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O Divino Espírito Santo.
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Como o modernismo instalado na Igreja deturpa as almas com seus erros, com seus ritos
heretizantes, parece necessário devolver a elas a base que já não recebem mais no catecismo.
Por isso o autor apresenta de modo suscinto o essencial sobre a Santa Missa, frizando seu
duplo caráter, de verdadeiro sacrifício e de sacramento instituído para a nossa salvação.
APRESENTAÇÃO.
Este trabalho é a ordenação de trechos de várias obras, de vários autores (ver Bibliografia),
que mostraram e provaram que a Missa enquanto sacrifício estava predita desde o Antigo
Testamento, e, ainda, que Jesus anunciou - prometeu e instituiu o sacrifício-sacramento,
tendo os Santos Padres da Igreja, desde os primórdios do Cristianismo, sempre ensinado
aquilo que hoje é dogma de fé: Missa é sacrifício com a presença real (física) da Sagrada
Vítima.
Hoje, depois do Concílio Vaticano II, quando muitos prelados da Igreja Católica, e até mesmo
altos prelados, por terem assimilado a heresia protestante, apresentam a Missa como um
memorial da Ceia do Senhor, entendi ser proveitoso compilar, para ajudar a combater a
heresia progressista, o que outros autores com sabedoria e profundidade já haviam escrito
para demonstrar que a Missa enquanto sacrifício está inserida no Deposito da Fé católica,
estando predita no Velho Testamento e confirmada no Novo Testamento.
ÍNDICE:
Nosso Senhor Jesus Cristo, na Última Ceia, ao instituir a Eucaristia, transubstanciou o pão em
seu Corpo e o vinho em seu Sangue, um separado do outro, e ofereceu ali o mesmo sacrifício
que realizaria na Cruz, onde o seu Sangue foi separado do seu Corpo, derramado por nós, em
remissão dos pecados. Depois de ter-Se imolado na Santa Ceia, Ele se deu a Si mesmo aos
Apóstolos ao levá-los a participar da consumação do seu Corpo e do seu Sangue. A Eucaristia
é, assim, ao mesmo tempo, sacrifício e sacramento.
Enquanto sacrifício a Eucaristia é o Sacrifício da Missa, o sacrifício da Nova Lei no qual Nosso
Senhor Jesus Cristo, pelo ministério do sacerdote, se oferece a Si mesmo a Deus, de maneira
incruenta, sob as aparências do pão e do vinho. (*2)
A religião é um culto que nos liga a Deus por um perfeito sujeitamento de nós mesmos ao Ser
supremo, e que nos faz relacionar à Sua glória tudo o que nós somos e tudo o que nós
fazemos; e a religião nos faz cumprir, de modo particular, este dever indispensável pelo
sacrifício, que é uma oblação feita a Deus para reconhecer seu soberano domínio sobre tudo
o que foi criado.(*5)
Os homens sempre foram inspirados, pelas luzes da razão natural, a considerar o sacrifício
como o primeiro de todos os atos essenciais à religião.(*7)
O sacrifício exterior consiste, pois, em oferecer a Deus uma coisa sensível e exterior para ser
destruída ou para que sofra uma mudança qualquer, o que é feito por quatro razões que são
os quatro fins do sacrifício:
> reconhecer a nossa dívida para com a justiça divina e obter o perdão dos pecados;
HOLOCAUSTO.
SACRIFÍCIO PROPICIATÓRIO.
Aqueles que ofereciam as vítimas pelos seus pecados não as podiam comer; e quando os
sacerdotes ofereciam por eles mesmos ninguém as consumia. (*19)
SACRIFÍCIO EUCARÍSTICO.
O sacrifício eucarístico era oferecido para agradecer a Deus qualquer favor considerável que
fosse recebido (*20). Eram sacrifícios de louvor, de ação de graças.
SACRIFÍCIO IMPETRATÓRIO.
O sacrifício impetratório (*21) era feito para pedir a Deus qualquer graça importante. (*22)
Os sacrifícios eucarísticos e impetratórios, também chamados de “pacíficos”, se distinguiam da
“hóstia pelo pecado” apenas pelo fato de que o povo e os sacerdotes deviam participar
consumindo uma parte da vítima.(*23)
Ainda que esses sacrifícios fossem ordenados pela lei divina, eles não passavam de sinais
incapazes, por eles mesmos, de agradar à Deus (*24).
Quando esses sacrifícios eram oferecidos por santos como haviam sido Abel (*25), Abraão, Job
e todos aqueles homens de fé que haviam vivido na espera do Messias, então tais sacrifícios
eram agradáveis a Deus que os recebia como um suave aroma, segundo a expressão da
Escritura. (*26)
E por serem sacrifícios que não agradavam a Deus, Santo Agostinho, no seu décimo-sétimo
Livro da Cidade de Deus, referindo-se ao santo Sacrifício da Missa, diz: “Este Sacrifício foi
estabelecido para tomar o lugar de todos os sacrifícios do Antigo Testamento” (*28), para
tomar o lugar dos sacrifícios da Antiga Lei.
As personagens e toda a história do Antigo Testamento mais não foram que preparação e
anúncio daquilo que Cristo e a sua Igreja deveriam realizar, quando chegasse a plenitude dos
tempos (*29) e, por isso mesmo, na história do povo judeu estão consignados os desígnios de
Deus acerca da salvação de todo o gênero humano:
> o afastamento de Esaú em benefício de Jacob mostra que não é a linhagem terrestre que
importa, mas a escolha gratuita de Deus, que faz os eleitos;
> José, vendido por seus irmãos e salvando o Egito, é Jesus salvando o mundo, depois de ser
rejeitado e traído pelos seus;
> Moisés, que arranca o seu povo à escravidão, e o conduz a terra prometida, é Jesus que nos
liberta do cativeiro do pecado e abre as portas do Céu; (*30)
> o gesto de Abraão, que se prepara para imolar o filho, é o prenúncio do sacrifício que Deus
exigirá a seu próprio Filho, para expiação das faltas cometidas pela humanidade; (*31) e
Com efeito, a Sagrada Escritura relaciona a oblação que Jesus fez de seu Corpo e Sangue, na
Última Ceia, ao Pai, com o fato de ser Ele sacerdote eterno segundo a ordem de
Melquisedeque (*37), como O chamou o rei David(*38). De modo que deve ser afirmado
que a oblação de Melquisedeque foi verdadeiro tipo do sacrifício eucarístico, o que vale dizer
que aquela não é apenas uma oblação semelhante, mas que Deus dispôs que Melquisedeque a
fizera e assim nos fosse narrada no Gênesis, para que tivéssemos uma autêntica prefiguração
da Eucaristia(*39).
“18-Então, Melquisedeque, monarca de Salem, tomou pão e vinho, pois era sacerdote do
Deus Altíssimo, 19 os benzeu, exclamando: ‘Bendito Abraão do Deus Altíssimo, criador do
céu e da terra, 20 e bendito seja Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos em tuas
mãos!’ Depois do que Abraão lhe deu o dízimo de tudo”(*40).
Regressava Abraão depois de derrotar vários reis, que haviam(*41) aprisionado a seu sobrinho
Lot e tudo que ele tinha, e Melquisedeque, rei e sacerdote (monarca de Salem... sacerdote do
Deus Altíssimo(*42)), saiu a seu encontro, ofereceu a Deus um sacrifício de pão e vinho que
logo deu em convite a Abraão e aos seus e por fim abençoou a Abraão(*43).
A divina Providência, uns dois mil anos antes da efetiva instituição da Eucaristia, já havia
tido o cuidado de figurar este Sacrifício e este Convite, que havia de ser o centro do culto
cristão(*44): o santo Sacrifício da Missa e o Sacramento da Comunhão.
O rei David dá a Jesus Cristo, no salmo 109, o título de Sacerdote eterno segundo a ordem de
Melquisedeque, porque nosso divino Salvador irá empregar o pão e o vinho no Sacrifício da
Nova Aliança, como outrora o havia feito Melquisedeque.
O rei profeta O chama Padre eterno porque pai Ele sempre será e porque o sacrifício que Ele
irá instituir continuará a existir até o fim dos tempos graças ao sacerdócio católico.
POR MALAQUIAS.
O profeta Malaquias diz, no primeiro capítulo, versículo 11, que “depois do nascer e até o pôr
do sol, será oferecido, em toda parte (*45) (em todo lugar (*46)) um sacrifício puro e sem
mancha à majestade do Altíssimo”.
POR JEREMIAS
O profeta Jeremias, no capítulo 33, versículo 18, profetiza que “nunca se verá faltar os
sacerdotes e os sacrifícios”. (*47)
E é a Igreja Católica, pelo ministério dos seus sacerdotes, que oferecerá até o fim dos
tempos, em todos os lugares, o Sacrifício da Cruz, perpetuado pelo santo Sacrifício da Missa,
conforme as profecias de David, Malaquias e Jeremias.
No começo da profecia de Malaquias, Deus insiste no amor que tem ao seu povo e, por sua
vez, nos pecados daquele povo que explicavam os sofrimentos que haviam caído sobre
ele. Refere-Se antes de tudo aos pecados dos sacerdotes os quais, contrariando as prescrições
legais, ofereciam a Deus sacrifícios de animais defeituosos.
O Senhor anuncia que essas oblações não O agradam e que em lugar delas há de vir uma
oblação extremamente pura que será oferecida a Deus em todo lugar, entre as nações; e os
termos empregados mostram que se trata de uma “oblação sacrifical” e indicam,
principalmente, a oblação de um sacrifício incruento.
Além disso, tendo em vista o conhecimento universal de Deus e uma vez que irão ser
oferecidos sacrifícios agradáveis a Deus entre os gentios, fica caracterizado que Malaquias se
refere aos tempos messiânicos.(*49)
Uma vez que toda a ordem do Antigo Testamento tinha em vista a ordem do Novo
Testamento, dispôs admiravelmente o Espírito Santo que sua última profecia naquele
Testamento se referisse à Sagrada Eucaristia, a qual, continuando o Sacrifício da Cruz, irá
constituir o centro da vida cristã. Também é significativo que esta profecia se encontre em
Malaquias, aquele que tão decididamente insistiu no amor de Deus a seu povo: “Os tenho
amado”(*50), declara o Senhor Deus (Javeh).(*51)
“10...Minha afeição não está em vós, diz o Senhor Deus dos Exércitos e eu não receberei a
oblação que vem de vossas mãos. 11 Eis que desde o nascer do sol até seu ocaso sacrificam a
Mim em todo lugar e oferecem em meu nome uma oblação toda pura, pois grande é o meu
nome em todas as nações”.(*52)
Os mais antigos documentos cristãos têm uma predileção por esta profecia de Malaquias, cujo
eco foi recolhido pelo Concílio de Trento(*53), ao dizer, a respeito do Sacrifício da Missa: “E
esta é certamente aquela oblação pura, que não pode ser manchada por qualquer
indignidade ou malícia dos ofertantes, a qual foi predita pelo Senhor, por Malaquias, que
havia de ser oferecida pura, em todo lugar, ao seu nome, o qual havia de ser grande entre as
gentes”.(*54)
O espírito que devia animar todas as cerimônias religiosas diminuía dia a dia, e a irreligião e a
estupidez chegaram ao ponto culminante imediatamente antes da chegada do Messias.
O que, de fato, esperar dos fariseus que se detinham apenas nas exterioridades da lei? E,
sobretudo dos saduceus, que dominavam o templo, que presidiam os sacrifícios e que não
acreditavam na ressurreição?
Era, pois, o tempo em que as figuras deviam acabar e que, de acordo com a predição do
Profeta-Rei(*55), Deus devia rejeitar os sacrifícios que haviam sido oferecidos, até então,
apenas no templo de Jerusalém.(*56)
Era o tempo em que iam ser cumpridas as profecias do Antigo Testamento e, assim sendo, em
seu encontro com a samaritana, Jesus Cristo anuncia um novo Sacrifício.
E é este sacrifício que Jesus Cristo anuncia à samaritana, quando ela lhe coloca a questão
relativa ao lugar onde se devia adorar(*58), isto é, sacrificar; porque a contenda (discussão,
briga) entre os judeus e os samaritanos dizia respeito apenas ao lugar do culto exterior, das
oblações e dos sacrifícios, e não sobre o lugar da prece e do sacrifício interior, pois todos
estavam persuadidos que se podia rezar e se oferecer a Deus em toda parte.
Jesus Cristo entra no pensamento da samaritana e lhe diz que chegou a hora (*59) em que não
mais se adorará, isto é, que não se sacrificará mais, nem sobre a montanha de Garizin, nem em
Jerusalém; mas que existirão verdadeiros adoradores que adorarão o Pai em espírito e em
verdade(*60), e que não ficarão mais restritos a um lugar em particular.(*61)
Este novo sacrifício, anunciado por Jesus Cristo à samaritana, já tinha o seu protótipo no
sacrifício de pão e vinho oferecido por Melquisedeque, como disposto por Deus 2000 anos
antes; e, por isso mesmo, o pão e o vinho devem ser, sempre, a matéria do sacrifício que
Nosso Senhor Jesus Cristo está por instituir.(*63)
E sobre este novo sacrifício, agora, é o próprio Verbo de Deus feito homem, e não mais os
antigos profetas, quem vai nos falar, primeiramente prometendo a Eucaristia e depois
realizando Ele mesmo a grande maravilha.(*64)
O evangelista São João, com a vivência do testemunho ocular e com a garantia de escritor
sagrado inspirado por Deus, nos relata o que aconteceu. Para ambientar a promessa
eucarística, São João faz neste caso uma exceção singular com relação à norma que se havia
imposto de completar os sinópticos e, portanto, de não repetir os milagres já narrados nos
outros Evangelhos.
Os outros três evangelistas haviam descrito a primeira multiplicação dos pães (Mt.14,13-21;
Mc.6,34-44; Lc.9,12-17) e dois deles como andou Jesus sobre as águas em seguida àqueles
milagres (Mt.14,22-34; Mc.6,45-53) e, todavia, São João volta a referir-se sobre esses
acontecimentos (Jo.6,1-21), sem dúvida alguma não só para tornar mais inteligíveis as palavras
de Jesus relativas aos pães multiplicados por Ele, como também para indicar-nos a
preparação psicológica que o Senhor se dignou dar aos seus apóstolos, mostrando-lhes o seu
poder e chamando a sua atenção sobre as propriedades singulares que Ele podia fazer
desfrutar seu Corpo, a fim de que eles pudessem receber melhor a inaudita promessa.(*65)
Partindo do milagre da multiplicação dos pães (Jo.6,1-15), começa Jesus convidando seus
ouvintes a que trabalhem não por um alimento perecível mas por aquele que dura até a vida
eterna (Jo.7,27)(*66), que é superior ao maná (Jo.6,31-33; 6,49; 6,58), que é o próprio Cristo
— o pão da vida — isto é, a carne e o sangue de Cristo que, verdadeira comida e verdadeira
bebida, dão a vida eterna pela união com a vida do próprio Cristo [“Quem come a minha
carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele” (Jo.6,56)]. Insiste Jesus na fé como
disposição fundamental e como força da alma para compreender e viver a realidade
eucarística. (*67)
E, além disso, esta realidade eucarística é posta em evidência pelo fato de que os ouvintes de
Jesus O interpretaram neste sentido e por isso se escandalizaram, não conseguindo
compreender como podia o Senhor dar-lhes a sua Carne para comer (v52 ou 53); e Jesus não
desautorizou tal interpretação, como deveria fazê-lo tratando-se de um ponto tão importante
e de tantas conseqüências, mas, ao contrário, confirmou o que havia dito com expressões as
mais realistas (vv. 53-58 ou 54-59).
Outrossim, quando muitos dentre os seus próprios discípulos murmuravam como era “dura”
(v.60 ou 61) essa linguagem e inclusive se afastaram de Jesus (v.66 ou 67), o Mestre não disse
aos seus doze apóstolos: entendei bem as coisas e não vos assusteis, pois o que lhes disse é
uma figura ou um simbolismo, mas apenas lhes perguntou simplesmente se também eles
queriam se retirar (v.67 ou 68). (*70)
Continuando seu discurso eucarístico, Jesus promete com toda clareza que sua Carne
eucarística dará imortalidade a quem a coma; não imortalidade corporal, mas sim
ressurreição (v54 ou 55), para nunca mais morrer de novo. Este é um dos pensamentos que,
com mais carinho, foi recolhido já nos primeiros documentos da tradição cristã na luta contra
os hereges que acreditavam que a carne era, em si mesma, má e incapaz de ressuscitar para
uma vida sem fim.(*71)
“47 Em verdade, em verdade, vos digo: Quem crê tem a vida eterna. 48 Eu sou o PÃO da
VIDA. 49 Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. 50 O pão que desceu do céu
é tal que quem come dele não morre. 51 Eu sou o PÃO VIVO QUE DESCI DO CÉU. (*73) Se
alguém comer deste pão viverá eternamente; e o PÃO, QUE EU DAREI, É A MINHA CARNE,
para a vida do mundo”.
52 Mas os judeus discutiam entre si dizendo: “Como pode este dar-nos a sua carne para
comer?”
53 “Em verdade, em verdade, vos digo, respondeu-lhes Jesus: Se não comerdes a carne do
Filho do homem e beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54 Quem come a minha
carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna e Eu o ressuscitarei no último dia. 55 Porque a
minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue é verdadeiramente bebida. 56
Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele. 57 Assim
como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim quem Me come, também viverá
por Mim. 58 Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que vossos pais comeram e
morreram. QUEM COME DESTE PÃO VIVERÁ ETERNAMENTE”.(*74)
Afirma, assim, Nosso Senhor Jesus Cristo que esse Pão — matéria do novo sacrifício que Ele já
havia anunciado — e que Ele irá dar — será sua Carne e uma verdadeira comida, assim como
seu Sangue uma verdadeira bebida, para a vida do mundo. (*75)
Aproxima-se a hora do Novo Sacrifício; pão e vinho serão transformados, isto é, serão
transubstanciados no Corpo e no Sangue de Jesus e essa Vítima, pura e sem mancha, será
ofertada à majestade do Altíssimo(*76), quando Ele, Jesus, oferecer ao Pai, pela primeira
vez, na Última Ceia, o Sacrifício da Nova Aliança, quando Ele fará, também, que os Apóstolos
participem da consumação da Sagrada Vítima.
A simplicidade das palavras de Jesus foi extrema: ESTE É O MEU CORPO; ESTE É O MEU
SANGUE (*78); a mesma simplicidade com que é dito no Gênesis, quando Deus criou o mundo,
que Ele o fez dizendo: QUE ASSIM SE FAÇA(*79).
Porém a inteligência humana experimenta uma vertigem ao acercar-se a este abismo, ou
melhor, a este mistério: o pão convertido no verdadeiro Corpo de Jesus, de modo tão real
que, como logo dirá Cirilonas, naquela Última Ceia Jesus se levava a Si mesmo em suas
mãos.*(80)
Todavia, é preciso considerar que os Apóstolos já haviam conhecido esta infalível eficácia da
palavra do Salvador ao ser aplicada sobre a matéria inanimada: cala, emudece, havia dito
encarando o mar, e amainou o vento e seguiu-se uma grande bonança {Mc.4,39}.
Além disso, o poder de Jesus sobre o pão havia sido mostrado de forma patente e
concretamente aos Apóstolos nas milagrosas multiplicações do pão {Jo.6,1-15; Mt.15,32-
39} e sobre o vinho quando Jesus fez da água vinho, em Caná {Jo.2,1-11}.
Por outro lado, com relação ao próprio Corpo de Jesus, já sabiam os Apóstolos que o mesmo
facilmente se libertava das leis a que estavam sujeitos os demais corpos, como o haviam
comprovado quando Jesus andou sobre as águas do mar {Jo.6,16-21} e no episódio da
transfiguração {Mt.17,1-9}.(*81)
Aos Apóstolos era impossível esquecer aquela promessa, que em si mesma já era admirável,
mas que, ademais, havia significado para eles o momento crucial em sua decisão de seguir
acompanhando-O, enquanto que muitos discípulos haviam, então, se separado de Jesus
{Jo.6,67-70 [*82]}. [*83]
Jesus Cristo, na Última Ceia, transubstanciou então o pão e o vinho em seu Corpo e em seu
Sangue e, em seguida, ofereceu-Se em sacrifício.
Este sacrifício tem necessária e íntima relação com o sacrifício que Jesus vai oferecer no dia
seguinte na Cruz, mas que aqui aparece oferecido na própria Ceia, como o provam
suficientemente os particípios Corpo “dado” {Lc.22,19} e Sangue “derramado” {Mt.26,28;
Mc.14,24; e Lc.22,20} que são particípios presentes e também porque se acaba de falar do
Corpo e do Sangue no indicativo presente "é" [*85].
Um argumento ainda mais forte advém do relato de São Lucas quando diz que o cálice [*86] é
derramado {Lc.22,20} porque assim fica bem mais claro que não se trata do Sangue
derramado na Cruz mas sim do Sangue contido no cálice. Trata-se, portanto, do sacrifício
oferecido por Jesus na Última Ceia em indissolúvel união com o sacrifício oferecido na
Cruz [*87], pois, tanto na Ceia como na Cruz trata-se do Sacrifício do Corpo e do Sangue de
Jesus.
E este sacrifício, que Jesus Cristo institui imediatamente antes de ir se oferecer sobre a
Cruz, Ele o instituiu por amor [*88]: “Jesus que tinha amado os seus que estavam no mundo
amou-os até o fim” {Jo.13,1) [*89].
Nosso Senhor Jesus Cristo havia instituído a Eucaristia; havia sido oferecido o primeiro
Sacrifício e entregue aos convidados a primeira Comunhão.
E, mais ainda, pois além de instituir, Nosso Senhor perpetuou este Sacrifício ao ordenar: hoc
facite! {Lc.22,19}.
12 - O SACRIFÍCIO DA CRUZ.
Nos infelizes tempos de irreligiosidade, que haviam antecedido a chegada do Messias, Jesus
Cristo, que era a verdade de todas as figuras, vem se oferecer a Si mesmo, e suprir assim a
imperfeição de todos os antigos sacrifícios. [*93]
Com efeito, Jesus Cristo predisse por duas vezes a sua Paixão [*94] e em uma dessas ocasiões
Ele diz: “É necessário que o Filho do homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos
anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e escribas, que seja morto, e ressuscite ao terceiro
dia (Lc.9,22)”. [*95]
“Não encontrando coisa alguma no mundo, diz Santo Agostinho, que fosse bastante pura
para oferecer a Deus, Ele se ofereceu a Si mesmo. E é por esta oblação, que será permanente
e eterna, que os homens foram santificados (Hebr.10,10; 10,14). Porque Ele se ofereceu uma
vez e para sempre (Hebr.10,14; 10,10).
Sua vida foi um contínuo sacrifício até que Ele, na Cruz, tivesse derramado todo seu Sangue.
Então, a figura dos sacrifícios sangrentos de Aarão foi substituída; e todos os sacrifícios, que
deviam ser multiplicados por causa de suas imperfeições, desapareceram, para que os fiéis
recorram apenas ao único e verdadeiro sacrifício de nosso divino Mediador, que é o sacrifício
que expia os pecados”. [*96]
E São Paulo, em sua carta aos Hebreus, demonstra a superioridade do Sacrifício de Cristo sobre
os da Antiga Aliança:
- Valor do sacrifício do Cristo -
“11 Mas Cristo veio como Pontífice dos bens futuros; e passando por um tabernáculo mais
excelente e perfeito, não feito por mão de homem, isto é, não deste mundo, 12 entrou no
Santo dos Santos não pelo sangue de bodes ou de bezerros, mas pelo seu próprio Sangue, e
de uma vez para sempre, porque alcançou a Redenção eterna. 13 Com efeito, se o sangue
dos cabritos e dos touros bem como a cinza duma novilha, com que se aspergem os impuros,
os santifica quanto à pureza do corpo, 14 quanto mais o Sangue de Cristo, que pelo Espírito
Santo se ofereceu a Si mesmo, sem mácula, a Deus, não purificará a nossa consciência das
obras da morte, para servirmos ao Deus vivo?” [*101]
“15 E por isso Ele é o Mediador da Nova Aliança: morrendo para resgatar os pecados
cometidos sob a primeira Aliança, quis que recebessem a herança eterna os escolhidos, a
quem foi prometida, em Jesus Cristo, Nosso Senhor” (Hebr.9,15). [*102]
De fato, as oblações da antiga Aliança não agradavam a Deus [*103] e, assim sendo, São Paulo,
na mesma Epístola aos Hebreus, diz:
“Por isso é que, entrando no mundo, Cristo diz [*104]: Tu não quiseste hóstia nem oblação,
mas me deste um corpo. Os holocaustos pelo pecado não te agradaram. Então disse Eu: Eis
que venho para fazer, ó Deus, a tua vontade, como está escrito de Mim no cabeçalho do
livro” (Hebr.10,5-7). [*105]
“Primeiro disse: não quiseste hóstias, oblações e holocaustos pelo pecado, nem te agradas
deles: são coisas que se oferecem segundo a lei. Depois acrescentou: Eis que eu venho para
fazer, ó Deus, a tua vontade. Aboliu o primeiro para estabelecer o segundo. Por essa
vontade é que somos santificados, pela oblação do Corpo de Jesus Cristo, uma vez para
sempre” (Hebr.10,8-10). [*106]
E é em Jesus Cristo que encontramos realmente, nesse único santificador, tudo aquilo que nós
podemos desejar e considerar em todos os sacrifícios: Deus a quem se deve oferecer, o
sacerdote que oferece e o dom que se deve ofertar.
Porque este divino Mediador, Sacerdote e Vítima, é um com Deus a quem Ele oferece; e que
está reunido, ou, mais ainda, que se fez um com todos os fiéis que Ele oferece para os
reconciliar com Deus. É certo que, na cruz, Ele foi ao mesmo tempo Sacerdote e Vítima [*107].
Os judeus e os gentios que o mataram foram os seus carrascos e não os seus sacrificadores
[*108]; foi então Ele quem se ofereceu em sacrifício e quem nos ofereceu com Ele sobre a
cruz. [*109]
Com este sacrifício deu Jesus Cristo, e em Jesus Cristo o gênero humano também, ao Pai uma
adoração, uma ação de graças, uma expiação infinitas; apresentou uma impetração de valor
infinito, ficamos redimidos de nossos pecados; foi o Pai satisfeito por todas as maldades dos
homens com satisfação condigna e superabundante; foi o Pai amado e glorificado com amor
infinito e com infinita glorificação. Por Jesus Cristo e em Jesus Cristo damos à Augusta
Trindade mais honra do que aquilo que Lhe tiramos pelo pecado de Adão e por quantos
pecados adicionaram os homens. O Sacrifício de Jesus é o momento culminante da
criação. [*110]
Felizmente este momento foi perpetuado [*111]; foi perpetuado na herança que o Senhor nos
deixou ao instituir, na Última Ceia, um sacrifício visível: “fazei isto em memória de Mim”;
um sacrifício para dar continuidade, ao longo dos séculos e até o fim dos tempos, ao Sacrifício
da Cruz; um sacrifício incruento no qual Nosso Senhor Jesus Cristo é o oferente principal e
também a própria vítima; um sacrifício que faz chegar até nós — e aos que virão depois de nós
— as graças salvadoras do Sacrifício do Calvário. Tal sacrifício é o Santo Sacrifício da Missa,
que é o mesmo Sacrifício da Cruz sacramentalmente transportado para os nossos altares, e é,
por isso mesmo, a nossa maior herança. [*112]
Diz São Paulo que é pela vontade de Deus que “somos santificados, pela oblação do Corpo de
Jesus, uma vez para sempre” (Hebr.10,10) [*113], mas, antes, foi dito que o Sacrifício da Cruz
foi perpetuado. Aprofundemos, pois, um pouco mais esta questão.
O Sacrifício do Calvário é único e basta para render a Deus toda honra e glória e para obter
para os homens a graça; todavia esse Sacrifício, fonte única de todo o bem superior, Deus o
quis tornar presente em todas as gerações de homens que se sucederão ao longo de todos os
séculos até o fim do mundo, como já havia profetizado o profeta Malaquias: “Eis que em todo
lugar se oferece a Deus uma oblação pura”. [*114]
É certíssimo que Cristo operou a Redenção do mundo em um ato único e que Ele morreu uma
só vez. Por sua morte, logrou Cristo a salvação para todos os homens. Esta é a doutrina da
Igreja; Cristo morreu, portanto, para todos. No entanto, isso não quer dizer que todos os
homens sejam salvos. Ao contrário, Cristo nos disse que muitos irão ao fogo eterno. [*115]
A Paixão de Cristo é causa universal de salvação e uma causa universal deve ser aplicada aos
casos individuais. Ora, os méritos da Paixão de Cristo nos são aplicados precisamente pela
renovação do Sacrifício da Cruz que é continuado no santo Sacrifício da Missa. [*116]
Eis um exemplo. Ainda que uma fonte seja suficientemente abundante para satisfazer as
necessidades de toda uma cidade, ainda será preciso captar essa fonte e transportar a água
até a porta de cada habitante, senão, apesar da fonte, pode-se vir a morrer de sede. Assim,
por sua Paixão, Cristo abriu a fonte de todo o bem espiritual. Todavia, isso não basta para que
efetivamente participemos dessa fonte, pois é preciso que a aplicação de seus frutos se faça
para cada um de nós. [*117] Essa é a obra do Sacrifício da Missa.
O Sacrifício da Cruz — fonte original de todas as fontes de graças — foi perpetuado no Santo
Sacrifício da Missa que é o mesmo sacrifício que Jesus Cristo instituiu e ofereceu na Última
Ceia, quando Ele, na véspera de sua Paixão, ordenou aos Apóstolos oferecerem o sacrifício do
seu Corpo e do seu Sangue:
Na Última Ceia o Sacrifício da Cruz foi antecipado e não só foi este sacrifício ali oferecido
como foi instituído o modo segundo o qual devia ser celebrado, depois do Calvário, até o fim
dos tempos.
Na Missa o Sacrifício da Cruz é sacramentalmente transportado para o altar, ao ser realizado
conforme o modo estabelecido por Jesus na Última Ceia.
Há, pois, três modalidades, mas um único sacrifício: o Sacrifício da Ceia é o próprio Sacrifício
da Cruz que é o mesmo Sacrifício da Missa.
15 - O SACRIFÍCIO DA MISSA.
Com efeito, o sacerdote, pelas palavras que ele pronuncia na Consagração, faz vir Deus à
terra [*124]; quando fala o sacerdote é o próprio Cristo que fala e que opera o
milagre [*125], isto é, a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Por isso mesmo, os seus ministros ordenados devem fazer, por ocasião do
Sacrifício da Missa, aquilo que Jesus Cristo fez na Última Ceia, quando Ele antecipou, por assim
dizer, o Sacrifício da Cruz.
Ao dizer “hoc facite” — fazei isto em memória de Mim [*126]— Jesus Cristo não só
estabeleceu o mandato, como também instituiu “o que” e “como” devia ser oferecido o santo
Sacrifício da Missa, por “quem” devia fazê-lo; de fato, para a validez duma Missa existem
condições essenciais: a matéria e a forma do sacramento, o sacerdote validamente ordenado
e a intenção de fazer o que sempre fez a Igreja [*127].
E o Sacrifício da Missa, que será oferecido, até o fim dos tempos, e “em toda parte” [*132]
pelo “sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque” [*133], por meio de seus
ministros, é ofertado a Deus com os seguintes fins:
> para adorá-Lo [*134], para honrá-Lo como convém, e sob este ponto de vista o sacrifício
é LATRÊUTICO [*135];
> para Lhe dar graças pelos benefícios recebidos, e sob este ponto de vista o sacrifício
é EUCARÍSTICO;
> para aplacá-Lo, dar-Lhe a devida satisfação pelos nossos pecados, para sufragar as almas do
Purgatório, e sob este ponto de vista o sacrifício é PROPICIATÓRIO [*136]; [*137]
> para alcançar todas as graças que nos são necessárias, e sob este ponto de vista o sacrifício
é IMPETRATÓRIO [*138]. [*139]
Temos, assim, o único Sacrifício da Nova Aliança substituindo todos os sacrifícios da Antiga
Aliança, os quais não agradavam a Deus. [*140]
Convém esclarecer que o Sacrifício da Missa e a Missa não constituem uma só e mesma
coisa, mas o sacrifício se efetua na Missa. [*141]
De fato, é na dupla Consagração que se realiza o Sacrifício; é nesse rito, prescrito pelo Senhor,
que se renova sacramentalmente o Sacrifício do Calvário. [*142]
Jesus Cristo é, portanto, Ele mesmo, o autor da Missa naquilo que ela tem de essencial. [*143]
É a Igreja que, por sua vez, institui os ritos da Missa para magnificar o Sacrifício do Senhor e
para explicitar seu mistério e dispor, desse modo, os espíritos aos sentimentos de adoração e
de devoção. [*144]
O autor do “De Sacramentis”, atribuído a Santo Ambrósio (+397), diz que a mudança, ou
melhor, a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor se dá no
momento que são pronunciadas as palavras de Jesus Cristo. [*145]
Ainda que apenas a benção ou apenas a prece de Jesus Cristo possa, sem dúvida, produzir a
mudança do pão em seu Corpo, como apenas a Sua vontade modificou a água em vinho nas
bodas de Caná, ou como a Sua benção multiplicou os pães, os Padres nos dizem sem qualquer
ambigüidade que Jesus consagrou seu Corpo com estas palavras: Isto é o meu Corpo. Jesus
Cristo tomando o pão, diz Tertuliano, e o dando aos seus discípulos, Ele o fez seu Corpo ao
dizer: Isto é o meu Corpo. Santo Ambrósio, Santo Agostinho falaram a mesma coisa e é assim
que a Igreja deseja que nós falemos. [*148]
E sobre a Consagração que se faz todos os dias sobre os nossos altares, também deve ser dito
que a Igreja deve fazer aquilo que Jesus Cristo fez. É uma ordem: hoc facite, fazei isto em
memória de Mim. Ora, Jesus Cristo rezou, benzeu e pronunciou estas palavras: Isto é o meu
Corpo; é necessário, pois, rezar, benzer e pronunciar estas mesmas palavras. Estas preces,
que o sacerdote deve dizer, vieram da mais alta tradição a todas as grandes Igrejas.
São Basílio (+379) desejando mostrar que há dogmas não escritos diz: “Quem é este que nos
deixou por escrito as palavras que servem para a consagração da Eucaristia?” porque,
prossegue ele, “nós não nos contentamos com as palavras que são relatadas pelo Apóstolo e
pelos Evangelistas; mas nós acrescentamos outras antes e depois, como tendo bastante força
para os mistérios, as quais nós aprendemos nessa doutrina não escrita”. [*149]
São Justino, que escreveu 40 anos depois da morte de São João [*150], por sua vez, diz
que “nós sabemos que estes alimentos, destinados à nossa alimentação comum, são
modificados pelas preces no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo”, porque de fato essas preces
contêm as palavras de Jesus Cristo e tudo aquilo que as deve acompanhar. [*151]
O que isto quer dizer? que as preces da Igreja têm a mesma virtude que as palavras de Cristo?
Não é isso que os Padres e os Concílios querem que nós entendamos, já que eles nos dizem
abertamente, em diversos lugares, que as palavras de Jesus Cristo contêm essencialmente a
virtude que modifica as dádivas (as ofertas, os dons) em seu Corpo e em seu Sangue, como o
Concílio de Florença declarou depois deles e como a Igreja do Oriente o reconheceu, de acordo
mesmo com o relato daqueles que permaneceram no cisma.
Mas todos os antigos autores juntaram sempre, com desvelo, as preces da Igreja às palavras
de Jesus Cristo como tendo bastante força para a consagração, conforme a expressão de São
Basílio. E por que isto? porque nos sacramentos a intenção da Igreja deve ser manifestada.
Ora, as preces que acompanham as palavras de Jesus Cristo assinalam a intenção, os desejos, e
o que a Igreja tem em vista ao fazer pronunciar tais palavras[*152], pois isto [*153] sem aquilo
[*154], poderá ser considerado como uma leitura histórica. É a Igreja que, pela autoridade de
Jesus Cristo, consagra os padres aos quais Ela assinala o que eles devem fazer por ocasião da
grande ação do Sacrifício.
O sacerdote é o ministro de Jesus Cristo e da Igreja e ele deve falar pela pessoa de Jesus Cristo
e como representante da Igreja. Ele começa em nome da Igreja invocando o Todo-Poderoso
para que atue sobre o pão e o vinho, a fim de que eles sejam transubstanciados no Corpo e
no Sangue de Jesus Cristo; e, depois disso, como ministro de Jesus Cristo, ele não fala mais em
seu nome, dizem os Padres. Ele pronuncia as palavras de Jesus Cristo e, conseqüentemente, é
a palavra de Jesus Cristo que consagra; isto é, a palavra d`Aquele por quem todas as coisas
foram feitas. Assim, é Jesus Cristo quem consagra, como dizem várias vezes São Crisóstomo e
os outros Padres; mas Ele o faz pela boca e pelas preces dos sacerdotes, como diz São
Jerônimo. [*155]
Admiremos, pois, todas as palavras sagradas que os padres pronunciam e digamos com São
João Crisóstomo (+407) em seu terceiro livro do Sacerdócio: “Quando vocês vêm o sacerdote
aplicado ao Santo Sacrifício, fazendo as suas preces, envolvido pelo povo santo, que foi lavado
pelo precioso Sangue, e o divino Salvador que se imola sobre o altar, pensam vocês que estão
ainda sobre a terra? não acreditam vocês estarem elevados até o céu? ó milagre! ó bondade!
Aquele que está sentado à direita do Pai encontra-se por um momento entre nossas mãos e
vai se dar àqueles que o querem receber”. [*156]
Assim, a doutrina da Igreja que nos assegura que ao serem ditas as palavras da Consagração,
quando se dá a transubstanciação do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor, Jesus
Cristo está realmente, está fisicamente presente no Altar, trazido a terra pelo sacerdote, e
que Ele se oferece em verdadeiro sacrifício, não é uma doutrina tardia (como disse - e ainda
diz- a heresia protestante e como o diz agora a heresia progressista), mas é, na verdade, a
mesma doutrina que foi pregada pelos Apóstolos, por São Paulo e pelos primeiros Santos
Padres da Igreja.
São João não se refere em seu Evangelho à instituição da Sagrada Eucaristia. Neste ponto o
Apóstolo não sentiu haver necessidade de completar os evangelhos sinópticos, os quais,
todavia, havia completado magnificamente com o discurso de Jesus prometendo a Eucaristia.
[*157]
Podemos deduzir, pois, que São João entendeu que não era necessário acrescentar coisa
alguma à doutrina do Apóstolo dos gentios.
Em duas passagens de sua primeira Carta aos fiéis de Corinto, fala São Paulo da Eucaristia. A
data desta carta deve ser colocada provavelmente na páscoa do ano 56. Note-se a importância
de tal documento, ainda que do ponto de vista meramente histórico, distante pouco mais
de vinte (20) anos da instituição da Eucaristia na Última Ceia. Esta Carta só teria como
anterior a ela, entre os escritos do Novo Testamento, quando muito, o Evangelho de São
Mateus. [*159]
São Paulo faz, no capítulo 10, uma alusão à Eucaristia quando se refere ao maná (Ex.16,15) e
à água que por duas vezes jorrou do rochedo (Ex.17,6):
E referindo-se a Cristo como pedra, designação dada a Javeh no Antigo Testamento, que ia
defendendo e ajudando seu povo através do deserto, São Paulo nos oferece um precioso
testemunho da divindade de Jesus Cristo. [*161]
Para que os Coríntios fiquem muito longe da idolatria o Apóstolo lhes propõe este argumento
[*162]: por meio das carnes imoladas entra aquele que as come em comunhão com aquele a
quem se oferece o sacrifício; os sacrifícios oferecidos aos ídolos, na realidade, são oferecidos
aos demônios e aquele que em um banquete sacrifical participa das vítimas que lhes são
oferecidas entra em comunhão com os demônios [*163]; da mesma forma que aquele que
participa das vítimas oferecidas no altar do antigo Israel entra em comunhão com esse altar,
e se não entra em comunhão com Javeh, a quem são oferecidos esses sacrifícios, é porque já
se rompeu a união segundo a carne entre Javeh e o velho Israel. Nós cristãos ao
participarmos do cálice e do pão, entramos em comunhão com o Corpo e o Sangue de
Cristo [“O cálice de bênção que consagramos não é, porventura, a comunhão do Sangue de
Cristo? E o pão que partimos não é a comunhão do Corpo do Senhor?” [*164]]. Não é, pois,
possível participar da mesa do Senhor e também participar da mesa dos demônios. [*165]
O caráter de Sacrifício da Eucaristia é realçado com toda força nesta passagem pelo
paralelismo que São Paulo estabelece entre a Eucaristia, os sacrifícios pagãos e os sacrifícios
israelíticos. Além disso, acreditamos que há aqui também um argumento para a equiparação
absoluta entre Jesus Cristo e Deus, uma vez que São Paulo não sente necessidade de dizer,
como pediria o paralelismo, que a participação do pão e do cálice nos une a Deus, a quem se
oferece o sacrifício, mas apenas lhe é suficiente dizer que nos faz entrar em comunhão com o
Corpo e o Sangue de Cristo. [*166]
Outra indicação fundamental, que se recolhe desta passagem de São Paulo [“O cálice de
bênção que consagramos não é, porventura, a comunhão do Sangue de Cristo? E o pão que
partimos não é a comunhão do Corpo do Senhor?” (1Cor.10,16 [*167])], é que a Presença Real
do Senhor fica suficientemente estabelecida ao empregar São Paulo, sem atenuante algum, as
expressões Sangue de Cristo e Corpo de Cristo, as mesmas que utilizará no capítulo 11, em
sentido tão realista. [*168]
Nesse capítulo 11 de sua primeira Carta aos Coríntios (11,23-28), narra São Paulo a instituição
da Eucaristia na Última Ceia, conforme o Senhor lhe havia dado a conhecer, o que a seguir
transcrevemos:
“23 Recebi do Senhor - o que também vos transmiti que, na noite em que foi entregue, o
Senhor Jesus tomou o pão, 24 e, depois de ter dado graças, o partiu e disse: ‘Tomai e comei;
isto é o meu Corpo que é entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim’. 25 Do mesmo
modo, depois da Ceia, tomou também o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova aliança no meu
Sangue. Todas as vezes que o beberdes, fazei isto em memória de Mim. 26 Pois todas as
vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele
venha’. 27 Portanto, quem comer este pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será
réu do Corpo e do Sangue do Senhor. 28 Examine-se, pois, o homem, e assim coma deste pão
e beba deste cálice. Porque quem come e bebe indignamente sem discernir o Corpo do
Senhor, come e bebe a sua própria condenação”. [*169]
A respeito da Eucaristia como sacrifício é também riquíssima de sentido esta afirmação de São
Paulo: “pois todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciareis a morte
do Senhor até que Ele venha” (1Cor.11,26). Trata-se, com efeito, de uma renovação objetiva
do Sacrifício da Cruz [*173], continuação [*174], por expresso mandato do Senhor, do
Sacrifício da Última Ceia, na qual Jesus falou do Corpo que era dado por nós e do cálice que
era o Novo Testamento, a Nova Aliança em seu Sangue (v24s).
Por sua vez, este Sacrifício nos coloca diante da alegria esperançosa da vinda triunfal do
Salvador, imolado por nós para dar-nos a vida eterna, “até que Ele venha”. [*175]
São Paulo insiste, nesta Carta aos Hebreus, que Jesus é sacerdote segundo a ordem de
Melquisedeque (5,6-10; 6,20; 7,11-15-17-21), que ofereceu pão e vinho, se bem que São Paulo
não faça menção expressa deste oferecimento de pão e vinho por parte de Melquisedeque;
além disso, o vocabulário de São Paulo nesta Carta é profundamente eucarístico (p. ex:
9,15.18ss; 10,16s.29; 12,24; 13,20).
E as próprias palavras que emprega no versículo 10 acima transcrito, pois o Apóstolo fala de
altar, de comer e diz no presente temos, são uma prova do pensamento eucarístico do
Apóstolo que unia, sem poder dissociá-los, o Sacrifício da Cruz e sua continuação como
sacrifício incruento no Sacrifício do Altar. [*178]
“Do nascer ao pôr do sol, será oferecido a Mim, em todo lugar, um sacrifício, e será uma
oblação toda pura, porque o Meu nome é grande em todas as nações” (Mal.1,10-11). [*179]
Não é possível deixar de considerar que os mais antigos doutores da Igreja: São Justino (+165),
São Irineu (+202), Tertuliano, São Cipriano (+258), etc, tenham aplicado esta profecia de
Malaquias à Eucaristia. [*180]
Os primeiros santos Padres da Igreja nos fazem ver, de maneira irrefutável, que desde os
primeiros tempos do Cristianismo era oferecido a Deus (como o é ainda hoje) um sacrifício
— o Santo Sacrifício da Missa — o mesmo Sacrifício da Cruz —, isto é, a própria “Paixão do
Salvador”; com Presença Real da Sagrada Vítima [*181]; sacrifício ofertado por aqueles a
quem Nosso Senhor Jesus Cristo havia concedido tal poder: “hoc facite!”. Senão vejamos:
SÃO PAULO
São Paulo, 20 anos depois da instituição da Eucaristia, escreve em sua primeira carta aos
Coríntios: “O cálice da benção que consagramos não é, porventura, a comunhão do Sangue
de Cristo? E o pão que partimos não é a comunhão do Corpo do Senhor?”.
E na sua carta aos Hebreus: “Nós temos um altar, do qual não podem comer os que servem
no tabernáculo”.
A princípios do século II, Santo Inácio de Antioquia expressava a fé comum ao dizer que a
Eucaristia é “a Carne de nosso Salvador Jesus Cristo, a qual padeceu por nossos pecados e a
qual o Pai ressuscitou por sua benignidade”. [*182]
SÃO IRINEU (+202)
“Os Apóstolos receberam este Sacrifício de Jesus Cristo e a Igreja o recebeu dos Apóstolos e
Ela O oferece hoje, por toda parte, conforme a profecia de Malaquias”. [*183]
SÃO CIPRIANO (+258)
“O pão e o vinho devem ser sempre a matéria do Sacrifício de Jesus Cristo e tornar-se-ão seu
Corpo e seu Sangue”. [*185]
São Cirilo de Jerusalém, nos meados do século IV, ao instruir os novos batizados sobre a
necessidade de rezar pelos mortos, já dizia: “Nós cremos que suas almas recebem um alívio
muito grande em virtude das preces que são oferecidas por eles no santo e temível Sacrifício
do Altar”. [*186]
“Quando vocês vêm o sacerdote aplicado ao Santo Sacrifício, fazendo as suas preces,
envolvido pelo povo santo, que foi lavado pelo precioso Sangue, e o divino Salvador que se
imola sobre o altar, pensam vocês que estão ainda sobre a terra? não acreditam vocês estarem
elevados até o céu? Ó milagre! Ó bondade! Aquele que está sentado à direita do Pai
encontra-se por um momento entre nossas mãos e vai se dar àqueles que o querem
receber”. [*187]
SÃO JERÔNIMO (+420)
São Jerônimo, por sua vez, diz que Jesus Cristo “ensinou os Apóstolos a atreverem-se a dizer,
todos os dias, durante o Sacrifício do seu Corpo: Pai Nosso que estais no céu”. [*188]
SANTO AGOSTINHO (+430)
Santo Agostinho falando a cerca do Sacrifício da Missa, em seu décimo sétimo livro da Cidade
de Deus, diz: “Este Sacrifício foi estabelecido para substituir todos os sacrifícios do Antigo
Testamento”. [*189]
“Oferecemos por toda parte, sob o grande Pontífice Jesus Cristo, aquilo que ofereceu
Melquisedeque”. [*190]
E é também Santo Agostinho quem nos explica maravilhosamente o versículo 7 do salmo 39:
“Vós não quisestes nem oblações nem sacrifícios”, ao escrever:
“E agora! ficamos nós sem sacrifício? Que Deus não permita. Escutemos a continuação da
profecia: ‘Mas me destes um Corpo’. Eis aqui uma nova vítima, e então o que é que Deus
rejeitará? As figuras. O que é que Deus aceitará e nos prescreverá para substituir as figuras? O
Corpo que substitui todas as figuras, o Corpo adorável de Jesus Cristo sobre nossos altares
[*191]; este Corpo que os fiéis conhecem e que os catecúmenos não conhecem [*192]. Este
Corpo que nós recebemos, nós que O conhecemos e que vós ireis conhecer, vós, catecúmenos,
que não O conheceis ainda; e agrade a Deus que quando vós O conheçais vós não O recebais
jamais para a vossa condenação”. [*193]
SÃO PAULO
SÃO CIPRIANO (+258)
“O pão e o vinho devem ser sempre a matéria do Sacrifício de Jesus Cristo e tornar-se-ão seu
Corpo e seu Sangue”. [*194]
A princípios do século II, Santo Inácio de Antioquia expressava a fé comum ao dizer que a
Eucaristia é “a Carne de nosso Salvador Jesus Cristo, a qual padeceu por nossos pecados e a
qual o Pai ressuscitou por sua benignidade”. [*195]
“Esforçai-vos em realizar uma só Eucaristia, pois uma só é a Carne de Nosso Senhor Jesus
Cristo e um só é o cálice para nos unirmos em seu Sangue”. [*196]
“Quero o pão de Deus que é a Carne de Jesus Cristo... e por bebida quero seu Sangue que é
puro amor”. [*197]
SÃO JUSTINO (+165)
São Justino, que escreveu 40 anos depois da morte de São João [*198], por sua vez, diz
que “nós sabemos que estes alimentos, destinados à nossa alimentação comum, são
modificados pelas preces no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo”. [*199]
“Este alimento se chama entre nós Eucaristia. Do qual nenhum outro é lícito participar senão
ao que crê que a nossa doutrina é verdadeira, e que tenha sido purificado com o batismo
para o perdão dos pecados e para a regeneração, e que vive como Jesus ensinou. Porque
estas coisas não a tomamos como pão ordinário nem como bebida ordinária, mas assim como
o Verbo de Deus encarnado, Jesus Cristo nosso Salvador, teve Carne e Sangue para a nossa
salvação (na Cruz), assim também nos foi ensinado que o alimento ‘eucaristizado’ pela
palavra da oração vinda de Deus (na dupla consagração) é a Carne e o Sangue daquele Jesus
que se encarnou (Presença Real). Porque os Apóstolos, nos comentários por eles compostos
chamados Evangelhos, nos transmitiram que assim lhes havia sido mandado”. [*200]
SANTO AMBRÓSIO (+397)
“Ele (Deus) nos alimenta realmente todos os dias deste sacramento da Paixão”. [*201]
“Quando vocês vêm o sacerdote aplicado ao Santo Sacrifício, fazendo as suas preces,
envolvido pelo povo santo, que foi lavado pelo precioso Sangue, e o divino Salvador que se
imola sobre o altar, pensam vocês que estão ainda sobre a terra? não acreditam vocês estarem
elevados até o céu? ó milagre! ó bondade! Aquele que está sentado à direita do Pai
encontra-se por um momento entre nossas mãos e vai se dar àqueles que o querem
receber”. [*202]
SANTO AGOSTINHO (+430)
Santo Agostinho, ao falar sobre a assiduidade de sua mãe ao Sacrifício do Altar, diz: “Nós
participamos deste altar divino, onde nós sabemos que é distribuída a vítima santa pela qual
a condenação foi apagada”. [*203]
“Não foi homem, nem anjo, nem arcanjo e nenhuma outra potestade senão o próprio Paráclito
quem instituiu este ministério”. [*205]
“Quando vês o Senhor sacrificado e humilde e o Sacerdote orando sobre a Vítima e a todos
aspergidos por aquele precioso Sangue, por que razão crês estar na terra entre os homens?
Não penetras imediatamente nos céus?”. [*206]
As citações acima não exigem qualquer interpretação; elas mostram o que os Apóstolos
transmitiram aos seus sucessores e assim sucessivamente.
As figuras da Antiga Lei já haviam sido substituídas e com Santo Agostinho afirmamos que
foram substituídas pelo Sacrifício do Corpo adorável de Jesus Cristo oferecido sobre nossos
altares; e sendo este novo Sacrifício um aprimoramento do antigo sacrifício propiciatório,
agora, sacerdote e fiéis devem participar da consumação da Vítima. [*207]
E com o Padre Le Brun dizemos que o Sacrifício da Nova Lei é o Sacrifício do Corpo de Jesus
Cristo, “oferecido e comido sobre nossos altares, por toda a terra”. [*208]
O Sacrifício da Nova Lei é o Santo Sacrifício da Missa que é o mesmo Sacrifício da Cruz. [*209]
Jesus Cristo usando o seu poder supremo para fazer a mudança do pão em seu Corpo, e do
vinho em seu Sangue (Presença Real), exerceu ao mesmo tempo, o seu poder sacerdotal, ao
qual Ele não se elevou de Si mesmo, diz S. Paulo (Hebr.5,5) [*210], mas que Ele recebeu de seu
Pai (“mas foi elevado por Aquele que Lhe disse: Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei”), para
ser “sacerdote eternamente segundo a ordem de Melquisedeque” (Hebr.5,6) [*211]. Como
seu sacerdócio é eterno, Ele oferecerá eternamente este sacrifício, e Ele não terá um
sucessor. Ele estará sempre sobre os nossos altares, ainda que invisivelmente, o Sacerdote e o
Dom, o oferente e a coisa ofertada, como diz Santo Agostinho [*212].
Mas para que este sacrifício seja visível, Ele estabeleceu como seus ministros os Apóstolos e os
sucessores dos Apóstolos, aos quais Ele deu na Última Ceia o poder de fazer aquilo que Ele
acabara de fazer: fazei isto em memória de Mim (Lc.22,19) [*213], inclusive repetindo o
mandato por ocasião da transubstanciação do vinho em seu sangue, como registrou São Paulo
(1Cor.11,25) [*214]; e eles o têm feito e eles o farão, sempre, todos os dias, em seu nome, por
toda a terra: “Oferecemos por toda parte, sob o grande Pontífice Jesus Cristo, aquilo que
ofereceu Melquisedeque”, diz Santo Agostinho. E para mostrar que este Sacrifício jamais
terminará sobre a terra, Ele nos ordenou participar e anunciar a sua morte até a Sua última
vinda (1Cor.11,26) [*215].
O essencial do Sacrifício da Cruz consistiu na oblação que Jesus fez do seu Corpo [*216] e,
como já foi dito, Ele continua a oferecer este mesmo Corpo sobre o altar; e, levando à sua
derradeira perfeição este divino Sacrifício (que no Calvário não podia ser comido pelos fiéis),
Ele nos alimenta realmente todos os dias com o sacramento da Paixão, como diz Santo
Ambrósio (+397); a manducação da vítima, que faltava no Altar da Cruz, faz a perfeição do
sacrifício dos nossos altares. “Nós temos um altar”, diz São Paulo (Hebr.13,10) [*217], e é no
altar da Igreja que esta manducação se efetua pela comunhão.
A mesma vítima é oferecida sobre o Calvário e sobre os nossos altares, mas no Calvário ela é
apenas oferecida, enquanto que na Missa ela é oferecida e distribuída, segundo a expressão
de Santo Agostinho ao falar sobre a assiduidade de sua mãe ao Sacrifício do Altar: Nós
participamos deste altar divino, onde nós sabemos que é distribuída a vítima santa pela qual a
condenação foi apagada. [*218]
E esta é a fé da Igreja: que Jesus Cristo está sentado a direita do Pai e está fisicamente
presente, tem uma Presença Real em todos os altares onde o santo Sacrifício da Missa é
oferecido, e é o seu Corpo e é o seu Sangue que nos são dados como alimento e bebida da
alma:
“Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue tem a vida eterna...” [*219].
A princípios do século II, Santo Inácio de Antioquia (+110) expressava a fé comum ao dizer que
a Eucaristia é “a Carne de nosso Salvador Jesus Cristo, a qual padeceu por nossos pecados e a
qual o Pai ressuscitou por sua benignidade”.
Nos começos da negação eucarística por parte de Berengário, o Concílio Romano do ano 1079
lhe opôs a fé da Igreja: “...e que depois da consagração [o pão e o vinho] são o verdadeiro
Corpo de Cristo, (Corpo) que nasceu da Virgem e que, oferecido pela salvação do mundo,
esteve pendurado na Cruz, e que está sentado à direita do Pai, e [que o pão e o vinho] são o
verdadeiro Sangue de Cristo que foi derramado de seu lado”.
No tempo da maior negação da Eucaristia por parte dos protestantes, o Concílio de Trento
proclamava a mesma fé: “Ensina primeiramente o Santo Concílio e confessa aberta e
simplesmente que no venerável sacramento da Santa Eucaristia, depois da consagração do
pão e do vinho, debaixo das aparências destas coisas sensíveis, se encerra Nosso Senhor Jesus
Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, verdadeira, real [*221] e
substancialmente (Canon 1).
Porque não há contradição entre o fato de estar o Nosso Salvador, Ele mesmo, sempre sentado
à mão direita do Pai no céu, conforme o seu modo natural de existir, e que, não obstante, a sua
substância esteja presente entre nós, em muitos outros lugares, sacramentalmente, com
aquele modo de existir, o qual, ainda que nós possamos apenas exprimi-lo com palavras,
podemos, contudo, alcançar com a razão iluminada pela fé e devemos crer firmemente ser
possível a Deus”. [*222]
Mais recentemente, na grande Encíclica “Mediator Dei” sobre a Liturgia, temos, “uma vez
mais, uma idêntica profissão de fé: [com seu culto eucarístico] os fiéis cristãos atestam e
solenemente manifestam a fé da Igreja pela qual cremos que é o mesmo Verbo de Deus e Filho
da Virgem Maria, que padeceu na Cruz, que se esconde presente na Eucaristia e que reina nos
céus”. [*223]
E é Jesus Cristo — presente na Eucaristia — quem se oferece no Altar, como Ele se ofereceu
para morrer sobre a Cruz [*224], mas agora, no Sacrifício da Missa, ele se oferece pelo
ministério dos sacerdotes [*225].
FAZEI ISTO! HOC FACITE! [*226] Ao dizer tais palavras, Jesus Cristo fez dos Apóstolos, e dos
seus sucessores, sacerdotes da Nova Aliança.
Os apóstolos, depois de orar, escolheram a Matias para o lugar de Judas (At.1,24-26) [*227];
mais adiante, também depois de orar, impuseram as mãos sobre sete novos auxiliares
(Estevão, Felipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau); e por obra do Espírito Santo
impuseram as mãos sobre Saulo e Barnabé (At.13,2-3) [*228]; e a palavra do Senhor se
divulgava (At.6,5-7) [*229].
São Paulo constituiu Timóteo bispo de Éfeso [*230] e a Tito bispo de Creta [*231]; mãos
antigas colocadas sobre cabeças mais novas e assim sucessivamente [*232]; e deste modo
foram sendo escolhidos e nomeados os sacerdotes da Nova Aliança.
São João Crisóstomo (354-407), chamado “doutor da Eucaristia”, diz que “não foi homem,
nem anjo, nem arcanjo e nenhuma outra potestade, senão o próprio Paráclito quem instituiu
este Ministério” [*233], o Ministério dos Sacerdotes e, conseqüentemente, “nunca se verá
faltar nem os sacerdotes e nem os sacrifícios” (Jer.33,18).
Se os sacerdotes oferecem tal sacrifício — o Santo Sacrifício da Missa — como ministros de
Cristo e da Igreja, também o oferecem os demais fiéis. Mas há entre aqueles e estes uma
diferença essencial que reside no caráter sacerdotal, que unicamente se imprime na alma
pelo sacramento da Ordem que dá ao sacerdote o poder de consagrar. [*236]
Atendendo aos diversos aspectos, explica a doutrina da Igreja que a imolação incruenta pela
qual Cristo, em virtude das palavras da consagração, se faz presente sobre o altar em estado
de vítima, não a faz o sacerdote na qualidade de representante dos fiéis, senão que como
representante de Jesus Cristo mesmo. [*237]
Apesar da diferença que existe entre o sacerdócio ministerial e o sacerdócio comum dos fiéis,
os assistentes, como dito acima, também oferecem o Santo Sacrifício da Missa; as pessoas
reunidas diante do altar unem-se a Jesus Cristo no oferecimento que é feito a Deus;
oferecem a Deus a melhor dádiva que Lhe pode ser ofertada: o sacrifício do seu próprio Filho,
o qual substituiu todos os sacrifícios da Antiga Lei que não agradavam a Deus.
E os propósitos pelos quais este sacrifício é realizado são, sempre foram e sempre serão os
seguintes: adoração – agradecimento - satisfação pelos pecados e para a salvação das
almas - pelos vivos e pelos mortos - pelos presentes e ausentes - pela Santa Igreja Católica -
e - para receber as graças que precisamos
“ET INTROÍBO AD ALTÁRE DEI: AD DEUM QUI LAETÍFICAT JUVENTÚTEM MEAM”. “E
APROXIMAR-ME-EI DO ALTAR DE DEUS; PERANTE DEUS QUE É A ALEGRIA DA MINHA
JUVENTUDE”.
21 - SUBAMOS O CALVÁRIO.
O Santo Sacrifício da Missa é o mesmo Sacrifício da Cruz e, por isso mesmo, a sua celebração
permite aplicar aos fiéis os méritos da Cruz, perpetuar esta fonte de graças no tempo e no
espaço. O Evangelho de São Mateus termina com estas palavras: “E eis que Eu estou convosco
todos os dias até a consumação dos séculos” [*238].
Assim, cada vez que assistimos ao Sacrifício da Missa, subimos, em espírito, o Calvário, onde
nos sentimos ao lado da Mãe das Dores e de São João [*239].
Subamos o Calvário para dobrarmos os nossos joelhos, para nos curvarmos diante de Nosso
Senhor Jesus Cristo e Ele, fisicamente — realmente — presente, receberá as nossas ofertas e
súplicas, para levá-las, junto com seu Corpo e seu Sangue, como um suave aroma [*241], ao
altar celestial: a seu Pai, nosso Deus Todo-Poderoso.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.
01 - SACERDOTE CATÓLICO - “LA SANTA MISA Y LA NUEVA MISA” - Revista ROMA AETERNA
n.116, SET, 1990.
02 - JESUS SOLANO - “TEXTOS EUCARÍSTICOS PRIMITIVOS” - TOMO I - 1978 - BIBL. AUTORES
CRISTIANOS (BAC) - ESPANHA.
09 - Mons. Marcel. LEFEBVRE - “CARTA ABERTA AOS CATÓLICOS PERPLEXOS” - 1984 - EDIT.
PERMANÊNCIA - RIO DE JANEIRO
10 - GUSTAVO CORÇÃO - “AS FRONTEIRAS DA TÉCNICA” - 5a. Edição - 1963 - LIVRARIA AGIR
EDITORA - RIO DE JANEIRO.
BIBLIOGRAFIA:
[2]- 01 - SACERDOTE CATÓLICO - “LA SANTA MISA Y LA NUEVA MISA” - Revista ROMA AETERNA
n.116, SET, 1990, Pag. 38/39
[3]- 11 - “TERCEIRO CATECISMO DA DOUTRINA CRISTÔ - 1976 - EDITORA VERA CRUZ, Pag.
113, n.594
[4]- 11 - “TERCEIRO CATECISMO DA DOUTRINA CRISTÔ - 1976 - EDITORA VERA CRUZ, Pag.
113, n.594
[21] - Impetração: ação de obter as graças e as bençãos divinas; ver 09 - Mons. Marcel.
LEFEBVRE - “CARTA ABERTA AOS CATÓLICOS PERPLEXOS” - 1984 - EDIT. PERMANÊNCIA - RIO
DE JANEIRO, Pag. P18 e 21.
[35] - 109,4
[42] - Gen.14,18
[50] - Mal.1,2
[86] - “É importante assinalar, diz o Padre Le Brun, que foi depois da Ceia” [outra versão (03 -
DOM GASPAR LEFEBVRE - “MEU MISSAL QUOTIDIANO” - 1965 - BÍBLICA - BRUGES/BÉLGICA,
Pag. 767) diz “termina-da a Ceia”], isto é, “foi depois da manducação do Cordeiro Pascal, que
Jesus Cristo tomou o cálice para o benzer. E São Lucas nos fala distintamente de dois cálices;
um ao começo da refeição especificada pela Lei, o qual não foi considerado; o outro, do final
da refeição, o qual, segundo o rito dos judeus, se chamava de taça de ação de graças; e é esta
taça que se transformou na verdadeira taça, no verdadeiro Cálice de ação de graças, porque
contém o Sangue adorável de Jesus Cristo” (04 - Padre PIERRE LE BRUN - “EXPLICATION DE LA
MESSE” - 1949 (primeira edição em 1716) - LES EDITIONS DU CERF - PARIS, Pag.431/432).
[94] - Para a primeira vez ver Mt.16,21-28; Mc.8,31-39; Lc.9,22-27. Para a segunda vez:
Mt.17,21-22; Mc.9,29-31; Lc.9,44-45.
[104] - Segue-se citação do Salmo 39,7; ver 04 - Padre PIERRE LE BRUN - “EXPLICATION DE LA
MESSE” - 1949 (primeira edição em 1716) - LES EDITIONS DU CERF - PARIS, Pag.16-nota 1.
[107] - Como disse Santo Agostinho; ver 04 - Padre PIERRE LE BRUN - “EXPLICATION DE LA
MESSE” - 1949 (primeira edição em 1716) - LES EDITIONS DU CERF - PARIS, Pag.18-nota 2.
[108] - “Ofertantes”, segundo o Padre des Graviers; ver 05 - Padre DES GRAVIERS - “PARECER
SOBRE A ‘RESTAURAÇÃO’ DA MISSA” APÓS O VATICANO II” - Revista PERMANÊNCIA -
MAR/ABR - 1983, Pag.10.
[124] - 09 - Mons. Marcel. LEFEBVRE - “CARTA ABERTA AOS CATÓLICOS PERPLEXOS” - 1984 -
EDIT. PERMANÊNCIA - RIO DE JANEIRO, Pag. 37
[127] - 09 - Mons. Marcel. LEFEBVRE - “CARTA ABERTA AOS CATÓLICOS PERPLEXOS” - 1984 -
EDIT. PERMANÊNCIA - RIO DE JANEIRO, Pag. 20. Sobre a “intenção da Igreja”, ver a subdivisão
17.
[129] - 09 - Mons. Marcel. LEFEBVRE - “CARTA ABERTA AOS CATÓLICOS PERPLEXOS” - 1984 -
EDIT. PERMANÊNCIA - RIO DE JANEIRO, Pag. 17
[130] - 10 - GUSTAVO CORÇÃO - “AS FRONTEIRAS DA TÉCNICA” - 5a. Edição - 1963 - LIVRARIA
AGIR EDITORA - RIO DE JANEIRO, Pag. 155
[131] - Jer.33,18
[132] - Mal.1,11
[134] - 09 - Mons. Marcel. LEFEBVRE - “CARTA ABERTA AOS CATÓLICOS PERPLEXOS” - 1984 -
EDIT. PERMANÊNCIA - RIO DE JANEIRO, Pag. 18
[137] - 09 - Mons. Marcel. LEFEBVRE - “CARTA ABERTA AOS CATÓLICOS PERPLEXOS” - 1984 -
EDIT. PERMANÊNCIA - RIO DE JANEIRO, Pag. 21
[138] - 09 - Mons. Marcel. LEFEBVRE - “CARTA ABERTA AOS CATÓLICOS PERPLEXOS” - 1984 -
EDIT. PERMANÊNCIA - RIO DE JANEIRO, Pag. 21. IMPETRAÇÃO: ação de obter as graças e as
bençãos divinas.
[139] - 11 - “TERCEIRO CATECISMO DA DOUTRINA CRISTÔ - 1976 - EDITORA VERA CRUZ, Pag.
123/124
[162] - Resposta dada pelo Apóstolo a uma consulta que lhe fizeram os Coríntios, a respeito de
comer das carnes que haviam sido imoladas aos ídolos, situação que tantas vezes se
apresentava àqueles cristãos que viviam em uma sociedade paganizada. Ver 02 - JESUS
SOLANO - “TEXTOS EUCARÍSTICOS PRIMITIVOS” - TOMO I - 1978 - BIBL. AUTORES CRISTIANOS
(BAC) - ESPANHA, Pag. 29,141.
[163] - “O que os pagãos imolam, é aos demônios que imolam, e não a Deus. E não quero que
tenhais parte com o demônio” (1Cor.10,20). Ver 07 - Monsenhor ÁLVARO NEGROMONTE -
“NOVO TESTAMENTO” - 3a. Edição - 1961 - LIVRARIA AGIR EDITORA - RIO DE JANEIRO, Pag. 12.
[164] - 1Cor.10,16.
[167] - Já transcrito acima, antes da nota de rodapé n.165. Reproduzida novamente para
facilitar a leitura.
[171] - “REAL” significando: “que existe de fato”, “verdadeiro”. O dogma da “Presença Real” de
Nosso Senhor na Eucaristia afirma que Jesus Cristo está fisicamente presente - em Corpo,
Sangue, Alma e Divindade - no pão e no vinho consagrados.
[174] - Continuação que é realizada “todas as vezes” que é celebrado o Santo Sacrifício da
Missa, que é o mesmo Sacrifício da Cruz.
[175] - 02 - JESUS SOLANO - “TEXTOS EUCARÍSTICOS PRIMITIVOS” - TOMO I - 1978 - BIBL.
AUTORES CRISTIANOS (BAC) - ESPANHA, Pag. 31/32,14
[191] - Nítida afirmação da Presença Real do Corpo de Nosso Senhor sobre o Altar.
[192] - Êles não tinham acesso à parte da Missa - Missa dos Fiéis - onde acontece a
Consagração e a Comunhão.
[204] - 09 - Mons. Marcel. LEFEBVRE - “CARTA ABERTA AOS CATÓLICOS PERPLEXOS” - 1984 -
EDIT. PERMANÊNCIA - RIO DE JANEIRO, Pag. 25: Jo.15,19, versão da obra 7.
[205] - Obra 2.
[206] - Obra 2.
[209] - Sacrifício prefigurado na Antiga Lei; ver o último parágrafo da subdivisão 04.
[232] - 10 - GUSTAVO CORÇÃO - “AS FRONTEIRAS DA TÉCNICA” - 5a. Edição - 1963 - LIVRARIA
AGIR EDITORA - RIO DE JANEIRO, Pag. 155
[233] - Obra 2.