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VIKTOR FRANKL E A

LOGOTERAPIA
UMA INTRODUÇÃO HISTÓRICA E TEÓRICA
INSTITUTO JIMMY PESSOA
Seminário sobre Viktor Frankl e a
Logoterapia

MINISTRANTE E AUTOR
Professor Jimmy Barbosa Pessoa

REVISÃO TEXTUAL
Renata Acquesta

CAPA
Giovanna Coelho

EQUIPE DE ORGANIZAÇÃO

Abimael Rodrigues
Carolina Matos
Giovanna Coelho
Jimmy Pessoa
Renata Acquesta
Tamires Lima
Vitória Souza

DADOS PARA REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


Pessoa, Jimmy Barbosa. Viktor Frankl e a
Logoterapia: uma introdução histórica e
teórica. São Paulo: Instituto Jimmy Pessoa,
2022.
Autorizada a reprodução total ou parcial deste
texto para finalidade acadêmica com a devida
citação do autor. Venda proibida.

INSTITUTO JIMMY PESSOA


Pesquisando, aprendendo e cuidando.
@institutojpessoa – institutojpessoa@gmail.com
01

INTRODUÇÃO
A perspetiva teórica - ou abordagem
psicológica chamada Logoterapia, foi
desenvolvida pelo psiquiatra Viktor Frankl
(1905-1997). Tanto sua formação acadêmica
quanto experiência de vida marcaram sua
construção (Pessoa, 2020). Sua principal
proposta é a vontade de sentido - ou a
construção do sentido de vida.

Segundo o pensador da terceira escola


vienense, “o papel da Logoterapia consiste em
ampliar e alargar o campo visual do paciente
de modo que todo o espectro de sentido em
potencial se torne consciente e visível para
ele” (FRANKL, 2019a, p. 135).

Este trabalho traz uma apresentação


panorâmica de conceitos teóricos da
Logoterapia e ainda realiza uma
apresentação introdutória de comentaristas
brasileiros que se destacam nos estudos da
obra de Viktor Frankl, como Aquino (2012);
Caldas e De Lima (2012); Nery (2019);
Almada (2019); Pessoa (2020) e outros
autores que também navegam no tema da
análise existencial do ser humano
desenvolvida por Frankl.

Instituto Jimmy Pessoa, 2022.


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A Logoterapia é definida como uma
psicoterapia centrada no sentido da
existência, já que a palavra grega logos
corresponde a sentido e direção e therapeía
deriva-se do verbo therapeúo, que é prestar
cuidados médicos, tratar. Dessa forma,
constitui-se em uma forma de tratar por
meio do sentido. Essa primeira acepção
refere-se a um sistema de cura mas, de
forma geral, sua fundamentação constitui-se
em três eixos básicos: a liberdade da
vontade, a vontade de sentido e o sentido da
vida (LIDDELL e SCOTT, 1983; LUKAS, 1989
apud AQUINO, 2012).

O campo da Psicologia no âmbito terapêutico


e seus mecanismos de atuação clínica são
amplos e variados. Dentre estas áreas de
abordagens e ciências temos a Logoterapia,
que é uma teoria de trabalho com proposta
terapêutica a partir da busca do sentido da
existência e a valorização dos credos, da
presença da divindade e do sentido do ser,
da liberdade e valorização da integralidade
do ser humano (FRANKL, 2011; FRANKL,
2019a; FRANKL, 2020).

Essa construção é desenvolvida pelo


psiquiatra Viktor Frankl, sendo conhecida
como a terceira escola vienense de proposta
e atuação teórica, clínica e terapêutica
(ALMADA, 2019; FRANKL, 2020).

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Tratando sobre as perspectivas teóricas da
Logoterapia, Nery (2019, p. 36) cita aspectos
definidos por Frankl: É uma teoria “aberta a
sua própria evolução e à contribuição de
outras teorias psicológicas”. Frankl a
considerava uma teoria “antidogmática e
aberta” e que não tinha interesse em “formar
robôs, nem em gerar papagaios que só
repetem a voz do mestre”. Considerava-se o
“fundador” da teoria, no sentido daquele que
lançou um fundamento para que outros
continuassem construindo. Em sua visão, a
Logoterapia deveria se configurar como uma
“terra de ninguém”.

A Logoterapia amplia possibilidades de


analisar o ser humano em sua psique, pois
possibilita e instrui o psicoterapeuta a
discutir aspectos de crença, de sentido e de
elementos que o próprio indivíduo considera
importante sem haver um julgamento ou
definição previa de suas falas e questões
trazidas nas sessões psicoterapêuticas.
Viktor Frankl desenvolve uma abordagem
onde não apenas aumenta uma leitura
teórica, mas da própria consideração do ser
humano em sua condição de existência,
como um ser biológico, psíquico, social e
espiritual.

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1.VIKTOR FRANKL
UMA INTRODUÇÃO SOBRE VIDA E OBRA

Nasceu em Viena, em 26 de março de 1905.


Na juventude, iniciou seu interesse nos
estudos filosófico e psicológico. Aos 16 anos
teve a oportunidade de ministrar uma
palestra sobre o sentido da vida em um
Fonte: www.quadrante.com.br/viktor-frankl

partido político de sua cidade. Nesta época,


ele rascunhava seus escritos que viriam a ser
a Logoterapia.

Ao concluir o ensino médio, escreve um


trabalho sobre a Psicologia do Pensamento
Filosófico. Nesta época se corresponde com
Sigmund Freud. O pai da Psicanálise gosta de
ler suas cartas e o incentiva a continuar a
escrever e dedicar-se a seus estudos.

Cursou medicina e neste período, mesmo


dedicado aos estudos na Universidade,
participou de atividades políticas estudantis,
sendo filiado a um partido e colaborando
com debates e eventos políticos. Ainda na
graduação, escreve seu primeiro artigo
científico e realiza palestras e estudos sobre
a prevenção ao suicídio para estudantes e
sobre o sentido da vida.

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Em 1926, Frankl fala em um congresso sobre
a Logoterapia e a proposta de buscar o
Sentido da Vida. Em 1930, tendo participado
de congressos em vários países na Europa e
feito residência em Psiquiatria e Neurologia,
é convidado a assumir um pavilhão em um
Hospital Psiquiátrico em Viena, que era
conhecido por casos de suicídio.

Neste período conhece sua primeira esposa,


que era enfermeira no hospital. No ano de
1938, Viktor Frankl já realizava atendimentos
em seu próprio consultório de psiquiatria e
neurologia, quando a Áustria é invadida pelo
exército Nazista. Mesmo possuindo visto para
viver nos EUA, decide permanecer em Viena.
Recusou-se a recomendar eutanásia para
doentes mentais, sendo proibido de atender
cidadãos que não fossem judeus e,
posteriormente, ele e sua família são
enviados para campos de concentração.

Seu pai e esposa morrem de exaustão, sua


mãe nas câmaras de gás, sua irmã consegue
se refugiar na Itália e Viktor Frankl sobrevive
tendo passado por 4 campos de
concentração: Theresienstadt, Auschwitz,
Kaufering (Dachau) e Türkheim.

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Caldas e Da Silva (2012), comentando sobre
Viktor Frankl, escrevem:

“Sua experiência como prisioneiro de campos de


concentração serviria, assim, para comprovar que o
ser humano é portador - além das dimensões física e
psíquica - de uma dimensão mais abrangente que
pode dotá-lo de uma surpreendente força de
resistência” (p. 93).

Na obra Em busca de sentido: um psicólogo no


campo de concentração, Gordon Allport, no
prefácio da edição americana do respectivo
livro, considera que "(...) é uma obra-prima de
narrativa dramática focalizada nos mais
profundos problemas humanos" (Frankl,
2019).

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2. CONTRIBUIÇÃO
DA LOGOTERAPIA
COMO PROPOSTA DE CUIDADO E APOIO
PSICOLÓGICO
O campo da Psicologia, no âmbito
Fonte: www.psicologo.com.br
terapêutico e seus mecanismos de atuação
clínica, é amplo e variado. Dentre algumas
áreas, abordagens e ciências, temos a
Logoterapia, que é uma teoria de trabalho
com proposta terapêutica a partir da busca
do sentido da existência e a valorização dos
credos, da presença da divindade e do
sentido do ser, da liberdade e valorização da
integralidade do ser humano (FRANKL, 2011;
FRANKL, 2019a; FRANKL, 2020).

Como bem apresenta Almada (2019), Viktor


Frankl se autodefiniu como aquele que
encontrou o sentido da própria vida ajudando
os outros a descobri-lo. Sua experiência de
vida transcorre ao longo de quase todo o
século XX, e suas experiências enriquecem
suas pesquisas e propostas teóricas.
Discorrendo em uma breve apresentação
sobre o terapeuta fundador da chamada
terceira escola vienense de psicoterapia,

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Almada (2019, p. 65), escreve às seguintes
palavras:

“Se imaginarmos que um sobrevivente dos campos


de concentração expressará em seu rosto sinais de
sofrimento e de justificados ressentimentos, com
Frankl teremos uma surpresa: sua expressão facial
denota um bom humor inquebrável. Se pensarmos
que um palestrante famoso com mais de trinta
títulos de doutor honoris causa e fundador de uma
escola de psicoterapia irá nos cumprimentar com ar
de superioridade acadêmica e doutoral,
agradavelmente descobriremos que não é assim;
pelo contrário, ele se apresentará com a humildade
de quem sente que pode aprender com o outro.”

Viktor Frankl, elabora uma abordagem de


trabalho com foco na valorização da
experiência do outro, nas possibilidades de
aprendizados integrados e na busca do
sentido da vida a partir dos significados das
experiências vividas. A Logoterapia
compreende e contempla o sentido do ser e
reconhece que a influência da crença ou da
religião na construção humana é uma
realidade. Porém, a Logoterapia trata da alma
e não de perspectivas relacionadas à
salvação da alma. Como explica Frankl (2011,
p. 73), “O alvo da psicoterapia é a cura da alma
(Seelische Heilung), ao passo que o alvo da
religião, por seu turno, é a salvação da alma
(Seelenheil)”.

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Mesmo contemplando a perspectiva da
divindade, do espiritual no sentido da
existência, “a Logoterapia se baseia em
afirmações sobre valores tomados como fatos,
não em julgamentos sobre fatos tomados como
valores” (FRANKL, 2020, p. 92).

A proposta psicoterapêutica da Logoterapia é


a valorização da fala, da experiência
percebida pela consciência, da compreensão
que os seres humanos constituem uma
unidade nas dimensões biológicas, psíquicas
e espiritual (ALMADA, 2019).

Apresentando outras perspectivas teóricas da


Logoterapia, Almada (2019) comenta que a
vontade da pessoa é livre para escolher
realidades mais ou menos significativos para
a vida, não sendo discutidos um relativismo
moral situacional. Frankl pensa em valores
objetivos universais, que se articulam numa
hierarquia. Na compreensão da dimensão
espiritual, explica que esta marca o
específico do ser homem ou mulher.

A pessoa deve ser conhecida e amada nessa


dimensão. Comenta que a busca do sentido
da vida pode ser frustrada e reprimida, sendo
chamada essa situação de vazio existencial.
Muitas são suas causas, embora o espírito
não fique doente, ele se deixa conduzir pela
existência (ALMADA, 2019).

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Considerando outros conceitos trabalhados
pela Logoterapia, aprendemos que:

O ser humano transcende-se a si mesmo em favor de


outro ser humano que necessite dele, mediante a
virtude do amor. Transcende também ao realizar
uma tarefa ou aderir a um valor. Ser pessoa
significa ser autotranscendente [...] podemos nos
distanciar das preocupações com risadas e humor. O
homem por causa da liberdade da vontade, pode
distanciar-se de qualquer situação e também de si
mesmo. Ele é capaz de elevar-se acima de qualquer
fenômeno condicionante [...] A liberdade, segundo
Victor Frankl, está intimamente ligada à
responsabilidade; de fato o homem é “livre de...”
seus condicionamentos, ao mesmo tempo em que é
“livre para...” ser responsável pela ordem e
realização de valores [...] Nossa existência presente
não está condicionada somente pelo passado, mas
também pelo que desejamos ser no futuro. Frankl
propõe fundamentar a certeza do sentido da vida no
passado, que ele apresenta como realidade eterna,
indelével e, portanto, não transitória (ALMADA,
2019, p. 72-73).

A Logoterapia amplia a discussão e o


trabalho terapêutico para o que chamamos de
dimensão espiritual do ser humano:

A logoterapia convida a psicologia a considerar a


dimensão espiritual e oferece uma prática de
psicoterapia voltada para o sentido da vida visto
como a motivação fundamental do homem. Para o
tema que nos ocupa, o desânimo profissional, temos

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de considerar a maneira com que a existência
encontra sentido no trabalho e de que forma a
dimensão espiritual se manifesta nele (ALMADA,
2019, p. 76).

Compreendemos que as propostas da


Logoterapia na valorização do sentido da
vida e da percepção da dimensão espiritual
do ser humano é um ponto fundamental para
obter êxito nos diálogos, no desenvolvimento
das atividades psicoterapêuticas com todos
os sujeitos. É importante considerar que o
indivíduo que não possui crença em um ser
ou entes divinos, não fica a margem da
Logoterapia, pois o que será analisado são
suas necessidades, o sentido de vida que a
pessoa constrói e elabora para seu viver e
prática de vida.

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3. LOGOTERAPIA
E OS ASPECTOS DO SENTIDO DE VIDA
E RESILIÊNCIA
Tratar sobre a resiliência no ambiente
religioso é, antes, perceber uma situação
muito importante no contexto dos líderes
religiosos pentecostais. Que o seu trabalho
Fonte: www.medium.com

desenvolvido na igreja não é parte de suas


vidas, é a sua própria vida. Pois suas
percepções são as de que só realizam esta
tarefa porque foram escolhidos por Deus para
realizá-las. “Os religiosos não vivem o que
fazem como um simples trabalho; toda a sua
vida está em jogo no que fazem” (ALMADA,
2019, p. 91).

Consideramos ainda essa afirmação com base


nas entrevistas realizadas, onde todos os seis
pastores entrevistados, unanimemente,
falaram sobre o chamado pastoral como uma
vocação divina e este ser o principal motivo
para estarem e continuarem no ministério de
pastor.

A origem do termo resiliência, segundo


explica Garcia (2008), é que:

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“Resiliência é um termo próprio da física e se refere
à capacidade dos corpos responderem a choques,
golpes ou pressão, comprovando a resiliência do
material frente ao impacto. Mede a capacidade do
corpo para recuperar-se, retroceder e reassumir sua
forma e tamanho original depois de ser comprimido,
apertado, dobrado ou esticado.”

Tratando sobre uma das possibilidades de


compreensão do conceito de resiliência para
a perspectiva da Logoterapia, Garcia (2018, p.
26), comenta que:

“Na teoria logoterapêutica de Victor Frankl [...] todo


ser humano tem um potencial para resistir e conta
com fortalezas em seu interior que lhe permite
superar situações adversas à medida que elas vão se
apresentando ao longo da vida. Mais recentemente,
às investigações realizadas sobre resiliência
proporcionam elementos para entender, dar sentido,
aprender a fortalecer e enfrentar satisfatoriamente
as experiências adversas.”

Este potencial presente em cada ser humano


pode ser percebido na própria vida de Frankl
que, superando às amargas experiências do
campo de concentração, tratou de resignificar
as experiências de dor como uma descoberta
o sentido da vida. No trabalho com pessoas
que desempenham o ministério pastoral,
podemos apresentar novas formas de
percepção da experiência vivida como
possibilidade de reaprendizado no exercício
do pastorado, na superação do esgotamento

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por novas práticas na direção da igreja e no
cuidado com os membros, a partir do
aprender a cuidar mais de si próprio. O
sentido da vida pode ser contemplado na
percepção do sujeito sobre suas escolhas e
atos no mundo se a busca de sentido é a
principal força de motivação do ser humano
(Frankl, 2019a).

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4. LOGOTERAPIA
E UM PANORÂMA DE DEFINIÇÕES
TEÓRICAS
4.1 Os três eixos básicos do pensamento de
Frankl, em uma análise e construção dos
aspectos teóricos, segundo Aquino (2012, p.
1-2), são:
Fonte: www.brasilescola.uol.com.br

“A liberdade da vontade constitui o eixo


antropológico, que pressupõe uma liberdade de
escolha apesar dos condicionamentos externos
e internos. Dessa maneira, o ser humano não
seria livre dos condicionamentos, mas em
última instância poderia decidir o que irá ser
no próximo instante (Frankl, 2019a; Frankl,
2019b). O segundo eixo corresponde à vontade
de sentido. Segundo essa concepção teórica, o
ser humano seria motivado por um desejo de
configurar sentidos e valores em sua existência,
isto é, em todas as suas experiências no
mundo. Para Frankl (2010), essa motivação se
constitui como um fenômeno primário e como o
principal fator de proteção da saúde mental.
Por fim, o terceiro eixo é aquele que
corresponde ao sentido da vida, ou seja, a visão
filosófica do mundo. Para essa perspectiva, ao
contrário da visão niilista, na vida há sempre
um sentido a ser desvelado, latente nas

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situações, e nessa busca a consciência intuitiva
(Gewissen) seria o órgão que rastreia as
possibilidades de sentido. A outra característica da
teoria de Frankl (1989a, 1990) é a análise
existencial, que se constitui como um método
antropológico de pesquisa. Segundo o autor, não há
nenhuma explicação ou síntese da existência, já́ que
"(...) a pessoa também se explica a si mesma: se
explica, se desdobra se desenvolve no transcurso da
vida" (Frankl, 1990, p. 63). Dessa maneira, o próprio
ser humano em última instância lê na vida, ou seja,
explica-se a si mesmo, sendo o papel da análise
existencial compreender a existência em suas
possibilidades de ser no mundo bem como em seus
desdobramentos (AQUINO, 2012, p. 1-2).

4.2 Logoterapia, liberdade e a perspectiva


noética

A contribuição da Logoterapia, como


proposta de cuidado e apoio psicológico,
parte da percepção de Viktor Frankl tendo o
ser humano como livre em sua universalidade
e integralidade. Sendo a vontade de sentido
da vida (liberdade da vontade) o elemento
central no cuidado psicológico na abordagem
logoterapêutica. Viktor Frankl elabora uma
abordagem de trabalho com foco na
valorização da experiência do outro, nas
possibilidades de aprendizados integrados e
na busca do sentido da vida à partir dos
significados das experiências vividas.

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A logoterapia compreende e contempla o
sentido do ser e reconhece que a influência
da crença ou da religião na construção
humana é uma realidade.

Tratando sobre as percepções sobre o sentido


na Logoterapia, Nery (2019), escreve:
“o sentido sempre existe, pode ser único ou
diversos, pode ter característica pessoais, mas
sempre pode ser compartilhado, e são mutáveis.
Existe sentido inclusive no sofrimento. Mas não
significa que é preciso sofrer para se ter
sentido. Essas diferentes formas de se
encontrar sentido podem ser classificadas
como: Valores de Criação (o que o homem dá
ao mundo, sob a forma de suas obras e
criações); Valores de Experiência (o que o
homem recebe do mundo, em termos de
encontros e experiências), e Valores de Atitude
(a postura que se adota diante da vida, quando
se é defrontado com um destino ao qual não
pode mudar)" (NERY, 2019).

Tratando sobre o conceito de liberdade de


vontade em Frankl, Nery (2019), comenta e
faz citação de textos do pai da Logoterapia:

“O conceito de liberdade de vontade pressupõe que,


na busca pelo sentido, o indivíduo é livre para
exercer sua vontade. Mesmo nas situações de maior
opressão, existe algum nível de liberdade de
escolha: “Nosso argumento é o de que há um

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sentido para a vida – isto é, um sentido pelo qual o
homem sempre esteve a buscar – e de que o homem
tem a liberdade de engajar-se, ou não, na realização
desse sentido”. (1969/1988) O uso dessa liberdade
pode fazer do sofrimento uma conquista: “Esta
liberdade pode ser exercida mesmo nas piores
condições: “Inerente o sofrimento, há uma
conquista, que é uma conquista interior. A liberdade
espiritual do ser humano, a qual não se lhe pode
tirar, permite-lhe até o último suspiro, configurar
sua vida de modo que tenha sentido”. (1969/1988)
(NERY, 2019, p. 38).

Ainda de acordo com Nery (2019), a


Logoterapia na análise existencial tem como
instrumento de coleta de dados e análise, o
método antropológico de pesquisa. Frankl
compreendia que o ser humano se explica a
si mesmo, desenvolve-se e se desdobra no
transcurso da vida (FRANKL, 2019), sendo o
papel da análise existencial compreender a
existência em suas possibilidades de ser no
mundo bem como em seus desdobramentos
(AQUINO, 2012).

Na perspectiva noética, Frankl considera o


espiritual: “o ser humano não é apenas uma
dimensão própria, mas também a dimensão
propriamente dita do ser”. Além das dimensões
biológica/orgânica e psicológica, o ser
humano é dotado, na visão de Frankl, de uma
dimensão noética, ou espiritual: “Por mais que
a dimensão espiritual constitua a

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a dimensão propriamente dita, ela não é a única
dimensão do ser do homem. O ser humano é uma
unidade e uma totalidade copóreo-psíquico-
espiritual”. (FRANKL, 2011; NERY, 2019;)

Conforme escreve Frankl (2011, p. 23): “A essa


totalidade, ao ser humano total, pertence o
espiritual, e lhe pertence como sua característica
mais específica. Enquanto somente se falar de corpo
e mente, é evidente que não se pode estar falando
de totalidade”.

A percepção, na visão de valorização de Frankl em


analisar os aspectos do espiritual no ser humano,
não está baseado em aspectos mágicos ou
místicos. Mas na construção da História, da
Antropologia e Arqueologia, que identifica nos
povos e no indivíduo uma história de relação com
o sagrado, com o transcendente ou envolvimento
com o interior a partir e uma linguagem que
envolve um sentido imaterial, que se torna
importante para o sujeito em sua história e
constructo pessoal-social.

4.3 A Tríade Trágica

A perspectiva teórica de Frankl e a Tríade Trágica


estão baseados em três elementos: dor, culpa e
morte. “Não há um único ser humano que possa
dizer que jamais sofreu, que jamais falhou e que
não morrerá” (2005, p. 94). Desfazendo falas
preconceituosas e ignorantes, é preciso entender
que a Logoterapia trata da alma e não de
perspectivas relacionadas a salvação da alma.
(FRANKL 2011, p. 73), “O alvo da psicoterapia é a

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cura da alma (Seelische Heilung), ao passo que o
alvo da religião, por seu turno, é a salvação da alma
(Seelenheil)”. Mesmo contemplando a perspectiva
da divindade, do espiritual no sentido da
existência, “a Logoterapia se baseia em
afirmações sobre valores tomados como fatos,
não em julgamentos sobre fatos tomados como
valores” (FRANKL, 2020, p. 92).

A proposta psicoterapêutica da Logoterapia é a


valorização da fala, da experiência percebida pela
consciência, da compreensão que os seres
humanos constituem uma unidade com dimensões
biológicas, psíquicas e espiritual (ALMADA, 2019).

A Logoterapia convida a Psicologia a considerar a


dimensão espiritual e oferece uma prática de
psicoterapia voltada para o sentido da vida visto
como a motivação fundamental do homem
(Pessoa, 2020). Para o tema que nos ocupa, o
desânimo profissional, temos de considerar a
maneira com que a existência encontra sentido no
trabalho e de que forma a dimensão espiritual se
manifesta nele (ALMADA, 2019, p. 76).

A vontade da pessoa é livre para escolher


realidades mais ou menos significativos para a
vida, não sendo discutidos um relativismo moral
situacional. Na compreensão da dimensão
espiritual, explica que esta marca é específica do
ser homem ou mulher. A pessoa deve ser
conhecida e amada nessa dimensão. Comenta que
a busca do sentido da vida pode ser frustrada e
reprimida, sendo chamada essa situação de vazio
existencial. Muitas são suas causas. Embora o

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cura da alma (Seelische Heilung), ao passo que o
alvo da religião, por seu turno, é a salvação da alma
(Seelenheil)”. Mesmo contemplando a perspectiva
da divindade, do espiritual no sentido da
existência, “a Logoterapia se baseia em
afirmações sobre valores tomados como fatos,
não em julgamentos sobre fatos tomados como
valores” (FRANKL, 2020, p. 92).

A proposta psicoterapêutica da Logoterapia é a


valorização da fala, da experiência percebida pela
consciência, da compreensão que os seres
humanos constituem uma unidade com dimensões
biológicas, psíquicas e espiritual (ALMADA, 2019).

A Logoterapia convida a Psicologia a considerar a


dimensão espiritual e oferece uma prática de
psicoterapia voltada para o sentido da vida visto
como a motivação fundamental do homem
(Pessoa, 2020). Para o tema que nos ocupa, o
desânimo profissional, temos de considerar a
maneira com que a existência encontra sentido no
trabalho e de que forma a dimensão espiritual se
manifesta nele (ALMADA, 2019, p. 76).

A vontade da pessoa é livre para escolher


realidades mais ou menos significativos para a
vida, não sendo discutidos um relativismo moral
situacional. Na compreensão da dimensão
espiritual, explica que esta marca é específica do
ser homem ou mulher. A pessoa deve ser
conhecida e amada nessa dimensão. Comenta que
a busca do sentido da vida pode ser frustrada e
reprimida, sendo chamada essa situação de vazio
existencial. Muitas são suas causas. Embora o

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espírito não fique doente, ele se deixa
conduzir pela existência (ALMADA, 2019).

4.4 Sentido de vida e liberdade de vontade

Discutir a Logoterapia é, primeiro, identificar


o seu campo de atuação na Psicologia, que se
encontra junto às abordagens existenciais-
fenomenológicas e humanistas. Havendo
como cada perspectiva teórica suas nuances
e diferenças de construção analíticas,
conforme Frankl (2005, p. 11): “a Logoterapia
é habitualmente classificada dentro das
categorias da psiquiatria existencial ou da
psicologia humanística. Entretanto quem lê
meus livros talvez tenha observado que faço
alguns reparos críticos ao existencialismo, ou
ao menos ao que tem sido chamado de
existencialismo”.

Com relação à noção de sentido para a vida


em Frankl, segundo Nery (2019, p. 37-38)
escreve:

“a) É relativo na medida em que sempre se relaciona


a cada pessoa especificamente. “Pode-se dizer que o
sentido difere, primeiramente, de homem para
homem e, depois, de dia para dia e, de fato, até de
hora para hora”. (1978/2005, p. 72) b) Os sentidos
são mutáveis: “Não pode haver algo como um
sentido universal na vida, mas apenas os sentidos
únicos das situações individuais. (1978/2005, p. 75)
c) Passível de ser encontrado ou descoberto por

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cada indivíduo. Esta é uma responsabilidade
individual. Ninguém pode criar ou inventar o
sentido, embora ele possa ser encontrado em
atividade que o indivíduo cria. (1978/2005, p. 81) d)
Embora sejam únicos, podem ser compartilhados:
“Há sentidos partilhados pelos seres humanos
transversalmente, nas sociedades e ao longo da
história. Eles dizem respeito a própria condição
humana. Esses sentidos são o que entendemos por
valores.” (1969/1988, p.75). e) Os sentidos nunca
faltarão: “A vida não deixa jamais de ter sentido”. f)
Os sentidos podem ser encontrados: “...no criar uma
obra ou no completar uma ação, no fazer
experiência de algo ou no encontrar alguém”, mas
também “quando nos vemos em uma situação sem
esperança, na qualidade de vítimas sem nenhuma
ajuda, mesmo quando enfrentamos um destino que
não pode ser mudado”. (1978/2005, p. 41). g) Essas
diferentes formas de se encontrar sentido podem ser
classificadas como: Valores de Criação (o que o
homem dá ao mundo, sob a forma de suas obras e
criações); Valores de Experiência (o que o homem
recebe do mundo, em termos de encontros e
experiências), e Valores de Atitude (a postura que se
adota diante da vida, quando se é defrontado com
um destino ao qual não pode mudar). (1978/2005,
p.91); h) O sentido pode ser encontrado mesmo em
meio ao sofrimento: Se é que a vida tem sentido,
também o sofrimento necessariamente o terá.”
(1946/2008, p.87); i) O suprassentido é o sentido
último que excede e ultrapassa a capacidade
intelectual finita do ser humano. (1993)”

Instituto Jimmy Pessoa, 2022.


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Outros conceitos a serem estudados na
Logoterapia são:

Autotranscendência: significa ser direcionado


para algo que não o “si mesmo”. O ser
humano desenvolver uma percepção além de
sua própria existência (FRANKL, 2020).

A dimensão noética: A existência


propriamente humana é existência espiritual,
noética. É considerada superior às demais,
sendo também mais compreensiva porque
inclui as dimensões inferiores, sem negá-las.
O homem se difere dos animais porque faz
parte de seu ser a dimensão noética (NERY,
2019).

Vazio Existencial: O ser humano não encontra


um sentido na existência, o sentimento de
falta de sentido toma o ser humano, podendo
levar o ser humano ao tédio, à perda de
interesse pelo mundo. Sendo um aspecto
social na contemporaneidade em toda
sociedade (FRANKL, 2019a).

Homo Patiens: É a possibilidade existencial


que acende quando o ser humano é desafiado
a transformar a dor em uma conquista. O
conceito de Homo Patiens refere-se ao ser
humano que sofre, que sabe como sofrer,
como transformar seus sofrimentos em uma

Instituto Jimmy Pessoa, 2022.


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conquista humana. (FRANKL, 2005).

Neuroses Noogênicas: As neuroses


noogênicas surgem de problemas
existenciais, dos quais a frustração da
vontade de sentido desempenha papel
central. (FRANKL, 2019a, p.126)

Neurose Coletiva: É o resultado da


experiência em massa de um comportamento
social. Na atualidade o vazio existencial é um
fenômeno que tem ocorrido pela Atitude
Existencial Provisória: Vaguear constante e
sem sentido “dirigido para a bomba atômica
futura”; Posicionamento Fatalista: “não é
possível agir e tomar o destino nas próprias
mãos”; Pensamento Coletivista: não consegue
diferenciar-se. Ignora a si mesmo.
(Autoritarismo/Conformismo); Fanatismo:
Ignora a personalidade do outro, em
detrimento de uma posição radical em
direção a um sentido hipertrofiado. (FRANKL,
2019a; NERY, 2019)

Noodinâmica: A busca por sentido certamente


pode causar tensão interior em vez de
equilíbrio interior. Entretanto, justamente
essa tensão é um pré-requisito indispensável
para a saúde mental. A construção de um
sentido para a vida, mesmo com situações
difíceis, é fundamental para a manutenção da
vida humana. Conforme escreve Frankl

Instituto Jimmy Pessoa, 2022.


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(2019a, p. 130):

“O que o ser humano realmente precisa não é um


estado livre de tensões, mas antes o desafio de um
sentido em potencial à espera de seu cumprimento.
O ser humano precisa não de homeostase, mas
daquilo que chamo de “noodinâmica”, isto é, da
dinâmica existencial num campo polarizado de
tensão, onde um polo está representado por um
sentido a ser realizado e o outro polo, pela pessoa
que deve realizá-lo”.

Instituto Jimmy Pessoa, 2022.


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CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Viktor Frankl discorre sobre a existência
humana e seus aspectos de mudança e
superação da dor e do sofrimento a partir da
construção de um Sentido de Vida.

Elabora uma teoria onde a liberdade e a


vontade são analisadas nestas inúmeras
possibilidades de percepção do ser
humano.Ao buscar explicar o ser humano em
uma frase, Frankl diz:

“O que é, então, o ser humano? É o ser que


sempre decide o que ele é. É o ser que inventou
as câmaras de gás de Auschwitz; mas ele é
também aquele ser que entrou naquelas
câmaras de gás de cabeça erguida, tendo nos
lábios o Pai-Nosso ou Shemá Yisrael”. (2019a)

Instituto Jimmy Pessoa, 2022.


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REFERÊNCIAS
ALMADA, Roberto. O cansaço dos bons: a
Logoterapia como alternativa ao desgaste
profissional. São Paulo: Editora Cidade Nova,
2019.

AQUINO, Thiago Antonio Avellar de. Análise


da narrativa de Viktor Frankl acerca da
experiência dos prisioneiros nos campos de
concentração. Rev. abordagem gestalt.,
Goiânia, v. 18, n. 2, p. 206-215, dez. 2012.
Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1809-
68672012000200011&lng=pt&nrm=iso>.
Acesso em 06 nov. 2021.

CALDAS, Túlio; DE LIMA, Maria Eugênia


Calheiros. O homo humanus à Luz da Verdade
do Ser e do Sentido da Vida: O pensamento
de Martin Heidegger e de Viktor Frankl
acerca da humanitas. Revista Logos &
Existência. Revista da Associação Brasileira
de Logoterapia e Análise Existencial. (1), 88­‐
99, 2012. Disponível em:
<https://periodicos.ufpb.br/index.php/le/artic
le/view/14082/8069>. Acesso em: 30. out.
2022.

Instituto Jimmy Pessoa, 2022.


29
FRANKL, Viktor E. Um Sentido Para A Vida:
Psicoterapia E Humanismo. Aparecida, SP: Ed.
Ideias e Letras, 2005.

FRANKL, Viktor E. A presença ignorada de


Deus. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis:
Vozes, 2011.

FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido.


Traduzido por Walter O. Schlupp e Carlos C.
Aveline. São Leopoldo: Sinodal; Petrópolis:
Vozes, 2019a.

FRANKL, Viktor E. O sofrimento humano:


fundamento antropológicos da psicoterapia.
Tradução Renato Bittencourt, Karleno
Bocarro. São Paulo: É Realizações, 2019b.

FRANKL, Viktor E. A vontade de sentido:


fundamentos e aplicações da logoterapia.
Tradução Ivo Studart Pereira. São Paulo:
Paulus, 2020.

GARCIA, Silvana Canalhe. A resiliência no


indivíduo especial: uma visão
logoterapêutica. Revista Educação Especial.
n. 31, p. 25-36, 2008, Santa Maria. Disponível
em: <http://www.ufsm.br/ce/revista>. Acesso
em: 10. jul. 2020.

Instituto Jimmy Pessoa, 2022.


30
NERY, A.D. Distress Moral Entre Pastores
Adventistas na Grande São Paulo. 2019. 192
f. Tese (Doutorado) – Instituto de Psicologia,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.

PESSOA, Jimmy Barbosa. Anjos Cansados: a


síndrome de burnout em pastores da
Assembleias de Deus ministério do Belém em
São Paulo (Dissertação de Mestrado).
Programa de Ciência da Religião, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo – PUC-
SP: São Paulo, 2020.

Instituto Jimmy Pessoa, 2022.

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