixos salários e
pela luta de classes. Dizia também que, embora a economia crescesse esti-
mulando o progresso científico, a situação de miséria dos trabalhadores só
aumentava.
Marx escreve então uma série de notas em que crítica vigorosamente o
capitalismo, os economistas clássicos e o trabalho alienado.
Críticava a abordagem que os economistas faziam da sociedade capitalista
baseando-se em três pontos: primeiro, eles consideravam os trabalhadores
indispensáveis à atividade econômica, mas ao mesmo tempo lhes davam pa-
péis de mendigos; segundo, eles entendiam que o sistema econômico era
regido por leis que consideravam universais, verdadeiras, mas não sabiam

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FILOSOFIA

explicar; terceiro, eles pensavam no homem como parte da engrenagem pro-


dutiva, sem considerar suas necessidades e desejos como ser humano.
Ele entendia que o empobrecimento e desumanização do trabalhador na
sociedade capitalista devia-se ao trabalho alienado. Este trabalho tinha qua-
tro aspectos: primeiro, o trabalhador via o produto de seu trabalho como
um objeto superior ao qual não tinha acesso, por exemplo, o homem traba-
lhava na construção de casas nas quais ele jamais poderia morar; segundo, o
trabalhador não considerava o trabalho como parte da sua vida nem sentia
prazer nele; terceiro, o trabalho, apesar de exigir tempo e esforço, não era
visto como uma realização humana; quarto, o homem via-se separado dos
outros homens.
O trabalho alienado faz com que o objeto produzido pelo trabalho não
tenha valor como produto da realização de um ser humano para atender a
uma necessidade de um outro ser humano. O objeto não tem valor enquanto
obra de dedicação e amor, mas como mercadoria a que é atribuído um valor
econômico.
Na sociedade capitalista a única função do homem é produzir cada vez
mais, não restando tempo para que o homem se relacione com os outros
homens. Essa alienação seria resolvida pelo comunismo, isto é, abolição da
propriedade privada, para que os homens pudessem usufruir conjuntamen-
te do produto do seu trabalho.
Marx desenvolve seu conceito de comunismo em três aspectos: primeiro,
salientando que o comunismo estava presente em todos os momentos da
história. Naquele momento, na Alemanha, o problema era econômico, rela-
cionado ao fim da propriedade privada e à retomada do homem da sua vida
completa como um ser social. Segundo, o que caracteriza o ser humano é a
sua dimensão social, mesmo no relacionamento com a natureza, que com-
pleta a realização de toda a potencialidade humana incluindo a sensorial, a
moral e a espiritual. Terceiro, quanto mais se pensa no homem enquanto ser
social mais se valoriza o homem enquanto individualidade na posse não só
de objetos materiais, mas também de todas suas faculdades que se tornam
formas de interação com a realidade.
O homem alienado – alienação do ter – achava que uma coisa só era sua
quando a possuísse. Liberto da propriedade privada o homem aprenderia
de novo a usar suas faculdades para entender e se relacionar melhor com
a realidade. O relacionamento entre homem e natureza compreenderia a
ciência natural que englobaria a ciência do homem. Marx considerava o ho-
mem como um ser de carne e osso que interagia com um mundo também
concreto. Essa visão materialista era necessária para superar a alienação, ou
seja, o homem devia ver a si mesmo objetivamente em estreita relação com
a natureza e em colaboração com o seu semelhante.
O conceito mais importante que há entre os aspectos subjetivos e objeti-

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vos de pensamento de Marx é o de classe. Essas classes constituíam grupos


sociais que, entrando em conflito uns com os outros, provocavam mudanças
na sociedade, cujo desenvolvimento se daria de acordo com as transforma-
ções de sua estrutura econômica. Apesar de citar várias classes, em geral
ele desenvolveu seu pensamente considerando apenas a classe burguesa e o
proletariado. O critério para pertencer a uma dessas classes era possuir ou
não os meios de produção.
Marx é considerado o último e mais importante dos economistas clássicos.
Ele desenvolveu o conceito de mais-valia a partir do tratamento que esses
economistas deram ao valor do trabalho como parâmetro para se chegar ao
valor dos objetos. No capitalismo, esse valor deixa de existir, porque o valor
da mercadoria passa a ser o dinheiro. O valor do salário não corresponde
aos objetos produzidos nem ao tempo gasto para produzi-los, porque uma
parcela do trabalho não é paga, transformando em lucro para os capitalistas.
Assim o conceito de mais-valia desdobra-se na taxa de mais-valia, uma taxa
de exploração do trabalho não remunerado.
Os capitalistas buscavam aumentar o seu lucro aumentando a jornada de
trabalho ou a produtividade e disfarçando essa apropriação em contratos
que pareciam beneficiar ambas as partes, para evitar reivindicações e gre-
ves. Marx previu que, a longo prazo, a teoria desse trabalho não pago impli-
caria na diminuição da taxa de lucro para os capitalistas, na deterioração do
padrão de vida dos trabalhadores e no desequilíbrio do sistema por várias
crises que preparariam o advento do comunismo.

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