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Disciplina: Teologia sistemática II

Aula 4: Origem da pessoa humana


Apresentação

Nesta aula, considerando a perspectiva cosmológica e antropológica dos capítulos 1 e 2 do livro de Gênesis (Gn 1 e Gn 2),
trataremos de uma antropologia adequada, do que é propriamente humano a partir do caráter teológico, ou seja, a definição
da pessoa humana em sua relação com Deus.

Com a leitura de Gn 1 e Gn 2, buscaremos as inspirações mais profundas que os textos nos apresenta em sua definição do
ser humano enquanto ser e no seu existir, em si mesmo e aberto à relação consigo mesmo, com os demais e com Deus.

Objetivos

Discutir o estudo bíblico sobre a origem humana e o sentido da vida.

Identificar o sentido cristão da vida humana.


Deus e o mundo criado
Sabemos do intervalo da escrita entre os livros Gn 1 e Gn 2-3, mas não trataremos de suas especificidades, e sim da mão
deuteronomista que os reuniu em uma obra única entre os séculos VI e V a.C. Essa unificação tem a perspectiva antropológico-
teológica da identidade de Israel de se compreender e a tudo como sendo de Deus.

Como espaço de diferentes narrações dos povos antigos, Israel aprofunda questões humanas, de acordo com a realidade do
período pós Babilônia (539 a.C.), procurando a relação adequada com o mundo e com a própria história:

Liberdade Trabalho

Escravidão Mal

Limite

Vida e Amor e
morte sexualidade

Verdade e Sofrimento e
mentira violência

Vestimenta e
alimentação

O objetivo não é uma exegese1 dos textos, mas o ser humano enquanto tal, em sua expressão da verdade e do modo de se
aproximar da realidade na linguagem mitológica usada.

Na relação com Deus e com o mundo criado, Gn 1 nos apresenta uma relação cosmológica da criação da pessoa humana e Gn 2,
uma visão antropológica propriamente dita.

De acordo com essa visão, Deus é o que tudo cria e ordena, permanecendo invisível atrás de sua Palavra e ação, convidando o
leitor a admirar as obras pelas quais se apresenta. Não há embate, nada destrói, não suprime as trevas e sim, com autoridade,
ordena o tempo e o espaço. Generoso, delega a fecundidade às criaturas, o tempo aos astros e os animais à humanidade. Domina
a si mesmo no sétimo dia, deixando espaço à vida dos viventes, para que possam atuar.

A origem humana em Gn 1:1 – 2:4

A linguagem poética de Gn 1 apresenta a chave de leitura da vida e da sabedoria de Deus, proporcionando um diálogo entre o que
está escrito e a existência humana, próprio da retórica semítica.

Somente o leitor é testemunha da Criação, pois o ser humano é a última obra de Elohim2 . No conjunto de obras, a função de
governo de Deus: os astros para o tempo (v. 16-18), as criaturas para a fecundidade (v. 24-25) e a humanidade para os animais (v.
26-28). O ser precede à consciência, uma vez que o mundo é dado e não criado por nós.
Veja os versículos:

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Versículo 26 

Ao longo do texto, o verbo aparece no singular, como em “Elohim fez” e “Elohim diz”. No entanto, em Gn 1, 26, é empregada a
primeira pessoa do plural: façamos. O sentido pode ser de um plural majestático, fala em direção à criatura que cria, ou
ainda, uma indicação inconsciente da Trindade. Muitas são as posições dos estudiosos, mas Elohim não fala de si mesmo,
Ele se envolve diretamente com a criatura que trará sua “imagem e semelhança” (v. 26).

Versículo 27 

No versículo 27, Deus cria o homem à sua imagem e semelhança? Homem como ser humano, como duas expressões,
macho e fêmea. Ambos criados juntos e distintos, destacando o que têm em comum com os animais, diretamente
relacionado à sexualidade. Toda pessoa traz algo de animal que, em si, é neutro.

Versículo 28 

O versículo 28 “crescei-vos e multiplicai-vos” traz dois princípios morais: liberdade e responsabilidade. Quando Deus faz o
convite para que juntos, homem e mulher, se posicionem frente a si mesmos e à criação que lhes é entregue, Ele dirige-se
diretamente à humanidade e apresenta-lhe toda a criação como dom, com a fecundidade, o governo e o alimento.

Todo o necessário lhes é entregue e, agora, precisam percorrer o caminho para se tornarem semelhantes a Deus, dominando-se e
ordenando-se através do poder sobre o criado. Liberdade e responsabilidade se relacionam no respeito à vida e no autocontrole
frente ao limite e ao conjunto – a animalidade não é somente exterior. Só então, no conjunto da criação, Deus vê que tudo é muito
bom (v. 31).

O tom e a escolha dos verbos trazem força e conotações guerreiras e políticas, em potencialidade de violência e apelo a um
projeto para a sociedade em alteridade com as diferenças. Cabe à humanidade o governo de paz e harmonia.

Origem humana em Gn 2, 4-25


Gn 2, 4 faz uma transição com a perícope anterior sem ruptura, como um estudo
mais amplo da pessoa humana enquanto criatura, tanto em sua origem quanto em
suas relações fundamentais. Cabe ao ser humano dominar a terra como condição
para sua vida. Para isso vegetais, alimentos mais simples, estão disponíveis, à
exceção da árvore do conhecer, o bem e o mal. A falta conhecida estrutura o texto,
preparando o jardim para a humanidade e depois destacando a solidão de ‘adam.

Do pó e do vapor, o barro. Adonai Elohim aparece como um oleiro semita e vivifica,


dom exclusivo para a humanidade e imprescindível à linguagem (v. 7). É um laço
entre a palavra humana e o sopro divino, condição para nomear os animais (v. 10).
Atenção

É importante destacar o jogo de palavras que há entre ‘adam e ‘damah, o ser humano e o húmus a partir do versículo 5. Como os
vegetais que brotam da terra (v. 9) e os animais (v. 19), o humano partilha a mesma origem do universo físico, com a missão de
trabalhá-los. No entanto, só ele é identificado como vindo do “pó”, lugar de morte (Jó 7, 21; Dn 12, 2; Sl 22, 16), consciência única
de sua finitude.

Cuidar e guardar (v. 15) é a resposta a Deus, reconhecendo as singularidades no reinar. Na relação com Deus, temos o sentido
religioso:

Cuidar e guardar como servir, honrar, cultuar, posicionar-se frente a Deus e ao mundo.

Trabalhar o jardim é condição existencial, que possibilita o próprio crescimento e sustento, sendo cuidado através dele em uma
aliança entre a humanidade e a natureza.

O limite é a proibição de comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal (vv. 26-
27), como aceitação de sua condição de criatura, livre escolha entre a vida e a morte,
tensão de comandar os animais. Na Babilônia, a árvore do paraíso é símbolo de
imortalidade. A tensão faz retornar a 1, 28-29 na bênção aos humanos e ao dom do
alimento.

Conhecer representa o limite, aquilo que não se deve saber, em uma ordem positiva,
uma advertência para a consequência, deixando espaço entre a interpretação
humana e a discrição do amor divino, entre o desejo de viver (“todas as árvores tu
comerás”) e a renúncia da vontade em um processo de autodomínio.

 (Fonte: Ron and Joe / Shutterstock).

Comentário
Não é uma negação do conhecimento – é claro o que conduz à vida e à morte e a direção de ambos, ainda que a intenção de
Adonai Elohim seja velada. A questão está na maneira de conhecer, de querer-se ir além da própria condição, arriscar a confiança
na palavra divina frente ao desejo. No limite, a vitória sobre a cobiça, a ordenação e a responsabilidade com a vida, que prepara
para a alteridade, para o conhecimento do outro.

A leitura de Wénin (2011) é um exemplo de como ‘adam é entendido como toda a


humanidade. A partir do versículo 21, a falta-solidão identificada por Adonai Elohim
(v. 18) e perceptível à humanidade (v. 19-20) e será condição da maturidade humana.
Própria da pessoa, a solidão original é a primeira descoberta de sua transcendência,
de abrir-se e ir ao encontro de outrem.

Elohim sustenta a iniciativa e se apresenta como cirurgião, extraindo a mulher, não


como animal vindo da terra, mas numa diferença fundamental, em relação pessoal,
retirada do lado, próxima ao coração do homem. Sem participação humana, a mulher
se apresenta como diferente e complementar através da sexualidade, homem e
mulher, de origem desconhecida do outro, em dupla falta: a integridade anterior e o
não-saber. Não é obra da cultura ou da história, e sim da própria natureza.

Na aproximação, o outro remete à semelhança e, ao mesmo tempo, à diferença, que envolve tanto o ser como o saber, relativo ao
“tomar” do versículo 21 – não foi ele e não sabe como foi, com o verbo na voz passiva, indicando o não saber. Um convite que
permite sair da solidão e encontrar o outro, em que a experiência alcance a plenitude humana, em um diálogo essencial para a
vida.

Entre a solidez dos ossos e a fragilidade da carne (v. 23), a


alegria e a admiração na primeira vez que o homem vê a
mulher, sua primeira fala. Nenhuma pergunta, parecendo que
fala consigo.

Ele situa a mulher em relação a si, identificando-a como ‘issah,


enquanto ele é ‘is, mesma raiz, com a diferença de um ser
feminino e o outro masculino. É como se, com a mulher, nada
faltasse ao homem.

Comentário

No versículo 24, a referência a pai e mãe mostra ao leitor que não se trata de simples personagens de uma narrativa, mas um
convite a cada um se situar frente ao dom do outro na própria vida. O homem vai ao encontro da mulher, na casa da mulher. Se a
mulher é criada para a humanidade solitária, o homem existe para a mulher e a mulher, para o homem.
Pai e mãe, de quem de fato se é osso e carne, são deixados
em um processo de diferenciação familiar, amadurecimento
enquanto pessoa, para uma aliança em uma nova relação. A
falta de alguém, o próprio limite, é assumida em alteridade, em
que, sendo um para o outro, um não é o outro e muito menos
um absorve o outro em si mesmo.

Distintos, no ato de assumir a própria incompletude na falta


que a outra pessoa lhe apresenta, a pessoa humana abre
espaço para uma “carne única”, um ser que será fruto deste
encontro: o filho.

 (Fonte: majivecka, Croisy / Shutterstock).

Após a criação da mulher, Elohim discretamente se coloca em segundo plano, deixando


espaço para que o casal se descubra, para que o lado a lado possa se tornar um encontro
face a face, um projeto de Deus. Não há vergonha da própria nudez frente ao outro.

Imagem e semelhança de Deus

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Imagem Semelhança
É um termo usado para uma expressão plástica, É um ser em duas realidades, que podem ser
como uma escultura, uma representação. comparadas (Ez 1, 26) ou uma cópia (Is 40, 18).

Deus nos quis à sua imagem, o ponto alto de sua criação, não como seres acabados, mas com uma estrutura dialógica para
colaborar em seu projeto. Tal dignidade nos indica o valor de cada pessoa em si mesma, independentemente de características
individuais. Esta consciência revela a capacidade de sair de si mesmo e conhecer o mundo, de comunhão com as pessoas, com a
criação e com Deus.

Reinar não é ser o dono, mas o mordomo, o cuidador e o guardador dos dons perante
as gerações. Da relação entre o próprio limite e o poder, a garantia da vida. Deus
assume o risco e confia sua obra à humanidade.

A administração do mundo é tarefa tanto do homem como da mulher (Gn 1, 26) no exercício de uma sociedade de paz e de
justiça, na ordenação da cultura, o poder crescer e alcançar a semelhança, em um projeto de cocriação. No sábado, dia em que
Deus interrompe o ritmo, domina o próprio poder, abençoa e santifica toda a obra recém-criada, repousando com a humanidade e
silenciando, em um convite sutil para a humanidade superar o mero fazer e descansar Nele.

O ser humano “no princípio”


A expressão “no princípio” é uma referência clara a Gn 1,1, Jo 1,1 e a Mt 19,4. Somente nesta perspectiva temos o ser humano,
homem e mulher, integrais e integrados. Da palavra criadora de Gn 1 à palavra trabalhadora de Gn 2, há a compreensão
personalista, de ser mais que a natureza material, distinta pela racionalidade, isto é, se ver na ótica do dom, da Vontade Criadora
que chama do nada à existência.

O ser precede à consciência e, pelo contato subjetivo com o mundo, podemos perguntar sobre a Verdade, dispondo-nos a
conhecer. Pelo corpo, somos distintos e separados dos animais. Somente a partir da solidão original que a mulher pode ser
acolhida e compreendida, bem como a consciência humana enquanto imagem de Deus, essencial para a primeira aliança. Ao dar
nome, atribuímos sentido e significado, tornando-nos sujeitos e capazes de decisão, o que envolve agir e liberdade, a escolha
entre a vida e a morte.

 (Fonte: MysticaLink / Shutterstock).

Conhecimento envolve transcendência, ir ao encontro do que é diferente, de ser quem se é na relação, interiorizando o conhecido
e podendo nele se distinguir – o “eu”. A consciência envolve o ato de refletir e de interiorizar, para conhecer, movimento realizado
através dos sentidos.

Sendo o conhecimento humano sensorial, ele só pode se dar na relação com a realidade, com a experiência concreta. Isso só é
possível no contato com a mulher, ser semelhante e diferente, a partir do qual o homem reconhece que é alguém diante de outro
alguém, que não está só, mas que tanto um como o outro são sujeitos. Envolve uma dimensão moral, pois a mulher, sendo
sujeito, não pode ser reduzida ao aspecto de objeto de desejo de ninguém. Aqui, o “tu” modifica o sujeito, que deixa de ser a
própria referência e é instigado a ir ao encontro face a face, que convida ao dom de si para a comunhão.

Os termos Adão (homem) e Eva (mãe da humanidade) são arquétipos da humanidade,


apresentando-a como imagem visível do Deus invisível.
O “só” de Deus (Gn 2, 18) anuncia a questão antropológica de toda a história. Só, o ser humano se torna senhor que nomeia e que
compreende que isso não lhe é suficiente, que precisa de algo mais, de alguém. A mulher é dom em um estado do coração que
não tem vergonha de aceitar o outro enquanto imerso no mistério da criação, ambos participantes e responsáveis em revelar
Deus ao mundo.

A relação com o dom do outro e de si para o outro oferece-nos a possibilidade de não sermos limitados aos nossos instintos e
emoções. A “auxiliadora” de Gn 2, 18, termo comum do Antigo Testamento relacionado a Deus que ajuda seu povo, prefigura a
grandeza do “maior é aquele que serve” (cf. Lc 22, 26), em sentido ético que se refere à existência.

 (Fonte: Nowik Sylwia / Shutterstock).

Duas pessoas, conscientes de si, com expressões próprias em cada povo, não distintas por punição, como na mitologia grega. Na
linguagem bíblica, o ser humano é dual desde o início, imagem de um Deus-comunidade: o corpo que distingue também direciona,
em uma identidade esponsal, de afirmação do outro por este e não como instrumento de realização de si. Sendo relação,
experiência, somos conscientes do próprio corpo, mas não nos reduzimos a ele. Somos um corpo vivificado a partir do eu. Não
somos limitados à matéria, ao conhecimento científico. Trazemos uma subjetividade metafísica, teológica.

Cada um de nós é um eu único, que traz uma interpelação ética de se realizar enquanto pessoa. No domínio da própria natureza,
através do processo de inserção no mundo para experimentar, podemos conhecer e compreender o que somos e o que não
somos, encontrando Deus na pessoa humana. Na existência-dom, Deus nos confia o que é mais humano: nossa própria vida.

Só na resposta fundamental do amor e da fé, é


possível compreender a mulher enquanto dom, e
não em relação social e materialista de poder,
expressão de submissão da relação entre homem
e Deus.

Retornar ao “princípio” é a atitude permanente de buscar a verdade original, a própria existência, o próprio ser, anterior à
consciência e à expressão da liberdade. É preciso estar atento à natureza do que é justo e injusto, tendo o ser humano como
medida.

No agir, o cuidar e o guardar (Gn 2, 15), temos a realização da vocação originária em construir o mundo com Deus, em um
entendimento ecológico que indica tanto a relação entre a Criação e a Salvação, como a plenitude escatológica.

A pessoa humana
A compreensão própria da Teologia em referência à pessoa humana está em situá-la frente a Deus, como unidade composta por
um corpo formado por elementos do universo e por uma alma espiritual, princípio vital divino que vivifica a matéria na concepção.

O objetivo da Sagrada Escritura não é o ensino das ciências


naturais, mas do sentido e do valor dos seres em relação com
Deus. Deste modo, como disciplina de antropologia teológica,
podemos compreender ‘adam em Gn 1, 27, substantivo
comum, enquanto um arquétipo, referência para o gênero
humano.

A tradição judaico-cristã acredita que Gn 1-3 é uma história


real narrada em linguagem figurada. Os israelitas tendem à
concretude, ao visível, descrevendo a condição religiosa
humana. É nesta perspectiva que consideram ‘adam como
beleza, pela sua riqueza sobrenatural, realidade de graça.

 (Fonte: Artit Fongfung / Shutterstock).

O termo usado para corpo, basar (carne), identifica a fragilidade (Jó 4, 15; Lv 13, 2-4; 19, 28) e a pessoa como um todo, com um
entendimento específico no sepultamento. Trabalho é o modo de reinar (Gn 1, 26-28; 2, 15; Ecl 3, 1-8), tanto em dominar a criação
como a si mesmo. Para isso, existem os dons preternaturais3 :

Filiação divina Imortalidade Integridade


Participação da vida e da (Gn 2,17; 3,3s) (Gn 2, 25; 3, 7-11)

felicidade do próprio Deus. A morte é apresentada como Imunidade de


Amizade sobrenatural com o consequência do pecado. concupiscência desregrada.
Criador.

Impassibilidade Ciência moral infusa


(Gn 3, 16) Responsabilidade diante de
Ausência de sofrimentos. Deus.

Assim, a antropologia cristã concebe dois princípios recíprocos e em relação de comunhão:

Corpo / matéria e Alma / espírito


Totalidade psicofísica

Não é uma equação passível de ser manipulada - corpo + alma, é uma unidade de ser.

A alma não é pré-existente ao corpo, um espírito puro. É um princípio metafísico presente na encarnação, sendo interioridade e
subjetividade. O corpo é o modo de comunicação, expressão histórica. A pessoa humana é uma unidade entre interior e exterior,
psique e organismo, em complementaridade e codeterminação.

Enquanto imagem de Deus, a pessoa humana traz em si um primado sobre a realidade. Tal verdade se contrapõe a antropologias
materialistas que reduzem o ser humano a uma realidade mundana, um ente entre outros entes, meio e valor relativos, reduzindo-
o à sua condição biológica e destituindo-lhe sua dignidade.

A posição humanística cristã situa o ser humano em suas dimensões pessoal e espiritual, administrador do mundo criado, com
uma dignidade própria, imagem de Deus, em um permanente vir a ser, semelhança divina.

Atividade
1. Leia a perícope Gn 1, 1 – 2, 4 e destaque os versículos em que a humanidade é citada de modo explícito. Também aponte três
características que indicam a relação entre homem e Deus.

2. Leia a perícope Gn 2, 4-25 e indique os versículos que expressam claramente falta e missão.

3. Marque verdadeiro (V) ou falso (F) nas proposições a seguir:

a) No sétimo dia, a criação estava completa.

b) Somos imagem de Deus enquanto ato e semelhança enquanto potência.

c) A relação entre Deus e a humanidade é tão íntima que tem consciência, desde o início, sobre a grandiosidade divina.

d) Trazemos algo de animal que, em si, é neutro.


e) A distinção da sexualidade é um convite à alteridade.

4. Na antropologia cristã, a perspectiva personalista compreende o ser humano enquanto pessoa, formada por dois princípios
metafísicos em unidade: o corpo (organismo) e a alma (psique). É inevitável o confronto atual com antropologias de viés
materialista. Nos itens abaixo, faça a distinção entre estas duas leituras, colocando (C) para questões próprias da antropologia
cristã e (M) para aquelas relacionadas à antropologia materialista:

a) O ser humano é um ser reduzido a sua materialidade. g) A realidade é natureza, dom de Deus, a ser descoberta e
participada na criação.

b) A pessoa é um ente entre as demais, compreendida enquanto


massa populacional. h) O valor de cada um é diretamente proporcional aos bens que
possui.

c) A dignidade humana é um bem em si, pois é a imagem visível do


Deus invisível. i) A humanidade é significada a partir de seu contexto histórico.

d) Cada pessoa é um ser único e irrepetível. j) Os valores propriamente humanos se sobrepõem a qualquer outro.

e) O homem vale de acordo com sua capacidade de produção. k) Cada um se define a partir das escolhas diárias.

f) O ser humano tem valor enquanto tal. l) A humanidade é um conjunto orgânico e dinâmico, em unidade e,
enquanto tal, formada por diferentes elementos de diversidade.

Notas

Exegese 1

Termo de origem grega, que significa Explicação ou interpretação cuidadosa de um texto, de uma obra artística etc.

Elohim 2

Uma das formas de se referir a Deus.


Preternaturais 3

Referências
Aquilo que está acima ou fora do natural, sobrenatural.

DUSSEL, Enrique. El dualismo en la antropología de la cristandad. Buenos Aires: Guadalupe, 1974.

GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. 2.ed. São Paulo: Vida Nova, 2017.

LADARIA, Luis. Introdução à antropologia teológica. 7.ed. São Paulo: Loyola, 2014.

MARTINS. Jaziel (Org.). Teologia sistemática. Curitiba: Intersaberes, 2015.

MERECKI, Joroslaw. Corpo e transcendência. Brasília: CNBB, 2014.

OLIVEIRA, Renato Alves de. Da relação corpo-alma à mente-cérebro: a antropologia cristã e as novas cristologias. In: Perspectiva
Teológica. Belo Horizonte, v. 46, n. 129, p. 215-245. Maio/Ago. 2014. Disponível em: <// www.faje.edu.br/ periodicos/ index.php/
perspectiva/ article/ view/ 2799 <//www.faje.edu.br/periodicos/index.php/perspectiva/article/view/2799> >

RATZINGER, Joseph. Introdução ao Cristianismo. 8.ed. São Paulo: Loyola, 2015.

TILLICH, Paul. Teologia sistemática. São Leopoldo: Sinodal, 2005.

WÉNIN, André. De Adão a Abraão ou as errâncias do ser humano. São Paulo: Loyola, 2011.

Próxima aula

Estudo de Gn 3;

Promessa de Gn 3, 15;

Pedagogia de Deus.

Explore mais

Quanto à relação dualista, você pode aprofundar seus conhecimentos com a obra El dualismo en la antropologia de la cristandade
<//biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/otros/20120130111139/ANTROPOLOGIA.pdf> , de Dussel.

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