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INTITUTO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA DOM JOÃO RESENDE COSTA – PUC

MINAS

Sacramentos do serviço ao povo de Deus –

Reação crítica ao primeiro capítulo do livro “Matrimônio: Aliança – Reino”, de


Francisco Taborda

O primeiro capítulo do referido livro do Taborda, denominado “sexualidade e


matrimônio, traz reflexões muito valiosas para uma reta e fecunda compreensão acerca
de sexualidade humana viva segundo a vontade e os planos de Deus. O capítulo
apresenta-nos alguns pontos que nos revelam as peculiaridades da sexualidade humana
em relação aos outros animais e a possibilidade de sua plena humanização e coroação
cristã mediante os laços do matrimônio.
Um ponto fundamental que Taborda já coloca no início do capítulo é que a
sexualidade humana não se reduz à mera genitalidade. O ser humano é, em sua
inteireza, um ser sexuado; aliás, é na descoberta de sua natureza sexual identitária que o
homem e a mulher poderão chegar à maturação de suas vidas. A diferenciação sexual é
um fator determinante para a constatação da própria identidade sexual. O ser humano só
se descobre sexuado através do conhecimento e do contato com o sexo oposto (por
conhecimento e contato aqui, não nos referimos ao ato sexual enquanto tal, mas ao
conhecimento de que existe um gênero sexual distinto do meu). O homem compreende-
se plenamente em sua masculinidade, quando descobre a mulher em sua feminilidade; é
nesse ato de mútuo conhecimento que se entende a natureza e a finalidade da
sexualidade humana.
Outro ponto de reflexão muito interessante levantado no capítulo é sobre o
instinto sexual nos seres humanos e nos animais. Enquanto nestes o instinto se
manifesta apenas nos períodos de fertilidade, naqueles é possível notar um instinto
sexual permanente. Isso pode explicar-se pelo fato que o sexo humano não tem apenas
uma dimensão procriativa, ainda que essa possa ser considerada a mais importante, mas
também unitiva. No ato sexual humano homem e mulher unem-se em estreiteza cada
vez maior, como que numa entrega plena de si mesmos.
Taborda elenca dois aspectos da sexualidade humana que são fundamentais para
mantê-la dentro de sua natureza mais intima e preservá-la de deturpações
desintegradoras: a diferenciação e a alteridade. Deus quando criou todas as coisas pela
distinção e separação dos seres: luz e trevas, seco e úmido, céu e terra, vegetação,
peixes, aves, animais, homem e mulher. Ora, é justamente na diferenciação dos seres
que o Criador manifesta mais claramente sua beleza e bondade; o que não dizer então
do homem e da mulher, criados à imagem e semelhança de Deus? Sendo o ser humano
o ponto alto da criação, Deus manifesta a sua imagem e semelhança exatamente na
diferenciação entre os sexos. A alteridade, por sua vez, é também um elemento
fundamental para a reta vivência da sexualidade, pois o sexo só será verdadeiramente
humano quando realizado como oblação pelo outro, no abrir-se de maneira respeito
àquele que é diferente de mim.
Uma reflexão também importante é sobre a dimensão do desejo sexual enquanto
tal. Tomado em si mesmo, o desejo de atração pelo outro é um bem, aliás, é ele que
motiva homem e mulher a buscarem alguém que os complemente no campo da
sexualidade; é também ele que irá iniciar o processo de maturidade na vida das pessoas,
retirando-as da idade infantil para impulsioná-las a se tornarem adultas, passando assim
da dependência da família materna/paterna para a possibilidade de constituir uma nova
família independente. Mas essa realidade do desejo, marcada pela experiência do
pecado, pode tornar-se profundamente desordenada e geradora de dominação e
egoísmo, isso podemos observar sobretudo no domínio do homem sobre a mulher.
Quando se começa a obscurecer a dimensão da complementariedade e, especialmente da
alteridade, o outro passa a ser enxergado como uma coisa, um objeto que pode ser
utilizado para a pura satisfação sexual de um dos lados. Isso as vezes acontece de forma
mais velada, dentro de ambientes familiares, e muitas vezes de forma explícita, em
verdadeiros atos de violência e agressão sexual.
Para tentar apresentar uma luz sobre essa realidade da sexualidade humana,
Taborda fará um paralelo sobre a vivência do sexo e as instituições que ao longo dos
séculos, em todas as culturas, são criadas em vista de regulá-la. Longe de assumir
posturas radicais e revolucionárias sobre o assunto, o que me parece ser sinal de
sensatez, Taborda desenvolve seu pensamento mostrando que a instituição do
casamento – e no caso cristão, do matrimônio – podem ser muito benéficas para
humanizar as relações entre homem e mulher. Sem negar as deturpações e o mau uso
das instituições, que infelizmente, não raro, aconteceram na história – essas sim
condenadas por Jesus - o autor compreende que o matrimônio pode ser um propulsor da
preservação daquelas dimensões que citamos anteriormente como fundamentais para a
boa vivência da sexualidade humana. Sabemos que o ser humano, marcado pelo pecado,
precisa de amparos institucionais e religiosos que o ajudem a recordar e viver à vocação
à qual é chamado; não pode ser deixado ao puro arbítrio de suas vontades e desejos.
Nesse sentido, a sexualidade humana, antes de se tornar uma realidade controlada por
“tabus” e regras “castradoras”, pode ser verdadeiramente coroada pelo matrimônio e
encontrar seu mais alto florescimento.

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